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Abstract

INTRODUÇÃO A elevada internacionalização da estrutura produtiva brasileira, com presença marcante de empresas estrangeiras liderando importantes se-tores industriais não é um fenômeno recente. Pelo contrário, o "tripé" sobre o qual se baseou o processo de industrialização brasileiro tinha a instalação de filiais de empresas estrangeiras como um dos seus aspectos fundamentais. Porém, no período recente, o grau de internacionalização da eco-nomia brasileira aumentou ainda mais, resultado de um novo boom de inves-timento direto estrangeiro (IDE), ocorrido na década de 90. Esse aumento no grau de internacionalização pode ser observado não apenas pelo fluxo de IDE, mas também pelo aumento da participação das filiais nas vendas da indústria e nos fluxos de comércio. Face a esse fenômeno, vários estudos vêm sendo realizados, bus-cando analisar quais os impactos sobre a economia brasileira dessa nova onda de IDE. Grande parte desses estudos procuraram analisar os impactos da presença estrangeira sobre os fluxos de comércio. Particularmente, a mu-dança em direção a uma maior abertura da economia parece ter levado alguns analistas a acreditarem que o papel das empresas estrangeiras no comércio exterior brasileiro iria se tornar mais significativo e benéfico para o país. Neste sentido, vários estudos buscaram comparar o desempenho comercial 1 Pesquisador do Neit/IE -Unicamp. 2 Pesquisadora do Neit/IE -Unicamp.
Padrões regionais de comércio exterior brasileiro: qual a influência da
origem do capital?
1 Introdução
Historicamente, a economia brasileira teve uma participação elevada de
empresas estrangeiras. Essa configuração do setor produtivo nacional foi sendo
constituída ao longo de anos de políticas econômicas que privilegiaram a
internacionalização do sistema produtivo nacional como mecanismo de
desenvolvimento econômico e/ou de inserção externa. Argumentos como necessidade
de poupança externa, maior capacidade tecnológica e maior inserção no comércio
exterior das empresas estrangeiras foram recorrentemente citados pelos economistas
como justificativa para a atuação do capital externo no país. O próprio processo de
industrialização brasileira contou com presença marcante de empresas estrangeiras,
especialmente na indústria pesada, atuando de forma complementar às empresas de
capital privado nacional e às empresas estatais, responsáveis pelos segmentos “leves” da
indústria e pelos setores de infra-estrutura, respectivamente.
No período recente, a crescente internacionalização da economia brasileira,
aliada à fragilidade de seu balanço de transações correntes, tornaram-se um foco
privilegiado do debate econômico nacional. Outras modificações ocorridas na economia
brasileira nos últimos anos são extremamente relevantes do ponto de vista deste debate
e dos impactos da internacionalização sobre o desempenho do setor produtivo nacional.
Em primeiro lugar, pode-se citar o processo de liberalização comercial e
financeira pelo qual passou a economia no início dos 90 que, ampliou os coeficientes
exportados e importados da produção e, de certa forma, deixou a economia brasileira
mais suscetível às mudanças de humor dos mercados financeiros globalizados. Em
segundo lugar, os acordos regionais de comércio, como o Mercosul, a Alca e o acordo
Mercosul-União Européia, podem ter impactos significativos sobre o desempenho
externo do país nos próximos anos.
Particularmente, a mudança em direção a uma maior abertura da economia
parece ter levado alguns analistas a acreditarem que o papel das empresas estrangeiras
no comércio exterior brasileiro iria se tornar mais significativo e benéfico para o país.
Neste sentido, vários estudos procuraram responder até que ponto a internacionalização
da economia brasileira foi um fator de aumento da competitividade internacional do
país. Os resultados obtidos, de modo geral, demonstraram a existência de uma maior
integração externa das empresas estrangeiras, mais forte, entretanto, em termos de
importações do que de exportações.
Essas diferenças estão relacionadas à características específicas das empresas
transnacionais. Entre as particularidades destas empresas está o fato de serem integradas
ao comércio mundial através das demais filiais da corporação ao redor do mundo, o que
lhes dá acesso facilitado a um número de mercados mais amplo do que as empresas
domésticas. Além disso, as transnacionais podem desfrutar de economias de escala
provenientes da maior especialização de suas filiais, podem aproveitar as dotações de
fatores diferenciadas dos países em que atuam e têm acesso facilitado a novas
tecnologias e, ainda, acesso a crédito a custos mais baixos do que suas congêneres
uninacionais. Além disso, por serem parte de uma corporação atuante em nível global,
as filiais de empresas estrangeiras apresentam fluxos comerciais e financeiros
determinados, em grande medida, pelos interesses e estratégias globais da corporação.
1
O objetivo deste estudo é, além da identificação das diferenças comerciais entre
empresas nacionais e estrangeiras, tentar avançar na investigação das possíveis causas
dessas diferenças. Uma delas, com profundas implicações no que diz respeito a um
possível acordo de comércio, tanto com a Alca quanto com a União Européia, diz
respeito à influência da região de origem do capital das estrangeiras sobre os padrões de
origem e destino do comércio exterior brasileiro. Assim, este estudo busca avaliar o
padrão regional de comércio das empresas estrangeiras no Brasil de acordo com a
origem regional de seu capital e suas diferenças em relação, em primeiro lugar, às
empresas nacionais e, em segundo lugar, às empresas estrangeiras de outras regiões.
O artigo está dividido em três seções além desta introdução. A próxima seção
faz uma breve discussão sobre as relações entre Investimento Direto Estrangeiro (IDE),
atuação das Empresas Transnacionais (ETs) e os fluxos de comércio no período recente.
A seguir são relatados os principais resultados dos estudos realizados durante a década
sobre empresas estrangeiras e comércio no Brasil. A quarta seção traz uma análise
econométrica em painel para 165 empresas industriais – estrangeiras e nacionais – nos
anos de 1989, 1997 e 2000. A análise econométrica busca responder a questão sobre as
diferenças regionais de comércio entre as empresas, segundo sua nacionalidade e região
de origem do capital. Por fim, a última seção traz as principais conclusões obtidas a
partir do artigo e algumas implicações em termos de política econômica e comercial.
2 Impactos do Investimento Direto Estrangeiro e das Empresas
Transnacionais sobre o Comércio Internacional
O crescimento acelerado tanto dos fluxos de comércio quanto dos fluxos de
investimento direto estrangeiro vem recebendo grande atenção dentro do campo da
economia internacional no período recente. Como pode ser visto na tabela 1, os fluxos
de comércio e principalmente de IDE cresceram a uma taxa média bastante superior ao
do produto mundial nos últimos 20 anos.
Também através da tabela 1, pode-se perceber que a contrapartida da
intensificação nos fluxos de IDE em relação ao comércio e ao produto mundial foi o
aumento da importância das atividades das ETs na economia global. Para um total de
vendas das filiais de ETs que atingiu em 2000 o valor de US$ 15,6 trilhões, o valor
adicionado chegou a US$ 3,1 trilhões, com taxas médias de crescimento entre 1982 e
2000 de 8,9% e 8% ao ano respectivamente. A participação das filiais na geração do
PIB mundial cresceu de 5,6% para 10,1 % nesse mesmo período. Vale lembrar que
esses dados não incluem o produto criado pelas operações das matrizes nos paises de
origem, apenas o de suas filiais no exterior, fato que subestima a participação das ETs
na geração da riqueza mundial.
