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Artigo Original
DOI 10.1590/1678-98732432e016
Como medir ideologia partidária?
Bruno Bolognesi
I
✉
I
Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, Brasil.
Palavras-chave: partidos políticos, partidos políticos brasileiros, ideologia partidária, esquerda-direita, expert survey.
RESUMO Introdução: Cientistas políticos têm identificado posições ideológicas ao longo do eixo esquerda-direita apenas para par-
tidos políticos que ganham eleições e, assim, controlam governos e implementam suas preferências. Porém, os perfis, as estratégias
e os comportamentos programáticos dos partidos são mais variados e vão além disso. O objetivo do artigo é oferecer ferramentas
para mensurar a ideologia de qualquer partido político para além da sua presença nas arenas eleitoral ou representativa. Materiais e
métodos: Apresento as diferentes técnicas e abordagens que a Ciência Política utiliza para posicionar ideologicamente agremiações
partidárias: análise de conteúdo de programas (“manifestos”), posicionamento de eleitos, comportamento parlamentar, percepções
da opinião pública etc. Em seguida, analiso um banco de dados inédito fruto de duas ondas de um expert survey com cientistas
políticos brasileiros e brasilianistas que classificou os partidos políticos do Brasil em 2018 e em 2022. Resultados: Os resultados da
pesquisa apontam que: i) o centro ideológico do sistema partidário se esvaneceu; ii) a distância média entre os partidos políticos
ficou menor ao mesmo tempo em que o sistema se polarizou nesse período; iii) as mudanças nas regras eleitorais afetaram a classifi-
cação ideológica dos partidos políticos brasileiros. Discussão: Por fim, aponto como essa agenda de pesquisa pode ganhar em com-
parabilidade e aprofundamento ao mobilizar técnicas de pesquisa adequadas para o objeto em análise. Apenas através de
investigações que contemplem a totalidade do sistema partidário brasileiro é que conseguiremos entender o comportamento das
grandes legendas para posicionar os partidos políticos uns em relação aos outros. O uso contínuo de expert surveys se revela como
uma ferramenta potente para determinar o movimento ideológico do sistema partidário e para mostrar como mudanças institucio-
nais podem captar mudanças na ideologia de um partido político.
Recebido em 7 de Maio de 2024. Aprovado em 8 de Julho de 2024. Aceito em 22 de Julho de 2024.
I. Introdução
1
Saber onde um partido político se posiciona ideologicamente traz vanta-
gens analíticas e políticas. Mensurar as posições partidárias servem
tanto para compreender o espaço partidário de um país ou comparativa-
mente, entre países, quanto para relacionar as posições dos indivíduos com a
política na vida real. A primeira vantagem analítica, é que é uma forma de
reduzir o ruído da multiplicidade de fatores que leva à tomada de decisão e à
agregação de preferências políticas, facilitando a compreensão dos atores
institucionais e dando horizonte às expectativas sobre essas organizações que
sustentam as democracias modernas. A segunda é que permite conhecer os
partidos políticos para além daquilo que eles dizem sobre si mesmos, amplian-
do a forma com que diferentes fontes observam e analisam as legendas parti-
dárias. Finalmente, ainda no campo da análise, são as séries temporais de
mensurações que dão sentido às mudanças ou estabilidades que ocorrem no
sistema partidário, que permitem observarmos tendências de comportamento.
Já sobre as vantagens políticas, é também através da ideologia que os par-
tidos políticos se aproximam e se afastam, formam plataformas de cooperação
e coordenam políticas de governo. É a ideologia que simplifica e cria laços de
lealdade entre diferentes para que a diversidade de prioridades sociais possa
ser plasmada no sistema político. Ainda que se possa dizer que o Brasil é um
país onde os partidos sobejamente apresentam ideologia latente - pouco mani-
festa, num sistema fragmentado como o nosso (contamos com 31 partidos
registrados no Tribunal Superior Eleitoral em 2024), ela serve de atalho para
1
Agradeço os pareceristas
anônimos da Revista de
Sociologia e Política que
fizeram deste texto um produto
muito melhor. Os erros e
equívocos remanescentes,
como sempre, são de minha
inteira responsabilidade.
Rev. Sociol. Polit., v. 32, e016, 2024
escolhas eleitorais de eleitores e candidatos dando alguma pista de quais pre-
ferências podem se aproximar das suas.
Ainda, a sociedade moderna, como se sabe, está cada vez mais complexa e
com posições dinâmicas, num ritmo de mudanças acelerado (Norris, 2002).
Nesse sentido, pesquisas como a aqui apresentada tentam acompanhar ao
menos a multidimensionalidade da realidade social e política. Assim, os parti-
dos políticos que sempre estiveram apenas localizados no eixo de esquerda e
direita, o que prejudica a análise do impacto que a ideologia pode ter no enten-
dimento das decisões dos partidos e dos eleitores (Heywood, 2010) ganham
dimensão adicional. Aumentar a dimensionalidade da pesquisa necessitaria,
portanto, de um investimento em elaborar novos instrumentos que sejam capa-
zes de captá-lo. Contudo, aqui nos interessa cobrir uma lacuna na classificação
ideológica dos partidos políticos brasileiros: conseguir apresentar uma classi-
ficação para todas as legendas do sistema partidário, sem exceção e ainda dizer
sobre os partidos que não são portadores de ideologia, os chamados fisiológi-
cos. Em uma frase: contemplar todo o sistema partidário e ainda entregar uma
camada a mais de compreensão do mesmo a partir do comportamento percebi-
do das legendas.
Há uma diversidade de formas, métodos e técnicas para saber se uma le-
genda partidária pode ser considerada de esquerda, de centro-direita ou de ex-
trema-direita, conservador de esquerda ou liberal de direita. Desde abordagens
comportamentalistas, passando pelas famílias partidárias, até análises compu-
tadorizadas, todas têm a tarefa de aumentar o escopo de validade da mensura-
ção da ideologia dos partidos e incrementar nosso entendimento sobre tais
organizações. O objetivo desse report é apresentar uma dessas formas utili-
zando os dados das duas primeiras ondas da pesquisa Ideologia Partidária no
Brasil, 2018 e 2022 conduzida pelo Laboratório de Partidos e Sistemas da
Universidade Federal do Paraná (LAPeS/UFPR). Antes, faço um levanta-
mento sobre as diferentes técnicas de mensuração e as apresento na seção se-
guinte.
Em seguida, mostro como nossa pesquisa lidou com as dificuldades de
campo e apresentou uma medida possível para utilização da ideologia parti-
dária comparada. Para isso aplicamos um questionário para a comunidade de
cientistas políticos brasileiros pedindo que os especialistas classificassem os
partidos políticos numa escala que variava de zero a dez. A escala tinha sua
gradação numérica velada, de modo que a tarefa consistia em apenas posicio-
nar os partidos numa reta espacialmente. Mostro aqui parte dos resultados
alcançados no levantamento. No mesmo levantamento, os experts foram soli-
citados a classificar os partidos políticos quanto a sua orientação comporta-
mental (Strom, 1990;Wolinetz, 2002) na já conhecida tríade ‘policy, office
and vote-seeking’. Dizer qual é a prioridade de cada partido político: se con-
quistar apenas votos, independente das alianças e acordos para ocupar o
Estado, se mirar nas políticas de redistribuição através do ente público ou, se
ocupar o Estado, mesmo que isso signifique renunciar a votos para compor
apoios ou abrir mão de uma candidatura para privilegiar o espólio após a
vitória eleitoral de seus aliados.
Finalmente, concluo apresentando os problemas que a pesquisa carrega e
os desafios para novas ondas melhorarem a confiabilidade e a validade das
mensurações. Insisto na validade do instrumento aqui mobilizado e ofereço
uma análise do rendimento empírico da pesquisa para além do uso pelos auto-
res da mesma.
2/25 Revista de Sociologia e Política v. 32
II. Breve inventário para mensurar ideologia partidária
Ainda que não exaustiva, o que não é claramente nosso objetivo, apresento
um sumário das principais formas e técnicas mobilizadas pela Ciência Política
nas últimas décadas para tratar da ideologia como um problema empírico. O
apego aos dados não é trivial. Serve apenas para colocar o que é apresentado
aqui numa distância confortável das análises que tratam ideologia como ‘cor-
tina de fumaça’, como ‘falsa consciência’ ou como ‘discurso dominante’
althusseriano. O debate sobre ideologia nos termos marxistas pode ser encon-
trado em Codato (2016). Ou ainda, guardar distância da chave normativa pós-
moderna da ideologia como ‘signos de distinção’ que dão sentido à hierarquia
social de poder (Baudrillard, 1995). Portanto, apresento uma discussão de
alternativas que olham para diferentes arenas em que os partidos políticos
atuam, tentam medir como a ideologia se apresenta e as principais vantagens e
desvantagens de cada movimento metodológico.
