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As múltiplas faces da InfodemiaThe multiple faces of the InfodemicLas múltiples caras de la infodemiaLes multiples visages de l'infodémie

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Abstract

Neste artigo, revisamos partes da literatura acadêmica sobre a infodemia buscando preencher uma lacuna de estudos que descrevam a sua existência político-econômica, científica, sociotécnica e psicossocial em geral, ao mesmo tempo em que verifiquem como essa imbricação se encontra com a realidade brasileira. Nesse enquadramento, a infodemia emergiu como uma superabundância problemática de informações sobre saúde, capaz de comprometer seus cuidados individuais e coletivos e que integra conflitos sócio-econômicos e culturais relacionados ao capitalismo neoliberal e periférico. Por isso, encontramos distintas e até antagônicas formas de caracterizar e enfrentar a infodemia. Algumas delas contrastam com os princípios do SUS e da reforma sanitária, especialmente com relação à participação política dos sujeitos atingidos pela infodemia enquanto uma forma de enfrentar o fenômeno e os conflitos de que ela faz parte. Concluímos que, enquanto um fenômeno multideterminado, a infodemia deve continuar sendo pesquisada interdisciplinarmente de modo a contribuir com tal participação política.
Reciis – Revista Eletrônica de Comunicação, Informação & Inovação em Saúde, Rio de Janeiro, v. 18, n. 3, p. 716-735, jul.-set, 2024
[www.reciis.icict.ocruz.br] e-ISSN 1981-6278
ARTIGOS DE REVISÃO
https://doi.org/10.29397/reciis.v18i3.3796
As múltiplas faces da infodemia
The multiple faces of the Infodemic
Las múltiples caras de la infodemia
Luís Gonçalves1,a
luishng72@gmail.com | https://orcid.org/0000-0003-4226-4189
Leonardo Castro2,b
leoccastro@gmail.com | https://orcid.org/0000-0002-9376-5103
Raquel Rachid1,c
raquel.rachid@hotmail.com | https://orcid.org/0000-0001-8593-3085
Marcelo Fornazin2,d
fornazin@gmail.com | https://orcid.org/0000-0002-0379-5801
1 Fundação Oswaldo Cruz. Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
2 Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
a Doutorado em Psicologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.
b Doutorado em Antropologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e Museu Nacional.
c Mestrado em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.
d Doutorado em Administração pela Fundação Getulio Vargas.
RESUMO
Neste artigo, revisamos partes da literatura acadêmica sobre a infodemia, buscando preencher uma lacuna
de estudos que descrevam sua existência político-econômica, cientíca, sociotécnica e psicossocial em
geral, ao mesmo tempo que veriquem como essa imbricação se encontra com a realidade brasileira. Nesse
enquadramento, a infodemia emergiu como uma superabundância de informações controversas sobre saúde,
capaz de comprometer cuidados individuais e coletivos, integrando conitos socioeconômicos e culturais
relacionados ao capitalismo neoliberal e periférico. Por isso, encontramos distintas e até antagônicas formas
de caracterizá-la e enfrentá-la. Algumas delas contrastam com os princípios do SUS e da Reforma Sanitária,
especialmente com relação à participação política dos sujeitos atingidos por esse excesso de informações
como uma forma de enfrentar o fenômeno e os conitos de que ela faz parte. Concluímos que, por ser uma
questão multideterminada, a infodemia deve continuar sendo pesquisada interdisciplinarmente, de modo
a contribuir com tal participação política.
Palavras-chave: Infodemia; Desinformação; Neoliberalismo; Subjetividade; Saúde digital.
Reciis – Revista Eletrônica de Comunicação, Informação & Inovação em Saúde, Rio de Janeiro, v. 18, n. 3, p. 716-735, jul.-set, 2024
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ABSTRACT
We review parts of the academic literature on infodemics, seeking to ll a gap in studies that describe its
political-economic, scientic, sociotechnical, and psychosocial existence in general, while also 7examining
how this intertwining relates to the Brazilian reality. Within this framework, the infodemic has emerged as
a problematic superabundance of health information that can compromise both individual and collective
care, and which integrates socio-economic and cultural conicts related to neoliberal and peripheral
capitalism. Therefore, we nd distinct and even antagonistic ways of characterizing and addressing the
infodemic. Some of these contrast with the principles of SUS and health reform, especially regarding the
political participation of those aected by the infodemic as a way of addressing the phenomenon and the
conicts of which it is a part. We conclude that, as a multidetermined phenomenon, the infodemic should
continue to be researched interdisciplinarily in order to contribute to such political participation.
Palavras-chave: Infodemic; Misinformation; Neoliberalismo; Subjectivity; Digital health.
RESUMEN
Revisamos partes de la literatura sobre infodemia buscando llenar un vacío en los estudios que describen su
existencia político-económica, cientíca, sociotécnica y psicosocial, al mismo tiempo que examinamos cómo
esta interconexión se relaciona con la realidad brasileña. La infodemia ha surgido como una superabundancia
problemática de información sobre salud, capaz de comprometer tanto el cuidado individual como el colectivo
y que integra conictos socioeconómicos y culturales relacionados del capitalismo neoliberal y periférico.
Por lo tanto, encontramos diferentes e incluso antagónicas formas de caracterizar y abordar la infodemia.
Algunas contrastan con los principios del SUS y la reforma sanitaria, especialmente en lo que se reere a la
participación política de las personas afectadas por la infodemia como una forma de abordar el fenómeno y
los conictos de los que forma parte. Concluimos que, como un fenómeno multideterminado, la infodemia
debe seguir siendo investigada interdisciplinariamente para contribuir a dicha participación política.
Palavras-chave: Infodemia; Desinformación; Neoliberalismo; Subjetividade; Salud digital.
INFORMAÇÕES DO ARTIGO
Contribuição dos autores:
Concepção ou desenho do estudo: Luís Henrique Gonçalves, Leonardo Castro, Marcelo Fornazin.
Aquisição dos dados: Luís Gonçalves.
Análise de dados: Luís Gonçalves.
Intepretação dos dados: Luís Gonçalves, Leonardo Castro, Marcelo Fornazin, Raquel Rachid.
Todos os autores são responsáveis pela redação e revisão crítica do conteúdo intelectual do texto, pela versão final publicada
e por todos os aspectos legais e científicos relacionados à exatidão e à integridade do estudo.
Declaração de conflito de interesses: não há.
Fontes de financiamento: Este trabalho foi financiado pela Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030.
Considerações éticas: não há.
Agradecimentos/Contribuições adicionais: não há.
Histórico do artigo: submetido: 30 maio 2024 | aceito: 13 jun 2024 | publicado: 27 set. 2024.
Apresentação anterior: não há.
Licença CC BY-NC atribuição não comercial. Com essa licença é permitido acessar, baixar (download), copiar, imprimir,
compartilhar, reutilizar e distribuir os artigos, desde que para uso não comercial e com a citação da fonte, conferindo os devidos
créditos de autoria e menção à Reciis. Nesses casos, nenhuma permissão é necessária por parte dos autores ou dos editores.
