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Armamentismo e liberdade individual no neoliberalismo: uma perspectiva psicanalíticaArmamentism and Individual Freedom in Neoliberalism: A Psychoanalytic PerspectiveArmamentismo y libertad individual en el neoliberalismo: una perspectiva psicoanalítica

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Abstract

Trata-se de uma pesquisa psicanalítica que busca investigar as políticas e os aspectos ideológicos forjados a partir do neoliberalismo, que fundamentam a experiência da liberdade individual na contemporaneidade, por meio do exame do fenômeno armamentista. Ao mesmo tempo, examinar-se-á as tensões psicológicas e sociais que decorrem desse processo. O modelo neoliberal analisado é compreendido a partir das teorizações propostas por Von Mises e Hayek, no que se refere ao estatuto da liberdade na atualidade. Como conclusão, defende-se a ideia de que o armamentismo é uma forma de negação do outro e de si mesmo, que expressa um sintoma neurótico de recusa do processo subjetivo e do pacto civilizatório.
2025, Vol. 27, Nro. 1, e2121Quaderns de Psicologia ISSN: 0211-3481
https://doi.org/10.5565/rev/qpsicologia.2121
Armamentismo e liberdade individual no neoliberalismo:
uma perspectiva psicanalítica
Armamentism and Individual Freedom in Neoliberalism:
A Psychoanalytic Perspective
Luciano Henrique Moreira Santos
Anamaria Silva Neves
João Luiz Leitão Paravidini
Universidade Federal de Uberlândia
RESUMO
Trata-se de uma pesquisa psicanalítica que busca investigar as políticas e os as-
pectos ideológicos forjados a partir do neoliberalismo, que fundamentam a ex-
periência da liberdade individual na contemporaneidade, por meio do exame do
fenômeno armamentista. Ao mesmo tempo, examinar-se-á as tensões psicológi-
cas e sociais que decorrem desse processo. O modelo neoliberal analisado é
compreendido a partir das teorizações propostas por Von Mises e Hayek, no que
se refere ao estatuto da liberdade na atualidade. Como conclusão, defende-se a
ideia de que o armamentismo é uma forma de negação do outro e de si mesmo,
que expressa um sintoma neurótico de recusa do processo subjetivo e do pacto
civilizatório.
Palavras-chaves: Neoliberalismo; Armamentismo; Psicanálise;
Liberdade
ABSTRACT
This is a psychoanalytic research that seeks to investigate the policies and
the ideological aspects, forged from neoliberalism, that underlie the experience
of individual freedom in contemporaneity through the examination of the
armamentist phenomenon. At the same time, the psychological and social tensions
that result from this process will be examined. The neoliberal model, analyzed, is
2Moreira Santos, Luciano Henrique; Silva Neves, Anamaria & Leitão Paravidini, João Luiz
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understood from the theorizations proposed by Von Mises and Hayek regarding the
status of freedom in the present. As a conclusion, it is argued that armamentism is
a form of denial of the other and of oneself that expresses a neurotic symptom of
refusal of the subjective process and of the civilizing pact.
Keywords: Neoliberalism; Armamentism; Psychoanalysis; Freedom
INTRODUÇÃO
Este estudo congura-se como uma pequena parte, um recorte de um projeto de
mestrado que se encontra em andamento, o qual está vinculado ao Programa de
Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia (PPGPSI/
UFU). Diante disso, percorreremos um caminho teórico-metodológico a m de
sustentar a proposição de que a elevação da ideia de liberdade individual a um
patamar de autonomia, iniciada no liberalismo e potencializada no neoliberalis-
mo, é uma tentativa radical de eliminar toda e qualquer alteridade que é própria
e fundamental à constituição da subjetividade humana. Nesse mesmo sentido,
trata-se de uma busca por romper com a dinâmica de identicação dos sujeitos.
Por m, alçar a liberdade à condição de ente, isto é, de objeto materializável, é
uma maneira de, por meio da dimensão social, dissolver em absoluto a civiliza-
ção e a cultura. Em síntese, a autonomização da liberdade é, profundamente,
anti-civilizatória.
Para tanto, partir-se-á da ascensão de movimentos de extrema-direita organiza-
dos em partidos políticos, no Brasil, compreendidos como expressão do projeto de
uma suposta “consolidação” da chamada liberdade individual que, no entanto, é
sublinhado por um programa de rompimento da democracia e do aniquilamento
da alteridade, bem como do apagamento do distinto e do extermínio do estran-
geiro. Esse fato é percebido, incontestavelmente, no fenômeno do armamentismo
e na discursividade posta em sua proteção, que é marcada pela necessidade de
defender, a todo custo, a propriedade privada e, portanto, a si-mesmo como o
bem-supremo.
Portanto, esta pesquisa tem como objetivo investigar as políticas e os aspectos
ideológicos forjados a partir do neoliberalismo, que fundamentam a experiência
da liberdade individual na contemporaneidade, por meio do exame do fenômeno
armamentista. Ao mesmo tempo, examinar-se-á as tensões psicológicas e sociais
que decorrem desse processo. Para tanto, o método psicanalítico será utilizado
como chave de leitura para o empreendimento citado. E, ainda, sustenta-se,
ante ao exposto, a decisão de circunscrever a empreita analítica — ante a
discussão realizada sobre o conceito de liberdade — a alguns teóricos e autores
especícos ao campo neoliberal, a saber: Ludwig von Mises e Friedrich Hayek.
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Quaderns de Psicologia | 2025, Vol. 27, Nro. 1, e2121
O DRAMA NEOLIBERAL À BRASILEIRA
De acordo com Carlos Rodrigues (2022), entre 1950 e 1970, ocorreu um processo
chamado de transnacionalização do capital, isto é, um período marcado pela
queda do padrão ouro, que organizava as transações econômicas; pela descen-
tralização da produção de empresas multinacionais, em busca de mão-de-obra
barata e legislações tributárias e trabalhistas menos rigorosas, e, por m, pela
ampliação da dependência ao dólar, principalmente, por países considerados
subdesenvolvidos ou em desenvolvimento.
Os determinantes externos, expressos pela transnacionalização e pela -
nanceirização, deixaram o Estado sem condições de mediar os ns aos
meios, ou seja, a acumulação capitalista foi prioritariamente usada para
atender os interesses privados dos capitalistas sem a possibilidade de se
levar adiante um projeto de nação. (Rodrigues, 2022, pp. 556-557).
Embora tenha-se implementado uma política de gestão da economia, não
formulou-se, no Brasil, um projeto de desenvolvimento econômico (Rodrigues,
2022). Os Anos de Chumbo engendraram um arcabouço político-econômico que
favoreceu a entrada de capital estrangeiro, sobretudo o dólar, mas não foi capaz
de fomentar um cenário interno que estimulasse a indústria brasileira de manei-
ra ecaz e eciente (Rodrigues, 2022).