É importante ressaltar ainda que no setor industrial, a participação das filiais no
produto é bastante maior do que nos setores de produtos primários e de comércio e
serviços. De acordo com estimativa realizada por Lipsey (1998) em 1990, a produção
internacionalizada na indústria, isto é a produção em um país controlada por firmas
baseadas em outros países, era responsável por 16% do produto industrial mundial,
patamar que também deve ter aumentado nos anos mais recentes.
Quanto aos fluxos comerciais, o total de exportações realizadas pelas filiais das
ETs estava estimado em US$ 3,5 trilhões em 1999, o que representou cerca de 56% do
total de exportações mundiais, contra uma participação de 35,7% em 1982. Também
nesse caso, a participação das matrizes não está contabilizada, o que subestima a
participação das ETs nas exportações totais. Ainda assim, esses dados são uma
indicação muito clara de que IDE e comércio internacional são fenômenos
2
interdependentes. Mais do que isso, observa-se que uma parte crescente dos fluxos de
comércio está sob controle das ETs.
Tabela 1 - Indicadores econômicos mundiais e das filiais das ETs – Anos
Selecionados – US$ bilhões de 2000
1982 1990 2000 82/2000
(% média a.a.)
Dados Mundiais
Fluxo de IDE 77 239 1.271 16,9%
PIB Mundial 14.086 24.518 31.363 4,5%
Exportações 2.492 3.977 6.338 5,3%
Dados das filiais de ETsa
Vendas 3.373 6.256 15.680 8,9%
Ativos 2.601 6.804 21.102 12,3%
Produto 789 1.625 3.167 8,0%
Exportações 889 1.335 3.572,00 8,0%
Produto Filiais de ETs/PIB Mundial (%) 5,6 6,6 10,1
Exp. Filiais de ETs/Exp. Mundiais (%) 35,7 33,5 56,4
Fonte: Unctad
a. Para 2000: estimativa da Unctad
Esse fenômeno tem resultado em um grande número de estudos, tanto teóricos
quanto empíricos, que têm buscando esclarecer as relações existentes entre os fluxos de
IDE, a atuação das ETs e os fluxos de comércio, tratando essas variáveis de maneira
mais integrada.
Do ponto de vista das teorias de comércio, o reconhecimento da importância das
atividades das ETs sobre os fluxos de comércio foi durante muito tempo negligenciada.
A formalização dos modelos de vantagem comparativa do tipo Heckscher-Ohlin tinha,
entre os seus vários pressupostos, a hipótese de que os fatores de produção eram
imóveis internacionalmente, o que equivale a dizer que os fatores de produção só
podiam ser explorados onde estivessem localizados. Além disso, a idéia de firma
subjacente ao modelo era de uma unidade de produção produzindo apenas um produto,
com apenas uma planta em um ambiente onde prevalecia a concorrência perfeita em
todos os mercados. Isto é, excluía-se de antemão qualquer possibilidade de existência de
firmas multinacionais, tanto pela impossibilidade de as firmas de um país utilizar os
fatores de produção de outro país, quanto pelo fato de que seria impossível para uma
firma estrangeira acumular qualquer tipo de vantagem sobre as firmas domésticas para
produzir no mercado local, dada a hipótese de concorrência perfeita.
Atualmente, embora as teorias de comércio que excluem as multinacionais ainda
permaneçam como explicação padrão, o reconhecimento de que a atuação das ETs
influencia os fluxos e os padrões de comércio tem estimulado o surgimento de trabalhos
que buscam incorporar a questão das multinacionais dentro de modelos de equilíbrio
associados às novas teorias de comércio internacional.
Basicamente, podem ser identificadas duas linhas principais de argumentação
para explicar o surgimento das Multinacionais nos novos modelos de comércio. A
primeira, onde se destacam Helpman (1984) e Helpman e Krugman (1985) procura
explicar os investimentos verticais das multinacionais, isto é, aqueles investimentos
caracterizados pela separação das etapas das cadeias produtivas em países distintos,
através do aproveitamento nas diferenças na proporção dos fatores dos países. Nesses
modelos, as firmas se caracterizariam por concentrar as atividades associadas aos
serviços corporativos, mais intensivos em capital, no país com melhor dotação relativa
3
de capital, exportando esses serviços para a unidade produtiva localizada no país melhor
dotado de trabalho, que, por sua vez, iria exportar o produto final. A lógica do
investimento internacional estaria associado, portanto, à possibilidade de separar as
etapas produtivas e aproveitar as diferenças nos custos dos fatores, criando comércio
intra-firma de serviços corporativos e produtos finais.
A segunda linha, desenvolvida por autores como Brainard (1993), Markusen
(1995) e Markusen e Venables (1998), analisa os investimentos horizontais, isto é, a
instalação multinacional de plantas com linhas de produtos semelhantes em países
similares em termos de tamanho de mercado, renda e dotação de fatores. O investimento
horizontal surgiria sempre que houvesse custos de transporte e/ou tarifas elevadas e
economias de escala ao nível da planta reduzidas em relação às economias de escala ao
nível da firma. Esses modelos prestam-se, portanto, a explicar o crescente fluxo de IDE
realizado de maneira cruzada entre países desenvolvidos. A situação de equilíbrio em
que prevalecem as multinacionais resultaria no predomínio das vendas diretas no país de
implantação das filiais em detrimento das exportações.
A partir de uma outra perspectiva, mais distante dos modelos de equilíbrio e
mais associada à literatura sobre as operações das ETs, estudos como o de Chesnais
(1996), Dunning (1993), e UNCTAD (1995, 2002a, 2002b) destacam que a interação
verificada no período recente entre o acirramento da concorrência em nível mundial, a
desregulamentação/liberalização dos mercados e a difusão de tecnologias de informação
tem levado as ETs a atuarem de uma maneira que não está associada somente à busca de
explorar diferenciais de custo de fatores ou à busca de exploração de novos mercados.
Os fluxos de IDE passaram a se voltar também para a racionalização da estrutura
de recursos estabelecida anteriormente, de maneira a aproveitar economias de escala e
escopo possibilitadas pela gestão unificada de atividades produtivas geograficamente
dispersas (efficiency seeking) e/ou para adquirir ativos capazes de alavancar
capacitações competitivas e auxiliar na perseguição de objetivos estratégicos em
mercados globais e regionais (strategic asset seeking).
Se antes a cadeia de valor das corporações era em grande parte reproduzida em
cada filial, a expansão e racionalização dessa estrutura resultou em uma cadeia de valor
mais fragmentada, com as filiais realizando atividades e funções com base em uma
divisão internacional do trabalho intracorporativa mais complexa. Nesse contexto, a
decisão de onde alocar uma atividade produtiva ou corporativa passou a ser baseada na
expectativa de contribuição para o desempenho global das ETs. Tornou-se mais comum
a existência de filiais mais especializadas e responsáveis por fornecer componentes ou
uma determinada linha de produtos para o restante da rede em uma determinada região
ou mesmo globalmente, respondendo inclusive por funções corporativas associadas a
essa linha, como por exemplo a organização das compras e a P&D (UNCTAD, 1995).
Como o potencial de acumulação da ET passou a depender da maneira como ela
organiza, coordena e integra as diversas atividades globalmente, verificou-se uma
intensificação nos fluxos de informações e recursos entre as a matriz e as filiais e entre
as várias filiais. Esses fluxos envolvem desde recursos financeiros, até tecnológicos,
passando por todo tipo de informação associada à gestão corporativa. Entretanto, é no
fluxo de produtos que essa integração se mostrou mais visível. O aumento da
participação das ETs nos fluxos de comércio verificado na tabela 1 reflete não apenas a
expansão quantitativa da internacionalização das grandes empresas, mas também as
mudanças relacionadas às novas formas de atuação das grandes corporações e os novos
objetivos dos fluxos de IDE.