Esse movimento, obviamente, não exaure o debate metodológico e teórico
sobre a importância da ideologia e nem como mensurá-la. Tratada, nesse pri-
meiro momento, como unidimensional, a ideologia deve ser entendida assim
apenas como uma forma analítica. Isso quer dizer que esquerda, direita, liberal
ou conservador, são conceitos que possuem mais de uma dimensão e, portanto,
necessitam de muitas variáveis que sejam capazes de captar as variações e as
múltiplas facetas que uma posição pode ter (Lewis & Lewis, 2023). Assim, o
debate que faço na seção seguinte é muito mais focado nas formas de mensu-
ração do que no conceito teórico. Contemporaneamente, com o surgimento das
novas formas de ascensão de extremistas ao poder (Mudde, 1996,2010;Tag-
gart, 1996;Rooduijn et al., 2015;Castanho Silva et al., 2019) e a complexifi-
cação das formas de pensar o político das novas gerações (Inglehart, 1971;
Kitschelt, 1995;Norris, 2005), duas dimensões para distribuir os partidos polí-
ticos no espaço ideológico parecem uma solução mais apropriada e que os
aproximam melhor da realidade. Para uma revisão sobre o conceito de ideolo-
gia e sua multiplicidade de variações a sugestão é adotar o já consagrado tra-
balho em dois volumes de Heywood (2010) e o livro dos irmãos Lewis (2023)
que atualiza e faz uma importante crítica à construção do conceito e das for-
mas de medi-lo na Ciência Política, em especial nos Estados Unidos. Mas aqui
o achado é limitado à dimensão esquerda e direita, já que no Brasil não há,
como nas democracias desenvolvidas, cristalizada na sociedade a complexifi-
cação das ideologias adjetivas, como esquerda e direita liberais, ambientalistas
liberais, conservadores liberais, esquerda autoritária, democratas cristãos ou
direita moderada.
Por fim, tratarei nessa comunicação apenas daqueles esforços dedicados a
mensurar ideologia partidária. Parece-me claro que esse tipo de estratégia pos-
sui vantagens para interessados em tratar de outras organizações, como movi-
mentos sociais, legislativos, executivos, sindicatos, organizações da sociedade
civil etc. Contudo, o objetivo aqui é mostrar a pertinência do objeto para o
tema e apresentar uma solução dentre muitas possíveis para os cientistas polí-
ticos e público interessado em debater como organizações partidárias podem
ter sua ideologia desvelada. Por outro lado, não restam dúvidas sobre a centra-
lidade dos partidos políticos como agentes da política, seja em democracias
(Cox, 1987;Aldrich & Griffin, 2007;Bizzarro et al., 2018) , seja em auto-
cracias (Gandhi & Przeworski, 2007;Magaloni, 2008;Pepinsky, 2014). E
dizer sobre a ideologia dos partidos políticos é saber os compromissos críveis
que estes fazem ao conquistar e fiscalizar o poder dos governantes, é um
importante atalho para que eleitores e profissionais da política possam navegar
Como medir ideologia partidária? 3/25
nas águas turbulentas das eleições e da consecução de políticas públicas. Mas
então, como estudar e medir a ideologia de um partido político?
II.1. A ideologia pelo comportamento
A primeira e mais comum estratégia para mensurar a ideologia de um par-
tido político é olhar para seu comportamento. Suas propostas de políticas pú-
blicas, as alianças eleitorais e as pautas que a legenda pretende perseguir
quando no governo servem como um proxy da ideologia que o partido sustenta
ou persegue (Strom, 1990;Laver, 2001b,2001a;Kligemann et al., 2006;Zuc-
co, 2009;Jäckle, 2009;Zucco, 2011). Também o comportamento dos parla-
mentares eleitos ao fazerem projetos de lei e votarem nas casas legislativas nos
parece especialmente útil quando se há registro dos chamados roll call votes
(Hix et al., 2006). A agenda comportamental, portanto, se desdobra em dois
pontos de observação acerca da mesma unidade de análise, ou universo de dis-
curso, se quisermos investir numa terminologia comparada.
O primeiro seria o chamado partido no governo que está ocupando o poder
Executivo. Ou seja, como um dado partido político se comporta quando pre-
cisa tomar decisões no momento de governar e fazer oposição?
Partidos quando no governo tendem a determinar a agenda para além dos
muros da burocracia envolvida na tomada de decisão quando no poder? A pri-
meira conclusão para mediar essa pergunta é quanto ao peso do partido no
governo. Partidos pequenos, por exemplo, quando na coalizão de governo,
tendem a ter menor relevância na composição da agenda governamental
(Laver & Schofield, 1998;Lyne, 2005). O segundo fator que intervém na
capacidade de uma agremiação fazer valer seu programa é o sistema de gover-
no. No parlamentarismo os partidos ganham maior proeminência na formação
dos gabinetes e portfólios ministeriais, aumentando assim sua capacidade de
influir na agenda governamental (Samuels, 2002;Samuels & Shugart, 2010).
Uma menor capacidade de agenda se observa nos sistemas presidencialistas,
onde a figura presidencial pode ter maior peso e serve como pista para que a
ideologia do governo se manifeste, mesmo se desalinhada com a do partido
presidencial.
Feitas as ressalvas, Blondel & Cotta (1996, p. 250) mostram que os parti-
dos políticos conseguem impor suas agendas, ou seja, manifestar ideologia
através de políticas públicas. Por exemplo, o partido Verde na Alemanha tem,
desde os anos 1980, conquistado espaço e alterado o resultado de políticas
públicas ambientais, antes deixadas de lado pelas grandes agremiações que
dominam o sistema partidário alemão. Dando força à tese, partidos agrários
quando nas coalizões governativas conseguem alterar o gasto orçamentário
direcionando recursos para áreas mais afastadas e baseadas em economia
agropecuária (Budge & Keman, 1990;Woldendorp et al., 1998). Ou seja, seria
possível conhecer as orientações programáticas dos partidos políticos através
de suas atuações ao influir e/ou decidir as políticas públicas de governos que
participam ou controlam. No caso brasileiro, Dias et al. (2012) apresentam
uma classificação ideológica dos partidos políticos a partir da legislação por
eles produzida em assembleia legislativa estadual. Ainda que o localismo
possa ser um problema, a utilização da produção legislativa como unidade de
observação da ideologia dos partidos possui a enorme vantagem de olhar para
aquilo que os partidos fazem durante o governo, com autonomia e limitações
relativas, mas com o critério leninista da prática.
4/25 Revista de Sociologia e Política v. 32
Ao contrário, Imbeau et al. (2023) realizam uma meta-análise e apontam
que a capacidade da agenda programática dos partidos políticos interferirem
nas políticas executadas pelos governos é bastante limitada. A partir de 693
diferentes parâmetros em 43 estudos empíricos, os autores concluem que
fatores socioeconômicos e institucionais tendem a pesar mais do que a compo-
sição partidária dos governos para determinar os outputs em formas de políti-
cas públicas. A mesma conclusão que chega 40 anos antes (Rose, 1984) ao
analisar o governo do Reino Unido e apontar que a estrutura do Estado britâ-
nico é mais importante do que a ideologia dos ocupantes do gabinete para
determinar as políticas públicas que serão perseguidas pelos governos. E
semelhante ao encontrado por Blais et al. (1993) quando analisam os gastos
partidários a partir da coloração ideológica, numa comparação entre uma
meta-análise e um estudo empírico, e concluem que o tempo de permanência
no governo é mais importante do que a filiação programática do partido no
montante expedido em políticas públicas.
Por outro lado, uma longa tradição desses estudos aponta que os partidos
políticos são constrangidos pelas necessidades de formar acordos parla-
mentares ou enfrentar oposição para manterem suas posições programáticas
(Schattscheneider, 1941;Laver & Schofield, 1998;Kligemann et al., 2006;
Amaral, 2016;Weyland et al., 2010), especialmente quando no legislativo. O
que seria um primeiro obstáculo para mensurar a ‘pureza’ ideológica de um
partido político no governo. Seria mais difícil captar as cofounders que podem
interferir na tomada de decisão quando um partido ou um parlamentar de suas
fileiras decide por um caminho em detrimento de outro. Essa decisão pode
estar relacionada com a possibilidade de reeleição do próprio parlamentar,
com a necessidade do partido se manter ativo captando recursos estatais, de
acordos ocultos entre partidos e/ou grupos parlamentares ou ainda de cons-
trangimentos institucionais que regem o comportamento das legendas quando
no Legislativo ou o Executivo (Hibbing, 1999;Carey et al., 2000;Carroll,
2013).
Mas, como demonstra Scheeffer (2016), controlado o ruído, conseguimos
distinguir o comportamento, ao menos no Legislativo, entre esquerda e direita
quando olhamos para decisões especialmente caras às posições ideológicas.
Isso pode ser revelado, quando partidos tratam de temas sensíveis na pólis em
que atuam. A descriminalização do aborto, a legalização de drogas, o papel do
Estado na regulação da economia, o direito ao porte de armas de fogo ou a
reforma agrária são temas que tradicionalmente tendem a separar em lados
opostos direita e esquerda
2
. Isso só é possível porque contamos com as vota-
ções, os roll call, por exemplo dos parlamentares brasileiros, registradas,
assim como ocorre em outras democracias, como nos Estados Unidos ou no
Parlamento Europeu (Poole & Rosenthal, 2001;Hix et al., 2006). Por outro
lado, Zucco & Power (2009,2011) mostram que, quando se indaga
3
os parla-
mentares dos principais partidos brasileiros sobre a posição ideológica do seu
e dos demais partidos, a divisão que se sobressai entrega uma dicotomia entre
governo e oposição em que as fronteiras entre esquerda e direita seriam pouco
estruturadas. Os partidos tenderiam a se organizar no Legislativo mais em
relação à adesão à agenda governativa do que seus principais pontos pro-
gramáticos. A ideologia, portanto, aparece vestida de acordo com a orientação
do Executivo e não como input do Legislativo. O que nos leva concluir que
mensurar ideologia através do comportamento legislativo possa elucidar de
forma complementar as bandeiras ideológicas, mas não definitiva.