Na década de 1970, foi desenvolvido o II Plano Nacional de Desenvolvimento,
durante o governo do ditador Geisel, cujo objetivo era estimular o setor produti-
vo brasileiro. No entanto, de acordo com Carlos Rodrigues (2022), esse planeja-
mento, na verdade, propiciou a dependência da economia pública do país ao
setor privado.
Sem os recursos externos, de acordo com o governo, o plano se tornaria
frustrante, assim como a previsão de crescimento para a indústria na or-
dem de 12% ao ano no quinquênio. Para essa ampliação, reservava-se ao
setor privado papel de destaque enquanto as empresas estatais atuariam
para dar suporte à iniciativa privada em setores que não eram do inte-
resse do capital privado, mas importantes para o seu desenvolvimento
industrial. A orientação do plano era deixar com a iniciativa privada a
função de investir e produzir, com rentabilidade adequada. (Rodrigues,
2022, p. 558).
A realização de empréstimos — via Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional
(FMI) —, a balança comercial decitária importação maior que exportação
e a Crise do Petróleo — que redundou no aumento da taxa de juros do dólar, por
meio do Banco Central do Estados Unidos da América —, cristalizou o cenário de
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deterioração econômica no Brasil (Rodrigues, 2022). Diante disso, o poder execu-
tivo adotou medidas para tentar reduzir o desequilíbrio econômico, controlar a
inação — que atingiu 243% em 1985, ano da redemocratização do Brasil (Ribeiro,
2022) — e, por m, reduzir a participação pública do Estado na economia, para
assim, instalarem-se as regras mercadológicas do não-intervencionismo (Rodri-
gues, 2022). O contexto, portanto, foi ideal para o advento e a consolidação do
neoliberalismo, no Brasil.
Forjou-se, a partir da perspectiva do período ditatorial brasileiro, as bases para
a introdução e consumação de um modelo político-econômico de destruição de
direitos sociais, construído a duras penas, ao longo da história. A Greve Geral de
1917, por exemplo, contribuiu signicativamente para a Consolidação das Leis
dos Trabalho (CLT), em 01 de maio de 1943, que assegurou prerrogativas legais,
necessárias e fundamentais, para os agentes envolvidos em uma relação de tra-
balho, sobretudo, aos trabalhadores (Moraes, 2021).
Com esse cenário político-econômico desenhado no horizonte brasileiro, outros
agentes entraram em cena, na tentativa de majorarem suas inuências no corpo
social e institucional, para, enm, assentarem-se como força política, em busca
de legitimidade. Trata-se da partidarização de movimentos de extrema-direita,
que foi iniciado na década de 1930. De acordo com Guilherme Andrade (2013), a
Ação Integralista Brasileira (1932 a 1937), representada por Plínio Salgado, tor-
nou-se o principal ator político da extrema-direita e, ao mesmo tempo, estabe-
leceu bases para a constituição de ideologias referenciadas ao nazismo e ao
fascismo. Já na década de 1980, inspirados nos grupos skinheads da Inglaterra,
surgiram movimentos que apoiavam as políticas autoritárias de regimes ditato-
riais, como no caso do Brasil, que pregavam a divisão racial da sociedade (An-
drade, 2013).
Com isso, a partir do exposto, a gura de Jair Bolsonaro, na atualidade, não sur-
giu sem respaldo histórico, como uma espécie de abiogênese, isto é, sem res-
quícios de anterioridade fundante. Mas, antes, tratou-se de um processo longo e
conituoso, em que o neoliberalismo foi instaurado como modelo inédito de or-
ganização político-social no Brasil. O Partido dos Trabalhadores, fundado no ano
de 1980 na cidade de São Paulo, tornou-se, entre 1990 e 2000, a principal força
antagônica no que se refere ao arranjo partidário nacional e às políticas neoli-
beralizantes e autoritárias. Isso não signica, no entanto, que a sigla seja abso-
lutamente coerente e esmerada. Contudo, não se pode negar o contraponto
ideológico, ao menos no campo estatutário, frente às bases fundamentais do
neoliberalismo (Partido dos Trabalhadores, 2017).
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No quadro macrossocial mundial, segundo Alejandro Pérez Polo (2023), os anos
recentes foram marcados por uma ampla ascensão de movimentos ideológicos
alinhados à extrema-direita, com seus líderes assumindo postos importantes das
máquinas públicas, tais como: Viktor Orbán, em 2010, na Hungria; Donald Trump,
em 2016, nos Estados Unidos da América; Jair Bolsonaro, em 2019, no Brasil;
Nayib Bukele, em 2019, em El Salvador; Giorgia Meloni, em 2022, na Itália e, mais
recentemente, Javier Milei, em 2023, na Argentina.
Nesse contexto, surgiu a sustentação da discursividade dos representantes da
extrema-direita, assentada na defesa da liberdade individual a todo custo,
como patrimônio dos indivíduos que compõem a comunidade. Essa posição pre-
cipitou-se em um maniqueísmo político: a divisão entre o “bem”, os defensores
da moralidade e da autonomia, e o “mau”, associado à esquerda, na suposição
de uma contrariedade à liberdade individual. O debate público entre diferentes
visões ideológicas tornou-se uma espécie de guerra civil nos sistemas políticos
de vários países.
As eleições presidenciais de 2018 e de 2022 no Brasil foram marcadas por temas
sensíveis como censura, liberdade e economia, que inuenciaram a escolha dos
eleitores e a formação de consensos entre as massas. O representante da
extrema-direita, Jair Bolsonaro, difundiu a ideia de que seu adversário, Luiz Iná-
cio Lula da Silva — que se elegeu em 2022 —, iria suprimir todas as liberdades
essenciais, como a social, a religiosa, a econômica e a individual, caso fosse vito-
rioso. Além disso, durante seu mandato, de 2019 a 2022, Bolsonaro defendeu a
ampliação do acesso às armas de fogo, que ele considerava um direito inaliená-
vel dos cidadãos. Isso se concretizou na facilitação da obtenção de registros para
Caçadores, Atiradores e Colecionadores (CAC).
De acordo com o 17º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, de 2019 a 2022,
houve um aumento de 474% na concessão de certicado de registro de CAC, no
Brasil (Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2023). E, ainda, entre 2017 e 2022,
ocorreu um aumento de 147% no número de vendas de munições, dentro do mer-
cado nacional, de modo que, havia, no nal do período, 1 558 416 registros de
armas ativas. Para além disso, considera-se, também, um total de 1 532 803 dis-
positivos com registro expirado e, portanto, o governo não tinha ciência de suas
localizações (Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2023).
