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Revista de Enfermagem Referência 2024, Série VI, n.º 4: e37070
DOI: 10.12707/RVI24.85.37070
Assistência Pré-Hospitalar à Pessoa Vítima de
Trauma Alicerçada na Teoria de Conforto de
Kolcaba
Pre-Hospital Care for Trauma Victims Based on Kolcaba’s eory of Comfort
Asistencia Prehospitalaria a Víctimas de Traumatismos Basada en la Teoría del
Confort de Kolcaba
REVISTA DE ENFERMAGEM REFERÊNCIA
homepage: https://rr.esenfc.pt/rr/
ISSNe: 2182.2883
ARTIGO TEÓRICO/ENSAIO
Como citar este artigo: Melo, F., Mota, M., Santos, M. R., & Branco, M. C. (2024). Assistência Pré-Hospitalar
à Pessoa Vítima de Trauma Alicerçada na Teoria De Conforto de Kolcaba. Revista de Enfermagem Referência,
6(4), e37070. https://doi.org/10.12707/RVI24.85.37070
Filipe Melo 1, 2, 3
https://orcid.org/0000-0001-7713-4371
Margarida Reis Santos 6, 3, 1
https://orcid.org/0000-0002-7948-9317
Miguel Castelo Branco 7, 8
https://orcid.org/0000-0002-6191-5912
Mauro Mota 4, 3, 5
https://orcid.org/0000-0001-8188-6533
1 Universidade do Porto, Instituto de
Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS),
Porto, Portugal
2 Centro de Competências de
Envelhecimento Ativo, Loulé, Portugal
3 Universidade do Porto, Centro de
Investigação em Tecnologias e Serviços de
Saúde, (CINTESIS), Porto, Portugal
4 Instituto Politécnico de Viseu, Escola
Superior de Saúde de Viseu, Viseu, Portugal
5 Escola Superior de Enfermagem
de Coimbra (ESEnfC), Unidade de
Investigação em Ciências da Saúde:
Enfermagem (UICISA: E), Coimbra,
Portugal
6 Escola Superior de Enfermagem do Porto,
Porto, Portugal
7 Universidade da Beira Interior, Faculdade
de Ciências da Saúde, Covilhã, Portugal
8 Centro Académico Clínico das Beiras,
Covilhã, Portugal
Resumo
Enquadramento: Os desconfortos físico, emocional e psicológico das vítimas de trauma no pré-hospi-
talar são frequentemente negligenciados, com foco apenas no ABCDE e na dor aguda. Uma abordagem
mais abrangente ao desconforto é essencial para um cuidado humanizado às vítimas de trauma em
contexto pré-hospitalar.
Objetivo: Analisar criticamente a Teoria do Conforto de Kolcaba na gestão do desconforto durante o
socorro pré-hospitalar a vítimas de trauma.
Discussão: A Teoria do Conforto de Kolcaba é valiosa para os cuidados de enfermagem no pré-hos-
pitalar, abrangendo conforto físico, emocional e espiritual. Baseada nos tipos de conforto — alívio,
tranquilidade e transcendência — a teoria propõe avaliação holística, comunicação empática, apoio
psicológico, respeito espiritual, ambiente confortável e continuidade do cuidado. Isso permite cuidados
abrangentes e centrados na pessoa, promovendo recuperação humanizada em emergências pré-hospitalares.
Conclusão: A Teoria do Conforto de Kolcaba orienta prossionais de saúde na melhoria da recuperação
física, emocional e espiritual das vítimas de trauma, proporcionando uma abordagem humanizada e
completa em emergências extra-hospitalares.
Palavras-chave: teoria de enfermagem; modelos de enfermagem; enfermagem; assistência pré-hospitalar;
conforto do paciente; trauma
Abstract
Background: e physical, emotional, and psychological discomfort of pre-hospital trauma victims
is often neglected by focusing only on the ABCDE approach and acute pain. A more comprehensive
approach to discomfort is essential for humanizing the care of trauma victims in pre-hospital settings.
