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Prevalência de sintomas depressivos em adolescentes portugueses

Authors:

Abstract

The main objective of this research was to characterise the prevalence of depressive symptoms among adolescents attending secondary schools in the district of Palmela. The Portuguese version of the Children Depression Inventory (CDI) was applied to a sample of 570 teenagers, ranging from 12 to 17 years of age. The psychometric characteristics of the Inventory were studied, the percentage of individuals in psychological distress was determined (total sample and sub sample) and studies on the predictive effect of criteria variables relating the results in the CDI were also made. The results of the study, its practical implications and limitations are here discussed.
INTRODUÇÃO
Os profissionais do Departamento de Psiquia-
tria do Hospital de Setúbal que trabalham em
articulação com o Centro de Saúde de Palmela,
constataram nos últimos anos um aumento do
número de adolescentes com quadro clínico de
depressão. Tal, vem na linha de informação da
Organização Mundial de Saúde (OMS) segundo
a qual, no ano de 2020, a depressão será das do-
enças com maior prevalência na população em
geral (McKendree-Smith, Floyd, & Scogin, 2003).
No quadro desta constatação, surgiu a ideia de
fazer um estudo que ajudasse a compreender a
dimensão deste problema na população com que
trabalhávamos. Neste sentido, os estudos epide-
miológicos são de grande importância pelas im-
plicações que podem ter ao nível da prevenção e
do tratamento. No entanto, estes estudos têm si-
do escassos, «não só em Portugal onde os dados
são omissos, mas igualmente a nível internacio-
nal, onde as informações existentes são pouco
sistematizadas, contraditórias e nada fiáveis»,
como refere Marujo (1994, p. 177). Situando-nos
na população alvo do presente estudo, a falta de
coerência dos resultados é ilustrada pela ampli-
tude dos valores da prevalência encontrada nas
populações normais escolares, os quais variam
entre os 0% e os 33% (Kaslow & Wambolt, 1985).
Na origem destas variações estão imprecisões teó-
ricas e metodológicas que se traduzem por uma
não clarificação de variáveis influentes na preva-
lência da depressão, tais como o nível etário uti-
lizado, o sexo dos sujeitos, o tipo e nível de de-
pressão em análise, e os instrumentos avaliativos
utilizados (Mufson, Moreau, Wiessman, & Kler-
man, 1993). No entanto, também é possível en-
contrar alguma consistência de resultados, par-
ticularmente na infância e na adolescência, onde
os dados apontam para uma maior prevalência da
depressão na adolescência do que na infância,
bem como uma maior prevalência nos rapazes
que nas raparigas de idades mais novas. A partir
667
Análise Psicológica (2004), 4 (XXII): 667-675
Prevalência de sintomas depressivos em
adolescentes portugueses (*)
PAULO CARDOSO (**)
CONCEIÇÃO RODRIGUES (***)
ANITA VILAR (****)
(*) Os autores agradecem à Prof. Dra. Helena Ma-
rujo, ao Dr. Rui Campos e ao Dr. Carlos Catalão pelos
comentários a versões prévias deste artigo.
Este artigo foi apresentado nas suas linhas gerais, no
V Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia,
Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 16-18 de Ou-
tubro de 2003.
Correspondência relativa a este trabalho deverá ser
endereçada a Paulo Cardoso – pmsc@uevora.pt
(**) Departamento de Psicologia, Universidade de
Évora.
(***) Centro de Saúde de Palmela.
(****) Departamento de Psiquiatria, Hospital Distri-
tal de Setúbal.
da puberdade dá-se uma inversão, passando a
haver maior prevalência nas raparigas (Kazdin,
1987a, citado por Marujo, 1994).
Face à raridade e inconsistência dos estudos
epidemiológicos sobre depressão em Portugal,
encontramos no trabalho de Marujo (1994) uma
base conceptual e metodológica, particularmente
na sua definição de depressão como «um desa-
justamento psicológico e social, activado e influ-
enciado por experiências sociais e por aconteci-
mentos de vida difíceis que provocam readapta-
ções ao interagirem com as competências globais
do sujeito e com os seus processos de desenvol-
vimento e maturação» (Marujo, 1994, p. 497).
Convirá, no entanto, que não é a depressão que
constitui o nosso objecto de estudo, mas sim os
sintomas depressivos reveladores de sofrimento
psicológico. Primeiro, porque a avaliação da de-
pressão exige diferentes métodos e interlocutores
(Coyne, 1994; Simões, 1999) e nós só utilizamos
um instrumento o qual avalia sintomas depressi-
vos. Segundo, porque não existe um único ins-
trumento que avalie consensualmente todos os
aspectos da depressão, pelo que todos os instru-
mentos disponíveis têm as suas vantagens e limi-
tações (Simões, 1999).
Nesta perspectiva, o principal objectivo desta
investigação é a caracterização da prevalência de
sintomas depressivos em adolescentes que fre-
quentam as escolas secundárias no concelho de
Palmela. A este objectivo acrescem outros dois
mais específicos:
- Estudar as características psicométricas do
CDI na população em causa;
- Caracterizar a população alvo em função de
algumas variáveis associadas à sintomato-
logia depressiva.
METODOLOGIA
Participantes e procedimentos de avaliação
Participaram 570 adolescentes, sendo 318 do
sexo feminino e 252 do sexo masculino, com ida-
des entre os 12 e 17 anos (M=13.76 e DP=0.97).
Havendo uma escola dos 2.º e 3.º Ciclos de Estu-
dos e uma escola Secundária em cada uma das
vilas do concelho, escolheu-se uma escola Se-
cundária na vila de Pinhal Novo e uma escola
dos 2.º e 3.º Ciclos de Estudos na vila de Palme-
la, de modo a conseguir um equilíbrio entre o
tipo de escolas do concelho. Estabeleceu-se um
número equiparado de turmas por anos de esco-
laridade (7.º, 8.º e 9.º anos) que depois foram es-
colhidas de forma aleatória.
