ChapterPDF Available

Produtos secundários em Vila Nova de São Pedro: as “queijeiras”

Authors:

Abstract and Figures

During the 3rd millennium B.C., the communities that occupied the archaeological site of Vila Nova de São Pedro (Azambuja) witnessed a period of remarkable alterations and changes, punctuated by the intensification and diversification of socioeconomic systems. One of the aspects of this economic diversification is centered on the exploitation and consumption of “secondary products”, visible through the archaeological record, be it through faunal studies, as well as specific artefactual categories such as the so called “cheese strainers”. These vessels, whose functional characteristics indicate a use related to the processing of dairy products, are considered a “type-fossils” of the 3rd millennium B.C in the Portuguese Estremadura, being identified in numerous settlements. In Vila Nova de São Pedro a large quantity of cheese strainer fragments was collected, coming either from the excavations directed by Afonso do Paço, or from within the scope of the VNSP3000 project. This paper will present the main results of the morphological and technological analysis of this collection, allowing a systematic approach to this artefactual category.
Content may be subject to copyright.
estudos &
memórias
CENTRO DE ARQUEOLOGIA DA UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE LETRAS DA UNIVERSIDADE DE LISBOA
CENTRO DE ARQUEOLOGIA DA UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE LETRAS DA UNIVERSIDADE DE LISBOA
VILA NOVA DE SÃO PEDRO
E O CALCOLÍTICO NO
OCIDENTE PENINSULAR
2
Mariana Diniz Andrea Martins César Neves José M. Arnaud
estudos & memórias
Série de publicações da UNIARQ
(Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa)
Direcção: Ana Catarina Sousa
Série fundada por Victor S. Gonçalves (1985)
23.
Vila Nova de São Pedro e o Calcolítico
no Ocidente Peninsular 2







  
ponsáveis pelos seus originais, respeitando a UNIARQ a sua autoria e não sendo responsável por

     
  


ÍNDICE
7 VILA NOVA DE SÃO PEDRO – MONUMENTO NACIONAL
José M. Arnaud, Mariana Diniz, César Neves, Andrea Martins
21 EUGÉNIO JALHAY E O CASTRO DE VILA NOVA DE SÃO PEDRO NOS ECOS DA PROVÍNCIA
DE PORTUGAL
António Júlio Limpo Trigueiros, SJ
37 MANUEL AFONSO DO PAÇO, MILITAR E ARQUEÓLOGO

 VILA NOVA DE SÃO PEDRO (AZAMBUJA, PORTUGAL): NOVOS DADOS SOBRE ESTRUTURAS,
MATERIAIS E CRONOLOGIA
César Neves, Andrea Martins, Mariana Diniz, José M. Arnaud
 VILA NOVA DE SÃO PEDRO E MARIA DE LOURDES COSTA ARTHUR (1924-2003): UMA HISTÓRIA
NO FEMININO
Ana Cristina Martins
123 O ESPÓLIO METÁLICO DE VILA NOVA DE SÃO PEDRO – INVESTIGAÇÕES ARQUEOMETALÚRGICAS
António M. Monge Soares
135 O TERRITÓRIO DE VILA NOVA DE SÃO PEDRO NO 3º MILÉNIO A.C: ANÁLISE DE PROVENIÊNCIA
DAS MATÉRIAS-PRIMAS LÍTICAS A PARTIR DE NOVOS DADOS (2017-2018)
Patrícia Jordão, Nuno Pimentel, Andrea Martins, Pedro Cura, Mariana Diniz, César Neves, José M. Arnaud
153 ENTRE DOMÉSTICOS E SELVAGENS: NOVOS DADOS SOBRE A FAUNA DE VILA NOVA DE SÃO PEDRO
(AZAMBUJA, PORTUGAL)
Cleia Detry, Mariana Diniz, César Neves, Andrea Martins, José M. Arnaud
171 INVESTIGATING THE ECONOMIC INTEGRATION OF COASTAL AND INTERIOR SETTLEMENTS
IN LATE PREHISTORIC PORTUGAL: NEW ISOTOPIC DATA FROM VILA NOVA DE SÃO PEDRO
(AZAMBUJA, PORTUGAL)
Anna Waterman, Cleia Detry, César Neves , Mariana Diniz, Andrea Martins, José M. Arnaud, David Peate
185 NOVAS IMAGENS DE VILA NOVA DE SÃO PEDRO (AZAMBUJA, PORTUGAL): O CONTRIBUTO
DA FOTOGRAMETRIA

 A CERÂMICA CALCOLÍTICA DE VILA NOVA DE SÃO PEDRO – CARACTERIZAÇÃO TEXTURAL,
QUÍMICA E MINERALÓGICA
Rute Correia Chaves, João Pedro Veiga, António M. Monge Soares
221 PRODUTOS SECUNDÁRIOS EM VILA NOVA DE SÃO PEDRO (AZAMBUJA, PORTUGAL): AS “QUEIJEIRAS”
Lucas Barrozo, Mariana Diniz, Andrea Martins, César Neves, José M. Arnaud
239 SYMBOLART – ABORDAGEM METODOLÓGICA NÃO DESTRUTIVA PARA A CARACTERIZAÇÃO
DE ARTEFACTOS SIMBÓLICOS DE VILA NOVA DE SÃO PEDRO (AZAMBUJA, PORTUGAL)

César Neves, José M. Arnaud
 A COLABORAÇÃO DO ANTIGO INSTITUTO DE ANTROPOLOGIA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA
COM AS ESCAVAÇÕES DE VILA NOVA DE S. PEDRO: ALGUMAS NOTAS HISTÓRICAS
Ana Maria Silva
 CONHECIMENTO E MEMÓRIA: A SALA DO POVOADO FORTIFICADO DE VILA NOVA DE SÃO
PEDRO NO MUSEU DE AZAMBUJA
Nuno Nobre
279 LA PÉNINSULE IBÉRIQUE ET LE CHALCOLITHIQUE DE LA MÉDITERRANÉE OCCIDENTALE:
ANALOGIES ET CONTRASTES
Jean Guilaine
287 POSFÁCIO
221
Lucas Barrozo
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa / barrozo.lucasp@gmail.com
Mariana Diniz
UNIARQ, Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa / Associação dos Arqueólogos Portugueses /
m.diniz@letras.ulisboa.pt
Andrea Martins
UNIARQ, Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa / Fundação para a Ciência e Tecnologia /
Associação dos Arqueólogos Portugueses / andrea.arte@gmail.com
César Neves
Associação dos Arqueólogos Portugueses / UNIARQ, Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa /
c.augustoneves@gmail.com
José M. Arnaud
Associação dos Arqueólogos Portugueses/ jemarnaud@gmail.com
Resumo: Durante o 3º milénio A.C., as comunidades que ocuparam o sítio arqueológico de Vila Nova de São
Pedro (Azambuja), testemunharam um período de notáveis alterações e mudanças, pontuado pela inten-
sicação e diversicação dos sistemas socioeconómicos. Uma das faces desta diversicação económica
centra-se na exploração e no consumo dos denominados “produtos secundários”, visíveis a partir do registo
arqueológico, quer através de estudos faunísticos, como da análise de categorias artefactuais especícas
como as queijeiras. Estes recipientes, cujas características funcionais nos indicam uma utilização relaciona-
da com o processamento de laticínios, são considerados um “fóssil director” do 3º milénio na Estremadura
Portuguesa, tendo sido identicados em numerosos povoados. Em Vila Nova de São Pedro foram recolhidos
centenas de fragmentos de queijeiras, provenientes quer das escavações dirigidas por Afonso do Paço, como
no âmbito do recente projecto VNSP3000. Este texto corresponde aos resultados do estudo morfológico e
tecnológico desta colecção, permitindo uma abordagem sistemática a esta categoria artefactual.
Palavras ‑chave: “Queijeiras”; Vila Nova de São Pedro; Calcolítico; produtos secundários.
Abstract: During the 3rd millennium B.C., the communities that occupied the archaeological site of Vila Nova
de São Pedro (Azambuja) witnessed a period of remarkable alterations and changes, punctuated by the inten-
sication and diversication of socioeconomic systems. One of the aspects of this economic diversication
is centred on the exploitation and consumption of “secondary products”, visible through the archaeological
record, be it through faunal studies, as well as specic artefactual categories such as the so called “cheese
strainers”. These vessels, whose functional characteristics indicate a use related to the processing of dairy
products, are considered a “type-fossils” of the 3rd millennium B.C in the Portuguese Estremadura, being
identied in numerous settlements. In Vila Nova de São Pedro a large quantity of cheese strainer fragments
was collected, coming either from the excavations directed by Afonso do Paço, or from within the scope of
the VNSP3000 project. This paper will present the main results of the morphological and technological anal-
ysis of this collection, allowing a systematic approach to this artefactual category.
Keywords: “Cheese strainers”; Vila Nova de São Pedro; Calcolithic; secondary products.
