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O fim está próximoThe end is nearEl fin está cerca: representações religiosas no discurso dos perfis do x de líderes bolsonaristas durante o segundo turno das eleições de 2022religious representations in the discourse of bolsonaroist leaders' x profiles during the second round of the 2022 electionsrepresentaciones religiosas en el discurso de los perfiles x de líderes bolsonaristas durante la segunda vuelta de las elecciones de 2022

Authors:

Abstract and Figures

This article develops a comparative study of the publications on the official X social network profiles of congressmen Nikolas Ferreira and Magno Malta, which occurred during October 2022 and expressly mention the terms: God; faith; church; Christ; Jesus; Christian(s); prayer; Bible. The analysis aimed to understand how religious themes and representations were used during the second-round campaign of that year's election on social media by ultra-conservative activists. It is noteworthy that the choice of X as a data source was not accidental. Despite being less used in Brazil compared to networks like Instagram or Facebook, it is notorious both for the engagement of its members and its ability to create "viral" images and texts capable of shaping the debate on other networks. The qualitative analysis conducted here of the textual, imagistic, and audiovisual contents of the two mentioned profiles on the platform presented curious results. It was observed not only a high recurrence of the use of the terms but also a similarity in the content of the messages in which they appeared. It was noted that the digital communication strategies employed by the two profiles often presented anti-system representations and imaginaries. The data processing for the analysis was conducted using the IRAMUTEQ program, which was also used to create a word cloud and two similarity graphs, which synthesized the research results.
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Revista Aurora, v. 17, 2024. Fluxo Contínuo
https://doi.org/10.36311/1982-8004.2024.v17.e024013
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O FIM ESTÁ PRÓXIMO: REPRESENTAÇÕES RELIGIOSAS NO
DISCURSO DOS PERFIS DO X DE LÍDERES BOLSONARISTAS
DURANTE O SEGUNDO TURNO DAS ELEIÇÕES DE 2022
EL FIN ESTÁ CERCA: REPRESENTACIONES RELIGIOSAS EN EL
DISCURSO DE LOS PERFILES X DE LÍDERES BOLSONARISTAS
DURANTE LA SEGUNDA VUELTA DE LAS ELECCIONES DE 2022
THE END IS NEAR: RELIGIOUS REPRESENTATIONS IN THE
DISCOURSE OF BOLSONAROIST LEADERS' X PROFILES DURING
THE SECOND ROUND OF THE 2022 ELECTIONS
DOI:
https://doi.org/10.36311/1982-8004.2024.v17.e024013
Dossiê
Recebido: 14/07/2024
Aprovado: 14/08/2024
Publicado: 20/09/2024
_________________________________
Leonardo Faustino Pereiraª
https://orcid.org/0000-0002-0100-2425
ª Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas), Belo Horizonte, Minas Gerais. E-
mail: leonardopereira.faustino@hotmail.com
DOSSIÊ
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Resumo: O presente artigo desenvolve um estudo comparativo quanto às publicações dos
perfis oficiais da rede social X dos congressistas Nikolas Ferreira e Magno Malta, que
ocorreram durante o mês de outubro de 2022 e que mencionam de forma expressa os
termos: deus; fé; igreja; cristo; jesus; cristão(s); oração; bíblia. A análise teve como
objetivo compreender como temáticas e representações religiosas foram usadas durante a
campanha eleitoral do segundo turno daquele ano nas redes sociais por ativistas de
ultraconservadores. Note-se, inclusive, que a escolha do X como fonte de dados não foi
ao acaso. A despeito de pouco usada no Brasil se comparada a redes como o Instagram
ou o Facebook, ele é notório tanto pelo engajamento de seus membros, quanto pela sua
capacidade de criação de imagens e textos “virais” capazes de pautar o debate das outras
redes. E a análise qualitativa aqui empreendida dos conteúdos textuais, imagéticos e
audiovisuais dos dois citados perfis da plataforma, apresentou resultados curiosos.
Percebeu-se não apenas uma grande recorrência do uso dos termos, mas uma similaridade
do conteúdo das mensagens em que eles apareceram. Notou-se que as estratégias de
comunicação digital empregadas pelos dois perfis frequentemente apresentaram
representações e imaginários antissistêmicos. O processamento dos dados da análise foi
conduzido pelo programa IRAMUTEQ, que também foi utilizado para criar uma nuvem
de palavras e dois gráficos de similitudes, que sintetizaram os resultados da pesquisa.
Palavras-chave: Ativismo digital; Redes Sociais; Bolsonarismo.
Resumen: El presente artículo desarrolla un estudio comparativo de las publicaciones en
los perfiles oficiales de la red social X de los congresistas Nikolas Ferreira y Magno
Malta, que ocurrieron durante el mes de octubre de 2022 y que mencionan de forma
expresa los términos: dios; fe; iglesia; cristo; jesús; cristiano(s); oración; biblia. El análisis
tuvo como objetivo comprender cómo las temáticas y representaciones religiosas fueron
usadas durante la campaña electoral de la segunda vuelta de ese año en las redes sociales
por activistas ultraconservadores. Cabe destacar que la elección de X como fuente de
datos no fue al azar. A pesar de ser poco usada en Brasil en comparación con redes como
Instagram o Facebook, es notoria tanto por el compromiso de sus miembros como por su
capacidad de crear imágenes y textos "virales" capaces de pautar el debate en otras redes.
El análisis cualitativo aquí emprendido de los contenidos textuales, imagéticos y
audiovisuales de los dos perfiles mencionados en la plataforma, presentó resultados
curiosos. Se observó no solo una alta recurrencia del uso de los términos, sino también
una similitud en el contenido de los mensajes en los que aparecieron. Se notó que las
estrategias de comunicación digital empleadas por los dos perfiles frecuentemente
presentaron representaciones e imaginarios antisistémicos. El procesamiento de los datos
del análisis se llevó a cabo con el programa IRAMUTEQ, que también se utilizó para
crear una nube de palabras y dos gráficos de similitudes, que sintetizaron los resultados
de la investigación.
Palabras Clave: Activismo digital; Redes Sociales; Bolsonarismo.
