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Avaliação das concentrações de metais-traço em sedimentos do sistema estuarino-lagunar
de Itarema, litoral oeste do Ceará
Evaluation of concentrations of metal-trace in sediments of the estuarine-lacunar system of Itarema,
west coast of Ceará
Evaluación de las concentraciones de metales-traza en sedimentos del sistema estuarino-laguna de
Itarema, litoral oeste del Ceará
Franciane Pinto Calandrine
Universidade Estadual do Ceará
ane_calandrine91@hotmail.com
Lidriana de Souza Pinheiro
Universidade Federal do Ceará
lidriana.lgco@gmail.com
Resumo
Os estuários são áreas de transição, onde a água do mar mistura-se a água do rio ou lagoa. A
sedimentação nos ambientes estuarinos é formada por sedimentos fluviais e marinhos e sua
dinâmica modifica ao longo do tempo dependendo de fatores geológicos, fluviais, climáticos e
antropogênicos, cedendo informações sobre gênese, transporte e características do ambiente
deposicional. Os metais-traço unem-se aos sedimentos mais finos e o processo de contaminação
nesses ambientes está relacionado ao aumento da urbanização em seu entorno, no caso da área de
estudo, os condicionantes antrópicos predominantes são carcinicultura e Porto dos Barcos. O
objetivo do presente trabalho é avaliar as concentrações de metais-traço nos sedimentos do sistema
estuarino-lagunar de Itarema e correlacioná-las com a granulometria, os teores de carbonato de
cálcio (CaCO3) e de matéria orgânica (MO) dos sedimentos. A metodologia deu-se em quatro
estágios: gabinete, campo, laboratório e escritório. Os resultados principais foram: os sedimentos
que predominam no ambiente estuarino são lamas, lamas-arenosas e areia-lamosa; no testemunho
A1, CaCO3 apresenta boa correlação com MO e correlação baixa com Cd, Al, Fe e Pb e com Cu e
Zn correlação negativa. MO apresenta correlação negativa com todos os metais. No A2, CaCO3
apresenta correlação positiva com MO e negativa com todos os metais. MO apresenta correlação
baixa com Pb e Al e negativa com demais metais. No A3, CaCO3 apresenta boa correlação com MO
e Cd, Cu e Zn e negativa com Al, Fe e Pb. MO segue CaCO3, porém com Zn a correlação é
negativa.
Palavras-chave: Estuários, Sedimentos, Condicionantes Antrópicos.
Abstract
The estuaries are transition areas, where sea water mixes up with river or pond water.
Sedimentation in estuarine environments is formed by fluvial and marine sediments and their
dynamics changes over time depending on geological, fluvial, climatic and anthropogenic factors,
yielding information on genesis, transport and characteristics of the depositional environment.
Trace metals bind to the finer sediments and the process of contamination in these environments is
related to the increase of urbanization in their surroundings, in the case of the study area, the
ISSN 1980-5772
eISSN 2177-4307
10.18227/2177-4307.acta.v18i48.5410 ACTA Geográfica, Boa Vista, v. 18, n. 48, jan.-abr. 2024. Pp. 162-182
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predominant anthropic conditions are shrimp farming and Port of Boats. The objective of the
present work is to evaluate the concentrations of trace metals in the sediments of the estuarine-
lagoon system of Itarema and to correlate them with the grain size, calcium carbonate (CaCO3) and
organic matter (OM) contents of the sediments. The methodology was given in four stages: office,
field, laboratory and office. The main results were: sediments that predominate in the estuarine
environment are sludge, sand sludge and sand-lamosa; in the A1 report, CaCO3 shows good
correlation with OM and low correlation with Cd, Al, Fe and Pb and with Cu and Zn negative
correlation. MO shows negative correlation with all metals. In A2, CaCO3 presents positive
correlation with OM and negative correlation with all metals. MO shows low correlation with Pb
and Al and negative with other metals. In A3, CaCO3 shows good correlation with MO and Cd, Cu
and Zn and negative with Al, Fe and Pb. Mo follows CaCO3, but with Zn the correlation is
negative.
Keywords: Estuaries, Sediments, Anthropogenic Conditioners.