A grande desvantagem dessa primeira abordagem é ter como fonte de aná-
lise o comportamento dos eleitos. Isso deixa de fora uma grande parte dos par-
tidos políticos, sejam seus eleitores, sejam os candidatos derrotados ou os
2
Esses temas fazem sentido
sempre dentro do país ou
região em que os partidos
atuam. Outros temas sensíveis
serão mobilizados em
contextos diferentes, por
óbvio.
3
A pesquisa Brazilian
Legislative Survey caberia
melhor na seção em que se
debate as medidas de ideologia
através de questionários de
opinião. Apenas utilizo aqui
para salientar as dificuldades
em utilizar o comportamento
no governo para mensurar
ideologia partidária, aplicando
diferentes técnicas.
Como medir ideologia partidária? 5/25
burocratas que influem nos rumos da agremiação
4
. Por outro lado, analisar o
comportamento dos partidos quando no governo revela o ‘partido real’, aquele
que os eleitores esperam que decida e tome posições nas matérias políticas que
afetam os cidadãos. Ainda que parcial, uma avaliação da ideologia dos parti-
dos quando investidos do poder, é importante para servir de referência para
validação de outras técnicas que, como veremos, possuem também limitações.
O segundo ponto de observação ainda tendo como fonte a dimensão com-
portamental, é olhar como o partido se porta na arena eleitoral, ou seja, antes
de se tornar governo. A consistência das alianças eleitorais, os parceiros com
que o partido resolve se aliar pode revelar, por afinidade programática, a colo-
ração ideológica não manifesta na arena governativa (Schimitt, 2005; Car-
reirão, 2006; Dantas & Praça, 2010;Mesquita, 2010;Machado & Miguel,
2011;Machado, 2012). Ou seja, um partido político que, por qualquer razão
que seja, não se posiciona claramente em relação aos principais debates
quando no governo, pode ter sua ideologia revelada pela lógica de ‘birds of a
feather’. Partidos tendem a se aproximar programaticamente para ter força ao
propor agendas comuns ou partilham origens que levam a sua proximidade. A
ideologia partidária, portanto, seria parte desse eixo que faz com que legendas
próximas andem juntas para conquistar eleitores diferenciando-se dos demais
concorrentes de outras vertentes ideológicas.
A consistência ideológica das alianças eleitorais pode, então, servir como
um indicativo de como um partido que eventualmente não possui ideologia
manifesta se posiciona. Podemos pensar numa legenda que possui postura
centrista ou amorfa na arena governamental, mas que corriqueiramente se alia
com uma grande legenda ideológica durante os períodos eleitorais. A partir
dessa aliança, podemos supor que a arena eleitoral se torna uma fonte possível
para conhecer a ideologia de um partido ou de um conjunto deles. O problema
empírico, como aponta Carreirão (2006), é que ideologia pode servir justa-
mente como um obstáculo para alianças eleitorais. O que, de forma ‘negativa’,
ou seja, com quem determinado partido não se alia, pode servir como indica-
ção de sua orientação ideológica tanto quanto o comportamento coligado em
si.
A vantagem dessa segunda fonte como proxy para ideologia é que diferente
do período no governo, observamos o comportamento das organizações
partidárias em situação crítica, expostos diretamente aos eleitores, tendo sua
atuação (futura e passada) posta à teste e captando votos. Uma segunda vanta-
gem é que olhar para o comportamento eleitoral permite que se veja a atuação
partidária com o seu elo mais importante e que sustenta o partido a longo pra-
zo, qual seja, o eleitor.
Por outro lado, o comportamento dos partidos tende a ser estratégico e
inconsistente nas suas alianças eleitorais: podem ocorrer por conveniência e
por breves períodos, o que é uma desvantagem metodológica. Em países fede-
rados e com um sistema partidário fragmentado, isso pode ser ainda mais peri-
goso. O sistema político pode ser uma dificuldade adicional, quando o partido
tem possibilidades de fazer alianças eleitorais em diferentes níveis, sendo con-
sistente, por exemplo, no nível regional, mas necessitando ampliar o escopo
ideológico para ganhar eleições nacionais em sistemas multiníveis (Dosek &
Freidenberg, 2013). Por fim, um percalço adicional é saber a natureza das
alianças permitidas em uma polity, já que nem mesmo o Brasil permite mais
coligações eleitorais em eleições proporcionais
5
. Outros países possuem natu-
rezas de alianças mais estáveis como o Frente Amplio no Uruguay, a findada
Concertación no Chile, a união democrata cristã CDU/CSU fraktion na Ale-
manha, os kartel na Bélgica, as listas partilhadas na Holanda (encerradas em
4
Esse ponto é especialmente
sensível se levarmos em conta
a tese da disparidade
curvelinear ideológica de
Kitschelt (1989) que mostra as
diferenças entre a latência
ideológica no interior dos
partidos políticos quando
comparamos os níveis
hierárquicos dos respondentes.
5
A legislação que vetou a
coligações em eleições
legislativas proporcionais no
Brasil passou a vigorar em
2017, valendo, portanto, para o
6/25 Revista de Sociologia e Política v. 32
2017) ou a aliança Labour-Coop que opera desde 1927 disputando diferentes
níveis (local e nacional) no Reino Unido.
II.2. Ideologia baseada em texto
Abandonando a agenda comportamental, uma alternativa que a Ciência
Política se dedica é olhar para o próprio partido. Uma longa tradição de estu-
dos na disciplina privilegia a análise do que os partidos escrevem e dizem
sobre si mesmos. Seja na forma de seus estatutos, seus manifestos, programas
de governo e peças eleitorais (Franzmann & Kaiser, 2006;Tarouco &
Madeira, 2013;Tarouco & Madeira, 2013;Babireski, 2014). A premissa dessa
abordagem é que a democracia e a competição eleitoral moderna são baseadas
em comunicação. Assim, entender como e o quê o partido manifesta é essen-
cial para dali extrair suas posições ideológicas e entender a agenda política da
organização.
A principal vantagem dessa abordagem é tomar o partido por aquilo que
ele diz de si mesmo, sem que haja um intermediário entre a organização e o
que se entende dela. Em países com estrutura partidária sólida, como Europa
ocidental e Oceania, essa estratégia encontrou sucesso mostrando compara-
ções validadas entre as legendas e, também, na relação destas com o eleitora-
do. Por outro lado, em lugares, como América Latina, leste Europeu, África e
Oriente Médio, as análises foram limitadas pelo excesso de informalismo que
possuem os partidos e pela baixa congruência entre o que eleitores conseguem
enxergar na agremiação e o que ela diz de si mesma (Freidenberg & Levitsky,
2007;Iñaki, 2011). Os partidos, como no caso brasileiro, muitas vezes depen-
dem mais de lideranças para marcarem suas posições, revelando mais perso-
nalismo do que programatismo (Mainwaring, 2001;Sáez, 2005;Alcántara,
2016). Além disso, os partidos tendem ao fisiologismo, ao se comportarem de
forma invertebrada nos acordos eleitorais e no comportamento legislativo, fur-
tando-se de tomar posições públicas, aumentam sua flexibilidade e potenciali-
zam as parcerias eleitorais (Desposato, 2006;Epstein, 2009). Ou seja, não ter
um manifesto partidário ou ter um vazio de sentido pode ser estratégico para a
sobrevivência eleitoral em sistemas de baixa institucionalidade.
II.2.1. Codificação manual - Manifesto Research Group (MRG)
A abordagem mais conhecida para se mensurar ideologia através de docu-
mentos partidários foi difundida pelo projeto alemão Comparative Manifesto
Project, conduzido pelo MRG (Jorge et al., 2020). É baseado numa análise
qualitativa do que aqui chamamos de “programa partidário e diretrizes dou-
trinárias”, uma carta de intenções que o partido é obrigado a registrar contendo
os principais pontos programáticos que pretende se concentrar e apresentar aos
eleitores, filiados e pares. Já na matriz do projeto, os documentos analisados
eram os programas eleitorais que, como aqui, eram divididos em quase-sen-
tenças e classificados por um codificador em determinadas categorias que car-
regam significados específicos (Kligemann et al., 2006;Volkens et al., 2013).
As quase-sentenças são classificadas em mais de cinquenta categorias políti-
cas. Cada uma delas pontua no polo da esquerda ou da direita a depender do
entendimento comum que se tem sobre um assunto. Por exemplo, sentenças
que falam em questões militares (categoria ‘paz’) podem ser ora interpretadas
como preferências à direita, como usualmente ocorre na América Latina, ora
pleito nacional e estadual de
2022.
Como medir ideologia partidária? 7/25
como posições sem delimitação ideológica definida, como em boa parte da
Europa ocidental (Tarouco & Madeira, 2013).