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Abstract: This article develops a comparative study of the publications on the official X
social network profiles of congressmen Nikolas Ferreira and Magno Malta, which
occurred during October 2022 and expressly mention the terms: God; faith; church;
Christ; Jesus; Christian(s); prayer; Bible. The analysis aimed to understand how religious
themes and representations were used during the second-round campaign of that year's
election on social media by ultra-conservative activists. It is noteworthy that the choice
of X as a data source was not accidental. Despite being less used in Brazil compared to
networks like Instagram or Facebook, it is notorious both for the engagement of its
members and its ability to create "viral" images and texts capable of shaping the debate
on other networks. The qualitative analysis conducted here of the textual, imagistic, and
audiovisual contents of the two mentioned profiles on the platform presented curious
results. It was observed not only a high recurrence of the use of the terms but also a
similarity in the content of the messages in which they appeared. It was noted that the
digital communication strategies employed by the two profiles often presented anti-
system representations and imaginaries. The data processing for the analysis was
conducted using the IRAMUTEQ program, which was also used to create a word cloud
and two similarity graphs, which synthesized the research results.
Keywords: Digital Activism; Social Networks; Bolsonarism.
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1. INTRODUÇÃO
Um dos mais notórios e populares bordões eleitorais, entre políticos de viés
conservador no cenário eleitoral de 2022, tornou-se a frase “Deus, pátria, família e
liberdade”. Slogan muito próximo ao mote eleitoral conservador das eleições de 2018:
Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”. Palavras de ordem que, durante os dois
processos eleitorais foram onipresentes em materiais de campanha nas redes sociais tanto
para os apoiadores quanto críticos dos políticos que tomaram para si o bordão.
Para além das problemáticas referências ao integralismo e outras vertentes do
fascismo presentes nos dois bordões e apontadas por autores como Cavalcanti et al (2022,
p. 59); Carvalho e Paiva (2022, p. 219-220); Almeida (2022, p. 365-366), as duas frases
sintetizam um elemento essencial para o conjunto de movimentos e pensamentos políticos
populistas e reacionários que atualmente chamamos de bolsonarismo.
Elas resgatam a ideia de um apelo ao divino. Apelo, que embora seja atravessado
pelo salvacionismo religioso, também resgata algo que Berlin (1968) chamou, ao
sintetizar o pensamento de Donald Macrae sobre os elementos constitutivos do
populismo, de “sonhos apocalípticos” (no original: “apocalyptic dreams”) (Berlin, 1968,
p.172). Ideias de redenção e ruptura social com uma ordem supostamente doente, que
partiriam de figuras messiânicas.
Sonho apocalíptico que não só é potencializado pela guerra por sentidos e
significados presente nas redes sociais, mas que também ganha sentidos religiosos, a
partir da dicotomia profano/sagrado desenvolvida pela fusão, como notado por Salles et
al (2024, p.44); Lopes e Fulaneti (2022, p. 123), de aspectos religiosos e políticos no
discurso bolsonarista. Embora a junção de elementos religiosos e políticos dentro de
movimentos reacionários não seja nova ou sequer restrita ao cenário nacional ela
representa, como notado por Silva et al (2023, p. 60); Gracino Júnior et al (2021, p. 571),
uma tendência cada vez mais consolidada para os futuros certames eleitorais.
Um emergente padrão cujo estudo e compreensão de suas causas, efeitos e
desdobramentos têm se tornado cada vez mais tema de trabalhos e estudos na área da
sociologia e da ciência política, interseção na qual a discussão do presente artigo se
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localiza. De forma mais minuciosa, é possível se dizer que o texto se vincula ao mesmo
debate de trabalhos como os de Maly (2019), Cesarino (2020) e Salles et al (2022), que
se debruçam sobre a análise do comportamento e ativismo político de agentes políticos
de perfil reacionário e tradicionalista nas redes sociais.
Tendo isso em conta, o objetivo da pesquisa é compreender como elementos e
representações de cunho religioso foram instrumentalizadas pelo discurso de líderes
bolsonaristas nas redes sociais. Para esse fim, o artigo desenvolveu, com auxílio da
ferramenta de processamento de dados IRAMUTEQ, um estudo comparativo dos
conteúdos textuais, imagéticos e audiovisuais publicados pelos perfis oficiais no X do
deputado federal Nikolas Ferreira e do senador Magno Malta durante o segundo turno das
eleições de 2022, que mencionassem de forma expressa oito palavras-chave: “deus”, “fé”,
“igreja”, “cristo”, “jesus”, “cristão”, “oração” e “bíblia”.
Quanto à argumentação do presente texto, essa foi divida em três tópicos
diferentes. O primeiro apresentará a metodologia, as ferramentas de análise e técnicas
utilizadas durante o estudo, e algumas questões e desafios enfrentados na construção da
presente pesquisa. Já o segundo tópico realizará uma breve revisão de literatura, para
delinear e apontar os principais conceitos utilizados na análise. O último tópico, por fim,
que compreende a maior parte do artigo, se entregará a uma detida análise dos resultados
do presente estudo quanto as publicações selecionadas nos perfis do X, dos dois
parlamentares elencados como nosso objeto de pesquisa.
2. CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS
O artigo se utilizou dos mecanismos de busca disponíveis na própria plataforma
do X, para desenvolver seu levantamento de dados no perfil @nikolas_dm do deputado
federal por Minas Gerais e membro do Partido Liberal (PL) Nikolas Ferreira, e no perfil
@MagnoMalta do senador pelo Espírito Santo e também membro do PL Magno Malta.
A escolha do X se deu por causa da importância contemporânea da plataforma na
formação do discurso público nacional e global. A despeito dele não figurar entre as redes
sociais mais usadas no Brasil, perdendo em número de usuários para redes como o
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WhatsApp e o Instagram1, ele tem se tornado nos últimos anos um dos principais meios
de comunicação oficial da parcela conservadora dos políticos brasileiros (Santos et al,
2020, p 79; Furlani e Mitozo, 2024, p.161). Uma das causas do fenômeno pode ser
explicada, como notado por Furlani e Mitozo (2024, p. 162), pela falta de filtros e
mediadores na plataforma. Ausência que permite uma comunicação direta entre os
agentes políticos e suas bases de apoio, privilegiando um padrão de relações políticas
populistas e a construção de campanhas eleitorais permanentes2.
