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Dossiê Acontecimentos que (nos) afetam: crises, conflitos e resistências
ATIVISMO PELO CLIMA. A OCUPAÇÃO COMO ACONTECIMENTO.
Climate activism. the occupation as an event.
Activismo climático. la ocupación como evento.
Isabel Babo1
DOI:10.31501/esf.v3i31.15463
Resumo: Propõe-se uma abordagem de uma ação de “ocupação” por parte de jovens estudantes ativistas, associados à Greve Climática
Estudantil, como acontecimento que irrompe no espaço público, provocando surpresa, descontinuidade e um novo estado de coisas. A
partir deste acontecimento que é notícia, questiona-se em que medida a ação de acampar num espaço físico é acompanhada, e
precedida, do uso dos dispositivos individuais eletrónicos de comunicação e das redes digitais sociais. Mostra-se, assim, como a
copresença física e a comunicação online convivem, revelando como modalidades de ativismo físico se miscigenam com modalidades de
ativismo online. Por último, interroga-se sobre a formação do comum, mais especificamente, de uma causa comum, mediante uma
focalização conjunta sobre problemas comuns, apesar do uso das redes digitais sociais se coadunar com lógicas comunicacionais mais
individualizadas.
Palavras-chave: Acontecimento. Ativismo climático. Greve Estudantil. Ocupação.
Abstract: This paper proposes an approach to an "occupation" action by young activist students, associated with the Student Climate
Strike, as an event that erupts into public space, causing surprise, discontinuity, and a new state of affairs. From this newsworthy event, it
questions the extent to which the act of camping in a physical space is accompanied and preceded by the use of individual electronic
communication devices and digital social networks. It shows how physical co-presence and online communication coexist, revealing how
forms of physical activism intertwine with forms of online activism. Finally, it questions the formation of the "common," more specifically, a
common cause, through a joint focus on shared problems, despite the use of digital social networks aligning more with individualized
communication logics.
Keywords: Event. Climate activism. Student strike. Occupation.
Resumen: Se propone una aproximación a una acción de “ocupación” por parte de jóvenes activistas estudiantiles, asociados a la Huelga
Estudiantil por el Clima, como un evento que irrumpe en el espacio público, provocando sorpresa, discontinuidad y un nuevo estado de
cosas. A continuación, a partir de este hecho periodístico, nos preguntamos en qué medida la acción de acampar en un espacio físico
está acompañada, y precedida, por el uso de dispositivos individuales de comunicación electrónica y de redes sociales digitales. Muestra
así cómo coexisten la copresencia física y la comunicación en línea, revelando cómo se mezclan tipos de activismo físico con tipos de
activismo en línea. Finalmente, cuestiona la formación de lo común, más específicamente de una causa común, a través de un enfoque
conjunto sobre problemas comunes, a pesar de que el uso de las redes sociales digitales responde a lógicas de comunicación más
individualizadas.
Palabras-clave: Evento. Activismo climático. Huelga estudiantil. Ocupación.
1Doutora; Universidade Lusófona, Lisboa, Portugal. isabel.babo@ulusofona.pt | https://orcid.org/0000-0002-9894-5146.
Artigo submetido em: Julho/2024. Aprovado em: Setembro/2024
Esferas, ano 14, vol.3, nº 31, setembro/dezembro de 2024 | ISSN 2446-6190
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Dossiê Acontecimentos que (nos) afetam: Crises, conflitos e resistências
1 Introdução
A partir do desafio colocado de pensar os “acontecimentos que nos afetam, instigam à ação e a
(re)pensar o comum”, proponho uma reflexão em torno da dimensão acontecimental da ação de jovens
estudantes ativistas que, na sua luta pelo clima, ocuparam espaços de universidades e escolas, em
Lisboa, em 2022. Por um lado, há essa ação que rompe com a ordem social e que é “notícia”, surgindo
enquanto acontecimento no mundo. Por outro lado, em plena era digital, há o recurso à “ocupação”
física de espaços por parte de jovens que se manifestam. Por isso, interessa-me analisar em que
medida a ocupação irrompe enquanto acontecimento, mas também a ação de acampar num espaço,
quando o uso dos dispositivos individuais eletrónicos de comunicação e das redes digitais sociais2se
tornou preponderante. Simultaneamente, há um outro tema que me interessa questionar, sobre como
daí decorre a instauração do comum, mais especificamente de uma causa comum, apesar do uso das
redes digitais sociais assentar numa lógica conectiva (Bennett & Segerberg, 2012), que melhor se
adequa a uma dinâmica comunicacional individual, já que as ações conectivas nas redes resultam de
processos tecnológicos e favorecem uma comunicação mais personalizada.3
Agora, em relação ao acontecimento que aqui interrogo, diga-se que, movidos pela luta pelo
clima, na segunda-feira dia 7 de novembro de 2022, estudantes do ensino superior e do ensino
secundário levaram a cabo um boicote às aulas, com a ocupação de faculdades e escolas de Lisboa.
3A ação conectiva implica uma lógica própria. “Connective action has a logic of its own, and thus attendant dynamics of its own.” (Bennett & Segerberg,
2012, p.760)
2“In the digital age, we freely utilize the term “social networks” to describe the myriad ways in which people connect and interact on social media.”
(Alperstein, 2021, p.47).
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Em torno da reivindicação pelo fim doscombustíveis fósseisaté 2030, montaram tendas nos pátios de
instituições de ensino, dando início ao movimento de ocupação “Fim ao fóssil: Ocupa!”, mote do
protesto organizado pela Greve Climática Estudantil (Público, 11 de novembro de 2022; Público, 7 de
novembro de 2022). Este movimento fez parte de um protesto internacional que se estendeu a escolas
dos Estados Unidos, Alemanha, Espanha e outros países. As ocupações, que se prolongaram durante
essa semana, e a marcha, que ocorreu no sábado seguinte, coincidiram com a Conferência das
Nações Unidas sobreAlterações Climáticas(COP27), que decorreu em Sharm el-Sheikh, no Egipto, de
domingo dia 13 até ao dia 18 de novembro de 2022 (Público, 11 de novembro de 2022).