PRODUTOS SECUNDÁRIOS
EM VILA NOVA DE O
PEDRO (AZAMBUJA,
PORTUGAL):
AS “QUEIJEIRAS”
VILA NOVA DE SÃO PEDRO E O CALCOLÍTICO NO OCIDENTE PENINSULAR 2 222
1. INTRODUÇÃO
A transição para o 3º milénio A.C. marca um período de fortes alterações nos modos de vida das
populações que habitaram a Península Ibérica (Blanco-González et al, 2018). Estas mudanças
terão sido sentidas ao nível simbólico, social, económico, cosmológico, entre tantas outras es-
feras. Com estas utuações acresce a necessidade de aproveitamento de recursos disponíveis,
num contexto de aumento demográco e crescente dependência nos animais domésticos para
a subsistência humana. O uso dos chamados “produtos secundários” enquadra-se nesta con-
juntura, onde novos hábitos e práticas são desenvolvidos, por vezes solidicados em artefactos
especícos como os elementos de tear ou as queijeiras.
Neste texto, pretende-se analisar mais pormenorizadamente uma das facetas económicas
destas alterações, tendo como eixo central um artefacto especíco – as queijeiras.
Alguns dos sítios arqueológicos com ocupações humanas enquadradas nos períodos Neolí-
tico, Calcolítico, Idade do Bronze, e Idade do Ferro no continente europeu apresentam um curio-
so artefacto em cerâmica, geralmente interpretado como “queijeira” ou “coador” nos distintos
idiomas de publicações. Estes recipientes são caracterizados pela ausência de um fundo e por
possuírem múltiplas perfurações ao longo de suas paredes.
No território atualmente português, estes artefactos costumam surgir com relativa fre-
quência nos sítios arqueológicos do 3º milénio A.C. (Figura 1), mesmo que em quantidades con-
sideradas residuais, salvo alguns sítios especícos, como Vila Nova de São Pedro (Paço e Jalhay,
1939; Jalhay e Paço, 1945), Penedo do Lexim (Sousa, 2010), ou Zambujal (Tews, 2016). Entretanto,
ao analisar este desfasamento quantitativo das queijeiras nos contextos calcolíticos de Portu-
gal, é importante ter em conta o frequente estado de fragmentação destes artefactos, que pode
deturpar comparações entre sítios arqueológicos. Outro fator a ser considerado inclui também
os variados contextos das intervenções arqueológicas em diferentes regiões do país, com a di-
mensão das áreas intervencionadas a ser distinta em cada sítio.
Por conta da sua morfologia e de paralelos etnográcos, estes objetos vêm sendo tradi-
cionalmente interpretados como coadores ou cinchos utilizados na transformação de laticínios
(Paço e Jalhay, 1939). Esta perspetiva tem sido reforçada durante os últimos anos a partir de
novas metodologias arqueométricas que têm identicado vestígios lácteos em artefactos classi-
cáveis como “queijeiras” (Salque et al, 2012; Mcclure et al, 2018). Esta metodologia opera através
da diferenciação entre lípidos lácteos e outros tipos de lípidos, com “gas chromatography–mass
spectrometry” (Evershed et al, 2008), e como citado, demonstrou que algumas queijeiras prove-
nientes da Polónia e Croácia teriam estado em contacto com laticínios. Além disso, através do
uso de uma metodologia semelhante, foi possível identicar caseína em queijeiras recuperadas
em Espanha (Montero Ruiz e Esperanza, 2008; Guerra Doce et al, 2012), sendo que em um destes
recipientes, também, foram identicadas bras de linho. Este último dado permite-nos sugerir/
teorizar que um pano de linho poderia ter sido utilizado no interior da queijeira para auxiliar o
processamento de laticínios, sendo este um método utilizado actualmente para a produção de
queijo. Infelizmente estas metodologias analíticas ainda não foram aplicadas de forma recor-
rente e ável nas queijeiras recolhidas em Portugal, o que nos leva a centrar a nossa análise nas
questões morfológicas e teóricas deste artefacto.
2. QUEIJEIRAS, CINCHOS E COADORES: UMA HISTORIOGRAFIA
Na bibliograa portuguesa, os recipientes cerâmicos sem fundo e com paredes multiperfuradas
são conhecidos como “queijeiras” desde a primeira metade do século XX, com uma referência
sobre o sítio de Vila Nova de São Pedro, onde foram recolhidos “muitos pedaços desta loiça”
(Paço e Jalhay, 1939: 20). Para apoiar esta proposta, Paço cita Joseph Déchelette, que em seu Ma-
nuel d’Archéologie Préhistorique, Celtique Et Gallo-Romaine (1908), apresenta algumas queijeiras
recuperadas no Campo de Chassey (França). Mesmo admitindo que o termo “queijeira” só é am-
plamente utilizado em publicações arqueológicas durante o século XX, podemos identicar a as-
sociação de artefactos análogos com a produção de queijos desde os nais do século XIX, numa
PRODUTOS SECUNDÁRIOS EM VILA NOVA DE SÃO PEDRO (AZAMBUJA, PORTUGAL): AS “QUEIJEIRAS”223
das mais importantes e pioneiras obras arqueológicas de Portugal – Antiguidades Monumentaes
do Algarve. Nesta obra, Estácio da Veiga refere alguns artefactos em cerâmica, recuperados em
Alcalar, “cujos fragmentos se acham atravessados de orifícios, no bojo e no fundo” (Veiga, 1886:
231), associando estas peças com um possível processamento de laticínios. O autor, por sua vez,
cita N. Joly, que sugere que estes artefactos em cerâmica repletos de perfurações seriam utiliza-
dos para a produção de queijos, traçando um paralelo com os métodos tradicionais de confeção
de produtos lácteos (Joly, 1879). Com isto, percebemos que desde os nais do século XIX a as-
sociação entre recipientes com múltiplas perfurações nas suas paredes e o processamento de
laticínios já seria realizada através de paralelos etnográcos.
Avançando para a segunda metade do século XX e inícios do século XXI, em Portugal, os
artefactos identicados como queijeiras foram recorrentemente recuperados em diversos con-
Figura 1 Contextos calcolíticos do Sul de Portugal com artefactos classicáveis como queijeiras. Base cartográca
Boaventura 2009.
VILA NOVA DE SÃO PEDRO E O CALCOLÍTICO NO OCIDENTE PENINSULAR 2 224
textos arqueológicos enquadrados no 3º milénio A.C. Neste contexto, as queijeiras vêm sendo
mencionadas, essencialmente, de forma sumária ou em listas de artefactos na maior parte dos
artigos cientícos, enquanto algumas monograas dedicaram capítulos especícos para proble-
matizar e contextualizar este artefacto (Sousa, 2010; Rodrigues, 2015; Costeira, 2017). Contudo,
mesmo com esta alargada tradição na bibliograa, ainda não existem estudos monográcos es-
pecícos sobre esta categoria artefactual.
Como apontado anteriormente, o termo “queijeira” surge sobretudo a partir de paralelos et-
nográcos com os “cinchos” ou moldes/coadores de queijo, que são utilizados até os dias de hoje
em queijarias mais tradicionais. Com isto, esta terminologia proliferou-se como representante
deste artefacto durante o restante do século XX. Entretanto, esta designação não é consensual
entre autores, sendo que alguns optam por outras denominações, nomeadamente “cinchos
(Cardoso et al, 2013: 232), mantendo a proposta funcional para o artefacto, e apontando uma
nalidade especíca no processamento de laticínios. Também são identicadas como “ltros” e
“coadores” (Morán, 2019: 163), assumindo uma utilidade mais abrangente no processo de separa-
ção de líquidos e sólidos de modo geral. Outros optam pela designação ainda mais neutra de “re-
cipientes perfurados sem fundo” (Tews, 2016), não atribuindo uma funcionalidade especíca. Em
alguns casos, a recusa à utilização de “queijeira” é justicada através de outras propostas fun-
cionais para o artefacto, como coadores na produção de mel ou cerveja (Salque et al., 2012: 522),
na confeção de alimentos (Lestrange e Gessain, 1976), como lamparinas (Decavallas, 2007: 154;
Tews, 2016), como incensários (González et al., 2004: 118), e em cronologias mais recentes, como
parte de estruturas de combustão (Wood, 2007), ou artefactos relacionados com a metalurgia
(Barbosa, 1956). Devemos ter em conta, no entanto, que são extremamente raros os fragmentos
que exibem marcas de contacto com o fogo, o que nos afasta de algumas destas propostas.
Enquanto a terminologia e as propostas funcionais utilizadas para o artefacto não são con-
sensuais, através das inovações metodológicas e cientícas anteriormente apresentadas, tem
sido possível identicar vestígios lácteos no interior destes recipientes, comprovando que al-
guns destes objetos seriam utilizados no processamento de laticínios (Montero Ruiz e Esperan-
za, 2008; Guerra Doce et al., 2012; Salque et al, 2012; McClure et al, 2018), provavelmente como
queijeiras/cinchos/coadores neste processo.