Resumen
Los estuarios son áreas de transición, donde el agua del mar se mezcla el agua del río o laguna. La
sedimentación en los ambientes estuarinos está formada por sedimentos fluviales y marinos y su
dinámica modifica a lo largo del tiempo dependiendo de factores geológicos, fluviales, climáticos y
antropogénicos, cediendo informaciones sobre génesis, transporte y características del ambiente
deposicional. Los metales-traza se unen a los sedimentos más finos y el proceso de contaminación
en esos ambientes está relacionado al aumento de la urbanización en su entorno, en el caso del área
de estudio, los condicionantes antrópicos predominantes son carcinicultura y Puerto de los Barcos.
El objetivo del presente trabajo es evaluar las concentraciones de metales-traza en los sedimentos
del sistema estuarino-lagunar de Itarema y correlacionarlas con la granulometría, los niveles de
carbonato de calcio (CaCO3) y de materia orgánica (MO) de los sedimentos. La metodología se dio
en cuatro etapas: gabinete, campo, laboratorio y oficina. Los resultados principales fueron: los
sedimentos que predominan en el ambiente estuarino son lodos, lodos-arenosas y arena-lamosa; en
el testigo A1, CaCO3 presenta buena correlación con MO y correlación baja con Cd, Al, Fe y Pb y
con Cu y Zn correlación negativa. MO presenta correlación negativa con todos los metales. En el
A2, CaCO3 presenta correlación positiva con MO y negativa con todos los metales. MO presenta
correlación baja con Pb y Al y negativa con demasiados metales. En el A3, CaCO3 presenta una
buena correlación con MO y Cd, Cu y Zn y negativa con Al, Fe y Pb. MO sigue CaCO3, pero con
Zn la correlación es negativa.
Palabras clave: Estuarios, Sedimentos, Condicionantes Antrópicos.
Introdução
Os estuários são ambientes costeiros efêmeros, se considerado o tempo geológico,
formados durante a elevação relativa do nível do mar. De acordo com Guimarães, et al. (2011),
os registros sedimentares nos estuários exibem elevadas taxas de sedimentação ocorridas durante
a mais recente subida do nível do mar, dessa forma apresentam possibilidades de estudos sobre a
transgressão marinha.
São áreas de importância econômica, pois proporcionam ao longo dos anos o
desenvolvimento de cidades inteiras ao seu redor, por desembocar no mar abrindo vias de acesso
à navegação marítima e fluvial e também pela produção alimentar (SILVA, 1973).
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Nos estuários ocorrem inúmeros processos físico-químicos durante a mistura da água
salina à doce que interagem com os sedimentos particulados em suspensão ou depositados, por
isso apresentam alta complexidade biogeoquímica, onde ocorrem diversos processos como a
reciclagem de matéria orgânica que disponibiliza minerais no meio (BIANCH, 2006).
Segundo Macêdo et al. (2000), os estuários encontram-se entre as áreas mais afetadas
ambientalmente devido às ações antrópicas, como a pesca, o desmatamento do mangue,
deposição de esgotos domésticos e industriais, entre outros.
Os metais pesados destacam-se como contaminantes das áreas alagadas, ainda que sejam
disponibilizados no ambiente a partir de fontes geogênicas. Dá-se o aumento de suas
concentrações quando das ações antropogênicas, causando desequilíbrio no meio e provocando
danos aos ecossistemas presentes.
Segundo Solomns & Forstner (1984), os metais incorporam-se nos sedimentos e são
transportadas tanto por suspensão quanto por dissolução. E por meio da contaminação por metais
pesados são geradas concentrações tóxicas às quais a população é exposta (AZEVEDO &
CHASIN, 2003).
O objetivo do presente trabalho é avaliar as concentrações de metais-traço (Al, Fe, Pb,
Cd, Cu, Zn) nos sedimentos do Sistema Estuarino-Lagunar de Itarema, litoral oeste do Ceará, e
correlacioná-las com a Granulometria, os teores de Carbonato de Cálcio e a Matéria Orgânica
dos sedimentos.