Partindo deste quadro empírico e de reflexão teórica, começo por indagar em que medida essa
ocupação de universidades e escolas surge como um acontecimento. De seguida, questiono em que
medida a ação de “ocupação” de um lugar ou de um espaço, na era digital, é reveladora de como
modalidades de ativismo físico convivem e miscigenam-se com modalidades de ativismo online. Por
último, pretendo compreender como ativistas (mais ou menos dispersos) e movimentos de protesto se
movem numa focalização conjunta e comum sobre os mesmos problemas e a mesma causa comum,
no caso os problemas climáticos.
2 O acontecimento
2.1 A ocupação “Fim ao fóssil: Ocupa!”como acontecimento
Num contexto de ação, portanto de interesse, tudo o que ocorre não é acontecimento, mas somente o
que surpreende a nossa expectativa, o que é interessante, o que é importante; por isso a ordem das
coisas é vista do ponto de vista das nossas preocupações, da nossa inquietação, logo segundo um
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horizonte de historicidade (…) O acontecimento é a novidade por relação à ordem instituída. (Ricœur,
1991, p.43)
A ocupação de universidades e liceus por parte dos estudantes, conduzida pelo coletivo Greve
Climática Estudantil, é um acontecimento que provoca um efeito de surpresa. É assim que, dia 7 de
novembro, o jornal diário português de referência Público dá a seguinte notícia:
Ativistas já montaram as tendas nas escolas porque “o Governo não ouve” (título) (Aline Flor, Público, 7 de
Novembro de 2022)
Começou o movimento de ocupação. Alunos nas escolas lembraram a urgência da luta pelo clima e
tentaram fazer crescer os grupos de protesto. Não querem desmobilizar, nem de dia, nem de noite. (Aline
Flor, Público, 7 de Novembro de 2022)
Centenas de estudantes entraram nas escolas e universidades, esta segunda-feira, e só tencionam sair na
sexta-feira, a data programada para terminar a ocupação pelo fim dos combustíveis fósseis deseis
escolas secundárias e faculdades em Lisboa.”(...)."Queremos ficar até ao último segundo. Se isso
implicar retirarem-nos à força, retirem-nos à força. Se implicar dormir, dormimos e se implicar ficar uma
semana inteira, ficamos, até as nossas vozes serem ouvidas" (...) (Público, Lusa e P3, 7 de Novembro de
2022)
Trata-se de uma ocorrência empírica que, enquanto aparecimento de qualquer coisa de novo,
introduz a descontinuidade e a mudança. Enquanto ação programada pode não ser aquilo que surge
no mundo como “contingente, imprevisível e irrepetível" (Jean Ladrière, 1984), mas tem a dimensão
acontecimental daquilo que irrompe no espaço público e de que não se estava à espera. Justamente, a
noção de acontecimento remete para a noção de emergência. É uma ocorrência empírica particular,
tem consequências que lhe são próprias e inaugura uma situação nova, introduzindo no mundo um
novo estado de coisas.
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Os estudantes que, numa segunda-feira de manhã, entram nas escolas e universidades e
anunciam que aí permanecerão durante a semana (a data programada para a ocupação foi toda
semana, embora em algumas escolas os estudantes tentassem permanecer também durante o fim de
semana) em luta pelo fim dos combustíveis fósseis, introduzem uma descontinuidade, mediante uma
ação – irrupção – que se liga a condições, circunstâncias, locais, contexto e temporalidade, os quais
também intervêm na produção do acontecimento. Como John Dewey afirmou, “o existente coexiste” e
“todas as mudanças se produzem por interações de condições” (apud Quéré, 2012, p. 25).
A ocupação sob o lema “Fim ao fóssil: Ocupa!” é um acontecimento contingente (que poderia
não ter ocorrido) que se associa a outros acontecimentos (movimentos e ocupações pelo clima
internacionais), a causas, a razões e a motivos. Tendo em conta as suas condições de ocorrência, que
se ligam principalmente ao movimento internacional da Greve Climática Estudantil, a sua emergência e a
sua manutenção no tempo, é um acontecimento que pode ser comparado com outros acontecimentos
do mesmo tipo e colocado em relação a uma ordem social. Porque ao mesmo tempo que exerce uma
rutura com a normalidade social e uma descontinuidade, o acontecimento também introduz um novo
estado de coisas, em função das suas condições de existência. Pode, por isso, a sua contingência ser
diluída pela sua inscrição num contexto causal, com possibilidades de ocorrência, porque todo o
acontecimento pode ser a causa de um outro e efeito daquilo que o precedeu. Nas palavras de Dewey
(2010 a), “um acontecimento implica aquilo de que provém”:
Por ‘notícias’ entende-se um facto que acaba de acontecer e que não é novo senão porque se desvia em
relação ao que é antigo e regular. Mas a significação desse facto depende da sua relação ao que ele
acarreta e à natureza das suas consequências sociais. O seu impacto não pode ser determinado se o
novo não for colocado em relação ao antigo, ao que se passou e ao que foi integrado no curso dos
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acontecimentos. Sem coordenação nem consecução, os acontecimentos não são acontecimentos, mas
simples ocorrências, intrusões; um acontecimento implica aquilo de que provém. (p. 278-279)
As consequências do acontecimento estabelecem o seu sentido, devendo-se ao modo como a
sua ocorrência e os seus efeitos são interpretados, vividos e apropriados na experiência pública. Mas a
sua significação também se deve à relação com outros acontecimentos passados e às significações
que lhe são atribuídas pela sua inscrição social e cultural num contexto de normas, regras e
convenções. Além disso, o passado do acontecimento não lhe pré-existe, mas é função da sua
ocorrência, de uma descrição do mesmo e de um contexto de sentido. Como observa Louis Quéré
(2005), “é preciso que se produza o acontecimento para que haja um passado do acontecimento. Um
passado relativo, em exclusivo, a esse acontecimento e à maneira pela qual ele é percebido,
identificado e descrito” (p. 62).