3. AS QUEIJEIRAS DE VILA NOVA DE SÃO PEDRO: CARACTERIZAÇÃO E ESTUDO
3.1. Metodologia
A investigação que aqui se apresenta foi desenvolvida, maioritariamente, no âmbito de um tra-
balho de conclusão de licenciatura do primeiro signatário, sob o qual foi selecionado um conjun-
to de 100 fragmentos, num universo de 559 queijeiras provenientes do sítio arqueológico de Vila
Nova de São Pedro (VNSP). Nos fragmentos analisados, 76 são bordos, 22 correspondem a bojos,
e dois são peças indeterminadas. Todos estes fragmentos estão depositados no Museu Arqueo-
lógico do Carmo (MAC), assim como a maioria do espólio de Vila Nova de São Pedro. Dentro deste
variado conjunto, a maior parcela de fragmentos (542) foi recolhida no âmbito das intervenções
de Eugénio Jalhay, Afonso do Paço e pontuais colaboradores, sendo que, devido à metodologia
de escavação preconizada, não foi possível identicar o contexto especíco onde os materiais
teriam sido recolhidos, mas apenas a área geral da intervenção. O projecto VNSP 3000 (Arnaud
et al., 2017; Martins et al. 2019), permitiu, até à data, a recolha de mais 17 fragmentos de queijei-
ras, possibilitando o conhecimento do seu contexto estratigráco no sítio. Todos os elementos
recolhidos neste âmbito provêm da Área 3, Sondagem 1 (Figura 9), sendo identicados nas se-
guintes unidades estratigrácas: [304], [305], [310], [316].
Para a seleção da amostra em estudo, optou-se por seleccionar os fragmentos com informa-
ções contextuais áveis, ou seja, tudo o que foi recolhido durante as intervenções desenvolvidas
no decorrer do projecto VNSP3000. Além disso, também foram escolhidos os fragmentos mais
bem preservados, sobretudo em relação ao seu perl para caracterização da forma, tendo sido,
igualmente, levada em consideração a diversidade do conjunto, havendo um esforço para a in-
clusão de uma amostragem ampla das distintas perfurações, pastas e tratamentos de superfície.
PRODUTOS SECUNDÁRIOS EM VILA NOVA DE SÃO PEDRO (AZAMBUJA, PORTUGAL): AS “QUEIJEIRAS”225
Sendo este um estudo ainda em curso, e tendo em conta que estas peças ainda estão sob
análise no âmbito de uma tese de mestrado, os resultados nais quantitativos ainda não serão
divulgados, apresentando aqui uma abordagem inicial a esta categoria artefactual.
3.2. Formas
Um dos principais desaos no estudo destes artefactos reside no seu estado de preservação,
sendo que na maior parte dos casos surgem muito fragmentados, impossibilitando o conheci-
mento da totalidade do seu perl. Em Vila Nova de São Pedro esta questão é referida desde o
início das intervenções, sendo apontado que “não nos foi possível fazer qualquer reconstituição
(Paço e Jalhay, 1939: 20). Facto este que, passado várias décadas, se mantém determinante e
actual para este conjunto, não sendo ainda possível reconstituir a totalidade do perl destas pe-
ças no decurso deste estudo. Desta forma, dependemos de alguns raros exemplares completos
e/ou reconstituídos para conhecer a forma das queijeiras no território actualmente português.
Os sítios arqueológicos que proporcionaram queijeiras com o perl completo correspondem ao
Cerro do Castelo de Corte João Marques (Gonçalves, 1989: 146), Alcalar (Morán, 2019: 162-163),
Cabeço do Pé da Erra (Gonçalves e Sousa, 2017: 188), Pedra d’Ouro (Branco, 2007), e Penedo do
Lexim (Sousa, 2010) (Figura 4).
De modo geral, a maior parte dos autores identica, a partir da sua morfologia, duas cate-
gorias formais principais, para os artefactos classicados como queijeiras. A forma cilíndrica é
a que surge com mais frequência na bibliograa, sendo comummente associada com uma pos-
sível funcionalidade na transformação de laticínios (Valera, 1998: 102). Além destas, também são
identicadas queijeiras de forma tendencialmente arredondada, sendo que os artefactos com
esta morfologia concentram mais dúvidas sobre suas funcionalidades. Ambas categorias são ge-
néricas e sobretudo operativas, pois não enquadram toda a realidade e diversidade morfológica
que estes artefactos parecem apresentar.
Como referido, os fragmentos de queijeiras podem ser classicados em uma variedade de ca-
tegorias, dependendo dos critérios de diferenciação das formas. Nesta análise preliminar das
queijeiras de Vila Nova de São Pedro optamos por manter as classicações genéricas de formas
cilíndricas e arredondadas, assumindo algumas variantes. De acordo com a (Tabela 1) percebe-
mos morfologias distintas, que se diferenciam sobretudo em relação à orientação do bordo e da
peça. Assim, surgem dois tipos principais de formas cilíndricas: peças com orientação mais fe-
chada, como pode ser visualizado no exemplar do Penedo do Lexim (Figura 4) ou de Pedra d’Ou-
ro, (Tabela 1); e formas mais abertas, que tendem a apresentar um estrangulamento central na
peça, como o exemplar de El Malagón (Figura 5,B) ou Alcalar (Morán, 2019: 162). Sobre as formas
arredondadas, a morfologia mais comummente identicada possui uma orientação bem mais
fechada do que as categorias anteriores, com ângulos mais agudos. Esta última forma aparenta
servir como uma base para o recipiente, sendo provavelmente apoiada sobre uma superfície pla-
na. Esta leitura resulta da observação dos fragmentos de VNSP, sendo que esta morfologia surge
sobretudo associada a bordos aplanados. Em Portugal não se tem conhecimento de exemplares
completos com esta tipologia, contudo o sítio espanhol de El Malagón exemplica como a forma
completa destes recipientes poderia ser (Figura 5,C) (Arribas et al, 1978: 84).
Além disso, temos conhecimento de queijeiras completas em outras regiões da Europa,
como em França (Figura 2), ou na Polónia (Figura 3). Estes exemplares demonstram uma maior
variedade formal, e comprovam a possibilidade de uma queijeira possuir diferentes morfologias
em suas duas extremidades.
Figura 2 – Grotte de l’Eglise supérieure, Baudinard (Var). (Courtin, 1974, Fig. 40).
VILA NOVA DE SÃO PEDRO E O CALCOLÍTICO NO OCIDENTE PENINSULAR 2 226
Figura 3 – Representação gráca de queijeiras reconstituídas e fotograa de fragmentos que foram alvo de análises
químicas. A, B, provenientes do sítio de Brzesc Kujawski, Polónia. C, D, provenientes do sítio de Smólsk, Polónia
(Salque et al, 2012, Fig. 1).
Figura 5 A. Queijeira de Pedra d’Ouro (segundo Leisner e Schubart 1966, g. 10, 3); B. queijeira cilíndrica de el Malagón (segundo Arribas et
al., 1978, g. 12); C. queijeira arredondada de el Malagón (segundo Arribas et al., 1978, g. 12).
Figura 4 Queijeira com perl completo; Penedo do Lexim
(Sousa, 2010).
PRODUTOS SECUNDÁRIOS EM VILA NOVA DE SÃO PEDRO (AZAMBUJA, PORTUGAL): AS “QUEIJEIRAS”227
Figura 6 A. Fragmento de queijeira de VNSP com superfície externa alisada e interna rugosa; B. fragmento de
queijeira de VNSP com a superfície externa e interna alisada.
Tabela 1 Representação das diferentes formas identicadas para as queijeiras de VNSP, em comparação com
exemplares que apresentam a totalidade do perl na Península Ibérica.
3.3. Tratamento de superfície
As superfícies das queijeiras apresentam frequentemente algumas “rugosidades” ou “repuxos”
no seu interior e, por vezes, no exterior. Isto sucede devido ao método de execução da perfura-
ção, sendo (aparentemente) sempre de fora para dentro do recipiente, o que resulta nas rugosi-
dades visíveis nestas peças (Figura 6,A).
No conjunto em estudo, o alisamento foi o tratamento preferencialmente executado tanto
nas superfícies exteriores (cerca de 90% do conjunto), como nas interiores (cerca de 50% do con-
junto) (Figura 6,B). No entanto, é claro que existe uma preocupação sobretudo com o alisamento
exterior e menor incidência de alisamento interior. Os fragmentos que não foram sujeitos a este
alisamento permaneceram com a superfície rugosa.
Este dado pode sugerir distintas funcionalidades para este artefacto, tendo em conta reci-
pientes como os “barrel vessels ou “churns”, que apresentam um interior rugoso, e são utiliza-
dos para a confecção de produtos lácteos no Mediterrâneo Oriental (Morris, 2013: 70-71). Entre-
tanto, também pode resultar de preferências culturais ou de questões de ordem cronológica,
que não podem ser identicadas neste conjunto devido ao contexto de recolha da maior parte
dos fragmentos.
Forma VNSP Outros exemplares da Península Ibérica Descrição
Cilíndrica fechada Pedra d’Ouro
Forma genericamente
cilíndrica, fechada.
Cilíndrica aberta El Malagon
Forma genericamente
cilíndrica, aberta. Geralmente
apresenta estrangulamento
no centro do perl.