Os anos Bolsonaro provocaram profundas mudanças no mercado legal de
armas de fogo. Armas que antes eram de calibre restrito passaram a ser de
calibre permitido e algumas, como a pistola 9mm, passaram a aparecer
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como as armas mais vendidas no país. Porém, isso também transformou o
mercado ilegal. Porque a conexão entre os mercados legal e ilegal sempre
existiu, mas a dimensão que o mercado legal tomou acabou inuenciando
o ilegal. Já há relatos de policiais da linha de frente que indicam que a
pistola calibre 9mm tem sido uma das armas mais apreendidas por forças
policiais, ocupando um lugar que historicamente foi ocupado por revólve-
res, principalmente os adquiridos nas décadas de 80 e 90, quando o con-
trole era quase inexistente. (Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2023,
pp. 229-230).
O governo de extrema-direita no Brasil promoveu uma política de aquartelamen-
to da liberdade individual, ou seja, transformou-a em um bem material, que,
supostamente, poderia ser adquirido e garantido por meio do armamentismo.
Para defender a liberdade, propriedade básica e inseparável do indivíduo, a
extrema-direita brasileira, por meio de decretos presidenciais — cassados
posteriormente —, induziu ao estado de luta de todos contra todos, numa pers-
pectiva de “salve-se quem puder”, ou melhor, “salve-se a si mesmo”. O indiví-
duo, proprietário de si e de sua liberdade, tem o direito de proteger-se contra
qualquer ameaça que venha contra a sua existência e as suas posses. Essa foi
a lógica que sustentou a sociedade nos últimos anos.
Defender a propriedade, portanto, defender a si mesmo e, ainda, agir no mundo
com o intuito de gerar lucro e, assim, acumular riquezas, é a formula básica e
essencial do que é compreendido como empreendedorismo (Dardot & Laval,
2013). O intervencionismo estatal e a legislação, que advém da presença forte do
governo, produz uma sociedade totalitária e autoritária, em detrimento ao que é
substancial: o indivíduo (Von Mises, 2010). No neoliberalismo, como forma de as-
segurar as próprias necessidades, isto é, proteger os bens, é imprescindível que a
pessoa possua e porte uma arma, pois, para não car à mercê do monopólio da
violência — este que compete ao Estado —, é necessário atuar, também, com vio-
lência. Assim, consolida-se o estado, denominado por Pierre Dardot, Haud Gué-
guen, Christian Laval e Pierre Sauvêtre (2021), em que os indivíduos deliberam
por permanecerem, constantemente, em uma guerra civil. O indivíduo neoliberal
conduz-se, necessariamente, a uma condição de violência contra o outro, pois, é
somente dessa maneira que o modelo político-econômico pode sustentar-se e
desenvolver-se.
A PERSPECTIVA NEOLIBERAL DA LIBERDADE INDIVIDUAL
O liberalismo, de acordo com Adriane Lemos (2020), é uma doutrina política e
econômica que surgiu, no século XVII, ao defender a ideia de liberdade individual,
o direito à propriedade privada, a livre iniciativa comercial e a limitação do poder
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do Estado, como princípios naturais e invioláveis. O liberalismo assenta-se na
ideia de que o mercado, regulado pela dinâmica de oferta e de demanda, é capaz
de garantir o bem-estar social, sem a necessidade de intervenções externas em
sua lógica de funcionamento. No entanto, segundo Pierre Dardot e Christian Laval
(2013), devido à incapacidade de apreender a necessidade da regulação estatal
na consolidação da economia de mercado, iniciou-se um longo período de crises.
Em meados dos séculos XIX e XX, essas instabilidades no liberalismo foram mar-
cantes, sobretudo, diante das transformações sociais e econômicas provocadas
pelas guerras, especialmente, as mundiais, pela Grande Depressão de 1929 e pelo
surgimento de outros modelos político-econômicos, como o socialismo.
Dessa feita, desenvolveu-se o neoliberalismo, como uma maneira de “consertar”
os erros liberais, uma corrente que retomou alguns princípios do liberalismo,
adaptando-os à realidade da economia globalizada e do capitalismo nanceiro.
Para Pierre Dardot e Christian Laval (2013), foi no Colóquio de Walter Lippmann,
realizado em Paris (França), em 1938, que se localizou o gérmen da corrente
neoliberal de pensamento. Vale ressaltar, em tempo, que não se trata de um mo-
delo unicado e, portanto, central, mas, antes, é uma modalidade com diversas
ramicações e conitos internos. O chamado ordoliberalismo, por exemplo, ca-
pitaneado por expoentes importantes da política e economia alemã, como Wal-
ter Eucken e Alexander Rüstow, compõe, também, o neoliberalismo. No entanto,
a perspectiva ordoliberal se diferencia na compreensão sobre a função do Esta-
do, em pontos teóricos, em relação à escola austro-americana, formada por Von
Mises e Hayek, principalmente.
Sinteticamente, o neoliberalismo, para Von Mises e Hayek, fundamenta-se na
desregulamentação dos mercados, na privatização das empresas estatais, na re-
dução dos gastos públicos, na exibilização das leis trabalhistas e na abertura
comercial (Lemos, 2020). Esse modelo tem sido fortemente criticado por agravar
as desigualdades sociais, enfraquecer os direitos dos trabalhadores, gerar insta-
bilidade econômica e ambiental e comprometer a soberania dos países.
Isso posto, o conceito de liberdade torna-se central, tanto para o liberalismo
quanto para o neoliberalismo, mas, ele é entendido e aplicado de maneiras dife-
rentes nesses dois modelos. No liberalismo, a liberdade é vista como um direito
natural e inalienável dos indivíduos, que deve ser protegida contra as interferên-
cias do Estado e, inclusive, da sociedade (Dardot & Laval, 2013). A liberdade é,
assim, a condição para o exercício da autonomia, da razão e da moralidade dos
seres humanos. Na verdade, a liberdade se confunde, profundamente, com a au-
tonomia, assumindo a perspectiva de que ser livre é ser “senhor de si”, isto é,
ser proprietário de si mesmo (Safatle, 2020a). O liberalismo defende, portanto,
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a liberdade política, civil e econômica, baseada na separação dos poderes e na
garantia dos direitos fundamentais — como citado anteriormente (Dardot & Laval,
2013; Lemos, 2020).
No neoliberalismo, por sua vez, a liberdade é reinterpretada como um valor ins-
trumental e condicional, que depende do desempenho dos indivíduos no mercado
(Dardot e Laval, 2013). A liberdade é a capacidade de escolher entre as opções
oferecidas pelo mercado, que é considerado o único mecanismo eciente e justo
de alocação dos recursos. O neoliberalismo defende, portanto, a liberdade de
mercado, baseada na desregulamentação, na privatização e na redução do papel
do Estado (Lemos, 2020). Nesse modelo, enm, aprofunda-se a lógica de liberda-
de como autonomia e, ainda, estende a radicalidade do princípio da não-interfe-
rência à todas as dimensões da vida humana, de modo a armar que somente
com a posse absoluta de si mesmo, em negação do outro, inevitavelmente, é que
é possível “ser livre”.