A metodologia do MRG é baseada na teoria da saliência onde partidos
políticos fazem um movimento anti-downsiano tentando se diferenciar o má-
ximo possível e conquistar fatias diferentes do eleitorado em franca oposição à
busca pelo eleitor médio (Downs, 1999). Os partidos buscariam se diferenciar
para conquistar votos, diferente da tese da proximidade espacial pregada por
Downs e outros teóricos da escolha racional. O problema é saber se tal dife-
renciação é validável para além dos documentos partidários. Além do acesso
ao documento que se espera que o eleitor tenha, partidos podem ter seu pro-
grama com a mesma quantidade de quase-sentenças em uma dada categoria,
mas com sentidos bastante distintos (Laver & Schofield, 1998;Kligemann
et al., 2006). Essa dificuldade deveria, segundo os criadores do projeto, ser
superada pelos codificadores treinados para tanto. Uma segunda dificuldade é
saber se o partido não utiliza outras pistas ideológicas para fornecer aos seus
eleitores que estão em contradição com o seu programa. Por exemplo, um can-
didato carismático que contradiz o programa do partido, mas atrai maior quan-
tidade de votos e é aceito como expressão daquela organização.
Porém, quando utilizado de forma comparada, o MRG parece trazer resul-
tados importantes para compreender a fauna partidárias de diferentes países
(Tarouco et al., 2022). O uso da escala Right-Left (RILE), onde sentenças de
um ponto são subtraídas do outro a partir do sentido que cada uma tem para
esquerda ou para direita, e em que o resultado é um índice comparável, é um
modo de reduzir dados. Esse procedimento torna a classificação ideológica dos
partidos uma tarefa replicável e válida quando não há problemas de confiabili-
dade das fontes e clareza na relação entre a expectativa do eleitor e as posições
dos partidos.
II.2.2. Medidas automatizadas de ideologia
Diferentemente da abordagem que mobiliza codificadores humanos, o uso
de softwares específicos para identificação de termos, quase sentenças, frases e
palavras podem ser mobilizadas para quantificar os documentos partidários e,
a partir daí, estabelecer critérios para posicioná-los do espectro ideológico
desejado
6
. O princípio básico de operação é pela quantidade de trechos que o
documento possui que o colocam mais próximo ou mais distante de cada posi-
ção ideológica. Três técnicas distintas podem ser utilizadas para posicionar
cada quase sentença ou palavra em cada posição.
A primeira é o uso de um dicionário de palavras (quase sentenças) como
referência. Essas palavras possuem significado inequívoco nos programas par-
tidários e, então, essas palavras são contadas. Vale notar que aqui apenas as
palavras incluídas no dicionário de referência é que entram na contabilidade da
ideologia de cada partido.
A segunda é o entendimento dos textos a partir de wordscores e não trata o
programa como um discurso dotado de significado, mas sim como uma fonte
em que palavras são contadas independente de se pertencem a uma categoria
ou outra. O que importa nessa técnica, portanto, é a frequência relativa de
palavras.
Em qualquer uma das técnicas, a grande vantagem é dispensar o uso de co-
dificadores humanos, o que reduz os custos de tempo e recursos financeiros
envolvidos na operação. O uso de wordscores é ainda mais eficiente se a
6
Esse texto é escrito durante a
ascensão das tecnologias de
inteligência artificial e
sistemas complexos como
ferramentas válidas para
compreensão e classificação
textual. Ainda não foi possível
identificar o uso desses como
instrumentos para posicionar
ideologicamente partidos
políticos. Mas estamos certo
de que exemplos disso não
faltarão num futuro próximo.
8/25 Revista de Sociologia e Política v. 32
preocupação da pesquisa é reduzir os gastos
7
. Contudo, do ponto de vista
substantivo o uso do dicionário de palavras tem sempre a unidimensionalidade
do espaço político como resultado possível (Laver et al., 2003), já que divide a
visão de mundo entre apenas esquerda e direita. Já os métodos que con-
tabilizam palavras tendem a produzir resultados mais complexos, sendo capa-
zes de posicionar os partidos políticos num espaço multidimensional, para
além da escala RILE. Por outro lado, a técnica de wordscores é dependente de
validação externa, já que para posicionar um partido político (e seu documen-
to) em determinado espaço ideológico é necessário ter uma referência como
um outro documento do mesmo partido que tenha clara manifestação ideoló-
gica ou um documento de outra legenda que ofereça contrapartida. Por exem-
plo, para sabermos se o manifesto de um partido pode ser classificado como
pertencente ao combo dos partidos verdes, seria necessário ter um outro mani-
festo claramente ‘verde’ para validar o resultado obtido com o wordscores ou
então um documento de um partido ‘anti-ambientalista’ que servisse como
exemplo negativo de referência
8
.
Uma terceira técnica menos utilizada, mas que vem ganhando espaço den-
tro dos métodos automatizados, é a de wordfish. Essa técnica dispensa a com-
paração com um documento de referência como na anterior ou com um
dicionário de termos e pertencimento dos sentidos de cada quase-sentença. A
técnica faz uso de distribuição estatística para pesar e posicionar cada palavra
no ponto ideológico estimado (Martins et al., 2021), controlando por efeitos
fixos (como o tamanho do documento) e por palavras (eliminando aquelas que
não possuem sentido ideológico como artigos, aditivos e pronomes) tornando
possível calcular a importância de uma palavra xque seja capaz de diferenciar
posições partidárias e estimar a ideologia de cada partido (Slapin & Proksch,
2008;Proksch & Slapin, 2009;Hjorth et al., 2015;Lo et al., 2016). Ainda que
o resultado não seja muito diferente da técnica de wordscores, como mostram
Martins et al. (2021), a independência em se dispensar um documento de
referência parece aumentar a validade interna da técnica e ganhar em acurácia
na mensuração.
A principal vantagem no uso de textos é a comparabilidade
9
. O fácil acesso
às fontes e a unidade do método permite que seja replicado em qualquer país
ou local onde os partidos políticos se manifestem por escrito ou que seus ma-
nifestos possam ser traduzidos por escrito - já que a mobilização de redes
sociais tem feito os partidos utilizarem cada vez mais recursos de mídia em
imagens. O grande problema dessa técnica é se o que está ‘no papel’ repre-
senta alguma coisa sobre a ideologia partidária ‘real’. Em países onde o perso-
nalismo e o clientelismo operam como instituições informais que determinam
a atuação política dos parlamentares e eleitores (Helmke & Levitsky, 2004;
Freidenberg & Levitsky, 2007), tomar o manifesto ou o programa do partido
por sua validade de face pode ser um erro metodológico.
II.3. Origens sociais e históricas dos partidos e ideologia
Desde Weber [1901] (1999), passando por Michels (1911),Duverger
(1980),Lipset & Rokkan (1985) ePanebianco (2005) até estudos contempo-
râneos (Rodrigues, 1990,2002) a composição social de uma agremiação polí-
tica fornece evidências sobre sua posição espacial. Mas há quatro formas
distintas de entender a relação dos partidos políticos com a sociedade. A pri-
meira é a origem social dos membros de um partido político. Outra é da parti-
cipação de organizações ou movimentos sociais que dão origem e passam a ser
associados àquele partido. E a terceira é quem ‘paga a conta’, quem financia a
7
Para um debate completo
sobre a mobilização dessas
técnicas, problemas e
vantagens, sugiro a leitura das
publicações e os comentários
entre Budge & Pennings
(2007a,2007b), Benoit &
Laver (2007a,2007b,2008) e
Martin & Vanberg (2008b,
2008a).
8
Para a operacionalização da
técnica e aplicação das
fórmulas que posicionam os
partidos ver Laver et al.
(2003).
9
Mais recentemente
Figueiredo et al. (2022),
apresentaram a utilização de
aprendizagem de máquina para
tentar mensurar a ideologia
das legislaturas no Senado
Federal. Ainda que não se trate
de partidos políticos, a
metodologia sugere poder ser
também aplicada a eles.
Como medir ideologia partidária? 9/25
legenda, e claro, possui ligação com as duas anteriores. Por fim, as famílias
partidárias podem servir de método para entender a posição espacial de uma
agremiação partidária. Explico uma a uma.
A origem social dos membros partidários, parte do clássico suposto cunha-
do por Lipset & Rokkan (1985): os partidos políticos seriam frutos de cliva-
gens sociais historicamente constituídas e plasmados a relação sociedade-
Estado por eles. Partidos similares, segundo essa abordagem teórica, surgiriam
de um uníssono - ainda que não homogêneo - dadas às circunstâncias históri-
cas em que se organizavam. Por exemplo, os partidos socialistas são expressão
da emancipação dos trabalhadores em busca por seus direitos e representação e
vêm à tona em diversos países ao mesmo tempo, na virada do século XIX para
o XX, como uma resposta à nova clivagem social do momento. Os partidos
então mobilizariam ‘interesses similares’ impostos pelas condições históricas
em que estão inseridos. Seiler (2000) aponta que essa origem comum deu ori-
gem a várias famílias partidárias que permanecem no tempo e que mantém sua
ligação ideológica com a origem até hoje. Ou seja, não só a composição, mas a
pontuação no tempo seria importante para o rumo ideológico que um partido
político vai tomar.
A vantagem dessa explicação histórica é que ela é capaz de oferecer ao
analista o grande movimento das ondas de partidos que surgem no mundo. Por
outro lado, é um tipo de explicação que tende a desprezar os movimentos
estratégicos das elites políticas dentro do sistema representativo e que con-
sidera apenas uma forma com a qual os partidos nascem, a origem externa.
Tese que, como aponta Duverger (1980) desde os anos 1950, já é questionada
quando a literatura evidencia que os quadros legislativos são, em grande medi-
da, responsáveis pela formatação dos sistemas partidários e eleitorais (Benoit,
2007;Ahmed, 2010).
A segunda forma é olhar para a composição social dos partidos políticos.
