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estudos &
memórias
CENTRO DE ARQUEOLOGIA DA UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE LETRAS DA UNIVERSIDADE DE LISBOA
CENTRO DE ARQUEOLOGIA DA UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE LETRAS DA UNIVERSIDADE DE LISBOA
VILA NOVA DE SÃO PEDRO
E O CALCOLÍTICO NO
OCIDENTE PENINSULAR
2
Mariana Diniz • Andrea Martins • César Neves • José M. Arnaud
estudos & memórias
Série de publicações da UNIARQ
(Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa)
Direcção: Ana Catarina Sousa
Série fundada por Victor S. Gonçalves (1985)
23.
Vila Nova de São Pedro e o Calcolítico
no Ocidente Peninsular 2
ponsáveis pelos seus originais, respeitando a UNIARQ a sua autoria e não sendo responsável por
ÍNDICE
7 VILA NOVA DE SÃO PEDRO – MONUMENTO NACIONAL
José M. Arnaud, Mariana Diniz, César Neves, Andrea Martins
21 EUGÉNIO JALHAY E O CASTRO DE VILA NOVA DE SÃO PEDRO – NOS ECOS DA PROVÍNCIA
DE PORTUGAL
António Júlio Limpo Trigueiros, SJ
37 MANUEL AFONSO DO PAÇO, MILITAR E ARQUEÓLOGO
VILA NOVA DE SÃO PEDRO (AZAMBUJA, PORTUGAL): NOVOS DADOS SOBRE ESTRUTURAS,
MATERIAIS E CRONOLOGIA
César Neves, Andrea Martins, Mariana Diniz, José M. Arnaud
VILA NOVA DE SÃO PEDRO E MARIA DE LOURDES COSTA ARTHUR (1924-2003): UMA HISTÓRIA
NO FEMININO
Ana Cristina Martins
123 O ESPÓLIO METÁLICO DE VILA NOVA DE SÃO PEDRO – INVESTIGAÇÕES ARQUEOMETALÚRGICAS
António M. Monge Soares
135 O TERRITÓRIO DE VILA NOVA DE SÃO PEDRO NO 3º MILÉNIO A.C: ANÁLISE DE PROVENIÊNCIA
DAS MATÉRIAS-PRIMAS LÍTICAS A PARTIR DE NOVOS DADOS (2017-2018)
Patrícia Jordão, Nuno Pimentel, Andrea Martins, Pedro Cura, Mariana Diniz, César Neves, José M. Arnaud
153 ENTRE DOMÉSTICOS E SELVAGENS: NOVOS DADOS SOBRE A FAUNA DE VILA NOVA DE SÃO PEDRO
(AZAMBUJA, PORTUGAL)
Cleia Detry, Mariana Diniz, César Neves, Andrea Martins, José M. Arnaud
171 INVESTIGATING THE ECONOMIC INTEGRATION OF COASTAL AND INTERIOR SETTLEMENTS
IN LATE PREHISTORIC PORTUGAL: NEW ISOTOPIC DATA FROM VILA NOVA DE SÃO PEDRO
(AZAMBUJA, PORTUGAL)
Anna Waterman, Cleia Detry, César Neves , Mariana Diniz, Andrea Martins, José M. Arnaud, David Peate
185 NOVAS IMAGENS DE VILA NOVA DE SÃO PEDRO (AZAMBUJA, PORTUGAL): O CONTRIBUTO
DA FOTOGRAMETRIA
A CERÂMICA CALCOLÍTICA DE VILA NOVA DE SÃO PEDRO – CARACTERIZAÇÃO TEXTURAL,
QUÍMICA E MINERALÓGICA
Rute Correia Chaves, João Pedro Veiga, António M. Monge Soares
221 PRODUTOS SECUNDÁRIOS EM VILA NOVA DE SÃO PEDRO (AZAMBUJA, PORTUGAL): AS “QUEIJEIRAS”
Lucas Barrozo, Mariana Diniz, Andrea Martins, César Neves, José M. Arnaud
239 SYMBOLART – ABORDAGEM METODOLÓGICA NÃO DESTRUTIVA PARA A CARACTERIZAÇÃO
DE ARTEFACTOS SIMBÓLICOS DE VILA NOVA DE SÃO PEDRO (AZAMBUJA, PORTUGAL)
César Neves, José M. Arnaud
A COLABORAÇÃO DO ANTIGO INSTITUTO DE ANTROPOLOGIA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA
COM AS ESCAVAÇÕES DE VILA NOVA DE S. PEDRO: ALGUMAS NOTAS HISTÓRICAS
Ana Maria Silva
CONHECIMENTO E MEMÓRIA: A SALA DO POVOADO FORTIFICADO DE VILA NOVA DE SÃO
PEDRO NO MUSEU DE AZAMBUJA
Nuno Nobre
279 LA PÉNINSULE IBÉRIQUE ET LE CHALCOLITHIQUE DE LA MÉDITERRANÉE OCCIDENTALE:
ANALOGIES ET CONTRASTES
Jean Guilaine
287 POSFÁCIO
221
Lucas Barrozo
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa / barrozo.lucasp@gmail.com
Mariana Diniz
UNIARQ, Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa / Associação dos Arqueólogos Portugueses /
m.diniz@letras.ulisboa.pt
Andrea Martins †
UNIARQ, Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa / Fundação para a Ciência e Tecnologia /
Associação dos Arqueólogos Portugueses / andrea.arte@gmail.com
César Neves
Associação dos Arqueólogos Portugueses / UNIARQ, Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa /
c.augustoneves@gmail.com
José M. Arnaud
Associação dos Arqueólogos Portugueses/ jemarnaud@gmail.com
Resumo: Durante o 3º milénio A.C., as comunidades que ocuparam o sítio arqueológico de Vila Nova de São
Pedro (Azambuja), testemunharam um período de notáveis alterações e mudanças, pontuado pela inten-
sicação e diversicação dos sistemas socioeconómicos. Uma das faces desta diversicação económica
centra-se na exploração e no consumo dos denominados “produtos secundários”, visíveis a partir do registo
arqueológico, quer através de estudos faunísticos, como da análise de categorias artefactuais especícas
como as queijeiras. Estes recipientes, cujas características funcionais nos indicam uma utilização relaciona-
da com o processamento de laticínios, são considerados um “fóssil director” do 3º milénio na Estremadura
Portuguesa, tendo sido identicados em numerosos povoados. Em Vila Nova de São Pedro foram recolhidos
centenas de fragmentos de queijeiras, provenientes quer das escavações dirigidas por Afonso do Paço, como
no âmbito do recente projecto VNSP3000. Este texto corresponde aos resultados do estudo morfológico e
tecnológico desta colecção, permitindo uma abordagem sistemática a esta categoria artefactual.