Além disso, o conceito de liberdade, no liberalismo e no neoliberalismo, tem im-
plicações diferentes para a vida social e política dos indivíduos e das massas.
Enquanto o primeiro valoriza a liberdade como um m em si mesmo, o segundo a
subordina e a aprofunda aos interesses do mercado; o liberalismo busca equili-
brar a liberdade com a igualdade e a justiça, o neoliberalismo ignora ou nega
esses valores (Dardot e Laval, 2013). Enquanto o modelo liberal reconhece a di-
versidade e a pluralidade das formas de expressão do que é entendido por liber-
dade, a fórmula neoliberal impõe uma única maneira de liberdade, baseada no
consumo e na competição (Lemos, 2020).
A liberdade, para Ludwig Von Mises (2010), decorre do fato de que sua existência
se desenvolve no plano das relações, isto é, entre duas pessoas e, diante disso,
parte-se da premissa de uma hierarquização biológica, ou seja, é pela dimensão
da força que se pode conceber relações livres ou não. Portanto, a liberdade, no
pensamento do autor, assume duas perspectivas: (1) existe, se existir o outro e
(2) consolida-se na sobrevivência do mais forte sobre o mais fraco. Nota-se, já
nesse ponto, a ideia implícita de que, inclusive para ser “livre”, é necessário
competir. Mas, não apenas isso, é imprescindível sobreviver e sobrepujar o outro.
Apesar de se depreender a liberdade no plano relacional, a alteridade é tomada
como um empecilho para a sua armação.
Ser livre é ter a possibilidade para agir de distintas maneiras, é escolher quais
comportamentos serão realizados em qualquer situação (Von Mises, 2010). A li-
berdade individual é, portanto, fundamental para a economia baseada no merca-
do ou, ainda, é inconcebível a economia de mercado sem, antes, a consolidação
da liberdade individual. Ser livre é responsabilizar-se pelas próprias decisões,
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isto é, é ter a posse dos próprios desejos, pensamentos e comportamentos (Von
Mises, 2010). A liberdade é (re)tomada, conforme no liberalismo, como a proprie-
dade absoluta de si mesmo, sem nenhum tipo de ingerência externa (Safatle,
2020a). Mas, mais que isso, é, ao ser senhor de si mesmo, ser capaz de se sobre-
por e de competir com outros indivíduos em busca do lucro (Safatle, 2020a).
Consequentemente, como gura de coerção e de restrição, entra em cena o Esta-
do, que é gerido por um governo com a função — diga-se, inclusive, a única “acei-
ta” por Von Mises — de impedir a dissolução do corpo social (Von Mises, 2010). Em
outras palavras, para o economista austríaco, o governo pode e deve atuar para
que um agrupamento coletivo não se desintegre, devido à natureza violenta e
agressiva dos seres humanos, no entanto, essa atribuição não deve ser estendida
à liberdade individual (Von Mises, 2010). Isso signica que a liberdade se pauta
por um princípio universal, inalienável e indissolúvel, contudo, o limite disso é o
espaço de liberdade de um outro indivíduo. Nesse ínterim, é crível armar que a
sociedade é forjada por pequenos núcleos de pessoas que são “donas de si” ou,
ainda, proprietárias de si mesmas. O equivalente pode ser atribuído a Friedrich
Hayek.
Nossa geração esqueceu que o sistema de propriedade privada é a mais
importante garantia da liberdade, não só para os proprietários, mas tam-
bém para os que não o são. Ninguém dispõe de poder absoluto sobre nós,
e, como indivíduos, podemos escolher o sentido de nossa vida — isso por-
que o controle dos meios de produção se acha dividido entre muitas pes-
soas que agem de modo independente. Se todos os meios de produção
pertencessem a uma única entidade, fosse ela a “sociedade” como um
todo ou um ditador, quem exercesse esse controle teria poder absoluto
sobre nós. (Hayek, 2010, p. 128, grifo do autor)
O Estado, ao fugir dessa incumbência, torna-se um empecilho, principalmente,
ao intervir diretamente no modo de funcionamento da sociedade, assentada na
economia de mercado, pois atrapalha o uxo competitivo e estabelece pontos
de incongruência na formatação da liberdade individual (Von Mises, 2010). Isso
quer dizer que o Estado é incompatível com a concepção neoliberal de socieda-
de, inclusive, sua inexistência ou baixa presença é desejável. Há uma necessi-
dade, no entanto, de um governo, que não deve ser confundido com Estado,
conforme exposto anteriormente, pois:
A m de estabelecer e preservar a cooperação social e a civilização, são
necessárias medidas para impedir que indivíduos antissociais cometam
atos que poderiam desfazer tudo o que o homem realizou desde que saiu
das cavernas. Para preservar um estado de coisas onde haja proteção do
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indivíduo contra a ilimitada tirania dos mais fortes e mais hábeis, é neces-
sária uma instituição que reprima a atividade antissocial. A paz — ausência
de luta permanente de todos contra todos — só pode ser alcançada pelo
estabelecimento de um sistema no qual o poder de recorrer à ação vio-
lenta é monopolizado por um aparato social de compulsão e coerção, e a
aplicação deste poder em qualquer caso individual é regulada por um
conjunto de regras — as leis feitas pelo homem, distintas tanto das leis da
natureza como das leis da praxeologia. O que caracteriza um sistema so-
cial é a existência desse aparato, comumente chamado de governo. (Von
Mises, 2010, p. 379)
Com isso, a liberdade é a possibilidade de um indivíduo, consciente e responsá-
vel por si, deliberar sobre quais comportamentos serão realizados, ante às possi-
bilidades da realidade (Von Mises, 2010). Ser livre é, em última instância, não ser
molestado pelos ditames legais de um Estado, representado por um seleto grupo
de indivíduos que compõe o seu governo (Von Mises, 2010). Qualquer forma de
política que busque, de certa maneira, produzir uma redistribuição de renda, o
aumento de arrecadação tributária ou, ainda, a ampliação de serviços públicos,
nanciados pelo tesouro nacional, signica um estado de calamidade e de inter-
ferência nas regras mercadológicas que pautam a ideologia neoliberal.