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GONÇALVES, Luís et al. 718
INTRODUÇÃO
Nesta revisão integrativa da literatura cientíca, de natureza exploratória e qualitativa, a chamada
infodemia surge como um fenômeno com diferentes caracterizações, devido principalmente a suas
múltiplas determinações e consequências. Algumas dessas caracterizações partem de abordagens e áreas
cientícas distintas ou conitantes entre si, o que pode dicultar o entendimento da infodemia em sua relação
com fenômenos como a desinformação em geral (Wang et al., 2019), a economia da atenção (Wu, 2017), o
neoliberalismo (Harvey, 2005), a chamada crise do sistema de peritos (Cesarino, 2021), entre outros.
Por exemplo, embora o termo tenha se popularizado, durante a pandemia de covid-19, a partir das declarações
do presidente da OMS, Tedros Adhanom, que o associou a epidemias em particular (Tangcharoensathien et
al., 2020) ou a questões de saúde em geral (Singh et al., 2022), outros autores (Eysenbach, 2020; Zarocostas,
2020) caracterizam a infodemia como a superabundância de informações controversas relativas a qualquer
assunto em especíco. Já para Krause, Freiling e Scheufele (2022), podemos estar criando uma “infodemia
sobre a infodemia” ao desconsiderarmos que ela seria um fenômeno constante e prévio ao coronavírus, da
mesma forma que falar de uma era de pós-verdade parece supor que teria havido, em algum momento, uma
era da verdade (Bezerra; Capurro; Schneider, 2017; Habgood-Coote, 2018).
Desse modo, analisaremos separadamente esse excesso de informações precisas ou não (Wardle,
2017) – em saúde, para que possamos vericar sua relação com fenômenos a ela conexos. Nesses termos,
deniremos infodemia como uma superabundância de informações mais ou menos precisas, imprecisas
ou deliberadamente falsas sobre saúde, doenças e seus tratamentos, que circulam em diferentes meios de
comunicação, em especial na internet – participando, assim, da economia da atenção – e que, ao criarem
incertezas e conitos, podem comprometer os cuidados individuais e coletivos em saúde. Note-se que,
nessa denição, o caráter superabundante, conituoso e incerto da infodemia a conecta ao fenômeno
da desinformação, enquanto conteúdo deliberadamente manipulado, mas não é seu sinônimo. Para
avançarmos nessa compreensão, discutiremos e integraremos diferentes abordagens, tendo como eixos
certos fatores objetivos e subjetivos que causam e mediam a infodemia, bem como algumas das diversas
proposições de mitigação do problema.
Na primeira seção, discutiremos certas transformações tecnoprodutivas, acumulativas e institucionais
ocorridas nos últimos cinquenta anos que transformaram o comércio, a sociabilidade e a comunicação,
criando novas necessidades e problemas que podem contribuir com o surgimento e a prevalência da
infodemia (Lelo; Fígaro, 2021). Essas transformações também têm se desdobrado e correspondido a
mudanças e impasses epistêmicos igualmente complexos, tornando mais desaantes as possibilidades de
compreender e enfrentar tais questões (Van Zoonen, 2012).
Na segunda seção, destacaremos, da questão anterior, a chamada economia da atenção. Parte das
disputas entre diferentes interesses político-econômicos e culturais moldam e são moldadas, bem como
travadas no interior de plataformas, redes sociais e aplicações de mensageria (Cesarino, 2022; Morozov,
2018). Estas, por sua vez, são organizadas para engajar usuários na produção de conteúdos que provoquem
e retenham sua atenção, com o objetivo de valorizar esses espaços como mídia publicitária e para a produção
de dados digitais (Gonçalves; Furtado, 2021). Nossa pesquisa sugere que a infodemia e fenômenos correlatos
têm sido determinantes para o alcance desses objetivos, inclusive na medida em que tais mercadorias-serviço,
em geral, persistem sem que seus mecanismos sejam sucientemente conhecidos e regulados (Valente, 2019).
Segundo nossa revisão, para que isso ocorra, as interfaces, recomendações e experiências dessas
mercadorias-serviço são ajustadas algoritmicamente, explorando características sociais, comportamentais,
emocionais e neuropsicológicas de seus usuários, muitas vezes sem que eles tenham sequer consciência,
tampouco alternativa a essas modulações (Ward, 2022; Ward et al., 2017). Assim, na terceira seção,
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revisaremos pesquisas neurocognitivas e psicológicas que sugerem (também de forma não consensual)
como essas características e comportamentos podem ser manifestados.
Na quarta seção, traremos essa discussão para a realidade brasileira. Revisaremos, resumidamente,
dados sobre a realidade do acesso à internet no país, com ênfase nas redes sociais e aplicativos de mensagens,
bem como em suas implicações na sociabilidade, política e religiosidade do Brasil.
Já no quinto e último tópico, faremos um sintético panorama de algumas proposições de enfrentamento
da infodemia e de seus limites.
Por m, na conclusão, reiteraremos a complexidade do enfrentamento a esse fenômeno, apontando,
entretanto, para a participação social organizada como seu principal meio, bem como para a necessidade
de mais pesquisas interdisciplinares sobre o tema.
DETERMINANTES POLÍTICO-ECONÔMICOS, TECNOCIENTÍFICOS E EPISTÊMICOS
Desde os anos 1970, a economia global tem passado por certas transformações e crises de caráter
estrutural (Mészáros, 2020) que modelam e são modeladas pela revolução tecnológica informacional
surgida nesse mesmo período (Perez, 2010). Tais situações aumentaram a concentração de riqueza e poder
(Amin, 2004), bem como a circulação de mercadorias, pessoas e doenças (Harvey, 2005); precarizaram
as condições de trabalho e vida (Antunes, 2018); reduziram o estado de bem-estar (Collington, 2022) e
incrementaram a mercantilização das relações sociais (Duménil; Lévy, 2004), particularmente no que se
refere a cuidados de saúde (Campos; Albuquerque, 1998).
Isso contribuiu com o aumento da distância entre, de um lado, a complexidade dos produtos, das
infraestruturas e outras mediações sociais e, de outro, a capacidade dos indivíduos e sociedades de compreendê-
las e nelas intervir (Dardot; Laval, 2017; Pinto, 2005). Por exemplo, os cuidados de saúde foram constantemente
se transformando pelas mãos de cientistas, políticos, empresas e consultores (Porter; Teisberg, 2006), enquanto
os cidadãos foram sendo, cada vez mais, postos na posição de seus observadores, validadores eleitorais e
consumidores (Streeck, 2019). Ao mesmo tempo, algumas democracias liberais testemunharam um crescente
desinteresse desses novos cidadãos pela política e por assuntos comunitários convencionais (Keyes, 2004).
Entretanto, a chegada das mercadorias e infraestruturas digitais convidava seus cidadãos-consumidores a
uma sensação de desmediação da vida cotidiana através da internet e suas aplicações (Lupton, 2013; Pentland,
2012). Com elas, seria possível contornar burocracias estatais, gatekeepers da imprensa e das ciências, além de
evitar a interpessoalidade com pessoas com características, crenças, origens etc. indesejáveis (Morozov, 2018).