Um clássico brasileiro nesse sentido é o trabalho de Rodrigues (2002), que
mostra como os coortes ideológicos possuem composições sociais diferentes
no legislativo nacional. Ou seja, os partidos, a depender de sua orientação pro-
gramática, recrutariam membros que se diferem de outros a partir de seu back-
ground social. Partidos mais à esquerda teriam mais representantes trabalha-
dores do que empresários entre seus quadros, por exemplo. Panebianco (2005),
ao tratar do preconceito sociológico nos partidos políticos, diz que não pode-
mos tomar a origem social dos membros do partido como evidência de como o
partido se organiza. Até certo ponto, essa afirmação parece fazer sentido. Con-
tudo, remontando a tese de Michels (1911) parece razoável supor que a origem
social impacta na ideologia dos partidos. Por exemplo, a ideologia manifesta
seria um dos elementos de coesão dos partidos de origem trabalhadora. E os
parcos laços ideológicos presentes nos partidos liberais possuem ligação com a
ampla autonomia que seus quadros desfrutam tendo em vista sua condição
econômica e sua posição social privilegiada que dispensa os esforços da má-
quina partidária.
Ainda falando sobre a composição social dos partidos, é comum que não
analisemos a origem individual dos membros do partido, mas sim sua liga-
ção da organização com grandes movimentos ou organizações sociais. Agre-
miações com fortes ligações com sindicatos de trabalhadores, como os
partidos trabalhistas e os social-democratas, tendem a se posicionar no
flanco à esquerda do espectro ideológico (Christiansen, 2012). Por outro
lado, partidos ligados a associações empresariais, do agronegócio ou da
indústria, tendem com frequência a estarem localizados nas posições de di-
reita, como os partidos liberais. Já partidos com ligação com movimentos
10/25 Revista de Sociologia e Política v. 32
cristãos, como os democratas-cristãos ou os partidos ambientalistas, usual-
mente flutuam entre a centro-direita e a centro-esquerda, com especial pre-
valência das ligações com igrejas à direita e ambientalistas para esquerda
(Poguntke, 1989;Allern et al., 2007).
A terceira, ainda que possa na prática se relacionar com o segunda, é
quem paga a conta dos partidos políticos. Nos Estados Unidos é comum que
os perfis ideológicos de eleitores e legisladores seja colocado à prova com a
abordagem campaign finance-based measures of ideology (CFScores
10
)
(Bonica, 2013). A ideia por trás dessa técnica é que os financiadores de cam-
panha eleitoral têm não só interesses, mas visões de mundo específicas que
privilegiam perspectivas ideológicas mais ou menos afinadas. Por exemplo,
empresas e grandes empresários do vale de silício tendem a ter posições
neutras entre o partido Republicano e o partido Democrata, doando igual-
mente para os dois lados. Por outro lado, grandes complexos da indústria
petroquímica tendem a privilegiar o partido Republicano, expressando e
financiando sua visão de mundo através do lobby e do patrocínio de candida-
tos. Por outro lado, empresas de comunicação tendem a financiar de forma
desequilibrada os candidatos do partido Democrata.
De modo complementar, é comum também que partidos de esquerda
contem com contribuições de filiados fiéis dispostos a manter a organização
funcionando para além dos períodos eleitorais (Scarrow, 1996;Cross &
Young, 2004;Seyd & Whiteley, 2004;van Haute & Gauja, 2015). Um fluxo
contínuo de contribuições atomizadas mostra o peso que as bases sociais de
um partido podem ter no momento da escolha das principais diretrizes polí-
ticas de um partido. Por outro lado, legendas que contam apenas com fluxo
pontual e concentrado nas eleições de doadores tendem a depender mais de
seus candidatos e das lideranças do partido para determinar seu contorno
ideológico. Portanto, tendem a serem organizações mais fluidas e permeá-
veis aos sabores da disputa do que partidos com uma base social compro-
metida.
Quando se combina dois ou mais critérios de pertença ideológica citados
acima - origem do partido e participação da sociedade civil organizada nele,
por exemplo - não é incomum que o resultado seja famílias partidárias,
como partidos social-democratas, progressistas, comunistas, conservadores,
liberais, verdes ou democratas-cristãos, para ficarmos em exemplos que
superam as fronteiras territoriais de diversos países ou regiões (Mair &
Mudde, 1998;Ennser, 2010;Elff, 2013). As famílias partidárias servem
também como ponto de partida para entender a ideologia política de uma
legenda. Mas é preciso esclarecer que ideologia, quando tomada por essa
via, vai além da unidimensionalidade entre esquerda e direita. Ambienta-
lismo, liberalismo, conservadorismo, social democratismo, comunismo,
socialismo, trabalhismo, progressismo, cristianismo democrático, eurocen-
trismo, eurosceptismo, feminismo são algumas das variedades que podem
unir partidos em torno de visões de mundo que vão além da díade esquerda
e direita. Alguma vezes estão contidos na díade, mas nem sempre. Como o
caso dos partidos verdes que tendem a movimentarem-se com mais liber-
dade nesse eixo, bem como os democratas-cristãos. Ou, partidos que se
fixam num ponto, como os comunistas, mas que apresentam variedade na
intensidade e na relação entre liberdade econômica e política exercida pelo
Estado de partido único, como nos regimes totalitários, ou nas propostas dos
partidos.
10
Está disponível para
consulta a base de dados que
compila as doações de
campanha segundo sua
classificação ideológica no
projeto Ideology in the
Political Marketplace que
administra e mantém
atualizada o Database on
Ideology, Money and Politics
(DIME).
Como medir ideologia partidária? 11/25
II.4. Classificando partidos ideologicamente com uso de surveys
De uma forma geral, o uso de questionários revela como os eleitores, sim-
patizantes, membros e os pares enxergam as posições de determinada agre-
miação. São exceções aquelas mensurações que combinam mais de uma
unidade de observação para auferir a ideologia de um conjunto de partidos
políticos.
A primeira rama dessa técnica, são os surveys de opinião pública que se
baseiam na percepção que eleitores e a população em geral de um país possui
sobre os partidos que atuam naquele local. Baseados em amostras estatísticas
representativas do universo, a ideia é captar como o todo de um país (ou de
uma região) enxerga a tonalidade ideológica dos partidos políticos. O que per-
mite, por um lado, estabelecer padrões de confiabilidade das respostas, calcu-
lando erros padrão da média e intervalos de confiança. Nesse sentido, é uma
das formais mais confiáveis que possuímos para mensurar a ideologia de um
conjunto de partidos políticos (Mair, 2001, p. 14).
O exemplo mais conhecido no Brasil é o Estudo Eleitoral Brasileiro
(ESEB) conduzido pelo Centro de Estudos de Opinião Pública (CESOP) da
Universidade Estadual de Campinas. A partir da percepção dos eleitores o
estudo permite que os partidos políticos sejam classificados a partir da posição
em determinados issues que aproximam a legenda mais da esquerda ou mais
da direita. Outros estudos que mobilizam eleitores e cidadãos, como o Baró-
metro das Américas, produz o LAPOP que em suas várias ondas fornece evi-
dências através de surveys em toda América capazes de perfazer classificações
ideológicas consistentes de diversos países. Já o American National Election
Studies (ANES) refere-se aos Estados Unidos e trata-se o estudo eleitoral mais
antigo em vigor no Ocidente. Ainda que seja limitado a apenas um país, é uma
fonte de referência para os interessados em laçar mão de questionários e
amostras para classificação ideológica de partidos políticos.
Contudo, realizar pesquisas de opinião pública apresentam problemas,
como todas as demais formas. A primeira é que não se sabe o quanto as pró-
prias posições ideológicas dos respondentes interferem nas avaliações que
fazem dos partidos. Como hoje se sabe, as emoções - especialmente as negati-
vas - são definidoras dos attachments que cidadãos possuem com partidos
próximos e rivais (Braga & Pimentel Jr., 2011). O segundo principal problema
é que em pesquisas massificadas, em que muitos respondentes são acionados, é
difícil separar a percepção que o respondente tem do partido em si e do líder
ou líderes do partido. Ainda que as lideranças exerçam um papel central na
recepção pública do partido, elas não resumem a agremiação como um todo
(Pedahzur & Brichta, 2002). O terceiro que frequentemente é mobilizado é que
os eleitores não têm clareza do que significam as posições ou issues que con-
formam esquerda e direita, liberal e conservador. Portanto, qualquer pergunta
nesse sentido teria problemas de acurácia e de possível viés (Ribeiro et al.,
2016;Lewis & Lewis, 2023). Por fim, um problema que exige controle de alto
custo e, portanto, é irrealizável, é o papel de organizações intermediárias que
apresentam a ideologia do partido através da imagem pública ou de organiza-
ções que fazem parte do partido. Por exemplo, jornais em rádio, TV e internet,
tem um papel de formar visões de mundo para seus leitores através de narrati-
vas (Gerbaudo, 2018).
Ainda utilizando-nos de questionários, é comum que investigadores mobi-
lizem representantes eleitos pelos partidos como unidade de observação para
determinar classificações ideológicas. Essa técnica tem a grande vantagem de
contar com pessoas envolvidas tanto na vida partidária quanto na vida política
12/25 Revista de Sociologia e Política v. 32
como um todo, o que faz com que as respostas dadas possuam validade intrín-
seca mais elevada se comparadas com as demais. Da mesma forma, entrevistar
eleitos pode criar um viés na medida em que só se entrevistam os ‘vencedores’
do partido, os que conseguiram ganhar a eleição. Além do mais, o envolvi-
mento desses com o cotidiano político pode criar percepções muito diferentes
daquelas que apresentam os eleitores e os burocratas do partido, por exemplo,
justamente porque estão preocupados em atuar legislativamente em nome do
partido.