Assentado nessa perspectiva, entre 2016 e 2022, no Brasil, notou-se uma intensa
política de alteração, via legislação, daquilo que se caracterizava como dispositi-
vos essenciais à manutenção do “estado de bem-estar social”. Entre 2019 e 2021,
aprovou-se, no Congresso Nacional do Brasil, a Reforma da Previdência, que ele-
vou o tempo de contribuição e a idade mínima para os cidadãos aposentarem-se;
privatizou-se empresas estatais que eram consideradas estratégicas para a manu-
tenção da economia brasileira, a saber: a Liquigás e a BR Distribuidora; foi san-
cionado, pelo então presidente da República, a lei que concedeu autonomia ao
Banco Central do Brasil (Cruz et al., 2022). Além disso, em 2022, foi detectado,
pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricio-
nal (2022), que aproximadamente 33 milhões de brasileiros estavam em situação
de miserabilidade, com impossibilidade de se alimentarem.
Além disso, na compreensão de defesa absoluta da liberdade individual e da pro-
priedade de si, em 2021, o presidente da República, no Palácio da Alvorada, sua
residência ocial, armou: “Tem que todo mundo comprar um fuzil, pô. Povo ar-
mado jamais será escravizado. Eu sei que custa caro. Aí, tem um idiota: Ah, tem
que comprar é feijão. Cara, se você não quer comprar fuzil, não enche o saco de
quem quer comprar” (Fagundes, 2021, seção “‘Tem que todo mundo comprar fu-
zil, pô’, diz Bolsonaro”). Isso demonstra a situação grotesca de uma concepção
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pautada no extermínio, por completo, da alteridade. Em nenhuma medida, nessa
perspectiva, é necessário a relação entre pessoa-pessoa, se não for adotada a
obtenção de lucro ou de privilégio econômico, de acordo com preceitos neolibe-
rais. O pacto civilizatório é reduzido à dimensão contratual, à perspectiva de
objeto. O outro é passível de existir, tão somente, até o momento que deixa
de conferir alguma função que produza matéria ou que resulte em possibilidade
de extração de mais-valia, por meio da exploração do seu trabalho.
A liberdade individual é tomada como a liberdade para matar. Conforme explici-
tado por Achille Mbembe (2018), o Estado, por meio de sua governamentalidade,
recrudesce as relações entre dominador-dominado à dimensão do “fazer morrer”,
em detrimento à política de manutenção da vida de seus cidadãos. O neoliberalis-
mo, conforme essa perspectiva, é uma política socioeconômica que engendra uma
face perversa de seleção social, isto é, de permitir e de fabricar a morte dos seres
humanos que não se qualicam como mão-de-obra ativa e geradora de dinheiro e
de lucro. Não se confere, de nenhuma forma, ao cidadão a garantia do reconheci-
mento de seu status de pertencimento àquela sociedade.
Ao alçar a liberdade ao plano da autonomia, nega-se o caráter conitivo que é
inerente à vida em sociedade, cuja maior expressão é o debate democrático dos
contrários, e erige-se o imperativo da destruição, da guerra contra o divergente,
contra o opositor. A liberdade individual, enquanto propriedade, é a marca inde-
lével daquilo que é tido como a onipotência narcísica do Eu.
Tomamos aqui que, para Sigmund Freud (1914/2004), o narcisismo é um processo
que não é inerente ao ser, mas, antes, é um produto da articulação da pessoa com
o mundo, isto é, é relacional. Trata-se da construção de um autoinvestimento que,
em sua esteira, advém o Eu como gérmen. O narcisismo primário, ou seja, o reser-
vatório do narcisismo parental, é, inexoravelmente, o engendramento da identi-
cação com o desejo do outro (Freud, 1914/2004). Isso permite a dissolução do
enquistamento do Eu, estabelecendo a relação com o objeto, com a alteridade. No
entanto, após esse desenvolvimento, há a instauração de uma perda, de uma falha
que tange à incorporação do objeto, em ralação ao Eu, com o intuito da completu-
de (Freud, 1917/2004). O amadurecimento é, justamente, o processo de perder.
Isso signica, com base na ótica freudiana, que a autonomização da liberdade,
marcada pelo fenômeno armamentista, é a destituição do outro como traço essen-
cial na formatação da dinâmica da sociabilidade, que é chamada, nesta pesquisa,
de civilização, considerando a lógica da vida em sociedade. Nega-se o outro, e no
outro, para, em última medida, negar o próprio fato do limite do Eu. A liberdade
assume, por m, a condição de um duplo, como pensado por Sigmund Freud
12 Moreira Santos, Luciano Henrique; Silva Neves, Anamaria & Leitão Paravidini, João Luiz
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(1919/2019): 1) a face como suplantação do outro, como empecilho e como amea-
ça, no que concerne à manifestação do que é tido como livre-arbítrio; 2) o lado de
destituição do processo de subjetivação, o que alça a angústia como produto e a
pulsão de morte em sua plena tentativa de satisfação.
Não apenas esse conteúdo reprovado pela crítica do Eu pode ser incorpo-
rado pelo duplo, mas também, do mesmo modo, todas as possibilidades
pressupostas das formas do destino, às quais a fantasia ainda quer se afer-
rar, e todas as aspirações do Eu, que não puderam se realizar devido a
expressas circunstâncias desfavoráveis, assim como todas as decisões vo-
litivas reprimidas, que resultaram da ilusão de livre arbítrio. (Freud,
1919/2019, p. 67).
O fenômeno armamentista, por conseguinte, é a tentativa, mesmo que frágil, do
ponto de vista da relação subjetiva Eu-outro, de o indivíduo forticar-se contra a
ameaça que é o investimento no/do outro. É a xação aguerrida da fantasia de
autoproteção e de autodeterminação. Armar-se é arvorar-se no sentimento de
desproteção social, no desamparo; é demonstrar a extrema fraqueza constitucio-
nal de enlaçar-se no pacto civilizatório. O armamentismo, em última instância,
não é produzido para o Eu proteger-se do outro, ou dos outros, mas para salva-
guardar-se de si mesmo e de sua verve debilidade.
O RESTO NEOLIBERAL
Com a exposição da manifestação político-econômica neoliberal e de seu fator
reacionário, o armamentismo, devemos considerar, a partir de agora, os efeitos
que incidem tanto no quadro social quanto no aspecto subjetivo, no que concerne
às tensões produzidas. Nesse ponto, armamos que um se relaciona ao outro e,
portanto, não é possível compreender os efeitos coletivos sem a manifestação sin-
gular. Para isso, utilizamos o estudo de Milton Friedman, um dos principais teóricos
do neoliberalismo. Em sua obra Capitalismo e Liberdade (2014), Friedman classi-
ca os gastos, sejam eles públicos ou privados, em quatro categorias principais:
a) o uso do próprio dinheiro consigo mesmo; de acordo com o economista,
essa categoria produz uma maior eciência no dispêndio, pois a pessoa
adquire consciência do que realmente necessita, o que se traduz em ra-
cionalidade econômica;
b) o uso do próprio dinheiro com outra pessoa; esta, por sua vez, redunda no
merecimento do outro em receber algum tipo de benefício;
c) o gasto do dinheiro de outra pessoa consigo mesmo; isso signica receber
um benefício de outrem, o que indica, dessa vez, o automerecimento;
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Armamentismo e liberdade individual no neoliberalismo: uma perspectiva psicanalítica
Quaderns de Psicologia | 2025, Vol. 27, Nro. 1, e2121
d) o gasto do dinheiro de outra pessoa com terceiros. É nesse ponto que,
para Friedman (2014), reside a gênese e a lógica de funcionamento do Es-
tado, cuja função é, exatamente, administrar o dinheiro público e gastá-
-lo com todos. Este é o modo mais dispendioso e menos eciente de gasto
do dinheiro, segundo o autor.