Outra mudança importante associada à expansão e integração das atividades das
multinacionais em nível global diz respeito ao crescimento do comércio intra-firma. De
4
acordo com estimativas da UNCTAD (1995) cerca de dois terços do comércio mundial
envolve, de alguma maneira, alguma empresa multinacional. Desse total, cerca de
metade é comércio intra-firma. Ou seja, o comércio intra-corporativo responde por
cerca de um terço do total do comércio mundial.
Assim, qualquer tentativa de analisar os fluxos e os padrões de comércio sem
considerar que uma parcela cada vez maior desses fluxos é realizadas de maneira
internalizada pelas ETs ou através de esquemas de subcontratação controladas por ela,
não envolvendo, portanto, transações puras de mercado (arms-lentgh), é no mínimo
parcial.
Ou seja, no contexto atual, faz parte da própria lógica da atuação das ETs
reorganizar as cadeias de produção e comercialização globais, implicando
necessariamente transformações estruturais nos padrões de comércio dos países de
origem e de destino do IDE.
Na próxima seção, serão analisados os estudos que procuraram verificar os
impactos da atuação das ETs sobre o comércio exterior brasileiro no período recente.
3 Empresas Transnacionais e o Comércio Exterior Brasileiro na
Década de 90
Depois de permanecer em níveis pouco significativos durante toda a década de
80, o fluxo de IDE para a economia brasileira volta a aumentar na década de 90, em
especial na sua segunda metade. De um patamar médio de US$ 2 bilhões no período
1990-95, o fluxo recebido aumentou continuamente, atingindo o auge em 2000,
apresentando tendência de queda a partir de então, embora ainda em níveis bastante
elevados. Em termos relativos, a participação do Brasil, seja no fluxos mundial, seja no
total recebido pelos países em desenvolvimento também aumentou em relação ao início
da década (tabela 2).
Tabela 2 – Fluxos de Investimento Direto Estrangeiro em Países Selecionados
(US$ milhões)
Países e Regiões 1990-95* 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Mundo 225.321 386.140 478.082 694.457 1.088.263 1.491.934 735.146
Países em Desenvolv. 74.288 152.685 191.022 187.611 225.140 237.894 204.801
Brasil 2.000 10.792 18.993 28.856 28.578 32.779 22.457
Brasil/Mundo 0,9 2,8 4,0 4,2 2,6 2,2 3,1
Brasil/Ped 2,7 7,1 9,9 15,4 12,7 13,8 11,0
Fonte: BACEN, CEPAL e UNCTAD. Elaboração NEIT/IE/UNICAMP.
(*) Média anual
A contrapartida dos fluxos elevados de IDE no período foi o aumento da
importância das empresas estrangeiras na estrutura produtiva e de comércio exterior
brasileiro. Considerando as informações sobre as 500 maiores empresas privadas
brasileiras, em 1989 as empresas de capital estrangeiro representavam 30% do número
de empresas e 41% das vendas. No ano 2000, passaram a representar 46% das empresas
56% das vendas (Laplane e Sarti, 2002).
O aumento da importância das empresas estrangeiras voltou a chamar atenção
sobre os efeitos da atuação dessas empresas sobre a estrutura industrial brasileira, em
especial sobre os fluxos de comércio.
5
Vários estudos buscaram analisar o desempenho comercial das empresas
estrangeiras e verificar a diferença em relação aos padrões de comércio das empresas
nacionais, utilizando diferentes base de dados e diferentes metodologias.
Moreira (1999), por exemplo, trabalhando com informações do IRPJ de 1997 e
com cerca de 26 mil empresas, constatou que para um dado setor e para um dado
tamanho de firma, as exportações das empresas estrangeiras eram, em média, 179%
superiores às nacionais, enquanto as importações eram em média 316% maiores.
Pinheiro e Moreira (2000), a partir da mesma base da dados, verificaram que as
empresas estrangeiras tinham uma maior probabilidade de exportar e, além disso, um
valor esperado de suas exportações 32% maior do que o valor esperado das exportações
das empresas nacionais. Entretanto, o estudo também mostrou que à medida quem o
tamanho das firmas aumentava, a diferença entre exportações de empresas nacionais e
estrangeiras diminuía. Outras variáveis como receita total, intensidade de capital e de
mão-de-obra, salário médio e qualificação do trabalhador, concentração e utilização da
capacidade dos setores nos quais as empresas atuavam também foram incluídas no
modelo estimado. Nesse trabalho, o autores não abordaram as diferenças existentes
entre os dois grupos de firmas em termos de importações.
Outro exercício no sentido de identificar as diferenças no comportamento
comercial de empresas nacionais e estrangeiras foi elaborado em Chudnovsky et all
(2002), a partir de informações sobre as 500 maiores empresas brasileiras. Neste estudo,
os autores observam um aumento do coeficiente de importação das empresas
estrangeiras no Brasil no período 1992-2000 e uma pequena redução nos seus
coeficientes de exportação. A partir de um teste de diferenças de médias no qual foram
controlados o setor e o tamanho da firma, os autores constataram que não existiam
diferenças significativas nos coeficientes de comércio entre empresas estrangeiras e
nacionais em 1992. Em 1997 e 2000, entretanto, embora as diferenças não se
mostrassem significativas para os coeficientes de exportação, eram significativas para
os coeficientes de importação.
Por fim, o estudo de De Negri (2003), trabalhando com os micro-dados da PIA
cobrindo cerca de 54 mil empresas no período 1996 a 2000, também verificou, a partir
de uma análise de painel, uma diferença no comportamento comercial de empresas
nacionais e estrangeiras. Também nesse estudo a diferença em favor das estrangeiras foi
muito superior para as importações do que para as exportações. No modelo de efeitos
aleatórios, controlando fatores como tamanho, produtividade, qualificação da mão-de-
obra, diferenciação de produto e setor de atuação, os resultado mostram que as empresas
estrangeiras exportavam em média 70% a mais do que as nacionais e importavam 290%
a mais.
Em resumo, os estudos mostram que as empresas estrangeiras apresentam uma
orientação externa maior do que a das empresas nacionais, principalmente em termos
das importações. Para as exportações, verifica-se uma diferença menos acentuada, em
especial quando se consideram empresas de grande porte.
Além da diferença em termos de desempenho comercial, um outro aspecto
importante no que diz respeito aos impactos da atuação das empresas estrangeiras está
relacionado aos padrões de origem e destino dos fluxos de comércio. Esse é um aspecto
que merece ser melhor analisado uma vez que tem implicações importantes no debate
sobre os efeitos dos acordos de integração em processo no Brasil na conjuntura atual.
Como destacam Baumann e Carneiro (2002), considerar a origem do capital e os
impactos das ETs pode levar a qualificações importantes nos estudos que buscam
estimar efeitos dos processos de integração considerando que as transações ocorrem
apenas entre agentes totalmente independentes.
6
O estudo de Laplane et. all (2001), por exemplo, considerando uma amostra de
100 grandes empresas estrangeiras no ano de 1997, mostra que essas empresas
concentravam cerca de 40% de suas vendas externas no Mercosul e na Aladi, com
participações bastante menores nas regiões mais desenvolvidas (16,6% no Nafta e
18,5% na União Européia). Por outro lado, as importações eram mais concentradas nas
regiões mais desenvolvidas (27,7% provenientes do Nafta e 36% da União Européia).