Palavras ‑chave: “Queijeiras”; Vila Nova de São Pedro; Calcolítico; produtos secundários.
Abstract: During the 3rd millennium B.C., the communities that occupied the archaeological site of Vila Nova
de São Pedro (Azambuja) witnessed a period of remarkable alterations and changes, punctuated by the inten-
sication and diversication of socioeconomic systems. One of the aspects of this economic diversication
is centred on the exploitation and consumption of “secondary products”, visible through the archaeological
record, be it through faunal studies, as well as specic artefactual categories such as the so called “cheese
strainers”. These vessels, whose functional characteristics indicate a use related to the processing of dairy
products, are considered a “type-fossils” of the 3rd millennium B.C in the Portuguese Estremadura, being
identied in numerous settlements. In Vila Nova de São Pedro a large quantity of cheese strainer fragments
was collected, coming either from the excavations directed by Afonso do Paço, or from within the scope of
the VNSP3000 project. This paper will present the main results of the morphological and technological anal-
ysis of this collection, allowing a systematic approach to this artefactual category.
Keywords: “Cheese strainers”; Vila Nova de São Pedro; Calcolithic; secondary products.
PRODUTOS SECUNDÁRIOS
EM VILA NOVA DE SÃO
PEDRO (AZAMBUJA,
PORTUGAL):
AS “QUEIJEIRAS”
VILA NOVA DE SÃO PEDRO E O CALCOLÍTICO NO OCIDENTE PENINSULAR 2 222
1. INTRODUÇÃO
A transição para o 3º milénio A.C. marca um período de fortes alterações nos modos de vida das
populações que habitaram a Península Ibérica (Blanco-González et al, 2018). Estas mudanças
terão sido sentidas ao nível simbólico, social, económico, cosmológico, entre tantas outras es-
feras. Com estas utuações acresce a necessidade de aproveitamento de recursos disponíveis,
num contexto de aumento demográco e crescente dependência nos animais domésticos para
a subsistência humana. O uso dos chamados “produtos secundários” enquadra-se nesta con-
juntura, onde novos hábitos e práticas são desenvolvidos, por vezes solidicados em artefactos
especícos como os elementos de tear ou as queijeiras.
Neste texto, pretende-se analisar mais pormenorizadamente uma das facetas económicas
destas alterações, tendo como eixo central um artefacto especíco – as queijeiras.
Alguns dos sítios arqueológicos com ocupações humanas enquadradas nos períodos Neolí-
tico, Calcolítico, Idade do Bronze, e Idade do Ferro no continente europeu apresentam um curio-
so artefacto em cerâmica, geralmente interpretado como “queijeira” ou “coador” nos distintos
idiomas de publicações. Estes recipientes são caracterizados pela ausência de um fundo e por
possuírem múltiplas perfurações ao longo de suas paredes.
No território atualmente português, estes artefactos costumam surgir com relativa fre-
quência nos sítios arqueológicos do 3º milénio A.C. (Figura 1), mesmo que em quantidades con-
sideradas residuais, salvo alguns sítios especícos, como Vila Nova de São Pedro (Paço e Jalhay,
1939; Jalhay e Paço, 1945), Penedo do Lexim (Sousa, 2010), ou Zambujal (Tews, 2016). Entretanto,
ao analisar este desfasamento quantitativo das queijeiras nos contextos calcolíticos de Portu-
gal, é importante ter em conta o frequente estado de fragmentação destes artefactos, que pode
deturpar comparações entre sítios arqueológicos. Outro fator a ser considerado inclui também
os variados contextos das intervenções arqueológicas em diferentes regiões do país, com a di-
mensão das áreas intervencionadas a ser distinta em cada sítio.
