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ISSN 2179-7692
Rev. Enferm. UFSM, v.14, e38, p.1-14, 2024 •
Submissão: 28/08/2024 • Aprovação: 04/11/2024 • Publicação: 29/11/2024
Artigo publicado por Revista de Enfermagem da UFSM sob uma licença CC BY.
Artigo original
Adesão às ações de autocuidado de pessoas com diabetes na
atenção primária à saúde
Adherence to self-care actions among people with diabetes in primary health care
Adhesión a las acciones de autocuidado de personas con diabetes en la atención primaria de salud
Gabriela Cantero BenitesI, Letícia de Castilho PeraltaI,
Gabrielly Segatto BritoI, Thais Gianini DiasI,
Kely Cristina Garcia VilenaI, Elen Ferraz TestonI
I Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, Mato Grosso do Sul, Brasil
Resumo
Objetivo: analisar a adesão às ações de autocuidado de pessoas com diabetes. Método: estudo
descritivo, transversal, em duas Unidades Básicas de Saúde de uma capital da região Centro- Oeste
brasileira, selecionadas por conveniência. Dados coletados entre março a junho de 2023 com o
Questionário de caracterização sociodemográfica e o Questionário de Atividades do Autocuidado com
o diabetes. A análise foi descritiva e bivariada. Utilizou-se a correlação de Spearman, com nível de
significância de 5%. Resultados: a média de adesão às ações de autocuidado com maior frequência
foram: redução de consumo de doces, examinar os calçados antes de colocá-los, à secagem entre os
dedos após lavar os pés e o uso da medicação. Conclusão: ações coletivas e orientações individuais às
pessoas com diabetes necessitam explorar os comportamentos de vida, além do foco biomédico. A
mudança de comportamento de pessoas com diabetes deve ser amplamente discutida na formação
dos profissionais de saúde.
Descritores: Autocuidado; Diabetes Mellitus; Doença Crônica; Atenção Primária à Saúde;
Enfermagem
Abstract
Objective: To analyze adherence to self-care actions among people with diabetes.
Method: This descriptive, cross-sectional study was conducted in two Primary Health Units in the
capital of a Brazilian state in the Central-West region, selected by convenience sampling. Data
were collected between March and June 2023 using a Sociodemographic Characterization
Questionnaire and the Diabetes Self-Care Activities Questionnaire. Descriptive and bivariate
analyses were conducted, with Spearman's correlation used at a 5% significance level. Results:
The self-care actions with the highest adherence rates included reducing sweet consumption,
checking shoes before wearing them, drying between toes after washing feet, and adhering to
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medication. Conclusion: Collective actions and individual guidance for people with diabetes must
go beyond a biomedical focus, addressing lifestyle behaviors. Behavioral changes in people with
diabetes should be thoroughly integrated into the training of health professionals.
Descriptors: Self-Care; Diabetes Mellitus; Chronic Disease; Primary Health Care; Nursing
Resumen
Objetivo: analizar la adhesión a las acciones de autocuidado en personas con diabetes. Método:
estudio descriptivo y transversal realizado en dos Unidades Básicas de Salud de una capital de la
región Centro-Oeste de Brasil, seleccionadas por conveniencia. Los datos fueron recolectados entre
marzo y junio de 2023 mediante el Cuestionario de Caracterización Sociodemográfica y el
Cuestionario de Actividades de Autocuidado en Diabetes. El análisis fue descriptivo y bivariado. Se
utilizó la correlación de Spearman, con un nivel de significancia del 5%. Resultados: las acciones de
autocuidado con mayor frecuencia de adhesión promedio fueron la reducción en el consumo de
dulces, la inspección del calzado antes de ponérselo, el secado entre los dedos después de lavar los
pies y el uso de la medicación. Conclusión: las acciones colectivas y las orientaciones individuales
dirigidas a personas con diabetes deben abordar los comportamientos de vida más allá del enfoque
biomédico. El cambio de comportamiento en personas con diabetes debe ser ampliamente discutido
en la formación de los profesionales de la salud.
