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AVALIAÇÃO DE RISCO AOS ECOSSISTEMAS A PARTIR DA DEFINIÇÃO DO USO DO SOLO PROPOSTA PELO ZONEAMENTO ECOLÓGICO ECONÔMICO NO MUNICÍPIO DE GUARUJÁ, SP

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Abstract

INTRODUÇÃO A litoralização e os Serviços Ecossistêmicos (SE) que concedem grande parte do bem-estar social, fazem da Zona Costeira um mosaico de atividades em meio aos ecossistemas comumente encontrados nestas regiões. As disputas de uso não são incomuns. Interesses difusos levam à necessidade da gestão destes conflitos, de forma que o Zoneamento Ecológico-Econômico Costeiro (ZEEC), instrumento operacional da gestão costeira instituído pela Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938/1981), é uma das ferramentas de ordenamento que objetiva o desenvolvimento econômico a partir das potencialidades territoriais e da sustentabilidade. Buscando antever a susceptibilidade ambiental resultante desta zonificação, avaliou-se se a fragilidade ambiental e o potencial socioeconômico do município de Guarujá, SP são compatíveis com os limites de uso da zona costeira estabelecidos pelos ZEEC. METODOLOGIA O município de Guarujá abriga ecossistemas importantes como a floresta atlântica, manguezais e restingas, em consonância com o turismo, pesca, construções, atividades portuárias, dentre outras. O ZEEC propõe zonas de acordo aos diagnósticos territoriais, desde ambientes preservados ou conservados (Z1) até ambientes altamente urbanizados (Z5) (ASMUS et al., 2006). As zonas previstas para o Guarujá são Z1, Z2, Z3, Z4, Z4TE, Z5TE e Z5. A fragilidade ambiental foi determinada pela extensão InVEST (Integrated Valuation of Ecosystem Services and Tradeoffs) em seu modelo de Avaliação de Risco ao Hábitat (HRA), que calcula a probabilidade das atividades afetarem os ecossistemas e sua oferta de serviços (SHARP et al., 2016). O risco é calculado a partir de critérios de exposição (1-Sobreposição espacial, 2-Tempo de sobreposição, 3-Intensidade, 4-Efetividade da gestão) e consequência (1-Modificações estruturais,2-Frequência da ocorrência), numa escala de 0-3, sendo zero inexistente, e três, o maior risco. O produto final compreende gráficos e mapas (QGIS 2.18). O risco foi gerado por região administrativa: praias e adjacências, porto, centro e estuário, totalizando 20. A Classificação Única Internacional dos Serviços Ecossistêmicos (CICES 5.1) foi utilizada para categorização dos SE, o que permite associar o risco à disponibilidade de SE. Foram utilizados o mapa do ZEEC (Coordenadoria de Planejamento Ambiental do Estado de São Paulo); dos ecossistemas (Comitê de Bacias Hidrográficas da Baixada Santista); e das regiões administrativas municipais (Plano Diretor).
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Painel
Serviços Ecossistêmicos em Áreas Costeiras e Marinhas
1.4.088 - AVALIAÇÃO DE RISCO AOS ECOSSISTEMAS A PARTIR DA DEFINIÇÃO
DO USO DO SOLO PROPOSTA PELO ZONEAMENTO ECOLÓGICO ECONÔMICO NO
MUNICÍPIO DE GUARUJÁ, SP
NATÁLIA RAMOS CORRAINI, JARBAS BONETTI, MARINEZ EYMAEL GARCIA SCHERER,
VITOR ALBERTO DE SOUZA
Contato: NATÁLIA RAMOS CORRAINI - NATALIARCOEFLECHA@GMAIL.COM
Palavras-chave: Ecossistemas costeiros; Serviços Ecossistêmicos; Uso do Solo; Zoneamento; Risco;
InVEST
INTRODUÇÃO
A litoralização e os Serviços Ecossistêmicos (SE) que concedem grande parte do bem-
estar social, fazem da Zona Costeira um mosaico de atividades em meio aos
ecossistemas comumente encontrados nestas regiões. As disputas de uso não são
incomuns. Interesses difusos levam à necessidade da gestão destes conflitos, de forma
que o Zoneamento Ecológico-Econômico Costeiro (ZEEC), instrumento operacional da
gestão costeira instituído pela Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/1981), é
uma das ferramentas de ordenamento que objetiva o desenvolvimento econômico a partir
das potencialidades territoriais e da sustentabilidade. Buscando antever a susceptibilidade
ambiental resultante desta zonificação, avaliou-se se a fragilidade ambiental e o potencial
socioeconômico do município de Guarujá, SP são compatíveis com os limites de uso da
zona costeira estabelecidos pelos ZEEC.
METODOLOGIA
O município de Guarujá abriga ecossistemas importantes como a floresta atlântica,
manguezais e restingas, em consonância com o turismo, pesca, construções, atividades
portuárias, dentre outras.