OBrazilian Legislative Survey (BLS), conduzido pela Universidade de
Oxford e pela Fundação Getúlio Vargas, ao invés de indagar os eleitores, per-
gunta aos representantes eleitos - deputados federais - como estes classificam
seu próprio partido e os demais da Casa a partir de uma escala esquerda-direi-
ta. O BLS conta com uma longa trajetória de produção sobre o comportamento
ideológico dos partidos no parlamento brasileiro (Zucco Jr, 2009;Power &
Zucco Jr., 2009;Power & Zucco, 2011;Zucco & Power, 2021). Já o Latin
American Elites Project (PELA) também realiza entrevistas com questionários
a elites parlamentares e permite que o pesquisador interessado classifique o
partido ou o conjunto de partidos de diversos países da América e conta com
dimensões que vão para além do eixo esquerda-direita, permitindo que o ana-
lista mensure outros pontos de interesse sobre os partidos políticos e seus
membros eleitos.
Por fim, algumas pesquisas mobilizam experts em partidos políticos - cien-
tistas políticos, jornalistas, analistas, consultores etc. - para classificar as le-
gendas. Esse apelo tem ocorrido na Ciência Política desde os anos 1970,
quando investigadores necessitavam saber das posições espaciais dos partidos
para as suas próprias pesquisas (De Swaan & Adam, 1973). A partir dessa pri-
meira experiência Castles & Mair (1984) foram os primeiros a realizar um
banco de dados com classificações ideológicas amplas que serviram para pes-
quisas comparadas, o que fez com que o resultado desse trabalho fossem umas
das referências mais utilizadas na área para dizer sobre a ideologia de partidos
políticos. Isso se deve às vantagens que essa técnica de pesquisa possui. A pri-
meira delas é que os julgamentos de experts possuem validade intrínseca na
medida em que são capazes de compreender elementos do partido que vão
além daqueles dispostos pela própria legenda, como os manifestos, as votações
em plenário ou as alianças eleitorais. Os especialistas conseguem ter uma
visão compreensiva do partido, integrando diferentes faces e realizando um
balanço que uma fonte única de dados não fornece por si só. Como desvanta-
gem encontramos o alto custo que toda pesquisa com questionários mobiliza -
ainda que hoje os web based surveys reduziram substancialmente esse investi-
mento - e a disponibilidade de especialistas em diferentes países. Com o cres-
cimento da Ciência Política a nível mundial, cada vez se torna mais fácil
replicar e conseguir aplicar a técnica em diferentes locais, aumentando assim
sua validade externa. Ainda que respostas individuais possam configurar out-
liers, não é difícil lidar com elas fazendo uso de médias para as pontuações.
Ainda, mesmo pesquisas que mobilizam escalas diferentes, hora com sete
pontos, hora com dez, ou até vinte, as comparações são facilmente realizadas
com padronizações intervalares que permitem unificar mensurações.
Mas alguns cuidados devem ser tomados caso o interessado em mobilizar
essa técnica resolva aplicá-la. O primeiro é que as escalas devem ser elabora-
das a partir do conceito de ‘proximidade espacial’ (King et al., 2004). Isso sig-
nifica que as distâncias entre os partidos devem ser entendidas como espaços
ideológicos diferentes e não como uma direção em relação a uma política pú-
blica ou posição programática. Por exemplo, é preciso que o respondente
pense o quanto um partido A está longe de B, ainda que ambos tenham
Como medir ideologia partidária? 13/25
apoiado no legislativo uma legislação específica. O segundo cuidado é que os
experts não devem ser induzidos a responder sobre uma parte do partido polí-
tico, como a posição ideológica dos eleitores, dos líderes do partido ou do
governo do partido (Budge, 2000) (a não ser que a pesquisa tenha esse claro
objetivo). Em terceiro lugar, as escalas não devem ser muito gerais, ou seja,
devem apresentar clara distinção entre o que significa ser esquerda e o que sig-
nifica ser direita. Isso é especialmente delicado para comparações entre países,
onde o entendimento do que esquerda ou direita pode mudar de acordo com a
saliência que determinados temas possuem no debate político daquele lugar e
naquele tempo histórico. A menção de Budge (2000, p. 105) a Sartori (1991)
alerta sobre o risco de compararmos ‘bananas com laranjas’, ou seja, que se
especificamos muito um tema como critério corremos o risco de comparar
posições que não distinguem uma da outra ou ainda que distinguem coisas
muito diferentes.
Rapidamente, listamos alguns projetos que utilizam experts como fonte
para sua classificação partidária e que estão ativos hoje: Political Representa-
tion, Parties and Presidents Survey (PREPPS), Chapel Hill Expert Survey
(CHES) e o Global Party Survey são alguns exemplos de pesquisas inter-
nacionais que possuem o objetivo explícito de classificar ideologicamente par-
tidos políticos e instrumentalizam o background acadêmico e informacional de
experts para fazê-lo. Nossa pesquisa, nesse sentido, vai de encontro ao que
outros projetos internacionalmente reconhecidos fazem e tenta estabelecer um
diálogo mais próximo com as diferentes formas de classificação.
Mais especificamente, nós mobilizamos cientistas políticos associados à
Associação Brasileira de Ciência Política, residentes no Brasil e em outros
países. Utilizamos uma escala de onze pontos, de modo que se tenha um ponto
do meio para oferecer a possibilidade de classificação de partidos de centro, e
que não possui valores numéricos explicitados. A linha da escala para o
respondente aparece apenas como um contínuo de proximidade em que o
especialista deve posicionar cada partido político. Ainda que oculta, uma pon-
tuação é anotada cada vez que o partido é alocado em determinado ponto da
reta. Na Figura 1, temos a reta e um exemplo de partido que foi utilizado nas
duas ondas da pesquisa que realizamos em 2018 e 2022.
Como se vê na Figura 1, a escala numérica de 0 a 10 fica oculta para o
respondente, o que segue o primeiro cuidado levantado acima: preservar a
proximidade espacial sem que se apele para a intensidade da direção. Ou seja,
Figura 1 - Exemplo de pergunta no questionário
Nota: Não há qualquer intenção de utilizar um partido específico como promoção do
partido ou propaganda partidária. A imagem reproduz exatamente o que o respondente
encontra ao acessar nosso questionário e o Partido Democrático Trabalhista (PDT) foi
escolhido através de um sorteio aleatório realizado pela sua posição na pesquisa (par-
tido número cinco no bloco de perguntas sobre ideologia) no site de sorteios www.sor
teador.com.br, onde solicitei um número aleatório de 1 a 32 e o sorteado foi o PDT.-
Fonte: LAPeS/UFPR, 2024.
14/25 Revista de Sociologia e Política v. 32
os especialistas são convidados a posicionarem um partido político entre
esquerda e direita a partir das distâncias que imaginam que uns estão dos ou-
tros. Esse ‘cálculo’ relacional só é possível porque a plataforma de aplicação
apresenta blocos com vários partidos em cada página, otimizando a visualiza-
ção para monitor de computador ou telefones celulares, e randomiza a ordem
com que os partidos aparecem para cada respondente. Ainda, como a pesquisa
se resume ao Brasil e sua fauna partidária, não foi necessária nenhuma vignette
que esclarecesse o entendimento e as principais características de esquerda ou
de direita no país. Caso a pesquisa fosse comparada, esse procedimento seria
necessário tendo em vista ganhar validade interna e acurácia comparativa.
Antes de passarmos para os dados referentes à pesquisa realizada nesses
últimos quatro anos, é importante salientar a utilidade prática de contar com a
valorosa colaboração dos colegas cientistas políticos no caso do sistema parti-
dário brasileiro. Até então, temos muitos exemplos de levantamentos nacio-
nais e internacionais que cumpriram a dolorosa tarefa de classificar os partidos
políticos do Brasil conforme sua ideologia. Citamos a maioria deles até aqui ao
longo desse texto. O que há em comum em todas elas, por um motivo ou por
outro, é a dificuldade em contemplar todos os partidos políticos brasileiros
com registro ativo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Mas por que isso é
importante?
Em primeiro lugar, porque saber sobre a totalidade do sistema partidário é
cada vez mais importante no país na medida em que os grandes partidos têm
perdido centralidade e o sistema partidário hoje se encontra caracterizado por
um amálgama de legendas médias (Zucco & Power, 2021). E não só de gran-
des partidos se vive a democracia, os pequenos partidos no Brasil (quase
sempre classificados numa categoria obtusa de ‘pequenos partidos fisiológi-
cos’ ou ‘partidos nanicos’) sempre tiveram um papel decisivo para garantir a
atuação de seus pares maiores. Basta olhar para a história recente das coalizões
de governo no país para verificar como legendas pequenas têm garantido a
formação de maiorias de governo e oposição na Câmara dos Deputados. Tam-
bém nas eleições, os partidos pequenos são decisivos para ampliar as coliga-
ções de cargos majoritários e funcionarem como ‘cabos eleitorais’ garantindo
o bom desempenho dos irmãos maiores (Machado, 2012;Melo & Soares,
2016).