Torna-se importante o estudo desse ambiente pelas interações químicas, biológicas e
geológicas que ocorrem, pela maior permanência de metais pesados em seus sedimentos,
necessários para entender a contaminação no meio e por sua relevância para a vida do homem.
Área de estudo
A área de estudo está localizada no município de Itarema (FIGURA 1). Foi criado no ano de
1985, anteriormente fazia parte do município de Acaraú. Encontra-se entre as coordenadas
geográficas 02° 55’ 13’’ (latitude) e 39° 54’ 54’’ (longitude), altitude de 20 m. Limita-se ao norte
com Oceano Atlântico e o município de Acaraú, ao sul com os municípios de Acaraú e Amontada, à
leste com os municípios de Amontada, além do Oceano Atlântico, e à oeste com o município de
Acaraú. Possui uma área de 720,7 km² e altitude de 20 m. Sua distância em linha reta da capital é de
aproximadamente 185 km e o acesso dá-se pelas rodovias CE 453, CE 085, BR 402 e BR 222
(IBGE; IPECE; 2017). Está inserida na mesorregião Noroeste Cearense e Microrregião de
Camocim e Acaraú.
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Figura 1. Mapa de localização do município de Itarema-CE. Fonte: Próprio Autor (2019).
Itarema pertence à Bacia do Litoral que possui uma área de 8.865 km², tem como principais
cursos d’água os rios Aracatimirim e Aracatiaçu, que apresentam 3.415 km² e 1.565 km²,
respectivamente. Em toda a Bacia os rios são exorréicos com regime intermitente sazonal, isso
ocorre pelo fato do médio e alto curso desses rios estar inseridos no núcleo de semiaridez, além da
grande quantidade de barragens ao longo do curso do rio. De acordo com Moraes et al. (2006), os
efeitos causados na zona costeira são: aceleração dos processos morfodinâmicos na foz,
hiperssalinização sazonal, diminuição do aporte de sedimentos argilo-siltosos na planície flúvio-
marinha, entre outros.
O substrato geológico da área de estudo é composto por migmatitos, gnaisses (orto e para),
metabásicas e metacalcários de idade Pré-Cambriana, possui sedimentos areno-argilosos com níveis
conglomeráticos de idade Tércio-Quaternária e sedimentos arenosos inconsolidados em dunas e
aluviões pertencentes ao Quaternário (CPRM, 1998). Segundo Morais (2000), na região, afloram os
sedimentos da Formação Barreiras (Mioceno/Plio-Pleistoceno), por vezes sobrepostos por
sedimentos do Holoceno.
O relevo do município de Itarema é relativamente aplainado alternado com interflúvios
(IPECE, 2017). Próximo à linha de praia formam-se bancos de areia que são intercaladas com
pequenas depressões com sedimentos de granulometria fina. Segundo Souza (2000), Itarema
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apresenta uma superfície aplainada com presença de interflúvios típica dos ambientes de tabuleiro,
com cota altimétrica de 20 metros em média.
Em Itarema, de acordo com a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos
(FUNCEME, 2013), existem dois tipos climáticos: Tropical Quente Semiárido Brando ao norte e
porção central; e Tropical Quente Semiárido ao sul. A temperatura apresenta pequena variação
durante todo o ano, com mínimas de 26ºC e máximas de 28ºC, e seus totais pluviométricas anuais
são em torno de 1.139,7 mm.
Os principais condicionantes antrópicos que ocorrem no entorno do Sistema Estuarino-
Lagunar de Itarema são a Carcinicultura e as Atividades Portuárias:
A carcinicultura é realizada em áreas flúvio-marinhas (ecossistema manguezal). É uma
atividade que se caracteriza por produzir camarões marinhos em cativeiro (ARANA, 1999).
Segundo Bezerra Filho (2017), em Itarema a carcinicultura surgiu apenas no início do século XXI.
A tabela 1 e as figuras 2 e 3, a seguir, mostram o processo de ocupação espacial dessa atividade no
ambiente estuarino.
Tabela 1. Crescimento espacial da carcinicultura no município de Itarema entre 2004 e 2016.
Fonte: Bezerra Filho (2017).