2.2 Emergência, descontinuidade e continuidade
A par da descontinuidade provocada pelo acontecimento, pode também ser invocada uma
continuidade em relação a outros eventos, no caso outros protestos pelo clima conduzidos pelos
estudantes e pela Greve Climática Estudantil. Este grupo surgiu em 2019 e organizou a primeira greve
internacional às aulas pelo clima, que aconteceu dia 15 de março de 2019, no seguimento da
convocatória do Fridays for Future (FFF) internacional.4
4Como origem destes movimentos está a greve às aulas iniciada pela jovem sueca Greta Thunberg, em agosto de 2018, que iniciou o seu protesto diante
do parlamento sueco, utilizando também o Instagram e o Twitter, o que se tornou viral.
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Igualmente, em abril de 2023, em mais de uma dezena de estabelecimentos de ensino, os
estudantes voltaram às ocupações pelo clima, naquilo que designaram como “Primavera das Ocupas”.5
Ou seja, os movimentos de ocupação na “Primavera das Ocupas”, ao mesmo tempo que retomam uma
continuidade com as ocupações de 20226, também introduzem uma rutura com a ordem social
instituída. Além disso, há no próprio movimento o intuito de causar disrupção: uma porta-voz do grupo
“Primavera das Ocupas” afirmou “estamos aqui para criar disrupção”.” (Flor, A., 27 de abril de 2023).
Portanto, há a emergência acontecimental que causa rompimento. Como afirmam, “porque todas nós
[ocupas; pessoas] precisamos de criar ‘disrupção para parar com a destruição’ ”. (Greve Climática
Lisboa, Primavera 2023)7
Como considera Jean Ladrière (1984, p.297), o acontecimento “é ao mesmo tempo transição e
emergência, englobando a continuidade e a descontinuidade, a semelhança e a diferença, a renovação
e a novidade”. Ou seja, os acontecimentos são eruptivos e disruptivos e não se repetem (Roger
Chartier, 1999)8. Por sua vez, as descontinuidades são resolvidas pelo trabalho historiográfico que, de
acordo com a ideia de processo e continuidade, consiste numa doação de sentido, por meio da
8Roger Chartier(1999) observa que a história é feita de descontinuidades, na própria medida em que os acontecimentos não se repetem, e parte do
trabalho historiográfico é uma doação de sentido por meio de uma sequencialidade e interligação entre factos que introduz uma interpretação e uma
explicação (hermenêutica histórica). Há uma descontinuidade histórica e uma continuidade narrativa.
7“Com estas ocupações de secundários e universidades, vamoscriar disrupçãonobusiness-as-usualda sociedade para gritar que a nossa casa está a
arder.Vamos fechar escolas e universidades para que as nossas reivindicações sejam ouvidas, provando ao mesmo tempo que outro mundo é possível.Ao
mesmo tempo, sabemos queprecisamos de toda a sociedade a tomar ação radical connoscopara pôr fim ao fóssil. Nestas ocupas, vamos apelar a todas
as pessoas para tomarem ação radical connosco para acabar com a economia fóssil e assegurar justiça climática.”
6No site da Greve Climática Lisboa é dito: “Nas ocupações de Novembro dissemos ‘na primavera de 2023 comprometemo-nos a voltar com mais força
para vencermos, ocupando pelo menos o dobro de escolas e faculdades do que ocupámos este novembro, e comprometendo-nos ainda a que pelo
menos uma destas ocupações seja realizada fora de Lisboa, expandindo esta luta urgente e universal ao resto de Portugal.’ ”
5“‘Primavera das Ocupas’ promete não arredar o pé de mais de uma dezena de estabelecimentos de ensino até que 1500 pessoas se comprometam em
participar numa acção no porto de Sines.”(Aline Flor, Público, 26 de Abril de 2023).
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interligação de sequencialidades temporais e de conexões causais entre factos e acontecimentos. Mas
se o trabalho historiográfico introduz, retrospetivamente, o fio condutor ou a trama narrativa, é Hannah
Arendt (1990) quem alerta que a história não é uma sucessão de acontecimentos, um tempo
homogéneo e vazio, mas é pensada por meio dos rompimentos que quebram o continuum histórico.
Há, portanto, uma descontinuidade histórica e uma continuidade narrativa operada pela historiografia.9
Na narrativa do passado, importa a possibilidade de narrar experiências que possam ser apreendidas e
que revelem o sentido dos acontecimentos políticos do presente. Porque, como esclarece Arendt, o
presente não esquece nem domestica o passado, mas recuperar o passado é uma primeira garantia de
um sentido para o presente.
Também o acontecimento social é menos uma entidade independente – apesar de, em termos
ontológicos, o acontecimento ser uma entidade singular ou um particular – porque é um acontecimento
intencional e uma relação. Uma manifestação de protesto contra as alterações climáticas, uma rebelião,
ou uma ocupação, é o resultado de relações intencionais entre atores sociais; o que não é o caso de
catástrofes físicas, que são sobretudo entidades independentes, não relacionais e não intencionais. Por
isso, a significação do acontecimento social deve-se igualmente à sua relação com outros
acontecimentos e às significações sociais instituídas. Ou seja, o acontecimento não é significativo em si
mesmo. A “operação configurante”, segundo a expressão de Louis O. Mink (1978), por meio da intriga
(mise en intrigue), que é uma “síntese do heterogéneo”, produz uma totalidade organizada e inteligível
9O conceito de história, proposto por Hannah Arendt, recupera os acontecimentos e factos históricos nas suas particularidades e de acordo com sua
importância para o presente. “A história – fundada sobre a hipótese manifesta que as ações singulares, tão contingentes quanto possam parecer no
momento e na sua singularidade, conduzem inevitavelmente a uma sucessão de acontecimentos formando uma história que pode ser restituída por uma
narrativa inteligível desde o momento em que os acontecimentos recuaram para o passado – torna-se a grande dimensão em que os homens se podiam
reconciliar com a realidade” (Arendt, 1990, p. 114).
