Este estudo apresentou dados novos e relevantes sobre a geomorfologia, geofísica e biota do ambiente recifal do Seixas/PB, sendo um dos pioneiros nesse ambiente recifal com esse nível de detalhamento. Os estudos geológicos, geofísicos e geoquímicos evidenciaram a existência de compartimentos (praia, plataforma interna e recife), áreas (abrigada, platô recifal e batida) e feições geomorfológicas (canal, planície recifal, crista, frente recifal, pós-recife), indicando que os processos deposicionais do fundo marinho sofreram influência oceanográfica. Não foi possível encontrar a rocha-base de sustentação para a edificação do recife através de três perfurações com profundidade máxima de 250 cm, os resultados das lâminas petrográficas, do difratograma de raios-X analisados e do material coletado nos mergulhos realizados na parede externa do recife demonstraram que o recife do Seixas é uma formação biogênica carbonática coral-algal recente - associada com a evolução da linha de costa, com a elevada sedimentação costeira e agindo em conjunto com a elevação do nível do mar (Período Quaternário Holocênico) -, apoiada no terraço marinho de abrasão sob a planície costeira moldada pela Bacia Sedimentar Paraíba, mais precisamente na Sub-bacia Alhandra e dista aproximadamente 30 km do talude continental nordestino. Atualmente, o recife possui 1,18 km2 de área consolidada com altura máxima de 6 m. A partir de uma base consolidada arenítica ocorreu o assentamento e povoamento de organismos bentônicos, passando por processos de sucessões continuamente. Perfazendo uma área amostral de 225 m², com esforço amostral de 120 h de pesquisas visuais subaquáticas (uso de transectos e fotoquadrados) foi possível mapear as comunidades macroalgais, coralíneas e íctica e verificar que as variáveis ambientais profundidade e granulometria exercem influência na estruturação das comunidades. Em uma cobertura dominada por macroalgas (68,99%), corais, hidrocorais e zoantídeos (7,62%), estruturas calcárias - rodolitos (9,73%), sedimento não-consolidado (11,89%) e sedimento consolidado (1,77%), foram identificados 1435 peixes recifais, representados pelas famílias Haemulidae (696 indivíduos), Labridae-Scarinae (272 indivíduos), Pomacentridae (248 indivíduos), Acanthuridae (108 indivíduos) e em menor número de indivíduos, as famílias Epinephelidae, Mullidae, Sciaenidae, Holocentridae e Gobiidae. Como análise geral, a relação entre as áreas Abrigada e Platô e entre as áreas Batida e Platô, aponta a área Platô como um ambiente de ecótono. A nível de endemismo, quatro famílias coralíneas da ordem Escleractinia e oito espécies da ictiofauna são endêmicas da Província Biogeográfica Atlântico Sul, corroborando com a caracterização geral desta província (baixa diversidade com alto grau de endemismo, sobrevivendo em águas turvas). Através de oficinas e mapas conceituais construídos pelos usuários locais, constatou-se que o grupo dos pescadores é o que mais conhece o ambiente, seja pela necessidade da navegação (formação rochosa) e da pesca (locais de maior oferta, maior número de indivíduos, sendo o hidrocoral “coral-de-fogo” o mais conhecido devido à fauna associada). A junção do conhecimento científico correlacionado com o contexto biogeográfico e saber local adquirido resultaram na aplicação de três práticas ambientais (desvendando as criaturas marinhas, trilha ecológica e rota subaquática) envolvendo a comunidade local conforme premissas da ciência cidadã. O contexto biogeográfico marinho atribuído às práticas para o microcosmo recifal do Seixas foi fundamentado pelos processos históricos e ecológicos de como surgiu este ambiente geológico e de onde vieram as comunidades biológicas, demonstrando as conectividades numa visão local até global dos dias atuais.
Palavras-chave: ambiente recifal, geologia sedimentar, comunidade recifal, saber local, práticas ambientais.