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Reciis – Revista Eletrônica de Comunicação, Informação & Inovação em Saúde, Rio de Janeiro, v. 18, n. 3, p. 716-735, jul.-set, 2024
[www.reciis.icict.ocruz.br] e-ISSN 1981-6278
ARTIGOS DE REVISÃO
https://doi.org/10.29397/reciis.v18i3.3796
As múltiplas faces da infodemia
The multiple faces of the Infodemic
Las múltiples caras de la infodemia
Luís Gonçalves1,a
luishng72@gmail.com | https://orcid.org/0000-0003-4226-4189
Leonardo Castro2,b
leoccastro@gmail.com | https://orcid.org/0000-0002-9376-5103
Raquel Rachid1,c
raquel.rachid@hotmail.com | https://orcid.org/0000-0001-8593-3085
Marcelo Fornazin2,d
fornazin@gmail.com | https://orcid.org/0000-0002-0379-5801
1 Fundação Oswaldo Cruz. Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
2 Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
a Doutorado em Psicologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.
b Doutorado em Antropologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e Museu Nacional.
c Mestrado em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.
d Doutorado em Administração pela Fundação Getulio Vargas.
RESUMO
Neste artigo, revisamos partes da literatura acadêmica sobre a infodemia, buscando preencher uma lacuna
de estudos que descrevam sua existência político-econômica, cientíca, sociotécnica e psicossocial em
geral, ao mesmo tempo que veriquem como essa imbricação se encontra com a realidade brasileira. Nesse
enquadramento, a infodemia emergiu como uma superabundância de informações controversas sobre saúde,
capaz de comprometer cuidados individuais e coletivos, integrando conitos socioeconômicos e culturais
relacionados ao capitalismo neoliberal e periférico. Por isso, encontramos distintas e até antagônicas formas
de caracterizá-la e enfrentá-la. Algumas delas contrastam com os princípios do SUS e da Reforma Sanitária,
especialmente com relação à participação política dos sujeitos atingidos por esse excesso de informações
como uma forma de enfrentar o fenômeno e os conitos de que ela faz parte. Concluímos que, por ser uma
questão multideterminada, a infodemia deve continuar sendo pesquisada interdisciplinarmente, de modo
a contribuir com tal participação política.
Palavras-chave: Infodemia; Desinformação; Neoliberalismo; Subjetividade; Saúde digital.
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ABSTRACT
We review parts of the academic literature on infodemics, seeking to ll a gap in studies that describe its
political-economic, scientic, sociotechnical, and psychosocial existence in general, while also 7examining
how this intertwining relates to the Brazilian reality. Within this framework, the infodemic has emerged as
a problematic superabundance of health information that can compromise both individual and collective
care, and which integrates socio-economic and cultural conicts related to neoliberal and peripheral
capitalism. Therefore, we nd distinct and even antagonistic ways of characterizing and addressing the
infodemic. Some of these contrast with the principles of SUS and health reform, especially regarding the
political participation of those aected by the infodemic as a way of addressing the phenomenon and the
conicts of which it is a part. We conclude that, as a multidetermined phenomenon, the infodemic should
continue to be researched interdisciplinarily in order to contribute to such political participation.
Palavras-chave: Infodemic; Misinformation; Neoliberalismo; Subjectivity; Digital health.
RESUMEN
Revisamos partes de la literatura sobre infodemia buscando llenar un vacío en los estudios que describen su
existencia político-económica, cientíca, sociotécnica y psicosocial, al mismo tiempo que examinamos cómo
esta interconexión se relaciona con la realidad brasileña. La infodemia ha surgido como una superabundancia
problemática de información sobre salud, capaz de comprometer tanto el cuidado individual como el colectivo
y que integra conictos socioeconómicos y culturales relacionados del capitalismo neoliberal y periférico.
Por lo tanto, encontramos diferentes e incluso antagónicas formas de caracterizar y abordar la infodemia.
Algunas contrastan con los principios del SUS y la reforma sanitaria, especialmente en lo que se reere a la
participación política de las personas afectadas por la infodemia como una forma de abordar el fenómeno y
los conictos de los que forma parte. Concluimos que, como un fenómeno multideterminado, la infodemia
debe seguir siendo investigada interdisciplinariamente para contribuir a dicha participación política.
Palavras-chave: Infodemia; Desinformación; Neoliberalismo; Subjetividade; Salud digital.
INFORMAÇÕES DO ARTIGO
Contribuição dos autores:
Concepção ou desenho do estudo: Luís Henrique Gonçalves, Leonardo Castro, Marcelo Fornazin.
Aquisição dos dados: Luís Gonçalves.
Análise de dados: Luís Gonçalves.
Intepretação dos dados: Luís Gonçalves, Leonardo Castro, Marcelo Fornazin, Raquel Rachid.
Todos os autores são responsáveis pela redação e revisão crítica do conteúdo intelectual do texto, pela versão final publicada
e por todos os aspectos legais e científicos relacionados à exatidão e à integridade do estudo.
Declaração de conflito de interesses: não há.
Fontes de financiamento: Este trabalho foi financiado pela Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030.
Considerações éticas: não há.
Agradecimentos/Contribuições adicionais: não há.
Histórico do artigo: submetido: 30 maio 2024 | aceito: 13 jun 2024 | publicado: 27 set. 2024.
Apresentação anterior: não há.
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GONÇALVES, Luís et al. 718
INTRODUÇÃO
Nesta revisão integrativa da literatura cientíca, de natureza exploratória e qualitativa, a chamada
infodemia surge como um fenômeno com diferentes caracterizações, devido – principalmente – a suas
múltiplas determinações e consequências. Algumas dessas caracterizações partem de abordagens e áreas
cientícas distintas ou conitantes entre si, o que pode dicultar o entendimento da infodemia em sua relação
com fenômenos como a desinformação em geral (Wang et al., 2019), a economia da atenção (Wu, 2017), o
neoliberalismo (Harvey, 2005), a chamada crise do sistema de peritos (Cesarino, 2021), entre outros.