Ano
Km²
Crescimento (%)
2004
0,85
2012
0,1
10%
2016
0,22
22%
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Figura 2. Análise multi-temporal (anos de 2004, 2012 e 2016) de fazendas de carcinicultura no
ambiente estuarino do município de Itarema (CE). Fonte: Google Earth (BEZERRA FILHO, 2017).
Em comparação com o trabalho de Bezerra Filho (2017), nota-se que em 2018 não houve
aumento das fazendas de carcinicultura no sistema estuarino-lagunar de Itarema.
Figura 3. Análise temporal (ano de 2018) de fazendas de carcinicultura no ambiente estuarino do
município de Itarema. Fonte: Google Earth (Próprio Autor, 2019).
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Durante a atividade carcinicultora, ocorre o descarte dos efluentes diretamente nas águas
estuarinas com elevados teores de produtos químicos derivados de fertilizantes e rações (QUEIROZ
et al., 2013). Segundo Santos (2005), os metais pesados encontram-se como impurezas descartadas
por produtos químicos utilizados na carcinicultura.
Porto é um conjunto de instalações que servem de abrigo e funcionam para atracação,
armazenagem e que serve como acesso marítimo localizado em terra (PORTO & TEIXEIRA,
2002). O Porto dos Barcos localiza-se na porção norte do município de Itarema. Segundo Brasil
(1981), as atividades desenvolvidas nos portos são intensas e constantes o que pode gerar
perturbações no ambiente.
Figura 4. Barcos de pesca ancorados no Porto dos Barcos, na margem oposta ocorre o ecossistema
manguezal. Fonte: Próprio Autor (2019).
Metodologia
A pesquisa avalia as concentrações de metais-traço nos sedimentos do sistema estuarino-
lagunar do município de Itarema. Para chegar aos objetivos propostos foram realizadas quatro
etapas que consistiram em levantamento bibliográfico, coleta de testemunhos no estuário, análise
das amostras em laboratório e integralização dos dados, como mostra o fluxograma a seguir:
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Na etapa de gabinete foi feito o levantamento bibliográfico sobre os temas-foco da pesquisa
para embasar as etapas posteriores: sistema estuarino-lagunar, geologia e geomorfologia da área,
ambientes de sedimentação, impactos antrópicos nos manguezais, fácies sedimentares, impactos
antrópicos nos manguezais; e a delimitação da área de estudo com o estabelecimento dos pontos de
coleta junto a órgãos públicos e trabalhos já publicados.
Na segunda etapa ocorreu o trabalho de campo, em janeiro de 2018. Foram coletados três
testemunhos em pontos diferentes para uma melhor interpretação das características da dinâmica
sedimentar e distribuição dos elementos químicos que ocorrem no estuário: próximo à uma fazenda
de Carcinicultura (A1), parte interna da ilha barreira (A2), e na margem oposta ao Porto do Barco
(A3) (FIGURA 5). Os testemunhos foram coletados com tubos de PVC de 50 cm de diâmetro e 60
cm de altura penetrados no sedimento manualmente. Quando preenchidos com sedimentos foram
fechados nas duas extremidades, identificados e abertos somente no laboratório para iniciar as
análises (FIGURA 6).
Etapa de
Laboratório:
Descrição dos
testemunhos
Análise
Granulométrica
Análise de
Carbonato de
Cálcio
Análise de
Metais-traço
Etapa de
Gabinete:
Levantamento
bibliográfico
Delimitação da
área de estudo
Estabelecimento
dos pontos de
coleta
Etapa de Campo:
Coleta dos
testemunhos na
área de estudo
Integralização dos dados das etapas anteriores
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A
3
A
2
A
1
Figura 5. Localização dos pontos de coleta dos testemunhos A1, A2 e A3,
respectivamente: (A) Ao lado de uma fazenda de Carcinicultura; (B) Parte interna
da ilha barreira; (C) Margem oposta ao Porto dos Barcos. Fonte: Próprio Autor
(2019).
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Figura 6. Coleta dos testemunhos no sistema estuarino-lagunar de Itarema. Fonte: Próprio Autor
(2019).
