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A genericidade e os sintagmas nominais em Rikbaktsa (Macro-jê): espécie e somaGenericity and bare nouns in Rikbaktsa: (Macro-jê): kinds and sums

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O artigo investiga, de maneira exploratória, a semântica dos sintagmas nominais em sentenças genéricas na língua Rikbaktsa (Macro-Jê) como parte do projeto “(In)definitude da perspectiva das línguas sub representadas”. A língua Rikbaktsa é marcada para número, não possui artigos e a ordem canônica é Sujeito-Objeto-Verbo, no qual o verbo é uma unidade autônoma. Os dados analisados são originais e foram coletados através de diferentes metodologias. Além da documentação de uma língua em perigo, o artigo propõe uma descrição morfo-semântica das sentenças genéricas que, nesta língua, são morfologicamente estativas. A estrutura ativa é episódica. Os sintagmas nus, singular e plural são intercambiáveis, mas nem sempre. Para explicar a distribuição e interpretação desses sintagmas propomos que o singular nu denota um indivíduo singular, que pode ser de diferentes tipos – indivíduos genéricos (espécie) ou ordinários –, já o plural é sempre uma soma. O artigo contribui com uma perspectiva inovadora para o fenômeno que a literatura chama de “neutro para número”; argumenta que a hipótese apresentada explica melhor os fatos dessa língua do que a hipótese da neutralidade.Palavras-chave: Rikbaktsa (Macro-Jê). Genéricos. Morfo-semântica. Neutralidade para número. Indivíduo genérico. Coleta de dados.
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Recebido em 08/09/2024 - Aceito em 15/01/2025
Rio de JaneiRo | volume 20 | númeRo 3 | p. 140 - 159 | set. - dez. 2024
http://dx.doi.org/10.31513/linguistica.2024.v20n3a65387
dossiê | linguística FoRmal | FoRmal linguistics
A genericidAde e os sintAgmAs nominAis em rikbAktsA (mAcro-): espécie e somA1
Genericity and bare nouns in rikbaktsa: (Macro-): kinds and suMs
Roberta Pires de Oliveira 2
Léia de Jesus Silva3
João Tsaputai4
Helena Loch de Oliveira5
Laiara Machado Seram6
RESUMO
O artigo investiga, de maneira exploratória, a semântica dos sintagmas nominais em sentenças genéricas
na língua Rikbaktsa (Macro-Jê) como parte do projeto “(In)denitude da perspectiva das línguas sub
representadas”. A língua Rikbaktsa é marcada para número, não possui artigos e a ordem canônica é Sujeito-
Objeto-Verbo, no qual o verbo é uma unidade autônoma. Os dados analisados são originais e foram coletados
através de diferentes metodologias. Além da documentação de uma língua em perigo, o artigo propõe uma
descrição morfo-semântica das sentenças genéricas que, nesta língua, são morfologicamente estativas. A
estrutura ativa é episódica. Os sintagmas nus, singular e plural são intercambiáveis, mas nem sempre. Para
explicar a distribuição e interpretação desses sintagmas propomos que o singular nu denota um indivíduo
singular, que pode ser de diferentes tipos – indivíduos genéricos (espécie) ou ordinários –, já o plural é sempre
uma soma. O artigo contribui com uma perspectiva inovadora para o fenômeno que a literatura chama de
“neutro para número”; argumenta que a hipótese apresentada explica melhor os fatos dessa língua do que a
hipótese da neutralidade.
PALAVRAS-CHAVE: Rikbaktsa (Macro-Jê). Genéricos. Morfo-semântica. Neutralidade para número.
Indivíduo genérico. Coleta de dados.
ABSTRACT
The article is an exploratory investigation into the semantics of noun phrases in generic sentences in the
Rikbaktsa language (Macro-Jê). as part of the project “(In)deniteness from the perspective of underrepresented
languages”. Rikbaktsa is a number marking language, that has no articles and the canonical order is Subject-
Object-Verb, in which the verb is an autonomous unit. The data analyzed is original and was collected through
1 Agradecemos a leitura atenta dos revisores e também ao CNPq por patrocinar esta pesquisa.
2 Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC-CNPq), ropiolive@gmail.com, https://orcid.org/0000-0002-4946-7205.
3 Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), leiajs@gmail.com, https://orcid.org/0000-0002-8835-377X.
4 Professor da Escola Estadual Indígena Myhyinymykyta Skiripi - MT, joaotsatuti@gmail.com,
https://orcid.org/0009-0008-9462-3335.
5 Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC-IC-CNPq), oliveirahelena068@gmail.com,
https://orcid.org/0009-0000-5559-7025.
6 Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC-IC-CNPq), laiara.seram@gmail.com, https://orcid.org/0009-0003-8770-2784.
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A genericidade e os sintagmas nominais em Rikbaktsa (Macro-jê): espécie e soma
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dierent methodologies. In addition to documenting an endangered language, the article proposes a morpho-
semantic description of generic sentences that, in this language, are morphologically stative. The active structure
is episodic. The bare phrases, singular and plural, are not always interchangeable. To explain the distribution
and interpretation of these phrases, we propose that the bare singular denotes a singular individual, which can
be of dierent types – generic (kinds) or ordinary individuals –, whereas the plural is always a sum. The article
contributes an innovative perspective to the phenomenon that the literature calls “number neutrality”, which,
the paper shows, better explains the data in Rikbaktsa.
KEYWORDS: Rikbaktsa (Macro-Jê). Generic. Number neutrality. Kinds. Data collection.
Introdução
Este é um artigo exploratório sobre a semântica dos nominais e a estrutura morfo-semântica das
sentenças genéricas na língua Rikbaktsa (Macro-Jê), uma das línguas que são objeto de estudo do projeto
“(In)denitude da perspectiva das línguas sub-representadas” (Pires de Oliveira, 2022a). Rikbaktsa
é uma língua nua, isto é, sem artigos7, com morfologia de plural e gênero “fundidos”; por exemplo,
-tsa carrega informação sobre pluralidade e não-fêmea (Dellai et al., 2021); parinitsa, literalmente
onças não fêmeas8. A ausência dessa exão no nome, por exemplo, parini, onça, chamada singular
nu, coabita com o plural nu em posição de argumento. Ambos preenchem a valência em predicações
genéricas, como veremos. Nessa língua, a conversão de nomes em verbos, e vice-versa, é bastante
produtiva.9 Esse processo caracteriza as sentenças genéricas, que nesta língua, são morfologicamente
predicados estativos gerados por processos morfológicos de nominalizar e predicatizar (de tornar
um predicativo). Embora pareça que a morfologia de plural no nome é opcional, mostramos que
nem sempre esse é o caso. Propomos uma estrutura estativa para as sentenças genéricas nesta língua,
sugerindo que não são quanticações como proposto pela literatura para as sentenças genéricas em
línguas como o inglês e o português brasileiro (PB). uma explicação para essa distribuição.
Os dados são originais e a metodologia de coleta é diversicada. Na primeira fase, a coleta
foi realizada individualmente com o professor-pesquisador de língua materna e coautor deste
trabalho, João Tsaputai, utilizando o português brasileiro (PB) como língua comum, já que ele é
bilíngue; atividade acompanhada pela pesquisadora Léia de Jesus Silva, que é falante da língua.