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(Ricoeur, 1983), que articula a dimensão cronológica ou episódica com a dimensão configurante. Ora,
como a intriga estrutura o que aconteceu à luz do ponto final, o acontecimento é conectado com outros
acontecimentos e adquire um carácter de necessidade que lhe é conferido pelo desfecho da história. A
narrativa é marcada por uma tensão entre contingência e ordem, entre episódio e configuração, entre
discordância e concordância.
Deste modo, o acontecimento é vivido e experienciado e, em certa medida, objetualizado ou
tornado objeto numa narrativa.
2.3 A ocupação como acontecimento existencial e como objeto, e como acontecimento jornalístico
A ocupação foi um acontecimento inesperado, vivido por todos aqueles que o experienciaram, foi
notícia nos media e objeto mediático de visibilidade e relato públicos. Louis Quéré (2012, p. 24)
reporta-se a duas noções de acontecimento: o “acontecimento existencial” sentido e padecido ao nível
da experiência direta, da percepção e da emoção, e o “acontecimento-objeto”, ou seja, o
acontecimento convertido em objeto pelo discurso, pelo pensamento, pela comunicação.
A principal distinção que podemos fazer é a seguinte: os acontecimentos como mudanças contingentes
que se produzem concretamente no nosso meio, portanto, os acontecimentos existenciais, e os
acontecimentos como objetos (objetos de consciência, de pensamento, de discurso, de investigação e de
julgamento) (Quéré, 2012, p. 24).
O “acontecimento-existencial” liga-se à maneira como as pessoas o vivem, como são afetadas
por ele e como lhe respondem. Aplica-se aqui a noção de experiência em John Dewey (1934) que se
liga às condições de ocorrência e ao modo como é vivida. Como esclareceu Dewey (2010 b), a
experiência acontece entre um indivíduo e o meio, ou entre este e outras pessoas ou objetos, e resulta
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de relações intersubjetivas, da comunicação, da exposição aos acontecimentos, às condições do meio
ambiente e aos objetos que afetam o indivíduo.10 A experiência é da ordem de uma transação
subjetivante e objetivante entre um organismo e o seu meio ambiente, ou função da transação que
acontece entre um indivíduo e aquilo que, naquele momento, constitui a sua situação. O meio
envolvente ou a situação são quaisquer condições que interagem com necessidades pessoais, desejos,
objetivos e capacidades para criar a experiência (Dewey, 2001), logo, a situação é composta pela
interação entre as condições objetivas e as condições internas, ou seja, condições que interagem com
necessidades pessoais, desejos, objetivos e capacidades para criar a experiência.11
Enquanto “acontecimento existencial” (Quéré, 2012), a ocupação dos espaços académicos e
escolares foi sentida e padecida ao nível da experiência vivida por todos aqueles ativistas que estavam
nos locais ocupados, mas também, mais indiretamente, por todos aqueles que pertencem a essas
instituições, nelas circulam e permanecem mais ou menos tempo, e pelos públicos espectadores dos
media convencionais e os usuários das redes.
Enquanto “acontecimento-objecto” (Quéré, 2012) originou opiniões, juízos, comentários e
debates, e diferentes reações em termos de percepção, entendimento, opinião e emoção. O
acontecimento-objeto é recortado no meio ambiente onde ocorre e, por meio de operações diversas,
torna-se objeto de pensamento, de discurso, de comunicação, de juízo, de exploração ou inquérito, e,
11 “Un environnement est constitué par les interactions existant entre les choses et une créature vivante. Il est, en premier lieu, le théâtre des actions
accomplies et des conséquences subies au cours de l’interaction; ce n’est qu’en second lieu que des parties et des aspects de l’environnement deviennent
des objets de connaissance. Ses éléments constitutifs sont avant tout des objets d’utilisation, de jouissance et de souffrance, non des objets de
connaissance” (Dewey, Logique, p.220-221, apud Bidet, Quéré e Truc, 2011, p. 42).
10 “Uma experiência é sempre aquilo que é em função da transacção que acontece entre um indivíduo e aquilo que, naquele momento, constitui a sua
situação” (Dewey, 1997, p. 43).
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claro, também de experiência. Adquire significados e uma identidade “sob uma descrição” (Anscombe,
1981), muitas vezes para fins práticos de como reagir-lhe e responder-lhe.12 L. O. Mink (1978) adverte,
mesmo, que “nós não nos podemos referir a acontecimentos em si mesmos, mas somente a
acontecimentos ‘sob uma descrição’ “. Mas também pode referir-se que, mediante essas operações
(discursivas, de problematização e exame, de juízo, etc.), o acontecimento-objeto é separado do meio
do qual faz parte, adquire um novo contexto e novas relações. Como Vera França (2012) salienta,
“transformados em narrativas, os acontecimentos passam a existir tambem como discurso,
representacão” (p. 14). E a autora adianta ainda que “essas duas vidas [do acontecimento] coexistem”;
mas não coincidirão, porque a experiência não é subtraída à narrativa (que, porém, a elabora), podendo
a vivência do acontecimento exceder o relato, ou o inverso, porque a história do acontecimento está
para além do que ocorreu.13
No caso, diga-se, por exemplo, que as ocupações desencadearam apreciações,
problematizações (de cariz académico, político, jurídico, cultural), juízos de valor e reações diversas,
quer por parte das direções e associações académicas, por parte das forças policiais14 e das “opiniões
14 “Os activistas climáticos que desde segunda-feira ocupam a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa começaram a sair da instalação académica
às 23h40 de sexta-feira, constatou a Lusa no local. No total saíram nove membros do movimento estudantil “Fim ao Fóssil: Ocupa!”, tendo ficado quatro
para identificação e eventual detenção policial.” (Público, 11 de Novembro de 2022).
