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146 • ©RAE • São Paulo • v. 50 • n. 2 • abr./jun. 2010 • 146-154 ISSN 0034-7590
ARTIGOS • INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE: NOVOS MODELOS E PROPOSIÇÕES
INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE:
NOVOS MODELOS E PROPOSIÇÕES
INNOVATION AND SUSTAINABILITY: NEW MODELS AND PROPOSITIONS
INNOVACIÓN Y SOSTENIBILIDAD: NUEVOS MODELOS Y PROPOSICIONES
José Carlos Barbieri jose.barbieri@fgv.br
Professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, Fundação Getulio Vargas – São Paulo – SP, Brasil
Isabella Freitas Gouveia de Vasconcelos ivasconcelos@yahoo.com
Professora do Departamento de Administração, Centro Universitário da FEI – São Paulo – SP, Brasil
Tales Andreassi tales.andreassi@fgv.br
Professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, Fundação Getulio Vargas – São Paulo – SP, Brasil
Flávio Carvalho de Vasconcelos flavio.vasconcelos@fgv.br
Diretor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas, Fundação Getulio Vargas – Rio de Janeiro – RJ, Brasil
RESUMO
Este trabalho, de cunho teórico, tem como principal objetivo analisar a relação entre sustentabilidade e inovação, tendo como
referencial a teoria institucional. Para tanto, o artigo inicialmente analisa a questão do desenvolvimento sustentável, a partir
de uma dimensão histórica da evolução do tema. A seguir, é explorada a temática da institucionalização do desenvolvimento
sustentável, sugerindo-se que a proeminência do desenvolvimento sustentável pode ser explicado pela teoria institucional,
mais especificamente pelo conceito de eficiência simbólica de Meyer e Rowan (1991). O artigo então discute o conceito de
organizações inovadoras sustentáveis. Por fim, é abordada a relação entre sustentabilidade e inovação, destacando a impor-
tância de a empresa inovar considerando as três dimensões da sustentabilidade – social, ambiental e econômica.
palavras-chave Inovação, sustentabilidade, teoria institucional, organização inovadora sustentável, desenvolvimento sustentável,
gestão socioambiental, ecoinovação
ABSTRACT This theoretical paper has as main objective to analyze the relation between sustainability and innovation, taking as reference the
institutional theory. Thus, the paper initially examines the issue of sustainable development, from a historical dimension of evolution of the topic.
After that, we explored the theme of institutionalization of sustainable development, suggesting that the prominence of sustainable development can
be explained by institutional theory, more specifically by the concept of symbolic efficiency of Meyer and Rowan (1991). The paper then analyzes
the concept of sustainable innovative organizations. Finally, the relationship between sustainability and innovation is analyzed, highlighting the
importance that the company innovates considering the three dimensions of sustainability - social, environmental and economic.
kEYWORDS Innovation, sustainability, institutional theory, sustainable innovative organization, sustainable development, social and environmental
management, ecoinnovation.
RESUMEN Este trabajo de carácter teórico tiene como principal objetivo analizar la relación entre la sostenibilidad y la innovación, tomando como
referencia la teoría institucional. Para ello, el artículo inicialmente analiza la cuestión del desarrollo sostenible, desde una dimensión histórica
de la evolución del tema. A continuación, es explorada la temática de la institucionalización del desarrollo sostenible, lo que sugiere que la im-
portancia del desarrollo sostenible puede ser explicada por la teoría institucional, más específicamente por el concepto de eficiencia simbólica de
Meyer y Rowan (1991). Luego, el artículo discute el concepto de organizaciones innovadoras sostenibles. Por último, se aborda la relación entre
sostenibilidad e innovación, destacando la importancia de que la empresa innove considerando las tres dimensiones de la sostenibilidad – social,
ambiental y económica.
PALABRAS CLAVE Innovación, sostenibilidad, teoría institucional, organización innovadora sostenible, desarrollo sostenible, gestión socioambi-
ental, ecoinnovación
Artigo convidado. Aprovado em 23.04.2010
Editor Científico: Eduardo Diniz
JOSÉ CARLOS BARBIERI • ISABELLA FREITAS GOUVEIA DE VASCONCELOS • TALES ANDREASSI • FLÁVIO CARVALHO DE VASCONCELOS
ISSN 0034-7590 ©RAE • São Paulo • v. 50 • n. 2 • abr./jun. 2010 • 146-154 • 147
APRESENTAÇÃO
O movimento pelo desenvolvimento sustentável parece
ser um dos movimentos sociais mais importantes deste
início de século e milênio. São incontáveis as iniciativas
voluntárias, relacionadas com o desenvolvimento susten-
tável, subscritas por empresas de setores específicos como
bancos, seguradoras, hotéis, indústrias químicas, das quais
participam os grupos empresariais mais importantes des-
ses setores. Grandes empresas criaram organizações como
forma de mostrar seu comprometimento com esse movi-
mento, como o WBCSD, a Ceres, a Caux Round Table etc.