Por conta da sua morfologia e de paralelos etnográcos, estes objetos vêm sendo tradi-
cionalmente interpretados como coadores ou cinchos utilizados na transformação de laticínios
(Paço e Jalhay, 1939). Esta perspetiva tem sido reforçada durante os últimos anos a partir de
novas metodologias arqueométricas que têm identicado vestígios lácteos em artefactos classi-
cáveis como “queijeiras” (Salque et al, 2012; Mcclure et al, 2018). Esta metodologia opera através
da diferenciação entre lípidos lácteos e outros tipos de lípidos, com “gas chromatography–mass
spectrometry” (Evershed et al, 2008), e como citado, demonstrou que algumas queijeiras prove-
nientes da Polónia e Croácia teriam estado em contacto com laticínios. Além disso, através do
uso de uma metodologia semelhante, foi possível identicar caseína em queijeiras recuperadas
em Espanha (Montero Ruiz e Esperanza, 2008; Guerra Doce et al, 2012), sendo que em um destes
recipientes, também, foram identicadas bras de linho. Este último dado permite-nos sugerir/
teorizar que um pano de linho poderia ter sido utilizado no interior da queijeira para auxiliar o
processamento de laticínios, sendo este um método utilizado actualmente para a produção de
queijo. Infelizmente estas metodologias analíticas ainda não foram aplicadas de forma recor-
rente e ável nas queijeiras recolhidas em Portugal, o que nos leva a centrar a nossa análise nas
questões morfológicas e teóricas deste artefacto.
2. QUEIJEIRAS, CINCHOS E COADORES: UMA HISTORIOGRAFIA
Na bibliograa portuguesa, os recipientes cerâmicos sem fundo e com paredes multiperfuradas
são conhecidos como “queijeiras” desde a primeira metade do século XX, com uma referência
sobre o sítio de Vila Nova de São Pedro, onde foram recolhidos “muitos pedaços desta loiça”
(Paço e Jalhay, 1939: 20). Para apoiar esta proposta, Paço cita Joseph Déchelette, que em seu Ma-
nuel d’Archéologie Préhistorique, Celtique Et Gallo-Romaine (1908), apresenta algumas queijeiras
recuperadas no Campo de Chassey (França). Mesmo admitindo que o termo “queijeira” só é am-
plamente utilizado em publicações arqueológicas durante o século XX, podemos identicar a as-
sociação de artefactos análogos com a produção de queijos desde os nais do século XIX, numa
PRODUTOS SECUNDÁRIOS EM VILA NOVA DE SÃO PEDRO (AZAMBUJA, PORTUGAL): AS “QUEIJEIRAS”223
das mais importantes e pioneiras obras arqueológicas de Portugal – Antiguidades Monumentaes
do Algarve. Nesta obra, Estácio da Veiga refere alguns artefactos em cerâmica, recuperados em
Alcalar, “cujos fragmentos se acham atravessados de orifícios, no bojo e no fundo” (Veiga, 1886:
231), associando estas peças com um possível processamento de laticínios. O autor, por sua vez,
cita N. Joly, que sugere que estes artefactos em cerâmica repletos de perfurações seriam utiliza-
dos para a produção de queijos, traçando um paralelo com os métodos tradicionais de confeção
de produtos lácteos (Joly, 1879). Com isto, percebemos que desde os nais do século XIX a as-
sociação entre recipientes com múltiplas perfurações nas suas paredes e o processamento de
laticínios já seria realizada através de paralelos etnográcos.
Avançando para a segunda metade do século XX e inícios do século XXI, em Portugal, os
artefactos identicados como queijeiras foram recorrentemente recuperados em diversos con-
Figura 1 – Contextos calcolíticos do Sul de Portugal com artefactos classicáveis como queijeiras. Base cartográca
Boaventura 2009.
VILA NOVA DE SÃO PEDRO E O CALCOLÍTICO NO OCIDENTE PENINSULAR 2 224
textos arqueológicos enquadrados no 3º milénio A.C. Neste contexto, as queijeiras vêm sendo
mencionadas, essencialmente, de forma sumária ou em listas de artefactos na maior parte dos
artigos cientícos, enquanto algumas monograas dedicaram capítulos especícos para proble-
matizar e contextualizar este artefacto (Sousa, 2010; Rodrigues, 2015; Costeira, 2017). Contudo,
mesmo com esta alargada tradição na bibliograa, ainda não existem estudos monográcos es-
pecícos sobre esta categoria artefactual.
Como apontado anteriormente, o termo “queijeira” surge sobretudo a partir de paralelos et-
nográcos com os “cinchos” ou moldes/coadores de queijo, que são utilizados até os dias de hoje
em queijarias mais tradicionais. Com isto, esta terminologia proliferou-se como representante
deste artefacto durante o restante do século XX. Entretanto, esta designação não é consensual
entre autores, sendo que alguns optam por outras denominações, nomeadamente “cinchos”
(Cardoso et al, 2013: 232), mantendo a proposta funcional para o artefacto, e apontando uma
nalidade especíca no processamento de laticínios. Também são identicadas como “ltros” e
“coadores” (Morán, 2019: 163), assumindo uma utilidade mais abrangente no processo de separa-
ção de líquidos e sólidos de modo geral. Outros optam pela designação ainda mais neutra de “re-
cipientes perfurados sem fundo” (Tews, 2016), não atribuindo uma funcionalidade especíca. Em
alguns casos, a recusa à utilização de “queijeira” é justicada através de outras propostas fun-
cionais para o artefacto, como coadores na produção de mel ou cerveja (Salque et al., 2012: 522),
na confeção de alimentos (Lestrange e Gessain, 1976), como lamparinas (Decavallas, 2007: 154;
Tews, 2016), como incensários (González et al., 2004: 118), e em cronologias mais recentes, como
parte de estruturas de combustão (Wood, 2007), ou artefactos relacionados com a metalurgia
(Barbosa, 1956). Devemos ter em conta, no entanto, que são extremamente raros os fragmentos
que exibem marcas de contacto com o fogo, o que nos afasta de algumas destas propostas.