Essa coleta baseou-se no questionário adaptado de Dayal (no prelo). O resultado foi a elaboração
de cartões de situações pareados com sentenças da língua. Foi montado um jogo de baralho, com
cartão e sentenças, tendo como pergunta básica se a sentença combina ou não com aquela situação. O
pesquisador-professor coletou, então, dados com falantes da comunidade a partir desse jogo. Nessa
segunda etapa, os dados foram gravados em vídeo e houve alterações e correções das sentenças pelos
falantes, gerando novos dados. Na terceira etapa, esses novos dados estão sendo transcritos para a
7 A língua tem um sistema de demonstrativos sosticado, um tópico em si que deixaremos para outra oportunidade.
8 Silva (2011) arma que Rikbaktsa distingue as mulheres de todos os outros indivíduos e objetos. No entanto, em
parinitsa por exemplo não se trata de apenas onças que não são fêmeas. Logo, parece haver gramaticalização, um tópico
que deixaremos de lado.
9 É também uma língua que não tem quanticação nominal. Tem as propriedades das línguas que Partee (1985) denomina
de axais, também característica de línguas omni predicativa. É uma língua polissintética segundo Baker (1996).
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Roberta Pires de Oliveira, Leia de Jesus Silva, João Tsaputai, Helena Loch de Oliveira e Laiara Machado Seram
modalidade escrita por professores da língua juntamente com alunos na sala de aula, gerando novos
dados. Estamos em fase de transcrição do material coletado e aprofundamento das inúmeras questões
que surgiram ao longo desta pesquisa.
Na primeira seção são apresentadas algumas propriedades gerais do Rikbaktsa, uma língua
fortemente ameaçada, falada pelo povo de mesmo nome que habita as terras indígenas Erikpatsa,
Japuíra e Escondido, no noroeste do estado de Mato Grosso. Na segunda seção, a metodologia
de coleta de dados, exemplicando com dados que são objeto de análise deste artigo. A descrição
morfo-semântica é realizada na terceira seção. A seção propõe uma estrutura para as sentenças
genéricas, em que os sintagmas nus singular e plural coocorrem e aparentemente com a mesma
interpretação. Argumentamos que nesta língua elas são sentenças predicativas e não quanticacionais
como é o caso das sentenças genéricas no inglês e no PB. Mostramos, em seguida, os casos em que
a forma plural gera agramaticalidade e em que a forma singular é obrigatória. Argumentamos que a
proposta da implicatura para explicar a neutralidade para números não explica os dados do Rikbaktsa
(Spector, 2007; Guerra Vicente; Ramires, 2024 para o Guarani Kayowá). Propomos, então, que o
singular nu denota um indivíduo que pode ser de diferentes tipos, indivíduos genéricos (espécies) ou
ordinários, enquanto que o plural é uma soma. A conclusão é sobre semântica através das línguas.
1. Algumas propriedades gramaticais da língua Rikbaktsa (Macro-Jê)
Essa seção apresenta propriedades sintático-semânticas dessa língua, já advertindo que há
muito a ser compreendido sobre a sua gramática. Trata-se de uma língua em que a ordem canônica
é Sujeito, Objeto e Verbo (SOV). O verbo é uma estrutura completa, isto é, é uma sentença a qual é
possível atribuirmos valor de verdade. O verbo é rodeado, por assim dizer, por pronomes, que estão
ligados aos nominais, conforme exemplicado em (1), seguindo a mesma ordem sujeito e objeto. Eles
carregam informações sobre pessoa e número. A marca de gênero pode aparecer axada independente
do número, como veremos em outros exemplos neste artigo. A morfologia de plural, que está fundida
à de gênero (Dellai et al., 2021; Jasper Ern et al., 2023), parece não ser obrigatória. Em (1a) o nome
é singular, i.e. sem exão, enquanto em (1b) a exão de não-fêmea.plural10, -tsa é acrescida ao nome.
As sentenças descrevem uma situação em que há várias panelas e que o falante pega uma ou algumas
delas, indiscriminadamente:
(1) a. ikza=katsa morosok ø-p-ø-ebyk
1fem.sg=foco panela 1suj-npas-3obj.sg-pegar/levar
‘Eu mesma vou levar panela.’
b. ikza=katsa morosok-tsa ø-my-s-ebyk
1fem.sg=foco panela-nfem.pl 1suj-npas.-3obj.pl-pegar/levar
‘Eu mesma vou levar panelas.’
10 Neste artigo não vamos desenvolver a questão da marcação de gênero e número nessa língua.
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O verbo, uma unidade autônoma, -ebyk ‘levar’, carrega marcas de caso e pessoa, de tempo não
passado, e do objeto, singular ou plural. Os termos morosok e morosok-tsa são sintagmas nominais
que preenchem a valência do verbo. Podemos supor que eles estão em uma posição à esquerda, isto é,
carregam informação discursiva, provavelmente de tópico em (1), tendo em vista a marcação de foco,
katsa, no pronome independente de primeira pessoa feminino, ikza, indicando informação nova. Os
sintagmas nominais estão presentes no verbo nos pronomes de 3a. pessoa objeto singular, -ø (Silva,
2011), em (1a), e pela forma plural s- em (1b). Usamos o índice numérico nas versões em (2), que são
uma primeira aproximação da estrutura sintático-semântica dessa língua, para deixar clara a relação
de dependência interpretativa, lembrando que nosso objeto de estudo são os sintagmas nominais:
(2) a. [TP morosok1 [IP [VP ø-p-ø1-ebyk]
panela 1suj-npas-3obj.sg-levar/pegar
b. [TP morosok-tsa1 [IP [VP my-s1–ebyk]]
panela-s 1suj-npas-3obj.pl-levar/pegar
A situação em que as sentenças foram usadas mostra que o singular nu é, descritivamente,
“neutro para número”, isto é, o singular nu pode ser interpretado como um ou mais de um.11 Já a forma
plural indica que é mais de uma panela, a leitura chamada de exclusiva, porque exclui os átomos. Essa
questão está ligada à semântica do plural em inglês. Uma solução para explicar o plural no inglês
é que a exclusão dos átomos é uma implicatura (Spector, 2007). Assim, na literatura, a diferença
entre neutro para número, em (1a-2a), e plural, (1b-2b), é uma implicatura disparada pelo plural.
Semanticamente, não há diferença, ambos denotam somas que incluem o átomo. Guerra Vicente e
Ramires (2020) aplicam essa hipótese ao Guarani Kayowá.
As sentenças em (1) são episódicas e apenas recentemente a literatura sobre o Rikbaktsa
menciona sentenças genéricas (Jasper Ern et al., 2023), objeto de estudos deste artigo. Os dados
foram coletados seguindo diferentes metodologias, como descrevemos na próxima seção, em que são
apresentados alguns dos dados que iremos analisar.
2. Coleta de dados em Semântica
Essa é uma coleta de cunho qualitativo,12 realizada em diferentes etapas, procurando controlar
a relação entre a expressão linguística e a situação de uso, o estado no mundo que seu conteúdo
veicula.13 Esta pesquisa faz parte do projeto “(In)-denitude em línguas sub-representadas” (Pires de
11 Muitas línguas indígenas brasileiras são, descritivamente, neutras para número. Veja Lima e Rothstein (2020), Muller
et al. (2006) para o Karitiana, entre outros.