Daí em diante, as novas tecnologias geraram diversos tipos de contribuições, desde o desencadeamento de
revoltas populares (Korybko, 2018) até a formação de grupos de interesse político-culturais em que, de certa
forma, o cidadão comum pode perceber-se mais ouvido e participativo (Valenzuela et al., 2019).
Também nesse período, efeitos da chamada virada linguística e de eventos conexos (Eagleton, 2012) teriam
encontrado, na conuência entre todas essas transformações, certa materialidade social, a partir da qual o
processo de signicação poderia ocorrer de forma mais autônoma em relação aos objetos e ao próprio sistema
de peritos vigente (Amon; Idiart, 2017; Sousa; Rosa, 2021). Por exemplo, a incompreensão, a impotência e o
medo que se disseminam no contexto dessas e outras transformações (Najar; Castro, 2021) podem anar-se
com as ilusões de conhecimento e controle oferecidas por teorias da conspiração (Van Zoonen, 2012), que se
potencializam mutuamente em ambientes virtuais sem regulação pública (Empoli, 2019).
Como parte desse contexto, a chamada “estratégia do tabaco” (Oreskes; Conway, 2011, p. 15) inaugurou
o uso sistemático de advogados, prossionais de relações públicas e publicitários, que trazem suas práticas
retóricas para dentro das disputas cientícas, com o objetivo de manter a controvérsia sobre um tema
especíco buscando evitar processos jurídicos e regulações (Proctor; Schiebinger, 2008). Para Oreskes
w Conway (op. cit), por meio da exploração de um alegado princípio de equidade entre opiniões e das
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características hipotéticas da ciência e probabilísticas da epidemiologia, essa estratégia contribuiu com a
hesitação frente à prática cientíca e médica.
Junto a isso, “o crescimento simultâneo da terapia (encontrar-se), do espiritualismo (aperfeiçoar-se)
e da mídia pessoal (expressar-se)” participa da armação dos indivíduos como “fontes alternativas de
conhecimento e compreensão”, perfazendo a chamada eu-pistemologia (Van Zoonen, 2012, p. 5, tradução
nossa). O fato pode descolar-se dos aspectos históricos, temporais e contingentes do feito, e o que confere
valor à opinião não é sua precisão, mas sim o poder sociotécnico daqueles então autopercebidos como sem
voz, para se fazerem reconhecidos como sujeitos (Guerra; Barbosa, 2017).
Sem podermos nos aprofundar aqui, é importante problematizar que a verdade e seu sujeito nunca
existiram como algo a priori (Gramsci, 1982) e necessariamente racional (Lane; Codo, 1988). Por outro lado,
é suciente armar que (1) a verdade, se entendida como algum nível de correspondência entre a realidade
e o entendimento, “não pode ser confundida com a mentira pura e simples, deliberadamente disseminada”
(Bezerra; Capurro; Schneider, 2017, p. 379); (2) em muitos casos, ela é uma expressão de relações de
conança, proximidade e valores compartilhados (Bonsanto, 2021); e (3) a verdade e seus regimes (Foucault,
1996) podem atuar como mediações de seus enunciantes em suas tentativas “de induzir outra pessoa (ou
grupo de pessoas) a realizar, por sua parte, pores teleológicos concretos” (Lukács, 2013, p. 62).
Nossa revisão sugere que a conuência dos fenômenos aqui tratados permite e possibilita que mais atores
(antigos ou novos, especialistas ou não) disputem tais mediações e seus poderes sociais (Cesarino, 2022).
Por um lado, se a grande metafunção da ciência tem sido “produzir ordem por meio da conança social em
um sistema de peritos” (Cesarino, 2021, p. 77), a infodemia pode contribuir com o acirramento de disputas
dentro da ordem social vigente. Para Cesarino (2020), no caso das crises e disputas já introduzidas, para
tornar verdade sua superioridade, o mercado liberaria “formas epistêmicas ‘não modernas’ baseadas
em temporalidades messiânicas e causalidades ocultas”, que seriam, “por assim dizer, a ‘superestrutura’
adequada ao capitalismo neoliberal contemporâneo”.
Por outro lado, a crença nos sistemas peritos decorre de inferências sobre seu funcionamento e
efetividade, o que pode depender do abafamento da “hermenêutica crítica” (Miguel, 2022), por meio
de eventuais argumentos extracientícos (Canguilhem, 1981; Santos Filho, 2016). Em nossa revisão, os
sistemas peritos surgem também como instâncias com elevado grau de autonomia frente a sua audiência
(Miguel, 1999), o que parece contrastar com a disseminação relativamente descentralizada de conteúdos
via tecnologias digitais (Van Zoonen, 2012).
ECONOMIA DA ATENÇÃO E DA INFODEMIA
Dentre as materialidades sociais que contribuem com a infodemia, destacou-se, em nossa revisão,
o amadurecimento tecnológico da chamada economia da atenção. Trata-se do mercado centrado
em infraestruturas midiáticas e suas mercadorias-serviço (operadoras de internet, TV, jornais, sites,
plataformas etc.), que cria e comercializa audiência publicitária por meio da captura da atenção de seus
consumidores, muitas vezes a partir do próprio conteúdo produzido por eles (Wu, 2017). No caso das
mídias digitais, em geral suas ofertas são projetadas de forma que, no processo de seu consumo, o usuário
coproduza dados que tendam a se tornar propriedade intelectual de seus ofertantes, seja como insumo
dessas e outras mercadorias-serviço, seja para a microssegmentação publicitária e/ou como mercadoria/
serviço para terceiros (Dantas, 2019).
A economia da atenção compreende um mercado em que cerca de 97% dos aplicativos digitais se
apresentam como gratuitos (Distribution […], 2022); com potencialmente 5,4 bilhões de usuários de
dispositivos conectáveis à internet (Number […], 2023) em média seis horas por dia (Kemp, 2023); cujas
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empresas de corretagem de dados (data brokers) faturaram cerca de US$ 252,12 bilhões (Data […], 2023)
em 2023; e as sete maiores big techs do mundo valiam juntas US$ 10,6 trilhões1 no mesmo ano.
os usuários buscam na economia da atenção, principalmente, satisfazer necessidades psicológicas
(Sailer et al., 2017) e socioprodutivas (Sevignani, 2019), além do consumo de informação e entretenimento
(Sundar; Limperos, 2013), entre outros desejos. Segundo Comor (2011), muitas vezes isso envolve a própria
participação do usuário na produção e circulação das ofertas correspondentes – o chamado prosumption2 –,
o que inclui conteúdos sobre saúde (Silva; Pires; Paiva, 2022). Há, ainda, os inuenciadores, que produzem
conteúdo e constroem vínculos com suas audiências, visando obter uma fração da verba publicitária das
plataformas (Bentes, 2022). Tudo isso faz surgir novas modalidades de “conteúdos culturais, sociais,
políticos, mediante estratégias concorrentes de credibilidade em relação ao jornalismo, através do uso de
fontes alternativas” e subjetividade na narrativa (Brotas, 2021, p. 77).