Em cada uma das escolas reuniram-se os dire-
ctores das turmas envolvidas, de modo a solicitar
a sua disponibilidade e colaboração para reali-
zarem as aplicações nas suas turmas. A propósito,
foram esclarecidos dos objectivos da investigação
e dos procedimentos de aplicação das provas.
Instrumentos
A partir de um questionário de dados demo-
gráficos iniciou-se a recolha de informação.
Nele, obtém-se informação demográfica e rela-
tiva a alguns factores de risco para a saúde mental
dos adolescentes (Quadro 2). Os factores de
risco considerados situam-se em quatro dimen-
sões: 1) estrutura familiar; 2) saúde física; 3) con-
sumo de álcool e tabaco; e 4) vivência escolar. A
escolha destas dimensões prendeu-se com o
facto de permitirem uma caracterização simul-
tânea de aspectos de saúde física e de saúde men-
tal e deste modo abrirem perspectivas de inter-
venção no âmbito da saúde escolar. Permitem
ainda caracterizar esta população noutras dimen-
sões consideradas importantes para a nossa in-
tervenção.
A caracterização do nível socioeconómico fez-
-se a partir do tipo de profissão dos pais. Foi es-
colhida a classificação utilizada no projecto por-
tuguês do Work Importance Study (Ferreira Mar-
ques, 1995), que está organizada em cinco níveis
quanto ao estatuto socioeconómico, os quais con-
jugam a formação e autonomia no trabalho. A
esta classificação adicionaram-se mais três
níveis – Desempregados, Domésticos(as) e Não
Classificados – de modo a conseguir uma ca-
racterização mais completa dos participantes.
A avaliação da existência de sintomas depres-
sivos, fez-se a partir do Inventário de Depressão
para Crianças (CDI) – na adaptação de Helena
(1994) do original Children’s Depression Inven-
tory (Kovacs & Beck, 1977; Kovacs, 1985). Cada
um dos 27 itens deste inventário é composto por
quatro frases descrevendo quatro possibilidades,
ordenadas por gravidade de expressão sintomá-
668
tica, cotadas de 0 a 3. O jovem deve escolher em
cada item, a alternativa que melhor descreva o
seu comportamento nas últimas duas semanas.
Metade dos itens inicia as escolhas com a frase
correspondente à gravidade máxima e a outra
metade inicia com as correspondentes à gravida-
de mínima. O resultado final, obtém-se através
do somatório da pontuação nos 27 itens, poden-
do variar entre 0 e 54 pontos. Os resultados no
CDI permitem estabelecer uma definição empíri-
ca de sintomatologia depressiva. São considera-
dos com sintomas depressivos, os jovens que
apresentam um resultado a partir de um desvio-
padrão acima da média e sem sintomas depres-
sivos, aqueles que apresentam um resultado in-
ferior a menos um desvio padrão da média.
Análise estatística
O tratamento dos dados envolveu dois mo-
mentos: 1) análise das características psicométri-
cas do CDI; e 2) análise da relação entre as va-
riáveis do questionário de dados demográficos e
o resultado do CDI.
No primeiro momento, para a amostra total e
para as subamostras dos sexos masculino e femi-
nino, estudou-se a consistência interna do inven-
tário a partir do cálculo do coeficiente de pre-
cisão dos resultados (alfa de Cronbach) e dos ín-
dices de correlação de cada item com o total do
inventário. Depois, estudou-se a estrutura facto-
rial do inventário a partir de análise em compo-
nentes principais com rotação Varimax, utilizan-
do-se o método de análise paralela (Cota, Long-
man, Holden, Fekken, & Xinaris, 1993) para se-
leccionar o número de factores.
No segundo momento, foram utilizados testes
t para amostras independentes e a metodologia
de análise da variância simples (ANOVA), para
estudar as diferenças entre médias de resultados
nos diferentes subgrupos da amostra. Posterior-
mente, realizaram-se comparações múltiplas a
posteriori para compreender a natureza das di-
ferenças significativas em cada uma das variá-
veis estudadas, utilizando-se para o efeito o tes-
te Tukey HSD (Ferguson & Takane, 1989). De-
pois, fez-se uma análise de regressão hierárquica
para determinar quais das variáveis anterior-
mente estudadas eram melhores preditoras da
sintomatologia depressiva. Por fim, fez-se um
estudo de análise discriminante, a qual permitiu
testar que variáveis critério melhor diferencia-
vam os participantes com prevalência de sinto-
mas depressivos dos restantes jovens.
RESULTADOS
Estudo das características psicométricas do
CDI
O CDI apresentou características psicométri-
cas genericamente satisfatórias.
Relativamente à consistência interna, os
indicadores foram muito positivos (alfa de .86 na
amostra total, alfa de .86 na subamostra do sexo
feminino, alfa de .87 na subamostra do sexo mas-
culino, alfa de .86 no grupo etário dos 12-13 anos,
alfa de .84 no grupo etário dos 14 e 15 anos e
alfa de .83 nos jovens entre os 16 e 17 anos).
Relativamente aos coeficientes de correlação dos
itens com o total do inventário, foram signifi-
cativos (p<.01) para a generalidade dos itens
(Quadro 1).
Só o item 19 “Não me preocupo com a minha
idade” deverá ser repensado em futuras aplica-
ções pois a precisão dos resultados tende a au-
mentar quando se retira este item e porque teve
sempre correlações negativas com o resultado to-
tal do inventário.
Na amostra total, o CDI evidenciou uma es-
trutura de quatro factores que explicam 39.42%
da variância dos resultados. O primeiro factor tem
um valor próprio de 6.16 e explica 22.83% da
variância dos resultados. Os outros três, explicam
6.04%, 5.75% e 4.81% da restante variância.