Por exemplo, embora o termo tenha se popularizado, durante a pandemia de covid-19, a partir das declarações
do presidente da OMS, Tedros Adhanom, que o associou a epidemias em particular (Tangcharoensathien et
al., 2020) ou a questões de saúde em geral (Singh et al., 2022), outros autores (Eysenbach, 2020; Zarocostas,
2020) caracterizam a infodemia como a superabundância de informações controversas relativas a qualquer
assunto em especíco. Já para Krause, Freiling e Scheufele (2022), podemos estar criando uma “infodemia
sobre a infodemia” ao desconsiderarmos que ela seria um fenômeno constante e prévio ao coronavírus, da
mesma forma que falar de uma era de pós-verdade parece supor que teria havido, em algum momento, uma
era da verdade (Bezerra; Capurro; Schneider, 2017; Habgood-Coote, 2018).
Desse modo, analisaremos separadamente esse excesso de informações – precisas ou não (Wardle,
2017) – em saúde, para que possamos vericar sua relação com fenômenos a ela conexos. Nesses termos,
deniremos infodemia como uma superabundância de informações mais ou menos precisas, imprecisas
ou deliberadamente falsas sobre saúde, doenças e seus tratamentos, que circulam em diferentes meios de
comunicação, em especial na internet – participando, assim, da economia da atenção – e que, ao criarem
incertezas e conitos, podem comprometer os cuidados individuais e coletivos em saúde. Note-se que,
nessa denição, o caráter superabundante, conituoso e incerto da infodemia a conecta ao fenômeno
da desinformação, enquanto conteúdo deliberadamente manipulado, mas não é seu sinônimo. Para
avançarmos nessa compreensão, discutiremos e integraremos diferentes abordagens, tendo como eixos
certos fatores objetivos e subjetivos que causam e mediam a infodemia, bem como algumas das diversas
proposições de mitigação do problema.
Na primeira seção, discutiremos certas transformações tecnoprodutivas, acumulativas e institucionais
ocorridas nos últimos cinquenta anos que transformaram o comércio, a sociabilidade e a comunicação,
criando novas necessidades e problemas que podem contribuir com o surgimento e a prevalência da
infodemia (Lelo; Fígaro, 2021). Essas transformações também têm se desdobrado e correspondido a
mudanças e impasses epistêmicos igualmente complexos, tornando mais desaantes as possibilidades de
compreender e enfrentar tais questões (Van Zoonen, 2012).
Na segunda seção, destacaremos, da questão anterior, a chamada economia da atenção. Parte das
disputas entre diferentes interesses político-econômicos e culturais moldam e são moldadas, bem como
travadas no interior de plataformas, redes sociais e aplicações de mensageria (Cesarino, 2022; Morozov,
2018). Estas, por sua vez, são organizadas para engajar usuários na produção de conteúdos que provoquem
e retenham sua atenção, com o objetivo de valorizar esses espaços como mídia publicitária e para a produção
de dados digitais (Gonçalves; Furtado, 2021). Nossa pesquisa sugere que a infodemia e fenômenos correlatos
têm sido determinantes para o alcance desses objetivos, inclusive na medida em que tais mercadorias-serviço,
em geral, persistem sem que seus mecanismos sejam sucientemente conhecidos e regulados (Valente, 2019).
Segundo nossa revisão, para que isso ocorra, as interfaces, recomendações e experiências dessas
mercadorias-serviço são ajustadas algoritmicamente, explorando características sociais, comportamentais,
emocionais e neuropsicológicas de seus usuários, muitas vezes sem que eles tenham sequer consciência,
tampouco alternativa a essas modulações (Ward, 2022; Ward et al., 2017). Assim, na terceira seção,
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Artigo de revisão |As múltiplas faces da infodemia 719
revisaremos pesquisas neurocognitivas e psicológicas que sugerem (também de forma não consensual)
como essas características e comportamentos podem ser manifestados.
Na quarta seção, traremos essa discussão para a realidade brasileira. Revisaremos, resumidamente,
dados sobre a realidade do acesso à internet no país, com ênfase nas redes sociais e aplicativos de mensagens,
bem como em suas implicações na sociabilidade, política e religiosidade do Brasil.
Já no quinto e último tópico, faremos um sintético panorama de algumas proposições de enfrentamento
da infodemia e de seus limites.
Por m, na conclusão, reiteraremos a complexidade do enfrentamento a esse fenômeno, apontando,
entretanto, para a participação social organizada como seu principal meio, bem como para a necessidade
de mais pesquisas interdisciplinares sobre o tema.
DETERMINANTES POLÍTICO-ECONÔMICOS, TECNOCIENTÍFICOS E EPISTÊMICOS
Desde os anos 1970, a economia global tem passado por certas transformações e crises de caráter
estrutural (Mészáros, 2020) que modelam e são modeladas pela revolução tecnológica informacional
surgida nesse mesmo período (Perez, 2010). Tais situações aumentaram a concentração de riqueza e poder
(Amin, 2004), bem como a circulação de mercadorias, pessoas e doenças (Harvey, 2005); precarizaram
as condições de trabalho e vida (Antunes, 2018); reduziram o estado de bem-estar (Collington, 2022) e
incrementaram a mercantilização das relações sociais (Duménil; Lévy, 2004), particularmente no que se
refere a cuidados de saúde (Campos; Albuquerque, 1998).