Objective: To critically analyze Kolcaba’s theory of comfort in the management of discomfort in the
pre-hospital care of trauma victims.
Discussion: Kolcaba’s theory of comfort is valuable for pre-hospital care, covering physical, emotional,
and spiritual comfort. Based on the types of comfort - relief, ease, and transcendence - the theory
suggests holistic assessment, empathic communication, psychological support, spiritual respect, a
comfortable environment, and continuity of care. is allows for comprehensive, person-centered care
that promotes humanized recovery in pre-hospital emergencies.
Conclusion: Kolcaba’s theory of comfort guides healthcare professionals in improving the physical,
emotional, and spiritual recovery of trauma victims by providing a humanized and comprehensive
approach to pre-hospital emergencies.
Keywords: nursing theory; models, nursing; nursing; prehospital care; patient comfort; trauma
Resumen
Marco contextual: El malestar físico, emocional y psicológico de las víctimas de traumatismos en
el entorno prehospitalario suele descuidarse y se centra únicamente en el ABCDE y el dolor agudo.
Es esencial adoptar un enfoque más integral del malestar para ofrecer una atención humanizada a las
víctimas de traumatismos en el entorno prehospitalario.
Objetivo: Analizar críticamente la teoría del confort de Kolcaba en la gestión del malestar durante la
atención prehospitalaria a víctimas de traumatismos.
Discusión: La teoría del confort de Kolcaba es valiosa para los cuidados de enfermería prehospitala-
rios, ya que abarca el confort físico, emocional y espiritual. Basada en los tipos de confort —alivio,
tranquilidad y trascendencia—, la teoría propone la evaluación holística, la comunicación empática, el
apoyo psicológico, el respeto espiritual, el entorno confortable y la continuidad de los cuidados. Esto
permite una atención integral y centrada en la persona, que promueve una recuperación humanizada
en las urgencias prehospitalarias.
Conclusión: La teoría del confort de Kolcaba guía a los profesionales sanitarios en la mejora de la
recuperación física, emocional y espiritual de las víctimas de traumatismos y proporciona un enfoque
humanizado y completo en las urgencias extrahospitalarias.
Palabras clave: teoría de enfermería; modelos de enfermería; enfermería; atención prehospitalaria;
comodidad del paciente; trauma
Autor de correspondência
Filipe Correia de Melo
E-mail: l_cm@hotmail.com
Recebido: 14.08.24
Aceite: 06.01.25
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Melo, F. et al.
Revista de Enfermagem Referência 2024, Série VI, n.º 4: e37070
DOI: 10.12707/RVI24.85.37070
Introdução
As vítimas de trauma socorridas no pré-hospitalar repor-
tam frequentemente diferentes tipos de desconfortos, que
podem ser físicos, emocionais e psicológicos. Diagnosticá-
-los e denir planos de intervenção especícos e dirigidos
a cada um é essencial para fornecer um atendimento ecaz
(Mota, Santos et al., 2022). A comunidade cientíca e
clínica, cada vez mais, tende a apontar outros focos de
sofrimento além da dor aguda, que se assumia, até há
bem pouco tempo, como a principal entidade nosológica
causadora de desconforto nas vítimas de trauma (Mota
et al., 2024).
A dor é um conceito subjetivo, complexo e com várias
dimensões, sendo denida como uma experiência sensorial
desagradável, associada a danos reais ou potenciais nos
tecidos (Yam et al., 2018). Mais de 70% das vítimas de
trauma socorridas no pré-hospitalar relatam dor aguda
e aproximadamente metade descrevem a intensidade da
dor como igual ou superior a 7 numa escala de 0 a 10
(Mota, Cunha et al., 2022) Além da dor, as vítimas de
trauma socorridas no pré-hospitalar também podem
enfrentar desconfortos adicionais, como o causado pelo
frio, o desconforto associado à imobilização e, sofrimento
psicológico, incluindo medo, ansiedade e tristeza (Mota
et al., 2023). Estudos recentes, que exploraram a relação
entre a dor aguda no trauma e as outras modalidades
de desconforto, concluíram que vítimas imobilizadas
e vítimas com sensação de desconforto provocado pelo
frio, tristeza ou medo, tendem a apresentar níveis de dor
mais elevados (Mota et al., 2023).