Cartas de princípios e diretrizes de ação foram elaboradas
e subscritas por milhares de empresas, como a Carta de
Rotterdam, as Metas do Milênio e o Pacto Global. Com
efeito, nenhum movimento social reuniu mais chefes de
Estado como aconteceu nos eventos de 1992 no Rio de
Janeiro e 2007 em Johannesburg.
A rapidez com que esse movimento foi aceito por
amplos setores do empresariado, pelo menos no nível
do discurso, não tem precedentes na história recen-
te das empresas. Seu marco inicial ocorreu há pouco
mais de vinte anos, com a publicação em 1987 do re-
latório da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento (CMMAD), conhecida como Comissão
Brundtland. O movimento pela qualidade levou mais
tempo para ser lançado, teve início no pós-guerra, mas
sua expansão vigorosa só vai ocorrer nos anos 1980 por
motivos internos ao mundo empresarial, pressionado
pela necessidade de se readequar a um novo padrão de
competição que já estava ocorrendo em grande escala.
Contrariamente ao ocorrido no movimento da qualidade,
a adesão das empresas ao desenvolvimento sustentável
vem inicialmente de fora para dentro, como um meio
de se contrapor às críticas e objeções ao papel das em-
presas feitas por incontáveis entidades governamentais
e da sociedade civil organizada, responsabilizando-as
pelos processos de degradação social e ambiental que
atingiam todo o planeta. Só recentemente a adesão das
empresas passou a ser induzida por fatores de natureza
empresarial ou, dito de outra forma, fazer parte desse
movimento passou a ser um fator de competitividade,
seja como fonte de diferenciação, seja como fonte de
qualificação para continuar no mercado.
Um aspecto central da adesão a um movimento social
é a necessidade de substituir os meios e as práticas an-
tigas por outras que traduzem os princípios, objetivos e
diretrizes do novo movimento. Ao se comprometer com
o desenvolvimento sustentável, a empresa deve necessa-
riamente mudar sua forma de atuação para, no mínimo,
reduzir os impactos sociais e ambientais adversos. Isso
requer uma nova maneira de encarar a inovação, o que
leva à ideia de inovação sustentável, ou seja, um tipo de
inovação que contribua para o alcance do desenvolvi-
mento sustentável.
Este trabalho, de cunho teórico, tem como principal
objetivo analisar a relação entre sustentabilidade e ino-
vação, tendo como referencial a teoria institucional. Para
tanto, o artigo inicialmente analisa a questão do desen-
volvimento sustentável, a partir de uma dimensão histó-
rica da evolução do movimento. A seguir, é explorada a
temática da institucionalização do desenvolvimento sus-
tentável, introduzindo-se o conceito de organizações ino-
vadoras sustentáveis. Por fim, é abordada a relação entre
sustentabilidade e inovação, destacando a importância da
empresa inovar considerando as três dimensões da sus-
tentabilidade – social, ambiental e econômica.
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
A expressão “desenvolvimento sustentável”, que co-
meçou a se tornar popular a partir da Conferência das
Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento
(CNUMAD), realizada no Rio de Janeiro em 1992, tem na
realidade uma longa trajetória. De acordo com Riechmann
e Buey (1994, p. 104), as sociedades industriais enseja-
vam, desde o seu início, reações críticas pelas destruições
que causavam, seja por autores dissidentes, seja por movi-
mentos sociais, que chegam até os nossos dias e carregam
consigo um rico passado de crítica civilizatória, embora
tenham permanecido marginais até poucas décadas atrás
em relação às correntes centradas no produtivismo.
Essa visão histórica tem sido em geral menosprezada
nos textos de autores norte-americanos e europeus, que
costumam colocar a década de 1970 como o marco inicial
do movimento pelo desenvolvimento sustentável, além de
menosprezarem a contribuição de autores e instituições
do que na época se denominava Terceiro Mundo. Vincent
(1995, p. 270), por exemplo, afirma que “o movimento
ecológico desenvolveu-se na esfera pública a partir dos
anos 1970”, tendo como referencia a criação de partidos
políticos, os partidos verdes, em países europeus, mas re-
conhece que as origens do pensamento ecologista vêm de
muito antes, e para ilustrar esse fato cita Ernst Haeckel, o
cientista que criou a palavra ecologia, em 1866, na épo-
ca um neologismo (VINCENT, 1995, p. 211). Em face
da criação desses partidos na década de 1970 nos países
desenvolvidos do Ocidente, deu-se como certo que o mo-
vimento ecologista tem essa origem. As contribuições de
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países de outras regiões foi solenemente ignorada. Não
mencionam, por exemplo, que as lutas de Chico Mendes
já traziam uma proposta socioambiental própria do en-
tendimento de desenvolvimento sustentável. Se mais
propostas não surgiram por aqui, não se deve à falta de
percepção da problemática socioambiental e de propos-
tas, mas ao regime ditatorial que grassava por toda região
latino-americana.