A etapa seguinte constitui-se em atividades de laboratório com descrição dos testemunhos,
análise granulométrica e análise para quantificar os teores de Matéria Orgânica realizadas no
Laboratório de Geologia e Geomorfologia Costeira e Oceânica (LGCO) na Universidade Estadual
do Ceará, análise de Carbonato de Cálcio realizada no Instituto de Ciências do Mar da Universidade
Federal do Ceará, além da análise de metais-traço realizada no Laboratório Eurofins/Anatech, no
estado de São Paulo. A quarta e última etapa foi realizada em escritório para analisar e integralizar
os dados gerados nas etapas anteriores.
Resultados e discussões
Granulometria
A granulometria do Testemunho A1 apresenta do topo até 10 cm maior quantidade das
frações mais finas (silte/argila), com porcentagem de 70,7%. Nas camadas intermediárias, entre 10
e 50 cm, ocorre maior quantidade da fração areia, variando entre 15,99 e 29,14%. De 50 cm à base,
as frações mais finas voltam a aumentar a quantidade, chegando a 81,518%. Segundo a
Classificação de Shepard o testemunho A1 é denominado de Lama Arenosa no topo, Areia Lamosa,
na porção intermediária, Lama Arenosa novamente e na base Lama.
A granulometria do Testemunho A2 apresenta em sua totalidade maior quantidade de
frações finas (silte/argila), em que as porcentagens se mantêm acima de 90%, de 99,411% no topo
diminuindo até 92,44% na base. Porém, a camada de 10 a 20 cm contém a menor quantidade de
frações finas de todo testemunho, com porcentagem de 68,938%, logo após volta a aumentar para
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97,25%. Segundo a Classificação de Shepard o testemunho A2 é denominado de Lama, apenas a
camada de 10 a 20 cm é denominado de Lama Arenosa.
A granulometria do Testemunho A3 contém elevadas porcentagens de frações finas
(silte/argila), mantendo-se acima de 80%. Com seu pico de 93,81% na camada de 30 a 40 cm e
menor porcentagem na base, 80,42%. Apresenta duas diminuições nas porcentagens de frações
finas, entre o topo (92,11%) e a camada de 20 a 30 cm (87,48%), e a camada de 30 a 40 cm
(93,81%) até a base (80,42%). Segundo a Classificação de Shepard o testemunho A3 é denominado
de Lama.
A partir dos resultados obtidos, observou-se que na porção mais próxima à carcinicultura
(testemunho A1) há maior ocorrência de sedimentos arenosos, já nas porções mais próximas à
desembocadura do estuário (testemunho A2) e próximo ao Porto dos Barcos (A3) os sedimentos
silte-argilosos predominam. Como o testemunho A1 está localizado em um ambiente mais interno,
portanto, mais distante das correntes de marés, indica que a fazenda de camarão ao lado do sistema
estuarino pode ter influenciado na sua sedimentação.
Teores de carbonato de cálcio
Os teores de Carbonato de Cálcio associam-se a sedimentos com maiores concentrações de
material biogênico de fontes marinhas. Os maiores valores foram encontrados no testemunho A2,
coletado próximo à desembocadura do canal estuarino, e no testemunho A3, localizado na margem
oposta ao Porto dos Barcos, com média de 13,995% e 18,246%, respectivamente, associado às
maiores concentrações de frações de silte/argila, 92,44% a 98,411% (A2) e 80,42% a 93,81% (A3),
e o testemunho A1 localizado próximo à uma fazenda de carcinicultura apresentou menores valores,
com média de 3,983%, associado às maiores concentrações de fração areia, 18,481% a 84,01%,
apresentou uma anomalia no topo, podendo ser indicativo de aporte externo (14,61%) (GRÁFICO
1).
Tais teores apresentaram correlação com a granulometria, quanto maior a quantidade de
carbonato de cálcio menor a granulometria e vice-versa, mostrando apenas uma grande anomalia no
testemunho A1, sendo possível uma fonte externa pontual.
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Gráfico 1. Concentração de CaCO3 nos Testemunhos A1, A2 e A3, de acordo com a profundidade.
Fonte: Próprio Autor (2019).