Relação entre os resultados do questionário
de dados demográficos e os resultados do CDI
Tendo por base a definição empírica da sinto-
matologia depressiva1, verificou-se que, dos 570
669
1No presente estudo, a média dos resultados foi de
24,15 e o desvio padrão de 8,41 enquanto que no estu-
do de Marujo (1994) a média foi de 22,06 e o desvio
padrão de 11,68. Assim, considerou-se o mesmo ponto
de corte, ou seja, o valor acima de 33 acima do qual os
jovens seriam considerados com sintomatologia de-
pressiva.
participantes, 66 (11.2%) evidenciaram sintomas
depressivos reveladores de sofrimento psi-
cológico. Destes, 40 eram do sexo feminino (7.02%
da amostra total e 12.58% na subamostra do se-
xo feminino) e 26 do sexo masculino (4.56% da
amostra total e 10.32% na subamostra do sexo
masculino).
Relativamente às variáveis demográficas, o Quadro
2 apresenta a síntese das diferenças verificadas
entre grupos nos resultados do CDI. Observam-
-se diferenças estatisticamente significativas quan-
to ao género [t(568)=-2.87), p<0.004] e quanto à
profissão da mãe [F(561)=2.835540, p<.006521].
Quanto ao género, a média de resultados aponta
para uma maior prevalência de sintomas depres-
sivos nas raparigas.
No que respeita ao estatuto socioeconómico,
os jovens cuja mãe é trabalhadora semi-qualifi-
cada, trabalhadora não qualificada ou doméstica
revelam uma prevalência de sintomatologia de-
pressiva superior à verificada nos jovens cuja
mãe é licenciada. Em função da idade e da pro-
fissão do pai não se verificaram diferenças signi-
ficativas entre as médias de resultados.
Os resultados relativos às variáveis de risco
são apresentados no Quadro 3, onde se referem
as questões colocadas, as alternativas de respos-
ta, bem como o correspondente número e per-
670
QUADRO 1
Média e desvio padrão para os itens na amostra total por sexo e para o conjunto de resultados.
Correlações item-total por sexos e na amostra total
Masculino Feminino Amostra total Corr. Item Total
Item M D.P. M D.P. M D.P. Masc. Fem. Total
1 .80 .54 .95 .46 .89 .50 .54** .61** .59**
2 1.41 .71 1.46 .71 1.44 .71 .61** .63** .62**
3 .96 .61 .88 .55 .92 .58 .43** .49** .45**
4 1.08 .54 .97 .53 1.02 .54 .33** .50** .41**
5 .72 .58 .74 .54 .73 .56 .31** .41** .36**
6 1.10 .76 1.36 .78 1.26 .78 .35** .51** .45**
7 .68 .75 1.05 .79 .89 .80 .65** .59** .62**
8 .80 .65 .78 .61 .79 .63 .47** .42** .47**
9 .39 .66 .59 .72 .50 .70 .42** .55** .50**
10 .60 .69 1.27 .72 .98 .78 .55** .68** .61**
11 .97 .54 1.09 .53 1.03 .54 .55** .58** .57**
12 .32 .58 .20 .44 .25 .51 .31** .44** .35**
13 .91 .75 .92 .65 .92 .70 .48** .47** .47**
14 .62 .80 .84 .79 .74 .80 .48** .44** .47**
15 1.37 .93 1.28 .86 1.32 .89 .50** .40** .43**
16 .61 .80 .79 .83 .71 .82 .50** .52** .52**
17 .99 .59 1.16 .55 1.09 .57 .46** .43** .45**
18 .44 .60 .58 .65 .52 .63 .25** .38** .34**
19 1.44 .77 1.53 .70 1.49 .73 -.04* -.04* -.03*
20 .49 .71 .65 .68 .58 .67 .57** .61** .60**
21 1.04 .86 .93 .84 .98 .85 .44** .53** .48**
22 .40 .71 .36 .57 .38 .63 .45** .42** .42**
23 1.04 .83 .94 .76 .98 .80 .36** .39** .36**
24 1.26 .82 1.31 .80 1.29 .81 .56** .53** .55**
25 .87 .69 .87 .67 .87 .68 .61** .53** .57**
26 1.24 .64 1.24 .67 1.24 .66 .25** .25** .25**
27 .46 .65 .28 .53 .36 .59 .35** .44** .36**
Total .85 .30 .93 .32 .90 .31
Nota: *p<.05; **p<.01
centagem de respostas, médias e desvio padrão.
Para efeito da descrição da análise, as questões
foram estruturadas nos quatro grupos que se apre-
sentam.
Estrutura familiar – a única diferença estatis-
ticamente significativa [F(566=4.34, p<.005] é a
que se verifica entre os jovens que vivem exclu-
sivamente com a mãe e os que vivem com ambos
os progenitores, sendo os primeiros aqueles que
revelam maior incidência de sintomas depressi-
vos.
Saúde – os resultados apontam para maior
prevalência de sintomas depressivos nos sujeitos
que estão frequentemente doentes [t(568)=4.03,
p<.000063], que tiveram doenças graves [t(568)=4.43,
p<.000011), que estiveram internados [t(567)=
2.39, p<.017182], ou que têm familiares doentes
[t(568)=4.78, p<.000002].
Consumo de tabaco e álcool – a diferença das
médias de resultados entre fumadores e não fu-
madores é estatisticamente significativa [t(568)=
2.37, p<.017997], sendo os fumadores aqueles que
apresentam resultados mais elevados no CDI.
Um padrão similar de resultados [t(568)=2.37,
671
QUADRO 2
Variáveis demográficas
Número e percentagem de respostas, médias e desvio padrão no CDI
Variáveis demográficas Alternativas de resposta N % Média D. P.