Nem todas as correntes ambientalistas confluíram
para o movimento pelo desenvolvimento sustentável,
haja vista que a diversidade de correntes é tão grande
que abarca diversos posicionamentos, muitos deles em
conflitos irreconciliáveis, a começar pelos termos utili-
zados. Vincent (1995) usa a expressão ecologismo para
indicar a ideologia política que se destacou nos anos 1970
e resultou nos partidos verdes. Dobson (1997) distingue
ecologismo de ambientalismo em termos de grau e de
espécie. O primeiro é, segundo esse autor, uma ideologia
política, e como tal deve (1) proporcionar uma descri-
ção analítica da sociedade de modo a orientar os seus
adeptos no mundo político, (2) prescrever uma forma
particular de sociedade, empregando crenças a respeito
das condições humanas que sustentam e reproduzem
as opiniões sobre a sociedade prescrita, e (3) propor-
cionar um programa de ação política para alcançar tal
sociedade (DOBSON, 1997, p. 22-23). O ambientalismo
para Dobson adapta-se a qualquer ideologia e, por mais
paradoxal que possa parecer, a ideologia menos susce-
tível ao ambientalismo é o ecologismo, pois a crença no
ecocentrismo é o aspecto que a diferencia de todas as
demais ideologias políticas. Desse modo, pode-se pensar
em hibridização entre liberalismo, socialismo, comunis-
mo, fascismo etc. com o ambientalismo, pois nenhum
deles é ecocêntrico.
Muitas correntes ambientalistas aderiram ao movi-
mento do desenvolvimento sustentável e inúmeras lhe
fazem severas críticas por motivos variados. As corren-
tes ecocêntricas apontam o fato de que o movimento é
antropocêntrico até a medula e não representaria uma
mudança profunda ou de espécie, para usar as palavras
de Dobson, na relação dos humanos com os demais seres
vivos e elementos da natureza, mas apenas uma mudan-
ça de grau, caracterizando uma abordagem meramente
reformista. Uma das maiores críticas vem do fato de ser
esse movimento impulsionado pelas grandes empresas
multinacionais, que antes haviam boicotado a propos-
ta denominada “ecodesenvolvimento”, que para Sachs
(1986, p. 115-116), um dos seus criadores, “postula uma
visão solidária a longo prazo e abrangendo toda a huma-
nidade”, cuja ênfase deve recair sobre os espaços de au-
tonomia local, seu ponto de partida e lugar por onde de-
veriam passar obrigatoriamente os movimentos políticos
para conduzir essa nova concepção de desenvolvimento.
Essa proposta desagradaria tanto aos defensores do
dirigismo estatal quanto aos da livre iniciativa. Estes úl-
timos pela ênfase no desenvolvimento endógeno de bases
comunitárias e pela crítica ao crescimento econômico de
caráter imitativo, que procura reproduzir os padrões de
consumo e os processos sociais ocorridos nos países in-
dustrializados (SACHS, 1986, p. 53). Assim, atacadas por
atores poderosos no cenário internacional, as idéias con-
cernentes ao ecodesenvolvimento foram deixadas de lado.
Não levaria muito tempo para que surgisse a expressão
desenvolvimento sustentável, trazendo outros conceitos e
que se tornaria um sucesso mundial.
A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL
Críticas ao desenvolvimento sustentável também não são
poucas. O crescimento econômico como condição neces-
sária para erradicar a pobreza, um objetivo do desenvol-
vimento sustentável constante no relatório da CMMAD
(1991, p. 53), encontra muitas objeções, pois há quem
entenda que o crescimento econômico é a origem dos gra-
ves problemas ambientais e sociais observados no mundo
contemporâneo. Daly (1991) está entre os que criticam o
relatório por esse motivo. Muitos enxergam novas aspira-
ções empresariais por trás da agenda da sustentabilidade,
enquanto outros veem a continuação de antigas aspira-
ções pelo controle ou dominação dos recursos mundiais
(HOLLAND, 2003, p. 392). O crescimento econômico é
algo sempre desejado e perseguido por empresários e po-
líticos, o que explicaria a grande adesão que eles deram
ao movimento da sustentabilidade. Há os que consideram
confusos e contraditórios os conceitos relativos ao desen-
volvimento sustentável, como Faber e outros (2006), que
examinaram esse assunto sob a ótica empresarial. As difi-
culdades para colocar em prática os conceitos associados
ao desenvolvimento sustentável em face da grandiosidade
dos seus objetivos geram ceticismos dos mais diversos.