Nossa revisão apontou dois dos importantes meios de realização da economia da atenção e de suas
contradições que têm implicações na infodemia. O primeiro é a automação massiva e instantânea de
classicação e recomendação algorítmica de conteúdos, baseada principalmente na perlização dos
clientes das empresas de mídias digitais (Ward, 2022). Tal automação, ainda que também corresponda a
certas necessidades de organização e acesso desses conteúdos por parte dos usuários, é ofertada por seus
desenvolvedores3 na medida e na forma de sua luta concorrencial e regulatória por audiência, produção e
consumo (Gonçalves, 2023). Com isso, em certos casos, ela pode tanto recomendar conteúdos que promovam
a vacinação contra a covid-19 quanto aqueles que a associem à contaminação por HIV (Justiça […], 2023).
Em segundo lugar, e destacadamente em países como o Brasil, há o chamado zero-rating, modalidade
em que provedores de conteúdo subsidiam, junto às operadoras de internet, o consumo de dados de seus
usuários, de modo que o uso de aplicativos como WhatsApp passa a ser “gratuito”. Como a gratuidade é
apenas para os conteúdos dessas empresas, se o usuário do WhatsApp clicar em um link de uma postagem
que o levará a outro serviço sem zero-rating, esse acesso deixará de ser subsidiado (CGI.br, 2020). Em 2023,
cerca de 106 milhões de contas de telefonia móvel eram pré-pagas no Brasil (Teleco, 2023), geralmente
incluindo zero-rating (Anatel, 2021). Nesses termos, enquanto, potencialmente, a infodemia é “gratuita”
para uma vasta quantidade de usuários, a capacidade de vericação desses conteúdos pode ser paga.
A sobreposição entre todos os fatores descritos desdobra-se em novas consequências problemáticas,
como no caso das chamadas câmaras de eco e bolhas de ltro. Segundo Jamieson e Cappella (2008, p. 76),
as primeiras se referem ao espaço de mídia delimitado e fechado – em geral voluntariamente – “que tem o
potencial de ampliar as mensagens entregues dentro dele e isolá-las da refutação”. Já para Ross Arguedas et
al. (2022), uma bolha de ltro é uma câmara de eco produzida, principalmente, pela perlização algorítmica
discutida. Muitos processos infodêmicos surgem da articulação feita pela economia da atenção entre
essas esferas envolvendo inuenciadores da grande mídia e do establishment político –, de modo que,
longe de serem “anomalias pontuais, esses ecossistemas parecem estar conformando padrões sistêmicos
persistentes no atual ambiente de mídia” (Nascimento et al., 2022).
Com isso, fenômenos como a infodemia podem atuar como a “face mais visível da circulação irrestrita
em busca de dados” e comércio, ou ainda, “apenas uma forma mais barata de atrair tráfego da web (e,
consequentemente, de fabricar dados) do que informações jornalísticas” (Lelo; Fígaro, 2021, p. 28). Por
1 Soma do faturamento global das empresas Apple, Alphabet, Meta, Amazon, Jingdong e Alibaba (Fortune [...], 2024).
2 Prosumption é a contração das palavras em inglês production e consumption. Em geral, refere-se à atividade em que o
consumidor coproduz o próprio valor de uso que consome (ou que outros irão consumir). Para diferentes visões do tema: Vargo e
Lusch (2004); Zwick, Bonsu e Darmody (2008); Gonçalves e Furtado (2021).
3 Principalmente matemáticos, psicólogos, engenheiros de programação, designers, analistas de marketing, economistas,
administradores, advogados, comerciantes e investidores que, efetivamente, desenvolvem as mercadorias-serviço em seus vários e
combinados aspectos (Gonçalves, 2023).
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exemplo, no caso brasileiro, de acordo com a Silverman (2022), somente o Google seria responsável pela
monetização de 80% dos sites brasileiros que propagam desinformação. Ainda, segundo Hentschke-
Lopes (2022), o estímulo ao inecaz tratamento precoce contribuiu com um aumento de vendas da
hidroxicloroquina em 6.856.481,39% e da ivermectina em 12.291.129,32%.
IMPLICAÇÕES PSICOSSOCIAIS E NEUROCOGNITIVAS
Na medida em que a realidade humano-social é uma unidade em “uxo incessante, não linear e não
sequencial, mas biunívoco, entre objetividade e subjetividade” (Gonçalves et al., 2022, p. 2), todos os
elementos até aqui discutidos existem nessas duas dimensões. Para compreender essa dialética no caso da
infodemia, abordagens conitantes têm sido empregadas.
A primeira divergência refere-se às principais qualidades da percepção e da tomada de decisões dos
seres sociais. Desde o Iluminismo, elas giram em torno da premissa de seu caráter individual, informado,
egoísta e racional (Archer; Tritter, 2000). Hoje sabemos que essa foi uma crença historicamente necessária
para o desenvolvimento do empreendedorismo e da responsabilização capitalistas (Bourdieu, 2015), e
que a consciência é determinada sócio-historicamente pela experiência e seus signicados socialmente
compartilhados e pessoalmente vividos, interpretados (Vigotski, 2004) e emocionados (Damásio, 2012).
Ainda assim, certas características lo e ontogenéticas da consciência por vezes têm sido generalizadas
e reduzidas a vieses e falhas cognitivas (Ariely, 2008), inclusive por meio de interpretações seletivas e
extrapolações de achados neurocientícos (Eysenck; Keane, 2017), bem como de experimentos nem sempre
replicáveis (Maier et al., 2022).
Por exemplo, algumas abordagens cognitivistas partem da ideia do indivíduo racional e informado em
contraposição à “pós-verdade”, como se tivesse havido uma “era de ouro” da modernidade, de “true news” no
jornalismo e de uma “verdadeira” democracia (Habgood-Coote, 2018). Ainda assim, tal abordagem reconhece
que a desinformação “requer uma consideração do contexto político, tecnológico e social mais amplo”, pois
consiste em “uma estratégia racional que se desdobra em busca de objetivos políticos” (Lewandowsky, Ecker,
Cook, 2017, p. 4). Para esse campo, as tentativas de correção de divulgadores de desinformação raramente
são totalmente ecazes, dentre outros motivos, porque esse público estaria submetido a uma constância em
padrões informativos chamados de efeito de inuência contínua (Ecker et al., 2022).
Outra teoria refere-se ao amplo conceito da cognição motivada, que se conecta a tantos outros, como
o viés de conrmação e de grupo (Faber, 2014). Em comum, eles reetiriam a necessidade de cada indivíduo
de viver em um mundo coerente e consistente e se sentir bem consigo e com aqueles com quem se identica
(Hughes; Zaki, 2015). Nessa abordagem, na medida em que a dinâmica entre tais estímulos psicossociais e a
motivação consciente poderia reduzir a ativação de estruturas associadas ao processamento de informações
(Hughes; Zaki, 2015), isso poderia gerar respostas afetivas, especialmente em indivíduos politicamente
engajados (Valenzuela et al., 2019). Para Altay, Araujo e Mercier (2022), sob tal dinâmica, a precisão e o
grau de interesse em compartilhar certos conteúdos podem ser inuenciados pelo sentimento de que seria
“ interessante se fosse verdadeiro” (p. 1).