13 “Muitas vezes, experimentando uma determinada situacão forte, somos invadidos por outras cenas – do javivido, do javisto, e que sobrevive na forma de
imagens simbolicas. E tais cenas (de outras experiencias, as vezes atede filmes ou da narrativa de terceiros) atuam na intensidade maior ou menor com que
somos afetados. Da mesma maneira, a realizacão do acontecimento na forma do simbolico (o acontecimento como narrativa) traz as marcas do vivido. A
experiencia do narrador traduz-se na criacão simbolica, na construcão discursiva. E esta, ao ganhar uma existencia propria, quase uma autonomia, nao
corta completamente os lacos com o dominio do sensivel. Ela emarcada pelo vivido, e epor isso que remete de novo ao acontecido, numa recursividade
sem fim.” (França, 2012, p. 14).
12 Na perspetiva da semântica natural da ação (Ricœur, 1983; 1990) ou da semântica do acontecimento, a identificação de um acontecimento responde à
questão o quê?; o que é que se passou? ou de que é que se trata? A reposta: trata-se de uma “ocupação” ou de uma “manifestação” coloca a identidade
do acontecimento.
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públicas” (no plural). A narrativa das ocupações inclui os seus efeitos (desejados ou indesejados) e o
futuro do movimento.
A imprensa, ou o relato jornalístico, pelo seu lado, tende, justamente, a operar um
enquadramento do acontecimento social dotando-o de um contexto, de uma textura causal, de motivos
e intenções, de acordo com a construção da notícia. Nessa medida, o jornalismo acompanha a
investigação que Quéré situa no acontecimento-objeto, comportando procedimentos de pesquisa,
seleção e edição, e até incluindo na notícia declarações, depoimentos, testemunhos, comunicados,
conferências de imprensa, entrevistas, que são elementos que integram a produção jornalística do
acontecimento. Por isso, o acontecimento jornalístico não é objeto da (nossa) experiência direta, é
mediado, está recortado, construído (Tuchman, 1978). e separado do seu meio ambiente, mas é motor
da nossa curiosidade e pode surpreender-nos.
Por sua vez, nas redes e nos media digitais, as relações mediais e conectivas são em direto, e
respondem a uma vontade de imediaticidade. A ação conectiva (Bennett e Segerberg, 2012), ou a ação
digital em rede (digital networks action – DNA), caracteriza-se por interatividade, instantaneidade,
atualização contínua e disseminação de mensagens. Ao mesmo tempo, existe uma mediação, ou
remediação,multimédia entredispositivos tecnológicos (smartphone, computador), formatos
edata(imagens, fotografias, vídeos,áudio, textos) e plataformas (Instagram, Tiktok, Facebook, YouTube,
WhatsApp, websites, etc.).Refira-se, porexemplo, como com uma fotografia da ocupação de uma
universidade que é colocada e reproduzida (remediada) nas diferentes redes e plataformas sociais,se
estabelece uma condição de multimedialidade e a comunicação torna-se múltipla e híbrida.
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É assim que, nas últimas décadas, vários autores consideram que o digital tem vindo afirmar-se
como o modo principal de mediar a nossa percepção do mundo e a nossa interação com ele. Isso
também ocorre ao nível das ações públicas e dos movimentos de protesto, conquanto estes, como
vamos dar conta de seguida, não tenham abandonado o espaço urbano.
3 A ocupação do espaço público na era digital
O movimento “Fim ao fóssil: Ocupa!”, ao ocupar instalações e espaços de ensino durante uma
semana, reapropriou-se desses espaços, re-significando-os enquanto lugares de luta, reivindicação,
apropriação mediação. Essa ocupação rompeu com a ordem social e, em consequência, modificou as
suas condições de existência, desde logo alterando os espaços ocupados e a sua natureza de lugares
públicos ou quase-públicos. Com efeito, há como que uma privatização desses espaços pelos jovens
estudantes, porque neles montam tendas, acampam, sentam-se, cozinham, convivem, difundem a sua
causa. Essa é a dimensão existencial e fenomenológica da ocorrência aqui e agora. Mas,
simultaneamente, estão presentes na Internet em plataformas como a Greve Climática estudantil
(https://greveclimaticalisboa.org), estão no Instagram (@greveclimaticaestudantil), TikTok e Facebook
(greveclimaticaestudantil).
Nessa medida, os espaços urbanos são lugares de acessibilidade, circulação, comunicação
pública e coletiva e, com os dispositivos de comunicação pessoal, tornaram-se também lugares de
personalização e privatização da comunicação (o caso das selfies, por exemplo). Como a “ocupação”
também produz um efeito de privatização. Porém, como é observável ao nível da ação de acampar ou
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de ocupar, a vulgarização do uso da internet não conduziu a um domínio hegemónico das ações
digitais conectivas ou em rede e dos movimentos virtuais. Recorde-se o movimento Occupy Wall Street
(2011) que a partir de Nova Iorque irradiou para outras cidades no mundo, e usou como paradigma de
ação o direito a ocupar o espaço público e a carga simbólica deste. Estas ações ativistas captam o
espírito dos espaços (praças e lugares simbólicos) que ocupam ou nos quais se manifestam. Assim, as
mobilizações são operadas online e multiplicam-se nas redes, mas a participação ativista no espaço
público caracteriza-se, como no passado, pela ocupação dos espaços físicos urbanos. Por um lado, as
conexões digitais entre ativistas multiplicaram-se, por outro, as pessoas também se encontram e se
reúnem em espaços, locais, por meio de encontros físicos. Desde 2011, a ocupação dos espaços
públicos urbanos e, em particular, das praças e lugares simbólicos, está no âmago desses movimentos,
como aliás Geoffrey Pleyers (2013) e vários autores têm vindo a confirmar.