Pode-se armar, portanto, com base na compreensão de Milton Friedman (2014),
que o Estado, ao atuar de modo securitário e garantidor, age de maneira inepta,
pois, assim, gera privilégio a uma parcela da população. Há, nesse sentido, con-
forme teorizou Pierre Dardot e Christian Laval (2013), um imperativo de redução
a uma condição existencial — a única possível —, em que a pessoa se torna indivi-
sível e “individida”, isto é, o indivíduo. Ao perder todas as garantias sociais, direi-
tos e reconhecimentos, o sujeito neoliberal é lançado em um profundo abismo de
incertezas: a) quanto à sua própria existência coletiva; b) quanto ao seu futuro
pessoal e c) quanto à sua própria subjetividade.
Ante isso, paradoxalmente, o Estado assume, de acordo com Pierre Bourdieu
(2014), de maneira sintética, a perspectiva divina de um pai infalível e castrador,
no que se refere ao ordenamento do corpus que o compõe, isto é, os indivíduos. E
na ideologia neoliberal, essa é, conforme já exposto, a única função possível para
o aparato estatal. Isso signica que — como o neoliberalismo quer reduzir e, até
mesmo, abolir o Estado, conforme indicado por Ludwig Von Mises (2010) —, o indi-
víduo neoliberal coloca-se diante da exacerbação da dinâmica conitiva neuróti-
ca, a partir da queda do Nome-do Pai, como proposto por Joel Birman (2017). Eis,
portanto, a imbricação entre efeitos sociais e singulares. Esse processo traduz a
ambivalência basal estrutural: ao mesmo tempo em que o pai, através de seu
nome, é colocado em posição de perfeição e completude, no drama neurótico bus-
ca-se incessantemente destituí-lo de seu poder e, assim, demonstrar sua face de
miserabilidade e de precariedade (Lacan, 1955-1956/1981). Em outras palavras, o
sistema neoliberal, por meio de suas características, e o armamentismo é um de-
les, tem como objetivo ceifar a própria constituição fundante do ser humano, no
que implica a falta-a-ser, e, assim, consagrar a pulsão de morte como o derradeiro
resto dessa produção. Portanto, trata-se de uma organização política-econômica,
profundamente, não-social, o que revela sua dimensão paradoxal e violenta.
Em O Eu e o Id (publicado originalmente em 1923), Sigmund Freud organiza sua
proposta metapsicológica em algumas estruturas fundamentais, no que se refere
à composição do psiquismo. É importante retomá-lo, aqui, para considerarmos o
dinamismo do funcionamento egoico. Há forças, de acordo com o autor, que
atuam de maneira a recalcar, isto é, lançar para o Inconsciente certos conteúdos
do sistema Consciente, e esse ímpeto opera por meio do Eu (Freud, 1923/2011).
14 Moreira Santos, Luciano Henrique; Silva Neves, Anamaria & Leitão Paravidini, João Luiz
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Assim, o psicanalista armou que o Eu, sobremodo, é uma derivação, de maneira
francamente diferenciada, de um conglomerado, que é completamente pulsional
— seja Eros ou seja Tânatos — e inconsciente, chamado de Id ou d’Isso (Freud,
1923/2011). Além de tudo, é nessa estrutura que se depositam as paixões, o -
thos. De modo que, sinteticamente, não há fronteiras claras entre o Eu e o Isso.
É fácil ver que o Eu é a parte do Id modicada pela inuência direta do
mundo externo, sob mediação do Pcp-Cs, como que um prosseguimento
da diferenciação da superfície. Ele também se esforça em fazer valer a
inuência do mundo externo sobre o Id e os seus propósitos, empenha-se
em colocar o princípio da realidade no lugar do princípio do prazer, que
vigora irrestritamente no Id. A percepção tem, para o Eu, o papel que no
Id cabe ao instinto. O Eu representa o que se pode chamar de razão e cir-
cunspecção, em oposição ao Id, que contém as paixões. Tudo isso corres-
ponde a notórias distinções populares, mas deve ser entendido tão só
como aproximadamente ou idealmente correto. (Freud, 1923/2011, pp.
22-23, grifo do autor)
Uma outra perspectiva dessa articulação do Eu, de acordo com Vladimir Safatle
(2020b), a partir da compreensão psicanalítica, ocorre pela composição desse
sistema como um precipitado forjado por complexos identicatórios e, conse-
quentemente, por mecanismos projetivos e introdutivos. Tal qual a paranoia, por
via de suas estruturas delirantes e alucinatórias, que são marcadas, também, por
esses dispositivos (Safatle, 2020b). Isso signica, enm, que a formação do Eu
assenta-se sobre as mesmas bases de organização da modalidade paranoica. O
que demonstra a fruição do Eu como, em si mesmo, um estado fronteiriço, cujas
bordas são fragilmente constituídas.
Segue daí ainda todas as formas paranoicas de permitir o retorno das rela-
ções de identicação e constituição que foram negadas, como a persegui-
ção, a invasão, a imunização, entre tantas outras formas de delírio e alu-
cinação. Ou seja, tudo se passa como se houvesse uma psicose
generalizada resultante do funcionamento normal dos processos de socia-
lização do desejo. (Safatle, 2020b, p. 24)
Um ponto importante, que diz respeito ao estatuto do Eu na contemporaneida-
de, é que, a partir de uma (re)organização do sentido do adoecimento psíquico,
isto é, da psicopatologia, há um rompimento, em absoluto, com a ideia de sofri-
mento — do páthos — e, em seu lugar, advém a lógica do aprimoramento do Eu
(Neves et al., 2020). Isso ocorre, segundo os autores, devido ao espalhamento e
à apropriação que o sistema neoliberal produz, no sentido de gerar o consumis-
mo em todas as dimensões dos seres humanos. A indústria farmacológica assume
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contornos de imposição cotidiana, ao promover a disseminação do uso indiscri-
minado de seus produtos (Neves et al., 2020).