Norgaard (1994) considera impossível definir desenvolvi-
mento de um modo operacional em detalhe e com o nível
de controle com base nas premissas dominantes da mo-
dernidade, tais como atomismo, mecanicismo, universa-
lismo. Porrit (2003, p. 111) propõe que seja denominado
“desenvolvimento marginalmente menos insustentável”.
Vale lembrar que, no ambiente francofônico, a expressão
usada é desenvolvimento durável ou duradouro (déve-
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loppement durable). Não se trata apenas de mudança de
nome para atender veleidades nacionais. “Duradouro” é
um termo mais adequado do que “sustentável’ para qua-
lificar um projeto de transformação da sociedade global,
pois, como sustentável não especifica uma dimensão tem-
poral, pode referir-se a qualquer prazo futuro, inclusive os
prazos políticos subordinados aos calendários eleitorais
e os horizontes de planejamento empresariais, em geral
não superiores a cinco ou dez anos.
Apesar de tantas críticas às propostas concernentes
ao desenvolvimento sustentável, como exemplificadas
acima, o fato é que elas se tornaram as bases de um dos
mais importantes movimentos sociais da atualidade, e
essa façanha não levou mais de duas décadas, conside-
rando a CNUMAD de 1992 como um marco inicial da
institucionalização desse conceito. Pouco se falava sobre
esse assunto fora de círculos restritos antes da CNUMAD
e dos trabalhos de preparação que a antecederam. Dentre
esses merece destaque o trabalho da CMMAD, criada pela
Assembleia Geral da ONU em 1983 e que concluiu seus
trabalhos em 1987 com a elaboração do relatório Nosso
futuro comum, no qual se encontra a famosa definição de
desenvolvimento sustentável: “Desenvolvimento susten-
tável é aquele que atende as necessidades do presente
sem comprometer a possibilidade das gerações futuras
de atenderem as suas próprias necessidades” (CMMAD,
1991, p. 46).
Como diz Nobre (2002), o conceito de desenvolvimen-
to sustentável “surgiu não só como uma noção fadada a
produzir consenso, mas também como enigma a ser cri-
ticado pela sua vaguidão, imprecisão e caráter contraditó-
rio” (p. 25). Para esse autor, a força desse conceito esteve
inicialmente na sua vaguidão e imprecisão, sendo que a
exploração de suas contradições e fraquezas foi um cami-
nho já trilhado que não trouxe resultados significativos.
Nobre entende que esse conceito é “um veículo de um
acordo político mínimo em torno dos termos em que iria
se dar a sua institucionalização em nível global da pro-
blemática ambiental e como ponto de partida da dispu-
ta política a ser travada nos limites por ele traçados” (p.
26). A institucionalização a que se refere esse autor se dá
no âmbito das organizações intergovernamentais, como
o PNUMA, PNUD, Banco Mundial, FMI, dos governos
nacionais e de ONGs com atuação internacional, como a
UINC, WWF e WBCSD.
No âmbito das organizações em geral, e em especial das
empresas, esse processo de institucionalização não teve
precedentes, seja em termos de abrangência espacial, seja
em termos de rapidez com que o conceito se popularizou
nesse meio. Que ventos estiveram soprando tão favora-
velmente para que tal sucedesse? Talvez uma explicação
plausível possa ser encontrada na teoria institucional, que
mostra que, quando novos valores são institucionaliza-
dos na sociedade e se tornam “mitos” a serem seguidos
em um determinado setor, as organizações respondem a
essas pressões adotando esses modelos e as práticas tidas
como as melhores em um dado sistema social. As orga-
nizações buscam, assim, eficiência simbólica e eficiência
técnica (MEYER e ROWAN, 1991). A eficiência simbóli-
ca se obtém adotando-se os modelos institucionalizados
no setor e na sociedade em geral tidos como os ideais. A
adoção desses modelos por parte das organizações traz
legitimidade social e recursos.
Na sociedade atual, os valores ligados ao desenvolvi-
mento sustentável e ao respeito às políticas ambientais
têm sido institucionalizados em maior ou menor grau
nos diversos países pela mídia, pelos movimentos sociais
e ambientalistas, e pelos governos. Como resposta a essas
pressões institucionais, surgem novos modelos organiza-
cionais, vistos como os mais adequados para o novo ciclo
que se inicia, como é o caso das organizações inovadoras
sustentáveis.
Setores institucionais são setores sociais onde predo-
mina um conjunto de regras e normas às quais as orga-
nizações devem se conformar se pretendem sobreviver,
receber apoio e obter legitimidade de outras organizações
e da sociedade. As instituições controlam a conduta hu-
mana, mediante padrões que determinam a ordem social
(SCOTT; MEYER, 1981). Segundo Powell e DiMaggio
(1991), a adoção de modelos normativos e estruturais
ocorre por meio de quatro formas de institucionalização:
coerção, normalização, indução e mimetismo organizacio-
nal. Esses mecanismos institucionais relacionam-se para a
manutenção ou mudança de valores e práticas culturais.