Descriptores: Autocuidado; Diabetes Mellitus; Enfermedad Crónica; Atención Primaria de Salud;
Enfermería
Introdução
Considerada uma epidemia em crescimento, o diabetes mellitus (DM) é cada
vez mais prevalente em decorrência dos hábitos de vida adotados, como, por
exemplo, o sedentarismo, excesso de peso, crescimento e envelhecimento
populacional, assim como a maior sobrevida dos indivíduos diagnosticados com a
condição.1 Por tratar-se de uma condição crônica, o diabetes pode desencadear
complicações microvasculares e macrovasculares que afetam órgãos-alvo como
coração, vasos sanguíneos, olhos, rins e cérebro.2
As dificuldades ou não adesão às ações de autocuidado podem corroborar
negativamente na ocorrência de complicações tardias, internações hospitalares, mortes
prematuras, redução da qualidade de vida e sobrecarga econômica do sistema de
saúde e da funcionalidade familiar.3 Frente a isso, as ações de vigilância das condições
crônicas, em especial desenvolvidas pelos profissionais que atuam na Atenção Primária
(APS), direcionam para a necessidade de engajamento do indivíduo com sua condição
de saúde com vistas à manutenção da qualidade de vida e prevenção de complicações.4
Cabe destacar que o diabetes mellitus (DM) é uma condição sensível à Atenção
Primária (CSAP), e que ações de prevenção da doença e de complicações podem ser
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desenvolvidas pela equipe multiprofissional de saúde na Atenção Primária à Saúde (APS)
e impactar positivamente na realização do diagnóstico precoce e no manejo dessa
condição pelo próprio indivíduo. Para tanto, a adesão das pessoas com DM às ações de
autocuidado e envolvimento com sua condição de saúde, aliada ao tratamento
medicamentoso são essenciais.5
Embora hábitos de vida saudáveis, como dieta balanceada e exercícios físicos
regulares, minimizem a morbimortalidade das pessoas com diabetes e a ocorrência de
complicações cardiovasculares, a mudança de comportamento é um processo
complexo e influenciado por diversos fatores psicossociais. Assim, o acompanhamento
contínuo pelos profissionais de saúde e a oferta de apoio ao autocuidado podem
favorecer a qualidade de vida e reduzir danos.6
O Modelo de Atenção às Condições Crônicas (MACC) constitui uma alternativa
para superação da fragmentação do cuidado e tem como premissa básica a
necessidade do profissional apoiar o indivíduo com doença crônica a se engajar com as
ações de autocuidado.3 Assim, as ações de cuidado desenvolvidas necessitam favorecer
a tomada de decisões conscientes por pessoas com DM, em relação à saúde e hábitos
adotados, aconselha-se realizar uma educação em saúde que evidencie o
empoderamento para o autocuidado em DM.7
O autocuidado apoiado (AA) tem como base uma abordagem sistematizada, cujo
objetivo é a oferta de apoio, pelo profissional de saúde, ao reconhecimento do indivíduo
quanto a sua condição crônica, a autorreflexão sobre comportamentos e hábitos de
vida adotados, a identificação de necessidades, a pactuação de metas e o
acompanhamento do plano de cuidados.8-9
Salienta-se que as práticas de autocuidado incidem em um processo contínuo de
comportamentos saudáveis, em que os indivíduos estão ativamente envolvidos em
conduzir sua condição. Tais comportamentos correspondem em padrões alimentares
saudáveis, automonitoramento da glicemia, cuidados com os pés, exercícios e adesão
aos medicamentos preconizados (como insulina e antidiabéticos orais).10 Contudo,
estudos apontam baixa adesão pelas pessoas com condições crônicas à prática de
exercícios físicos, alimentação saudável, e monitorização de glicemia capilar.11-12 Nesse
sentido, considerando que a falta ou insuficiência de tais práticas podem prejudicar a
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efetividade do manejo do diabetes, o presente estudo teve como objetivo analisar a
adesão às ações de autocuidado de pessoas com diabetes.
Método
Estudo quantitativo descritivo, do tipo transversal, vinculado a um projeto
matricial financiado pela Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e
Tecnologia em Mato Grosso do Sul. Foi construído com base no relatório de pesquisa
Strengthening the Reporting of Observational studies in Epidemiology (STROBE).
O estudo foi realizado em uma capital da região Centro- Oeste brasileira, que na
ocasião contava com sete distritos sanitários de saúde, 11 Unidades Básicas de Saúde
(UBS) e 63 Unidades de Saúde da Família (USF). Participaram pessoas com DM
cadastradas em duas UBS, uma com 505 e a outra com 897 usuários cadastrados com
diabetes, selecionadas por conveniência.