Dessa maneira, armamos, com base nisso, que, se o sistema neoliberal engen-
dra indivíduos “senhores de si”, isto é, proprietários de si e, se há uma lógica de
funcionamento que é contrária à concepção de adoecimento, portanto, o indiví-
duo neoliberal é autodestrutivo, pois nega sua própria dimensão passional — ou
melhor, pulsional —, com base na defesa daquilo que é apenas consciente e que,
em tese, assume uma perspectiva de possibilidade de dominação. A sanha arma-
mentista, nesse sentido, é um sintoma, absolutamente, próprio a essa pessoa
neoliberal. A gura da arma, propriamente dita, ascende ao Ideal de Eu, como
maneira de proteger o Eu do outro, no entanto, vale considerar antes disso, que
a busca por proteção é contra si mesmo, contra o estrangeiro que habita no ínti-
mo e que, devido à civilização, à cultura, é projetada na comunidade.
No sistema neoliberal, oblitera-se aquilo que Lacan denominou de traço unário,
que se trata, sinteticamente, de acordo com Doris Rinaldi (2008), da marca da
singularidade, ao instaurar, via instituição da linguagem, um traço distintivo do
Eu em relação ao outro. Portanto, o Eu torna-se, ao mesmo tempo, estranho e
fundamentalmente absoluto, isto é, relacionado à dinâmica da dor e do amor,
surge, então, uma condição de depreciação — como na melancolia — e de exalta-
ção a si-mesmo. Conceber um horizonte de possibilidades futuras, nessa perspec-
tiva, relacionadas ao próprio Eu, à subjetividade e à coletividade, congura-se
ante a uma impossibilidade.
Decorre dessa obliteração, em suma, um dos efeitos, que se relaciona à lógica
político-social-econômica — que é o neoliberalismo —, no sujeito, para Joel Bir-
man (2020), a nova modalidade de subjetivação que delineia o campo da consti-
tuição fundamental dos seres humanos e que diz respeito ao desalento.
Esse desalento se evidencia assim pela dor lancinante, uma vez que, pela
ausência do desejo, do tempo e da alteridade, a subjetivação em questão
é inconsistente, de modo que o sofrimento não poderia então ser promo-
vido pelo sujeito. Com isso, o sujeito se esvai de maneira hemorrágica, de
forma radical. (Birman, 2020, p. 119).
Além disso, Joel Birman (2020) propõe, também, que na contemporaneidade é a
melancolia e a insistência Real do trauma que toca o mal-estar do sujeito. Eis,
portanto, aquilo que é denominado por melancolização do laço social (Douville,
2004).
Para simplicar, é possível propor a denição seguinte e dizer que a me-
lancolização do laço é este estado, este pendor pelo qual se satisfaz uma
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forma de neutralização do pensamento da distância e da diferença no cul-
to de uma origem que retorna para o sujeito até o ponto da mascarada e
do pesadelo da autofundação. Não haveria mais diferença que valesse.
Reina a indiferença generalizada em relação às escolhas éticas e à segre-
gação selvagem do que se coloca para o estrangeiro como uma outra
montagem do sexual, da língua e da morte. Estaríamos em face de uma
economia psíquica impotente para se ligar a representações do futuro e
inapta para desejar uma guração do que é num além da borda, dos limi-
tes e das fronteiras. Esta economia psíquica é desesperada. O psiquismo
parece um luxo, um “a mais”. O psiquismo serve ainda ao que quer que
seja quando a relação ao outro não serve para mais nada? São justamente
condições de aquisição da alteridade que estão aqui em questão. Esta
proposição leva a algumas conseqüências. (Douville, 2004, pp. 198-199).
Outro ponto, trabalhado por Joel Birman (2020), diz respeito ao estatuto do nar-
cisismo na contemporaneidade e, utilizando-se da ideia freudiana acerca do nar-
cisismo das pequenas diferenças, o autor explica que, na atualidade, elege-se
obrigatoriamente a diferença como traço de igualdade naquilo que toca a refe-
rência do inimigo. Isto é, o outro é um adversário e, assim, deve ser eliminado,
para que o Eu seja eternamente presenticado e exaltado.
Tange-se a esse mecanismo narcísico do Eu, que foi analisado profundamente por
Christian Dunker (2020), a eleição da depressão como condição sine qua non do
savoir-faire neoliberal, isto quer dizer que há, concomitantemente, uma necessi-
dade imperiosa de se colocar o Eu em evidência, que é produzido pelo “rebaixa-
mento” da sintomatologia depressiva, e, também, de gerir farmacologicamente
o sofrimento pessoal. Os signicantes linguagem, desejo e trabalho, segundo o
autor, superpõem-se nesse contexto. Tomamos a liberdade de, neste ponto, in-
cluir à superposição, junto àqueles, do sofrimento como signicante. Para isso,
tomamos como base a chave de leitura de que, por nos inserirmos na linguagem,
o neoliberalismo nos convoca a gerenciar o sofrimento, em busca da realização
pessoal, enquanto reverenciamos condições extremamente precárias de traba-
lho, numa busca por realizar o desejo-mor de sermos livres, isto é, proprietários
de nós mesmos.
O neoliberalismo não é apenas uma teoria econômica que acabou por fa-
vorecer a nanceirização das empresas, o nascimento do capitalismo ima-
terial, onde o valor da marca pode superar a importância da produção. Ele
também não é apenas o reexo de uma valorização do consumo, como
padrão de formação de identidades e como ponto de denição negocial.
Ele representou uma nova moralidade que prescreve como devemos sofrer
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Armamentismo e liberdade individual no neoliberalismo: uma perspectiva psicanalítica
Quaderns de Psicologia | 2025, Vol. 27, Nro. 1, e2121
sobre o neoliberalismo, tendo na sua cúspide preferencial a síndrome
depressiva. Agora o sofrimento não é mais um obstáculo para o desenvolvi-
mento da indústria, mas pode ser metodicamente produzido e administra-
do para aumentar o desempenho e é isso que caracteriza o neoliberalismo
no contexto das políticas de sofrimento: individualização, intensicação e
instrumentalização. (Dunker, 2020, p. 185).
A arma é, por m, a representante material do conito do Eu consigo mesmo;
da imperiosa e impiedosa conspiração pulsional que busca anular toda e qual-
quer alteridade que advém do outro, isto é, de mecanismos identicatórios. É
pela discursividade da liberdade como propriedade, portanto, que o fenômeno
armamentista encontra sustentação, pois, na exaltação do Eu e de suas posses,
ocorre a tentativa de romper com a singularidade; é pelo afastamento do outro
— pela suposição de seu apagamento, por meio da destrutividade causada pela
arma de fogo — que o Eu encontra uma saída para anular o enlaçamento do
pacto civilizacional. Além disso, o Supereu, nessa dinâmica, trabalha incansa-
velmente para a interposição da consolidação do gozo advindo da ideia de au-
todestruição. O armamentismo é, antes, a munição do Eu ante sua condição
distinta.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise do fenômeno do armamentismo, aqui empreendida sob a ótica do neo-
liberalismo, revela um esforço individual para se desvencilhar da alteridade, ou
seja, da capacidade de reconhecer e internalizar a existência do outro como
distinto de si mesmo. Este movimento é impulsionado pelo modelo do Capital,
que valoriza a competição e o consumismo, enfatizando a noção de que a liber-
dade individual é sinônimo de autodomínio.