Teores de matéria orgânica
Os testemunhos A1, A2 e A3 apresentam conteúdo de Matéria Orgânica (MO) variando de
3,622% a 9,943%, com média de 7,394%; 3,199% a 11,829%, com média de 8,130%; e 3,978% a
6,367%, com média de 5,211%, respectivamente. A acumulação de matéria orgânica nos
testemunhos apresenta-se de forma desordenada, com leves aumentos e diminuições ao longo do
perfil, isso pode estar relacionado às diferentes texturas granulométricas (GRÁFICO 2).
Apresenta relação direta com os teores de CaCO3 ao contrário do que acontece com a
granulometria indicando que o acúmulo de MO pode estar relacionado à baixa profundidade do
ambiente estuarino ou à possível influência antrópica que possivelmente ocorre pela proximidade
das fazendas de carcinicultura em seu entorno, já que as concentrações de matéria orgânica ocorrem
em todos os tipos de sedimentos, tanto em frações grosseiras (areia) quanto em frações finas
(silte/argila).
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Gráfico 2. Distribuição de Matéria Orgânica de acordo com a profundidade (cm) dos Testemunhos
A1, A2 e A3. Fonte: Próprio Autor (2019).
Teores de metais-traço
Alumínio (al)
Os valores de Al variam ao longo do testemunho A1 entre 1625 mg/kg e 10044,2 mg/kg, A2
entre 8714,4 mg/kg e 17770,4 mg/kg, e A3 entre 12190,9 mg/kg e 17542,8 mg/kg. A ocorrência do
Al nos testemunhos dá-se de forma irregular, com redução nas concentrações da base e aumento no
topo. Os menores teores de Al encontram-se no testemunho A1, já os testemunhos A2 e A3
demonstram comportamentos parecidos e maiores valores (GRÁFICO 3).
Gráfico 3. Concentração de Alumínio (mg/kg) em sedimentos dos Testemunhos A1, A2 e A3 de
acordo com a profundidade (cm). Fonte: Próprio Autor (2019).
A
1
A
2
A
3
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Ferro (Fe)
Os valores de Fe variam ao longo do testemunho A1 entre 3218,3 mg/kg e 10735,6 mg/kg,
A2 entre 9833,9 mg/kg e 116666,7 mg/kg e A3 entre 12064 mg/kg e 14421,8 mg/kg. Os valores
mais elevados são observados nos testemunhos A2 e A3. A ocorrência de Fe em todos os
testemunhos apresenta leves aumentos, apenas na porção basal do A2 ocorre uma elevação brusca
(GRÁFICO 4).
Gráfico 4. Concentração de Ferro (mg/kg) em sedimentos dos Testemunhos A1, A2 e A3 de acordo
com a profundidade (cm). Fonte: Próprio Autor (2019).
Chumbo (Pb)
Os valores de Pb variam ao longo do testemunho A1 entre 2,06 mg/kg e 4,34 mg/kg, A2
entre 2,5mg/kg e A3 entre 3,25 mg/kg e 6,18 mg/kg. O testemunho A1 apresenta concentrações
semelhantes de Pb em toda sua extensão, com leves decréscimos. O testemunho A2 mostra
atenuação gradual da concentração da base para o topo, contudo, próximo ao topo ocorre acréscimo
abrupto. O testemunho A3 mostra dois ciclos de acréscimo da base para o topo em suas
concentrações (GRÁFICO 5).
A
1
A
2
A
3
10 20 30 40 50 60 70 80 90
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Gráfico 5. Concentração de Chumbo (mg/kg) em sedimentos dos Testemunhos A1, A2 e A3 de
acordo com a profundidade (cm). Fonte: Próprio Autor (2019).
Cádmio (Cd)
Os valores de Cd variam ao longo do testemunho A1 entre 1,06 mg/kg e 1,1 mg/kg, A2
entre 1,07 mg/kg e 1,1 mg/kg e A3 entre 1,06 e 1,1. Os três testemunhos apresentam valores muito
próximos. Todas as amostras dos sedimentos analisados apresentam concentração total de Cd pouco
significativas. Os três testemunhos contêm dois ciclos de maior para menor concentração
(GRÁFICO 6).
Gráfico 6. Concentração de Cádmio (mg/kg) em sedimentos dos Testemunhos A1, A2 e A3 de
acordo com a profundidade (cm). Fonte: Próprio Autor (2019).