Isso contribuiu com o aumento da distância entre, de um lado, a complexidade dos produtos, das
infraestruturas e outras mediações sociais e, de outro, a capacidade dos indivíduos e sociedades de compreendê-
las e nelas intervir (Dardot; Laval, 2017; Pinto, 2005). Por exemplo, os cuidados de saúde foram constantemente
se transformando pelas mãos de cientistas, políticos, empresas e consultores (Porter; Teisberg, 2006), enquanto
os cidadãos foram sendo, cada vez mais, postos na posição de seus observadores, validadores eleitorais e
consumidores (Streeck, 2019). Ao mesmo tempo, algumas democracias liberais testemunharam um crescente
desinteresse desses novos cidadãos pela política e por assuntos comunitários convencionais (Keyes, 2004).
Entretanto, a chegada das mercadorias e infraestruturas digitais convidava seus cidadãos-consumidores a
uma sensação de desmediação da vida cotidiana através da internet e suas aplicações (Lupton, 2013; Pentland,
2012). Com elas, seria possível contornar burocracias estatais, gatekeepers da imprensa e das ciências, além de
evitar a interpessoalidade com pessoas com características, crenças, origens etc. indesejáveis (Morozov, 2018).
Daí em diante, as novas tecnologias geraram diversos tipos de contribuições, desde o desencadeamento de
revoltas populares (Korybko, 2018) até a formação de grupos de interesse político-culturais em que, de certa
forma, o cidadão comum pode perceber-se mais ouvido e participativo (Valenzuela et al., 2019).
Também nesse período, efeitos da chamada virada linguística e de eventos conexos (Eagleton, 2012) teriam
encontrado, na conuência entre todas essas transformações, certa materialidade social, a partir da qual o
processo de signicação poderia ocorrer de forma mais autônoma em relação aos objetos e ao próprio sistema
de peritos vigente (Amon; Idiart, 2017; Sousa; Rosa, 2021). Por exemplo, a incompreensão, a impotência e o
medo que se disseminam no contexto dessas e outras transformações (Najar; Castro, 2021) podem anar-se
com as ilusões de conhecimento e controle oferecidas por teorias da conspiração (Van Zoonen, 2012), que se
potencializam mutuamente em ambientes virtuais sem regulação pública (Empoli, 2019).
Como parte desse contexto, a chamada “estratégia do tabaco” (Oreskes; Conway, 2011, p. 15) inaugurou
o uso sistemático de advogados, prossionais de relações públicas e publicitários, que trazem suas práticas
retóricas para dentro das disputas cientícas, com o objetivo de manter a controvérsia sobre um tema
especíco buscando evitar processos jurídicos e regulações (Proctor; Schiebinger, 2008). Para Oreskes
w Conway (op. cit), por meio da exploração de um alegado princípio de equidade entre opiniões e das
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características hipotéticas da ciência e probabilísticas da epidemiologia, essa estratégia contribuiu com a
hesitação frente à prática cientíca e médica.
Junto a isso, “o crescimento simultâneo da terapia (encontrar-se), do espiritualismo (aperfeiçoar-se)
e da mídia pessoal (expressar-se)” participa da armação dos indivíduos como “fontes alternativas de
conhecimento e compreensão”, perfazendo a chamada eu-pistemologia (Van Zoonen, 2012, p. 5, tradução
nossa). O fato pode descolar-se dos aspectos históricos, temporais e contingentes do feito, e o que confere
valor à opinião não é sua precisão, mas sim o poder sociotécnico daqueles então autopercebidos como sem
voz, para se fazerem reconhecidos como sujeitos (Guerra; Barbosa, 2017).
Sem podermos nos aprofundar aqui, é importante problematizar que a verdade e seu sujeito nunca
existiram como algo a priori (Gramsci, 1982) e necessariamente racional (Lane; Codo, 1988). Por outro lado,
é suciente armar que (1) a verdade, se entendida como algum nível de correspondência entre a realidade
e o entendimento, “não pode ser confundida com a mentira pura e simples, deliberadamente disseminada”
(Bezerra; Capurro; Schneider, 2017, p. 379); (2) em muitos casos, ela é uma expressão de relações de
conança, proximidade e valores compartilhados (Bonsanto, 2021); e (3) a verdade e seus regimes (Foucault,
1996) podem atuar como mediações de seus enunciantes em suas tentativas “de induzir outra pessoa (ou
grupo de pessoas) a realizar, por sua parte, pores teleológicos concretos” (Lukács, 2013, p. 62).
Nossa revisão sugere que a conuência dos fenômenos aqui tratados permite e possibilita que mais atores
(antigos ou novos, especialistas ou não) disputem tais mediações e seus poderes sociais (Cesarino, 2022).
Por um lado, se a grande metafunção da ciência tem sido “produzir ordem por meio da conança social em
um sistema de peritos” (Cesarino, 2021, p. 77), a infodemia pode contribuir com o acirramento de disputas
dentro da ordem social vigente. Para Cesarino (2020), no caso das crises e disputas já introduzidas, para
tornar verdade sua superioridade, o mercado liberaria “formas epistêmicas ‘não modernas’ baseadas
em temporalidades messiânicas e causalidades ocultas”, que seriam, “por assim dizer, a ‘superestrutura’
adequada ao capitalismo neoliberal contemporâneo”.
Por outro lado, a crença nos sistemas peritos decorre de inferências sobre seu funcionamento e
efetividade, o que pode depender do abafamento da “hermenêutica crítica” (Miguel, 2022), por meio
de eventuais argumentos extracientícos (Canguilhem, 1981; Santos Filho, 2016). Em nossa revisão, os
sistemas peritos surgem também como instâncias com elevado grau de autonomia frente a sua audiência
(Miguel, 1999), o que parece contrastar com a disseminação relativamente descentralizada de conteúdos
via tecnologias digitais (Van Zoonen, 2012).