12 O projeto foi aprovado pelo comitê de ética 69555923.4.0000.0121 .
13 Matthewson (2004), Sanchez-Mendes (2014) para metodologias de coleta de dados em semântica. Lima e Rothstein
(2020) para a utilização de questionários para uniformizar a coleta e permitir a comparação entre línguas.
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Roberta Pires de Oliveira, Leia de Jesus Silva, João Tsaputai, Helena Loch de Oliveira e Laiara Machado Seram
Oliveira, 2022). O projeto segue a metodologia em Lima e Rothstein (2020) que permite comparar
línguas porque os dados são coletados a partir de um único questionário. Partimos, então, de uma
adaptação do questionário de Dayal (no prelo). Este questionário congrega os principais testes para
avaliar a genericidade e a (in)denitude de sintagmas nominais em posições argumentais em línguas
nuas, isto é, línguas que não têm artigos. Os exemplos são em inglês, uma língua que tem artigos e
também plural nu.
Por exemplo, para a vericação sobre a genericidade do sintagma nominal, o teste é a combinação
com predicados de espécies (Krifka et al., 1995, entre outros). Em (3a), a autora apresenta a estrutura,
XP, correspondendo ao sintagma nominal, e em (3b-c), os exemplos em inglês:
(3) a. [XP] is/are extinct.
b. [Dinosaurs] are extinct.
c. [The dinosaur] is extinct. (Dayal, no prelo: 6)
A forma singular não ocorre porque é agramatical em inglês (*Dinosaur is extinct). O questionário
investiga tanto os contextos em que o nome é genérico, como no caso em (3) em que o predicado é de
espécie, quanto armações genéricas, como em Dogs bark. Pires de Oliveira (2022) inclui também
contextos com predicados disposicionais, como amar e odiar.
2.1. Coleta com o pesquisador participante
Para a coleta de dados, o questionário foi adaptado à cultura local e apresentado em português
brasileiro, a língua comum, para o pesquisador João Tsaputai, que fornecia as sentenças na língua
materna, juntamente com a pesquisadora Léia de Jesus da Silva, falante da língua. Vamos exemplicar
com a coleta com as sentenças genéricas, foco deste artigo. Durante a elicitação, pedimos que o
falante formulasse a generalização de que uma característica das antas, um animal típico da região. A
resposta espontânea foi a sentença em (4a). Na sequência da coleta, perguntamos se a forma plural,
(4b) seria aceita, e ele aceitou. As duas formas são possíveis, mas há uma preferência para a forma
sem exão de plural:
(4) a. piku huihara i-akpara-wy
anta fruta 3sg-gostar-nlz
‘Anta gosta de fruta’
b. piku-tsa huihara s-akpara-wy
anta-nfem.pl fruta 3pl-gostar-nlz
‘Antas gostam de fruta’
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As marcas de pessoa no predicado, i- ‘3sg’ e s- ‘3pl’, são correferentes com os sujeitos piku
e piku-tsa, respectivamente. Nessas sentenças, o falante utilizou um verbo disposicional que é
nominalizado; o morfema -wy nominaliza a raiz verbal, resultando em algo mais próximo de “gostador
de fruta”. Voltamos a esse ponto na seção 3.
Manipulando as sentenças, produzimos as sentenças em (5), mais próximas de uma tradução
palavra a palavra do português, e o falante armou que elas retratam uma situação episódica em que
o evento está em curso e em que o agente deste evento é uma anta (especíca ou não). Assim, elas
contrastam com as sentenças em (4) que atribuem uma propriedade a antas em geral:
(5) a. piku huihara ø-p-ø-ezo
anta1 fruta2 3suj1-npas-3obj.sg2-comer
‘(Uma/A) anta come fruta.’
b. piku huihara ø-p-ø-ezo-kok
anta1 fruta2 3suj1-npas-3obj.sg2-comer-cont
‘(Uma/A) anta está comendo fruta.’
Neste caso, o verbo não é disposicional como em (4), mas é dinâmico,envolvendo um agente.14
Descritivamente, as sentenças em (4) são estativas, enquanto que em (5) são ativas ou episódicas, isto
é, os interlocutores estão falando de um evento. A interpretação do nominal nu, singular ou plural, é
genérica com o predicado disposicional em (4), enquanto que no contexto episódico trata-se de um
evento que envolve indivíduos ordinários. Com o singular nu, preferencial um indivíduo, em (5a) e
para o plural nu, em (5b), mais de um indivíduo.
2.2. Elaboração de cartões informativos para coleta na comunidade
A coleta individual de todas as situações descritas no questionário adaptado de Dayal (no prelo)
gerou um grande número de dados que foram transcritos e serviram de base para a elaboração de
um jogo de língua que associa sentenças e situações. Primeiramente, foram elaborados cartões com
guras que representam cada uma das interpretações das sentenças coletadas, caso a sentença tivesse
mais de uma interpretação. Por exemplo, para as sentenças genéricas, utilizamos o cartão de número
12, no qual aparecem duas guras de onças que estão correndo.
Figura 1: Carta do jogo de língua
Fonte: Elaboração dos autores
14 Storto (2019) menciona o padrão ativo-estativo das línguas Apurinã e Mawé. O mesmo parece ocorrer em Rikbaktsa.
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Roberta Pires de Oliveira, Leia de Jesus Silva, João Tsaputai, Helena Loch de Oliveira e Laiara Machado Seram
O contexto é uma conversa sobre características dos animais. Esse animal do cartão tem essa
propriedade? é a pergunta em questão para o cartão acima. Como já dissemos, embora as duas formas
em (6) sejam aceitas, a preferencial é a sentença com o singular nu (6a). Note que são sentenças
estativas (e não ativas como nas genéricas no PB):
(6) a. parini tsi-typy-ē-ta.
onça 3suj.sg-rápido-pred-nfem.sg
‘onça, ela é rápida’ (corre rápido)
b. parini-tsa si-typy-ē-tsa
onça-nfem.sg 3suj.pl-rápido-pred-nfem.pl
‘onças são rápidas’ (correm rápido)
Na próxima seção, descrevemos melhor a estrutura de predicalização das sentenças em (6). Em
(6), o prexo de pessoa (tsi- ‘3sg’ e si- ‘3pl’) e o suxo indicando gênero e número (-ta ‘nfem.sg’
e -tsa ‘nfem.pl’) concordam ambos com o sujeito da sentença, parini ‘onça’ ou parini-tsa ‘onças’,
respectivamente. Na etapa subsequente essas intuições são vericadas por outros falantes.
2.3. Coleta na comunidade
Com o auxílio dos cartões informativos e do questionário/guia, o pesquisador João Tsaputai
coletou os dados em sua comunidade com diferentes falantes nativos, jogando o jogo da língua. Uma
dessas pessoas que participaram da coleta de dados foi D. Rita, uma anciã Rikbaktsa. Um dos cartões
respondidos por ela foi o cartão 12, na gura 1. D. Rita aceitou as sentenças em (6), corroborando a
intuição do pesquisador de que (6a) é melhor. Posteriormente, alguns cartões foram selecionados e
levados para sala de aula, como exercício para que os alunos transcrevessem as sentenças proferidas
pela D.Rita para em seguida traduzi-las em português.