Arredondada El Malagon
Forma genericamente
arredondada, fechada.
VILA NOVA DE SÃO PEDRO E O CALCOLÍTICO NO OCIDENTE PENINSULAR 2 228
3.4. Bordos
No conjunto foram identicadas três formas principais para os bordos: morfologia arredonda-
da; aplanada; biselada. Os bordos de forma aplanada são muito mais recorrentes no conjun-
to, somando um total de 51 exemplares. Esta morfologia é especialmente relevante, pois em al-
guns casos os fragmentos tendencialmente arredondados aparentam ter servido como fundos,
apoiados sobre superfícies planas, necessitando, portanto, bordos aplanados. Com pouca re-
presentatividade, ocorrem os bordos arredondados (16 exemplares), e biselados (9 exemplares),
que aparentam ter sido mais adequadamente utilizados como fazendo parte da área superior
do recipiente. Esta variabilidade nos bordos também pode ser identicada em outros sítios da
mesma fase crono-cultural, como o Zambujal (Tews, 2016), Leceia (Cardoso, 2006: 39) ou Penedo
do Lexim (Sousa, 2010: 338).
3.5. Perfurações
As perfurações das queijeiras são um tema muito importante para a compreensão destes arte-
factos, sendo de certa forma, o seu elemento mais característico. O diâmetro e a morfologia das
perfurações podem apresentar variações, sendo perceptíveis ao observar as queijeiras recolhi-
das nos distintos sítios arqueológicos de Portugal, e também da Europa. A morfologia das per-
furações pode ser dividida em algumas categorias, que tal como a forma geral das peças, pode
receber classicações muito pormenorizadas e especícas, ou denominações mais genéricas.
Neste estudo optou-se por assumir duas formas para as perfurações: circular e oval (aplicá-
veis para os restantes fragmentos recolhidos em território atualmente português). É importante
realçar, que em alguns casos a forma e diâmetro das perfurações pode variar dentro do mesmo
fragmento/recipiente, como é visível na Figura 7.
Em alguns dos fragmentos (26% do conjunto), foi possível identicar que as perfurações
foram realizadas de forma alinhada, enquanto na maior parte dos exemplares (44%) as perfura-
ções teriam sido realizadas de forma aleatória. Nos restantes fragmentos (30%), não foi possível
determinar com exatidão se teriam sido aplicadas de maneira aleatória ou intencionalmente ali-
nhada. Estas perfurações alinhadas poderiam ter sido desenvolvidas por uma multiplicidade de
motivações e métodos, como exemplicado no caso do Penedo do Lexim onde, aparentemente,
linhas guias poderiam ter sido desenhadas/aplicadas na superfície da peça (Sousa, 2010: 340).
No conjunto de VNSP a maior parte dos fragmentos apresenta um diâmetro máximo da face
externa e também da face interna entre 3 – 4 mm. 23% do conjunto exibe perfurações internas e
externas com diâmetros mais reduzidos, com 2,5 mm ou menos. Além disso, observam-se alguns
pontos fora da curva, com perfurações muito pequenas ou muito grandes (Figura 8), diferen-
ciando-se do padrão geral deste conjunto.
Através da tabela dos diâmetros de perfurações (Tabela 2) conclui-se que na maior parte
dos casos estes rondam entre 0,2 – 0,5 cm, com algumas excepções. Chama-se a atenção para os
sítios peninsulares com perfurações de menores dimensões, sendo estes a Ponte da Azambuja
2 e Casa Branca 7. Esta constatação é interessante, pois estes sítios, enquadrados na transi-
ção entre o Neolítico e Calcolítico, apresentam perfurações mais semelhantes às realidades dos
contextos LBK, enquadrados no Neolítico da Europa Central (Rodrigues, 2006; Rodrigues, 2015;
Bogucki, 1984: 16; Salque et al., 2012).
Figura 7 Fragmento de queijeira de VNSP com perfurações de diâmetro e
forma variáveis.
PRODUTOS SECUNDÁRIOS EM VILA NOVA DE SÃO PEDRO (AZAMBUJA, PORTUGAL): AS “QUEIJEIRAS”229
Figura 8 – Grácos com representação dos diâmetros máximos das faces internas e externas das perfurações de
queijeiras de Vila Nova de São Pedro.
Tabela 2 – Análise dos diâmetros das perfurações de queijeiras provenientes de contextos de Portugal e da Europa
Central. (Adaptado de Costeira, 2017, Tabela 37).
Região Sítio Diâmetro das
Perfurações
Diâmetro mais
frequente das
perfurações
Bibliograa
Europa Central Contextos LBK (Neolítico
Antigo) 0,2-0,3 cm 0,2-0,3 cm Salque, et al., 2012
Estremadura Vila Nova de São Pedro 0,15-0,8 cm 0,3-0,4 cm Este trabalho
Pedra d’Ouro 0,4 cm 0,4 cm Branco, 2007
Alentejo
São Pedro 0,3-0,6 cm 0,4-0,5 cm Costeira, 2017
Ponte da Azambuja 2 0,2 cm 0,2 cm Rodrigues, 2015
Casa Branca 7 0,2 cm 0,2 cm Rodrigues, 2006
Algarve
Alcalar 0,3-0,5 cm 0,3-0,5 cm Morán, 2019
Cerro do Castelo Corte
João Marques 0,5 cm 0,5 cm Gonçalves, 1989
VILA NOVA DE SÃO PEDRO E O CALCOLÍTICO NO OCIDENTE PENINSULAR 2 230
4. A MATÉRIA‑PRIMA: RECURSOS FAUNÍSTICOS EM VILA NOVA DE SÃO PEDRO
Como referido anteriormente, ainda carecemos de análises arqueométricas para recipientes ce-
râmicos provenientes de sítios arqueológicos enquadrados no 3º milénio A.C., no território ac-
tualmente português. Desta forma, dependemos de algumas evidências secundárias para inferir
sobre a exploração e consumo de produtos secundários em Vila Nova de São Pedro, nomeada-
mente, em relação aos laticínios, sobre os quais centrámos este estudo.
Utilizando a base empírica e recursos, actualmente, disponíveis, pode-se analisar esta te-
mática através de alguns factores, como a abundante fauna doméstica presente no povoado
ou através de categorias artefactuais especícas, como as queijeiras. O registo faunístico pare-
ce apontar que as populações de VNSP teriam explorado uma vasta gama de espécies animais
(Francisco et al, 2020; Detry et al, 2020), incluindo os animais tipicamente leiteiros, como Ovis/
Capra (ovelha/cabra) e Bos taurus (boi doméstico), o que possibilitaria o consumo de produtos
lácteos. Infelizmente ainda não se dispõe de informações claras e coesas sobre as idades de aba-
te destes mamíferos em muitos dos povoados calcolíticos em Portugal, o que nos possibilitaria
inferir com mais exatidão sobre o propósito económico destes indivíduos (Payne, 1973).
Tendo em conta uma tradição de consumo de laticínios (reconhecida como de forma es-
porádica/pontual) na vertente atlântica da Europa desde o Neolítico Antigo (Cubas et al, 2020),
faz sentido considerar que num contexto de crescente intensicação económica e por conse-
quência, demográca, durante o 3º milénio os produtos lácteos seriam um factor de subsistên-
cia para estas comunidades. Considerando também a provável intolerância à lactose que estas
populações teriam apresentado (Burger et al, 2020), é razoável considerar que a transformação
do leite em derivados lácteos com menos lactose (como o queijo) seria uma realidade, sendo que
as queijeiras poderiam ter sido integradas neste processo. Contudo, ainda são necessárias mais
análises (zooarqueológicas e químicas) para concretizar esta leitura.
5. QUEIJEIRAS EM VILA NOVA DE SÃO PEDRO: CONTEXTO ARQUEOLÓGICO
E CRONOLOGIA
Como anteriormente mencionado, o conhecimento acerca do contexto arqueológico destes ar-
tefactos, em VNSP, é muito parcelar. No entanto, a partir das intervenções recentemente desen-
volvidas no âmbito do projecto VNSP3000, foi possível registar contextos estratigracamente
seguros para este artefacto, obtendo-se datações sobre faunas recuperadas na mesma unidade
estratigráca de onde queijeiras foram recolhidas. Deste modo, as queijeiras da Sondagem 1 da
Área 3 (Figura 9) (espaço onde, até à data, foram recolhidos os únicos elementos desta natureza
artefactual no âmbito referido projecto), de Vila Nova de São Pedro podem ser enquadradas nos
meados, ou no terceiro quartel do 3º milénio A.C (Tabela 3).
6. CONCLUSÃO
Através desta análise, depreende-se que o conhecimento efectivo sobre este artefacto (desde a
sua cronologia, tipologia e funcionalidade), carece ainda de uma maior base empírica. Uma abor-
dagem que possa, no futuro, recorrer a análises arqueométricas, nomeadamente químicas, sobre
elementos provenientes de contextos arqueológicos áveis, será de extrema importância na de-
nição da funcionalidade destes elementos, nomeadamente na armação, mais categórica de
que os artefactos classicados como queijeiras seriam utilizados para o processamento de laticí-
nios, mais especicamente, no sítio de Vila Nova de São Pedro. No entanto, considera-se seguro
apontar que através das evidências disponíveis faz sentido defender que estes artefactos seriam
provavelmente utilizados para esta nalidade no povoado, não afastando por completo outras
propostas funcionais (Montero Ruiz e Esperanza, 2008; Salque et al, 2012; Guerra-Doce et al, 2012;
Francisco et al, 2020; Detry et al 2020).