Já a decisão quanto aos dois parlamentares cujos perfis estarão em análise, ocorreu
por três fatores. O primeiro consiste no elevado número de seguidores que ambos os
agentes políticos possuem na plataforma. Nikolas Ferreira, por exemplo, possui
atualmente 3,9 milhões de seguidores em seu perfil oficial, Já Magno Malta possui 1,3
milhões. Considerando que o número total de perfis no X brasileiro é de apenas 22,13
milhões (Kemp, 2024)3, torna-se evidente o peso que os discursos e ativismo digital dos
dois agentes políticos possuem na rede social. A segunda motivação por trás da escolha
reside no fato de que eles possuem um perfil político próximo. Ambos atuam no
legislativo federal, são membros da Frente Parlamentar Evangélica e construíram
1 Kemp (2024), nota que 76,6% dos 187,9 milhões de usuários de internet no Brasil usaram alguma rede
social durante o início de 2024, número que representa 78% da população total maior de 18 anos. As redes
com maior número de usuários registrado no país são respectivamente: WhatsApp; Instagram; Facebook;
Tiktok; Facebook Messenger; Telegram; Pinterest; Kuaishou; X. Ainda conforme dados do autor, enquanto
as três primeiras redes possuem números de usuários que superam a marca de cem milhões, o X possui
apenas 22,13 milhões de usuários no Brasil.
2 “Jair Bolsonaro não seguiu receita diferente: adotou as redes sociais como seu principal meio de
comunicação com o eleitorado, de construção de sua imagem pública, e, ainda, como meio para
descredibilizar e deslegitimar, em tom combativo, a mídia que lhe era crítica. A estratégia de difusão de
propaganda via redes sociais em busca de angariar e fidelizar apoio popular sob o discurso de estar em
contato com o povo, em uma suposta relação direta entre representantes e representados, deixa de ser apenas
estratégia eleitoral para se tornar prática de governo. Jair Bolsonaro, assim como Donald Trump, passaram
então a utilizar o Twitter como meio oficial de comunicação do governo. O que antes pertencia apenas ao
âmbito da comunicação político-eleitoral “passa à esfera da comunicação pública” (Mitozo; Costa;
Rodrigues, 2020, p. 165), de forma que a campanha se torna, de tal modo, permanente. (FurlanI e Mitozo,
2024, p.162).
3A despeito de estimar o número de usuários do X em 22,13 milhões, Kemp (2024) aponta a importância
em diferenciar esse dado do número de usuários efetivamente ativos na plataforma. Métrica que ele nota
poder variar de forma considerável de um mês para o outro. Junte-se a esse fato que a idade mínima para
criação de perfis da plataforma é de apenas 13 anos, e a plataforma não diferencia na construção do número
de sua base de usuários os perfis criados por pessoas físicas daqueles criados por empresas, coletividades,
personagens fictícios etc. Considerando ainda, como notado por Sampaio (2024) e Taylor (2023), que perfis
controlados por bots são comuns na plataforma, particularmente durante processos eleitorais, é razoável
acreditar que o tamanho real da base de usuários ativa do X constituída de indivíduos brasileiros adultos e
com direitos políticos tende a ser consideravelmente menor que o número total de usuários declarados.
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imagens políticas fortemente ligadas a temáticas religiosas e morais. O terceiro motivo,
por fim, se relaciona à atividade política dos dois durante o período de recorte. Tanto
Nikolas Ferreira quanto Magno Malta durante o mês de outubro de 2022, não só haviam
recentemente sido eleitos para o legislativo, mas estavam participando ativamente da
campanha presidencial daquele ano.
Estabelecidas as razões da escolha da plataforma e dos perfis, resta enfrentar um
dos principais problemas metodológicos decorrentes dessas escolhas. A curadoria
realizada pelo próprio X, dos resultados disponibilizados pelo recurso de pesquisa
avançada disponível na rede social. Algo, inclusive, que se constitui em um dos vários
problemas para pesquisas acadêmicas realizadas na plataforma desde a sua compra por
Elon Musk em outubro de 2022, e que tem tornado a rede cada vez mais hostil ao seu uso
como campo nas mais variadas pesquisas científicas4.
Voltando ao tema, ao invés de expor todos os resultados disponíveis dentro dos
requisitos de busca, o algoritmo do X apresenta apenas um recorte do conjunto total de
publicações como é notado em artigo disponível no próprio site da plataforma para
resolução de problemas, o X help. A seleção de resultados é realizada a partir de políticas
e decisões internas da rede social que não são reveladas ao público. É ainda importante
de se notar, que o mecanismo de busca da plataforma disponibiliza resultados diferentes
de acordo com os períodos de início e fim estabelecidos para a busca. Muitas vezes,
inclusive, apresentando um montante de resultados inversamente proporcional ao
tamanho do período em que foi realizada a busca.
Não havendo a possibilidade de escapar desses filtros de pesquisa internos ao X,
tentou-se minorar es se problema compartimentando ao meio o recorte temporal durante
a coleta inicial dos dados, e realizando múltiplas buscas com os mesmos critérios de
pesquisa em dias e horários diferentes durante os dias do mês de junho de 2024. A partir
do que foi mencionado, o levantamento de dados se concretizou em duas frentes, uma
4 Como notado por Mozelli (2023) e Walker (2024), antes do Twitter assumir o nome de X sob a liderança
de Elon Musk, a plataforma era um espaço bastante aberto ao desenvolvimento de pesquisas, inclusive
fornecendo de forma gratuita uma API que permitia aos usuários consultar e baixar uma variedade de tweets
conforme os níveis de acesso. Contudo, desde março de 2023 a empresa revogou o acesso gratuito ao
recurso, estabelecendo um regime de acesso pago ao seu API, inviabilizando grande parte das pesquisas
que usavam a plataforma para desenvolver suas pesquisas de campo.
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primeira coleta mais específica de dados textuais, e uma segunda coleta mais abrangente
com a intenção de abranger elementos imagéticos e audiovisuais que tivessem
eventualmente escapado da busca textual.