Idade 12-13 276 48.42 .89 .32
14-15 239 41.93 .89 .30
16-17 55 9.65 .94 .32
Género M 252 44.21 .85 .30
F 318 55.79 .93** .32
Licenciados 47 8.25 .79 .30
Dirig. Emp./quadros sup. 34 5.97 .93 .40
Administrativos 57 10.00 .87 .29
Profissão do pai Qualificados 265 46.49 .91 .31
Semi e não qualificados 93 16.32 .88 .31
Desempregados 12 2.11 .97 .21
Domésticos 1 0.18 .52 .00
Não classificados 61 10.70 .91 .32
Licenciados 53 9.30 .75 .29
Dirig. Emp./quadros sup. 12 2.10 .74 .29
Administrativos 75 13.16 .88 .32
Profissão da mãe Qualificados 40 7.02 .94 .34
Semi e não qualificados 190 33.33 .92** .30
Desempregados 10 1.75 1.00 .47
Domésticas 169 29.65 .90** .30
Não classificados 21 3.51 .99 .28
Nota: *p<.05; **p<.01
Legenda para profissão dos pais: (1) Profissões com nível de licenciatura – técnicas e artisticas; (2) Dirigentes de Empresas e
Quadros Superiores Administrativos; (3) Pessoal Administrativo – do comércio, vendedores e técnicos médios; (4) Trabalhadores
qualificados – operários qualificados, encarregados, capatazes e feitores; (5) Trabalhadores semi-qualificados e não qualificados
– trabalhadores indiferenciados e trabalhadores rurais. Para conseguir uma caracterização mais completa acrescentaram-se mais três
níveis: (6) Desempregados; (7) Domésticos (as) e (8) Não classificados.
672
QUADRO 3
Variáveis de risco
Questões colocadas, alternativas de resposta, número e percentagem de respostas, médias e
desvio padrão no CDI
Questões colocadas Alternativas de resposta N % Média D. P.
Com quem vives? Pai e Mãe 463 81.23 .88 .30
Pai 10 1.75 1.11 .34
Mãe 78 13.68 .98** .30
Outro 19 3.33 .88 .46
Estás doente com frequência? Sim 54 9.47 1.06** .34
Não 516 90.53 0.88 .30
Teve doença grave? Sim 80 14.04 1.04** .33
Não 490 85.96 .87 .30
Esteve internado? Sim 63 11.07 .98* .29
Não 506 88.93 .88 .31
Tens familiares doentes? Sim 128 22.46 1.01** .29
Não 442 77.54 .86 .31
Tipo de doença Física 107 84.25 1.01 .29
Psicológica 21 15.75 1.02 .31
Fumas? Sim 48 8.42 1.00* .35
Não 522 91.58 .88 .31
Bebes? Sim 108 18.95 .97** .36
Não 462 81.05 .88 .30
Gostas da tua escola? Sim 392 68.77 .87 .30
Não 178 31.23 .95** .33
Quando pensas deixar os estudos? Até 9.º ano 35 6.14 1.02** .36
Curso Profissional 89 15.61 .99 .31
Até 12.º ano 61 10.70 .95 .28
Curso Sup. Politécnico 89 15.61 .97 .31
Curso Superior 296 51.93 .81 .30
Já reprovaste? Sim 176 30.88 .95** .32
Não 394 69.12 .87 .31
Nota: *p<.05; **p<.01
p<.00438] é observado na diferença entre con-
sumidores e não consumidores de bebidas alcoó-
licas.
Vivência escolar – Os jovens que não gostam
da sua escola e os que têm maior insucesso es-
colar apresentam resultados significativamente
superiores no CDI, respectivamente [t(568)=-2.68,
p<.007548] e [t(568)=3.05624, p<.002347]. Quan-
to aos níveis de aspiração, observam-se também
diferenças significativas entre médias de resulta-
dos [F(565)=10.16835, p<.00005]. Neste caso,
os que desejam concluir uma licenciatura têm me-
nor incidência de sintomas depressivos.
A análise de regressão hierárquica utilizou co-
mo variável dependente o resultado total do CDI.
As variáveis independentes incluem as variáveis
demográficas e as variáveis de risco, tendo-se ex-
cluído as relativas ao nível socioeconómico dos
pais e ao nível de aspiração dos jovens por serem
variáveis categoriais e por isso não passíveis des-
te tipo de análise. Os resultados obtidos eviden-
ciaram como preditores estatisticamente significa-
tivos da sintomatologia depressiva: 1) a gravida-
de da doença dos sujeitos (β= -.32, p<.01) expli-
cando 12.23% da variância dos resultados e 2) con-
sumo de álcool (β= -.19, p<.01) explicando 3.42%
da variância dos resultados.
Por fim, realizou-se um estudo de análise des-
criminante cujo modelo (Lambda de Wilks .82;
F=9.17, p<.00001) aponta para que as variáveis
gravidade da doença, frequência da doença e fu-
mar sejam os melhores preditores da pertença a
um dos grupos (com ou sem sofrimento psicoló-
gico). No entanto, este valor preditivo é pouco
significativo uma vez que os resultados parciais
de Lambda foram respectivamente de .95, .95 e
.96..
Discussão dos resultados
Os resultados desta investigação confirmam o
CDI como uma medida fidedigna de sintomas de-
pressivos em adolescentes. Com efeito, os coefi-
cientes alfa de Cronbach são próximos dos obti-
dos por Kovaks (1985) e Marujo (1994), entre
.82 e .86 e entre .83 e .90, respectivamente. A
generalidade dos itens revela boas qualidades
psicométricas, evidenciadas a partir dos índices
de correlação item-total na amostra total e nas
subamostras. Contudo, o item 19 (“Não me pre-
ocupo com a minha idade”) deverá ser objecto
de análise em futuros estudos de modo a perce-
ber se os dados agora obtidos devem-se a especi-
ficidades da população estudada. Outro dado im-
portante prende-se com a confirmação do CDI
como um inventário que em grandes amostras me-
de um construto unidimensional, (Kovacs, 1985)
pois o primeiro factor explica mais de metade da
variância dos resultados.
A percentagem de jovens (11%) que eviden-
ciam sintomas depressivos é considerável, muito
acima da taxa de prevalência de problemas emo-
cionais encontrada por Monteiro e Fonseca
(1998)2em adolescentes escolarizados do conce-
lho de Santarém. O facto das raparigas apresen-
tarem maior prevalência de sintomas depressivos
está de acordo com muitos outros estudos que
apontam para maior prevalência da depressão
(Kazdin, 1987a, citado por Marujo, 1994; Go-
renstein, Andrade, Filho, Tung, & Artes, 1999)
ou de problemas emocionais (Monteiro & Fonse-
ca, 1998) entre adolescentes do sexo feminino.