Enquanto a terminologia e as propostas funcionais utilizadas para o artefacto não são con-
sensuais, através das inovações metodológicas e cientícas anteriormente apresentadas, tem
sido possível identicar vestígios lácteos no interior destes recipientes, comprovando que al-
guns destes objetos seriam utilizados no processamento de laticínios (Montero Ruiz e Esperan-
za, 2008; Guerra Doce et al., 2012; Salque et al, 2012; McClure et al, 2018), provavelmente como
queijeiras/cinchos/coadores neste processo.
3. AS QUEIJEIRAS DE VILA NOVA DE SÃO PEDRO: CARACTERIZAÇÃO E ESTUDO
3.1. Metodologia
A investigação que aqui se apresenta foi desenvolvida, maioritariamente, no âmbito de um tra-
balho de conclusão de licenciatura do primeiro signatário, sob o qual foi selecionado um conjun-
to de 100 fragmentos, num universo de 559 queijeiras provenientes do sítio arqueológico de Vila
Nova de São Pedro (VNSP). Nos fragmentos analisados, 76 são bordos, 22 correspondem a bojos,
e dois são peças indeterminadas. Todos estes fragmentos estão depositados no Museu Arqueo-
lógico do Carmo (MAC), assim como a maioria do espólio de Vila Nova de São Pedro. Dentro deste
variado conjunto, a maior parcela de fragmentos (542) foi recolhida no âmbito das intervenções
de Eugénio Jalhay, Afonso do Paço e pontuais colaboradores, sendo que, devido à metodologia
de escavação preconizada, não foi possível identicar o contexto especíco onde os materiais
teriam sido recolhidos, mas apenas a área geral da intervenção. O projecto VNSP 3000 (Arnaud
et al., 2017; Martins et al. 2019), permitiu, até à data, a recolha de mais 17 fragmentos de queijei-
ras, possibilitando o conhecimento do seu contexto estratigráco no sítio. Todos os elementos
recolhidos neste âmbito provêm da Área 3, Sondagem 1 (Figura 9), sendo identicados nas se-
guintes unidades estratigrácas: [304], [305], [310], [316].
Para a seleção da amostra em estudo, optou-se por seleccionar os fragmentos com informa-
ções contextuais áveis, ou seja, tudo o que foi recolhido durante as intervenções desenvolvidas
no decorrer do projecto VNSP3000. Além disso, também foram escolhidos os fragmentos mais
bem preservados, sobretudo em relação ao seu perl para caracterização da forma, tendo sido,
igualmente, levada em consideração a diversidade do conjunto, havendo um esforço para a in-
clusão de uma amostragem ampla das distintas perfurações, pastas e tratamentos de superfície.
PRODUTOS SECUNDÁRIOS EM VILA NOVA DE SÃO PEDRO (AZAMBUJA, PORTUGAL): AS “QUEIJEIRAS”225
Sendo este um estudo ainda em curso, e tendo em conta que estas peças ainda estão sob
análise no âmbito de uma tese de mestrado, os resultados nais quantitativos ainda não serão
divulgados, apresentando aqui uma abordagem inicial a esta categoria artefactual.
3.2. Formas
Um dos principais desaos no estudo destes artefactos reside no seu estado de preservação,
sendo que na maior parte dos casos surgem muito fragmentados, impossibilitando o conheci-
mento da totalidade do seu perl. Em Vila Nova de São Pedro esta questão é referida desde o
início das intervenções, sendo apontado que “não nos foi possível fazer qualquer reconstituição”
(Paço e Jalhay, 1939: 20). Facto este que, passado várias décadas, se mantém determinante e
actual para este conjunto, não sendo ainda possível reconstituir a totalidade do perl destas pe-
ças no decurso deste estudo. Desta forma, dependemos de alguns raros exemplares completos
e/ou reconstituídos para conhecer a forma das queijeiras no território actualmente português.
Os sítios arqueológicos que proporcionaram queijeiras com o perl completo correspondem ao
Cerro do Castelo de Corte João Marques (Gonçalves, 1989: 146), Alcalar (Morán, 2019: 162-163),
Cabeço do Pé da Erra (Gonçalves e Sousa, 2017: 188), Pedra d’Ouro (Branco, 2007), e Penedo do
Lexim (Sousa, 2010) (Figura 4).
De modo geral, a maior parte dos autores identica, a partir da sua morfologia, duas cate-
gorias formais principais, para os artefactos classicados como queijeiras. A forma cilíndrica é
a que surge com mais frequência na bibliograa, sendo comummente associada com uma pos-
sível funcionalidade na transformação de laticínios (Valera, 1998: 102). Além destas, também são
identicadas queijeiras de forma tendencialmente arredondada, sendo que os artefactos com
esta morfologia concentram mais dúvidas sobre suas funcionalidades. Ambas categorias são ge-
néricas e sobretudo operativas, pois não enquadram toda a realidade e diversidade morfológica
que estes artefactos parecem apresentar.