Inicialmente, as pesquisadoras responsáveis pelo projeto matricial
estabeleceram contato presencial com as equipes das duas UBS, a fim de solicitar a lista
de cadastro dos indivíduos com DM. Os critérios de inclusão para o estudo foram:
pessoas com DM2, de ambos os sexos, com a idade igual ou superior a 18 anos,
residentes e cadastradas na área de cobertura da UBS, e participantes do projeto
matricial. Por sua vez, seriam excluídos indivíduos que apresentassem problemas de
compreensão verbal que dificultam ou impossibilitam a comunicação.
O convite de participação se deu por meio da busca ativa das pessoas com DM,
cadastradas, mediante visita domiciliar, acompanhada do Agente Comunitário de Saúde
(ACS), contato telefônico e participação no Programa de Hipertensão e Diabetes
(HIPERDIA) nas unidades de saúde selecionadas.
A coleta de dados foi realizada no período de março a junho de 2023, por meio
de entrevista com duração média de 30 minutos. Para tanto utilizou-se de um
questionário de caracterização (sexo, idade, estado civil, anos de estudo, ocupação e
anos de diagnóstico) e pelo Questionário de Atividades do Autocuidado com o Diabetes
(QAD).13 Este, é um instrumento validado e adaptado no Brasil a partir do The Summary
of Diabetes Self-Care Activities Measure (SDSCA),13 cujo objetivo é avaliar a adesão aos
comportamentos de autocuidado, tendo como parâmetro os últimos setes dias. É
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constituído por 15 itens, sendo eles: alimentação geral e específica, atividade física,
monitoramento de glicemia, cuidados com os pés, uso da medicação e tabagismo.
Cada item recebe uma classificação entre 0 a 7, sendo 0 a pior situação possível e
7 a mais favorável, itens da dimensão “ingerir alimentos ricos em gordura e ingerir
doces”, os valores foram invertidos, sendo 0 a situação mais favorável e 7 a pior situação.
Quanto à variável tabagismo, os participantes foram classificados em fumante e não
fumante e, para a análise, focou-se na proporção de fumantes e na média de cigarros
consumidos por dia.13
Os dados foram tabulados no Excel 2016, e submetidos a análise descritiva, com
a utilização da média, mediana e desvio padrão. Para análise bivariada, utilizou-se a
correlação de Spearman, conforme a distribuição dos dados, com o nível de
significância de 5%. Considerou-se como adesão favorável às ações de autocuidado
quando a média foi maior ou igual a 5 dias por semana, exceto os itens “consumo de
gorduras” e “consumo de doces”, cujos valores foram invertidos.14
Após o aceite de participação, foram esclarecidos os princípios éticos e
objetivos da pesquisa, que garante o sigilo de dados e confiabilidade, por meio da
leitura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e sua assinatura em duas vias
de igual teor. O estudo foi desenvolvido considerando-se as recomendações éticas
das Resoluções nº 466/12, 510/2016 e 580/2018 do Conselho Nacional de Saúde para
pesquisas envolvendo seres humanos e possui apreciação ética pelo Comitê de Ética
em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
sob parecer nº 4.321.389.
Resultados
Participaram do presente estudo 57 pessoas com DM2, cujo tempo médio de
diagnóstico foi de nove anos. A Tabela 1 apresenta o perfil sociodemográfico dos
participantes.
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Tabela 1 – Perfil sociodemográfico dos indivíduos com DM2 cadastradas na
atenção primária à saúde. Campo Grande, MS, 2023
Variável
Nº (%)
Idade
20-59 anos
19 (33,3)
≥ 60 anos
38 (66,7)
Sexo
Feminino
39 (68,4)
Masculino
18 (31,6)
Estado Civil
Solteiro
08 (14,0)
Casado/União Estável
31 (54,4)
Viúvo/Separado
18 (31,6)
Ocupação
Aposentado
25 (43,9)
Do lar
19 (33,3)
Outros
13 (22,8)
Escolaridade
Analfabeto
04 (7,0)
Ens. Fundamental Incompleto
30 (52,6)
Ens. Fundamental Completo
10 (17,5)
Ens. Médio Incompleto
03 (5,3)
Ens. Médio Completo
09 (15,8)
Ensino Superior Completo
01 (1,8)
Ao analisar a média de adesão às ações de autocuidado, aquelas com maior
frequência foram: redução de consumo de doces, a prática de examinar os calçados antes de
colocá-los, à secagem entre os dedos após lavar os pés e o uso da medicação.