PRODUTOS SECUNDÁRIOS EM VILA NOVA DE SÃO PEDRO (AZAMBUJA, PORTUGAL): AS “QUEIJEIRAS”231
Figura 9 – Vila Nova de São Pedro, Área 3, Sondagem 1, 2019.
Tabela 3 – Datações absolutas de Vila Nova de São Pedro (Neves et al, 2022).
Datações absolutas – Vila Nova de São Pedro – VNSP3000
Sítio Contexto Ref. Lab. Amostra Data BP δ13C
(‰)
δ15N
(‰)
2 s cal BC
(95,4%) Bibliograa
Vila Nova de
S. Pedro [305] Beta – 512586 Cervus ela. 3900±30 -20,00 3,7 2470-2297 (95,4%) Martins et al, 2019
Vila Nova de
S. Pedro [305] Beta – 512587 Sus sp. 3390±30 -22,2 5,3 1751-1619 (95,4%) Martins et al, 2019
Vila Nova de
S. Pedro [305] Beta – 512588 Bos sp. 4000±30 -21,3 5,3 2577-2468 (95,4%) Martins et al, 2019
Vila Nova de
S. Pedro [117] Beta – 549652 Cervus
elaphus 3960±30 -20.3 4.0 2570-2340 (95,4%) Neves et al, 2022
Vila Nova de
S. Pedro [116] Beta – 549653 Sus sp. 3760±30 -19.8 5.8 2290‑2120 (82,8%)
2090–2040 (12,6%) Neves et al, 2022
Vila Nova de
S. Pedro [319] Beta – 569110 Bos taurus 3950±30 -21.0 5.9 2500‑2340 (74,8%)
2570-2510 (20,6%) Neves et al, 2022
Vila Nova de
S. Pedro [319] Beta – 569111 Ovis aries/
capra 3940±30 -20.3 5.2 2500‑2300 (86%)
2570-2520 (9,4%) Neves et al, 2022
Vila Nova de
S. Pedro [117] Beta – 569112 Bos p. 3960±30 -21.3 6.0 2570-2340 (95,4%) Neves et al, 2022
VILA NOVA DE SÃO PEDRO E O CALCOLÍTICO NO OCIDENTE PENINSULAR 2 232
Tabela 4 – Contextos calcolíticos do Sul de Portugal com artefactos classicáveis como queijeiras. Adaptado a partir de Costeira, 2017.
Região Sítio Número de Fragmentos Referência
Estremadura
Barotas 1 Cardoso e Barros da Costa, 1992
Barranco do Farinheiro 2 Gonçalves et al, 2017
Cabeço do Pé da Erra 73 (um exemplar
“completo”)
Gonçalves, 1982; Gonçalves e Sousa, 2014;
Gonçalves e Sousa, 2017
Casal Cordeiro 5 Indeterminado Sousa, 2008; Sousa, 2010
Chibanes 1 Silva e Soares, 2014
Columbeira “Cerca de uma dezena” Correia, 2015
Espargueira 1 Encarnação, 2010
Fórnea Indeterminado Museu Municipal Leonel Trindade
Leceia 25 Cardoso, 2006
Miradouro dos Capuchos 1 Silva, 2017
Moita da Ladra 22 Cardoso, 2014
Ota 1Informação pessoal de André Texugo
Outeiro da Assenta 3 Cardoso e Martins, 2009
Outeiro Redondo 8Cardoso, 2013; Cardoso e Martins, 2016/2017
Outeiro de São Mamede 7 Cardoso e Carreira, 2003
Pedra d’Ouro 2 peças reconstituíveis Branco, 2007
Penedo do Lexim 132 (um perl completo) Sousa, 2010
Povoado das Baútas 1 Arnaud e Gamito, 1972
Pragança 3 Museu Nacional de Arqueologia
Travessa das Dores 1 Neto et al, 2015
Vila Nova de São Pedro 559 Barrozo, 2022
Zambujal 234 Tews, 2016
Alentejo
Alto do Outeiro Indeterminado Grilo, 2008; Grilo, 2010
Casa Branca 7 4 Rodrigues, 2006
Cerro dos Castelos de São Brás 1 Parreira, 1983
Mercador 3 Valera, 2013a
Moinho de Valadares 1 5Valera, 2013a
Monte da Tumba 3Silva e Soares, 1987
Monte do Marquês 15 2 Vale et al, 2013
Monte do Tosco 3 “peças” Valera, 2013a
Perdigões Indeterminado Valera, 1998
Ponte da Azambuja 2 10 Rodrigues, 2015
Porto das Carretas 1 Soares, 2013; Soares, Soares, e Silva,2007
Porto Torrão Indeterminado Valera e Filipe, 2004
São Pedro 22 Costeira, 2017
Torre do Esporão 3 1 Gonçalves, 1990/91
Três Moinhos 3 Soares, 1992
Algarve
Alcalar 3 (um perl completo) Morán, 2019
Cerro do Castelo de Santa Justa 2 Gonçalves, 1989
Corte João Marques 3 (um perl completo) Gonçalves, 1989
Gruta da Igrejinha dos Soidos 2 Carvalho e Veríssimo, 2019
PRODUTOS SECUNDÁRIOS EM VILA NOVA DE SÃO PEDRO (AZAMBUJA, PORTUGAL): AS “QUEIJEIRAS”233
Este estudo, ainda numa fase inicial, permitiu identicar algumas problemáticas que ainda
carecem de respostas em relação a estes elementos artefactuais, como a compreensão de todo
o leque de possíveis funcionalidades que poderão apresentar, a sua função exacta num possível
processamento de laticínios ou a utilização de diferentes morfologias, tratamentos de superfí-
cie, perfurações, e bordos para diferentes nalidades. Procurou-se questionar, igualmente, so-
bre a sua dispersão no território actualmente português, com uma aparente concentração quase
exclusiva em sítios arqueológicos do centro-sul de Portugal, face ao Norte do país.
Quanto ao estatuto de “fóssil diretor” do 3º milénio que as queijeiras acabam por receber,
pode-se questionar esta catalogação, pois como foi aqui observado, estes objetos têm uma alar-
gada tradição na Europa, e em Portugal surgem, também, em contextos de transição do 4º/3º
milénio (Casa Branca 7 e Ponte da Azambuja 2), faltando ainda datações mais nas para realizar
esta determinação.
O motivo de um aparecimento “tardio” das queijeiras no extremo ocidente peninsular está,
ainda, por determinar quando o uso destes artefactos em outras regiões da Europa está atesta-
do em nais do 6º milénio (Salque et al, 2012; McClure, et al, 2018). Adicionando a esta questão,
tem-se conhecimento do consumo de laticínios durante o Neolítico antigo (Cubas et al, 2020),
em populações que provavelmente seriam intolerantes à lactose (Burger et al, 2020), não tendo
desenvolvido a persistência da lactase durante idade adulta em proporções signicativas. Neste
sentido, o queijo e outros derivados lácteos seriam uma alternativa de mais fácil digestão para
estes indivíduos, que parecem somente utilizar artefactos especializados (em matéria-prima du-
rável), para o processamento de laticínios durante o 3º milénio em Portugal. Também é impor-
tante ter em mente que em alguns casos, para uma produção doméstica de derivados lácteos, os
recipientes especializados não são necessários.
AGRADECIMENTOS
Ao Museu Arqueológico do Carmo e à Associação dos Arqueólogos Portugueses pela cedência
dos materiais em estudo, e por toda a assistência e disponibilização de recursos no decorrer
desta pesquisa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARNAUD, José M.; GAMITO, Teresa J. (1972) – O povoado forticado neo- e eneolítico da Serra das Baútas (Carenque,
Belas). O Arqueólogo Português. Lisboa: Museu Nacional de Arqueologia. S. 3, 6, pp. 119-161.
ARNAUD, José M.; DINIZ, Mariana; NEVES, César; MARTINS, Andrea (2017) – Vila Nova de São Pedro – de novo, no 3.º
milénio. Um projecto para o futuro. Arqueologia e História, 66-67, Associação dos Arqueólogos Portugueses, Lisboa,
pp. 7-17.
ARRIBAS, Antonio; MOLINA, Fernando; TORRE, Francisco de la; NAJERA, Trinidad; SAEZ, Leovigildo (1978) – El pobla-
do de la Edad del Cobre de “El Malagon” (Cullar-Baza, Granada). Campaña de 1975. Cuadernos de Prehistoria de la
Universidad de Granada, n.o 3, pp. 67-116.
BOGUCKI, Peter. (1984) – Ceramic sieves of the Linear Pottery culture and their economic implications. Oxford Jour-
nal of Archaeology. 3:1 (1984), pp. 15-30.