Como referido, os fragmentos de queijeiras podem ser classicados em uma variedade de ca-
tegorias, dependendo dos critérios de diferenciação das formas. Nesta análise preliminar das
queijeiras de Vila Nova de São Pedro optamos por manter as classicações genéricas de formas
cilíndricas e arredondadas, assumindo algumas variantes. De acordo com a (Tabela 1) percebe-
mos morfologias distintas, que se diferenciam sobretudo em relação à orientação do bordo e da
peça. Assim, surgem dois tipos principais de formas cilíndricas: peças com orientação mais fe-
chada, como pode ser visualizado no exemplar do Penedo do Lexim (Figura 4) ou de Pedra d’Ou-
ro, (Tabela 1); e formas mais abertas, que tendem a apresentar um estrangulamento central na
peça, como o exemplar de El Malagón (Figura 5,B) ou Alcalar (Morán, 2019: 162). Sobre as formas
arredondadas, a morfologia mais comummente identicada possui uma orientação bem mais
fechada do que as categorias anteriores, com ângulos mais agudos. Esta última forma aparenta
servir como uma base para o recipiente, sendo provavelmente apoiada sobre uma superfície pla-
na. Esta leitura resulta da observação dos fragmentos de VNSP, sendo que esta morfologia surge
sobretudo associada a bordos aplanados. Em Portugal não se tem conhecimento de exemplares
completos com esta tipologia, contudo o sítio espanhol de El Malagón exemplica como a forma
completa destes recipientes poderia ser (Figura 5,C) (Arribas et al, 1978: 84).
Além disso, temos conhecimento de queijeiras completas em outras regiões da Europa,
como em França (Figura 2), ou na Polónia (Figura 3). Estes exemplares demonstram uma maior
variedade formal, e comprovam a possibilidade de uma queijeira possuir diferentes morfologias
em suas duas extremidades.
Figura 2 – Grotte de l’Eglise supérieure, Baudinard (Var). (Courtin, 1974, Fig. 40).
VILA NOVA DE SÃO PEDRO E O CALCOLÍTICO NO OCIDENTE PENINSULAR 2 226
Figura 3 – Representação gráca de queijeiras reconstituídas e fotograa de fragmentos que foram alvo de análises
químicas. A, B, provenientes do sítio de Brzesc Kujawski, Polónia. C, D, provenientes do sítio de Smólsk, Polónia
(Salque et al, 2012, Fig. 1).
Figura 5 – A. Queijeira de Pedra d’Ouro (segundo Leisner e Schubart 1966, g. 10, 3); B. queijeira cilíndrica de el Malagón (segundo Arribas et
al., 1978, g. 12); C. queijeira arredondada de el Malagón (segundo Arribas et al., 1978, g. 12).
Figura 4 – Queijeira com perl completo; Penedo do Lexim
(Sousa, 2010).
PRODUTOS SECUNDÁRIOS EM VILA NOVA DE SÃO PEDRO (AZAMBUJA, PORTUGAL): AS “QUEIJEIRAS”227
Figura 6 – A. Fragmento de queijeira de VNSP com superfície externa alisada e interna rugosa; B. fragmento de
queijeira de VNSP com a superfície externa e interna alisada.
Tabela 1 – Representação das diferentes formas identicadas para as queijeiras de VNSP, em comparação com
exemplares que apresentam a totalidade do perl na Península Ibérica.
3.3. Tratamento de superfície
As superfícies das queijeiras apresentam frequentemente algumas “rugosidades” ou “repuxos”
no seu interior e, por vezes, no exterior. Isto sucede devido ao método de execução da perfura-
ção, sendo (aparentemente) sempre de fora para dentro do recipiente, o que resulta nas rugosi-
dades visíveis nestas peças (Figura 6,A).
No conjunto em estudo, o alisamento foi o tratamento preferencialmente executado tanto
nas superfícies exteriores (cerca de 90% do conjunto), como nas interiores (cerca de 50% do con-
junto) (Figura 6,B). No entanto, é claro que existe uma preocupação sobretudo com o alisamento
exterior e menor incidência de alisamento interior. Os fragmentos que não foram sujeitos a este
alisamento permaneceram com a superfície rugosa.
Este dado pode sugerir distintas funcionalidades para este artefacto, tendo em conta reci-
pientes como os “barrel vessels” ou “churns”, que apresentam um interior rugoso, e são utiliza-
dos para a confecção de produtos lácteos no Mediterrâneo Oriental (Morris, 2013: 70-71). Entre-
tanto, também pode resultar de preferências culturais ou de questões de ordem cronológica,
que não podem ser identicadas neste conjunto devido ao contexto de recolha da maior parte
dos fragmentos.
Forma VNSP Outros exemplares da Península Ibérica Descrição
Cilíndrica fechada Pedra d’Ouro
Forma genericamente
cilíndrica, fechada.
Cilíndrica aberta El Malagon
Forma genericamente
cilíndrica, aberta. Geralmente
apresenta estrangulamento
no centro do perl.
Arredondada El Malagon
Forma genericamente
arredondada, fechada.
VILA NOVA DE SÃO PEDRO E O CALCOLÍTICO NO OCIDENTE PENINSULAR 2 228
3.4. Bordos
No conjunto foram identicadas três formas principais para os bordos: morfologia arredonda-
da; aplanada; biselada. Os bordos de forma aplanada são muito mais recorrentes no conjun-
to, somando um total de 51 exemplares. Esta morfologia é especialmente relevante, pois em al-
guns casos os fragmentos tendencialmente arredondados aparentam ter servido como fundos,
apoiados sobre superfícies planas, necessitando, portanto, bordos aplanados. Com pouca re-
presentatividade, ocorrem os bordos arredondados (16 exemplares), e biselados (9 exemplares),
que aparentam ter sido mais adequadamente utilizados como fazendo parte da área superior
do recipiente. Esta variabilidade nos bordos também pode ser identicada em outros sítios da
mesma fase crono-cultural, como o Zambujal (Tews, 2016), Leceia (Cardoso, 2006: 39) ou Penedo
do Lexim (Sousa, 2010: 338).