Esse processo de incorporação e conformidade com as
características dominantes é denominado “isomorfismo
estrutural”, uma tendência entre as organizações em pos-
suir estruturas, normas, modelos cognitivos e tecnologias
similares. O isomorfismo em relação ao ambiente no qual
a organização se circunscreve, como dizem Meyer e Rowan
(1991), faz com que ela incorpore os elementos legiti-
mados exteriormente, muito mais do que pela eficiência
que podem lhe proporcionar. A dependência desses ele-
mentos institucionais reduz as incertezas e turbulências
do ambiente, fato que promove o êxito e a sobrevivência
da organização.
A coerção organizacional é o processo de instituciona-
lização pela imposição de estruturas organizacionais por
autoridade legítima ou pela força, uma garantia de esta-
bilidade e rápida concretização. Por força da lei, grupos
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sociais adotam a imposição de critérios que regulam as ati-
vidades organizacionais e sociais (POWELL; DIMAGGIO,
1991). Dessa forma, dada a ação da mídia, dos formadores
de opinião, dos movimentos ambientalistas, dos órgãos
governamentais etc, as pressões institucionais aumenta-
ram e induziram as organizações a adotarem formas mais
compatíveis com essas novas demandas sociais associa-
das ao conceito de desenvolvimento sustentável. Assim,
pode-se afirmar que o modelo das organizações inova-
doras sustentáveis é uma resposta organizacional a essas
pressões institucionais.
ORGANIZAÇÕES INOVADORAS SUSTENTÁVEIS
Organização inovadora “é a que introduz novidades de
qualquer tipo em bases sistemáticas e colhe os resultados
esperados” (BARBIERI, 2007, p. 88). A expressão “bases
sistemáticas” significa a realização de inovações com auto-
nomia, intencionalidade e proatividade. Assim, a inovação
é um elemento essencial do modus operandi dessa organi-
zação, o que pressupõe que ela desenvolva continuamente
recursos tangíveis e intangíveis para inovar permanente-
mente. Organização sustentável é a que simultaneamente
procura ser eficiente em termos econômicos, respeitar a
capacidade de suporte do meio ambiente e ser instrumento
de justiça social, promovendo a inclusão social, a prote-
ção às minorias e grupos vulneráveis, o equilíbrio entre
os gêneros etc. (BARBIERI, 2007, p. 98-99). Os dois con-
ceitos de organização podem entrar em contradição, pois
inovar em bases sistemáticas pode se tornar sinônimo de
degradação sistemática do meio ambiente e da vida social.
Assim, uma organização inovadora sustentável “não é a
que introduz novidades de qualquer tipo, mas novidades
que atendam as múltiplas dimensões da sustentabilidade
em bases sistemáticas e colham resultados positivos para
ela, para a sociedade e o meio ambiente” (BARBIERI, 2007,
p. 105). Não basta, para as empresas, apenas inovar cons-
tantemente, mas inovar considerando as três dimensões
da sustentabilidade, a saber:
• dimensão social – preocupação com os impactos sociais
das inovações nas comunidades humanas dentro e fora
da organização (desemprego; exclusão social; pobreza;
diversidade organizacional etc.);
• dimensão ambiental – preocupação com os impactos
ambientais pelo uso de recursos naturais e pelas emis-
sões de poluentes;
• dimensão econômica – preocupação com a eficiência
econômica, sem a qual elas não se perpetuariam. Para
as empresas essa dimensão significa obtenção de lucro
e geração de vantagens competitivas nos mercados
onde atuam.
O atendimento a essas dimensões torna o processo de
inovação mais sofisticado e exigente, o que requer da or-
ganização um maior esforço para atender tecnicamente
esse requisito. Isso leva novas perspectivas para a gestão
da inovação.
INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE
A sustentabilidade do negócio pode ser entendida de modo
convencional, isto é, como capacidade de gerar recursos
para remunerar os fatores de produção, repor os ativos
usados e investir para continuar competindo. Dessa foram,
não há nada de novo em relação às inovações, sejam as
tecnológicas de produto/serviço e processo, sejam as de
gestão e de modelo do negócio. Esse é um entendimento
de longa data e decorre da idéia de que uma organização
deve ter sua continuidade estendida indefinidamente,
como sugerem os seus contratos sociais. Porém, se a sus-
tentabilidade dos negócios for entendida como uma con-
tribuição efetiva para o desenvolvimento sustentável, en-
tão as inovações passam a ter outros critérios de avaliação
além dos convencionais. Não é por outra razão que este
tema faz parte do núcleo central do conceito de desenvol-
vimento sustentável. Inclusive, na origem do movimento
pelo desenvolvimento sustentável estavam críticas severas
a certas inovações de sucesso, como fez Rachel Carson
em relação ao DDT (CARSON, 2002).