O atendimento pré-hospitalar a vítimas de trauma é um
desao complexo que vai além da gestão de uma abor-
dagem ABCDE, deve atender ao tratamento da dor, ao
desconforto provocado pelo frio e pela imobilização, ao
medo, à ansiedade e a outras entidades que frequente-
mente atentam ao conforto da pessoa vítima de trauma
socorrida no pré-hospitalar (Mota et al., 2023). Assim,
torna-se determinante a operacionalização de um modelo
teórico de enfermagem que dê ferramentas para potenciar
a ecácia da gestão do desconforto nas vítimas de trauma.
Os modelos teóricos de enfermagem que foram opera-
cionalizados para a prática clínica dos enfermeiros pré-
-hospitalares durante o socorro às vítimas de trauma
assentaram o seu foco essencialmente na gestão da insta-
bilidade hemodinâmica e controlo hemorrágico (Mota et
al., 2019). Teoria do Conforto de Kolcaba, desenvolvida
por Katharine Kolcaba, é uma estrutura conceptual que
visa melhorar a qualidade dos cuidados de enfermagem,
sendo o conforto o conceito teórico central na satisfação
(ativa, passiva ou cooperativa) das necessidades humanas
básicas, baseada em três tipos de conforto: alívio, tran-
quilidade e transcendental (Kolcaba, 1994). Este modelo
conceptual tem sido adaptado a diversos enquadramentos
clínicos (Lin et al., 2023) todavia, acreditamos que a sua
utilização para a denição de um modelo de cuidados
no atendimento a vítimas de trauma nos cuidados pré-
-hospitalares pode constituir-se como uma importante
ferramenta para melhorar a qualidade no socorro. Assim,
deniu-se como objetivo para esta investigação analisar
criticamente a Teoria do Conforto de Kolcaba na gestão
do desconforto durante o socorro pré-hospitalar a vítimas
de trauma.
Desenvolvimento
A análise reexiva da Teoria do Conforto de Kolcaba,
no âmbito da gestão do desconforto no socorro às pes-
soas vítimas de trauma, teve como suporte o método de
análise crítica de Chinn et al. (2022), primeiro, com a
descrição da teoria, tendo em consideração o objeto pelo
qual será operacionalizado, conceitos, denições, relações,
estrutura e pressupostos, e, segundo, com uma reexão
crítica, considerando os componentes Importância e Apli-
cabilidade do modelo para que a teoria esteja ligada com
a importância clínica e aplicação na prática prossional.
Descrição da teoria
O conceito conforto reúne diferentes perspetivas à luz das
diferentes teorias de enfermagem, contudo consideramos
que é nas teorias de Leininger, de Watson, de Morse e
de Kolcaba que encontra maior robustez. Para Watson e
Leininger o cuidar tem uma importância central e o con-
forto é um dos seus componentes, enquanto para Morse
o cuidar é um construto do conforto, que carece das ações
dos enfermeiros. Todavia, não se vê explorada, à luz desta
teoria, a avaliação desses mesmos resultados. Kolcaba, por
outro lado, defende que se deve estudar o processo do
conforto com a avaliação dos resultados, assente na sua
conceptualização e operacionalização (Apóstolo, 2009).