Na primeira, realizou-se uma coleta de dados na plataforma a partir das palavras-
chave: “deus”, “fé”, “igreja”, “cristo”, “jesus”, “cristão”, “oração” e “bíblia”. Categorias
que foram construídas organicamente durante as fases preliminares de levantamento e
interação com o corpus da análise. Ainda em uma breve explicação quanto à escolha dos
termos citados, é importante notar que esse texto faz parte de uma pesquisa de mestrado
atualmente em andamento, sobre as estratégias comunicacionais usadas por ativistas
antigênero ultraconservadores desde o início do certame eleitoral de 2022 até os ataques
de 08 de janeiro de 2023. A percepção quanto à recorrência das oito palavras-chave na
comunicação das redes sociais de Nikolas Ferreira, Magno Malta e outros ativistas
antigênero não só no mês de outubro, mas durante todo o período eleitoral de 2022,
motivou a criação desse breve estudo e a escolha do citado conjunto de termos para
levantar seu corpus textual.
Mas voltando à discussão, em uma segunda frente do levantamento não se usou
as palavras-chave, uma vez que os mecanismos de busca do X não são capazes de
selecionar resultados que apareçam através de imagens ou no interior de vídeos. A partir
dos resultados do segundo levantamento se realizou uma coleta manual das imagens e
vídeos que contivessem os 08 termos já citados. A partir da transcrição do material
audiovisual, se constituiu dois grupos diferentes para análise, um textual e um formado
por imagens.
A partir de todo o material levantado e classificado, partiu-se para a fase de
processamento dos dados. Etapa onde se utilizou o auxílio do software IRAMUTEQ (em
francês, Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles de Textes et de
Questionnaires) para análise do corpus textual, que abrangia as transcrições, o conteúdo
das publicações escritas, e as legendas das publicações de imagens e vídeos. O
IRAMUTEQ é um programa de acesso gratuito que permite análises textuais através de
ferramentas estatísticas podendo, inclusive, criar imagens e interfaces capazes de
sintetizar conjuntos de dados, facilitando sua interpretação.
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Utilizando o citado recurso digital, procedeu-se com a classificação e
levantamento de padrões no uso de palavras dentro do corpus (processo conhecido como
lexicografia) e a produção não só de uma tabela contendo os resultados, mas também de
três imagens sintetizando esses dados. A primeira delas se constituindo de uma nuvem de
palavras, que apontava a partir do tamanho e centralidade de cada palavra no espaço a
frequência com a qual ela foi usada dentro das várias publicações nos dois perfis do X. Já
as duas seguintes foram árvores de similitude, que apresentaram de forma gráfica a
concorrência dos termos, assim como seus padrões de conexão interna.
Usando todos esses recursos, se passou para uma análise comparativa de cunho
qualitativo, tanto dos padrões observados nos dados estatísticos condensados pelo
IRAMUTEQ quanto daqueles percebidos a partir da observação e interpretação dos textos
e dos segmentos de texto. Nessa última etapa, também se buscou compreender as relações
entre os padrões estabelecidos entre as imagens publicadas e os elementos visuais
presentes no material audiovisual transcrito, com os padrões visualizados nos textos
escritos.
Passando para a próxima sessão do texto, vejamos como a literatura da área
articula os conceitos utilizados nesta análise.
3. UMA BREVE REVISÃO DE LITERATURA
Um ponto de partida essencial para a presente análise é a delimitação quanto ao
que é o bolsonarismo. Um elemento da realidade social brasileira contemporânea que,
apesar de ter se tornado onipresente nas mais variadas esferas do discurso social e político,
possui uma definição difícil, dada sua complexidade. Lynch e Cassimiro (2022, p. 66-
67), por exemplo, apontariam o bolsonarismo como uma manifestação radical do
populismo reacionário de direita. Rocha (2023, p. 149), por sua vez, definiria o fenômeno
como um movimento político de massas, fundamentalista e de viés autoritário, fundado
na capitalização política de dissensos sociais, e na promoção de perspectivas de mundo
dicotômicas e agonísticas.
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Já para Cesarino (2022b, p. 164) que parte de uma perspectiva cibernética5, o
bolsonarismo seria menos uma questão de conteúdo e mais um conjunto de práticas e
estratégias de mobilização tecnopolíticas. Nas palavras da autora, “uma dinâmica
sociotécnica de mobilização contínua e performativa de demandas latentes, num fluxo de
causalidade circular entre influenciadores e influenciados orientado por métricas em
tempo real” (Cesarino, 2022b, p.164).
Essa última percepção é bastante interessante para o presente texto, uma vez que
aponta o papel essencial que as redes sociais possuem para a própria existência do
movimento. Não só ele, inclusive, mas também de outras manifestações recentes do
pensamento político conservador pelo mundo. Algo sobre o que Da Empoli (2019)
discorre longamente, ao falar sobre a natureza virtual do trumpismo, do movimento Cinco
Estrelas italiano e de outras manifestações do ultraconservadorismo global.
Obviamente, não se fala aqui que os elementos populistas e reacionários do
bolsonarismo não sejam fundamentais para compreender não apenas ele, mas também
suas origens e desdobramentos futuros. Apontar-se-á mais a frente, inclusive, que existe
uma relação indissociável entre forma e conteúdo nesse quesito. Contudo, é necessário
perceber que para além de questões de ideologia e de agendas de conjuntura, o
bolsonarismo e outros conjuntos de pensamento político de extrema-direita que surgiram
nos últimos anos, são fenômenos políticos que não poderiam existir sem a dimensão
performativa das redes sociais.
E, por performance se toma aqui um sentido próximo ao dado por Buttler (2021),
que entende pelo termo a ideia de que atos verbais e não verbais não são só mensageiros
de sentidos que comunicam mensagens pré-existentes. Muito mais do que isso, o ato de
falar, agir e se comportar de certas maneiras cria e reforça normas e identidades sociais.