ECONOMIA DA ATENÇÃO E DA INFODEMIA
Dentre as materialidades sociais que contribuem com a infodemia, destacou-se, em nossa revisão,
o amadurecimento tecnológico da chamada economia da atenção. Trata-se do mercado centrado
em infraestruturas midiáticas e suas mercadorias-serviço (operadoras de internet, TV, jornais, sites,
plataformas etc.), que cria e comercializa audiência publicitária por meio da captura da atenção de seus
consumidores, muitas vezes a partir do próprio conteúdo produzido por eles (Wu, 2017). No caso das
mídias digitais, em geral suas ofertas são projetadas de forma que, no processo de seu consumo, o usuário
coproduza dados que tendam a se tornar propriedade intelectual de seus ofertantes, seja como insumo
dessas e outras mercadorias-serviço, seja para a microssegmentação publicitária e/ou como mercadoria/
serviço para terceiros (Dantas, 2019).
A economia da atenção compreende um mercado em que cerca de 97% dos aplicativos digitais se
apresentam como gratuitos (Distribution […], 2022); com potencialmente 5,4 bilhões de usuários de
dispositivos conectáveis à internet (Number […], 2023) em média seis horas por dia (Kemp, 2023); cujas
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empresas de corretagem de dados (data brokers) faturaram cerca de US$ 252,12 bilhões (Data […], 2023)
em 2023; e as sete maiores big techs do mundo valiam juntas US$ 10,6 trilhões1 no mesmo ano.
Já os usuários buscam na economia da atenção, principalmente, satisfazer necessidades psicológicas
(Sailer et al., 2017) e socioprodutivas (Sevignani, 2019), além do consumo de informação e entretenimento
(Sundar; Limperos, 2013), entre outros desejos. Segundo Comor (2011), muitas vezes isso envolve a própria
participação do usuário na produção e circulação das ofertas correspondentes – o chamado prosumption2 –,
o que inclui conteúdos sobre saúde (Silva; Pires; Paiva, 2022). Há, ainda, os inuenciadores, que produzem
conteúdo e constroem vínculos com suas audiências, visando obter uma fração da verba publicitária das
plataformas (Bentes, 2022). Tudo isso faz surgir novas modalidades de “conteúdos culturais, sociais,
políticos, mediante estratégias concorrentes de credibilidade em relação ao jornalismo, através do uso de
fontes alternativas” e subjetividade na narrativa (Brotas, 2021, p. 77).
Nossa revisão apontou dois dos importantes meios de realização da economia da atenção e de suas
contradições que têm implicações na infodemia. O primeiro é a automação massiva e instantânea de
classicação e recomendação algorítmica de conteúdos, baseada principalmente na perlização dos
clientes das empresas de mídias digitais (Ward, 2022). Tal automação, ainda que também corresponda a
certas necessidades de organização e acesso desses conteúdos por parte dos usuários, é ofertada por seus
desenvolvedores3 na medida e na forma de sua luta concorrencial e regulatória por audiência, produção e
consumo (Gonçalves, 2023). Com isso, em certos casos, ela pode tanto recomendar conteúdos que promovam
a vacinação contra a covid-19 quanto aqueles que a associem à contaminação por HIV (Justiça […], 2023).
Em segundo lugar, e destacadamente em países como o Brasil, há o chamado zero-rating, modalidade
em que provedores de conteúdo subsidiam, junto às operadoras de internet, o consumo de dados de seus
usuários, de modo que o uso de aplicativos como WhatsApp passa a ser “gratuito”. Como a gratuidade é
apenas para os conteúdos dessas empresas, se o usuário do WhatsApp clicar em um link de uma postagem
que o levará a outro serviço sem zero-rating, esse acesso deixará de ser subsidiado (CGI.br, 2020). Em 2023,
cerca de 106 milhões de contas de telefonia móvel eram pré-pagas no Brasil (Teleco, 2023), geralmente
incluindo zero-rating (Anatel, 2021). Nesses termos, enquanto, potencialmente, a infodemia é “gratuita”
para uma vasta quantidade de usuários, a capacidade de vericação desses conteúdos pode ser paga.
A sobreposição entre todos os fatores descritos desdobra-se em novas consequências problemáticas,
como no caso das chamadas câmaras de eco e bolhas de ltro. Segundo Jamieson e Cappella (2008, p. 76),
as primeiras se referem ao espaço de mídia delimitado e fechado – em geral voluntariamente – “que tem o
potencial de ampliar as mensagens entregues dentro dele e isolá-las da refutação”. Já para Ross Arguedas et
al. (2022), uma bolha de ltro é uma câmara de eco produzida, principalmente, pela perlização algorítmica
já discutida. Muitos processos infodêmicos surgem da articulação feita pela economia da atenção entre
essas esferas – envolvendo inuenciadores da grande mídia e do establishment político –, de modo que,
longe de serem “anomalias pontuais, esses ecossistemas parecem estar conformando padrões sistêmicos
persistentes no atual ambiente de mídia” (Nascimento et al., 2022).
Com isso, fenômenos como a infodemia podem atuar como a “face mais visível da circulação irrestrita
em busca de dados” e comércio, ou ainda, “apenas uma forma mais barata de atrair tráfego da web (e,
consequentemente, de fabricar dados) do que informações jornalísticas” (Lelo; Fígaro, 2021, p. 28). Por
1 Soma do faturamento global das empresas Apple, Alphabet, Meta, Amazon, Jingdong e Alibaba (Fortune [...], 2024).
2 Prosumption é a contração das palavras em inglês production e consumption. Em geral, refere-se à atividade em que o
consumidor coproduz o próprio valor de uso que consome (ou que outros irão consumir). Para diferentes visões do tema: Vargo e
Lusch (2004); Zwick, Bonsu e Darmody (2008); Gonçalves e Furtado (2021).
3 Principalmente matemáticos, psicólogos, engenheiros de programação, designers, analistas de marketing, economistas,
administradores, advogados, comerciantes e investidores que, efetivamente, desenvolvem as mercadorias-serviço em seus vários e
combinados aspectos (Gonçalves, 2023).