A Teoria do Conforto de Kolcaba propõe uma aborda-
gem holística e multidimensional para compreender e
promover o bem-estar das pessoas cuidadas (Castro et
al., 2021). Dene conforto como um estado em que
estão satisfeitas as necessidades de alívio, tranquilidade e
transcendência nos contextos físico, psicoespiritual, social
e ambiental (Kolcaba, 2003). Kolcaba criou um quadro
conceptual para mostrar como a sua teoria se enquadra
no uxo de cuidados no contexto da prática e descreve-o
como o produto de uma prática de enfermagem holística
(Kolcaba, 2003). A teoria conceptualiza o conforto como
sendo um estado complexo que abrange as dimensões
física, psicológica, social e espiritual (Kolcaba, 1994).
Elenca três tipos de conforto: conforto alívio, relaciona-
do com a redução ou eliminação do desconforto físico;
conforto tranquilidade, direcionado para a promoção de
um ambiente que proporcione tranquilidade e bem-estar
psicológico; e conforto transcendental que promove o
propósito e a paz espiritual (Kolcaba, 2003). Alicerça-se,
ainda, em quatro dimensões fundamentais, (1) a Física, no
alívio básico do corpo; (2) a Psicológica e Espiritual, pelo
equilíbrio mental e emocional, na procura de propósito
e signicado da vida; (3) a Social, patente nas relações
interpessoais e no apoio social e, por m, (4) a Ambiental
(Gaibor et al., 2021).
O conforto físico está relacionado com factores siológicos
como o repouso e o relaxamento, as respostas à doença, a
nutrição e a homeostasia ou até à própria dor, sendo aliás,
esta, um dos principais fatores que comprometem o con-
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Melo, F. et al.
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DOI: 10.12707/RVI24.85.37070
forto físico (Kolcaba, 1994). O conforto psicoespiritual
incopora a vertente mental e espiritual, as emoções que
denem o sentido de vida do indivíduo, como a auto-
estima, o auto-conceito e a auto-consciência (Kolcaba,
2003). O conforto social está associado ao ambiente social
e cultural da pessoa, com respeito pelas tradições, hábitos
e crenças religiosas da pessoa e família e estende-se desde
a oferta de serviços de apoio nanceiro, ao planeamento
da alta e/ou sua preparação até aos cuidados no domicílio
(Kolcaba, 1994, 2003). Por último, o conforto ambiental
está relacionado com o ambiente externo do indivíduo,
como a luz, o ruído, a temperatura ou a segurança do
ambiente (Kolcaba, 2001).
O impacto da Teoria de Conforto de Kolcaba foi signi-
cativo na prática de enfermagem, inuenciando a forma
como os enfermeiros abordam o cuidado centrado na
pessoa. Contribuiu, por isso, de forma decisiva para a
promoção de uma abordagem holística e compassiva no
campo do cuidar, destacando a importância de considerar
não apenas a dimensão física, mas também as necessidades
emocionais, sociais e espirituais das pessoas durante o
processo de cuidado (Bice & Bramlett, 2019). Este mo-
delo de cuidados tem vindo a ser aplicado em diferentes
contextos clínicos, em diferentes tipologias de doentes,
desde a pediatria oncológica (Ebrahimpour & Hoseini,
2018), até à ginecologia e tecnologias de reprodução
assistida (Schoener & Krysa, 1996) e à geriatria (Oliveira
et al., 2020).
A denição de conforto é complexa e difícil de concep-
tualizar, no entanto, é, desde há muito, o mais elementar
dos objetivos dos cuidados de saúde, sendo entendido
como o oposto de entidades nosológicas como a dor ou
quaisquer outras fontes de desconforto (Gonzalez-Baz et
al., 2023). O conforto, enquanto antítese do desconforto,
alencado nas quatro independentes mas complementares
estruturas, é objetivo dos cuidados de enfermagem em
todos os contextos clínicos e, como tal, e também, no
socorro de vítimas de trauma na emergência pré-hospitalar.
Reexão crítica
A prestação de cuidados pré-hospitalares às pessoas vítimas
de trauma deve atender não apenas a uma abordagem
ABCDE, normalmente com foco na estabilidade hemo-
dinâmica e controlo de hemorragias, determinantes para
a sobrevida da pessoa, mas também, e porque a saúde é
mais que a ausência de doença, ao alívio do sofrimento,
independentemente da sua origem, seja ele dor aguda,
desconforto provocado pelo frio ou pela imobilização,
ansiedade ou tristeza (Mota et al., 2023).