“Ser chamado não é meramente ser reconhecido pelo que já se é, mas sim ter a concessão
5 Por cibernética, Cesarino (2022a; 2022b) não se restringe a compreensão vulgar do termo. Para a autora,
a cibernética é uma interpretação de sistemas (esses compreendidos como elementos conjunturais e únicos
a uma determinada realidade e contexto histórico) de forma não linear, mas como “padrões de coemergência
de agências em um mesmo campo dinâmico de complexidade regidos por causalidades recursivas”
(Cesarino, 2022a, p. 30).
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do próprio termo pelo qual o reconhecimento da existência se torna possível” (Buttler,
2021, p. 18).
O bolsonarismo, e outros movimentos de caráter ultraconservador que se
floresceram na ecologia das redes, apesar de cada vez mais se tornarem capazes de moldar
políticas públicas e ter impactos perenes no mundo real, possuem uma dimensão
essencialmente performativa e digital. Isso, porque grande parte da identidade do
bolsonarismo, de como ele é visto externamente e mesmo entendido internamente, se
constrói continuamente a partir do ativismo político ultraconservador que tomou as redes.
Como notado por Maly (2019, p. 7); Cesarino (2022b, p. 150), a nova extrema-direita do
século XXI, existe e se comunica a partir dos parâmetros e ecologia das plataformas. Um
ativista político de sucesso na extrema-direita contemporânea se tornou alguém capaz de
lidar e se adaptar ao dinâmico funcionamento das plataformas6, alocando grandes espaços
da atenção social de apoiadores e opositores no concorrido mercado do entretenimento
das plataformas, através de mensagens de alta toxicidade.
E é importante notar, que o caráter tóxico do discurso digital do bolsonarismo (e
de outros movimentos de extrema-direita), não são acidentais ou meros resultados do
caráter destrutivo e violento desses conjuntos de formas de pensar o político. Sequer são
apenas resultados do design das redes sociais que, como notado por Rocha (2023, p. 156);
Da Empoli (2019); Cesarino (2022b, p.18); Maly (2019, p.7); privilegiam grupos
políticos conservadores7.
6“Setting up successful socio-technical activism, means that one should understand the contemporary media
ecologies. Within these ecologies popularity is a coded and quantified concept and as such it is manipulable
(van Dijck, 2013, p. 13). It is this digital notion of popularity that opens a whole new domain of digital
activism. I (Maly, 2018a) called this algorithmic activism: “algorithmic activists use (theoretical or
practical) knowledge about the relative weight certain signals have within the proceduralized choices the
algorithms of the media platforms make as proxies of human judgment, in relation to the goals of the
medium itself” (Maly, 2018a). This type of activism presupposes that activists not only subscribe to the
message they interact with, but also understand the affordances and the algorithmic construction of the
medium. That they understand how interactionaccording to the popularity principlegenerates visibility.
As we shall see, the New Right activists of Schild & Vrienden use this knowledge about platforms and
algorithms in service of its metapolitical strategy. Metapolitics 2.0 inevitably has an important “algorithmic
activist” dimension”. (Maly, 2019, p. 7)
7 E muitas vezes não é meramente design, mas uma intervenção direta das Big Techs sobre a política interna
dos países. Quanto a esse tema, é particularmente interessante ler o artigo de Mac et al (2024), publicado
em 12 de maio no New York Times, em que os jornalistas apontam que Elon Musk teria instrumentalizado
o X politicamente contra governos de várias nações do globo, com a intenção de favorecer interesses
corporativos.
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A toxicidade é aqui entendida como uma espécie de estratégia de hegemonia
discursiva que se baseia na legitimação e reprodução de discursos violentos e agressivos,
com grande capacidade de engajamento e replicabilidade, com a intenção de deslegitimar
e combater o surgimento de discursos contrários (Recuero, 2024, p.6). Apropriando-se
aqui de uma imagem popular que sintetiza o conceito, por toxicidade podemos
compreender, basicamente, “envenenar o poço” do debate.
A toxicidade é uma característica inerente aos discursos mediados que
é diretamente influenciado pela estrutura das plataformas e sua
apropriação pela sociedade. Embora a maioria das tentativas de definir
toxicidade visam qualificar esses discursos, eles muitas vezes ignoram
uma dimensão essencial da violência discursiva que ocorre através de
plataformas: até que ponto se espalha e se espalha contamina outros
discursos. Portanto, a toxicidade representa o grau em que um
determinado discurso pode se espalhar e negar influenciar ativamente
outros discursos, um potencial amplificado pela infra-estrutura técnica
das plataformas. Esta dimensão é crucial fundamental para a
compreensão das ações e do discurso facilitados por plataformas de
mídia social (Recuero, 2024, p.5).
O bolsonarismo, portanto, performa nas redes sua identidade e sua tendência (que
percola constantemente para o mundo real) de negar e aniquilar, mesmo que seja apenas
na seara discursiva, o outro, o desviante, o indesejável. Contudo, essa toxicidade
discursiva contra grupos específicos não parte de bases inéditas. O bolsonarismo, assim
como outros movimentos ultraconservadores, capitaliza conflitos subjacentes ao tecido
social. E nesse ponto, discorda-se aqui de Lynch e Cassimiro (2022, p. 155) que acabam
por não reconhecer o caráter sistêmico presente na violência discursiva bolsonarista,
estabelecendo um conjunto de explicações para a ascensão dessa forma política, que
perpassa muito mais pela cúpula do poder do que pela sua base.
É essencial que se perceba que a retórica agressiva dos bolsonaristas, recheada de
figuras violentas e palavras de ordem denotando ruptura, é tecida com a intenção de
angariar o apoio daqueles que detém poder real ou que se ressentem por não concretizar
suas expectativas sociais de poder. E esse último grupo, o dos ressentidos, é central para
compreender a retórica do bolsonarismo nas redes sociais. “O ressentido se aferra à ideia
de ser alguém que foi destituído de seu lugar de direito; por essa razão, se identifica com
a condição de vítima. (…)” (Starling, 2022, p. 95). Existe uma fragilidade paradoxal nas
representações de força e poder bolsonaristas. Todo o poder, dentro dessas lógicas, é
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estabelecido dentro de uma relação de impotência, em que o primeiro reside no todo ou
em parte no futuro, e o segundo está sempre no presente.