Os autores associam esse padrão ao papel desempenhado pelas filiais brasileiras na
estratégias das matrizes, condicionando o comércio intra-firma no sentido da
importação de insumos, componentes e produtos finais da matriz ou de outras filiais
localizadas nas regiões mais desenvolvidas, com o atendimento prioritário ao mercado
interno e exportações para o Mercosul e Aladi.
Por outro lado, a análise de Pinheiro e Moreira (2000), ao reproduzir as
estimações do modelo citado anteriormente para diferentes regiões, destaca que a maior
probabilidade de exportar para as empresas estrangeiras em relação às nacionais se
mantém em todos os mercados. Tanto para as nacionais quanto para as estrangeiras as
exportações seriam direcionadas prioritariamente para a América Latina, seguido pelos
Outros Países Industrializados exceto Estados Unidos e Canadá e com os mercado dos
Estados Unidos e Canadá em terceiro lugar.
O trabalho de Baumann e Carneiro (2002) busca analisar de maneira mais
explícita a influência do comércio intra-firma, verificando até que ponto a concentração
geográfica das exportações estaria associada ao país de origem das ETs operando no
Brasil. Dada a inexistência de informações detalhadas sobre o nível de comércio intra-
firma no Brasil, os autores recorrem à hipótese colocada por Baumann (1993) de que
para uma determinada empresas multinacional com origem em um determinado país, as
transações realizadas com o país de origem seriam fundamentalmente com a própria
matriz ou com os canais de comercialização organizados por ela. Apesar da
possibilidade de existirem transações com o país de origem que não são intra-firma, a
aproximação usada pelos autores é a melhor disponível, dada a limitação de dados.
Utilizando um modelo Probit, os autores buscam verificar os fatores que
explicam o aumento das exportações entre 1995 e 2000 para um conjunto de 43
empresas. Entre os fatores, resultaram significativos além do grau de abertura da
empresa e da variação das vendas, o fato da empresas exportarem preferencialmente
para o Mercosul, para o Nafta e para os países que compõem a Alca. A partir desses
resultados os autores testam os fatores que explicam a variação das exportações entre
esses dois anos para 4 tipos de mercado: o próprio país de origem, Mercosul, Nafta e
Alca. As conclusões são que as empresas que experimentaram crescimento acelerado
das vendas o fizeram canalizando suas vendas preferencialmente para essas regiões. De
acordo com o estudo quanto maior o peso do comércio exterior em relação à receita
líquida de uma empresa, maior a probabilidade que essa empresa destina uma parcela
crescente de suas exportações para o país de origem. Os autores destacam também que
as empresas estrangeiras também concentram uma parte relevante de suas importações
com o país de origem, embora não tenham especificado um modelo para explicar as
importações.
As evidências encontradas pelo estudo seriam uma indicação de que as
estimativas sobre os efeitos dos acordos regionais com base apenas em considerações
sobre desvio e criação de comércio, estariam distorcidas por não levarem em conta a
influência das ETs sobre os fluxos de comércio. De fato, a resenha realizada por
Castilho (2002) sobre vários trabalhos que buscaram analisar os impactos da Alca e do
acordo Mercosul-União Européia mostra que, apesar das várias metodologias
empregadas, nenhuma delas incorpora a importância das ETs e do comércio intra-firma.
7
Por fim vale destacar o estudo de Coutinho et. all (2003). Embora não tenha
sido um estudo voltado explicitamente para analisar a influência das empresas
estrangeiras sobre os padrões regionais de comércio, mas sim para analisar a situação
competitivas e as perspectivas de um conjunto de cadeias produtivas frente às novas
rodadas de negociações no acordo da Alca e Mercosul-União Européia, sua forma de
análise e sintese dos resultados incorpora a questão da importância das estratégias das
ETs. De acordo com o estudo, resultados positivos nos acordos de integração naquelas
cadeias onde as filiais de ET são os agentes relevantes, estariam condicionados à
possibilidade dessas filiais assumirem uma posição relativa mais favorável enquanto
plataforma de exportação vis-à-vis outras filiais ou a própria matriz.
4 Orientação geográfica do comércio exterior das empresas
estrangeiras
Dado que vários estudos já destacaram as diferenças existentes, em termos de
volume de comércio, entre empresas nacionais e estrangeiras, esta seção tem o objetivo
de identificar e qualificar essas diferenças em termos de orientação regional. A pergunta
a ser respondida é se o padrão regional de comércio das empresas estrangeiras se
diferencia das empresas domésticas e, entre as próprias estrangeiras, se a região de
origem da empresa constitui fator importante na determinação do seu padrão regional de
comércio.
Para tanto, foram utilizadas informações sobre o comércio exterior de 80
empresas nacionais e 85 empresas estrangeiras nos anos de 1989, 1997 e 2000. Essas
empresas fazem parte das 500 maiores empresas brasileiras e foram selecionadas por
permanecer entre as maiores nos três anos considerados. Entre as empresas estrangeiras,
33 tem sua origem no Nafta (Estados Unidos e Canadá), 42 são provenientes da União
Européia, 7 da Ásia e 3 de outros países do mundo.
Entre as informações disponíveis, estão o volume de importações e de
exportações das empresas, por região de destino e origem, bem como o faturamento e
setor de atuação1 de cada uma delas. Todas as variáveis estão expressas em dólar a
preços de 2000, deflacionadas pelo IPA norte-americano.
As empresas do painel representam cerca de 30 % do total das vendas da
indústria2, cerca de 30% das exportações e mais de 20% das importações totais do país
no período considerado. Portanto, embora seja uma amostra relativamente pequena de
empresas, sua representatividade é elevada, o que nos permite extrapolar algumas das
conclusões provenientes dessa análise para o conjunto da indústria.
Uma primeira aproximação na análise sobre o padrão regional do comércio
exterior das empresas brasileiras pode ser feita a partir da tabela 3, que mostra a
proporção do comércio das empresas, segundo sua nacionalidade, destinadas ou
oriundas de diversas regiões. Constata-se, a partir da tabela, que o mercado regional
parece não ser muito relevante para as empresas nacionais, principalmente no que diz
respeito às suas exportações. Apenas cerca de 10% das exportações das empresas
nacionais destinam-se ao mercado regional. Esse quadro só se altera, em relação às
importações, com o crescimento da importância da Aladi como origem das compras
1 O setor de atuação é definido pela Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), a dois
dígitos, a partir do produto mais representativo no faturamento da empresa.
2 O valor total das vendas da indústria foi obtido a partir da PIA (Pesquisa industrial anual) do IBGE, que
cobre de maneira censitária as empresas industriais (Indústria de Transformação e Extrativa Mineral) com
mais de 30 pessoas ocupadas. As empresas com menos de 30 pessoas ocupadas recebem cobertura
amostral. As vendas das empresas do painel são vendas brutas, enquanto as vendas registradas pela PIA
são vendas líquidas (excluem impostos indiretos).
8
externas desse grupo de empresas. O restante do comércio está relativamente bem
distribuído entre Nafta, União Européia e Resto do Mundo, com maior relevância para
as duas primeiras regiões.
Tabela 3. Proporção do comércio total de empresas nacionais e estrangeiras
selecionadas, por região de origem ou destino. 1989, 1997 e 2000.