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exemplo, no caso brasileiro, de acordo com a Silverman (2022), somente o Google seria responsável pela
monetização de 80% dos sites brasileiros que propagam desinformação. Ainda, segundo Hentschke-
Lopes (2022), o estímulo ao inecaz tratamento precoce contribuiu com um aumento de vendas da
hidroxicloroquina em 6.856.481,39% e da ivermectina em 12.291.129,32%.
IMPLICAÇÕES PSICOSSOCIAIS E NEUROCOGNITIVAS
Na medida em que a realidade humano-social é uma unidade em “uxo incessante, não linear e não
sequencial, mas biunívoco, entre objetividade e subjetividade” (Gonçalves et al., 2022, p. 2), todos os
elementos até aqui discutidos existem nessas duas dimensões. Para compreender essa dialética no caso da
infodemia, abordagens conitantes têm sido empregadas.
A primeira divergência refere-se às principais qualidades da percepção e da tomada de decisões dos
seres sociais. Desde o Iluminismo, elas giram em torno da premissa de seu caráter individual, informado,
egoísta e racional (Archer; Tritter, 2000). Hoje sabemos que essa foi uma crença historicamente necessária
para o desenvolvimento do empreendedorismo e da responsabilização capitalistas (Bourdieu, 2015), e
que a consciência é determinada sócio-historicamente pela experiência e seus signicados socialmente
compartilhados e pessoalmente vividos, interpretados (Vigotski, 2004) e emocionados (Damásio, 2012).
Ainda assim, certas características lo e ontogenéticas da consciência por vezes têm sido generalizadas
e reduzidas a vieses e falhas cognitivas (Ariely, 2008), inclusive por meio de interpretações seletivas e
extrapolações de achados neurocientícos (Eysenck; Keane, 2017), bem como de experimentos nem sempre
replicáveis (Maier et al., 2022).
Por exemplo, algumas abordagens cognitivistas partem da ideia do indivíduo racional e informado em
contraposição à “pós-verdade”, como se tivesse havido uma “era de ouro” da modernidade, de “true news” no
jornalismo e de uma “verdadeira” democracia (Habgood-Coote, 2018). Ainda assim, tal abordagem reconhece
que a desinformação “requer uma consideração do contexto político, tecnológico e social mais amplo”, pois
consiste em “uma estratégia racional que se desdobra em busca de objetivos políticos” (Lewandowsky, Ecker,
Cook, 2017, p. 4). Para esse campo, as tentativas de correção de divulgadores de desinformação raramente
são totalmente ecazes, dentre outros motivos, porque esse público estaria submetido a uma constância em
padrões informativos chamados de efeito de inuência contínua (Ecker et al., 2022).
Outra teoria refere-se ao amplo conceito da cognição motivada, que se conecta a tantos outros, como
o viés de conrmação e de grupo (Faber, 2014). Em comum, eles reetiriam a necessidade de cada indivíduo
de viver em um mundo coerente e consistente e se sentir bem consigo e com aqueles com quem se identica
(Hughes; Zaki, 2015). Nessa abordagem, na medida em que a dinâmica entre tais estímulos psicossociais e a
motivação consciente poderia reduzir a ativação de estruturas associadas ao processamento de informações
(Hughes; Zaki, 2015), isso poderia gerar respostas afetivas, especialmente em indivíduos politicamente
engajados (Valenzuela et al., 2019). Para Altay, Araujo e Mercier (2022), sob tal dinâmica, a precisão e o
grau de interesse em compartilhar certos conteúdos podem ser inuenciados pelo sentimento de que seria
“ interessante se fosse verdadeiro” (p. 1).
Entretanto, a teoria da cognição motivada não é consensual mesmo entre os cognitivistas. Para Pennycook
e Rand (2021, tradução nossa), “o fraco discernimento da verdade está ligado à falta de raciocínio cuidadoso
e conhecimento relevante, bem como ao uso de familiaridade” e da credibilidade do emissor da mensagem.
Segundo Escolà-Gascón et al. (2023), esse contexto favoreceria o pensamento intuitivo, ou preguiçoso, em
contraste com o racional. No entanto, ainda que “o design atual das plataformas de mídia social […] [possa]
desencorajar as pessoas a reetir sobre a precisão” (Pennycook et al., 2020, p. 594, tradução nossa), a ideia
de descuido informacional, de certa forma, devolve o problema da infodemia para os indivíduos.
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Todas essas abordagens contrastam com o fato de que os agentes da economia da atenção (produtores,
investidores e clientes) podem atuar, deliberadamente ou não, para produzir o que a pesquisa neurocientíca
chama de distração epistêmica (Miller, 2013). Em grande medida, essa distração resultaria da combinação
entre a superabundância de conteúdos, a aceleração da vida contemporânea (Rosa, 2019; Norman, 2008),
o design da experiência do usuário (Nodder, 2008) e suas recompensas variáveis, que estimulam, dentre
outros, o sistema dopaminérgico córtico-estriatal (Firth et al., 2019), de modo a poderem “atribuir valência
positiva – em outras palavras, prazer” (Herculano-Houzel; 2012, p. 18) a comportamentos previamente
idealizados por esses agentes. Como resultado, tornar-se-ia mais difícil “[…] integrar associações em
muitas experiências diferentes para detectar estruturas comuns” que “formam abstrações, princípios
gerais, conceitos e simbolismos” necessários para objetivos estruturantes (Miller, 2013). Por tudo isso, e
em contraste com boa parte das abordagens cognitivistas aqui discutidas, seria principalmente a ausência
de controle social sobre a economia da atenção que dicultaria o senso crítico de seus usuários.