3. Os sintagmas nominais e a genericidade em Rikbaktsa
A seção investiga os sintagmas nominais em sentenças genéricas em Rikbaktsa. A literatura
(Krifka et al., 1995) distingue a genericidade do nome da genericidade sentencial. O teste para a
genericidade no nome é sua combinação com os predicados de espécie, tópico da primeira sub-seção.
Em seguida, analisamos sentenças genéricas. Mostramos que, nesta língua, elas são estativas,
morfologicamente construídas a partir de verbos nominalizados ou de nomes e adjetivos que são
predicalizados, isto é, transformados em predicativos. Na última parte, discutimos a hipótese da
neutralidade para número.
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3.1. Predicados de extinção
Um dos testes de genericidade é vericar sua combinação com predicados de espécie, isto
é, predicados que não se aplicam a indivíduos ordinários, como os predicados estar em extinção e
ser raro. Espécies foram introduzidas na literatura por Carlson (1977) para explicar o plural nu em
inglês. Em português, o predicado acabar, em linguagem coloquial é, em uma de suas acepções, um
predicado de espécie. Esse predicado, quando se combina com nomes próprios, gera a interpretação
de que o indivíduo em questão terminou de fazer algo, já com indivíduos genéricos, indica extinção,
desaparecimento. João acabou veicula que ele acabou de fazer algo; já Jacaré está acabando
indica que é a espécie está em extinção. Em Rikbaktsa, a raiz verbal epyk ‘acabar’ tem o mesmo
comportamento: combinada com um nome próprio, em (8a), signica que aquele indivíduo parou
de fazer algo saliente no contexto. Nas sentenças em (8b-c), o verbo é um predicado de espécie,
veiculando a ideia de que já não há mais onças:
(8) a. João ø-n-epyk.
João 3suj-pas-acabar
‘João acabou (de fazer algo).’
b. parini ø-n-epyk.
onça 3suj-pas-acabar
‘Onça acabou.’
c. parini-tsa ø-n-epyk=naha
onça-nfem.pl 3suj-pas-acabar=pl.suj
‘Onças acabaram.’
Em (8b-c), a raiz verbal epyk ‘acabar’ é intransitiva, se combina com nomes nus. Em (8b),
parini ‘onça’ não carrega marca de pluralidade. Já em (8c) temos um plural nu, parini-tsa ‘onças’, que
estabelece no verbo concordância de pessoa, por meio do prexo, e de número, e por meio do clítico
naha ‘pl.suj’. Parece não haver diferença de signicado entre as sentenças, talvez uma preferência
pela forma singular, (8b). Assim, os sintagmas em (8b-c) são genéricos, isto é, denotam um indivíduo
genérico ou espécie15. Nesse caso, alguém poderia armar que o morfema de plural é opcional.
No entanto, nem sempre esse é o caso de opcionalidade. O verbo epyk se combina com
nomes massivos e gera uma interpretação de que aquela substância acabou. Aparece então uma
diferença entre a forma singular e a plural, com nomes contáveis que têm uma contraparte massiva
convencionalizada:16
15 Neste artigo, espécie ou indivíduo genérico deve ser entendido como qualquer conceitualização genérica e não apenas
as espécies taxonômicas da biologia.
16 Esse tópico demanda mais aprofundamento. Para os nossos objetivos, basta notar o contraste entre a forma plural e a
singular.
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Roberta Pires de Oliveira, Leia de Jesus Silva, João Tsaputai, Helena Loch de Oliveira e Laiara Machado Seram
(9) a. boa-tsa ø-n-epyk=naha
macaco.prego-nfem.pl 3suj-pas-acabar=pl.suj
‘Macacos prego acabaram.’
b. boa ø-n-epyk.
macaco.prego 3suj-pas-acabar
‘(carne de) macaco acabou.’
Neste caso, o plural é obrigatório para expressar que os macacos estão em extinção. O singular
nu é interpretado como denotando massivamente. Provavelmente, essa interpretação não é válida para
(8b) porque os Rikbaktsa não comem carne de onça. A possibilidade em (9b) reforça que o verbo epyk
não seleciona espécie como acabar no PB e diferentemente de estar em extinção no PB. Maldonado
(2019) arma que em Purépecha não há uma especialização léxica para verbos de extinção, assim
como em Rikbaktsa.17 No entanto, diferentemente de Purépecha, a interpretação das sentenças em (8)
e (9) não dependem do contexto, como é o caso naquela língua.
Em conclusão, embora não seja claro que há um predicado de espécie lexicalizado em Rikbaktsa,
as sentenças (8b-c) são gramaticais e veiculam o signicado de que as onças estão rareando. Logo,
sabemos que tanto o singular quanto o plural nus são sintagmas genéricos. Estariam os Rikbaktsa
expressando o mesmo pensamento, o mesmo conteúdo proposicional, com duas formas variantes ou
haveria uma diferença no par em (8b-c)? Vamos argumentar que há evidências de que a derivação não
é a mesma. Antes, porém, vamos ver as sentenças genéricas e as disposicionais.
3.2. A genericidade sentencial e os verbos disposicionais
Como sabemos, generalizações são sentenças que armam padrões de normalidade (Krifka
et al., 1995). No PB, as sentenças genéricas ocorrem com qualquer sintagma nominal, o singular nu, o
plural nu, o denido genérico, o denido plural, e o indenido, respectivamente em (10):
(10) a. Anta come fruta.
b. Antas comem fruta.
c. A anta come fruta
d. As antas comem frutas
e. Uma anta come fruta
O fato de que qualquer sintagma pode ocupar essa posição, o que também ocorre no inglês,
indica que a genericidade vem do sistema tempo-aspectual e não do sintagma nominal. Na literatura,
17 Agradecemos a indicação a um dos revisores.
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A genericidade e os sintagmas nominais em Rikbaktsa (Macro-jê): espécie e soma
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sentenças genéricas são generalizações sobre indivíduos e situações. O operador genérico, Gen,
expresso pela morfologia de presente do indicativo, prende as variáveis de maneira não-seletiva,
como representado esquematicamente pela forma lógica em (11):
(11) Gen[s;x;y] (s é situação de comer, x é anta; y é fruta) (x come y em s)
“Em geral, uma situação em que há anta e fruta é uma situação que se desenvolve na anta comer
a fruta.” As sentenças em (10) não são morfologicamente estativas, porque o verbo é ativo, isto é, há
um agente.
Em Rikbaktsa, a sentença genérica padrão é morfologicamente estativa, como mostra a resposta
em (4a) e repetida em (12a). A forma plural é aceitável, (12b), mas a singular é preferencial. A
estrutura é de predicação:
(12) a. piku1 huihara i1 -akpara-wy
anta fruta 3suj.sg-gostar-nlz
‘Anta gosta de fruta.’. (Lit.: ‘anta ela é gostadora de fruta’)
b. piku-tsa1 huihara s1-akpara-wy
anta-nfem.pl fruta 3suj.pl-gostar-nlz
‘Antas gostam de fruta’ (Lit.: ‘antas elas são gostadoras de fruta’)
Em (12), o verbo akpara ‘gostar’ é modicado pelo nome gerando um predicado disposicional
gostar de fruta, ao qual se adjunge o suxo nominalizador -wy (Silva, 2011)18. Podemos ver que a
modicação do verbo é processada primeiro antes da nominalização porque o predicado é marcado
morfologicamente. O sujeito gramatical é indicado por um paradigma de prexos diferentes dos que
ocorrem com verbos nitos, como em (5), repetido em (13) abaixo:
(13) a. piku huihara ø-p-ø-ezo
anta1 fruta2 3suj1-npas-3obj.sg2-comer
‘(Uma/A) anta come fruta.’
b. piku huihara ø-p-ø-ezo-kok
anta1 fruta2 3suj1-npas-3obj.sg2-comer-cont
‘(Uma/A) anta está comendo fruta.’