No entanto, tal como refere Simões (1999) esta
interpretação deve ser cautelosa pois também po-
de traduzir a maior resistência dos rapazes à ex-
pressão dos sintomas e de uma forma geral à ex-
pressão do sofrimento psicológico. Em função da
idade dos participantes não se verificaram dife-
renças significativas na média dos resultados, o
que poderá ser explicado pela reduzida diferença
etária dos participantes, a qual não permitiu a ex-
pressão de diferenças de desenvolvimento signi-
ficativas. Quanto ao nível socioeconómico dos
participantes, pensamos que o facto das diferen-
ças só surgirem associadas à profissão da mãe
673
2Neste estudo pedia-se aos professores que avalias-
sem a presença de problemas emocionais nos seus alu-
nos a partir do questionário de Achenbach para pro-
fessores (Teacher Report Form – TRF) e pedia-se aos
alunos que também fizessem a auto-avaliação dos pro-
blemas emocionais a partir do questionário de Achen-
bach para alunos (Youth Self Report – YSR). Consi-
deraram-se jovens com problemas emocionais «aque-
les que se situavam acima do valor correspondente ao
percentil 90 no cluster de problemas emocionais do
questionário de auto-avaliação (YSR) e no cluster cor-
respondente do questionário para professores (TRF)»
(Monteiro & Fonseca, 1998, p. 196).
pode dever-se à importância que o trabalho re-
munerado de ambos os membros do casal tem
para a segurança económica das famílias portu-
guesas. Tal, justifica que tenhamos encontrado
nos jovens cuja mãe não trabalha fora de casa
(desempregada ou doméstica) ou que tem um ní-
vel de qualificação muito baixo, significativa-
mente mais sintomas depressivos que naqueles
em que a mãe exerce uma actividade em confor-
midade com a sua licenciatura.
Os estudos de regressão hierárquica e de aná-
lise discriminante permitiram constatar que a ex-
periência de uma doença grave, a frequência com
que se está doente, o consumo de álcool e o con-
sumo de tabaco foram as variáveis que mais se
relacionaram com a prevalência de sintomas de-
pressivos. Nesta perspectiva, o estudo confirma
uma associação entre bem-estar físico e bem-es-
tar psicológico. Quanto à associação entre sinto-
matologia depressiva e consumo de álcool e de
tabaco, estes resultados são concordantes com
uma notícia de Costa e Silva (2003, citado em
Diário de Notícias de 10.08.03), referindo-se aos
dados de um estudo de Rui Coelho e Amadeu
Martins com adolescentes portugueses, onde o
consumo de álcool e de tabaco são indicados co-
mo formas de lidar com a sintomatologia depres-
siva.
A nossa investigação apresenta ainda um con-
junto de implicações para a prática da psicologia,
das quais se destacam: 1) confirmar o Children’s
Depression Inventory como medida fidedigna de
sintomas depressivos em adolescentes; 2) apon-
tar para a necessidade dos serviços de saúde cria-
rem condições de acompanhamento psicológico
de adolescentes com doença grave uma vez que
se verificou estreita relação entre bem-estar físi-
co e psicológico; 3) alertar para a necessidade de
um trabalho articulado entre os Serviços de Psi-
cologia e Orientação, os Centros de Saúde e os
Serviços de Psiquiatria, bem como outras insti-
tuições, de modo a permitir uma acção preven-
tiva e remediativa mais eficaz através da identi-
ficação de jovens em risco, e através da forma-
ção dos médicos de família, professores e outros
agentes educativos ao nível das problemáticas da
adolescência.
Quanto às limitações, destacamos a não utili-
zação de outras metodologias de avaliação para
determinar se os participantes preenchem crité-
rios de diagnóstico da depressão, e a não utiliza-
ção de medidas relativas ao auto-conceito e fun-
cionamento interpessoal, enquanto importantes
variáveis preditoras da incidência da sintomato-
logia depressiva (Klein & Santiago, 2003).
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RESUMO
Esta investigação teve como objectivo principal ca-
racterizar a prevalência de sintomas depressivos em
adolescentes que frequentam escolas secundárias do
concelho de Palmela. Aplicou-se a versão portuguesa
do Inventário de Depressão para Crianças (CDI) a uma
amostra de 570 jovens entre os 12 e os 17 anos. Fize-
ram-se estudos das características psicométricas do in-
ventário, cálculo da percentagem de sujeitos conside-
rados em sofrimento psicológico (amostra total e sub-
amostras) e estudos sobre o efeito preditivo das variá-
veis critério relativamente aos resultados no CDI.
Neste artigo, discutem-se os resultados do estudo, su-
as implicações práticas e limitações.
Palavras-chave: Epidemiologia, adolescentes, pre-
valência, sintomas depressivos.
ABSTRACT
The main objective of this research was to characte-
rise the prevalence of depressive symptoms among
adolescents attending secondary schools in the district
of Palmela. The Portuguese version of the Children
Depression Inventory (CDI) was applied to a sample
of 570 teenagers, ranging from 12 to 17 years of age.
The psychometric characteristics of the Inventory we-
re studied, the percentage of individuals in psychologi-
cal distress was determined (total sample and sub sample)
and studies on the predictive effect of criteria variables
relating the results in the CDI were also made. The
results of the study, its practical implications and limi-
tations are here discussed.
Key words: Epidemiology, adolescents, prevalence,
.depressive symptoms.
675
... Before the COVID-19 pandemic, rates of anxiety and depressive symptoms in global large youth cohorts were 11.6% and 12.9%, respectively [5]. Moreover, a Portuguese study described similar rates of depressive symptoms (11.2%) before the COVID-19 pandemic [6]. Additionally, the prevalence of depressive symptoms in youth increased during the COVID-19 pandemic in some cross-sectional [7,8] and longitudinal studies [9,10]. ...