Cobre (Cu)
Os valores de Cu variam ao longo do testemunho A1 entre 5,61 mg/kg e 15,5 mg/kg, A2
entre 15,4 mg/kg e 20,6 mg/kg e A3 entre 2,12 mg/kg e 17,6 mg/kg. Os maiores valores ocorrem
A1
A2
A3
A
1
A
2
A
3
10 20 30 40 50 60 70 80
90
10 20 30 40 50 60 70 80
90
177
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nos testemunhos A2 e A3. As camadas do topo do A1 e A3 mostram valores que indicam que está
havendo crescimento das concentrações de metal, já o A3 continua diminuindo sua concentração.
Na porção intermediária do testemunho A3 ocorre uma redução brusca (GRÁFICO 7).
Gráfico 7. Concentração de Cobre (mg/kg) em sedimentos dos Testemunhos A1, A2 e A3 de
acordo com a profundidade (cm). Fonte: Próprio Autor (2019).
Zinco (Zn)
Os valores de Zn variam ao longo do testemunho entre 5,32 mg/kg e 54,3 mg/kg, A2 entre
51,1 mg/kg e 54,3 mg/kg e A3 entre 5,29 mg/kg e 64,9 mg/kg. As concentrações de Zn no
testemunho A1 são elevadas na base e diminuem até as camadas próximas ao topo, onde aumenta
novamente. No A2 as concentrações do metal apresentam-se estáveis em todo o testemunho. No A3
as concentrações apresentam padrão de alternância entre teores mais elevados e mais baixos, é bem
perceptível essa alternância pelo fato da diferença entre os valores dos teores ser grande (GRÁFICO
8).
A1
A2
A3
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Gráfico 8. Concentração de Zinco (mg/kg) em sedimentos dos Testemunhos A1, A2 e A3 de
acordo com a profundidade (cm). Fonte: Próprio Autor (2019).
Correlações entre metais-traço e granulometria, carbonato de cálcio e matéria orgânica
Foram estabelecidas as relações entre as concentrações de metais e a Matéria Orgânica
(MO) e o Carbonato de Cálcio (CaCO3) dispostas nas tabelas a seguir.
No testemunho A1, o CaCO3 apresenta boa correlação apenas com o MO, entre os metais,
apenas com Cd, Al, Fe e Pb ocorre correlação, porém muito baixa, com Cu e Zn a correlação é
negativo. A MO apresenta correlação negativa com todos os metais.
O Al apresenta boa correlação com todos os metais, principalmente com o Fe. O Fe também
apresenta boa correlação com todos os metais, principalmente com Al e Zn. O Pb apresenta boa
correlação com todos os metais, principalmente o Cu. O Cd também apresenta boa correlação com
todos os metais. O Zn apresenta boa correlação com todos os metais.
Todos os metais apresentam forte correlação positiva. A correlação do Fe com os metais
analisados pode ser atribuída à co-precipitação destes metais com óxidos de Fe. A correlação
positiva entre CaCO3 com Al, Fe, Pb e Cd deve ocorrer por ser um suporte geoquímico na retenção
de metais-traço (TABELA 2).
A1
A2
A3
10 20 30 40 50 60 70 80 90
179
10.18227/2177-4307.acta.v18i48.5410
Tabela 2. Correlação entre Metais-traço determinados e quantidade de MO e CaCO3 do
testemunho A1. Fonte: Próprio Autor (2019).
Al
Fe
Pb
Cd
Cu
Zn
Granulometria
CaCO3
MO
Al
1
Fe
0,986
1
Pb
0,886
0,850
1
Cd
0,833
0,807
0,865
1
Cu
0,940
0,939
0,951
0,777
1
Zn
0,980
0,982
0,923
0,808
0,986
1
Granulometria
0,776
0,835
0,467
0,634
0,622
0,724
1
CaCO3
0,151
0,072
0,009
0,366
-
0,133
-
0,016
0,181
1
MO
-
0,111
-
0,203
-
0,189
-
0,088
-
0,305
-
0,233
-0,263
0,765
1
No testemunho A2, o CaCO3 apresenta correlação apenas com o MO. Ocorre correlação
negativa com todos os metais. A MO apresenta correlação positiva, porém muito baixa, apenas com
Pb e Al, e negativa com os demais metais.