Porém, a presença física no espaço público urbano também se alterou. Se o espaço público
permanece como lugar de ação coletiva de protesto, reivindicação, denúncia, manifestação, ocupação,
de celebração ou comemoração, etc., com a dimensão cénica da copresença física, também as
práticas mediáticas e as mediações tecnológicas estão lá (em certa medida, e em outros moldes e
formatos sempre estiveram). Mas, concomitante e simultaneamente ao uso mais ou menos
generalizado da internet, vejam-se os espaços públicos ocupados como a praça Tahrir no Egipto (em
2011)15, o parque Gezi em Istambul (em 2013)16, as manifestações e protestos como Os Indignados ou
Movimiento 15-M (em 2011) na Puerta del Sol em Madrid, Geracão aRasca em Portugal (em 2011),
16 A ocupação significa a apropriação do lugar e está indissocialvelmente ligada a este. Foi isso que ocorreu no parque Gezi, em Istambul, em 2013, em
que, contra um projeto comercial, houve a reivindicação do uso desse espaço pelos cidadãos.
15 As rebeliões no mundo árabe de 2011 em diante.
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Que Se Lixe a Troika em Portugal (em 2012 e 2013), Movimento Passe Livre no Brasil (em 2013),
mobilizacões publicas na Bulgaria (em 2013), Nao Vai Ter Copa no Brasil (em 2014), Greve Climatica
Global (de 2018 em diante), etc. Os espaços urbanos mantêm-se como lugares de manifestações
públicas, como a praça Syntagma em Atenas (desde 2011), de “marchas” (e.g., Slutwalk, desde 2011,
Marcha das Mulheres Indígenas, em Brasília, desde 2021), “greves” (e.g., Greve Feminista Internacional,
Greve Climática Mundial), de manifestações contra o racismo, a xenofobia, pelo direito à habitação, etc.
Como Gohn (2011) salientou, “os principais movimentos sociais atuam através de redes sociais, sejam
elas locais, regionais, nacionais, internacionais ou transnacionais, e utilizam os novos meios de
comunicação e informação, como a Internet” (p. 335).
A utilização das novas ferramentas tecnológicas veio introduzir mudanças nas práticas de
mobilização, tornando-as bem mais rápidas e ilimitadas. Simultaneamente, o uso das redes e dos
media sociais para as mobilizações públicas e durante os protestos não demoveu a participação física
dos atores nos espaços públicos urbanos (Koleva, 2013; Pleyers, 2013; Rouet, 2013).
3.1 Conectar-se e ocupar. Ativismo digital nas redes e ativismo na rua
A atividade de protesto e de organização está a ocorrer tanto em linha (online) como fora, utilizando
tecnologias de diferentes capacidades, o que por vezes torna relevante a distinção entre online/offline,
mas a maioria das vezes não” (Bennett e Segerberg, 2012, p. 749).
O uso da Internet e dos media sociais nos fenómenos ativistas vulgarizou-se e podem referir-se
"sistemas mediáticos híbridos" (“hybrid media systems”; Chadwick, 2013), em que coexistem lógicas
mediáticas e práticas de comunicação convencionais e novas. A organização, mobilização e ação de
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protesto faz-se nas redes digitais e fora, tornando a distinção on-line / off-line geralmente não relevante
(Earl & Kimport, 2011), com modalidades híbridas entre compromisso online e presencial.
Não há uma separação entre o mundo online e offline (Pleyers & Capitaine, 2016, p. 55), e as
oposições binárias entre o mundo “virtual” do ciberativismo e o mundo “real” das mobilizações nas ruas
e nas praças esbatem-se. Existem antes formas de hibridização entre ativismo online e offline, até
porque nas manifestações e ocupações no espaço público urbano os atores mantêm-se online. As
redes sociais vieram contribuir para o fim das separações ou cesuras entre público e privado, individual
e coletivo, jornalismo, defesa de causas e ativismo digital, e também entre informação e mobilização,
observação e participação, como ocorreu também com o fim de outros dualismos.17 Assim como se
está a transitar de mobilizações inseridas em quadros políticos, partidários e ideológicos definidos, para
formas mais individualizadas de expressão de ideias, sentimentos, opiniões, e de “comprometimento
expressivo” (Cardon e Granjon, 2013) e de não comprometimento. Como Neil Alperstein (2021) afirma,
As plataformas digitais são necessárias para que as pessoas investam o suficiente numa causa e se
manifestem em protesto. Dito isto, haverá sempre a categoria dos “slacktivists” que se contentam em
carregar no botão “like” para exprimir as suas emoções sobre uma questão social.” (p. xiii)
O ativismo dos jovens, como no caso das greves climáticas globais, também não deve ser
entendido à luz das separações entre vida privada e compromisso ou ação pública, ou entre o mundo
"virtual" das redes sociais e a vida "real" e a política. Como Pleyers & Capitaine (2016, p. 53) observam,
17 Contra a ordem dual dicotómica que vigorou na filosofia ocidental clássica, John Dewey e os pragmatistas norte-americanos, como William James e
Georges-Herbert Mead, já nos finais do século XIX e início do XX, se insurgiram contra as oposições entre sujeito e objeto, indivíduo e meio, interior e
exterior, matéria e forma, cultura e natureza. Também os autores que, mais recentemente, refletem sobre ecologias ou ecossistemas, humanos e não
humanos, como Bruno Latour, Donna Haraway, Emanuele Coccia, Erich Hörl, Peter Singer, Phillipe Descolas, Viveiros de Castro e outros, rejeitam o
pensamento dicotómico seja para pensar a natureza, a cultura, a técnica, as plantas, os animais, os humanos, os objetos, ou o planeta.
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as novas formas de cidadania e de ativismo situam-se entre a vida quotidiana e a política, entre o
mundo da Internet e o da praça pública, entre as redes sociais e a socialização nos espaços de
ativismo. Por sua vez, Pleyers (2013) deu conta que nos acampamentos Occupy o uso das redes
sociais foi tal que a experiência subjetiva dos ativistas foi forjada tanto na praça quanto nos media. Nos
acampamentos dos estudantes, a experiência do local foi também vivida com a comunicação online,
essencialmente ao nível do Instagram, TikTok, Facebook.