... This survey was conducted as the children returned to school once the infection control restrictions eased allowing the school to reopen. Our results suggest an increase in psychological distress during the pandemic, as a Portuguese study described a rate of pre-pandemic depressive symptoms of 11.2% in this age group [6], suffering an increase to 15.4% with the COVID-19 pandemic. To our knowledge, this is one of the first studies that show an association between depressive symptoms and the COVID-19 pandemic in a sample of children and adolescents in Portugal [13]. ...
... The results showed that a significant percentage of children and adolescents had more depressive symptoms than before the COVID-19 pandemic. This finding is consistent with previous studies of childhood and adolescent mental illness before the COVID-19 pandemic, which showed lower rates of clinically depressive symptoms [5,6,14,15]. ...
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Background The coronavirus disease 2019 (COVID-19) outbreak has led to social isolation, with the potential to increase depressive symptoms, even at the pediatric age. Before the COVID-19 pandemic, the rate of depressive symptoms in large youth cohorts was 12.9% worldwide. Aims This study aims to characterize the impact of the COVID-19 pandemic on the pediatric population’s mental health. Materials and methods This was an observational, descriptive, and cross-sectional study conducted through the use of a questionnaire, including the Children's Depression Inventory (CDI), between April 5 and May 5, 2021. The study was conducted on children and adolescents aged 7 to 17 years old in a school in the geographical area of a Portuguese grade II hospital. Incomplete data were excluded. Data were statistically analyzed using the IBM SPSS® program (version 28; IBM Corp., Armonk, NY), considering statistical significance if p<0.05. Results A total of 228 children and adolescents were included; 113 were female (49.6%). The average age of the population was 12.2 years. Fifteen point four percent (15.4%) had depressive symptoms, of which 51,9% were female. Of the children and adolescents with depressive symptoms, 5.7% had a personal history of past COVID-19 infection and 42.9% had at least one family member with a history of past COVID-19 infection. Seventeen point one percent (17.1%) had at least one family member involved in pandemic-related work. Children and adolescents who were infected with COVID-19 had more depressive symptoms than noninfected children and adolescents (p=0.013). At the same time, children and adolescents, with at least one family member with a history of past COVID-19 infection, had more depressive symptoms than children and adolescents without a family history of past COVID-19 infection (p=0.004). Children and adolescents with a family member involved in pandemic-related work had more depressive symptoms than children and adolescents without any family member involved in pandemic-related work (p=0.004). Conclusions COVID-19 infection, whether personal or familiar, has an impact on mental health, even in the pediatric age, and it is imperative to know the consequences of emotional and mental changes in this population.
... Regarding the levels of depressive symptomatology in the present sample, girls presented significantly higher levels of symptomatology compared to boys. Although the magnitude of the means difference was small, these result is consistent with what has been verified in the literature (Cardoso, Rodrigues, & Vilar, 2004;Duarte et al., 2015;Erse et al., 2016;Ferreira, 2016;Gomes et al., 2015). ...
... In terms of clinical implications, the present study provided a better understanding of protective and risk factors in the development of depression in adolescence, especially regarding the misuse of acceptance strategy and the way it is implemented according to the mother support perceived. This reveals a better knowledge about possible intervention targets in the treatment and prevention of depression, which is of extremely importance attending to the prevalence and prognosis of depressive 390 symptomatology in adolescence ( Cardoso et al., 2004;Costello, Copeland, & Angold, 2011;DGS, 2016;Erse et al., 2016;WHO, 2017). ...
... The data indicated that girls have a higher prevalence of psychosomatic and anxiety symptoms and tend to be more perfectionist than boys. However, Cardoso, Rodrigues, and Vilar (2004) point out that these data should be interpreted with caution, since boys tend to become more withdrawn due to psychological distress. According to our sample, age does not seem to contribute to the development of psychopathological symptoms, which suggests that the way young people manage their difficulties and develop psychopathological symptoms may, in this sample, not be conditioned by their age group. ...
... Thus, these young people tend to have more feelings of personal inadequacy and inferiority in comparison to other adolescents. The literature has largely supported these data, showing that females have a higher prevalence of depressive and anxiety symptoms compared to males (Borges et al., 2008;Cardoso et al., 2004;Lemos, 2007). ...
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The transition of young people to residential care is caused, usually, by the need for removal from a dysfunctional environment, which can poten tially disrupt their healthy development and put them at a higher risk. Sibling relationships have been identified as critical to adapting to the developmental process. The present study analyzes whether sibling relationship quality can protect from the development of certain psychopathologies among adolescents from traditional families, as well as institutionalized adolescents. We also intend to analyze the differences in sibling relationship quality and psychopathological symptoms, according to the adolescents' family structure, gender and age. The sample consisted of 387 adolescents, 215 from traditional families and 172 in residential care, aged from 12 to 18 years old. The results show that siblings can play an important role in the prevention of psychopathological symptoms. Young people in residential care appear to have higher psychopathological symptoms; nevertheless, they also present higher levels of pro-social behaviors with siblings.
... As afirmações são classificadas em ordem crescente de gravidade e a pontuação varia entre 0 -"ausência de sintomas" e 2 "sintoma definitivo". A pontuação total pode variar entre 0 e 54 pontos e os resultados permitem estabelecer uma definição empírica de sintomatologia depressiva (Cardoso, Rodrigues, & Vilar, 2004). Este inventário engloba cinco dimensões, sendo estas o humor negativo, problemas interpessoais, ineficácia, anedonia e autoestima negativa. ...