Por sua vez, os hábitos alimentares saudáveis (como seguir uma dieta e/ou orientação
alimentar, ou consumir frutas e vegetais), prática de exercícios físicos, monitoramento dos
níveis de açúcar no sangue e o uso de insulina, foram os menos frequentes (Tabela 2).
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Tabela 2 – Aderência aos itens do questionário de atividades de autocuidado
com diabetes, Campo Grande, MS, 2023
Itens do QAD
Adesão
Média (± DP)
1.1 Seguir uma dieta saudável
4,49 (± 2,58)
1.2 Seguir orientação alimentar
1,89 (± 2,46)
2.1 Ingerir cinco ou mais porções de frutas e vegetais
3,67 (± 2,83)
2.2 Ingerir alimentos ricos em gordura
4,77 (± 2,16)
2.3 Ingerir doces
1,53 (± 2,03)
3.1 Realizar atividade física por pelo menos 30 minutos
diários
2,02 (± 2,37)
3.2 Realizar exercício físico específico (caminhar, nadar etc.).
1,40 (± 2,20)
4.1 Avaliar o açúcar no sangue
1,96 (± 2,51)
4.2 Avaliar o açúcar no sangue o nº de vezes recomendado
1,88 (± 2,78)
5.1 Examinar os pés
3,46 (± 3,16)
5.2 Examinar dentro dos calçados antes de calçá-los
5,09 (± 2,80)
5.3 Secar os espaços entre os dedos dos pés depois de lavá-
los
5,19 (± 2,73)
6.1 Tomar medicamentos do diabetes conforme foi
recomendado
6,21 (± 1,79)
6.2 Tomar injeções de insulina conforme recomendado
1,74 (± 2,99)
6.3 Tomar o nº indicado de comprimidos do diabetes
6,00 (± 1,81)
* Desvio Padrão (DP)
Em relação ao hábito de fumar, cinco participantes mencionaram que são
tabagistas com uso de três a 20 (média de 11,8) cigarros por dia, e 52 informaram que
não fumam, sendo 15, ex-fumantes.
Na análise bivariada as variáveis que apresentação associação estatística
significativa foram: a escolaridade e a frequência na “ingesta de frutas e vegetais”
(p=0,050); faixa etária e a prática de “secar entre os dedos dos pés depois de lavá-los”
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(p=0,036); e o tempo de diagnóstico com a adesão ao tratamento medicamentoso oral
(“tomar medicamentos do diabetes conforme foi recomendado) (p= 0,056) e injetável
(“tomar injeções de insulina conforme recomendado”) (p=0,010).
Discussão
Os resultados apontaram que a média de adesão ao autocuidado pelos
participantes está mais próxima da pior condição possível, considerando que conforme
o instrumento, quanto mais próximo de sete a classificação, mais favorável é a adesão.
A predominância de participantes do sexo feminino, no presente estudo, pode estar
relacionada à maior utilização dos serviços de saúde por essa parcela populacional. Isso
se deve a menor propensão masculina para realizar acompanhamento de rotina com
profissionais da saúde e reconhecer sua condição de saúde quando não há doenças
com manifestações físicas.15
Os participantes apresentaram baixo nível de escolaridade (ensino fundamental
incompleto), o que reflete o contexto socioeconômico de muitas o acesso a alimentos
menos processados, por exemplo.16
A adesão às ações de autocuidado mais frequentes no presente estudo,
corroboram com evidências de um estudo realizado na Região Nordeste do Brasil, onde
o consumo de doces foi reduzido, e as atividades de secar a parte entre os dedos dos
pés, examinar dentro dos calçados antes de calçá-los e o uso de medicação foram
realizados de cinco a sete dias por semana.17
Os resultados referentes a prática de consumo de doces revelaram um consumo
de 1,53 dias por semana, o que é considerado satisfatório em comparação a evidências
na região Sudeste do Brasil, onde a ingestão de doces foi de 5,45 dias por semana.12 A
mudança de hábitos alimentares, em especial ao consumo de doces e carboidratos, é
um desafio frequente às pessoas com diabetes, uma vez que estes alimentos são fonte
de energia e prazer.