Exatamente por causa dessas imagens de impotência presente, desse
ressentimento pela não concretização livre das realidades e potências de subordinação e
opressão do outro que existem dentro das relações de poder tradicionais, que a retórica
do movimento é tão visceral em suas expectativas de futuro. Como notado por Lago
(2022, p 47), a mudança prometida pelo populismo reacionário, é fundamentalmente uma
promessa de gozo nostálgico do poder. Um gozo que atravessa desde as elites até àqueles
cujo poder é meramente circunstancial, e que se baseia em estruturas de dominação e
subordinação históricas.
O discurso do Bolsonaro é direcionado a todo aquele que tem poder,
ainda que seja um poder dentro de uma situação subalternizada. É o
dono da birosca que tem poder sobre o garçom, o pastor de porta de
garagem sobre seu fiel, o marido que deseja submeter sua espoas, o
guarda da esquina que tem poder sobre os transeuntes, o motorista que
tem poder sobre os pedestres e ciclistas, o cafetão que tem poder sobre
a prostituta, entre tantos outros. Bolsonaro assobia para quem tem poder
e sua mensagem é clara: não tenha medo de exer-lo. Não haverá
limites para a realização de qualquer impulso, desde que circunscrito
nessa microrrelação. O trabalhador se sentirá autorizado a descontar no
corpo de sua esposa toda a opressão vivida na cidade, o garimpeiro, a
desmatar sem se preocupar em ser pego, o motorista, a desrespeitar as
regras de trânsito impunemente, o homofóbico, a espancar uma pessoa
por sua orientação sexual. A senhora de classe média que não deseje
pagar hora extra para a empregada doméstica se achará legitimada a
fazê-lo. O discurso bolsonarista é feito visando essa fronteira entre o
indivíduo e as construções sociais que limitam os seus micropoderes no
dia a dia (...) (Lago, 2022, p. 47).
E é esse esforço não apenas pela manutenção, mas pelo recrudescimento das
estruturas de dominação que atravessa a religiosidade dentro da retórica bolsonarista.
Aqui, os elementos e representações religiosas são vistos não a partir de um ponto de vista
espiritual, mas como instrumentos de legitimação do poder. Inclusive, é por esse exato
motivo que o uso da dicotomia sagrado/profano dentro da comunicação do bolsonarismo,
confunde-se com a dicotomia direita/esquerda.
Torna-se importante, diante disso, perceber que o bolsonarismo como um
movimento populista e reacionário, não pode ser definido conceitualmente como um
movimento fundamentalista religioso. E, por fundamentalismo religioso o presente texto
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se utiliza de uma definição próxima à de Ruthven (2007, p. 5-6), para qual o termo
referencia os movimentos sociais e políticos que, a partir de valores religiosos, assumem
posições antagonísticas à secularização e a certos valores e elementos sociais que são
associados à “modernidade”. Não, o bolsonarismo é um movimento tradicionalista.
Tradicionalismo que pode ser classificado como o conjunto de crenças e valores
que se oporia de forma radical aos valores e pensamento modernos, em prol das estruturas
sociais e de organização social de um passado histórico idealizado (Teitelbaum, 2020,
n.p). Ao contrário do fundamentalismo religioso que é marcado por uma negação seletiva
da modernidade, o tradicionalismo negaria a realidade moderna como um todo. E essa
negação é essencial à identidade do bolsonarismo.
Porque esteja no poder, ou fora dele, o principal esforço do discurso bolsonarista
é negar a realidade presente. Uma negação que se constrói, particularmente, a partir da
própria negação do diálogo nos locais de formação de consenso. Momento em que a
performance e toxicidade se confundem no ativismo político. Seja no perfil em algumas
das inúmeras plataformas que compõem as mídias sociais, seja no parlamento ou em
qualquer outro lugar de livre discurso, o silenciamento do outro passa a ser uma
prioridade. Um apagamento discursivo, que perpassa pela deslegitimação do outro através
do discurso.
Quando os perfis @nikolas_dm e @MagnoMalta no X performam suas
identidades políticas através de elementos e retóricas religiosas, suas mensagens
consistentemente apontam para rupturas radicais com a realidade presente. É possível
dizer que eles realizam algo que Lynch e Cassimiro (2022, p. 138) chamaram de
negacionismo estrutural. Uma negação do presente, através da construção de uma
realidade em que a dimensão política e social se constrói a partir de fronteiras
inegociáveis e conflitos que sempre operam em lógicas de tudo ou nada, próprias do
discurso religioso.
Contudo, dizer que os dois citados ativistas de extrema-direita sejam apenas
negacionistas é uma redução da realidade, mesmo que se diga que tal negacionismo opera
em nível estrutural. Mais do que a mera negação, parece à análise que eles se guiem por
agendas fundamentalmente antiestruturais. Conceito que é tomado emprestado de
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Cesarino (2022a, p.15); Cesarino (2022b, p. 167). Segundo a definição da autora,
"antiestrutural" são as dimensões da realidade atravessadas por antagonismos essenciais
em relação aos valores e instituições dominantes.
Esses perfis, portanto, buscam uma ruptura abrupta com o presente em prol de um
futuro ideal que, de maneira anacrônica, também espelha o passado. Contudo, a utopia
final do bolsonarismo nunca é percebida como uma realidade próxima, porque ela existe
apenas em ideal. A crise, dentro do bolsonarismo é uma necessidade existencial. Não é à
toa que a expressão “tem que mudar tudo isso que tá ai, tá okay?”, tornou-se uma
referência ao bolsonarismo desde sua campanha de 2018. Ela expressa de forma curta
uma síntese de todo o espírito do ideário do bolsonarismo, que se fundamenta na
percepção pela necessidade de uma mudança cujo objeto é sempre vago e totalizante.
Considerando que já foi estabelecido o instrumental teórico da presente análise,
seguimos para o detalhamento de nossos resultados.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Durante o mês de outubro de 2024, o perfil @nikolas_dm publicou 325
publicações, das quais 27 continham os termos selecionados pela pesquisa. Já o perfil
@MagnoMalta foi menos comunicativo durante o período, publicando apenas 15
mensagens durante os 31 dias daquele mês. Dessas mensagens, apenas 05 continham ou
referenciavam algum dos 08 termos escolhidos. Reunido todas as publicações dos dois
perfis que continham os termos selecionados para compor o corpus textual, o
IRAMUTEQ dividiu o texto em 48 segmentos de texto (ST) com um aproveitamento de
66,30%. Foram encontrados o total de 1768 ocorrências (palavras), formadas por 632
termos distintos.