De acordo com os conceitos de sustentabilidade desse
movimento, as inovações devem gerar resultados econô-
micos, sociais e ambientais positivos, ao mesmo tempo, o
que não é fácil de fazer, dadas as incertezas que as inova-
ções trazem, principalmente quando são radicais ou com
elevado grau de novidade em relação ao estado da arte.
Os efeitos econômicos são relativamente fáceis de prever,
pois há uma enorme quantidade de instrumentos desen-
volvidos para isso, e as empresas inovadoras sabem como
usá-los. Os efeitos sociais e ambientais são mais difíceis de
serem avaliados previamente, pois envolvem muito mais
variáveis, incertezas e interações. Por isso, o que mais se
observa é a continuidade do entendimento convencional
acompanhado de um discurso que incorpora a temática
do desenvolvimento sustentável que fica apenas na boa
intenção, quando não é um meio de se apropriar de uma
ideia que está ganhando importância para a população e
os formadores de opinião. O desenvolvimento sustentável
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requer a combinação de mudanças técnicas e sociais, uma
vez que estas estão profundamente relacionadas (SCHOT;
GEELS, 2008).
Há diversas iniciativas legítimas que procuram con-
siderar as três dimensões da sustentabilidade nos pro-
cessos de inovação, como a Native, empresa que produz
alimentos orgânicos de modo rentável usando proces-
sos agrícolas e industriais compatíveis com os objetivos
do desenvolvimento sustentável, conforme observaram
Carvalho e Barbieri (2009). Essa empresa contraria as
afirmações de Norman Borlaug, pai da revolução verde
e prêmio Nobel da Paz, de que a agricultura orgânica é
menos adequada ao meio ambiente, pois, apresentan-
do menor produtividade, requer mais áreas de lavoura
para atender a mesma demanda por alimentos (THE
ECONOMIST, 2006). A alta produtividade dessa em-
presa, que garante sua sustentabilidade econômica, foi
conseguida por meio de um intenso esforço de inovação
em produto, processo, gestão e no modelo de negócio,
tais como a eliminação da queimada para o corte da cana,
controle biológico de pragas, fertilização orgânica, novos
dispositivos em máquinas e implementos agrícolas para
evitar a compactação do solo e preservar a biodiversidade
terrestre, entre outras. Essas inovações proporcionaram
benefícios ambientais, como redução das emissões de
gases de efeito estufa, aumento da biodiversidade e redu-
ção da necessidade de fertilizantes minerais, que seriam
extraídos da natureza e transportados por longas distân-
cias, consumindo combustíveis fósseis. Também trouxe
melhoria da qualidade de vida para os trabalhadores e
habitantes do entorno, não contribuindo para a incidên-
cia de problemas respiratórios que ocorrem onde o cor-
te da cana é feito da forma convencional (CARVALHO;
BARBIERI, 2009).
Inovação, segundo o Manual de Oslo, é a implemen-
tação de um produto (bem ou serviço) novo ou signifi-
cativamente melhorado, ou um processo, ou um novo
método de marketing, ou um novo método organizacio-
nal nas práticas de negócios, nas organizações do local
de trabalho ou nas relações externas (OECD, 1997, p.
55). Com base nessa definição, Kemp e Pearson (2008)
definiram “ecoinovação” como “a produção, assimilação
ou exploração de um produto, processo de produção,
serviço ou método de gestão ou de negócio que é novo
para a organização (desenvolvendo ou adotando-a) e que
resulta, ao longo do seu ciclo de vida, em reduções de
riscos ambientais, poluição e outros impactos negativos
do uso de recursos, inclusive energia, comparado com
alternativas pertinentes” (KEMP; PEARSON, 2008, p. 7;
tradução nossa e grifo dos autores). Devido aos impac-
tos negativos que em geral acompanham as inovações,
como emissões de poluentes e esgotamento de recursos
naturais, a definição enfatiza a redução de problemas,
tendo como pressuposto que os benefícios econômicos
serão percebidos de alguma forma.
Nota-se que “ecoinovação” refere-se à “ecoeficiência”,
um modo de atuação que resulta da interseção de duas
dimensões da sustentabilidade, a econômica e a social,
conforme mostra a Figura 1. A Figura 1a representa as
três dimensões da sustentabilidade em termos gerais, já
amplamente conhecida; a Figura 1b é uma representação
específica para as empresas, na qual a dimensão econô-
mica é representada pelo lucro, condição necessária para
a sua continuidade ao longo do tempo. A Figura 1c é a
representação do modelo triple bottom line, desenvolvido
por John Elkington. Esse modelo enfatiza a necessidade
de empreender uma gestão para obter resultados eco-
nômicos, sociais e ambientais positivos, que esse autor
denomina linhas dos pilares da sustentabilidade. A eco-
eficiência é uma prática que se dá entre as linhas dos pi-
lares econômicos e ambientais. Isso implica desenvolver
bens e serviços que satisfaçam as necessidades humanas
a preços competitivos e que reduzam progressivamente
os impactos ambientais a um nível próximo suportável
pela Terra (ELKINGTON, 2001, p. 82). Inovações eco-
eficientes são, por exemplo, as que reduzem a quanti-
dade de materiais e energia por unidade produzida, eli-
minam substâncias tóxicas e aumentam a vida útil dos
produtos. Porém, elas podem gerar desemprego, destruir
competências, prejudicar comunidades ou segmentos
da sociedade, entre outros problemas sociais. Por isso,
a dimensão social deve estar presente de forma explíci-
ta, para que a inovação ecoeficiente seja também uma
inovação sustentável.