O Al apresenta boa correlação com o Fe, Pb e Zn e correlação negativa com Cd e Cu. O Fe
apresenta boa correlação apenas com Al e ZN, com os demais metais ocorre correlação baixa. O Pb
apresenta moderada correlação com Fe e Zn e negativa com Cd e Cu. O Cd apresenta boa
correlação com o Cu, baixa correlação com Fe e Zn, e negativa com demais metais. O Zn apresenta
boa correlação com Al e Fe e baixa correlação com os demais (TABELA 3).
Tabela 3. Correlação entre Metais-traço determinados e quantidade de MO e CaCO3 do
testemunho A2. Fonte: Próprio Autor (2019).
Al
Fe
Pb
Cd
Cu
Zn
Granulometria
CaCO3
MO
Al
1
Fe
0,878
1
Pb
0,837
0,537
1
Cd
-
0,299
0,169
-
0,516
1
Cu
-
0,059
0,381
-
0,573
0,711
1
Zn
0,835
0,981
0,549
0,275
0,345
1
Granulometria
0,480
0,192
0,339
-
0,800
-
0,156
0,018
1
CaCO3
-
0,396
-
0,591
-
0,393
-
0,573
-
0,118
-
0,734
0,614
1
MO
0,235
-
0,163
0,308
-
0,948
-
0,470
-
0,312
0,916
0,749
1
180
10.18227/2177-4307.acta.v18i48.5410
No testemunho A3, o CaCO3 apresenta boa correlação com MO e os metais Cd, Cu e Zn,
com Al, Fe e Pb ocorre correlação negativa. A MO segue as correlações do CaCO3, porém com o
Zn a correlação é negativa.
O Al apresenta boa correlação apenas com Fe e correlação moderada com Pb e Zn, com Cd
e Cu a correlação é negativa. O Fe segue as correlações do Al. O Pb apresenta correlação negativa
com o Cd, baixa com Cu e intermediária com Zn. O Cu tem correlação intermediária com Zn
(TABELA 4).
Tabela 4. Correlação entre Metais-traço determinados e quantidade de MO e CaCO3 do
testemunho A3. Fonte: Próprio Autor (2019).
Al
Fe
Pb
Cd
Cu
Zn
Granulometria
CaCO3
MO
Al
1
Fe
0,851
1
Pb
0,449
0,622
1
Cd
-
0,802
-
0,829
-
0,302
1
Cu
-
0,030
-
0,191
0,293
0,602
1
Zn
0,499
0,579
0,701
-
0,087
0,627
1
Granulometria
-
0,163
-
0,630
-
0,320
0,375
0,329
-
0,312
1
CaCO3
-
0,275
-
0,634
-
0,105
0,707
0,780
0,065
0,821
1
MO
-
0,004
-
0,502
-
0,245
0,255
0,334
-
0,244
0,986
0,795
1
Considerações finais
Os sedimentos do sistema estuarino-lagunar de Itarema heterogêneos, com predomínio de
lamas, lamas-arenosas e areia-lamosa. Classificados como siliciclásticos, com moderados teores
de carbonato de cálcio e matéria orgânica.
Notou-se o predomínio da fração lama (silte/argila).
A maior evidência de CaCO3 deu-se no testemunho A3, na margem oposta ao Porto dos
Barcos, provenientes dos aportes marinhos nas áreas. Porém, no testemunho A1, próximo à
carcinicultura, ocorre um pico no teor de CaCO3 ocorrido pelas atividades carcinicultoras.
A distribuição de acordo com a profundidade dos teores de CaCO3 e MO apresentaram
correlação positiva.
Nos três testemunhos nota-se a associação de metais-traço com Al e Fe em sedimento
estuarino indicando presença de minerais silicatados de origem continental carreados por
181
10.18227/2177-4307.acta.v18i48.5410
lixiviação e/ou erosão dos solos. Porém, ocorre associação desses metais com Cu, o qual pode
ser resultado de atividades em fazendas de camarão
Referências
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