Nas sentenças em (13), claramente ativas, o sujeito corresponde à forma vazia no verbo. Já
em (12), em que o verbo é estativo, o sujeito é marcado pelos mesmos prexos que se combinam
com nomes para expressar posse (i-zo ‘3-pai/ pai dele’) (Silva, 2011). Ademais, a raiz verbal não
18 Há em Rikbaktsa, assim como em outras línguas indígenas brasileiras, uma sintaxe das palavras. Os processos de
nominalização de verbos e adjetivos, assim como a predicalização de nomes, é altamente produtiva. Ver Maia et al.
(2019), em especial capítulo 5.
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Roberta Pires de Oliveira, Leia de Jesus Silva, João Tsaputai, Helena Loch de Oliveira e Laiara Machado Seram
recebe marca de objeto, indicando que a estrutura em (12) é mono-argumental, enquanto em (13)
é bi-transitiva. Assim, huihara ‘fruta’ tem funções diferentes nessas sentenças. Em (13), ocupa
uma posição argumental. A forma plural é gramatical e esse é um contexto em que parece haver
opcionalidade entre as formas. Em (12), a derivação morfo-semântica não é essa, huihara não está
em posição argumental. Nesse caso, a forma deve ser singular, isto é, sem marcação de número
(* piku1 huihara-tsa i1-akpara-wy). Se as formas singular e plural fossem sinônimas, elas deveriam
ser substituíveis em qualquer contexto, mas esse não é o caso quando o nome funciona como um
modicador. Nesse caso, o plural torna a sentença agramatical.
A forma lógica em (11) faz sentido para as sentenças genéricas do PB, porque estamos diante
de estruturas ativas, em que ocorre uma generalização sobre situações em que há envolvimento de
indivíduos que são os agentes do evento. Em Rikbaktsa vimos que a estrutura das sentenças genéricas
não é ativa, a sentença ativa leva a interpretação de um indivíduo em particular desenvolvendo o
evento, (13). As sentenças em (12) correspondem a atribuições de propriedade a indivíduos, como
representado em (14). O predicado, por ser disposicional, não impõe restrições ao tipo de indivíduo:
indivíduos genéricos, ordinários como João e Maria ou plural como aqueles meninos ou as antas. Essa
predição precisa ser conrmada:
(14) huihara -akpara-wy (x) = gostador de fruta (x)
Em (14) temos um predicado de indivíduo (Carlson, 1977; Chierchia, 1995).
Esta análise ganha força com sentenças como em (15), onde ocorre a transformação morfológica
de um nome em um “predicativo”; mais uma vez, uma estrutura de atribuição de propriedade. O
nome pepeha ‘carrapato’ é transformado na propriedade de ter carrapato ou “ser carrapatento”. Nos
exemplos em (15), o suxo -ẽ é um formador de predicativo que se combina com substantivos, como
pepeha ‘carrapato’, transformando na propriedade de ter carrapato:
(15) a. pazahae1 tsi1-pepeha-ẽ-ta1
javali 3suj.sg-carrapato-pred-nfem.sg
‘Javali tem carrapato’ (Lit.: ‘javali, ele é carrapatento’).
b. pazahae-tsa1 si1-pepeha-ẽ-tsa1
javali-pl.nfem 3suj.pl-carrapato-pred-nfem.pl
‘Javalis têm carrapato’ (Lit.: ‘javalis, eles são carrapatentos’)
O nome pepeha ‘carrapato’ combina com o predicalizador e gera uma estrutura mono-argumental,
cuja valência é preenchida pelo nominal nu singular ou plural. Tanto em (15a) quanto em (15b) há
concordância de número e gênero entre o predicado e o nome que é o sujeito da sentença, representado
pela numeração em subscrito. Em (15a), o prexo tsi- ‘3 pessoa singular’ concorda com o suxo
-ta, ‘não fêmea singular’. Em (15b), si-‘3 pessoa plural’, concorda com –tsa, ‘não fêmea plural’.
Novamente, trata-se uma estrutura de predicação e o predicado é de indivíduo:
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(16) -pepeha-ẽ (x) = ser-carrapatento (x)
Tanto o nome sem exão quanto o plural nu são argumentais, na posição de sujeito. No entanto,
apenas a forma singular é passível de ser morfologicamente transformada em um predicativo; o plural
é agramatical (*si-pepeha-tsa-ẽ-tsa). Essa é para nós mais uma evidência de que as formas sem e com
exão de número não são sempre substituíveis. Elas transmitem informações distintas.
Há três conclusões desta seção: (i) sentenças genéricas em Rikbaktsa são estativas; são
estruturas de predicação, com predicado de indivíduo; (ii) com predicados genéricos, tanto o singular
quanto o plural nus são argumentais, e parecem transmitir a mesma informação, (iii) nos processos
morfológicos de nominalização e predicalização o singular é obrigatório.
3.3. Propostas teóricas
3.3.1. Neutralidade para número e implicatura de exclusão
Embora possa parecer trivial, a semântica do plural no inglês já foi motivo de muito debate
(Sauerland, 2008). O problema, no inglês, é que o plural às vezes parece ser exclusivo, isto é, mais
que um, (17a), e às vezes é inclusivo, um e mais que um, como em (17b). Se o plural for sempre
exclusivo, (17b) deveria signicar que John comprou uma maçã, mas não signica:
(17) a. John bought apples.
b. John hasn’t bought apples.
Uma proposta para explicar o plural em inglês entende que o plural é semanticamente inclusivo
e a exclusão é uma implicatura pragmática (Sauerland 2003, 2008; Spector 2007). O plural nu denota
um semi-reticulado fechado em soma que inclui os átomos (Link, 1983), representado na gura 2, em
que a, b e c são os átomos e + signica soma:
Figura 2: Semi-reticulado
Fonte: Elaboração dos autores
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Roberta Pires de Oliveira, Leia de Jesus Silva, João Tsaputai, Helena Loch de Oliveira e Laiara Machado Seram
Implicaturas são sensíveis ao contexto. Elas são computadas em contextos de acarretamento
para cima ) e não são em contextos de acarretamento para baixo (Chierchia, 2013). Explicamos, assim,
o padrão no inglês. Na armação, em (17a), há uma implicatura que exclui os átomos e a leitura é de
mais de um. 19 Já na negação em (17b), a implicatura não é computada e a sentença signica que ele
não tem nenhum lho. Guerra Vicente e Ramirez (2020) aplicam essa ideia para explicar a distinção
em Guarani-Kaiowá entre o singular nu e o plural nu com -kuera, que a forma sem a exão de
plural pode signicar mais de um, como é o caso no PB. No PB, a forma singular é gramatical:
(18) a. João comprou maçã.
b. João comprou maçãs.