Em segundo lugar, muitos dos partidos contemplados por outras técnicas
apresentam fontes de baixa confiabilidade para mensuração de ideologia ou
programaticidade (Lo et al., 2016;Tarouco et al., 2022) porque muitos dos
partidos políticos no Brasil não ocupam posições representativas, não possuem
mandatos eleitos em nenhum nível da federação, município, estado ou união.
Dessa forma, apenas a pesquisa com experts é capaz de captar a ideologia de
um partido olhando para sinais de outra ordem, como o horário partidário na
televisão, as postagens dos partidos nas redes sociais, as falas de seus líderes,
as alianças com outros partidos, a ligação com movimentos sociais e institui-
ções, a reputação de seus candidatos etc.
Dito isso, a última forma com que a ideologia partidária tem recentemente
sido abordada é através da combinação e ponderação de técnicas de mensura-
ção. Jäckle (2009) utiliza survey com experts e dados dos manifestos partidá-
rios para ponderar a ideologia dos partidos políticos. O procedimento consiste
em mobilizar os dados de survey para determinar quais são os issues que pos-
suem saliência para os partidos políticos em cada país e em seguida mobilizar
esses temas no interior dos manifestos balanceados pela intensidade de saliên-
cia que cada um representa no partido/país. A vantagem é que o método com-
binado tende a possuir maior confiabilidade dos dados, aumentando a
Como medir ideologia partidária? 15/25
especificidade que os partidos políticos possuem em cada país, leva em conta
aspectos contextuais sem que se perca a comparabilidade. Adicionalmente, os
dados que mobilizaram técnica mista, apresentam validade externa tão alta
quanto as singulares. A desvantagem é que o custo de condução se torna muito
mais elevado para um resultado que remonta as outras formas de mensuração.
Vários trabalhos, aliás, se preocuparam com a questão de o quanto as me-
didas de ideologia partidária são válidas, ou seja, se representam a realidade
dos partidos políticos e podem ser comparadas com outros indicadores (Poole
& Rosenthal, 2001;Budge & Pennings, 2007a;Otero Felipe & Zepeda, 2010;
Tarouco & Madeira, 2013;Volkens et al., 2013;Bolognesi et al., 2019;Tar-
ouco et al., 2022). Nesse sentido, as técnicas de análise mobilizadas frequente-
mente apresentam alta validade entre si e delas com indicadores externos
(como persecução de políticas públicas ou gastos do governo). Ainda que to-
das as técnicas possuam falhas, vantagens e desvantagens, nos parece que o
diagnóstico é otimista e que podemos utilizar os dados resultantes delas com
bastante segurança.
III. Duas ondas de expert surveys no Brasil (2018-2022)
Sabendo das limitações da mobilização de especialistas para classificar
partidos políticos ideologicamente, o objetivo de nossa pesquisa é construir
um acumulado de classificações periódicas de todo o conjunto de partidos
políticos do Brasil ao longo dos anos. Os dados são coletados sempre no
começo do segundo semestre de cada ano de eleições nacionais. O ponto tem-
poral de coleta não parece importar muito para a percepção dos respondentes
entre as rodadas da pesquisa, já que sempre tentamos manter fixa o tempo
político da coleta. Por outro lado, a coleta ser realizada em ano eleitoral possui
relevância. Ainda que não seja possível mensurar o efeito de coletar dados em
plena campanha eleitoral a não ser que fizéssemos um experimento comparan-
do anos eleitorais com não eleitorais, penso que isso é vantajoso. Justamente
porque é uma época que ocorre de quatro em quatro anos e em que os partidos
políticos estão em evidência, mostrando suas plataformas, suas propostas e
seus candidatos. Ou seja, é um momento em que a ideologia está em evidência
nas agremiações. Por outro lado, a exposição de candidatos individuais, espe-
cialmente de partidos que lançam candidatos à presidência, pode levar á falá-
cia ecológica, ou seja, se tomar o candidato pelo partido.
Mas antes de irmos aos dados substantivos do questionário aplicado, fale-
mos um pouco sobre o instrumento em si. O questionário conta com perguntas
comparadas aplicadas através de uma lista de cadastro prévia. Nele, perguntas
filtro são aplicadas para que possamos excluir aqueles colegas que ainda não
concluíram nenhum grau de ensino superior. A lista de cadastro é sempre um
importante ponto de debate para especialistas em survey (Fink, 2003;Heer-
wegh et al., 2007;Johnston, 2009;Harkness et al., 2010).
O que a Tabela 1 aponta é um resumo dos metadados selecionados que
avalia a consistência das aplicações do survey ao longo das duas rodadas. Na
primeira aplicação, em 2018, enviamos o questionário para 963 colegas que
faziam parte da Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP)
11
, quase
60% deles aceitaram o convite e marcaram respostas. Já em 2022 enviamos
1.170 convites e perto de 50% (572) dos colegas manifestaram interesse em
participar da pesquisa. Mesmo com uma queda na taxa de retorno a taxa de
completude ficou na casa dos 70%, ou seja, em média, os cientistas políticos
respondem sete de cada dez perguntas feitas. O tempo médio também não se
11
Aproveito para agradecer
mais uma vez à ABCP e os
colegas da Ciência Política por
estarem sempre dispostos em
colaborar com a pesquisa. Sem
o cadastro da associação e a
boa vontade dos colegas seria
16/25 Revista de Sociologia e Política v. 32
alterou substantivamente. Ainda que a quantidade de partidos tenha se redu-
zido no intervalo de quatro anos, algumas perguntas foram acrescentadas,
como a posição política dos respondentes.
O perfil do respondente, apresentado na Tabela 2, também não se alterou
substantivamente quanto a sua expertise. A maioria dos respondentes são dou-
tores, o que reflete o universo de docentes e pesquisadores da área que fazem
parte da Associação. Notou-se um aumento de mestres na casa de cinco pontos
percentuais e uma queda de bacharéis na casa de três. Não acredito que isso se
deva a algum motivo específico, mas é bom que isso seja observado ao longo
dos anos. O que chama atenção é a composição majoritária de doutores, fato
que, para esse tipo de levantamento, parece bastante positivo. Contudo, temos
uma perspectiva bastante academicista do resultado, contando provavelmente
com baixa participação de cientistas políticos que atuam no mercado político e
que seriam de grande valia também para trazer outra perspectiva para o enten-
dimento da ideologia partidária. Esse viés não é necessariamente um problema
para a análise, mas uma ponderação de que o resultado obtido precisa ser
interpretado também de acordo com o perfil do respondente médio.
Segundo eles, a distribuição espacial dos partidos ficaria como exposta no
Gráfico 1.
Como se pode ver, a distribuição é pouco homogênea, com colorações e
concentrações que demandam análise pormenorizada. O gráfico apresenta no
eixo vertical a ideologia média de cada partido e no eixo X a moda em que
cada partido concentrou respostas ao classificá-los como vote, policy ou office-
seeking. Ou seja, ainda que um mesmo partido possa apresentar mais de um
comportamento, o que apresento aqui é como as respostas classificaram
majoritariamente cada legenda. O que revela um primeiro problema metodo-
lógico. Uma alternativa para a elaboração dessa pergunta seria perguntar o
quanto cada partido possui de cada uma de tais características, se mais pro-
gramático ou mais fisiológico. Isso daria uma versão mais matizada de cada
partido, por outro lado, corre-se o risco de indiferenciarmos todas as legendas
e não conseguirmos concluir nenhuma análise sobre elas. Para o cálculo de
fisiologismo, apenas subtraímos o total de respostas policy-seeking do soma-
tório de respostas office evote-seeking. Entendemos que isso não quer dizer
ausência de qualquer ideologia, afinal os partidos podem ser ambientalistas,
confessionais, trabalhistas e ainda assim transitarem na escala esquerda-direita
ou, ainda, o fisiologismo em si pode ser entendido como uma ideologia parti-
Tabela 1 - Metadados das ondas de aplicação
2018 2022
tx. retorno 59,3% 48,8%
tx. completude 74% 70%
t. médio (min) 17 18
N partidos 35 32
Fonte: LAPeS/UFPR, 2024.
impossível conduzir essa
tarefa. Espero que possamos,
ao longo dos próximos anos,
continuar atualizando a
ideologia dos partidos
políticos brasileiros e trazendo
um resultado útil para a
comunidade.
Tabela 2 - Expertise dos entrevistados (%)
2018 2022
Doutor 48,4 47,5
Mestre 32,8 37,5
Bacharel 18,8 15
Fonte: LAPeS/UFPR, 2024.
Como medir ideologia partidária? 17/25
dária (Ferreira, 2024). O que está aqui entendido é o fisiologismo como ausên-
cia de programaticidade dentre as possíveis posições que se atribuem normal-
mente à ideologia de esquerda (intervenção na economia pelo Estado e
liberalismo moral) ou de direita (economia livre e conservadorismo moral).
Mas o que mais chama atenção no gráfico são três elementos. O primeiro
deles é a ausência de partidos políticos de centro, que estariam simbolizados
pela cor amarela no gráfico entre as posições 4,5 e 5,5 da reta ideológica. Isso
se deve, principalmente, aos movimentos de ancoragem que partidos antes
centristas fizeram ao se aproximar de pares à esquerda ou à direita quando
estabeleceram federações partidárias para disputa eleitoral e atuação legisla-
tiva. Cidadania, Partido Verde e Rede, partidos tidos como de centro até então
(Bolognesi et al., 2023), passaram a compor o campo da direita no caso do
Cidadania, ao se federar com o Partido da Social Democracia Brasileira, e à
esquerda, no caso de Partido Verde e Rede, ao se federarem com Partido dos
Trabalhadores e Partido Socialismo e Liberdade, respectivamente. O segundo
é que a classificação ideológica revela que, na maioria das vezes, a comunida-
de entende como partidos programáticos apenas aqueles alinhados à esquerda.