Exportações Importações
Nacionalidade Ano
Merc. Nafta Aladi U. E. Ásia RM Merc. Nafta Aladi U. E. Ásia RM
1989 3% 21% 1% 29% 33% 13% 8% 38% 13% 21% 9% 11%
1997 9% 19% 3% 25% 26% 16% 7% 33% 12% 21% 15% 12%
Brasileira
2000 6% 30% 2% 30% 17% 14% 9% 40% 11% 23% 9% 8%
1989 4% 39% 8% 25% 14% 10% 4% 66% 2% 16% 11% 1%
1997 32% 23% 12% 15% 8% 9% 6% 47% 1% 26% 11% 9%
Nafta
2000 25% 21% 13% 23% 8% 11% 21% 49% 1% 19% 6% 4%
1989 5% 28% 8% 47% 4% 8% 11% 17% 3% 66% 2% 2%
1997 32% 14% 14% 22% 8% 10% 20% 11% 2% 49% 7% 11%
U. E.
2000 19% 31% 10% 28% 4% 9% 15% 19% 0% 54% 10% 2%
1989 1% 11% 3% 15% 66% 4% 3% 17% 0% 8% 72% 0%
1997 10% 11% 9% 15% 54% 1% 2% 22% 0% 3% 72% 2%
Ásia
2000 5% 21% 3% 20% 50% 1% 3% 19% 0% 6% 70% 1%
1989 8% 4% 1% 66% 10% 11% 0% 59% 2% 7% 1% 32%
1997 18% 7% 1% 30% 14% 30% 0% 66% 6% 14% 0% 13%
RM
2000 11% 4% 4% 28% 27% 26% 2% 74% 1% 17% 1% 5%
Fonte: Secex
As empresas do Nafta e da União Européia, por outro lado, tem a maior parte de
suas exportações divididas entre os seus mercados de origem e a América Latina,
especialmente o Mercosul. Note-se que, em 1989, o Mercosul não representava um
mercado importante para as exportações dessas empresas, fato que se altera na década
de 90 com o aprofundamento do mercado comum. No que diz respeito às importações,
os números evidenciam a importância dos mercados de origem sobre as importações
dessas empresas, importância muito superior à verificada para as exportações.
As empresas Asiáticas são as mais integradas com sua região de origem, tanto
em termos de importações quanto de exportações, fonte e destino de mais da metade do
seu comércio externo. O gráfico 1 reproduz estes dados para a média dos três anos
considerados, evidenciando as conclusões acima..
Apesar dos resultados bastante enfáticos, é possível realizar uma análise mais
acurada deste padrão regional de comércio, através da estimação de um modelo
econométrico que isole as possíveis influências do setor de atuação da empresa sobre as
origens e destinos de seu comércio externo.
9
Gráfico 1. Exportações e importações das empresas selecionadas, segundo
origem do capital e por região de origem/destino, média dos anos de 1989,
1997 e 2000.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Brasileira Nafta U. E. Ásia Resto do
Mundo
Exportações
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Brasileira Nafta U. E. Ásia Res to do
Mun d o
mercosul nafta aladi U. E. Ásia RM
Importações
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Brasileira Nafta U. E. Ásia Resto do
Mundo
Exportações
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Brasileira Nafta U. E. Ásia Res to do
Mun d o
mercosul nafta aladi U. E. Ásia RM
Importações
A amostra utilizada constitui um painel de várias empresas em três anos. Este
formato das informações requer um tipo de modelo econométrico que se diferencia dos
modelos tradicionais de regressão com cortes transversais. Assim como o modelo em
cortes transversais, um modelo em painel capta os efeitos específicos aos indivíduos
mas, diferentemente do primeiro, um painel é capaz de captar efeitos dinâmicos,
específicos ao tempo. Uma das vantagens3 do modelo de painel sobre os modelos de
regressão cross section é a capacidade de controlar a heterogeneidade existente entre os
indivíduos através da estimação de efeitos individuais isolando, dessa forma, os efeitos
das variáveis explanatórias dos efeitos individuais não mensurados pelo econometrista.
Isso ocorre justamente devido à possibilidade do modelo captar aspectos dinâmicos
relacionados a cada uma das variáveis explanatórias, ou seja, é possível captar a
influência que a mudança em determinado parâmetro tem sobre a variável dependente,
livre de influências individuais não captadas pelos demais parâmetros da regressão.
10
3 Para maiores detalhes, ver Baltagi, B. H. (1995) e Hsiao, C. (1986).
Em relação à análise de painel, é necessário salientar duas possíveis estratégias
de estimação: a estimação de modelos com efeitos fixos ou com efeitos aleatórios. No
modelo de efeitos fixos, os efeitos individuais podem ser livremente correlacionados
com os demais regressores enquanto que, no modelo de efeitos aleatórios, supõe-se que
não há correlação entre efeitos individuais e demais variáveis explanatórias. Para um
modelo de efeitos fixos, o estimador de mínimos quadrados ordinários seria um
estimador consistente e eficiente do modelo, chamado de LSDV (least squares dummy
variable model). Por outro lado, ao se supor que as diferenças entre os indivíduos são
aleatoriamente distribuídas, a estimação do modelo de efeitos aleatórios se daria através
da utilização de mínimos quadrados generalizados.
No caso específico deste estudo, a opção foi estimar o modelo através de efeitos
aleatórios. Essa opção se deve ao fato de não haver alterações na região de origem das
empresas no período considerado. O modelo de efeitos fixos captaria apenas os efeitos
dinâmicos do painel , ou seja, os efeitos da mudança de nacionalidade das firmas sobre
o seu padrão de comércio. Como nesta amostra, não existe dinâmica na origem de
capital das firmas, que é o objeto do estudo, não seria adequada a utilização do modelo
de efeitos fixos. Além disso, o teste de Hausman4 apontou, em todas as estimações, a
conveniência de se utilizar o modelo de efeitos aleatórios.
Os modelos estimados, portanto, procuram identificar se o país de origem da
empresa é um determinante importante do seu comércio com os diversos blocos
econômicos5. Para essa estimação, foram controlados o tamanho e o setor de atuação da
empresa, bem como as modificações conjunturais da economia brasileira em cada um
dos anos considerados na análise. As equações estimadas são as seguintes:
tiiiiiitit anosetorrmasiauenaftalfatreglx
+
+
+
+
++=_ (1)
tiiiiiitit anosetorrmasiauenaftalfatreglm
+
+
+
+
++=_ (2)
Onde:
it
reglx _ é o logaritmo das exportações da i-ésima empresa para uma
determinada região no ano t;
it
reglm _ , por outro lado, é o logaritmo das importações da i-ésima empresa
para uma determinada região, no ano t;
it
lfat é o faturamento da i-ésima empresa no ano t. O valor do coeficiente
representa a elasticidade das exportações ou das importações da empresa em relação ao
seu tamanho, representado aqui pelo faturamento. É uma forma de controlar a influência
da escala de produção sobre o comércio das empresas.
i
nafta , , e são variáveis binárias que identificam a origem de
capital da i-ésima empresa: Nafta, União Européia, Ásia e resto do mundo. Os
coeficientes dessas variáveis dirão o quanto empresas de cada uma dessas regiões
possuem comportamentos comerciais diferenciados das empresas domésticas;
i
ue i
asia i
rm
4 O teste de Hausman é utilizado na estimação do modelo de efeitos aleatórios a fim de verificar a
existência de correlação entre os efeitos individuais e as variáveis explanatórias. Se estes efeitos não são
correlacionados, o modelo de efeitos aleatórios é consistente e eficiente. A estatística do teste de
Hausman tem distribuição , sob a hipótese nula de ausência de correlação entre regressores e efeitos
individuais.