Pires de Oliveira (2022b) argumenta que a proposta da implicatura gera predições incorretas
para o PB, porque a sentença em (18a) deveria signicar que ele tem apenas um lho, o que não é o
caso.
Se o argumento para o PB vale, então essa teoria prediz que em Rikbaktsa a sentença em (1),
repetida em (19a), deveria signicar que a falante vai pegar apenas uma panela; em caso de haver
mais de uma panela (19b) é obrigatória. Embora a leitura de uma panela seja possível para (19a), não
é a única; (19b) não é obrigatória se há mais de uma panela:
(19) a. ikza=katsa morosok ø-p-ø-ebyk
1fem.sg=foco panela 1suj-npas-3obj.sg-pegar/levar
‘Eu mesma vou levar panela.’
b. ikza=katsa morosok-tsa ø-my-s-ebyk
1fem.sg=foco panela-nfem.pl 1suj-npas.-3obj.pl-pegar/levar
‘Eu mesma vou levar panelas.’
A proposta da implicatura explica por quê em situações de indivíduos únicos como o sol ou a
lua, como em (20), o plural está barrado. Nesse caso, só a forma singular é aceita:
(20) a. haɾamyj tʃi-aohãmi-ẽ=ta
sol 3.sg-estar.escondido-pred-nfem.sg
‘o sol está escondido’
Seja como for, essa análise não consegue explicar os contrastes que aparecem em Rikbaktsa
entre o singular nu e o plural nus; ela prediz que deveria ser possível sempre trocar um pelo outro,
mas vimos que esse não é o caso em três situações: (i) quando a interpretação é de substância, como
no exemplo da carne de macaco; (ii) quando o nome funciona como modicador de um verbo como
19 Spector (2007) desenvolveu a implicatura para o inglês.
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no caso de ser gostador de fruta; (iii) quando o nome é transformado em um predicativo como quando
o javali é descrito como carrapatento. Voltaremos a esses casos na próxima seção.
3.3.2. Menos morfológica mais próximo da raiz
Pires de Oliveira (2022) propõe que o singular nu no PB não denota uma soma atômica, mas
um indivíduo singular, desenvolvendo a Carlson (1977). As espécies ou indivíduos genéricos têm
a propriedade de ocorrer em vários lugares num mesmo instante no tempo. Indivíduos ordinários
são esparramados no tempo, mas ocupam um único lugar num momento do tempo. Assim, Carlson
distingue espécies, os indivíduos ordinários (“individual level objects”, em Krifka et al.,1995) e os
estágios de um indivíduo, que são instâncias espaço-temporais desses indivíduos. Um indivíduo
ordinário como o sol, a lua ou qualquer um de nós, tem propriedades que perduram no tempo e outras
que ocorrem em um dado momento, um estágio em nossas vidas. A gura abaixo representa essa
ontologia, em que os indivíduos estão no tempo:
Figura 3: A espécie e suas realizações - Carlson (1977)
Fonte: Elaboração dos autores
Os indivíduos genéricos, por exemplo, a espécie baleia, é realizada por todas as suas realizações
neste momento, nos vários lugares em que cada uma delas está, cada uma delas em seu estágio.
Predicados de indivíduo se aplicam ao indivíduo, logo são propriedades constantes, enquanto
que predicados dos estágios são aqueles que são transitórios. Em, por exemplo, O menino ronca
trata-se de uma propriedade do indivíduo, que é um roncador, enquanto que em O menino está
roncando trata-se de um estágio em que o indivíduo se encontra. Podemos supor que predicados de
indivíduo não tem uma variável de evento, precisamente porque não dizem respeito a um evento em
particular, mas a uma propriedade do indivíduo (Chierchia, 1995).
Carlson dene a realização como uma relação entre dois indivíduos de tal sorte que um realiza
o outro: R(x, y); x é uma realização de y. Pires de Oliveira (2022) entende que essa é uma relação
assimétrica, já que a espécie não é uma realização de si mesma, assim como não somos uma parte de
nós mesmos. Essa é para a autora a diferença crucial entre o singular e o plural nus no PB: o singular
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Roberta Pires de Oliveira, Leia de Jesus Silva, João Tsaputai, Helena Loch de Oliveira e Laiara Machado Seram
é um indivíduo singular, que tem a propriedade de ser vários no mesmo momento do tempo, já o
plural é uma soma. Na gura 2, os indivíduos estão organizados por soma. Na gura 3, os indivíduos
realizam as espécies. Assim, o singular nu não está gramaticalmente associado à soma, que exige
identicação de unidades. Ele denota realizações espaço-temporalmente dispersas. Não unidade
de contagem. A neutralidade para número é simplesmente uma inferência a partir do fato de que esses
indivíduos são suas realizações.
Vamos assumir que em Rikbaktsa há uma correspondência direta entre a forma lógica e a
morfologia aberta, evitando postular níveis estruturais a priori, uma hipótese que pode ser refutada. Em
Rikbaktsa, o nome plural tem mais estrutura do que o nome sem a marca morfológica, precisamente
porque têm a exão. Suponha que –tsa signique um ou mais do que um exatamente como é o plural
no inglês e no PB.20 Uma possível derivação para o plural nu está em (21a). Assuma que o radical é
polissêmico e denota, entre outras, a propriedade de ser uma realização da propriedade em questão.
Nesse caso, o plural ordena as realizações por soma. Suponha que não há projeção de número para a
forma sem a exão, (21b), porque não há morfologia. Seu valor é não-plural. Há duas propriedades
não-plurais: ou é uma propriedade de indivíduos ordinários ou é da espécie:
(21) a. [DP [ NumP-tsa [N parini-]]]
[[ [N parini] ]]w = {x/x é uma realização de onça em w}
[[ [NumP -tsa [N parini] ]]w = { x/x é uma soma de onça em w}
b. [DP [N parini]]
[[ [N parini]] ] = {x: x é onça} ou {x: x é onça espécie}
Essa é uma solução em que a diferença de signicado é gerada pela sub-especicação do radical
nominal e a competição com a forma plural. Tendo em vista o que geramos até agora, a denotação
de espécie para o plural nu será através da operação de descida do tipo semântica que transforma
o predicado plural no indivíduo plural maximal (o operador em Chierchia, 2021). Já o singular
nu denota a espécie ou o indivíduo ordinário (em consonância com Dayal (2004) para o sintagma
denido em inglês; por exemplo, the whale pode ser a espécie ou Moby Dick). Assim, explicamos
que o nome sem a exão pode denotar um único indivíduo, o sol, no exemplo em (20), ou o indivíduo
genérico (a “personicação” de onça), no exemplo em (22a).
A proposta prediz que tanto o plural quanto o singular nus podem denotar a espécie e ser
argumento de predicados de extinção, como nos exemplos em (8b-c), repetidos abaixo por
conveniência, como (22a-b), respectivamente:
20 Dados com a negação parecem corroborar essa hipótese, mas esse é um ponto a ser melhor investigado.
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(22) a. parini ø-n-epyk.
onça 3suj-pas-acabar
‘Onça acabou.’
a’. ok está extinta
b. parini-tsa ø-n-epyk=naha
onça-nfem.pl 3suj-pas-acabar=pl.suj
‘Onças acabaram.’
b’.