Segundo a psicanálise freudiana, o Eu é uma instância psíquica que busca equili-
brar as demandas do Isso, as proibições do Supereu e a realidade externa. No
contexto neoliberal, a competitividade e o imperativo de autoaperfeiçoamento
levam o Eu a um estado de paranoia, caracterizado por uma relação conituosa
tanto com o outro quanto consigo mesmo. Esse estado de paranoia é marcado
por uma constante vigilância e defesa contra ameaças percebidas, tanto inter-
nas quanto externas.
Como consequência dessa dinâmica, observa-se uma melancolização das relações
sociais, em que a depressão emerge como uma condição para o Eu posicionar-se
perante si e perante o outro. Essa conjuntura é frequentemente acompanhada
por um sentimento de desalento, uma vez que a busca incessante por autoarma-
ção e reconhecimento pode resultar em isolamento e desesperança.
18 Moreira Santos, Luciano Henrique; Silva Neves, Anamaria & Leitão Paravidini, João Luiz
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Portanto, o armamentismo é um sintoma do sistema de produção contemporâneo,
que se fundamenta no princípio do Eu como entidade autônoma e autossucien-
te. Essa perspectiva, embora promova a ideia de liberdade individual, parado-
xalmente, conduz a um estado de alienação e descontentamento, à medida que
o indivíduo se distancia da alteridade e, assim, busca o rompimento do laço com
o outro e consigo mesmo.
FINANCIAMENTO
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
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Luciano Henrique Moreira SantoS
Pós-graduando na Universidade Federal de Uberlândia. Bacharel em psicologia pela
Universidade Federal do Triângulo Mineiro.
lucianomoreira.psi@gmail.com
https://orcid.org/0000-0002-7289-1717
anaMaria SiLva ne veS
Professora titular na Universidade Federal de Uberlândia. Graduada em psicologia
pela Universidade Federal de Uberlândia, mestra em psicologia pela Pontifícia Uni-
versidade Católica de Campinas e doutora em psicologia pela Universidade de São
Paulo (USP).
anamaria.neves@ufu.br
https://orcid.org/0000-0002-7722-8690
João Luiz Leitão Paravidini
Professor associado na Universidade Federal de Uberlândia. Graduado em psicologia
pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, mestre em psicologia
pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas, doutor em ciências médicas pela
Universidade Estadual de Campinas.
paravidini@ufu.br
https://orcid.org/0000-0002-2685-3808
ForMato de citación
Santos, Luciano H. M.; Neves, Anamaria S. & Paravidini, João L. L. (2025). Armamen-
tismo e liberdade individual no neoliberalismo: uma perspectiva psicanalítica. Qua-
derns de Psicologia, 27(1), e2121. https://doi.org/10.5565/rev/qpsicologia.2121
HiStoria editoriaL
Recibido: 25-01-2024
1ª revisión: 30-05-2024
Aceptado: 03-07-2024
Publicado: 01-04-2025
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Resumo O artigo discute o início do neoliberalismo no Brasil a partir dos ajustes promovidos sobre as empresas estatais do país pela Secretaria de Controle das Empresas Estatais (SEST) no começo dos anos 1980. As políticas da SEST promoveram o neoliberalismo no Brasil antes mesmo dos ajustes propostos pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) a partir de 1983 e muito anteriormente às propostas do Consenso de Washington e à política econômica implementada a partir dos anos 1990, como costuma ser datado pela literatura econômica o marco do neoliberalismo no país.
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Interrogando-se sobre as vizinhanças epistêmicas entre antropologia e psicanálise, o autor expõe em os procedimentos de instituição do Terceiro e do interdito estão em crise nas modernidades, com as conseqüências clínicas desta crise. O trabalho sobre o laço social, sua melancolização, permitiria reatar os fios do diálogo e dos encontros entre antropólogos e psicanalistas.Questioning about the epistemic surroundings between anthropology and psychoanalysis, the author shows how the procedures of instituting the Third and the interdict are in crises in the modern time, as clinical consequences of this crises. The work on social bond, its melancolization, would allow us to regain the thread of dialogue and the gathering between anthropologists and psychoanalysts.
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O objetivo do texto é compreender a racionalidade que organiza e direciona o movimento do liberalismo ao neoliberalismo na dinâmica de permanências e rupturas. A análise se deu a partir de algumas categorias que se enquadram nos fundamentos do liberalismo e neoliberalismo: a liberdade, o indivíduo e a igualdade. A partir disso, percebeu-se que há um retorno dos neoliberais às posições do liberalismo clássico, mas não de forma equivalente. No neoliberalismo há o acirramento e a radicalização das proposições liberais. Palavras-chave: Neoliberalismo. Liberalismo. Liberdade. Igualdade. Adriane Guimarães de Siqueira Lemos Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Educação da UFG. Mestra em Educação pela UFG. Graduada em Pedagogia e Letras. Professora na Rede Municipal de Goiânia e na Rede Estadual de Goiás. adrianegsiqueira@hotmail.com Fone: (62) 3536-4189 / (62) 99976-9557 https://orcid.org/0000-0002-9041-1879
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This essay parts from the Lacanian concept of unary trait, as a mark of the primary constitution of the subject, to discuss the marks of the subject in the case of psychoses. From the discussion raised by two Brazilians documentaries: Moacir, crude art and Estamira, there is a chance that art in Moacir and meaning in delirious Estamira, both treated by film art, show a savoir faire with the real which give news of the marks of the uniqueness of the subject in its absolute difference.
Neoliberalismo como gestão do sofrimento psíquico
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Dunker, Christian (2020). A hipótese depressiva. In Vladimir Safatle, Nelson da Silva Junior & Christian Dunker (Orgs.). Neoliberalismo como gestão do sofrimento psíquico (pp. 180-219). Autêntica.
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Andrade, Guilherme I. F. (2013). A educação intercultural e a construção de uma cidadania global. Anais do V Simpósio Internacional Lutas Sociais na América Latina "Revoluções nas Américas: passado, presente e futuro", 72-86. https://www.uel.br/ grupo-pesquisa/gepal/v6_gulherme_GIX.pdf
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Fagundes, Murilo (2021, agosto 27). "Tem que todo mundo comprar fuzil, pô", diz Bolsonaro. Poder360. https://www.poder360.com.br/governo/tem-que-todo-mundo-comprarfuzil-po-diz-bolsonaro/
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À guisa de introdução ao narcisismo
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