2
χ
5 Foram estimados, também, modelos mais gerais, cujas variáveis dependentes eram o valor das
exportações e das importações da empresa. Neste modelo, ao contrário do que foi encontrado em outros
estudos, não se verificou nenhuma diferença entre empresas nacionais e estrangeiras em termos de
volume de comércio. Isso se deve, muito provavelmente, à dimensão da amostra analisada e à relativa
homogeneidade existente entre as empresas.
11
i
setor representa um conjunto de 12 variáveis binárias destinadas a captar as
diferenças existentes entre os 13 setores que compõem a amostra.
Da mesma forma representa as duas variáveis binárias utilizadas para
captar as diferenças existentes entre os anos de 1989, 1997 e 2000, e que tenham
afetado da mesma forma as diferentes empresas. Assim, espera-se que as diferenças
relatadas entre empresas nacionais e estrangeiras e entre estrangeiras de diversas regiões
não estejam contaminadas por fatores conjunturais.
i
ano
Os resultados obtidos a partir dessas estimações encontram-se relatados na
tabela 4. Em relação ao comércio com a América Latina, não parecem existir diferenças
significativas entre as empresas estrangeiras de diversas origens e as nacionais, exceto
para as empresas européias, que tendem a importar mais dessa região, embora seu
coeficiente não seja muito significativo. Este resultado parece ser contraditório com os
números apresentados na tabela 3, onde o mercado regional parecia desempenhar um
papel relevante nas exportações das empresas européias e do Nafta. Vale lembrar que o
coeficiente do modelo pode estar sendo influenciado pela pequena importância que o
mercado regional tinha para estas empresas em 1989. Além do que, naquela tabela
estávamos falando em proporção das exportações totais das empresas destinadas aos
vários mercados. Isso sugere que, embora o mercado regional seja importante do ponto
de vista da parcela de exportações das empresas individuais destinadas a ele, em termos
de volume total de exportações para essa região, as empresas estrangeiras não
apresentam diferenças significativas em relação às domésticas É em relação ao
comércio com os países desenvolvidos que as diferenças de comércio entre empresas
estrangeiras e nacionais são mais significativas, pelo menos no que diz respeito as suas
importações.
No comércio com o Nafta, não existem diferenças significativas entre empresas
estrangeiras, das diversas nacionalidades, e nacionais na parcela de suas exportações
destinadas para essa região. Em outros termos, o volume de exportações destinadas ao
Nafta pelas empresas nacionais não é significativamente diferente do volume de
exportações das empresas do próprio Nafta, por exemplo. Pelo lado das importações,
entretanto, as diferenças são significativas. Os coeficientes da regressão nos mostram
que as empresas norte-americanas, canadenses e as empresas do resto do mundo tendem
a importar volumes significativamente maiores do Nafta do que as empresas nacionais,
como, aliás, já sugeria a tabela 3. É bom lembrar que essa diferença não é decorrente do
setor de atuação das empresas, como se poderia argumentar a partir dos dados iniciais,
tendo em vista que esta foi uma das variáveis de controle inseridas no modelo. O
coeficiente da dummy relativa a origem de capital da empresa nos informa que
empresas do Nafta tendem a importar, em média, mais de 3000% a mais do que
empresas de outras regiões6.
As exportações para a União Européia também não são diferentes para empresas
de diferentes nacionalidades, de mesmo tamanho e atuando em um mesmo setor.
Entretanto, da mesma forma que as importações do Nafta, as importações provenientes
da União Européia são significativamente maiores para empresas européias do que para
as empresas domésticas (aproximadamente 1600% maiores em média). Empresas do
Nafta também tendem a importar mais da União Européia do que as empresas nacionais,
embora a diferença não seja tão substancial quanto para as empresas européias. Por
outro lado é possível observar que as empresas asiáticas tendem a importar menos da
6 Como a variável dependente está na forma logarítmica e a dummy não, esse percentual só pode ser
obtido através da seguinte transformação: [. 100]110 ×
β
12
União Européia do que as empresas nacionais e consequentemente, do que as próprias
empresas européias.
Tabela 4. Resultados das estimativas para as exportações e
importações das empresas para regiões selecionadas.
AMÉRICA LATINA(1)
Exportações Importações
Variáveis Estimativa Teste t Estimativa Teste t
Intercepto -5,53 -7,25 -6,81 -5,90
Lfat 0,98 8,02 1,17 6,38
Nafta 0,33 0,98 * 0,41 0,79 *
Rm 0,94 1,12 * 0,31 0,21 *
Asia 0,35 0,47 * -0,96 0,41 *
Ue 0,42 1,26 * 0,97 0,07 **
N. empresas 144 126
R2 0,43 0,25
Hausman (Pr> m) 0,43 0,48
NAFTA
Exportações Importações
Variáveis Estimativa Teste t Estimativa Teste t
Intercepto -4,13 -3,73 -7,06 -9,36
Lfat 0,93 5,27 1,18 9,82
Nafta -0,18 -0,34 * 1,54 4,05
Rm 1,29 0,65 * 1,80 1,86 **
Asia 0,13 0,12 * 0,03 0,03 *
Ue -0,37 -0,73 * 0,07 0,19 *
N. empresas 125 154
R2 0,18 0,38
Hausman (Pr> m) 0,22 0,12
UNIÃO EUROPÉIA
Exportações Importações
Variáveis Estimativa Teste t Estimativa Teste t
Intercepto -0,89 -0,69 * -6,00 -9,35
Lfat 0,57 2,78 1,06 10,34
Nafta -0,39 -0,65 * 0,57 1,78 **
Rm 0,81 0,46 * -0,18 -0,22 *
Asia -1,24 -0,87 * -1,12 -1,79 **
Ue 0,53 0,89 * 1,25 4,07
N. empresas 135 154
R2 0,11 0,39
Hausman (Pr> m) 0,16 0,96
Obs. ** variável significativa a 10%. * variável não significativa. (1) Mercosul e Aladi,
exceto México.
Em termos gerais estes resultados nos mostram um padrão de comércio
diferenciado entre empresas nacionais e estrangeiras e entre as próprias estrangeiras.
Parece existir uma vinculação muito forte, em termos de importações, das empresas
estrangeiras com as suas regiões de origem, o que possivelmente, é conseqüência do
comércio intra-firma das filiais estrangeiras no Brasil com suas matrizes. Entretanto, a
existência destes canais de comércio das filiais brasileiras com suas matrizes não
parecem estar atuando no sentido de incrementar as exportações brasileiras para estes
países, tendo em vista que não foi detectada uma propensão maior, por parte das
estrangeiras, em exportar para suas respectivas regiões de origem.
13
Em linha com Laplane e Sarti (2003) e Hiratuka (2002), pode-se interpretar
esses resultados como sendo consequência das estratégias de internacionalização das
filais brasileiras, ou melhor da inserção das filiais brasileiras nas estratégias globais das
matrizes. Essa inserção está assentada basicamente no objetivo de atender ao mercado
interno e à região mais próxima, sem cumprir função relevante como fornecedora para
regiões mais desenvolvidas. Essa inserção é comum, tanto para as empresas do Nafta
com para as empresas da União Européia, resultando em um padrão de integração
assimétrico com suas regiões de origem, muito mais intensa pelo lado da importações
do que das exportações.