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Contexto: A revisão da literatura sobre potenciais fatores preditores dos sintomas depressivos em adolescentes tem mostrado que asexperiências traumáticas durante a infância, as experiências de vergonha e o género têm um contributo relevante. Objetivo: Pretende-se com o presente estudoobservar a variabilidade intraindividual da vergonha, acontecimentos traumáticos e género e testar o poder preditivo destas variáveis a 6 meses na evolução de sintomas depressivos (variável dependente) em adolescentes. Método: A amostra foi constituída por 325 adolescentes, com idades compreendidas entre os 12 e os 18 anos, distribuídos pela zona centro de Portugal e a frequentar o 3.º ciclo do ensino básico e ensino secundário. Foram utilizados o Inventário de Depressão para Crianças, a Escala Breve de vergonha e o Questionário de Trauma na Infância para a avaliação das variáveis referidas. Os resultados longitudinais foram analisados através de uma análise de regressão linear múltipla. Resultados: Verificou-se uma associação positiva entre experiências relatadas como traumáticas e as perceções de vergonha (T1) e os sintomas depressivos (T2, após 6 meses). O modelo de regressão linear múltipla explicou 63% da variância dos sintomas depressivos no T2, podendo contemplar-se que a pertença ao género feminino, a experiência de sentimentos de vergonha e de acontecimentos percebidos como abuso afetivo, abuso sexual e de negligência emocional (variáveis do trauma) permitiram predizer sintomas depressivos na adolescência. Conclusão: Dado que existe alguma evidência do impacto de acontecimentos traumáticos do tipo abuso/negligência durante a infância e de perceções de vergonha, durante a adolescência no desenvolvimento de sintomas depressivos, será pertinente que estas variáveis sejam tidas em conta, quer na avaliação, quer nas intervenções psicoterapêuticas nesta etapa do desenvolvimento humano. Este estudo contribui para salientar o papel de fatores de vulnerabilidade para os sintomas depressivos na adolescência.
... Apesar dos demais fatores de QV não apresentaram diferenças significativas em função da ausência ou presença de sintomatologia depressiva (saúde e atividade física, sentimentos, estado emocional, auto percepção, autonomia e tempo livre, aspectos financeiros e ambiente escolar), estudos apontam para implicações negativas na QV geral dos adolescentes, em função da presença da sintomatologia depressiva (Aragão, Coutinho, Araújo & Castanha, 2009;Cardoso, Rodrigues & Vilar, 2004;Ribeiro, Oliveira, Coutinho & Araújo, 2007). ...
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The study aimed to verify the relation between depression and quality of life (QOL) of adolescents in school context. Specifically, to know the prevalence of depressive symptomatology; to analyze the correlation of depression with quality of life and to compare groups with and without depressive symptomatology. We had the participation of 204 adolescents, between 12 and 18 years old (M = 14,99; SD = 1,92), mostly females (53,4%), from public schools of João Pessoa, Paraíba, which responded to the Children's Depression Inventory (CDI), the QV questionaire (Kidskreen-52) and a sociodemographic questionaire. Data were submitted to descriptive and inferential statistics. The results concerning the prevalence of depressive symptomatology shows the presence of 8,3 from the total sample. About the correlation between the domains of QOL and depressive prevalence, we noticed negative ones, the strongest being in emotional state, feelings and family/familiar environment domains. In relation of the comparative between adolescents with and without depressive symptomatology, we found statistically relevant differences in family/familiar environment and provocation/bullying. In the first domain, adolescents with no indication of depressive symptomatology showed higher averages in familiar interaction instead of the ones which demonstrated symptomatology, denoting better quality of family life. In provocation/bullying domain, people without depressive symptomatology had better averages, indicating the higher the social acceptance is, the lower the feeling of fear, rejection and anxiety towards your respective equals will be. Therefore, it is expected this study contributes for a wider comprehension about the relation between depression and QOL constructs in the adolescence's school context.
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Para compreendermos a dinâmica familiar, temos de conhecer a constituição da família, pois são as características dos seus membros e das relações entre eles que influenciam essa dinâmica, nomeadamente, o número de filhos e as experiências diferenciadas, como a perceção da justiça e as doenças, que cada um deles tiveram e têm. Nesta amostra de 244 adolescentes verificámos que os adolescentes do sexo masculino sentem uma maior diferenciação ao nível do tratamento parental comparativamente aos adolescentes do sexo feminino, e que a depressão se correlaciona positivamente com o tratamento materno diferenciado, tendo este, assim, um contributo significativo para o aparecimento da depressão nos adolescentes. Como o tratamento materno diferenciado parece influenciar o bem-estar emocional dos adolescentes, parece-nos importante que se façam mais investigações de modo a compreender melhor qual o seu impacto e as suas repercussões na vida dos filhos, quer na adolescência, quer na infância.
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Socioeconomical inequalities in terms of health are known and recently also highlightened for mental health in general and for depressive disorders in particular, recurrently showing that individuals in “disadvantaged” socioeconomical positions have increased risk of developing a disease. However, few studies approach the relation between variables likely to characterize the individual socioeconomical level and depressive symptoms in samples from the general population with valid epidemiological designs. Additionally, very few studies test the influence of relevant environmental characteristics, while intervening in the relation between depressive symptoms and the socioeconomical level, showing incongruent results. In this chapter, an incursion is made in the latest theoretical trends concerning the study phenomenon etiology (depression), as a nosologic entity disposed in a continuum of signs and typical symptoms, making use of epidemiologic data and consensual reviews, whenever possible. The adopted perspectiveuses psychological lenses in the search for plausible rationalizations and risks a social insight in the pursuance of determinants and observed inequalities for the hard distinction of depressive phenomena.
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The aim of this study was to investigate the relationship between family functioning and behavior problems in children from the mothers' perception. Participants were 21 mothers of children between 7 and 11 years who attended public schools. The instrument was Child Behavior Cheek List (CBCL), Family Climate Inventory (ICF) and the Familiograma, all instruments were completed by mothers. Data were analyzed using descriptive and inferential statistics. The results show significant and strong correlations between factors that assess the family environment and the presence of behavior problems presented by the children. The results show that there is a relationship between these variables, the higher the level of affection and cohesion the lower the presence of behavior problems. The consistency of these results is important evidence about the family environment as a source of emotional and psychosocial development.