PL está extinta
A hipótese é que a diferença entre elas, mostrada nas formas lógicas em a’ e b’, indica que
falantes de Rikbaktsa conceitualizam entidades abstratas, como a onça enquanto indivíduo genérico,
e conceitualizam somas máximas de indivíduos. Essa diferença, que podemos associar a formas
distintas de generalizar (dedutiva e indutivamente), transparece não apenas nas escolhas dos falantes,
por exemplo, a preferência pela forma singular, mas também em lugares na gramática em que apenas
uma dessas formas é aceitável.
Uma diferença entre o singular e o plural nus, que aparece no contraste em (9), repetido em
(23), diz respeito à possibilidade de ser massicado. O tema da massicação é complexo e para os
nossos interesses basta notar que ela só ocorre com o nome singular:
(23) a. boa-tsa ø-n-epyk=naha
macaco.prego-nfem.pl 3suj-pas-acabar=pl.suj
‘Macacos prego acabaram.’
b. boa ø-n-epyk.
macaco.prego 3suj-pas-acabar
‘(carne de) macaco acabou.’
O contraste mostra que o plural nu se mantém constante, é a soma máxima de macacos, mas o
singular nu é interpretado como carne de macaco, porque na cultura Rikbaktsa, é costume comer carne
de macaco. A predição é que outros nomes contáveis, se usados em contextos de comida, vão aparecer
sem morfologia de número. Além disso, boa em outros contextos pode signicar um, ou mais de um
macaco prego. Como argumento de verbos como fugir ou caçar, boa pode ser usado em contextos em
que um único macaco prego ou em que várias. A forma parece ser efetivamente sub-especicada.
O singular nu pode denotar a espécie, como em (22a) e pode denotar a substância de que algo é feito,
em certos contextos, e nesse caso é a única opção (23b). Assim parece que ser uma soma impede a
massicação.21 Logo, poder ser massicado, uma operação que ocorre espontaneamente em contextos
21 Esse parece ser o caso no inglês There is apple in the salad é massicado, mas não There are apples in the salad.
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de comida, é uma operação que ocorre mais próximo do radical nominal, indicando que talvez não
haja projeção de número, diferentemente do que sugerimos em (21b).
A isso se junta o fato de que é o singular nu que ocorre nas operações morfológicas de
nominalização do composto verbal em que o nome é uma modicação do verbo e também nos casos
em que o nome ou o adjetivo é transformado em um predicativo. A primeira é exemplica em (13),
repetida em (24) por conveniência:
(24) a. piku1 huihara i1 -akpara-wy
anta fruta 3suj.sg-gostar-nlz
‘Anta gosta de fruta.’. (Lit.: ‘anta ela é gostadora de fruta’)
b. piku-tsa1 huihara s1-akpara-wy
anta-nfem.pl fruta 3suj.pl-gostar-nlz
‘Antas gostam de fruta’ (Lit.: ‘antas elas são gostadoras de fruta’)
A projeção de número em huihara ‘fruta’ impede que o nome funcione como um modicador
do verbo, expressando um tipo de gostar. Neste caso, o nome não é argumento do verbo, mas atua
como um modicador indicando o tipo de gostar. Não há nesse caso uma projeção de número. O nome
modicador não é o predicado atômico, porque se fosse deveria ser apenas uma fruta e não é esse o
caso. Logo, esse nome deve denotar o conceito ou indivíduo genérico. Eis uma proposta de derivação
morfo-semântica para sintagma verbal em (24). A projeção verbal akpara, cujo conteúdo é gostar de,
é modicada pelo nome huihara, veiculando o signicado de um subtipo de gostar: o gostar de fruta,
ainda uma projeção verbal. O nome denota aquilo que é conceitualizado como fruta. O predicado
huihara akpara-, gostar de fruta, é nominalizado por wy, gerando o predicado mono-argumental
“aquele que é um gostador-de-fruta”.
O mesmo raciocínio explica o dado em (16), repetido em (25), em que o nome é transformado
em predicativo:
(25) a. pazahae1 tsi1-pepeha-ẽ-ta1
javali 3suj.sg-carrapato-pred-nfem.sg
‘Javali tem carrapato’ (Lit.: ‘javali, ele é carrapatento’).
b. pazahae-tsa1 si1-pepeha-ẽ-tsa1
javali-pl.nfem 3suj.pl-carrapato-pred-nfem.pl
‘Javalis têm carrapato’ (Lit.: ‘javalis, eles são carrapatentos’)
A forma plural é agramatical, indicando mais uma vez que não há projeção de número. Logo, a
operação morfológica ocorre no radical nominal, que denota o indivíduo genérico, que é o conjunto
de realizações de uma propriedade. Talvez seja essa a mesma razão que explica em inglês, uma língua
em que o singular nu é agramatical, compostos como dog food ou bug spray. Também nesses casos,
o plural é agramatical.
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Esses fatos cam sem explicação se entendemos que o singular nu é um plural sem a implicatura
de exclusão dos átomos, como faz a teoria da implicatura. Eles decorrem naturalmente da hipótese
de que o singular nu denota o indivíduo genérico, que tem a propriedade de se realizar em indivíduos
ordinários no mesmo momento do tempo. Essa proposta explica os casos discutidos neste artigo e
apresenta uma nova perspectiva para a neutralidade de número.
4. A semântica através das línguas
A temática do projeto de pesquisa ao qual este artigo se insere é uma investigação sobre como
são as estruturas semânticas através das línguas, em particular como são as estruturas nominais nuas.
Em 1998, Chierchia formula os parâmetros semânticos, de acordo com os quais, o Rikbaktsa é uma
língua nua, como o Mandarin, já que não tem artigos. No entanto, diferentemente do Mandarin, ela
tem exão de número, se comportando como uma língua marcada para número, dessa vez de acordo
com o parâmetro do número (Chierchia, 2021). Trata-se, portanto, de uma língua sem artigos e com
exão de número. Os sintagmas não são encabeçados por artigos e podem ou não ser acompanhados
da exão de número: parini ou parini-tsa. Há contextos em que eles parecem ser intercambiáveis,
ou, para dizer de outra forma, contextos em que a morfologia de plural parece ser opcional. Esse é
o caso nas sentenças genéricas e com predicado de extinção. No entanto, os dados mostraram que
há contextos em que o singular nu é preferido, outros em que ele é obrigatório e outros em que há
uma mudança de leitura de contável para massa. Argumentamos que em todos os casos, também nas
estruturas de derivação morfológica, quer modicando o verbo, quer como radical nominal com o
qual se combina um morfema predicalizador, só o singular é aceitável, porque não há projeção de
número e ele denota o radical nominal. Argumentamos que a teoria dominante na literatura sobre
neutralidade para número não consegue explicar essa distribuição. A análise proposta neste artigo
explica esses dados, é uma análise inovadora e merece ser aprofundada em pesquisas futuras.
