April 2025
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Cadernos de saúde pública / Ministério da Saúde, Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública
Resumo: Em 2019, o anúncio da possibilidade de rompimento da barragem Sul Superior, da Mina de Gongo Soco, em Barão de Cocais (Minas Gerais, Brasil), trouxe, e ainda traz, implicações de um colapso real. Este trabalho avaliou a percepção de risco dos moradores diante do risco de ruptura dessa barragem de rejeitos de mineração, além de avaliar a sua influência na vida dos moradores. Entrevistas foram realizadas com moradores do município (n = 62), entre maio e junho de 2021. Dos entrevistados, 38,7% foram removidos de suas residências. Apenas 56,5% ouviram falar sobre o risco do colapso em 2019. As fontes de informações mais usadas para acompanhar a situação de risco foram as redes sociais (45,2%) e a internet (37,1%). Ao receber a notícia, a maioria dos participantes relatou reações de sofrimento e sentimentos negativos, como medo, revolta e desespero; 88,7% relataram o surgimento de problemas econômicos (54,8%), ambientais (41,9%), sociais (32,2%) e de saúde (74,2%), em que ansiedade e depressão foram citadas com maior frequência. Alcoolismo, transtornos psicológicos, úlcera, insônia, arritmia cardíaca e estresse também foram mencionados. A maioria (58,1%) confirmou o agravamento dos problemas de saúde no período da pandemia de COVID-19. Após mais de dois anos do risco anunciado, a crença no rompimento diminuiu entre os entrevistados. Este estudo demonstrou que falhas na comunicação de risco, aliadas à invisibilidade dos efeitos psicológicos e sociais, exacerbaram a vulnerabilidade da população diante dos riscos associados à “lama invisível”. Políticas públicas e ações de saúde voltadas ao cuidado da população são necessárias, principalmente relacionadas ao adoecimento mental.