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p> Objetivo : descrever indícios de depressão em adolescentes, de 11 a 17 anos, de escola da rede pública da cidade do Salvador e caracterizar o perfil desses escolares. Metodologia : Este estudo faz parte de uma pesquisa maior, realizada em uma escola durante o período entre março e dezembro de 2015. Foram aplicados questionários para avaliação de sintomas de depressão (CDI), numa amostra de 220 escolares, tratando-se de um estudo observacional, transversal, com amostra por conveniência. Resultados : dos escolares, 17 adolescentes (7,72%) apresentaram sinais de depressão, corroborando com a literatura pesquisada, enquanto que 203 estudantes (92,27%) não apresentaram sintomatologia. Não se encontrou diferença significativa de sinais depressivos no que se refere à idade, sexo, raça e ano escolar dos adolescentes. Conclusão : é necessário maior número de estudos nessa linha, assim, será possível obter mais ferramentas que possibilitem maior compreensão acerca do impacto da sintomatologia de depressão nessa população. Além disso, uma melhor compreensão da depressão em adolescentes permite diagnóstico e encaminhamento precoces, assim como uma atuação preventiva e intervenção adequada.</p
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A depressão é uma das psicopatologias que vêm avançando nas demandas da saúde coletiva e ocorre em qualquer idade, independentemente da inserção socioeconômica e cultural. O presente trabalho teve como objetivo apreender as representações sociais (RS) da depressão de adolescentes com e sem sintomatologia depressiva no contexto do ensino médio em escolas públicas e privadas da cidade de João Pessoa - PB. Utilizou-se o Inventory Children Depression (CDI) como screening da amostra e o teste de associação livre de palavras (TALP) entre os duzentos e dez participantes de ambos os sexos, com idades entre catorze e dezoito anos. Os dados do TALP foram analisados através do software Tri-Deux-Mots, por meio da análise fatorial de correspondência (AFC). Os resultados indicaram que as RS elaboradas pelos estudantes sem sintomatologia ancoraram a depressão na morte e na dor, ao passo que os adolescentes com sintomatologia depressiva basearam-se na solidão e na droga. Esses resultados sugerem que a depressão pode interferir negativamente no cotidiano, nas atividades escolares, na auto-estima e na sociabilidade na adolescência.
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Vredenburg, Flett, and Krames's (1993) conclusion that self-reported distress in college students is an appropriate analog for diagnosable depression is examined in light of a broader literature. Self-reported distress is conceptually and empirically distinct from depression and depressive symptoms. Distress has stronger correlates with common psychological and social factors. Distress in college students tends to be mild and transient, and most distressed college students are not depressed. Some other features of college life also make generalizations to clinical and community samples of adults problematic. Overall, ubiquitous misunderstandings in the literature have limited recognition of the pitfalls of studying distress as an analog for diagnosable depression. It is undesirable for reasons of science, social responsibility, and the credibility of psychological models of depression.
Article
The experience of depression in either children or adults can be viewed as a failure in the regulation of affect. Both internal (cognitive and behavioral) and external (interpersonal interactions) sources of affect regulation operate. The relative importance of these sources varies as a function of the individuals developmental stage and the nature of their current life situation. This paper reviews the research that examines relevant intrapersonal and interpersonal factors that have been studied in depressed elementary school age children and suggests directions for future research. Depressed children exhibit cognitive and behavioral patterns, some of which are developmentally based, that can be viewed as deficits in affect regulation. In addition, deficits occur in the interpersonal abilities of depressed children and in the abilities of significant others in their social network. When both internal and external sources of affect regulation fail, clinic alls significant depression may result
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Selecting the "correct" number of components to retain in principal components analysis is crucial. Parallel analysis, which requires a comparison of eigenvalues from observed and random data, is a highly promising strategy for making this decision. This paper focuses on linear interpolation, which has been shown to be an accurate method of implementing parallel analysis. Specifically, this article contains tables of 95th percentile eigenvalues from random data that can be used when the sample size is between 50 and 500 and when the number of variables is between 5 and 50. An empirical example is provided illustrating linear interpolation, direct computation, and regression methods for obtaining 95th percentile eigenvalues from random data. The tables of eigenvalues given in this report will hopefully enable more researchers to use parallel analysis because interpolation is an accurate and simple method of obviating the Monte Carlo requirements of parallel analysis.
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The psychometric properties of the Portuguese version of the Beck Depression Inventory were studied on a large Brazilian college student sample (N= 1,080; 845 women, 235 men). The BDI scores according to sociodemographic characteristics and mean individual item scores for total sample and by gender were compared. BDI scores tend to be higher for women, for those who work, and for the younger participants. The reliability of the inventory estimated by alpha coefficient was high for the total sample (.86) and subgroups. Factor analysis showed three factors for the total sample (low self-esteem, cognitive-affective, and somatic) and two for each gender. Women combined affective and low self-esteem whereas men combined somatic and low self-esteem in the same dimension. Discriminant analysis showed that BDI highly discriminates depressive symptomatology in college students and measures specific aspects of depression.
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Chronic forms of depression are more common and impairing than is generally recognized. This article introduces an In Session issue devoted to dysthymic disorder and chronic depression, and it reviews current knowledge about these disorders. First, we discuss nosological issues, followed by a summary of potential risk factors. Finally, the naturalistic course of chronic depression is described and implications for clinical practice are discussed. © 2003 Wiley Periodicals, Inc. J Clin Psychol/In Session.
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Although there are numerous self-help books for depression, relatively few have been empirically tested. However, those that have been used in clinical trials have fared well, with an average effect size roughly equivalent to the average effect size obtained in psychotherapy studies. Computer-based treatments are being developed and appear promising as an alternative to bibliotherapy for those interested in self-administered treatments. This article provides a summary of the depression bibliotherapy literature and discusses several remaining questions such as effectiveness versus efficacy, practice applications, ethics, and future research.
Problemas emocionais na adolescência e juventude:: O ponto de vista dos alunos e professores
  • C. M. Monteiro
  • A. C. Fonseca
Vício "cura" depressão. Diário de Notícias
  • E Costa E Silva
Costa e Silva, E. (2003). Vício "cura" depressão. Diário de Notícias, 10 Agosto.