A aplicação da Teoria do Conforto de Kolcaba, no con-
texto pré-hospitalar, a pessoas vítimas de trauma, deve
envolver a integração de estratégias e abordagens que
abranjam os três tipos de conforto: alívio, tranquilidade
e transcendental (Kolcaba, 2003).
O conforto de alívio, nas pessoas vítimas de trauma,
que é experimentado quando um estado especíco de
desconforto é aliviado, pode ser conseguido através da
administração de diversas medidas, tais como: medidas
analgésicas farmacológicas e não farmacológicas, que
diminuam a dor física aguda; redução, estabilização e
imobilização dos membros com fraturas, que minimizem
o desconforto físico (Mota et al., 2024); ou aquecimento
com medidas ativas e passivas a pessoas em hipotermia,
que diminuíam o desconforto provocado pelo frio (Mota
et al., 2021).
A dimensão Psicológica e espiritual exige, também, uma
abordagem multidisciplinar. Dado que o contexto clínico
em que a pessoa vítima de trauma se encontra pode ser
revestido por grande hostilidade (Mota et al., 2019), re-
querem-se intervenções de cariz mais especico, dirigidas
para a gestão da ansiedade e do medo (Mota et al., 2023),
que podem ser conseguidas com técnicas comunicacionais
ajustadas, baseadas, por exemplo, em informações claras e
compreensíveis sobre a situação de saúde da pessoa, com
o objetivo de proporcionar alívio psicológico e espiritual
(Eadie et al., 2013).
A dimensão Ambiental pode ser assegurada pela promoção
de um ambiente calmo e confortável, onde se consiga
gerir a temperatura ambiente (ambulância, por hipótese),
reduzir ruídos desnecessários, proporcionando o alívio
que o ambiente ameaça (Péculo-Carrasco et al., 2020).
Respeitar os valores, as questões culturais e a condição
social da vítima é basilar para que se consiga criar um
ambiente de conança e segurança entre enfermeiro e a
pessoa vítima de trauma, permitindo, entre outros, que a
dimensão social seja respeitada (Bergstrom et al., 2018).
O conforto de tranquilidade assenta na sensação de tran-
quilidade e de satisfação, e na sua dimensão física podem
ser implementadas técnicas de posicionamento para evitar
desconforto adicional, oferecendo apoio postural e con-
forto físico durante o transporte e/ou imobilização (Mota
et al., 2019; Mota, Cunha et al., 2022) Já na dimensão
Psicológica e Espiritual do conforto tranquilidade, a em-
patia e a escuta ativa são ferramentas que permitem que
a pessoa expresse as suas preocupações e desconfortos,
enquanto facilitar a comunicação entre a pessoa e a sua
família é elementar para garantir o apoio social necessário,
promovendo a sua dimensão social (Müller et al., 2023).
A criação de um ambiente tranquilo e acolhedor, com
iluminação suave e controle de estímulos externos, per-
mitindo que a pessoa se sinta mais relaxada e confortável
durante a prestação de cuidados pré-hospitalares permite
controlar a dimensão ambiental (Péculo-Carrasco et al.,
2020).
O conforto de transcendência, que é a capacidade de
superar problemas ou dor, requer, também, uma aborda-
gem multidisciplinar, capaz de ser representativa, que dê
resposta à dimensão física, através de técnicas especicas de
controlo respiratório e técnicas de relaxamento muscular
(Miri et al., 2023), na dimensão Psicológica e Espiritual,
com a criação de um espaço seguro e próprio para mo-
mentos de reexão e de busca de signicado (Goldin et
al., 2023). Na dimensão Ambiental deve promover-se o
apoio social e a interação com a família e amigos, criar-se
um ambiente de paz e serenidade, com elementos naturais
e acolhedores, ajudar a pessoa a fazer a transição para
a sua situação atual e encontrar conforto e esperança
(Nascimento et al., 2023).