BRANCO, Gertrudes (2007) – Pedra de Ouro (Alenquer): uma leitura actual da colecção Hipólito Cabaço. Trabalhos
de Arqueologia, 49. Lisboa. Instituto Português de Arqueologia.
BURGER, Joachim; LINK, Vivian; BLOCHER, Jens; SCHULZ, Anna; SELL, Christian; POCHON, Zoe; DIEKMANN, Yoan;
ŽEGARAC, Aleksandra; HOFMANOVA, Zuzana; WINKELBACH, Laura; REYNA-BLANCO, Carlos S.; BIEKER, Vanessa;
ORSCHIEDT, Jorg; BRINKER, Ute; SCHEU, Amelie; LEUENBERGER, Christoph; BERTINO, Thomas S.; BOLLONGINO,
Ruth; LIDKE, Gundula; STEFANOVIĆ, Soja; JANTZEN, Detlef; KAISER, Elke; TERBERGER, Thomas; THOMAS, Mark G.;
VEERAMAH, Krishna R.; WEGMANN, Daniel (2020) – Low Prevalence of Lactase Persistence in Bronze Age Europe
Indicates Ongoing Strong Selection over the Last 3,000 Years. Current Biology. 2; 30(21): 4307-4315.e13.
CARDOSO, João Luís (2006) – As cerâmicas decoradas pré-campaniformes do povoado pré-histórico de Leceia: suas
características e distribuição estratigráca. Estudos Arqueológicos de Oeiras. Oeiras, Câmara Municipal, 14, pp. 9-276.
VILA NOVA DE SÃO PEDRO E O CALCOLÍTICO NO OCIDENTE PENINSULAR 2 234
CARDOSO, João Luís (2013) – O povoado pré-histórico do Outeiro Redondo (Sesimbra). Resultados da primeira fase
de escavações arqueológicas (2005-2008). Estudos Arqueológicos de Oeiras, 20, Oeiras, Câmara Municipal, 2013,
pp. 641-730.
CARDOSO, João Luís (2014) - O povoado calcolítico forticado da Moita da Ladra (Vila Franca de Xira, Lisboa): resul-
tados das escavações efectuadas (2003-2006). Estudos Arqueológicos De Oeiras, 21, pp. 217-294.
CARDOSO, João Luís; BARROS DA COSTA, João (1992) – Estação pré-histórica de Barotas (Oeiras); Setúbal Arqueo-
lógica, vol. IX – X, pp. 229-245.
CARDOSO, João Luís; CARREIRA, Júlio Roque (2003) – O Povoado Calcolítico do Outeiro de São Mamede (Bombar-
ral): estudo do espólio das escavações de Bernardo de Sá (1903-1905). Estudos Arqueológicos de Oeiras. Oeiras.
Câmara Municipal, 11, pp. 97-228.
CARDOSO, João Luís; MARTINS, Filipe (2009) – O povoado pré-histórico do Outeiro da Assenta (Óbidos). Estudos
Arqueológicos de Oeiras, 17, Oeiras, Câmara Municipal, 2009, pp. 261-356.
CARDOSO, João Luís; SOARES, António Monge; MARTINS, José M. M. (2013) – O povoado campaniforme forticado
da Moita da Ladra (Vila Franca de Xira, Lisboa) e a sua cronologia absoluta. O Arqueólogo Português, Série V, 3, pp.
213-253.
CARDOSO, João Luís; MARTINS, Filipe (2016/2017) – O povoado pré-histórico do Outeiro Redondo (Sesimbra): resul-
tados das campanhas de escavação de 2013 e 2014. Estudos Arqueológicos de Oeiras, Oeiras, 23, pp. 233-392.
CARVALHO, António F.; VERÍSSIMO, Humberto (2019) – Gruta da Igrejinha dos Soidos (Alte, Loulé): Contribuição para
o estudo do nal da pré-história no Algarve; Do Paleolítico ao Período Romano Republicano; Setúbal Arqueológica,
Vol. 18, p. 127.
CORREIA, Francisco M. Rosa (2015) – O castro da Columbeira (Bombarral): a exploração dos recursos faunísticos no
Calcolítico estremenho. Dissertação de mestrado, Arqueologia, Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Univer-
sidade do Algarve.
COSTEIRA, Catarina (2017) – No 3º milénio a.n.e., o sítio de São Pedro e as dinâmicas de povoamento no Alentejo
Médio. Tese de Doutoramento em Pré-história apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. 2 vol.
COURTIN, Jean (1974) – Le néolithique de la provence. Mmoires de la socite prhistorique franaise, 11. Paris,
Klincksieck.
CUBAS, Miriam; LUCQUIN, Alexandre; ROBSON, Harry K.; COLONESE, André Carlo; ARIAS, Pablo; AUBRY, Bruno; BIL-
LARD, Cyrille; JAN, Denis; DINIZ, Mariana; FERNANDES, Ricardo; FÁBREGAS VALCARCE, Ramón; GERMAIN-VALLÉE,
Cécile ; JUHEL, Laurent ; de LOMBERA-HERMIDA, Arturo ; MARCIGNY, Cyril; MAZET, Sylvain; MARCHAND, Grégor; NE-
VES, César; ONTAÑON-PEREDO, Roberto; RODRIGUEZ-ÁLVAREZ, Xose Pedro; SIMÕES, Teresa; ZILHÃO, João; CRAIG,
Oliver E. (2020) – Latitudinal gradient in dairy production with the introduction of farming in Atlantic Europe. Na-
ture Communications; Vol. 11.
DECAVALLAS, Oreste (2007) – Beeswax in Neolithic perforated sherds from the northern Aegean: new economic and
functional implications. In MEE, C.; RENARD, J., eds., Cooking up the past: food and culinary practices in the Neolithic
and Bronze Age Aegean. Oxford: Oxbow Books, pp. 148-157.
DÉCHELETTE, Joseph (1908) – Manuel d’archéologie préhistorique, celtique et gallo-romaine. I, Archéologie préhis-
torique. Paris.
DETRY, Cleia, FRANCISCO, Ana, DINIZ, Mariana, MARTINS, Andrea, NEVES, César, ARNAUD, José (2020) Estudo
zooarqueológico das faunas do Calcolítico nal de Vila Nova de São Pedro (Azambuja, Portugal): campanhas de
2017 e 2018. In ARNAUD, José M.; NEVES, César; MARTINS, Andrea, (coords.). Arqueologia em Portugal 2020 – Estado
da Questão. Lisboa: Associação dos Arqueólogos Portugueses, pp. 925-941.
EVERSHED, Richard P.; PAYNE, Sebastian; SHERRATT, Andrew G.; COPLEY, Mark S.; COOLIDGE, Jennifer; UREM-KOT-
SU, Duska; KOTSAKIS, Kostas; OZDOĞAN, Mehmet; OZDOĞAN, Aslý E.; NIEUWENHUYSE, Oliver; AKKERMANS, Peter
M.; BAILEY, Douglass; ANDEESCU, Radian-Romus; CAMPBELL, Stuart; FARID, Shahina; HODDER, Ian; YALMAN, Nur-
can; OZBAŞARAN, Mihriban; BIÇAKCI, Erhan; GARFINKEL, Yossef; LEVY, Thomas; BURTON, Margie M. (2008) – Earliest
date for milk use in the Near East and southeastern Europe linked to cattle herding. Nature. 25; 455(7212): 528-31.
ENCARNAÇÃO, Gisela (2010) – As cerâmicas carenadas do povoado da Espargueira (Serra das Éguas, Amadora). Um
contributo para o seu estudo. Tese de mestrado apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
FRANCISCO, Ana; DETRY, Cleia; NEVES, César; MARTINS, Andrea; DINIZ, Mariana; ARNAUD, José (2020) – As faunas
depositadas no Museu Arqueológico do Carmo provenientes de Vila Nova de São Pedro (Azambuja): as campanhas
de 1937 a 1967. In ARNAUD, José M.; NEVES, César; MARTINS, Andrea, (coords). Arqueologia em Portugal 2020 – Es-
tado da Questão. Lisboa: Associação dos Arqueólogos Portugueses, pp. 943-957.
PRODUTOS SECUNDÁRIOS EM VILA NOVA DE SÃO PEDRO (AZAMBUJA, PORTUGAL): AS “QUEIJEIRAS”235
GONÇALVES, Victor (1982) – O povoado calcolítico do Cabeço do Pé da Erra (Coruche). Clio – Revista do Centro de
História da Universidade de Lisboa. Vol 4. Instituto Nacional de Investigação Cientíca.
GONÇALVES, Victor (1989) – Megalitismo e metalurgia no Alto Algarve Oriental: Uma aproximação integrada. Lisboa:
UNIARQ; INIC., 2 vols.
GONÇALVES, Victor (1990/91) – TESP 3: O povoado pré-histórico da Torre do Esporão (Reguengos de Monsaraz).
Portugalia. Porto. Nova série, 11-12, pp. 52-72.