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No que concerne a adesão às ações de autocuidado com os pés, os achados
do presente estudo foram mais satisfatórios quando comparados com os
resultados na região Sul do Brasil, onde a média de dias por semana de adesão foi
de 3,44 dias para “examinar os pés”, 2,69 dias para “examinar dentro dos calçados”,
e 5,11 dias para “secar entre os dedos dos pés”18.
Cabe destacar a relevância das ações de autocuidado com os pés para a
identificação precoce de alterações na pele e/ou do sistema circulatório, além da
prevenção da ocorrência de lesões. Para tanto, a autoavaliação dos pés e constitui uma
ação que deve ser estimulada nas atividades de educação em saúde, grupos operativos
e consulta de enfermagem, a fim de contribuir com a autonomia do indivíduo em
relação a sua condição de saúde. Contudo, os indicadores de avaliação dos pés pelas
equipes de saúde constituem um desafio assistencial a ser superado, pois essa prática
ainda não está incorporada a rotina de cuidado às pessoas com diabetes em todos os
serviços e quando estão possuem o enfoque no modelo biomédico.19
Em relação a adesão a terapia medicamentosa oral e injetável, os resultados
deste estudo foram similares aqueles no interior de Minas Gerais, cuja adesão média foi
de 6,42 e 6,28 dias por semana, respectivamente.20 Este resultado reitera o papel do
tratamento medicamentoso atribuído pelas pessoas quando comparado a adesão a
hábitos de vida saudáveis.
Ademais, a política de distribuição de medicamentos gratuitos pela rede de
saúde, que garante acessibilidade a esses insumos, a facilidade na administração do
medicamento, a orientação dos profissionais de saúde, que muitas vezes adotam um
modelo tradicional e curativo, focado no paradigma biomédico, com uma percepção de
que os medicamentos são mais eficazes no controle glicêmico do que a dieta e a prática
de exercícios físicos17,21-22 podem influenciar esse resultado.
A menor adesão às ações de autocuidado que envolvem comportamentos
(hábitos alimentares saudáveis, prática de exercício físico e o monitoramento de níveis
de glicose) também foi verificada na Região Sudeste do Brasil.16 Estes resultados
elucidam a necessidade dos profissionais que atuam na APS planejar estratégias que
auxiliem as pessoas com diabetes a refletirem sobre seus comportamentos de saúde,
identificar riscos e buscarem alternativas de realizar escolhas conscientes e saudáveis.
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A baixa adesão à orientação alimentar dos participantes do presente estudo,
(média de 1,89 dias por semana) apesar de ser influenciada pelos determinantes sociais,
deve ser considerada pelas equipes como passível de intervenção. Assim, a oferta de
orientações com linguagem adequada ao público-alvo e que considerem as
particularidades das condições de vida, constituem alternativas que podem influenciar
positivamente na adesão.
Seguir um plano alimentar orientado por profissionais de saúde, que inclua a
escolha de alimentos de qualidade, a frequência de refeições, o controle da ingestão de
alimentos ricos em gorduras, carboidratos e produtos lácteos, é determinante para o
manejo eficaz dessa condição crônica.23
O consumo regular de frutas e hortaliças representa um importante componente
de uma alimentação adequada e saudável devido seu alto teor de vitaminas, minerais e
fibras que ajudam a reduzir absorção de colesterol, promovem saciedade prolongada e
contribuem para o controle glicêmico13. Todavia, diversos fatores influenciam nos
hábitos alimentares, por exemplo, a restrição de acesso a alimentos saudáveis,24
limitação na renda familiar, estilo de vida urbano caracterizado pela falta de atividade
física, o que pode levar à resistência à insulina.25
Atinente a baixa adesão à atividade física (média de dois dias por semana), vale
considerar que mais da metade dos participantes do presente estudo eram idosos, o
que pode influenciar esses resultados devido à redução da capacidade funcional,
incluindo equilíbrio, mobilidade e força muscular, fatores que podem limitar a prática
regular de atividade física.26 Ademais, problemas socioeconômicos e falta de
disponibilidade e conhecimento dos benefícios da adesão a esse hábito, podem
constituir barreiras à adoção de uma prática regular de exercícios físicos.21
A baixa adesão das pessoas com diabetes ao monitoramento da glicemia foi
relatada em outro estudo realizado em um município do estado do Rio Grande do Sul.27
Torna-se necessário no momento da oferta de orientações sobre o autocuidado às
pessoas com DM, o profissional da APS destacar a importância do acompanhamento
dos índices glicêmicos a fim de contribuir para conscientização do indivíduo e
compromisso com seu próprio cuidado. Fatores como o acesso ao glicosímetro e a
habilidade para realizar o exame também devem ser considerados.