Entretanto, a teoria da cognição motivada não é consensual mesmo entre os cognitivistas. Para Pennycook
e Rand (2021, tradução nossa), “o fraco discernimento da verdade está ligado à falta de raciocínio cuidadoso
e conhecimento relevante, bem como ao uso de familiaridade” e da credibilidade do emissor da mensagem.
Segundo Escolà-Gascón et al. (2023), esse contexto favoreceria o pensamento intuitivo, ou preguiçoso, em
contraste com o racional. No entanto, ainda que “o design atual das plataformas de mídia social […] [possa]
desencorajar as pessoas a reetir sobre a precisão” (Pennycook et al., 2020, p. 594, tradução nossa), a ideia
de descuido informacional, de certa forma, devolve o problema da infodemia para os indivíduos.
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Todas essas abordagens contrastam com o fato de que os agentes da economia da atenção (produtores,
investidores e clientes) podem atuar, deliberadamente ou não, para produzir o que a pesquisa neurocientíca
chama de distração epistêmica (Miller, 2013). Em grande medida, essa distração resultaria da combinação
entre a superabundância de conteúdos, a aceleração da vida contemporânea (Rosa, 2019; Norman, 2008),
o design da experiência do usuário (Nodder, 2008) e suas recompensas variáveis, que estimulam, dentre
outros, o sistema dopaminérgico córtico-estriatal (Firth et al., 2019), de modo a poderem “atribuir valência
positiva em outras palavras, prazer” (Herculano-Houzel; 2012, p. 18) a comportamentos previamente
idealizados por esses agentes. Como resultado, tornar-se-ia mais difícil “[…] integrar associações em
muitas experiências diferentes para detectar estruturas comuns” que “formam abstrações, princípios
gerais, conceitos e simbolismos” necessários para objetivos estruturantes (Miller, 2013). Por tudo isso, e
em contraste com boa parte das abordagens cognitivistas aqui discutidas, seria principalmente a ausência
de controle social sobre a economia da atenção que dicultaria o senso crítico de seus usuários.
INFODEMIA NO BRASIL
As determinações e contradições relativas à infodemia até aqui discutidas encontram, no Brasil, certas
particularidades que, dadas sua complexidade e extensão, podemos ilustrar apenas com alguns exemplos.
Segundo o Inaf Brasil 2018 (Instituto Paulo Montenegro; Ação Educativa, 2018), a maioria dos brasileiros
tem diculdade de interpretação plena de textos e dados visuais ou matemáticos. Ao mesmo tempo, somos
a segunda população que mais horas ca conectada à internet (Kemp, 2023), sendo as camadas populares
as que mais dependem da conexão por smartphone e dos conteúdos restritos pelo zero-rating (CGI.br,
2020). Segundo a pesquisa da CPI da covid-19, em 2020, 79% dos brasileiros tinham ou tiveram pers em
redes sociais, 64% usaram o WhatsApp como fonte frequente de informações, enquanto 49% adotaram o
YouTube para esse m, contra 39% que as buscavam em sites de notícias (Brasil, 2021). Não à toa, para 83%
da população à época, as redes sociais inuenciam muito a opinião das pessoas (Brasil, 2021).
Além disso, devemos considerar o papel da religiosidade nos fenômenos infodêmicos brasileiros.
Podendo ser vista como uma determinante social da saúde (Idler, 2014), ela pode ter mais inuência sobre
seus públicos do que cientistas e agentes governamentais (Igreja […], 2019; Quadri, 2020), sendo também
uma mediação fundamental em processos de conança (Sacramento; Paiva, 2020), decisões e condutas
(Botelho, 2018), pois, em geral, seu discurso se apoia na autoridade divina (Franco; Vicente, 2021). Deve-se
considerar que, ainda que as religiões possam atuar “como uma plataforma importante para a colaboração
intersetorial com a ciência e o governo” (Lee et al., 2022, tradução nossa), também podem ser acionadas
para “a instrumentalização mútua entre religião e política” (Mariano; 2011, p. 251), e também com o
mercado, podendo evidenciar projetos políticos em comum (Guerreiro; Almeida, 2021).
Por exemplo, o Decreto Presidencial nº 10.292/2020 (Brasil, 2020) estabeleceu as atividades religiosas
como serviços essenciais, o que permitiu a aglomeração de éis em templos durante as tentativas de
isolamento social de governos estaduais e municipais. Em seus pronunciamentos, Bolsonaro enfatizou
constantemente que as quarentenas iriam colapsar a economia. Galhardi et al. (2020), Guerreiro e
Almeida (2021), Massuchin e Santos (2021), assim como Sarto, Valamiel e Fernandes (2022), entre outros
pesquisadores, sistematizaram várias declarações do ex-presidente, e também de políticos, empresários
e líderes religiosos a ele alinhados, que se reforçaram mutuamente, promovendo o chamado tratamento
precoce e a negação da ecácia das máscaras, do isolamento social e das vacinas.
os vídeos antivacina brasileiros publicados no YouTube e analisados por Brotas et al. (2021)
apontaram como narrativas centrais os modos de vida baseados em terapias e curas naturais, o tom político
e conspiratório e as crenças religiosas. Ainda, o empresário e pastor Silas Malafaia – então com 1,25 milhões
de inscritos e 118 milhões de visualizações em seu canal (Massuchin; Santos, 2021) – armou que “ao invés
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de você ler essas notícias que falam de morte e de quarentena, da epidemia e pandemia, olhe para a palavra
de Deus e tome sua fé na palavra de Deus, porque essa, sim, faz você car imune a qualquer praga e a
qualquer vírus, inclusive o coronavírus” (p. 2). Diante de todos esses casos, entende-se que o YouTube pode
contribuir com a criação do citado efeito de inuência contínua, devido ao fato de que 70% dos 4 bilhões de
vídeos assistidos diariamente são recomendados algoritmicamente pela própria plataforma.
Durante a pandemia, 83% dos brasileiros com pers em redes sociais armaram ter acessado, nelas,
algum conteúdo desinformativo em geral, sendo 58% contra as vacinas anticovid, em especíco (Brasil,
2021). Segundo pesquisa mundial da Avaaz (2020), 73% dos brasileiros entrevistados acreditaram que pelo
menos um dos conteúdos que lhes foram apresentados com desinformação era verdadeiro ou provavelmente
verdadeiro, contra 65% dos estadunidenses e 59% dos italianos. Além disso, segundo Galhardi et al.
(2020, p. 4.204), nas denúncias de internautas no aplicativo Eu Fiscalizo, “10,5% das notícias falsas
foram publicadas no Instagram, 15,8% no Facebook e 73,7% circularam via WhatsApp”. Curiosamente,
segundo essa pesquisa, 26,6% da desinformação sobre a covid-19 publicada no Facebook e 71,4% daquelas
distribuídas no WhatsApp atribuíam a Fiocruz como sua fonte.