GONÇALVES, Victor; SOUSA, Ana Catarina (2014) – Coruche e as Antigas Sociedades Camponesas. In Coruche, o Céu,
a Terra e os Homens. Coruche. Câmara Municipal, pp. 29-67.
GONÇALVES, Victor; SOUSA, Ana Catarina (2017) – The Shadows of the Rivers and the Colours of Copper. Some
Reections on the Chalcolithic Farm of Cabeço do Pé da Erra (Coruche, Portugal) and its Resources. In Martin Bar-
telheim, Primitiva Bueno Ramírez and Michael Kunst (Eds.), Key Resources and Sociocultural Developments in the
Iberian Chalcolithic. RessourcenKulturen 6 (Tübingen Library Publishing) Tübingen, pp. 167-201.
GONÇALVES, Victor; SOUSA, Ana Catarina; ANDRADE, Marco (2017) – O Barranco do Farinheiro e a presença cam-
paniforme na margem esquerda do Tejo. In GONÇALVES, V. S. (coord) Sinos e Taas. Junto ao Oceano e mais longe.
Aspectos da presena campaniforme na península Ibrica. Lisboa.
GONZÁLEZ DE CANALES CERISOLA, Fernando; SERRANO PICHARDO, Leonardo; LLOMPART GÓMEZ, Jorge. (2004) –
El emporio fenicio precolonial de Huelva (ca. 900-770 a.C.). Madrid: Biblioteca Nueva.
GRILO, Carolina (2008) - O povoado pré-histórico do Alto do Outeiro, Baleizão, Beja. Actas Do III Congresso de Arqueo-
logia do Sudoeste Peninsular Novembro de 2007. Aljustrel: Câmara Municipal De Aljustrel / Universidade De Huelva.
GRILO, Carolina (2010) – O povoado pré-histórico do Alto do Outeiro, Baleizão, Beja. Resultados preliminares. In.
GONÇALVES, V. S.; SOUSA, A. C. (eds.): Transformaão e mudana no Centro e Sul de Portugal no 3.º milnio a.n.e.
Actas do Colóquio Internacional. Cascais, Câmara Municipal, pp. 333-344.
GUERRA DOCE, Elisa; DELIBES DE CASTRO, Germán; RODRIGUEZ MARCOS, José.; CRESPO DIEZ, Manuel; GÓMEZ
PÉREZ, Alicia; HERRÁN MARTINEZ, José; TRESSERRAS JUAN, Jordi; MATAMALA MELLÍN, Juan (2011-2012) – Residuos
de productos lácteos y de grasa de carne en dos recipientes cerámicos de la Edad del Bronce del Valle Medio del
Duero. BSAA Arqueología: Boletín del Seminario de Estudios de Arqueología, 77. Valladolid, pp. 105-137.
JALHAY, Eugénio; PAÇO, Afonso (1945) – El castro de Vilanova de San Pedro. Actas y memorias de la Sociedad Espa-
nola de Antropologia: Etnograa y Prehistoria. Madrid, 20, pp. 5-93.
JOLY, Nicolas. (1879) – L’homme avant les métaux. German Baillière, Bibliothèque Scientique Internationale, Paris.
LEISNER, Vera; SCHUBART, H. Hermanfrid (1966) – Die kupferzeitliche Befestigung von Pedra do Ouro/Portugal. Ma-
drider Mitteilungen, n.o 7, pp. 9-60.
LESTRANGE, Marie-Therese; GESSAIN, Monique (1976) – Collections Bassari. Sénégal, Guiné. Paris: Catalogues du
Musée de l´Homme. Muséum National d’Histoire Naturelle.
MARTINS, Andrea, NEVES, César, DINIZ, Mariana; ARNAUD, José (2019) – O povoado calcolítico de Vila Nova de São
Pedro (Azambuja). Notas sobre as campanhas de escavação de 2017 e 2018. Arqueologia & História, nº 69, Associa-
ção dos Arqueólogos Portugueses, pp. 133-167.
MCCLURE, Sarah B.; MAGILL, Clayton; PODRUG, Emil; MOORE, Andrew M. T.; HARPER, Thomas K.; CULLETON, Bren-
dan J.; KENNETT, Douglas J.; FREEMAN, Katherine H. (2018) – Fatty acid specic δ13C values reveal earliest Mediter-
ranean cheese production 7, 200 years ago. PLOS ONE 13(9).
MONTERO RUIZ, Ignacio; RODRÍGUEZ DE LA ESPERANZA, Maria (2008) – Un pequeño campamento minero de da
Edad del Bronce: La Loma de la Tejería (Albarracín, Teruel). Trabajos de Prehistoria, Madrid, 65:1, pp. 155-168.
MORÁN, Elena (2019) – El Asentamiento Prehistórico de Alcalar (Portimão, Portugal) La organizacíon del territorio y
el proceso de formacíon de un estado prístino en la bahía de Lagos en el tercer milénio a.n.e; Estudos e Memórias,
12, Uniarq. Lisboa.
MORRIS, Sarah P. (2013) – From Clay to Milk in Mediterranean Prehistory: Tracking a Special Vessel. Backdirt – Annual
Review of the Cotsen Institute of Archaeology at UCLA. Celebrating 40 years of discovery, pp. 70-79.
NETO, Nuno; REBELO, Paulo; CARDOSO, João Luís (2015) – O povoado do Neolítico Final e do Calcolítico da Travessa
das Dores (Ajuda – Lisboa). Estudos Arqueológicos De Oeiras, 22, pp. 235-280.
NEVES, César; ARNAUD, José M; DINIZ, Mariana; MARTINS, Andrea (2022) – O povoado calcolítico de Vila Nova de
São Pedro (Azambuja). Notas sobre a campanha de escavação de 2019, Arqueologia & História, Vol. 71-72, Associa-
ção dos Arqueólogos Portugueses, pp. 159 184.
VILA NOVA DE SÃO PEDRO E O CALCOLÍTICO NO OCIDENTE PENINSULAR 2 236
PAÇO, Afonso; JALHAY, Eugénio. (1939) – A póvoa eneolítica de Vila Nova de S. Pedro: Notas sobre a 1ª e 2ª campanha
– 1937 e 1938. Brotéria. Separata Lisboa. Vol. XXVIII: 6, pp. 2-46.
PARREIRA, Rui (1983) – O Cerro dos Castelos de São Brás (Serpa) relatório preliminar dos trabalhos arqueológicos de
1979 e 1980. O Arqueólogo Português, série IV, 1, pp. 149-168.
PAYNE, Sebastian (1973) – Aşvan 1968-1972: An Interim Report, Kill-o Patterns in Sheep and Goats: The Mandibles
from Aşvan Kale. Anatolian Studies, 23, pp. 281-303.
RODRIGUES, Filipa (2006) – Casa Branca 7: Um povoado na transião do 4.º para o 3.º milnio a.n.e. na margem es-
querda do Guadiana (Serpa). Tese de Mestrado apresentada à Faculdade de Letras de Lisboa.
RODRIGUES, Filipa (2015) – O sítio da Ponte da Azambuja 2 (Portel, Évora) e a emergência dos recintos de fossos no
SW peninsular nos nais do 4.º milnio a.n.e. Tese de doutoramento apresentada à Faculdade de Ciências Huma-
nas e Sociais da Universidade do Algarve. 2 vol.
SALQUE, Mélanie; BOGUCKI, Peter; PYZEL, Joanna; SOBKOWIAK-TABAKA, Iwona; GRYGIEL, Ryszard; SZMYT, Marze-
na; EVERSHED, Richard P. (2012)262,92Earliest evidence for cheese making in the sixth millennium BC in northern
Europe. Nature 493, pp. 522-525.
SOARES, António (1992) – O povoado calcolítico dos Três Moinhos (Baleizão, Conc. de Beja). Notícia preliminar. Se-
túbal Arqueológica, vol. IX - X, pp. 291-314.
SOARES, Joaquina (2013) – Transformações sociais durante o III milénio AC no Sul de Portugal – O povoado do Porto
das Carretas. Memórias d’Odiana 2.ª série.
SOARES, António M.; SOARES, Joaquina; SILVA, Carlos Tavares (2007) – A datação pelo radiocarbono das fases de
ocupação do porto das Carretas: algumas reexões sobre a cronologia do Campaniforme. Revista Portuguesa de
Arqueologia. lisboa. 10:2, pp. 127-134.
SOUSA, Ana Catarina (2008) – Arqueologia na A21: uma análise preliminar dos trabalhos arqueológicos 2004-2007.
Boletim Cultural. Mafra. (2008), pp. 411-497.
SOUSA, Ana Catarina (2010) – O Penedo do Lexim e a sequência do Neolítico Final e Calcolítico da Península de
Lisboa. Tese de Doutoramento em Pré-história apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. 2 vol.
SILVA, Carlos Tavares (2017) Entre os estuários do Tejo e do Sado na 2.ª metade do III Milénio BC: O fenómeno
campaniforme. In V. S. Gonçalves (Ed.), Sinos e Taas. Junto ao oceano e mais longe. Aspectos da presena cam-
paniforme na Península Ibrica (pp. 142-157). Lisboa: Uniarq.