Na imagem abaixo, expõem-se uma ilustração que sintetiza a frequência das
ocorrências nas publicações dos dois perfis durante o mês de outubro, através de uma
nuvem de palavras. É importante esclarecer, que nuvens de palavras (também conhecidas
como nuvens de tags ou wordclounds) são resumos visuais onde cada um dos termos que
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compõem a imagem tem seu tamanho diretamente proporcional à sua frequência em um
texto, corpus ou conjunto de dados. Como pode ser notado ao se observar a imagem, os
três termos mais recorrentes nas citações de outubro de 2022, foram “estar”, “deus” e
“não”.
A frequência dos três citados termos não é ao acaso. Tampouco o fato de que o
termo mais recorrente em todas as publicações do período, o verbo “estar”, denotar uma
posição temporal ou espacial de natureza transitória e que o segundo termo mais
recorrente, o advérbio “não”, expressa uma recusa, uma negativa.
Figura 1. Nuvem de palavras dos discursos com elementos religiosos dos
perfis @nikolas_dm e @MagnoMalta do X, publicados durante o mês de 2022.
Fonte: resultados originais da pesquisa.
Como já foi desenvolvido na seção anterior do texto, a identidade política do
bolsonarismo é baseada na criação de um dissenso essencial. No estabelecimento de uma
diferença irreconciliável e incontornável, em uma luta cujo único resultado natural é a
completa aniquilação do outro. Constituindo-se em um movimento de cunho reacionário
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e tradicionalista, a negação do presente em favor de um ideal de mundo que seguiria e se
restringiria a imaginários de passado, é uma regra.
Portanto, dentro de um fenômeno político que tenta a todo tempo voltar os
ponteiros do relógio, termos que denotam recusa e negação são constantes na linguagem
cotidiana das redes bolsonaristas. Assim como palavras que sugerem temporalidades
onde a mudança é possível, senão mesmo iminente. O presente nessa retórica é um lugar
de mudança, um terreno de luta contínua, uma vez que os sentidos e representações
bolsonaristas atuam sempre em na direção da negação contínua das bases do real.
Já o terceiro termo mais citado no texto “deus”, resgata uma tendência natural de
movimentos antissistêmicos, que é a mobilização social a partir de bases de sentido
individuais. Starling (2022, p. 76) e Cesarino (2022a, p.158) apontam como em ambientes
onde os indivíduos estão atomizados, em que as instituições e outros meios de mediação
coletiva são vistos com desconfiança, existe um retorno a imaginários ligados à
religiosidade e à família. Além disso, como já foi citado na seção anterior do texto, termos
com sentido mais amplo como é o presente caso, são também instrumentalizados como
ferramentas de mobilização. Na lógica fractal das redes sociais cada sujeito é capaz de
customizar os sentidos dos pacotes de mensagens que recebe, embora sempre
estabelecendo uma referência comum direcionada a um sentido político (Cesarino, 2022a,
p. 164).
Nesse ponto, é interessante observarmos como essas três palavras se relacionaram
na construção de sentidos dentro de seus contextos textuais. Com essa intenção, a seguir
se passará para a análise dos gráficos de similitudes que foram produzidos a partir do uso
da ferramenta IRAMUTEQ. Essa forma de representação gráfica é útil para identificar e
visualizar padrões e conexões temáticas em textos. Cada nodo (grupo de palavras
similares), representa um objeto, e as arestas (linhas que conectam os nodos) indicam o
grau de similaridade entre os objetos conectados. Em outras palavras, ele mostra como as
palavras ou termos estão relacionados tematicamente entre si com base em suas
ocorrências.
É importante apontar, que a figura 3, mostrará uma versão do gráfico da figura 2,
com as comunidades lexicais separadas por cores diferentes. A intenção de expor os dois
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gráficos juntos, foi permitir uma melhor visualização das relações internas dos termos
entre os diferentes ST, permitindo que os eventuais leitores possam também traçar suas
próprias interpretações através da figura 2, sem correrem o risco de serem induzidos pelas
demarcações realizadas na figura 3.
Figura 2. Gráfico de similitudes do corpus contendo os discursos dos perfis
@nikolas_dm e @MagnoMalta no X.
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Fonte: resultados originais da pesquisa.
Figura 3. Gráfico de similitudes entre os discursos dos perfis @nikolas_dm e
@MagnoMalta no X, destacando os grupos lexicais.
Fonte: resultados originais da pesquisa.
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Como pode ser notado pela observação dos gráficos acima, o nodo lexical mais
central em todo o conjunto de ST que compuseram o corpus da pesquisa, foi o adverbio
“não”. O que ressalta o citado caráter antiestrutural presente na retórica bolsonarista. Não
é gratuito que todos os outros ramos das comunidades lexicais do corpus se relacionam
em maior ou menor medida com esse termo no texto. Por causa de seu caráter reacionário
e tradicionalista, a retórica do bolsonarismo é construída a partir da negação do real, por
um desejo de destruição das presentes estruturas e modelos sociais de convívio. “A
destruição não é efeito colateral do reacionarismo, é o seu propósito” (Starling, 2022, p.
80). Algo que pode ser visto nos termos mais próximos do “não” no gráfico.
A proximidade de “Brasil” e “brasileiros” do da palavra “não”, por exemplo,
mostra como a identidade bolsonarista é construída a partir de lógicas de não
pertencimento. Como foi notado por Cesarino (2020, p.105); Lago (2022, p. 47-48); o
bolsonarismo construiu sua base eleitoral a partir de grupos que se sentiam deslocados
das gramáticas de reconhecimento. Como já foi explanado na seção anterior, o
ressentimento é uma das bases do bolsonarismo. Ressentimento que forjou uma
identidade baseada em definições vagas e, em maior parte, na definição daqueles que
estariam de fora dela. A identidade bolsonarista é, então, negativa uma vez que construída
a partir do recorte de tudo aquilo que ela não associa aos seus valores.