Fazendo uma operação similar a dos autores citados,
a “inovação sustentável” é introdução (produção, assimi-
lação ou exploração) de produtos, processos produtivos,
métodos de gestão ou negócios, novos ou significativa-
mente melhorados para a organização e que traz benefí-
cios econômicos, sociais e ambientais, comparados com
alternativas pertinentes. Note que não se trata apenas de
reduzir impactos negativos, mas de avançar em benefí-
cios líquidos. A condição ressaltada, “comparação com
alternativas pertinentes”, é essencial ao conceito de ino-
vação sustentável, pois os benefícios esperados devem ser
significativos ou não negligenciáveis nas três dimensões
da sustentabilidade. Como mostra Barbieri (2007b), a
avaliação das consequências socioambientais deve fazer
parte dos processos de inovação e não apenas a avaliação
econômica. É de praxe encontrar nos textos sobre gestão
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ARTIGOS • INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE: NOVOS MODELOS E PROPOSIÇÕES
da inovação que a expectativa de um resultado econômico
negativo ou abaixo do esperado interrompe ou redirecio-
na um processo específico de inovação. A interrupção ou
redirecionamento do projeto também deveria ocorrer com
respeito aos resultados sociais e ambientais negativos ou
abaixo do esperado.
Como observaram Hall e Vredenburg (2003, p. 64), as
abordagens tradicionais de inovação em geral focalizam
um reduzido grupo de partes interessadas (stakeholders),
como fornecedores, clientes, investidores e órgãos regula-
dores, e as análises consideram os impactos da inovação
sobre essas partes. As inovações sustentáveis consideram
uma lista ampla de partes interessadas secundárias, como
a comunidade local e grupos ativistas de várias causas,
tais como ambientalistas, antiglobalização, direitos dos
animais etc. A dificuldade torna-se muito maior por se
tratar de inovações realizadas de forma contínua, pois é
isso que caracteriza uma organização inovadora. As par-
tes interessadas, que os autores denominam secundárias,
não se restringem às que operam no entorno da organi-
zação; elas podem estar em qualquer local e tampouco se
restringem às que são afetadas pela inovação. Esse é um
dos motivos que levam ao crescimento do movimento
pela responsabilidade social empresarial estimulado pelas
próprias organizações empresariais como forma de res-
ponder ao desafio de ter de lidar com incontáveis partes
interessadas. Entre as propostas típicas desse movimen-
to está a de manter canais abertos para diálogo constante
com quem se declara interessado no que a empresa faz
ou pretende fazer, e divulgar com transparência suas ati-
vidades e os impactos econômicos, sociais e ambientais
que elas causam.
Inovar seguindo as três dimensões da sustentabilidade
ainda não é a regra, até porque a inclusão das dimensões
sociais e ambientais requer novos instrumentos e modelos
de gestão, que só recentemente começaram a ser desen-
volvidos com mais intensidade. Isso não é tarefa só das
empresas que pretendem inovar. As instituições de ensi-
no e pesquisa, os órgãos governamentais, as instituições
de normalização, as organizações da sociedade civil, ou
seja, o sistema nacional de inovação também tem um pa-
pel relevante nessa questão.
No final dos anos 1980, os economistas Richard Nelson
e Christopher Freeman desenvolveram o conceito de
Sistema Nacional de Inovação (SNI), entendido como
“uma construção institucional, produto de uma ação
Dimensão econômica
Linha do pilar social
1
Linha do pilar econômico
Linha do pilar ambiental
Lucro
Dimensão
ambiental
Dimensão
social
Desenvolvimento
sustentável
Sustentabilidade
empresarial
Habilidade PlanetaPessoas Habilidade
Equidade EquidadeEcoeficiência Ecoeficiência
a
c
b
2
3
Figura 1 – Desenvolvimento sustentável: representações
Fonte: Figura 1a - Adaptada da norma francesa SD 21000; figura 1b - Inspirada nessa norma e em Marrewijk, 2003; figura 1c - Extraída
de Elkington, 2001.