INFODEMIA NO BRASIL
As determinações e contradições relativas à infodemia até aqui discutidas encontram, no Brasil, certas
particularidades que, dadas sua complexidade e extensão, podemos ilustrar apenas com alguns exemplos.
Segundo o Inaf Brasil 2018 (Instituto Paulo Montenegro; Ação Educativa, 2018), a maioria dos brasileiros
tem diculdade de interpretação plena de textos e dados visuais ou matemáticos. Ao mesmo tempo, somos
a segunda população que mais horas ca conectada à internet (Kemp, 2023), sendo as camadas populares
as que mais dependem da conexão por smartphone e dos conteúdos restritos pelo zero-rating (CGI.br,
2020). Segundo a pesquisa da CPI da covid-19, em 2020, 79% dos brasileiros tinham ou tiveram pers em
redes sociais, 64% usaram o WhatsApp como fonte frequente de informações, enquanto 49% adotaram o
YouTube para esse m, contra 39% que as buscavam em sites de notícias (Brasil, 2021). Não à toa, para 83%
da população à época, as redes sociais inuenciam muito a opinião das pessoas (Brasil, 2021).
Além disso, devemos considerar o papel da religiosidade nos fenômenos infodêmicos brasileiros.
Podendo ser vista como uma determinante social da saúde (Idler, 2014), ela pode ter mais inuência sobre
seus públicos do que cientistas e agentes governamentais (Igreja […], 2019; Quadri, 2020), sendo também
uma mediação fundamental em processos de conança (Sacramento; Paiva, 2020), decisões e condutas
(Botelho, 2018), pois, em geral, seu discurso se apoia na autoridade divina (Franco; Vicente, 2021). Deve-se
considerar que, ainda que as religiões possam atuar “como uma plataforma importante para a colaboração
intersetorial com a ciência e o governo” (Lee et al., 2022, tradução nossa), também podem ser acionadas
para “a instrumentalização mútua entre religião e política” (Mariano; 2011, p. 251), e também com o
mercado, podendo evidenciar projetos políticos em comum (Guerreiro; Almeida, 2021).
Por exemplo, o Decreto Presidencial nº 10.292/2020 (Brasil, 2020) estabeleceu as atividades religiosas
como serviços essenciais, o que permitiu a aglomeração de éis em templos durante as tentativas de
isolamento social de governos estaduais e municipais. Em seus pronunciamentos, Bolsonaro enfatizou
constantemente que as quarentenas iriam colapsar a economia. Galhardi et al. (2020), Guerreiro e
Almeida (2021), Massuchin e Santos (2021), assim como Sarto, Valamiel e Fernandes (2022), entre outros
pesquisadores, sistematizaram várias declarações do ex-presidente, e também de políticos, empresários
e líderes religiosos a ele alinhados, que se reforçaram mutuamente, promovendo o chamado tratamento
precoce e a negação da ecácia das máscaras, do isolamento social e das vacinas.
Já os vídeos antivacina brasileiros publicados no YouTube e analisados por Brotas et al. (2021)
apontaram como narrativas centrais os modos de vida baseados em terapias e curas naturais, o tom político
e conspiratório e as crenças religiosas. Ainda, o empresário e pastor Silas Malafaia – então com 1,25 milhões
de inscritos e 118 milhões de visualizações em seu canal (Massuchin; Santos, 2021) – armou que “ao invés
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de você ler essas notícias que falam de morte e de quarentena, da epidemia e pandemia, olhe para a palavra
de Deus e tome sua fé na palavra de Deus, porque essa, sim, faz você car imune a qualquer praga e a
qualquer vírus, inclusive o coronavírus” (p. 2). Diante de todos esses casos, entende-se que o YouTube pode
contribuir com a criação do citado efeito de inuência contínua, devido ao fato de que 70% dos 4 bilhões de
vídeos assistidos diariamente são recomendados algoritmicamente pela própria plataforma.
Durante a pandemia, 83% dos brasileiros com pers em redes sociais armaram ter acessado, nelas,
algum conteúdo desinformativo em geral, sendo 58% contra as vacinas anticovid, em especíco (Brasil,
2021). Segundo pesquisa mundial da Avaaz (2020), 73% dos brasileiros entrevistados acreditaram que pelo
menos um dos conteúdos que lhes foram apresentados com desinformação era verdadeiro ou provavelmente
verdadeiro, contra 65% dos estadunidenses e 59% dos italianos. Além disso, segundo Galhardi et al.
(2020, p. 4.204), nas denúncias de internautas no aplicativo Eu Fiscalizo, “10,5% das notícias falsas
foram publicadas no Instagram, 15,8% no Facebook e 73,7% circularam via WhatsApp”. Curiosamente,
segundo essa pesquisa, 26,6% da desinformação sobre a covid-19 publicada no Facebook e 71,4% daquelas
distribuídas no WhatsApp atribuíam a Fiocruz como sua fonte.
Por tudo isso, no mesmo período, 87% dos brasileiros com pers em redes sociais estavam preocupados
com a quantidade de notícias falsas ou duvidosas sobre a pandemia e 93% achavam que elas trazem
riscos para a sociedade; por isso, 92% achavam que quem divulgar notícias falsas sobre as vacinas contra
o coronavírus deve ser punido; 94% acreditavam que as plataformas devem vericar a veracidade das
informações nelas publicadas (Brasil, 2021) e 80% dos entrevistados pela Avaaz armaram que gostariam
de receber correções de vericadores de fatos quando forem expostos a notícias falsas, já que, por exemplo,
57% deles não viram nenhuma correção ou rótulo de correção no Facebook (Avaaz, 2020).