Por um lado, retiraram-se as barreiras que bloqueavam o acesso à palavra pública, tornando-se
possíveis formas diversas de tomada da palavra mais subjetivas, pessoais e privadas (Cardon, 2011).
Por outro lado, novos atores tomam a palavra nos espaços públicos online e, como Cardon (2011)
enuncia, há uma “comunicação privada em público”, que escapa aos códigos anteriores, sobretudo dos
media convencionais. No contexto digital há um potencial emancipatório, que os jovens da Greve
Climática Global utilizam. As plataformas digitais são uma arena de acesso a novos atores e públicos,
proporcionam ferramentas que possibilitam a auto-organização de ativistas e grupos, a maior
participação de pessoas, ONG, coletivos, grupos de comunicação alternativa, etc., com produção e
disseminação de conteúdos (textos, fotografias, vídeos, etc.). Constituem-se comunidades virtuais (com
auto-organização como no caso da Wikipédia), um sítio Web para patrocinar uma causa, uma
plataforma para formas de luta (e.g., página da Greve Climática Estudantil), ou petições online, etc.
Está-se em relações mediais e mediadas.
Contudo, como J. B. Thompson (2005) adverte, os meios de comunicação não são meros
dispositivos técnicos que transmitem informações de um indivíduo para outro deixando intacta a
relação. Com as redes sociais, justamente, surgem novas formas de ação, relação e interação, mais
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individualizadas, descomprometidas, criativas, heterogéneas, plurais, transitórias e efémeras. O
dispositivo de comunicação eletrónica de uso pessoal veio individualizar a comunicação na rede (media
individualizados), porque na rede a comunicação é interativa, individual, global e massificada –
“comunicação interpessoal de massa” (Baym, 1998; apud Mercklé, 2011, p. 11). Há uma interatividade
que articula autonomia e conectividade ao conjunto e que Manuel Castells (2009) enuncia como mass
self-communication. A “auto-comunicação de massas” combina o inconciliável: a individualidade e a
autonomia, com a massa, ou a individualização com a integração no todo, quando, na perspetiva
clássica, na massa não há lugar para a individuação.
É assim que, nas duas últimas décadas, se assiste a movimentos ativistas e a casos
transnacionais e tecnologicamente mediados de ativismo, como justamente os movimentos FFF e a
Greve Climática Estudantil. Isto significa que esta acão partilhada na rede pode desencadear
entendimentos e causas comuns, vir a organizar-se como acão quase-coletiva18 sem ocasionar, como
seu resultado, um sujeito coletivo ou um “nos” unido, ou, ao inves, sem que ela advenha de um coletivo
pre-existente.
18 Usei a expressão ação “quase-coletiva”, num outro texto (Babo, 2018), dada a dispersão da ação nas redes. Nestas, há “menor organização, ou ausência
desta, maior nível de reação ou reatividade do que atividade conjunta”. “No quadro das mobilizações convocadas nas redes (‘e-mobilizações’), poderão
ações quase-coletivas (e quase-coletivos) formar-se online, ou não se formar. [...] Com os protestos e as mobilizações a ocorrerem tanto online como offline,
[...] tendem a instaurar-se regimes híbridos, constituídos por comunicações online e offline, ações conectivas e ações coletivas, ações individuais e
quase-coletivas” (Babo, 2018, p. 233).
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4 Ativismo pelo clima e causa comum
A atenção partilhada na rede – que não é, como veremos adiante, a atenção conjunta que cria
um espaço comum tópico (Taylor, 2006) – estasujeita a um princípio de fragmentação e, como disse, a
um carácter mais pessoal e individualizado. Porém, o ativismo em rede, na medida em que desencadeia
informações e ações partilhadas por utilizadores-emissores-receptores, que colocam em comum ideias
e interesses e atribuem significações ao que partilham, pode originar uma causa comum.
Os movimentos Mobilização Global pelo Clima ou FFF e Greve Climática Estudantil mostram
como em várias cidades no mundo se criaram relações entre movimentos de ocupação, suportados
pelo digital e pelas manifestações físicas nos espaços urbanos. Em diversas cidades, desde 2018, e
muito expressivamente em março e setembro de 2019, em mais de uma centena de países, jovens
estudantes manifestaram-se nas ruas, exigindo medidas em relação às mudanças climáticas. Na
sequência das greves escolares iniciadas em 2018, em 2019 aumentaram as manifestações pelo clima
que alastraram mundialmente.
O estudo “Protest for a Future II”, conduzido por Moor et al. (2020), mostrou que os protestos de
setembro de 2019 constituíram o maior protesto climático coordenado globalmente (até à data e, ainda
hoje, um dos maiores protestos), assim como evidenciou que as redes sociais (Facebook, Twitter,
Instagram) foram identificadas pelos entrevistados como o meio de informação mais importante.
Ora, as greves estudantis, os protestos contra as alterações climáticas e as manifestações pelo
clima geraram a focalização de uma “atenção conjunta” (Taylor, 2006) por parte de atores que prestam
mutuamente atenção em torno de um mesmo tema e de um mesmo problema, elaborando, assim, uma
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causa comum. O filósofo canadiano Charles Taylor (2010, p. 7) expõe o seguinte: a partir de pessoas
reunidas num determinado lugar para algum fim, e que partilham a experiência de uma “atenção
(recíproca) conjunta” coordenada, surge um espaço comum tópico. Ora, essa luta comum que
desencadeia ações coletivas que requerem convergência, partilha e associação, propicia a formação de
um espaço comum e cimenta uma causa global que reúne vários.19
O “espaço comum tópico”, na concepção de Taylor (2006), é o lugar de uma “atenção conjunta”
coordenada, o que implica uma focalização comum por parte de parceiros que prestam mutuamente
atenção a um objeto ou a um acontecimento e partilham essa experiência de atenção recíproca. Como
a propósito observou Quéré (2015, p. 16), esta definição dá-nos “a operacionalidade da
autocompreensão” daqueles que se focalizam em conjunto sobre um mesmo objeto, notícia ou
acontecimento, ou que participam num debate público que inclui e ultrapassa as suas conversas sociais
e particulares. Prestam uma forma de “atenção (recíproca) conjunta” e este espaço comum é sempre
“um lugar de sociação e de individuação”. De acordo com o exemplo dado por Taylor, a partir de uma
assembleia reunida num determinado lugar surge um espaço comum tópico, distinto de um espaço
metatópico, que é a esfera pública, i.e., um espaço comum não local.20
20 Taylor (2010) esclarece: “a esfera pública é algo de diferente. Transcende tais espaços tópicos. Poderíamos dizer que ela agrupa uma pluralidade desses
espaços num espaço mais amplo de não-assembleia. A mesma discussão pública passa, supostamente, pelo nosso debate hoje, pela conversa séria de
alguém amanhã, pela entrevista no jornal na quarta-feira, e assim por diante. Chamo “metatópico” a este tipo mais amplo de espaço comum não local. A
esfera pública que emerge no século XVIII é um espaço comum metatópico. Tais espaços são, em parte, constituídos por compreensões comuns; isto é,
não são redutíveis a tais entendimentos, mas não podem existir sem eles. (Taylor, 2010, p. 7). A esfera pública é um “espaço extrapolítico, secular,
metatópico” (Taylor, 2010, p. 23).