JOSÉ CARLOS BARBIERI • ISABELLA FREITAS GOUVEIA DE VASCONCELOS • TALES ANDREASSI • FLÁVIO CARVALHO DE VASCONCELOS
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planejada e consciente ou de um somatório de decisões
não planejadas e desarticuladas, que impulsiona o pro-
gresso tecnológico em economias capitalistas complexas”
(ALBUQUERQUE, 1995, p. 4). Tal construção envolve
as universidades, agências governamentais, institutos
tecnológicos, empresas, associações de cientistas e enge-
nheiros, que se articulam com os sistemas educacional,
industrial e empresarial e com as instituições financeiras,
completando o circuito dos agentes que são responsáveis
pela geração, implementação e difusão das inovações tec-
nológicas. Entre as tarefas de um SNI está a de identificar
oportunidades e a capacidade do país de aproveitá-las,
baseando-se no conhecimento científico e tecnológico
básico existente.
Para que a sustentabilidade se incorpore efetivamente
no desenvolvimento de inovações, é fundamental que o
sistema nacional de inovação esteja mobilizado para tanto,
devendo se adequar a essa nova realidade. Especificamente
no campo empresarial, Dormann e Holliday (2002) apon-
tam quatro questões que as empresas devem formular du-
rante o desenvolvimento de seus processos inovadores a
fim de garantir que eles incorporem questões relativas à
sustentabilidade. São elas:
• Como podemos nos assegurar de que a sustentabilidade
faça parte do nosso processo criativo?
• Como podemos nos assegurar de que a sustentabilidade
faça parte do processo de gestão empresarial?
• Quando e como a visão externa poderá ser incorporada
ao processo criativo de desenvolvimento da inovação?
• Quais processos são mais adequados para aumentar o
valor do capital intelectual da empresa?
Para finalizar, é importante destacar a nova aborda-
gem Strategic Niche Management (SNM) (CANIELSA;
ROMIJNB, 2008; SCHOT; GEELS, 2008), delineada para
facilitar a introdução e difusão de tecnologias susten-
táveis por meio de nichos tecnológicos, isto é, espaços
protegidos que permitem uma série de experimentos
relacionados com a evolução da tecnologia, práticas de
uso e estruturas regulatórias. Exemplos de setores que
se enquadrariam nessa abordagem: energia, biogás, sis-
temas de transporte públicos, produção de alimentos
ecologicamente amigáveis. A premissa é que, se tais ni-
chos forem construídos adequadamente, eles poderiam
agir como base para mudanças maiores na sociedade em
termos de desenvolvimento sustentável. Um exemplo é
a introdução de um produto detentor de uma tecnologia
inovadora em cidades pequenas, antes de se colocá-lo
efetivamente no mercado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O modelo de organização inovadora sustentável é uma
resposta às pressões institucionais por uma organização
que seja capaz de inovar com eficiência em termos econô-
micos, mas com responsabilidade social e ambiental. Esse
tipo de organização busca vantagem competitiva desen-
volvendo produtos, serviços, processos e negócios, novos
ou modificados, com base nas dimensões social, ambiental
e econômica. Ela reúne duas características essenciais: é
inovadora e orientada para a sustentabilidade. Esses obje-
tivos são factíveis, como mostra o exemplo mencionado.
Logo, institucionaliza-se uma nova lógica de produção
na qual a sustentabilidade e a inovação caminham juntas.
Tendo em vista o fenômeno do isomorfismo institucio-
nal (concentração de formas organizacionais nos diversos
setores produtivos), o modelo das organizações inovado-
ras sustentáveis vem ganhando rapidamente cada vez mais
espaço nas empresas líderes. Esses fatos permitem dizer
que o movimento do desenvolvimento sustentável é um
dos movimentos mais importantes do nosso tempo, e, a
julgar pela vitalidade dos fatores institucionais presentes
em praticamente todo o mundo, pode-se inferir que ele
continuará se propagando por muitas décadas.
Desse modo, o aprimoramento dos modelos de orga-
nização sustentáveis, as diversas formas da sua institu-
cionalização em âmbito global, o desenvolvimento de
tecnologias sustentáveis, a gestão de inovações para o
desenvolvimento sustentável, serão temas cada vez mais
importantes nos estudos futuros. Um aspecto em geral
negligenciado nos modelos de organização sustentável
refere-se ao consumo. Como o sistema operacional pro-
dutivo e as inovações de produto e de processo, ao atender
as três dimensões da sustentabilidade, devem gerar ganhos
para o meio ambiente em termos de redução no uso de
recursos e de emissões de poluentes, o aumento da produ-
ção pelo incitamento à demanda por novos produtos pode
neutralizar ou até superar esses ganhos. Levar em conta
essa possibilidade dando-lhe um tratamento adequado é
um dos maiores desafios para o alinhamento das empresas
ao modelo de organização inovadora sustentável.
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