O ZEEC propõe zonas de acordo aos diagnósticos territoriais, desde ambientes
preservados ou conservados (Z1) até ambientes altamente urbanizados (Z5) (ASMUS et
al., 2006). As zonas previstas para o Guarujá são Z1, Z2, Z3, Z4, Z4TE, Z5TE e Z5.
A fragilidade ambiental foi determinada pela extensão InVEST (Integrated Valuation of
Ecosystem Services and Tradeoffs) em seu modelo de Avaliação de Risco ao Hábitat
(HRA), que calcula a probabilidade das atividades afetarem os ecossistemas e sua oferta
de serviços (SHARP et al., 2016). O risco é calculado a partir de critérios de exposição (1-
Sobreposição espacial, 2-Tempo de sobreposição, 3-Intensidade, 4-Efetividade da
gestão) e consequência (1-Modificações estruturais,2-Frequência da ocorrência), numa
escala de 0-3, sendo zero inexistente, e três, o maior risco. O produto final compreende
gráficos e mapas (QGIS 2.18). O risco foi gerado por região administrativa: praias e
adjacências, porto, centro e estuário, totalizando 20.
A Classificação Única Internacional dos Serviços Ecossistêmicos (CICES 5.1) foi utilizada
para categorização dos SE, o que permite associar o risco à disponibilidade de SE.
Foram utilizados o mapa do ZEEC (Coordenadoria de Planejamento Ambiental do Estado
de São Paulo); dos ecossistemas (Comitê de Bacias Hidrográficas da Baixada Santista); e
das regiões administrativas municipais (Plano Diretor).
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
As dunas e restingas são os ecossistemas mais afetados pelo ZEEC, sendo o valores
para o risco das dunas entre 2.8 e 3, e das restingas entre 2 e 3, afetando 18 SE, de um
total de 30.
A região portuária foi considerada a de maior risco, seguida pela Praia do Perequê, e da
Enseada. Ainda que os valores tenham variado entre mínimos de 0.15, 0.33 e 0.31
(Costão Rochoso em Z5), e máximos de 2.52 (Mata em Z5), 2.64 (Mata em Z5TE) e 2.65
(Mata em Z5), respectivamente. O maior número de ecossistemas afetados foi fator
preponderante para a classificação de risco aumentar.
A região portuária, em estágio avançado de urbanização, apresenta frações de restingas
e mangues, integralmente zoneadas como Z5, destinadas apenas ao desenvolvimento
econômico. Nesse sentido, os ecossistemas restantes são, como esperado, os mais
ameaçados, afetando a oferta de 22 serviços. No Perequê, caracterizado pela vocação de
atividades pesqueiras, permitidas nos costões rochosos locais, aponta risco de médio a
alto para estes ecossistemas e 3 de seus serviços. Sendo caracterizada pelos complexos
residenciais na orla, as dunas e matas são ameaçadas pelas atividades permitidas pela
Z5. A Praia da Enseada, conhecida pelo adensamento populacional e alta oferta de
infraestrutura urbana, está zoneada como Z1, Z4 e Z5. As atividades relacionadas às
duas últimas oferecem risco alto às dunas da praia mais extensa do Guarujá, arriscando
14 SE.
Com risco médio, destacam-se as praias de São Pedro (2.67 para Mata em Z5) e Branca
(2.7paradunaemZ3).SãoPedroéconhecidapelocondomíniodeluxodecasas“péna
areia”emmeio avegetaçãoatlântica,sendoseuzoneamentointegralmenteZ4, inclusive
em porções de vegetação ombrófila densa. As características locais são incompatíveis
com Z4, colocando em risco as dunas, restinga e principalmente as matas e 25 SE. A
Praia Branca é associada à beleza cênica e à presença de populações caiçaras. As
classificação Z1 e Z3 são compatíveis com o local, onde a ocupação humana provê o
risco às dunas e seus 18 serviços.
As praias do Tombo (2.16 para duna em Z5) e Astúrias (2.16 para duna em Z5)
destacam-se entre as de risco médio-baixo. Com poucos ecossistemas não modificados,
Z5 prevalece, ainda que ambas tenham áreas em Z1. O enquadramento médio-baixo deu-
se, possivelmente, em função da baixa presença de ecossistemas, resguardados pela Z1.