Conforme os dados e análises apresentados, no Brasil a infodemia pode se expressar e ser potencializada
pela dualidade entre a diculdade de interpretação de informações e a desigual conectividade on-line de sua
população, bem como pelos interesses político-econômicos que enredam mídias digitais, personalidades
políticas, mercado e lideranças religiosas. Entretanto, esse quadro não encontra tal população como passiva
e indefesa, pois, ao menos nas oportunidades revisadas neste trabalho, ela tem se posicionado a favor de
princípios regulatórios que a protejam e a capacitem a navegar nesse contexto infodêmico.
MÚLTIPLAS RESPOSTAS
Na medida em que a infodemia, tal como a temos caracterizado, é um fenômeno intrínseco tanto ao
complexo que compreende o neoliberalismo, a crise de sistemas de peritos e a economia da atenção,
quanto a contextos como o brasileiro, seu enfrentamento torna-se bastante desaador. Dado seu caráter
multidimensional, as medidas empregadas para esse m precisam ser igualmente diversas – o que nem
sempre tem sido o caso –, ao mesmo tempo que, algumas vezes, seus efeitos podem prejudicar a liberdade
de expressão, o debate democrático e o acesso à informação (Valente, 2019; Costa; Nóbrega; Maia, 2021).
Nossa revisão encontrou algumas abordagens e experiências que podem ser agrupadas em três diferentes
(e não excludentes) formas de enfrentamento da infodemia e de fenômenos correlatos, sem que se pretenda
uma sistematização exaustiva.
Regulação
Em termos de regulação estatal, atualmente diversos países implementam ou discutem – com distintos
níveis de participação pública – leis que regulam a atuação das plataformas digitais em seus diferentes
aspectos. Por exemplo, em 2022, a União Europeia aprovou sua Lei dos Serviços Digitais, que dene “as
obrigações e a responsabilização dos prestadores de serviços intermediários, em particular das plataformas”
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pela “transparência e a responsabilização das plataformas pelos algoritmos que utilizam”, assim como pela
regularização da “moderação de conteúdos” (Lei […], 2022).
A China tem sido outra pioneira em medidas mais objetivas, tanto no controle das recomendações
algorítmicas quanto no combate à desinformação, referida como “rumores” (Rodrigues; Xu, 2020). Nesse caso, o
governo aplica campanhas e detenções contra a desinformação, além de comprometer as principais plataformas
nesse combate. Nos EUA, não só não há leis federais nesse sentido, como a Seção 230 da Lei de Decência nas
Telecomunicações (EUA, 1996) dá imunidade às plataformas em relação aos conteúdos de terceiros.
No Brasil, além do atual Marco Civil da Internet, está em discussão o Projeto de Lei nº 2.630/2020, o
chamado PL das Fake News, que prevê diferentes formas de responsabilização pela produção e difusão de
desinformação on-line. Dentre seus pontos polêmicos, destacam-se: a proposta de imunidade parlamentar
nas redes sociais, além de outros privilégios para as chamadas “contas de interesse público” (ITS, 2022),
bem como a atribuição, de diferentes formas, do Comitê Gestor da Internet (CGI) e das plataformas para
scalização e outras medidas contra a desinformação, sem a devida transparência e responsabilização
de tais empresas acerca de seus critérios para essa tarefa (CDR, 2020). O PL ainda não reuniu maioria
parlamentar para sua aprovação, principalmente devido aos já citados projetos políticos em comum entre
mercado, líderes religiosos e partidos conservadores4.
Já na autorregulação, são as plataformas e aplicativos que, de forma independente dos governos, adotam
medidas e regras para alegadamente enfrentar a infodemia e fenômenos conexos. Em parte já introduzida
anteriormente, essa resposta tem sido adotada em vários países, com maior ou menor combinação com a
regulação estatal (Valente, 2019). Nossa revisão sugere que a autorregulação, especialmente quando em
oposição à regulação estatal, tem sido uma forma de o mercado e seus aliados preservarem esse modelo
de negócios, para protegê-lo do escrutínio público, e tem agido de forma seletiva, deciente e opaca no
combate à desinformação (Crain; Nadler, 2019; Intervozes, 2018).
Um último aspecto regulatório diz respeito ao zero-rating. Além da discussão já feita aqui e para além da
incidência política para garantia de acesso à internet como serviços essenciais (CDR, 2020), nossa revisão
não encontrou farta discussão sobre alternativas a essa modalidade. A suposta extensão de acesso via acordos
comerciais como o zero-rating tem sido empregada pelo mercado, sugerindo a sensação de acesso real às
pessoas – apesar de as tornar reféns da concorrência econômica desleal. A esse despeito, segundo o Internet
Society (2020), o m do zero-rating em países como a Alemanha não prejudicou os usuários justamente
porque, em resposta, as operadoras aumentaram os pacotes de dados, mantendo seus preços em geral.
Psicotecnologias
As psicotecnologias digitais, consideradas um amplo conjunto de teorias, técnicas e tecnologias que
buscam modular a percepção, a experiência, a signicação e as atividades dos indivíduos, principalmente
a partir da gestão algorítmica de ofertas digitais, da IA e do design da experiência do usuário (Gonçalves,
2023). Por isso, elas têm sido uma das principais mediações para a disseminação da infodemia, tal como
discutido neste trabalho. Por outro lado, tanto o mercado de ofertas digitais quanto, principalmente, as
ciências cognitivas têm argumentado que elas podem ser empregadas justamente para gerar efeitos
contrários (Ecker et al., 2022). Diversas pesquisas têm buscado demonstrar, sem consenso mesmo nesses
setores (Eysenck; Keane, 2017) que, por exemplo, cutucadas (nudges) de correção discretamente inseridas
na interface de aplicativos podem mitigar a propagação da infodemia (Pennycook et al., 2020).
4 Uma síntese da promoção desses projetos comuns pode ser vista nos conteúdos de autoria da Google Brasil divulgados a seus
usuários na véspera da tentativa de votação do projeto de lei (Lacerda, 2023).