Abreviações
nfem - não fêmea pl - plural obj - objeto
npas - não passado sg - singular cont - continuativo
pas - passado suj - sujeito pred - predicador
PB – português brasileiro nlz - nominalizador 1 – primeira pessoa
3 – terceira pessoa
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Neste artigo investigamos a distinção massivo-contável na língua Rikbaktsa (Macro-Jê). Partimos do questionário de Lima & Rothstein (2020), o qual procuramos responder levantando os dados em um acervo inédito do qual já dispúnhamos, na pouca literatura sobre a língua (Boswood 1971, 1978; SIL 2007; Silva 2011), e em uma elicitação de dados com um falante nativo. A análise mostrou que há morfologia de plural e que ela não se combina com nomes de massa. Nomes que denotam átomos estáveis se combinam diretamente com numerais. Para serem contados, nomes de substância exigem a presença de sintagmas de medidas. Esses são indícios de que a língua em questão pode ser caracterizada como uma língua de número marcado (Chierchia 2010, 2015), mesmo que haja alguns nomes de massa que podem ser contados diretamente. Em nenhuma das quinze línguas apresentadas em Lima & Rothstein (2020) há relato de um morfema especializado para marcar massa. Chacon (2012) afirma que o Kubeo (Tukano-Oriental) exibe um demonstrativo de massa. Esse é também o caso em Rikbaktsa, mas nesta língua o demonstrativo na ‘isto’, que seleciona nomes massivos, se espalha pela gramática: aparece com marca de terceira pessoa no pronome pessoal a-na, com proformas interrogativas e em construção atributiva. Este estudo contribui, portanto, para uma melhor compreensão da distinção massivo-contável através das línguas e da gramática desta língua minoritária.
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O objetivo deste artigo e descrever e justificar a metodologia utilizada nos trabalhos de campo para coleta de dados linguisticos para analise em Semântica Formal. O trabalho procura esclarecer algumas questoes teoricas, praticas e eticas envolvidas num trabalho como esse. Sua tese principal e a de que o paradigma teorico determina a metodologia e o tipo de corpus coletado. Em Semântica Formal, especificamente, a metodologia defendida e a elicitacao controlada.
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This book investigates in detail the grammar of polysynthetic languages-those with very complex verbal morphology. Baker argues that polysynthesis is more than an accidental collection of morphological processes; rather, it is a systematic way of representing predicate-argument relationships that is parallel to but distinct from the system used in languages like English. Having repercussions for many areas of syntax and related aspects of morphology and semantics, this argument results in a comprehensive picture of the grammar of polysynthetic languages. Baker draws on examples from Mohawk and certain languages of the American Southwest, Mesoamerica, Australia, and Siberia.
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Este artigo investiga a expressão da espécie no Português Brasileiro em que quatro formas competem: os nominais nus, singular e plural, Periquito está em extinção e Periquitos estão em extinção, e os definidos genéricos, singular e plural, O periquito está em extinção e Os periquitos estão em extinção. Argumenta que esse sistema é evidência de que as línguas naturais diferenciam dois tipos indivíduos genéricos: a espécie singular e a espécie soma máxima plural. Esses indivíduos estabelecem relações distintas com os seus “elementos”. O singular nu e o definido genérico singular denotam o indivíduo. O acesso ao elemento é indireto. O plural nu e o definido plural denotam a soma máxima de elementos, uma propriedade cumulativa. O artigo definido genérico carrega pressuposição de familiaridade, enquanto o singular nu é indefinido, não carrega pressuposição.
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A classical viewpoint claims that reality consists of both things and stuff, and that we need a way to discuss these aspects of reality. This is achieved by using +count terms to talk about things while using +mass terms to talk about stuff. Bringing together contributions from internationally-renowned experts across interrelated disciplines, this book explores the relationship between mass and count nouns in a number of syntactic environments, and across a range of languages. It both explains how languages differ in their methods for describing these two fundamental categories of reality, and shows the many ways that modern linguistics looks to describe them. It also explores how the notions of count and mass apply to 'abstract nouns', adding a new dimension to the countability discussion. With its pioneering approach to the fundamental questions surrounding mass-count distinction, this book will be essential reading for researchers in formal semantics and linguistic typology.
Book
This book explores the relation between language and logic through an analysis of polarity sensitivity and free choice effects. A wide variety of items are considered, with the intent of identifying the common core of the Polarity System as well as the choices that determine the stunningly diverse array of its manifestations. Sensitivity to polarity and freedom of choice are analyzed as a form of grammaticized Scalar Implicature. This requires a reassessment of how the different components of language (i.e. syntax, semantics and pragmatics) interact. But perhaps the most surprising outcome of t Logical Syntax of Language his book concers the relation of syntax to logic. In his classic, Carnap defines syntax as a lexicon and a set of formation rule and logic proper as a set of inference rules. Modern linguistics in the generative tradition has maintained a similar modular set up: a combinatorial apparatus generates structures over which semantic/pragmatic relations (like entailment, presuppositions and implicatures) are defined. This book argues that a wide array of structures that are typically perceived and analyzed as syntactically deviant owe in fact their status to their logical properties, i.e. whether they are contradictory/analytically true in specific ways (‘G-trivial’). This alters the Carnapian view, as the characterization of ‘grammatical structure’ now requires a more direct role of logical inferences. The functional lexicon of grammar comes with a set of inference rules that crucially and directly determine grammaticality patterns. Logic in Grammar presents the results of a decade’s work on semantics, pragmatics and syntax. It extends the author’s long-term project on how humans categorize the world and how they reason. It is, in sum, a mind-opening contribution to the understanding of the fundamental operations of language and thought, a book that will interest linguists, philosophers, and cognitive scientists alike.
Chapter
This chapter argues that the semantic behavior of bare plurals (and some other plural indefinites) provides evidence for the existence of higher-order implicatures, i.e. pragmatic inferences based on the comparison of a given sentence with the pragmatic meanings of its alternatives (and not only with their literal meanings). In a nutshell, I claim that a bare plural noun like horses denotes the set of individuals, be they atomic or complex, whose atomic parts are individual horses, and that the at-least-two-reading that one gets in sentences such as John has seen horses in the garden is an implicature that derives from the comparison of this sentence with John has seen a horse in the garden. In terms of its literal meaning, the latter sentence is true if and only if John has seen at least one horse in the garden, but gets pragmatically strengthened into John has seen exactly one horse in the garden (scalar implicature). As a result, John has seen horses in the garden will implicate the negation of John has seen exactly one horse in the garden, so that it will end up meaning John has seen several horses. I give an explicit formalization of the processes that lead to higher-order implicatures, based on the possibility of iterating an exhaustivity operator. The proposal accounts for the readings of plural indefinites in various linguistic contexts (monotone-decreasing contexts, non-monotonic contexts, and universally quantified contexts).
Article
This paper presents and motivates a methodology for conducting semantic fieldwork on languages of the Americas. I first argue that one cannot gather adequate information about meaning from spontaneous discourse alone. Thus, direct elicitation (including asking consultants for judgments) is an indispensable methodological tool. I then present more detailed methodological suggestions. I offer techniques for eliciting translations and discuss how one should interpret the results of a translation task. I discuss which types of judgment are legitimate, how to obtain judgments, how to interpret the results, and how discourse contexts should be presented. I make the (somewhat controversial) claim that consultants are unlikely to be influenced by the use of a meta-language (such as English) and that a meta-language is often the best option when presenting discourse contexts.