Por tudo isso, no mesmo período, 87% dos brasileiros com pers em redes sociais estavam preocupados
com a quantidade de notícias falsas ou duvidosas sobre a pandemia e 93% achavam que elas trazem
riscos para a sociedade; por isso, 92% achavam que quem divulgar notícias falsas sobre as vacinas contra
o coronavírus deve ser punido; 94% acreditavam que as plataformas devem vericar a veracidade das
informações nelas publicadas (Brasil, 2021) e 80% dos entrevistados pela Avaaz armaram que gostariam
de receber correções de vericadores de fatos quando forem expostos a notícias falsas, já que, por exemplo,
57% deles não viram nenhuma correção ou rótulo de correção no Facebook (Avaaz, 2020).
Conforme os dados e análises apresentados, no Brasil a infodemia pode se expressar e ser potencializada
pela dualidade entre a diculdade de interpretação de informações e a desigual conectividade on-line de sua
população, bem como pelos interesses político-econômicos que enredam mídias digitais, personalidades
políticas, mercado e lideranças religiosas. Entretanto, esse quadro não encontra tal população como passiva
e indefesa, pois, ao menos nas oportunidades revisadas neste trabalho, ela tem se posicionado a favor de
princípios regulatórios que a protejam e a capacitem a navegar nesse contexto infodêmico.
MÚLTIPLAS RESPOSTAS
Na medida em que a infodemia, tal como a temos caracterizado, é um fenômeno intrínseco tanto ao
complexo que compreende o neoliberalismo, a crise de sistemas de peritos e a economia da atenção,
quanto a contextos como o brasileiro, seu enfrentamento torna-se bastante desaador. Dado seu caráter
multidimensional, as medidas empregadas para esse m precisam ser igualmente diversas o que nem
sempre tem sido o caso –, ao mesmo tempo que, algumas vezes, seus efeitos podem prejudicar a liberdade
de expressão, o debate democrático e o acesso à informação (Valente, 2019; Costa; Nóbrega; Maia, 2021).
Nossa revisão encontrou algumas abordagens e experiências que podem ser agrupadas em três diferentes
(e não excludentes) formas de enfrentamento da infodemia e de fenômenos correlatos, sem que se pretenda
uma sistematização exaustiva.
Regulação
Em termos de regulação estatal, atualmente diversos países implementam ou discutem – com distintos
níveis de participação pública – leis que regulam a atuação das plataformas digitais em seus diferentes
aspectos. Por exemplo, em 2022, a União Europeia aprovou sua Lei dos Serviços Digitais, que dene “as
obrigações e a responsabilização dos prestadores de serviços intermediários, em particular das plataformas”
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pela “transparência e a responsabilização das plataformas pelos algoritmos que utilizam”, assim como pela
regularização da “moderação de conteúdos” (Lei […], 2022).
A China tem sido outra pioneira em medidas mais objetivas, tanto no controle das recomendações
algorítmicas quanto no combate à desinformação, referida como “rumores” (Rodrigues; Xu, 2020). Nesse caso, o
governo aplica campanhas e detenções contra a desinformação, além de comprometer as principais plataformas
nesse combate. Nos EUA, não só não há leis federais nesse sentido, como a Seção 230 da Lei de Decência nas
Telecomunicações (EUA, 1996) dá imunidade às plataformas em relação aos conteúdos de terceiros.
No Brasil, além do atual Marco Civil da Internet, está em discussão o Projeto de Lei nº 2.630/2020, o
chamado PL das Fake News, que prevê diferentes formas de responsabilização pela produção e difusão de
desinformação on-line. Dentre seus pontos polêmicos, destacam-se: a proposta de imunidade parlamentar
nas redes sociais, além de outros privilégios para as chamadas “contas de interesse público” (ITS, 2022),
bem como a atribuição, de diferentes formas, do Comitê Gestor da Internet (CGI) e das plataformas para
scalização e outras medidas contra a desinformação, sem a devida transparência e responsabilização
de tais empresas acerca de seus critérios para essa tarefa (CDR, 2020). O PL ainda não reuniu maioria
parlamentar para sua aprovação, principalmente devido aos já citados projetos políticos em comum entre
mercado, líderes religiosos e partidos conservadores4.
Já na autorregulação, são as plataformas e aplicativos que, de forma independente dos governos, adotam
medidas e regras para alegadamente enfrentar a infodemia e fenômenos conexos. Em parte já introduzida
anteriormente, essa resposta tem sido adotada em vários países, com maior ou menor combinação com a
regulação estatal (Valente, 2019). Nossa revisão sugere que a autorregulação, especialmente quando em
oposição à regulação estatal, tem sido uma forma de o mercado e seus aliados preservarem esse modelo
de negócios, para protegê-lo do escrutínio público, e tem agido de forma seletiva, deciente e opaca no
combate à desinformação (Crain; Nadler, 2019; Intervozes, 2018).
Um último aspecto regulatório diz respeito ao zero-rating. Além da discussão já feita aqui e para além da
incidência política para garantia de acesso à internet como serviços essenciais (CDR, 2020), nossa revisão
não encontrou farta discussão sobre alternativas a essa modalidade. A suposta extensão de acesso via acordos
comerciais como o zero-rating tem sido empregada pelo mercado, sugerindo a sensação de acesso real às
pessoas – apesar de as tornar reféns da concorrência econômica desleal. A esse despeito, segundo o Internet
Society (2020), o m do zero-rating em países como a Alemanha não prejudicou os usuários justamente
porque, em resposta, as operadoras aumentaram os pacotes de dados, mantendo seus preços em geral.
Psicotecnologias
As psicotecnologias digitais, consideradas um amplo conjunto de teorias, técnicas e tecnologias que
buscam modular a percepção, a experiência, a signicação e as atividades dos indivíduos, principalmente
a partir da gestão algorítmica de ofertas digitais, da IA e do design da experiência do usuário (Gonçalves,
2023). Por isso, elas têm sido uma das principais mediações para a disseminação da infodemia, tal como
discutido neste trabalho. Por outro lado, tanto o mercado de ofertas digitais quanto, principalmente, as
ciências cognitivas têm argumentado que elas podem ser empregadas justamente para gerar efeitos
contrários (Ecker et al., 2022). Diversas pesquisas têm buscado demonstrar, sem consenso mesmo nesses
setores (Eysenck; Keane, 2017) que, por exemplo, cutucadas (nudges) de correção discretamente inseridas
na interface de aplicativos podem mitigar a propagação da infodemia (Pennycook et al., 2020).
4 Uma síntese da promoção desses projetos comuns pode ser vista nos conteúdos de autoria da Google Brasil divulgados a seus
usuários na véspera da tentativa de votação do projeto de lei (Lacerda, 2023).