SILVA, Carlos Tavares; SOARES, Joaquina (1987) – O povoado forticado calcolítico do Monte da Tumba. I – Escava-
ções arqueológicas de 1982-86 (resultados preliminares). Setúbal Arqueológica. Setúbal, 8, pp. 29-79.
SILVA, Carlos Tavares; SOARES, Joaquina (2014) O Castro de Chibanes (Palmela) e o tempo social do III milénio BC
na Estremadura; Setúbal Arqueológica, Vol. 15, pp. 105-172.
TEWS, Thomas. (2016) – Os vasos perfurados sem fundo nas primeiras sociedades agro-pastoris na Península Ibérica
e na Europa Central: perspectivas da arqueologia (experimental), arqueometria e etnograa. In COELHO, I.; TORRES,
J.; GIL, L.; RAMOS, T. (coord.) – Entre ciência e cultura: Da interdisciplinaridade à transversalidade da arqueologia.
Actas das VIII Jornadas de Jovens em Investigaão Arqueológica. Lisboa: CHAM-FCSH/UNL-UAÇ e IEMFCSH/UNL.
VALE, Nelson; OLIVEIRA, Lurdes; BAPTISTA, Lídia; GOMES, Sérgio (2013) – Práticas de enchimento de estruturas em
negativo no Monte do Marquês 15 (Beringel, Beja). In JIMÉNEZ ÁVILA, J.; BUSTAMENTE, M.; GARCÍA CABEZAS, M.
(eds.) – Actas del VI Encuentro de Arqueologia del Suroeste peninsular, Villafranca de los Barros, pp. 551-574.
VALERA, António C. (1998) Análise da componente cerâmica do povoado dos Perdigões. In LAGO, M.; DUARTE,
C.; VALERA, A.; ALBERGARIA, J.; ALMEIDA, F.; CARVALHO, A. F. O povoado dos Perdigões (Reguengos de Monsaraz):
dados preliminares dos trabalhos arqueológicos realizados em 1997. Revista Portuguesa de Arqueologia. Lisboa: 1:1,
pp. 80-104.
VALERA, António C. (2013 a) – As comunidades agropastoris na margem esquerda do Guadiana, 2.ª metade do IV aos
inícios do II milénio AC. Memórias d’Odiana, 2.ª série. Estudos Arqueológicos do Alqueva.
VALERA, António C.; FILIPE, Iola (2004) – O Povoado do porto Torrão (Ferreira do Alentejo): Novos dados e novas
problemáticas no contexto da calcolitização do Sudoeste peninsular. Era Arqueologia. Lisboa. 6, pp. 28-63.
VEIGA, Sebastião P. M. E. (1886) – Antiguidades Monumentaes do Algarve. Tempos prehistoricos. 1. Lisboa: Imprensa
Nacional.
WOOD, Jacqui. (2007) – A Re-Interpretation of a Bronze Age Ceramic. Was it a Cheese Mould or a Bunsen Burner?
In GHEORGHIU, D., ed., Fire as an Instrument: The Archaeology of Pyrotechnologies. Oxford: BAR, pp. 53-56 (BAR
International Series, 1619).
PRODUTOS SECUNDÁRIOS EM VILA NOVA DE SÃO PEDRO (AZAMBUJA, PORTUGAL): AS “QUEIJEIRAS”237
Financiado por fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, no âmbito dos projec
tos UIDB/00698/2020 (https://doi.org/10.54499/UIDB/00698/2020) e UIDP/00698/2020 (https://doi.org/10.54499/
UIDP/00698/2020)
ResearchGate has not been able to resolve any citations for this publication.
Chapter
Full-text available
This article aims to give an overview of the state of research on the perforated bottomless vessels in the first agropastoral societies in the Iberian Peninsula and in Central Europe. In the Iberian Peninsula, these vessels are traditionally interpreted as tools for making cheese and are therefore called “queijeiras” (in Portugal, from queijo/cheese) or “queseras” (in Spain, from queso/cheese), but in this article they are called “perforated bottomless vessels” because it is a more neutral designation, without interpretation. The purpose of this article is to present several interpretations for possible uses of the perforated bottomless vessels (cheese strainers, honey strainers, lamps, utensils for metallurgy, storage containers for embers, Bunsen burners or censers) and discuss these interpretations with arguments from (experimental) archaeology, archaeometry and ethnography.
Article
Full-text available
The Chalcolitic fortified settlement of Moita da Ladra is located on the top of a high volcanic chimney that dominates the Tagus estuary. The archaeological site was entirely excavated due to the exploitation prosecution of a basalt quarry. The identified archaeological structures are both defensive and residential. The remains of an ellipsoidal wall with 80 m length and 44 m width including two massive towers and an entrance facing the Tagus estuary on the southern side. This settlement’s builders wanted it to be easily seen from the river and at a long distance. Besides its defensive function this archaeological site is intended to be a landmark in this landscape. The implantation of this Chalcolithic settlement is related with the access control of the large inner basin of Loures lowland, related with Sizandro river basin flux catchement in which Zambujal fortified settlement is located. The site has only one occupation phase with few but diversified archaeological remains characterized with both decorated ceramics of “folha de acacia/ crucífera” group and bell beakers ceramics represented by maritime vases and vases with geometric decoration. Radiocarbon dating points out to the occupation of this site during the second half of the 3rd millennium BC, the same of other high fortified settlements of this region, such as Penha Verde, Sintra or Leceia, Oeiras. The coexistence of both bell beakers ceramics and non beaker’s ceramics of “folha de acacia/ crucífera” group has an important cultural meaning that is valued in this article.
Book
Full-text available
A synthesis on the settlement network of the portuguese north left bank of Guadiana river, integrating a critique of the regional organization of the Late Neolithic and Chalcolithic societies done in the sequence of a bloc of rescue intervention of the construction of Alqueva dam. Published in 2013, the book is from 2005.
Article
Full-text available
Em Leceia, identificaram-se quatro fases culturais e cinco fases construtivas, com início no Neolítico Final e terminus no Calcolítico Pleno, coincidente, na sua parte final, com a eclosão do “fenómeno” campaniforme. Tal realidade encontra-se articulada directamente com a sequência estratigráfica observada.
Article
Full-text available
O povoado pré-histórico do Outeiro da Assenta é conhecido na bibliografia arqueológica portuguesa desde 1914, quando o seu explorador, o Dr. Félix Alves Pereira, iniciou a publicação de desenvolvida notícia, nas páginas de “O Arqueólogo Português”, em que deu conta dos principais resultados da primeira campanha de escavações ali efectuada em 1911. Contudo, apesar do evidente interesse arqueológico da estação, sublinhado pela importância dos espólios arqueológicos recolhidos, nem as escavações tiveram a continuidade adequada, pois apenas se efectuou uma segunda campanha, no ano de 1913, dirigida por Luís Chaves, nem os materiais conheceram a publicação sistemática e exaustiva que mereciam. Só a partir de 2006 se deu início ao desenho dos materiais que agora se publicam – quase todos inéditos – guardados no Museu Nacional de Arqueologia, embora nem todos os representados nos trabalhos publicados por aqueles dois autores tivessem sido agora identificados nas colecções. Tal fica-se a dever a diversas reorganizações dos depósitos daquela Instituição, ao longo das últimas décadas.
Presentation
Identified during the survey works conducted under the project ANSOR – Anthropization of the Sorraia Valley, the archaeological site of Barranco do Farinheiro corresponds to three different Chalcolithic occupation areas (loci 1 to 3) located on the edge of Miocene escarpment overhanging to the alluvial plain of the Sorraia River, few kilometers east from the chalcolithic site of Cabeço do Pé da Erra. So far, the excavation works were focused exclusively on Barranco do Farinheiro 2, affected by erosion processes possibly motivated by sand extraction. Despite the small excavated area (36 m2), a negative feature was identified herein. It corresponds to a ditch arranged in two levels with distinct altimetry, filled with an interesting sedimentation sequence. Two moments of occupation/ use are discernible: a first one, possibly integrated in the first half of the 3rd millennium BCE; a second, datable already of its second half. Both of these occupation/ use episodes are separated by a sterile stratigraphic level corresponding to deposits derived from the disaggregation of the ditch walls – which allows distinguishing these two phases, separated by an occupation hiatus. These two episodes are also distinguishable by the presence of a set of decorated pottery in the upper levels, absent in the lower levels of the ditch colmatation sequence. This set includes sherds with the typical printed decoration of the «acacia-leaf» group and bell beaker ceramics (plain and decorated), stratigraphically associable. This last occupation took place when the ditch was already half filled; the deposition of vessels along its West wall, as well as the deposition of loom weights on a pit (about 200 fragments, corresponding exclusively to the crescent type), was performed during this latter phase. Based on the data collected in Barranco do Farinheiro 2, the authors rehearse a preliminary attempt to characterize the beaker occupation on the left bank of the lower Tagus River, showing that the scarcity of sites therein identified (in opposition to the intense occupation known on the right bank) could be probably explained by archaeographic contingencies, not exactly by a lack of effective use of the territory.