5 Considerações finais
De acordo com o Censo de Capitais Estrangeiros realizado pelo Banco Central,
as empresas com participação estrangeira eram responsáveis por 60% das exportações e
56% das importações totais brasileiras no ano 2000. Considerando que para essas
empresas a participação do comércio intra-firma respondia por 63% das exportações e
57% das importações, temos que o comércio intra-firma respondeu por cerca de 38%
das exportações totais brasileiras e por 33% das importações.
É fundamental, portanto, verificar qual o impacto da atuação das empresas
estrangeiras sobre o comércio exterior brasileiro. Como foi ressaltado no item 3, vários
estudos vêm destacando a diferença em termos de comportamento comercial das
empresas estrangeiras em relação às nacionais, enfatizando que a diferença ocorre de
maneira muito mais pronunciada em termos de importação do que em termos de
exportações.
Este estudo constitui uma contribuição importante, na medida em que os
resultados do modelo permitem reforçar a hipótese de que um dos fatores importantes
para explicar a diferença de comportamento entre as empresas nacionais e estrangeiras
está relacionada à influência do comércio intra-firma. Nossa interpretação é que o fato
das empresas dos Estados Unidos e Canadá e Européias, importarem mais de suas
regiões de origem em relação às demais empresas, sem no entanto, apresentarem
diferenças significativas quanto às regiões de destino das exportações, refletem a
posição ocupada pelas filiais brasileiras nas estratégias globais das corporações.
Em um contexto mundial em que as ETs buscam reorganizar suas redes de
produção de maneira a maximizar o resultados para o conjunto das operações globais, a
posição da filial brasileira parece ser mais importante do ponto de vista do acesso ao
mercado local do que do ponto de vista de ser um elo importante na rede global de
fornecimento para outras regiões.
A partir dessas constatações, podem-se destacar duas implicações importantes. A
primeira diz respeito às políticas de competitividade e de comércio exterior. Muitos
países em desenvolvimento têm se preocupado em estabelecer políticas ativas de
atração de investimentos, buscando ao mesmo tempo melhorar a contribuição dessas
empresas para o comércio exterior e para o desenvolvimento industrial (UNCTAD,
2002b). Essas políticas partem do reconhecimento de que as decisões de investimento e
de alocação de plantas produtivas realizadas pelas grandes corporações transnacionais
exercem impactos cada vez maiores sobre os fluxos de comércio. Esse é um fato que
deve ser levado em conta ao se traçar alguma política associada ao investimento direto
estrangeiro, ou de políticas de comércio direcionadas para setores onde essas empresas
são predominantes. No caso brasileiro, deve-se avançar no entendimento dos fatores que
condicionam o aproveitamento das redes de transações internas às grandes corporações,
14
de maneira a verificar até que ponto esses fatores podem ser objeto de políticas públicas
voltadas para aumentar os efeitos sobre as exportações.
A segunda diz respeito aos processos de negociações comerciais simultâneas que
estão sendo desenvolvidas no âmbito da Alca e do acordo Mercosul-União Européia.
Como ressaltado por Baumann e Carneiro (2002) e por Coutinho et. All (2003), os
estudos que procuraram avaliar os impactos dos acordos regionais têm a limitação de
não considerar os efeitos do comércio intra-corporativo e as estratégias das ETs. Dessa
maneira, devem ser complementados com análise que partam do reconhecimento de que
uma parte relevante do comércio realizado com essas regiões não segue o padrão
tradicional de comércio, uma vez que não é realizado entre empresas independentes.
Isso significa que os acordos devem ser analisados não apenas em termos do
impacto imediatos sobre os fluxos de comércio, mas também do ponto de vista dos
efeitos sobre os investimentos estrangeiros a serem realizados, seja por empresas já
instaladas, seja por novos entrantes. Ou, dizendo de uma outra maneira, os acordos
regionais podem ter impactos importantes sobre as atividades das filiais brasileiras e na
sua inserção dentro da organização das corporações, o que, com certeza terá reflexos
sobre os fluxos de comércio.
Por exemplo, reduções tarifárias no âmbito de acordos preferenciais regionais
podem significar a opção de substituir a produção interna pela exportação ao mercado
nacional a partir da região de origem da matriz ou de outras filiais localizadas em outros
países participantes do acordo, o que poderia reforçar ainda mais os fluxos de
importação intra-firma. Além disso, é possível também que parcela das exportações
realizadas a partir do Brasil para os países envolvidos nos acordos sejam substituídas
por fornecimento de outras partes da corporação. Por outro lado, também existe a
possibilidade das preferências comerciais reforçarem a posição das filiais brasileiras,
com melhor aproveitamentos dos canais específicos das ETs para o atendimento dos
mercados mais próximos.
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... Afinal, mesmo quando o IDE industrial era "multidoméstico", com cadeias produtivas muito verticalizadas nacionalmente, as filiais no Brasil privilegiaram a capacitação produtiva para o mercado interno e regional, mas sempre dependeram da rede de fornecedores global de partes, peças e componentes de maior valor agregado. Isso apenas se aprofundou quando a fronteira tecnológica se modificou nas décadas de 1970 e 1980 e quando a globalização produtiva aumentou a especialização dos países desenvolvidos em certos elos da cadeia de produção afastados do core business das corporações nos ramos mais intensivos em tecnologia (Sarti & Laplane, 2003;Hiratuka & De Negri, 2003). ...
Book
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O livro “Repensar o Brasil”, organizado pelo historiador Jhonatan Almada, o economista Luiz Fernando de Paula (UFRJ) e o geógrafo Elias Jabbour (UERJ). Este projeto começou em 2017 e finalmente chega à luz por intermédio do Centro de Inovação e Conhecimento para a Excelência em Políticas Públicas-CIEP e a Associação Brasileira de Economistas pela Democracia-ABED. Preocupados com os rumos do nosso país, reunimos plêiade de intelectuais para contribuirmos no debate nacional sobre o desenvolvimento democrático, inclusivo e sustentável. O prefácio é de Carlos Siqueira, presidente do Partido Socialista Brasileiro (PSB) e a apresentação do economista Paulo Gala (FGV-SP). Participam do livro, Pedro Paulo Zaluth Bastos, Luiz Gonzaga Belluzzo, Jessé Souza, Bresser-Pereira, Miguel Bruno, Fabiano Santos, Rafael Moura, Rossini Corrêa, Daniela Prates, Barbara Fritz, Armen Mamigonian, Lena Lavinas, Denise Genti, Carlos José Espíndola e Roberto César Cunha.
... Afinal, mesmo quando o IDE industrial era "multidoméstico", com cadeias produtivas muito verticalizadas nacionalmente, as filiais no Brasil privilegiaram a capacitação produtiva para o mercado interno e regional, mas sempre dependeram da rede de fornecedores global de partes, peças e componentes de maior valor agregado. Isso apenas se aprofundou quando a fronteira tecnológica se modificou nas décadas de 1970 e 1980 e quando a globalização produtiva aumentou a especialização dos países desenvolvidos em certos elos da cadeia de produção afastados do core business das corporações nos ramos mais intensivos em tecnologia (Sarti & Laplane, 2003;Hiratuka & De Negri, 2003). ...