Ainda que algumas exceções (duas, para ser preciso) de centro-esquerda, re-
presentados pelo laranja, estejam como levemente fisiológicos, é na esquerda e
extrema esquerda que se concentra a programaticidade partidária brasileira. A
exceção é o partido Novo, o único partido de extrema direita que fica na parte
negativa do fisiologismo. Por fim, observamos também uma maior dificuldade
de diferenciar os partidos de centro-direita em diante, com muitas superpo-
sições. Isso mostra que a quantidade de legendas no Brasil cria problemas para
sua representação até mesmo para cientistas políticos apontarem onde eles
estão.
Ainda que tenhamos um resultado parcial e que demanda novas ondas da
pesquisa para ganharmos comparabilidade, é interessante notar que poucas
metodologias para além do survey conseguem num só instrumento de pesquisa
Gráfico 1 - Fisiologismo partidário e ideologia, 2022
Fonte: LAPeS/UFPR, 2024.
18/25 Revista de Sociologia e Política v. 32
realizar cruzamento de componentes diversos sobre o mesmo objeto. Nesse
sentido, apresentamos um outro resultado negativo da pesquisa. Quando per-
demos comparação justamente por conta da técnica utilizada.
Um outro problema em realizar diferentes ondas de aplicação de ques-
tionário é o controle do próprio instrumento. Ao mesmo tempo em que a com-
parabilidade é a questão mais importante para que o resultado tenha substância
em longo prazo, não podemos deixar de adaptar as perguntas aos novos con-
textos e corrigir erros cometidos em ondas anteriores. Um exemplo desse tipo
de adaptação pode ser visto na Tabela 3. A primeira rodada do questionário
pedia que o respondente marcasse qual natureza de partido ele julga que
deveria ser proibido no Brasil e oferecia três opções de respostas únicas. A
segunda rodada da pesquisa adiciona a categoria partidos nacionalistas entre as
opções e permite respostas múltiplas. O resultado está na Tabela 3.
A primeira coisa que se observa é que a pergunta em si apresenta pro-
blemas em sua formulação. Por exemplo, ainda que partidos racistas ou nacio-
nalistas possam existir separadamente, é consenso na literatura que o nazismo
como ideologia se fundamenta justamente na combinação entre racismo e
nacionalismo. Ou seja, de saída as respostas não são mutuamente excludentes,
o que deixa o respondente confuso e indeciso, algo altamente não recomendá-
vel. Além disso, a pesquisa sofreu muitas críticas em sua primeira rodada por
vários peers. Tentando dar conta das críticas, adicionamos a opção de partidos
nacionalistas na onda de 2022, especialmente devido à ascensão da extrema-
direita ao governo federal. Permitimos ainda que os respondentes escolhessem
mais uma opção de resposta. O resultado é que toda comparabilidade foi por
água abaixo. Será preciso rever o formato da pergunta e manter o foco na
comparação se quisermos extrair mais do que curiosidade para as próximas
rodadas da pesquisa.
Em resumo, a ideia aqui era apresentar não os principais resultados da pes-
quisa, mas os bastidores de problemas e de vantagens que esse tipo de técnica
pode trazer quando precisamos classificar partidos político ideologicamente.
Os exemplos escolhidos são apenas ilustrativos dos principais problemas que
podem ocorrer com a técnica de experts, mas não esgotam os problemas da
pesquisa com survey. Para um inventário sobre eles, o interessado pode con-
sultar o manual mais didático já escrito sobre, de Fink (2003).
IV. Considerações finais
O objetivo desse artigo era fazer um inventário não exaustivo das princi-
pais formas de mensuração de ideologia de partidos políticos e apresentar suas
vantagens e desvantagens. Acredito que esse objetivo foi cumprido quando
conseguimos distinguir as diferentes técnicas de análise e apresentar os pro-
blemas e limitações que elas oferecem sem prejudicar sua aplicação e as con-
clusões que produzem.
Tabela 3 - Partidos políticos que deveriam ser proibidos no Brasil
Nazistas (%) Racistas (%) Comunistas (%) Nacionalistas (%)
2018 33,9 24,1 0,4 -
2022 60,8 60,6 2,8 10
Fonte: LAPeS/UFPR, 2024.
Como medir ideologia partidária? 19/25
Isso parece ficar claro na medida em que conseguimos apontar exemplos
de nossa pesquisa que são consistentes em termos de validade interna. Apre-
sentamos problemas que ocorreram, mas isso em nada desabonou a função de
classificar os partidos políticos brasileiros em sua totalidade.
Por outro lado, estamos lidando com um nível de abstração teórica bastante
elevado. A questão da multidimensionalidade do conceito de ideologia e seus
matizes continua sendo um problema pouquíssimo debatido na Ciência Polí-
tica nacional e internacional. Acredito que esse possa ser o próximo passo se
quisermos avançar na compreensão de sistemas partidários de forma compar-
ada e evitar problemas como os apresentados na relação entre fisiologismo e
ideologia, por exemplo.
Ainda que esse não seja um problema para a realização da investigação, me
parece que é algo incontornável se desejamos que as pesquisas de Ciência
Política não se descolem da realidade e possam oferecer respostas substantivas
para os problemas enfrentados na realpolitik. Portanto, ainda que esse seja um
texto mais informativo do que conclusivo, a preocupação em aumentar a vali-
dade externa não pode estar fora do horizonte científico.
Bruno Bolognesi (bolognesi@ufpr.br) é Cientista Político e professor do Departamento de Ciência Política da Universidade
Federal do Paraná.
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How to measure party ideology?
Keywords: political parties, Brazilian political parties, party ideology, left-right spectrum, expert survey.
ABSTRACT Introduction: Political scientists have usually assessed ideological positions along the left-right spectrum only for parties
that win elections and, as a result, control governments and implement their agendas. However, party profiles, strategies, and pro-
grammatic behaviors are far more diverse and extend beyond this framework. This article aims to offer tools for measuring the ideol-
ogy of any political party, regardless of its presence in electoral or representative arenas. Materials and methods: I outline the various
techniques and approaches used in Political Science to position political parties ideologically, such as content analysis of party
manifestos, the stances of elected officials, parliamentary behavior, and public opinion. I then analyze an original dataset from two
waves of an expert survey conducted with Brazilian political scientists and Brazilianists, which classified Brazilian political parties in
2018 and 2022. Results: The research findings reveal that: (i) the ideological center of the party system has faded; (ii) (ii) the average
distance between political parties has decreased, even as polarization within the system increased during this period; and (iii) chan-
ges in electoral rules have impacted the ideological classification of Brazilian political parties. Discussion: Lastly, I suggest that this
research agenda could benefit from greater comparability and depth by using research techniques better suited to the subject. Only
by examining the entire Brazilian party system can we fully understand the behavior of major parties and how they position them-
selves relative to one another. The continued use of expert surveys proves to be a powerful tool for tracking ideological shifts within
the party system and demonstrating how institutional changes can reflect changes in a party's ideology
This is an Open Access article distributed under the terms of the Creative Commons Attribution License, which permits unrestricted use,
distribution, and reproduction in any medium, provided the original work is properly cited.
Anexo metodológico
Softwares para a condução do questionário
Survey Monkey: www.surveymonkey.com
Lime Suvey: www.limesurvey.org
24/25 Revista de Sociologia e Política v. 32
PotLoc: www.potloc.com
Qualtrics www.qualtrics.com
Softwares para análise ideológica textual
Iramuteq: http://www.iramuteq.org/
Lexalytics: https://www.lexalytics.com/
Wordfish: http://www.wordfish.org/software.html
Pesquisas, fontes e bancos de dados
Brazilian Legislative Survey: https://dataverse.harvard.edu/dataverse/bls
Comparative Manifesto Project (CMP): https://manifestoproject.wzb.eu/
Operacionalização da escala RILE (right-left) do CMP: https://manifestoproject.wzb.eu/down/papers/budge_right-left-scale.
pdf
Manifestos partidários brasileiros:
https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/508139/001003807.pdf?sequence=1
Ideology in the Political Marketplace / Database on Ideology, Money and Politics (DIME): https://data.stanford.edu/dime
Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia ‘Representação e Legitimidade Democrática’ (INCT/ReDem): https://redem.tec.
br/
CESOP/ Estudo Eleitoral Brasileiro (ESEB): https://www.cesop.unicamp.br/por/eseb
Barómetro das Américas / Latin American Public Opinion Poll: https://www.vanderbilt.edu/lapop/
The British Election Study (BES): https://www.britishelectionstudy.com/
American National Election Studies (ANES): https://electionstudies.org/
Latin American Elites Project (PELA): https://oir.org.es/pela/en/
Political Representation, Parties and Presidents Survey (PREPPS): https://www.giga-hamburg.de/en/research-and-transfer/
projects/political-representation-parties-and-presidents-survey
Chapel Hill Expert Survey (CHES): https://www.chesdata.eu/
Global Party Survey: https://www.globalpartysurvey.org/
Como medir ideologia partidária? 25/25