3.5. Perfurações
As perfurações das queijeiras são um tema muito importante para a compreensão destes arte-
factos, sendo de certa forma, o seu elemento mais característico. O diâmetro e a morfologia das
perfurações podem apresentar variações, sendo perceptíveis ao observar as queijeiras recolhi-
das nos distintos sítios arqueológicos de Portugal, e também da Europa. A morfologia das per-
furações pode ser dividida em algumas categorias, que tal como a forma geral das peças, pode
receber classicações muito pormenorizadas e especícas, ou denominações mais genéricas.
Neste estudo optou-se por assumir duas formas para as perfurações: circular e oval (aplicá-
veis para os restantes fragmentos recolhidos em território atualmente português). É importante
realçar, que em alguns casos a forma e diâmetro das perfurações pode variar dentro do mesmo
fragmento/recipiente, como é visível na Figura 7.
Em alguns dos fragmentos (26% do conjunto), foi possível identicar que as perfurações
foram realizadas de forma alinhada, enquanto na maior parte dos exemplares (44%) as perfura-
ções teriam sido realizadas de forma aleatória. Nos restantes fragmentos (30%), não foi possível
determinar com exatidão se teriam sido aplicadas de maneira aleatória ou intencionalmente ali-
nhada. Estas perfurações alinhadas poderiam ter sido desenvolvidas por uma multiplicidade de
motivações e métodos, como exemplicado no caso do Penedo do Lexim onde, aparentemente,
linhas guias poderiam ter sido desenhadas/aplicadas na superfície da peça (Sousa, 2010: 340).
No conjunto de VNSP a maior parte dos fragmentos apresenta um diâmetro máximo da face
externa e também da face interna entre 3 – 4 mm. 23% do conjunto exibe perfurações internas e
externas com diâmetros mais reduzidos, com 2,5 mm ou menos. Além disso, observam-se alguns
pontos fora da curva, com perfurações muito pequenas ou muito grandes (Figura 8), diferen-
ciando-se do padrão geral deste conjunto.
Através da tabela dos diâmetros de perfurações (Tabela 2) conclui-se que na maior parte
dos casos estes rondam entre 0,2 – 0,5 cm, com algumas excepções. Chama-se a atenção para os
sítios peninsulares com perfurações de menores dimensões, sendo estes a Ponte da Azambuja
2 e Casa Branca 7. Esta constatação é interessante, pois estes sítios, enquadrados na transi-
ção entre o Neolítico e Calcolítico, apresentam perfurações mais semelhantes às realidades dos
contextos LBK, enquadrados no Neolítico da Europa Central (Rodrigues, 2006; Rodrigues, 2015;
Bogucki, 1984: 16; Salque et al., 2012).
Figura 7 – Fragmento de queijeira de VNSP com perfurações de diâmetro e
forma variáveis.
PRODUTOS SECUNDÁRIOS EM VILA NOVA DE SÃO PEDRO (AZAMBUJA, PORTUGAL): AS “QUEIJEIRAS”229
Figura 8 – Grácos com representação dos diâmetros máximos das faces internas e externas das perfurações de
queijeiras de Vila Nova de São Pedro.
Tabela 2 – Análise dos diâmetros das perfurações de queijeiras provenientes de contextos de Portugal e da Europa
Central. (Adaptado de Costeira, 2017, Tabela 37).
Região Sítio Diâmetro das
Perfurações
Diâmetro mais
frequente das
perfurações
Bibliograa
Europa Central Contextos LBK (Neolítico
Antigo) 0,2-0,3 cm 0,2-0,3 cm Salque, et al., 2012
Estremadura Vila Nova de São Pedro 0,15-0,8 cm 0,3-0,4 cm Este trabalho
Pedra d’Ouro 0,4 cm 0,4 cm Branco, 2007
Alentejo
São Pedro 0,3-0,6 cm 0,4-0,5 cm Costeira, 2017
Ponte da Azambuja 2 0,2 cm 0,2 cm Rodrigues, 2015
Casa Branca 7 0,2 cm 0,2 cm Rodrigues, 2006
Algarve
Alcalar 0,3-0,5 cm 0,3-0,5 cm Morán, 2019
Cerro do Castelo Corte
João Marques 0,5 cm 0,5 cm Gonçalves, 1989
VILA NOVA DE SÃO PEDRO E O CALCOLÍTICO NO OCIDENTE PENINSULAR 2 230
4. A MATÉRIA‑PRIMA: RECURSOS FAUNÍSTICOS EM VILA NOVA DE SÃO PEDRO
Como referido anteriormente, ainda carecemos de análises arqueométricas para recipientes ce-
râmicos provenientes de sítios arqueológicos enquadrados no 3º milénio A.C., no território ac-
tualmente português. Desta forma, dependemos de algumas evidências secundárias para inferir
sobre a exploração e consumo de produtos secundários em Vila Nova de São Pedro, nomeada-
mente, em relação aos laticínios, sobre os quais centrámos este estudo.