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Ocorre que o uso de psicotecnologias, seja para a disseminação ou o enfrentamento desse fenômeno,
parte de abordagens problemáticas da relação entre percepção, signicação, atividades e agência do ser
social. Em certos casos, elas assumem crenças reducionistas e discutíveis sobre um ser social previsivelmente
racional (Ariely, 2008), as quais, além de misticar e sobrepesar o conceito de razão e o papel da cognição,
tratam essa suposta característica humano-social como naturalmente dada e não sócio-historicamente posta
(Gonçalves et al., 2022). Assim, se tal agenciamento5 frágil e falível poderia ser explorado infodemicamente
para pautas político-culturais furtivas, também poderia ser corrigido por um paternalismo libertário
(Thaler; Sunstein, 2003) embarcado em aordances, arquiteturas de decisão, design de interfaces digitais
e suas recompensas variáveis (Ecker et al., 2022; Gonçalves, 2023).
Por certo, na medida em que tais limitações da agência são uma realidade sócio-historicamente posta
(Padula, 2021), é possível inferir que certas psicotecnologias podem induzir comportamentos de mitigação
da infodemia (Ecker et al., 2022). Entretanto, a ênfase nessas proposições pode reiterar e contribuir com
a reprodução dessa realidade, na medida em que pode desenfatizar alternativas de fortalecimento do
agenciamento de indivíduos e sociedades.
Letramentos e competências
Muitas dessas alternativas citadas giram em torno dos conceitos de letramento digital e ans, que têm
diferentes signicados. Neles, os usuários de tecnologias digitais poderiam se tornar mais competentes e
resilientes ante a infodemia. Nossa revisão identicou conceitos baseados, principalmente: na didática,
como a educação midiática e tecnológica (CGI.br, 2020), o letramento funcional em saúde (Pedrosa et
al., 2022) e a literacia em saúde (Sousa, 2022); nas competências inuenciadas pelo cognitivismo e pela
teoria da autoecácia, como a eHealth Literacy (Norman; Skinner, 2006), e em outras, que dizem respeito
à agência individual e coletiva, como o empoderamento digital (Intervozes, 2020) e a competência crítica
em informação (Schneider, 2019).
Todas essas abordagens têm suas limitações. Boa parte daquelas baseadas na literacia e no cognitivismo
pode reiterar o enquadramento da agência humano-social entre limitações e vieses, atribuindo um exclusivo
ou excessivo papel de agentes externos e alegadamente mais capacitados para esse fortalecimento, como
cientistas, intelectuais, educadores (Norman; Skinner, 2006) e até o mercado (Lankshear; Knobel, 2008).
Embora a competência crítica em informação apresente uma série de superações em relação às demais
abordagens, sua origem parece ainda pouco especíca e sua ideia de conhecimento autorreexivo é
desaada pelos contextos já discutidos, caracterizando essa abordagem como ainda em construção.
CONCLUSÕES
Nesta revisão, encontramos a infodemia como uma das expressões e mediações de um complexo
de fenômenos político-econômicos, epistemológicos, sociotécnicos e psicossociais signicativamente
determinados pelo capitalismo neoliberal. Demonstramos como as formas de sua compreensão e
enfrentamento têm sido divergentes, até antagônicas e de efetividade incerta ou ainda a ser evidenciada.
No caso brasileiro, apontamos dados e seus contextos, que sugerem ainda mais impedimentos para que
indivíduos e sociedade resistam e participem desse enfrentamento, inclusive por meio do Estado.
Entretanto, ao abordarmos a infodemia pelo prisma dos princípios do SUS, podemos contribuir com essa
discussão, enfatizando a participação social organizada como seu principal “tratamento”, especialmente no
desenvolvimento de uma consciência sanitária e na formulação e gestão de políticas públicas de saúde (Fleury,
5 Aqui entendido como “o exercício de controle do indivíduo sobre as condições relevantes para a satisfação de suas necessidades
por meio da participação na produção social” (Sevignani, 2019, p. 530).
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2009) e de acesso à informação (Stevanim; Murtinho, 2021). Trata-se de direitos que só podem se realizar no
processo de organização da vida cotidiana e por meio de sujeitos cada vez mais informacionais (Moraes, 1998).
Essa abordagem nos possibilita algumas conclusões praxiológicas sobre a infodemia. Na busca do
ser social pela compreensão de sua realidade, que depende, em grande medida, dos signicados sociais
herdados, estes podem lhe introduzir ou impor ideias distorcidas ou fantásticas sobre tais processos da vida
cotidiana (Leontiev, 1980). Essas ideias podem resistir a vários tipos de correções, sejam psicotecnológicas
ou didáticas, pois eventos históricos (como a Reforma Sanitária) têm sugerido que “somente os grandes
confrontos da vida” podem superar tais distorções (Leontiev, 1980, p. 18).
Por isso, se a infodemia está implicada nas disputas da ordem social vigente, a participação política
organizada (por dentro e por fora do Estado) é o principal meio e resultado do desenvolvimento de sujeitos
políticos (e não apenas consumidores e usuários) com as capacidades críticas necessárias para enfrentá-la
numa sociabilidade cada vez mais digitalizada – podendo, assim, participar dessas disputas mais amplas.
Nesses termos, como aprendemos com a Constituição de 1988 e a criação do SUS (Fleury, 2009), o
enfrentamento efetivo da infodemia não resultará da benevolência de mercados ou governos, mas dos
grandes confrontos coletivos que, inclusive, podem e devem se objetivar em medidas regulatórias e na
educação midiática escolar como alguns de seus pontos de partida.
Por m, uma vez que se trata de um fenômeno multideterminado e multifacetado, mais estudos
interdisciplinares sobre esse tema precisam ser desenvolvidos e debatidos, de modo a contribuir com tal
participação política e sua consciência sanitária.
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As heterogêneas e contraditórias estruturas do capitalismo global vêm moldando de diferentes formas os significados sociais acerca da Saúde Digital e, com isso, também seu desenvolvimento e regulação. Para uma melhor compreensão destas questões, nesta revisão de literatura destacamos que tais estruturas contêm certas dimensões subjetivas que precisam ser investigadas de forma mais detida. Para isso, analisamos como a Saúde Digital se torna um espaço tanto de expansão das potencialidades humanas quanto para o acirramento dessas contradições estruturais. Discutimos como os modos de governamentalidade capitalista seriam atualizados junto a esses movimentos, moldando subjetivamente patologias, pacientes e o cuidado em saúde. Analisamos como esses processos podem se desdobrar em técnicas comportamentais que podem ser embarcadas em dispositivos e aplicativos de saúde e bem-estar, bem como suas consequências e riscos potenciais, o que exige atenção regulatória com participação social
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O artigo revê, à luz das transformações contemporâneas no ambiente comunicacional, a noção de que o jornalismo opera como “sistema perito” – um sistema de expertise que desfruta da confiança nele depositada por usuários incapazes de avaliá-lo tecnicamente. As novas tecnologias ampliaram a concorrência no espaço discursivo, dissolvendo o monopólio do jornalismo e erodindo suas fontes de financiamento. Ao mesmo tempo, uma incerteza epistêmica radical (“pós-verdade”) e o insulamento do público em enclaves fechados comprometem sua legitimidade. Esta situação contribui para a crise da democracia, uma vez que seu funcionamento pressupunha um patamar mínimo de concordância sobre a agenda e sobre os fatos relevantes, que o jornalismo supria.