CONCLUSÃO
Embora tenha um grau de urbanização elevado, o município de Guarujá apresenta áreas
de ecossistemas naturais importantes para a Zona Costeira, especialmente nos morros e
nas porções nordeste e sudeste da Ilha. Embora o ZEEC resguarde uma porção
importante de manguezais, matas e restingas, especialmente na região estuarina, grande
parte dos ecossistemas da Ilha e seus serviços estão sob risco médio a alto,
principalmente devido a permissividade do ZEEC existente (Z4, Z5, Z5E), ameaçando os
ecossistemas presentes na orla, como as dunas e restingas. Além da urbanização, as
atividades turísticas que impulsionam a construção de residências em porções menos
habitadas da Ilha, como em São Pedro, aumentam o risco à Floresta Atlântica. Neste
caso, os limites estabelecidos pelo ZEEC em Z4, não consideram a fragilidade ambiental
local, havendo incompatibilidade entre as características locais e os usos e atividades
permitidos pelo zoneamento.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Article
Full-text available
In 2005 Brazil released the National Program for the Development of Marine Aquaculture in Union Waters through the Special Secretariat of Aquaculture and Fisheries (Seap), now Ministry of Fisheries and Aquaculture (MPA). Its aim was to order the activity and promote its expansion. It was the first initiative in the country seeking the implementation of a public policy specifically directed to the aquaculture sector. The state of Santa Catarina, a pioneer in the adoption of the program, needed to fit into the guidelines imposed by legislation in order to develop and implement the Local Plans for the Development of Marine Aquaculture (PLDM), its most important instrument. This required PLDM to be compatible with the State Coastal Management Plan of Santa Catarina (Gerco-SC), through the instruments Coastal Ecological and Economic Zoning (ZEEC) and Plan of Coastal Zone Management (PGZC). The PLDM is a participatory planning tool to aid in the delineation of aquaculture parks in waters belonging to Brazil. The ZEEC, in turn, is a tool for planning, monitoring, licensing, and supervision that operates in accordance with the guidelines of the National Coastal Management Policy. It should also be elaborated in a participatory process and establish guidelines to determine prohibited, permitted or encouraged uses in the coastal zone. Finally, the PGZC presents proposals for actions with clearly defined goals, key actors and others involved in the execution, area of intervention, agenda, approximate cost and potential sources of resources. It aims to order the different activities and uses of coastal and marine territories, promote the sustainable socioeconomic development and ensure the conservation of natural resources. In this paper an analysis of the historical evolution of the implementation of these two policies in Santa Catarina was carried out considering their instruments. The objective was to evaluate the compatibility between the planning policies for marine aquaculture and coastal management in Santa Catarina through the implementation of the instruments PLDM, ZEEC and PGZC. It was found that these instruments are technically efficient, but in practice they have been implemented in a bureaucratic and insufficient integrated way because the state does not have a structure compatible with the logistical, technical or methodological needs to totally conduct the process. In relation to marine aquaculture, the participatory process of zoning the aquaculture parks in PLDM proved to be efficient by sector, strengthening the associations of shell fishermen and research and extension sectors of Santa Catarina in the decision practice. On the other hand, the multi-sectoral participatory process of Gerco-SC is still incipient and maintains a political, institutional and technocratic nature in the management efforts. As an effective product, the state now has the ZEEC and PGZC established by law and the PLDM constituted in fact. This means that the instruments were developed in Gerco but lack implementation, while PLDM’s are already effective through the delimitation of the offshore aquaculture parks, planning and procurement of individual aquaculture production areas, development of a georeferenced database, and design of a monitoring plan and management system. The PLDM should guide the aquaculture industry in assessing the potential of the coastal zone for the activity and assist in planning and selecting aquaculture areas. However, it must also be associated to the Gerco-SC’s ZEEC and PGZC instruments through a participatory and integrated process in accordance with the law and following the democratic tendencies of integrated coastal management.
Dispões sobre a Política Nacional do Meio Ambiente
  • Brasil Lei
BRASIL. Lei 6.938 de 1981.Dispões sobre a Política Nacional do Meio Ambiente. 1981.
InVEST +VERSION++ User's Guide
  • E R Sharp
SHARP, E.R. et al. InVEST +VERSION++ User's Guide..
Gestão Costeira no Brasil: instrumentos, fragilidades e potencialidades
  • M L Asmus
  • D Kitzmann
  • C Laydner
  • P R A Tagliani
ASMUS, M.L.; KITZMANN, D.; LAYDNER, C.; TAGLIANI, P.R.A. Gestão Costeira no Brasil: instrumentos, fragilidades e potencialidades. Revista de Gestão Costeira Integrada, 5:52-57. 2006.
InVEST +VERSION+ User's Guide. The Natural Capital Project
  • E R Sharp
BRASIL. Lei 6.938 de 1981.Dispões sobre a Política Nacional do Meio Ambiente. 1981. SHARP, E.R. et al. InVEST +VERSION+ User's Guide. The Natural Capital Project,Stanford University, University of Minnesota, The Nature Conservancy, and World Wildlife Fund.,2016. Disponível em: < http://data.naturalcapitalproject.org/nightlybuild/invest-users-guide/InVEST_+VERSION+_Documentation.pdf >.