Utilizando a base empírica e recursos, actualmente, disponíveis, pode-se analisar esta te-
mática através de alguns factores, como a abundante fauna doméstica presente no povoado
ou através de categorias artefactuais especícas, como as queijeiras. O registo faunístico pare-
ce apontar que as populações de VNSP teriam explorado uma vasta gama de espécies animais
(Francisco et al, 2020; Detry et al, 2020), incluindo os animais tipicamente leiteiros, como Ovis/
Capra (ovelha/cabra) e Bos taurus (boi doméstico), o que possibilitaria o consumo de produtos
lácteos. Infelizmente ainda não se dispõe de informações claras e coesas sobre as idades de aba-
te destes mamíferos em muitos dos povoados calcolíticos em Portugal, o que nos possibilitaria
inferir com mais exatidão sobre o propósito económico destes indivíduos (Payne, 1973).
Tendo em conta uma tradição de consumo de laticínios (reconhecida como de forma es-
porádica/pontual) na vertente atlântica da Europa desde o Neolítico Antigo (Cubas et al, 2020),
faz sentido considerar que num contexto de crescente intensicação económica e por conse-
quência, demográca, durante o 3º milénio os produtos lácteos seriam um factor de subsistên-
cia para estas comunidades. Considerando também a provável intolerância à lactose que estas
populações teriam apresentado (Burger et al, 2020), é razoável considerar que a transformação
do leite em derivados lácteos com menos lactose (como o queijo) seria uma realidade, sendo que
as queijeiras poderiam ter sido integradas neste processo. Contudo, ainda são necessárias mais
análises (zooarqueológicas e químicas) para concretizar esta leitura.
5. QUEIJEIRAS EM VILA NOVA DE SÃO PEDRO: CONTEXTO ARQUEOLÓGICO
E CRONOLOGIA
Como anteriormente mencionado, o conhecimento acerca do contexto arqueológico destes ar-
tefactos, em VNSP, é muito parcelar. No entanto, a partir das intervenções recentemente desen-
volvidas no âmbito do projecto VNSP3000, foi possível registar contextos estratigracamente
seguros para este artefacto, obtendo-se datações sobre faunas recuperadas na mesma unidade
estratigráca de onde queijeiras foram recolhidas. Deste modo, as queijeiras da Sondagem 1 da
Área 3 (Figura 9) (espaço onde, até à data, foram recolhidos os únicos elementos desta natureza
artefactual no âmbito referido projecto), de Vila Nova de São Pedro podem ser enquadradas nos
meados, ou no terceiro quartel do 3º milénio A.C (Tabela 3).
6. CONCLUSÃO
Através desta análise, depreende-se que o conhecimento efectivo sobre este artefacto (desde a
sua cronologia, tipologia e funcionalidade), carece ainda de uma maior base empírica. Uma abor-
dagem que possa, no futuro, recorrer a análises arqueométricas, nomeadamente químicas, sobre
elementos provenientes de contextos arqueológicos áveis, será de extrema importância na de-
nição da funcionalidade destes elementos, nomeadamente na armação, mais categórica de
que os artefactos classicados como queijeiras seriam utilizados para o processamento de laticí-
nios, mais especicamente, no sítio de Vila Nova de São Pedro. No entanto, considera-se seguro
apontar que através das evidências disponíveis faz sentido defender que estes artefactos seriam
provavelmente utilizados para esta nalidade no povoado, não afastando por completo outras
propostas funcionais (Montero Ruiz e Esperanza, 2008; Salque et al, 2012; Guerra-Doce et al, 2012;
Francisco et al, 2020; Detry et al 2020).
PRODUTOS SECUNDÁRIOS EM VILA NOVA DE SÃO PEDRO (AZAMBUJA, PORTUGAL): AS “QUEIJEIRAS”231
Figura 9 – Vila Nova de São Pedro, Área 3, Sondagem 1, 2019.
Tabela 3 – Datações absolutas de Vila Nova de São Pedro (Neves et al, 2022).
Datações absolutas – Vila Nova de São Pedro – VNSP3000
Sítio Contexto Ref. Lab. Amostra Data BP δ13C
(‰)
δ15N
(‰)
2 s cal BC
(95,4%) Bibliograa
Vila Nova de
S. Pedro [305] Beta – 512586 Cervus ela. 3900±30 -20,00 3,7 2470-2297 (95,4%) Martins et al, 2019
Vila Nova de
S. Pedro [305] Beta – 512587 Sus sp. 3390±30 -22,2 5,3 1751-1619 (95,4%) Martins et al, 2019
Vila Nova de
S. Pedro [305] Beta – 512588 Bos sp. 4000±30 -21,3 5,3 2577-2468 (95,4%) Martins et al, 2019
Vila Nova de
S. Pedro [117] Beta – 549652 Cervus
elaphus 3960±30 -20.3 4.0 2570-2340 (95,4%) Neves et al, 2022
Vila Nova de
S. Pedro [116] Beta – 549653 Sus sp. 3760±30 -19.8 5.8 2290‑2120 (82,8%)
2090–2040 (12,6%) Neves et al, 2022
Vila Nova de
S. Pedro [319] Beta – 569110 Bos taurus 3950±30 -21.0 5.9 2500‑2340 (74,8%)
2570-2510 (20,6%) Neves et al, 2022
Vila Nova de
S. Pedro [319] Beta – 569111 Ovis aries/
capra 3940±30 -20.3 5.2 2500‑2300 (86%)
2570-2520 (9,4%) Neves et al, 2022
Vila Nova de
S. Pedro [117] Beta – 569112 Bos p. 3960±30 -21.3 6.0 2570-2340 (95,4%) Neves et al, 2022
VILA NOVA DE SÃO PEDRO E O CALCOLÍTICO NO OCIDENTE PENINSULAR 2 232
Tabela 4 – Contextos calcolíticos do Sul de Portugal com artefactos classicáveis como queijeiras. Adaptado a partir de Costeira, 2017.