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Ocorre que o uso de psicotecnologias, seja para a disseminação ou o enfrentamento desse fenômeno,
parte de abordagens problemáticas da relação entre percepção, signicação, atividades e agência do ser
social. Em certos casos, elas assumem crenças reducionistas e discutíveis sobre um ser social previsivelmente
racional (Ariely, 2008), as quais, além de misticar e sobrepesar o conceito de razão e o papel da cognição,
tratam essa suposta característica humano-social como naturalmente dada e não sócio-historicamente posta
(Gonçalves et al., 2022). Assim, se tal agenciamento5 frágil e falível poderia ser explorado infodemicamente
para pautas político-culturais furtivas, também poderia ser corrigido por um paternalismo libertário
(Thaler; Sunstein, 2003) embarcado em aordances, arquiteturas de decisão, design de interfaces digitais
e suas recompensas variáveis (Ecker et al., 2022; Gonçalves, 2023).
Por certo, na medida em que tais limitações da agência são uma realidade sócio-historicamente posta
(Padula, 2021), é possível inferir que certas psicotecnologias podem induzir comportamentos de mitigação
da infodemia (Ecker et al., 2022). Entretanto, a ênfase nessas proposições pode reiterar e contribuir com
a reprodução dessa realidade, na medida em que pode desenfatizar alternativas de fortalecimento do
agenciamento de indivíduos e sociedades.
Letramentos e competências
Muitas dessas alternativas citadas giram em torno dos conceitos de letramento digital e ans, que têm
diferentes signicados. Neles, os usuários de tecnologias digitais poderiam se tornar mais competentes e
resilientes ante a infodemia. Nossa revisão identicou conceitos baseados, principalmente: na didática,
como a educação midiática e tecnológica (CGI.br, 2020), o letramento funcional em saúde (Pedrosa et
al., 2022) e a literacia em saúde (Sousa, 2022); nas competências inuenciadas pelo cognitivismo e pela
teoria da autoecácia, como a eHealth Literacy (Norman; Skinner, 2006), e em outras, que dizem respeito
à agência individual e coletiva, como o empoderamento digital (Intervozes, 2020) e a competência crítica
em informação (Schneider, 2019).
Todas essas abordagens têm suas limitações. Boa parte daquelas baseadas na literacia e no cognitivismo
pode reiterar o enquadramento da agência humano-social entre limitações e vieses, atribuindo um exclusivo
ou excessivo papel de agentes externos e alegadamente mais capacitados para esse fortalecimento, como
cientistas, intelectuais, educadores (Norman; Skinner, 2006) e até o mercado (Lankshear; Knobel, 2008).
Embora a competência crítica em informação apresente uma série de superações em relação às demais
abordagens, sua origem parece ainda pouco especíca e sua ideia de conhecimento autorreexivo é
desaada pelos contextos já discutidos, caracterizando essa abordagem como ainda em construção.
CONCLUSÕES
Nesta revisão, encontramos a infodemia como uma das expressões e mediações de um complexo
de fenômenos político-econômicos, epistemológicos, sociotécnicos e psicossociais signicativamente
determinados pelo capitalismo neoliberal. Demonstramos como as formas de sua compreensão e
enfrentamento têm sido divergentes, até antagônicas e de efetividade incerta ou ainda a ser evidenciada.
No caso brasileiro, apontamos dados e seus contextos, que sugerem ainda mais impedimentos para que
indivíduos e sociedade resistam e participem desse enfrentamento, inclusive por meio do Estado.
Entretanto, ao abordarmos a infodemia pelo prisma dos princípios do SUS, podemos contribuir com essa
discussão, enfatizando a participação social organizada como seu principal “tratamento”, especialmente no
desenvolvimento de uma consciência sanitária e na formulação e gestão de políticas públicas de saúde (Fleury,
5 Aqui entendido como “o exercício de controle do indivíduo sobre as condições relevantes para a satisfação de suas necessidades
por meio da participação na produção social” (Sevignani, 2019, p. 530).
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2009) e de acesso à informação (Stevanim; Murtinho, 2021). Trata-se de direitos que só podem se realizar no
processo de organização da vida cotidiana e por meio de sujeitos cada vez mais informacionais (Moraes, 1998).
Essa abordagem nos possibilita algumas conclusões praxiológicas sobre a infodemia. Na busca do
ser social pela compreensão de sua realidade, que depende, em grande medida, dos signicados sociais
herdados, estes podem lhe introduzir ou impor ideias distorcidas ou fantásticas sobre tais processos da vida
cotidiana (Leontiev, 1980). Essas ideias podem resistir a vários tipos de correções, sejam psicotecnológicas
ou didáticas, pois eventos históricos (como a Reforma Sanitária) têm sugerido que “somente os grandes
confrontos da vida” podem superar tais distorções (Leontiev, 1980, p. 18).
Por isso, se a infodemia está implicada nas disputas da ordem social vigente, a participação política
organizada (por dentro e por fora do Estado) é o principal meio e resultado do desenvolvimento de sujeitos
políticos (e não apenas consumidores e usuários) com as capacidades críticas necessárias para enfrentá-la
numa sociabilidade cada vez mais digitalizada – podendo, assim, participar dessas disputas mais amplas.
Nesses termos, como aprendemos com a Constituição de 1988 e a criação do SUS (Fleury, 2009), o
enfrentamento efetivo da infodemia não resultará da benevolência de mercados ou governos, mas dos
grandes confrontos coletivos – que, inclusive, podem e devem se objetivar em medidas regulatórias e na
educação midiática escolar como alguns de seus pontos de partida.
Por m, uma vez que se trata de um fenômeno multideterminado e multifacetado, mais estudos
interdisciplinares sobre esse tema precisam ser desenvolvidos e debatidos, de modo a contribuir com tal
participação política e sua consciência sanitária.
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