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A baixa adesão à utilização da insulina conforme recomendada gera a
necessidade de investigações quanto às possíveis causas, por exemplo, dificuldades
visuais que influenciam na aspiração da dose e a desmistificação de que a ausência de
sintomas físicos esteja relacionada com a não realização da dose prescrita.
Os resultados do presente estudo apontaram que a adesão às ações de
autocuidado apresenta média insatisfatória quando considerado os dias por semana.
Frente a isso, estudos futuros que possibilitem a identificação dos principais fatores
influentes na baixa adesão bem como aqueles que possibilitam testar estratégias de
estímulo ao autocuidado e desenvolvimento de habilidades, se fazem necessários.
Cabe destacar que por ocasião da realização do estudo, o desabastecimento de
alguns medicamentos pode ter limitado os resultados. Contudo, a identificação das
ações de autocuidado com menor adesão pelos indivíduos oferecem subsídios para o
planejamento de ações que possibilitem a discussão sobre o comportamento e hábitos
de vida, tanto entre as pessoas com diabetes quanto entre os profissionais de saúde
que necessitam buscar ferramentas de intervenção que favoreçam a mudança.
Conclusão
Ações coletivas e orientações individuais oferecidas às pessoas com diabetes
necessitam explorar os comportamentos e hábitos de vida, de modo a ir além do foco
biomédico. A mudança de comportamento de pessoas com diabetes deve ser
amplamente discutida no processo de formação dos profissionais de saúde. Do mesmo
modo, o desenvolvimento de habilidades pelo profissional da APS para apoiar as
pessoas com DM na realização de ações de autocuidado constitui uma ação premente a
ser discutida em atividades de formação continuada.
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Agradecimento: À Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e a
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES).
A fonte de financiamento realizada pelo Programa Pesquisa para o SUS: gestão
compartilhada em saúde- PPSUS, mediante apoio financeiro do Decit/SCTIE/MS, por
intermédio do CNPq, da FUNDECT e da SES-MS.
Fomento: Este trabalho foi realizado com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001.
14 | Ações de autocuidado de pessoas com diabetes
Rev. Enferm. UFSM, v.14, e38, p.1-14, 2024
Contribuições de autoria
1 – Gabriela Cantero Benites
Autor Correspondente
Acadêmica de Enfermagem – gabriela.cantero@ufms.br
Concepção e/ou desenvolvimento da pesquisa e/ou redação do manuscrito; Revisão e aprovação
da versão final
2 – Letícia de Castilho Peralta
Enfermeira, Mestranda – enf.leticiacperalta@gmail.com
Revisão e aprovação da versão final
3 – Gabrielly Segatto Brito
Enfermeira, Mestranda – gabrielly.segatto@ufms.br
Concepção e/ou desenvolvimento da pesquisa e/ou redação do manuscrito; Revisão e aprovação
da versão final
4 – Thais Gianini Dias
Acadêmica de Enfermagem – thaisgianini314@gmail.com
Revisão e aprovação da versão final
5 – Kely Cristina Garcia Vilena
Enfermeira, Doutora – kelyvilhena@yahoo.com.br
Revisão e aprovação da versão final
6 – Elen Ferraz Teston
Enfermeira, Doutora – elen.ferraz@ufms.br
Concepção e/ou desenvolvimento da pesquisa e/ou redação do manuscrito; Revisão e aprovação
da versão final
Editor-Chefe: Cristiane Cardoso de Paula
Editor Associado: Darlisom Sousa Ferreira
Como citar este artigo
Benites GC, Peralta LC, Brito GS, Dias TG, Vilena KCG, Teston EF. Adherence to self-care actions
among people with diabetes in primary health care. Rev. Enferm. UFSM. 2024 [Access at: Year
Month Day]; vol.14, e38:1-14. DOI: https://doi.org/10.5902/2179769288772