Região Sítio Número de Fragmentos Referência
Estremadura
Barotas 1 Cardoso e Barros da Costa, 1992
Barranco do Farinheiro 2 Gonçalves et al, 2017
Cabeço do Pé da Erra 73 (um exemplar
“completo”)
Gonçalves, 1982; Gonçalves e Sousa, 2014;
Gonçalves e Sousa, 2017
Casal Cordeiro 5 Indeterminado Sousa, 2008; Sousa, 2010
Chibanes 1 Silva e Soares, 2014
Columbeira “Cerca de uma dezena” Correia, 2015
Espargueira 1 Encarnação, 2010
Fórnea Indeterminado Museu Municipal Leonel Trindade
Leceia 25 Cardoso, 2006
Miradouro dos Capuchos 1 Silva, 2017
Moita da Ladra 22 Cardoso, 2014
Ota 1Informação pessoal de André Texugo
Outeiro da Assenta 3 Cardoso e Martins, 2009
Outeiro Redondo 8Cardoso, 2013; Cardoso e Martins, 2016/2017
Outeiro de São Mamede 7 Cardoso e Carreira, 2003
Pedra d’Ouro 2 peças reconstituíveis Branco, 2007
Penedo do Lexim 132 (um perl completo) Sousa, 2010
Povoado das Baútas 1 Arnaud e Gamito, 1972
Pragança 3 Museu Nacional de Arqueologia
Travessa das Dores 1 Neto et al, 2015
Vila Nova de São Pedro 559 Barrozo, 2022
Zambujal 234 Tews, 2016
Alentejo
Alto do Outeiro Indeterminado Grilo, 2008; Grilo, 2010
Casa Branca 7 4 Rodrigues, 2006
Cerro dos Castelos de São Brás 1 Parreira, 1983
Mercador 3 Valera, 2013a
Moinho de Valadares 1 5Valera, 2013a
Monte da Tumba 3Silva e Soares, 1987
Monte do Marquês 15 2 Vale et al, 2013
Monte do Tosco 3 “peças” Valera, 2013a
Perdigões Indeterminado Valera, 1998
Ponte da Azambuja 2 10 Rodrigues, 2015
Porto das Carretas 1 Soares, 2013; Soares, Soares, e Silva,2007
Porto Torrão Indeterminado Valera e Filipe, 2004
São Pedro 22 Costeira, 2017
Torre do Esporão 3 1 Gonçalves, 1990/91
Três Moinhos 3 Soares, 1992
Algarve
Alcalar 3 (um perl completo) Morán, 2019
Cerro do Castelo de Santa Justa 2 Gonçalves, 1989
Corte João Marques 3 (um perl completo) Gonçalves, 1989
Gruta da Igrejinha dos Soidos 2 Carvalho e Veríssimo, 2019
PRODUTOS SECUNDÁRIOS EM VILA NOVA DE SÃO PEDRO (AZAMBUJA, PORTUGAL): AS “QUEIJEIRAS”233
Este estudo, ainda numa fase inicial, permitiu identicar algumas problemáticas que ainda
carecem de respostas em relação a estes elementos artefactuais, como a compreensão de todo
o leque de possíveis funcionalidades que poderão apresentar, a sua função exacta num possível
processamento de laticínios ou a utilização de diferentes morfologias, tratamentos de superfí-
cie, perfurações, e bordos para diferentes nalidades. Procurou-se questionar, igualmente, so-
bre a sua dispersão no território actualmente português, com uma aparente concentração quase
exclusiva em sítios arqueológicos do centro-sul de Portugal, face ao Norte do país.
Quanto ao estatuto de “fóssil diretor” do 3º milénio que as queijeiras acabam por receber,
pode-se questionar esta catalogação, pois como foi aqui observado, estes objetos têm uma alar-
gada tradição na Europa, e em Portugal surgem, também, em contextos de transição do 4º/3º
milénio (Casa Branca 7 e Ponte da Azambuja 2), faltando ainda datações mais nas para realizar
esta determinação.
O motivo de um aparecimento “tardio” das queijeiras no extremo ocidente peninsular está,
ainda, por determinar quando o uso destes artefactos em outras regiões da Europa está atesta-
do em nais do 6º milénio (Salque et al, 2012; McClure, et al, 2018). Adicionando a esta questão,
tem-se conhecimento do consumo de laticínios durante o Neolítico antigo (Cubas et al, 2020),
em populações que provavelmente seriam intolerantes à lactose (Burger et al, 2020), não tendo
desenvolvido a persistência da lactase durante idade adulta em proporções signicativas. Neste
sentido, o queijo e outros derivados lácteos seriam uma alternativa de mais fácil digestão para
estes indivíduos, que parecem somente utilizar artefactos especializados (em matéria-prima du-
rável), para o processamento de laticínios durante o 3º milénio em Portugal. Também é impor-
tante ter em mente que em alguns casos, para uma produção doméstica de derivados lácteos, os
recipientes especializados não são necessários.
AGRADECIMENTOS
Ao Museu Arqueológico do Carmo e à Associação dos Arqueólogos Portugueses pela cedência
dos materiais em estudo, e por toda a assistência e disponibilização de recursos no decorrer
desta pesquisa.
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UIDP/00698/2020)