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Conceito transdisciplinar novo no cenário acadêmico brasileiro, a literacia em saúde, ou literacia para a saúde (LS), vem atraindo crescente interesse de pesquisadores de diversas áreas. A partir da experiência como coordenadora do grupo de estudos e pesquisa Promoção em Comunicação, Educação e Literacia para a Saúde no Brasil (ProLiSaBr), vinculado à Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), a professora e pesquisadora Rosane Aparecida de Sousa destaca a importância do tema para a promoção da saúde da população. Em entrevista à Reciis, ela esclarece que o desenvolvimento de habilidades para buscar, acessar, compreender e avaliar as informações sobre saúde, aplicando-as para melhorar a qualidade de vida, pode ser também um caminho para o exercício da cidadania. “À medida que a população tem maior nível de literacia para a saúde, ela também tem maior capacidade e interesse de participação social, ela se reconhece como sujeito de direito”. Seja como recurso para combater a desinformação ou como ferramenta de trabalho para profissionais da saúde, a LS desponta como opção para a construção de novos caminhos na saúde pública brasileira, destaca. Rosane Aparecida de Sousa possui pós-doutorado em Serviço Social pela Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa, é colaboradora do Programa de Residência Integrada e Multiprofissional em Saúde (RIMS) da UFTM e atuou como editora associada da Reciis de setembro de 2017 a dezembro de 2018.
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Este trabalho pretende delinear uma perspectiva ampliada sobre o fenômeno das fake news para problematizar o ambiente (des)informativo e revisionista em curso. Partimos do pressuposto que há uma proliferação cada vez mais proeminente de narrativas – que aqui definimos como “historiográfico-midiáticas” - capazes de reconfigurar o ecossistema informacional, evidenciando a conformação de novos atores, formatos e linguagens no cenário contemporâneo. Desta forma, propomos alguns olhares interpretativos sobre a produtora de conteúdo Brasil Paralelo, empresa que vêm se destacando com um reconhecido protagonismo na construção de narrativas deliberadamente revisionistas sobre a história recente brasileira. Como uma estratégia de embate político, estas narrativas serão pensadas sob um viés que as tensionem para além das notícias e do jornalismo propriamente dito, nos mostrando como a noção de (pós)“verdade” está circunscrita a uma problemática que envolve questões de ordem social, política e epistemológica, responsáveis por incitar - nos espaços comuns propiciados pelos ambientes digitais – a profusão de agendas específicas e muito bem delimitadas
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O artigo propõe uma explicação cibernética (Bateson, 1972) para a pós-verdade partindo de reflexões clássicas no campo CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade) sobre como a verdade é produzida, notadamente Thomas Kuhn e a etnografia de Bruno Latour, Vida de Laboratório. Argumenta-se que o termo pós-verdade indica um ambiente de entropia informacional crescente derivado da intensificação extensiva (global) e intensiva (personalização) do duplo processo de digitalização e neoliberalização. A perspectiva estrutural permite ver, como parte de uma mesma infraestrutura emergente, fenômenos que vimos tratando separadamente em tópicos como neoliberalismo, política populista, desinformação, mídias sociais, punitivismo, entre outros. Além de indicar, com base em pesquisa sobre a digitalização da política no Brasil, como o ambiente epistêmico tem se reestruturado como consequência da crise confiança no sistema de peritos, o artigo elabora paralelos estruturais que atravessam toda a constelação contemporânea do neoliberalismo digitalizado: colapso de contexto, performatividade, verdade como a posteriori, sujeito influenciável, mediações (i)mediatas, invisibilização de assimetrias emergentes, conteúdo gerado pelos usuários e estruturas organizacionais do tipo pirâmide.
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Awareness of the potential psychological significance of false news increased during the coronavirus pandemic, however, its impact on psychopathology and individual differences remains unclear. Acknowledging this, the authors investigated the psychological and psychopathological profiles that characterize fake news consumption. A total of 1452 volunteers from the general population with no previous psychiatric history participated. They responded to clinical psychopathology assessment tests. Respondents solved a fake news screening test, which allowed them to be allocated to a quasi-experimental condition: group 1 (non-fake news consumers) or group 2 (fake news consumers). Mean comparison, Bayesian inference, and multiple regression analyses were applied. Participants with a schizotypal, paranoid, and histrionic personality were ineffective at detecting fake news. They were also more vulnerable to suffer its negative effects. Specifically, they displayed higher levels of anxiety and committed more cognitive biases based on suggestibility and the Barnum Effect. No significant effects on psychotic symptomatology or affective mood states were observed. Corresponding to these outcomes, two clinical and therapeutic recommendations related to the reduction of the Barnum Effect and the reinterpretation of digital media sensationalism were made. The impact of fake news and possible ways of prevention are discussed.
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Misinformation has been identified as a major contributor to various contentious contemporary events ranging from elections and referenda to the response to the COVID-19 pandemic. Not only can belief in misinformation lead to poor judgements and decision-making, it also exerts a lingering influence on people’s reasoning after it has been corrected — an effect known as the continued influence effect. In this Review, we describe the cognitive, social and affective factors that lead people to form or endorse misinformed views, and the psychological barriers to knowledge revision after misinformation has been corrected, including theories of continued influence. We discuss the effectiveness of both pre-emptive (‘prebunking’) and reactive (‘debunking’) interventions to reduce the effects of misinformation, as well as implications for information consumers and practitioners in various areas including journalism, public health, policymaking and education.
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Com a pandemia de Covid-19 e a onda negacionista no país em relação ao tema, o artigo aborda a religião midiatizada e a relação de pentecostais e neopentecostais em assuntos de cunho político e social, neste caso, questões sobre saúde pública. A partir da fundamentação teórica bibliográfica, intenta-se discutir religião e mídia no contexto atual, tendo como base Martino (2012), Cunha (2015) e Sodré (2006); em seguida, amparou-se as teorias por meio de uma análise conteudística do pronunciamento do Pastor Silas Malafaia no vídeo intitulado “O ódio a Bolsonaro e às religiões em tempo de pandemia”, a fim de evidenciar a importância de se considerar discursos de figuras religiosas que possuem grande visibilidade pública na produção de sentidos e na criação de modelos de comportamento.
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Em 2020, o mundo foi surpreendido pela pandemia de COVID-19, doença causada pelo coronavírus, que apresenta um espectro clínico variando de infecções respiratórias assintomáticas a quadros graves. Junto a pandemia, surgiu também a infodemia, caracterizada pelo excesso de informações, precisas ou não, que dificultam o acesso a fontes idôneas e orientações relevantes. Diante desse quadro, objetivo deste trabalho é um estudo teórico acerca da percepção da realidade na infodemia de COVID-19, especialmente na interpretação de desinformação. A expectativa é que a discussão identifique os aspectos mentais do indivíduo envolvidos no processamento da informação em excesso.