Book
O Brasil está vivendo uma de suas piores crises de sua história. Neste contexto, torna-se imperativo repensar o presente e o futuro da sociedade e economia brasileira. Seguindo a tradição do renomado economista Ignacio Rangel de pensar de forma original as especificidades do desenvolvimento brasileiro, o objetivo deste livro é discutir a temática do desenvolvimento brasileiro recente – em suas dimensões política, econômica e social– e sugerir caminhos para a superação da crise atual. Para tanto serão considerados, entre outros, os seguintes aspectos: projeto de desenvolvimento; papel do estado; futuro da democracia; desigualdade; geopolítica; transformação produtiva; estratégia de reindustrialização; tecnologia e inovação; desenvolvimento agrário; inclusão social.
... As filiais, em particular, passaram a importar mais bens de produção das matrizes ou de outras filiais, aumentando importações líquidas no comércio intrafirma e reduzindo conteúdo local -ao mesmo tempo em que ampliaram remessas de lucros. Em suma, contribuíram para a deterioração do saldo corrente, porque a forma de vinculação com as cadeias globais de valor passa menos pelas exportações de bens do que de lucros e pelo outsourcing de máquinas, equipamentos, partes, peças e componentes para defender, sobretudo, parcelas do mercado interno Sarti, 1997;Laplane, 2002;Negri, 2003). ...
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O artigo propõe uma classificação das duas visões básicas a propósito da estratégia de desenvolvimento capitalista depois da crise do neoliberalismo, no Brasil: o desenvolvimentismo exportador do setor privado ("novo-desenvolvimentismo") e o desenvolvimentismo distributivo orientado pelo Estado ("social-desenvolvimentismo"). Ambos resgatam o papel do Estado na orientação do modelo de desenvolvimento, mas com modos diferentes de relação com o mercado. Depois de uma breve introdução, as duas visões são discutidas, concluindo-se com uma discussão de suas possibilidades políticas.
... As filiais, em particular, passaram a importar mais bens de produção das matrizes ou de outras filiais, aumentando importações líquidas no comércio intrafirma e reduzindo conteúdo local -ao mesmo tempo em que ampliaram remessas de lucros. Em suma, contribuíram para a deterioração do saldo corrente, porque a forma de vinculação com as cadeias globais de valor passa menos pelas exportações de bens do que de lucros e pelo outsourcing de máquinas, equipamentos, partes, peças e componentes para defender, sobretudo, parcelas do mercado interno Sarti, 1997;Laplane, 2002;Negri, 2003). ...
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O artigo propõe uma classificação das duas visões básicas a propósito da estratégia de desenvolvimento capitalista depois da crise do neoliberalismo, no Brasil: o desenvolvimentismo exportador do setor privado ("novo-desenvolvimentismo") e o desenvolvimentismo distributivo orientado pelo Estado ("social-desenvolvimentismo"). Ambos resgatam o papel do Estado na orientação do modelo de desenvolvimento, mas com modos diferentes de relação com o mercado. Depois de uma breve introdução, as duas visões são discutidas, concluindo-se com uma discussão de suas possibilidades políticas.
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Today Brazil is the world’s second leading source of cotton, reprising the role it played for a brief time in the early 19th century. But this history of its production is a complex one of both growth and stagnation, and includes profound changes in the types of cotton exported and where and how it was produced. It went from being a product of small farmers to one grown primarily on large estates. Our essay explores these changes over time and offers an analysis of how production shifted from the Northeast to the Southeast and ended finally in the Center-West of the country and why it went from a being net importer of cotton to a major exporter in just the past thirty years.
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Some emerging states tie the economies of their neighboring countries together; they have become geoeconomic nodes of their respective regions. At first glance, Brazil is a typical case for this phenomenon: it is the most important trading partner for several of its neighbors, giant public and private companies such as Petrobras and Vale have become major investors in South America, and the state-owned National Development Bank massively supports the regional expansion of Brazilian firms. Yet, a closer look at physical integration in South America and Brazil’s economic role therein leads to more nuanced conclusions. By analyzing four dimensions of geoeconomic nodality, first location, distance and physical geography, second transport infrastructure, third economic complementarity and fourth political strategies, we show that regional economic integration is unlikely to progress much further and that Brazil’s prospects as a geoeconomic node are dim, especially regarding its non-Southern Cone neighbors.
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RESUMO O artigo procura entender o governo Dilma Rousseff e o Golpe de 2016 levando em consideração o poder estrutural do capital financeiro e as contradições inerentes aos modelos de crescimento econômico e coalizão política observados desde o governo Lula. Argumenta-se que o projeto econômico do governo Rousseff procurava superar algumas destas contradições. O governo, contudo, não foi capaz de realizar nem as reformas institucionais nem as repactuações políticas necessárias para o sucesso de seu projeto, em contexto de desaceleração cíclica e aguçamento da concorrência internacional e dos conflitos sociais no Brasil. A política econômica é avaliada desde a austeridade de 2011 até a de 2015, passando pela chamada Nova Matriz Econômica e seu desmonte gradual em 2013. Analisa-se as origens da unificação da burguesia em torno a um programa neoliberal em 2016, assim como a relação entre a revolta das camadas médias e o ataque político-judicial resultante no Golpe de 2016.
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O objetivo geral desse estudo foi medir o grau da influência da imagem país na intenção de uso de aplicativos brasileiros pelos estudantes estadunidenses. O mercado internacional é uma realidade e o Brasil tem se dedicado a melhorar seu desempenho e ampliar sua participação em outros gamas de produto para distanciar-se da imagem de exportador de commodities. O setor de aplicativos vem se destacando no país e encontra fatores que influenciam o seu desempenho internacional. Lima e Mariano (2014) realizaram estudos sobre Efeito Made in que mensura o grau de influência da imagem país em sua performance. Assim, foi utilizado este modelo para entender a influência da imagem do Brasil na intenção de uso de aplicativos para estudantes estadunidenses. A intenção de uso utilizou o modelo UTAUT 2 (Unified Theory of Acceptance and Use of Technology 2) de Faria (2013). Para realizar esta pesquisa utilizou-se o método descritivo, quantitativo através de equações estruturais. O instrumento de coleta de dados foi o questionário validado (α=0,8775) aplicado a 111 estudantes americanos de 5 universidades de diferentes regiões nos Estados Unidos. Os resultados foram tratados com o programa SPLS 3.0 (Smart partial least square), obtendo um grau de influência de apenas 4%, considerada baixa, demonstrando que o efeito Made in possui uma influência baixa na intenção de uso de aplicativos. Não se encontra um estudo que relaciona o efeito Made in com o UTAUT 2, apenas de formas separadas se tornando um trabalho relevante para a ciência. Texto completo: PDF Repositório FGV de Conferências
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The aim of this paper is to describe and analyze the trade performance of Brazilian subsidiaries of transnational corporations during the period 1989- 1997. The paper seeks to foster the debate on the effect of transnational corpora- tions on the trade balance within the new context of open economies and globally integrated transnational corporation strategies.
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El MERCOSUR, y en particular Argentina y Brasil, ha sido uno de los principales polos de atracción para la inversión extranjera directa (IED) en los años 1990. Por ende, la presencia de las empresas transnacionales (ET) ha crecido de forma sustancial en los cuatro países del MERCOSUR, cuyas economías se encuentran entre las más “transnacionalizadas” del mundo, considerando la participación de las filiales de ET en las estructuras de ventas y comercio exterior. Este libro intenta responder varias preguntas acerca de este fenómeno mediante investigaciones realizadas en los cuatro países del MERCOSUR.