19 Ver I. Babo (2021), onde aplico a concepção e a teoria de Charles Taylor à Greve Climática Global de 2019.
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Por sua vez, a comunicação eletrónica organiza um ecossistema reticular atópico, como
Massimo Di Felice (2012) expõe, formado por redes tecno-humanas, dados, algoritmos, criando uma
condição habitativa “atópica” que “envolve ecossistemas comunicativos e informativos” (Di Felice, 2012,
p. 43). Nas ecologias digitais advêm relações atópicas e desespacializadas. Thompson (2005, p. 70),
pelo seu lado, salienta que os media eletrónicos criaram uma visibilidade desvinculada da partilha de um
espaço comum que poderia chamar-se de "simultaneidade desespacializada". Todavia, a mobilização
internacional dos estudantes para ações conjuntas e simultâneas pelo clima (que foram coincidentes no
tempo, embora dispersas em termos territoriais e geográficos) originou, por um lado, a formação de
uma causa comum (do domínio metatópico) e, por outro lado, a ação comum e a fixação conjunta da
atenção em espaços comuns tópicos. Se a ocupação é a criação de um “espaço comum tópico”, a
construção de uma causa mundial reporta-se a uma esfera pública metatópica.
4.1 Do comum e da interseccionalidade
As greves climáticas globais têm como pano de fundo um protesto comum pelo clima que se
estende à escala planetária e a questões globais que coexistem com os problemas particulares. Estes
movimentos são eles próprios transnacionais e interseccionam vários movimentos sociais e ativismos,
diferentes discursos e uma grande diversidade cultural.
Esta interseccionalidade, que vigora em discursos, denúncias, reivindicações, slogans, acontece
porque a causa do clima é associada pelos ativistas a outras causas e problemas, como o racismo, o
colonialismo, o patriarcado, etc., sendo até entendida como o resultado destes. No manifesto da greve
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e manifestação organizadas pela Greve Climática Estudantil com o tema People, Not Profit, ou Pessoas,
Não Lucro, dia 25 de março de 2022, essa relação é colocada: “O cenário climático catastrófico atual é
o resultado de séculos de exploração e opressão através de colonialismo, extrativismo e capitalismo. É,
portanto, crucial corrigir os erros do passado para alterarmos o nosso futuro.”
Da interseccionalidade resulta poder dar-se conta dos efeitos simultâneos e interconectados da
discriminação em torno da raça, do género, da geografia, da classe social, etc. Por isso, a pluralidade
das causas acaba por se exprimir em termos de interseccionalidade, para responder à emergência
climática, impedir atentados aos direitos humanos, em defesa das mulheres, dos pobres, etc. Do
mesmo modo, durante a ocupação estudantil, em 2022, como menciona o jornal Público, os
estudantes“ exigiam maisdo que apenas questões relacionadas com a crise climática” (Público, 11 de
novembro de 2022).
5 Considerações finais
A par dos efeitos de fragmentação e individualismo da comunicação digital, a par da
simultaneidade desespacializada e das relações atópicas, com a Greve Climática Estudantil há a
formação de um sentido do comum e de um projeto político global. Ativistas e movimentos de protesto
movem-se para além dos particularismos e da multiplicidade dos problemas locais e regionais numa
focalização conjunta e comum sobre os problemas climáticos.
As ações destes ativistas, embora criem uma certa continuidade entre o novo e o passado,
emergem de cada vez com efeito de novidade, enquanto acontecimento. Por isso, propus-me a tratar o
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movimento de ocupação de universidades e escolas ocorrido em 2022 como advento, emergência,
irrupção e transição. Ademais, e se o historiador Pierre Nora (1974) já considerava que “é próprio do
acontecimento moderno desenrolar-se sobre uma cena imediatamente pública” (p.218), dei conta como
esse acontecimento foi disseminado. Hoje, na era digital, o imediatismo faz-se sentir na publicidade (no
sentido primeiro do termo, tornar público) e na visibilidade ampliada pelas inúmeras possibilidades
multimédia.
Ao mesmo tempo, dei conta que, embora estejamos a viver numa ecologia medial em que os
jovens que se encontram imersos nas redes e nos media sociais, também há uma hibridez das
mediações e eles continuam a recorrer à ação de “ocupação” de um lugar, mesmo se esta não é vivida
como antes. Em função do exposto, os desafios com os quais nos confrontamos são refletir sobre os
regimes comunicacionais híbridos, sobre em que medida as modalidades de ativismo online se
combinam com as modalidades de ativismo físico e como numa época de comunicação cada vez mais
individualizada e dispersa existe a formação de causas comuns que congregam inquietações,
reivindicações e vontades.
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Esferas, ano 14, vol. 3, nº 31, setembro/dezembro de 2024 | ISSN 2446-6190