Ao abordar as necessidades de conforto das pessoas vítimas
de trauma nos cuidados pré-hospitalares com base na
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Melo, F. et al.
Revista de Enfermagem Referência 2024, Série VI, n.º 4: e37070
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Teoria do Conforto de Kolcaba, será possível melhorar
a experiência da pessoa, promovendo não apenas a sua
recuperação física, mas também o seu bem-estar emo
-
cional e espiritual. Isso contribuirá para uma aborda-
gem mais abrangente e humanizada no atendimento das
pessoas vítimas de trauma em situações de emergência
pré-hospitalar (Goldin et al., 2023). Ao integrar estas es-
tratégias, os enfermeiros do pré-hospitalar podem oferecer
um atendimento mais abrangente e centrado na pessoa,
alinhado com os princípios da Teoria do Conforto de
Kolcaba. A adoção dos princípios orientadores da teoria
visa não apenas tratar as lesões físicas, mas também abor-
dar as necessidades emocionais, psicológicas e espirituais
das pessoas vítimas de trauma, contribuindo para uma
abordagem holística e uma recuperação mais completa
e humanizada.
Conclusão
Tendo em conta os desaos complexos enfrentados na
prestação de cuidados a pessoas vítimas de trauma no
pré-hospitalar, a abordagem carece de reforçar variáveis
emocionais e psicológicas responsáveis, também, por
desconforto, além das variáveis de cariz físico e mais
facilmente mensuráveis. Neste contexto, a Teoria do Con-
forto de Kolcaba emerge como uma valiosa estrutura
conceptual, identicando o conforto como o resultado
fundamental e desejável, fruto da resposta a diferentes
entidades nosológicas.
A teoria baseada nos princípios de alívio, tranquilidade e
transcendentalidade, pode assumir-se como uma estrutura
valiosa para orientar a prática clínica dos enfermeiros no
socorro a pessoas vítimas de trauma. A sua aplicação na
prestação de cuidados no pré-hospitalar pode constituir-se
como uma mais-valia para a recuperação física e para o
bem-estar emocional e espiritual das pessoas.
A integração prática da teoria envolve a adoção de estraté-
gias especícas, desde a avaliação holística, passando pelo
desenvolvimento de novas ferramentas de diagnóstico,
à criação de ambientes confortáveis e à promoção da
continuidade do cuidado. Essas práticas, alinhadas com
os princípios da Teoria do Conforto de Kolcaba, podem
capacitar os enfermeiros do pré-hospitalar a oferecer um
atendimento centrado na pessoa, reconhecendo e respon-
dendo às necessidades físicas, emocionais e espirituais
das pessoas vítimas de trauma. Ao fazê-lo, a recuperação
mais completa e humanizada pode ser potenciada, mol-
dando um novo paradigma no cuidado de emergência
extra-hospitalar.
Contribuição de autores
Conceptualização: Melo, F., Mota, M., Santos, M. R.,
Branco, M. C.
Tratamento de dados: Melo, F., Mota, M.
Análise formal: Melo, F., Mota, M., Santos, M. R.
Investigação: Melo, F., Mota, M., Santos, M. R., Branco,
M. C.
Metodologia: Melo, F., Mota, M., Santos, M. R.
Administração do projeto: Santos, M. R., Branco, M. C.
Recursos: Melo, F., Mota, M.
Software: Melo, F., Mota, M.
Supervisão: Santos, M. R., Branco, M. C.
Validação: Santos, M. R., Branco, M. C.
Visualização: Santos, M. R., Branco, M. C.
Redação - rascunho original: Melo, F., Santos, M. R.,
Branco, M. C.
Redação - análise e edição: Melo, F., Santos, M. R., Bran-
co, M. C.
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