August 2021
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Tellus
Este artigo descreve os conhecimentos tradicionais relacionados ao uso e manejo da Stevia rebaudiana pelos Paĩ Tavyterã, habitantes do departamento de Amambay, no leste do Paraguai, e dos Kaiowa e Guarani, do sul do estado brasileiro do Mato Grosso do Sul. Esses indígenas, conhecem essa planta pela denominação ka’a he’ẽ, em guarani. Por meio da realização de duas pesquisas interculturais, realizadas no Brasil e Paraguai, são descritos os usos relatados por anciões e anciãs com o ka’a he’ẽ, incluindo conhecimentos ecológicos e o manejo da planta. O ka’a he’ẽ, além de ser utilizado como um remédio para a cura de vários males, e como um edulcorante de alimentos, era consumido por jovens, mulheres e homens, na fase de transição para a idade adulta, momento no qual seus corpos se tornavam especialmente vulneráveis a influências externas. Nesse contexto, o consumo de folhas de ka’a he’ẽ, e a aplicação de infusão das folhas em partes do corpo, contribuía com a capacidade de produzir ou extrair alimentos doces, tal como o kaguĩ (chicha) doce, pelas mulheres. Além de produzir a capacidade de tornar algo doce, o ka’a he’ẽ atuava de forma protetiva, moderando e controlando os poderes de alteração dos corpos dos jovens durante a fase de jekoaku na transição para a fase adulta, espantando seres cujas afecções ao corpo não são desejadas. A planta era usada em especial no ritual do kunumi pepy, logo antes da furação dos lábios inferiores dos meninos para a inserção do tembetá.