Já os termos “igreja”, “mídia”, “mentira”, “influenciar”, embora possam parecer
inicialmente uma seleção quase aleatória compõem, na verdade, o núcleo de boa parte do
discurso do bolsonarismo. É importante notar, que a comunicação bolsonarista, operando
frente ao colapso dos canais de mediação provocados pelas mídias sociais, funciona a
partir de lógicas radiais. Não existem cadeias de mediação, entre as lideranças e os
eleitores, com as mensagens sendo transmitidas diretamente dos centros de poder às
margens (Cesarino, 2020, p. 106; Cesarino, 2022a, p.156). Nessa ótica, os mediadores
tradicionais passam a ser vistos como manipuladores, como inclinados à falsificação de
suas mensagens. Em outra via, canais de comunicação não mediados como as igrejas, são
privilegiados. “A comunicação passa a ser personalíssima, e qualquer comunicação de
viés institucional passa a ser malvista.” (Cesarino, 2020, p. 106).
(...) As condições para esse tipo de eficácia eleitoral advêm de um
contexto mais amplo em que, cada vez mais, “o pessoal é político”. Mas
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também se relaciona a táticas inteligentes, como a fusão ou
aproximação da figura de Bolsonaro com outras, retiradas de campos
outrora privados como a religião e a indústria do entretenimento, que
cada vez mais orientam gramáticas de senso comum e moralidades
cotidianas: super-heróis, soldados, policiais, cruzados medievais, anjos,
Jesus, etc (Cesarino, 2022a, p. 152).
É ainda interessante, notar como o verbo “estar” se localiza em uma posição
intermediária entre a comunidade de termos referentes ao advérbio “não” e ao grupo do
verbo “querer”. Isso ocorre, porque o discurso do bolsonarismo depende e trabalha, com
temporalidades transitórias e não lineares. A realidade na ótica bolsonarista, existe
sempre em um estado de iminente piora. Uma deterioração que apenas pode ser resolvida
através da mudança, fazendo com que a conjugação entre o desejo e o medo sejam
constantes.
Pode-se ver isso, nos termos dos gráficos ao redor de “país”: “decidir”, “futuro”,
“viver” e “tudo”. Tais palavras demarcam sentidos de mudança e medo, que fogem
daqueles que geralmente são comuns aos discursos de campanha de outros certames
eleitorais. Existia uma forte tensão nos sentidos presentes nas mensagens, uma tensão que
partia de ideias envolvendo temporalidades transitórias e ideias de recusa. Algo,
inclusive, que fica evidente nos dois textos abaixo que foram transcritos de vídeos dos
perfis dos parlamentares em estudo.
O primeiro trecho foi transcrito do vídeo publicado pelo perfil @nikolas_dm no
dia 19 de outubro de 2022. Lugar em que o deputado federal Nikolas Ferreira discorre em
tom sério, ao som de uma música dramática e cenas de conflitos armados, sobre as
supostas consequências catastróficas que adviriam de um retorno do Partido dos
Trabalhadores ao país.
Estamos vivendo um dos momentos mais decisivos da história do nosso
país, de nosso povo, de nossas vidas. É chegada a hora de em que o
Brasil escolherá entre a liberdade e a escravidão, desenvolvimento ou
revolução caótica, o combate ao crime ou a idolatria de bandido, o
desenvolvimento ou a miséria, liberdade religiosa ou desrespeito a Deus
e a fé, defesa da família ou a morte de bebês inocentes e a destruição
das relações familiares. No próximo dia 30, o nosso futuro será
decidido. A decisão que tomaremos, certamente a mais importante de
nossas vidas, definirá se o país continuará no rumo do desenvolvimento
e da estabilidade ou se nos renderemos ao caos, corrupção, desordem e
miséria. Como aconteceu com todos os países que acreditaram na
esquerda? Se você é jovem, decidirá em qual país vai querer viver o seu
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futuro, numa terra de oportunidades em que seus sonhos podem ser
alcançados ou no lugar onde a única opção será implorar ao governo
que decida quem você será ou o que você terá. Se você é um pai ou
mãe, você vai decidir no apenas o seu futuro e o dos seus filhos, mas
também se a sua geração será aquela que venceu e transformou o Brasil
no país do futuro, com que você tanto sonhou ou seja aquela que
empregará o país de vez aos mesmos enganadores corruptos que quase
roubaram o seu futuro. Decidirá acima de tudo se os seus filhos viverão
em um país livre ou se viverão em escravidão do silêncio, impotente,
subjugados pelos donos do poder. Mas essa decisão não é apenas sua, é
de todos os brasileiros. Grande parte do nosso povo está cegado pelas
mentiras e narrativas criadas pela grande mídia. Ninguém decide com
mergulhar o seu país nas trevas de forma consciente. E a ameaça que
vivenciamos é, sobretudo, o fruto da derrota da verdade, silenciosa para
mentira.
Também é possível perceber a mesma mensagem, embora de forma menos
dramática, no vídeo publicado pelo perfil @MangnoMalta, na manhã do dia 30 de outubro
de 2022, data da eleição de segundo turno. Contudo, ao contrário do vídeo do perfil
@nikolas_dm de 19 de outubro, que possuía uma estética mais limpa e profissional, esse
possuía uma abordagem mais espontânea, parecendo ter sido gravado de forma
improvisada. Com um semblante abatido e do lado de uma bíblia, uma refeição simples
e um copo de café, o senador Magno Malta deixava claro a relevância do resultado das
eleições que iriam ocorrer naquele dia:
Terra adorada. Entre outras mil és tu Brasil, ó pátria amada. Tomando
aqui um cafezinho gente. “Inhazinho”. A palavra. Me preparando (sic)
para ir votar pelo meu país, pela minha pátria, pelos meus valores, por
tudo que eu já lutei até hoje. Pelo meu Brasil livre. Brasil dos
brasileiros. Vamos à rua ordeiramente exercer o nosso direito, dever,
democrático de votar e escolher o presidente do Brasil. Eu nem preciso
dizer quem é o meu presidente e quem é o meu governador. Deus
abençoe e que seja um dia de paz para todos nós.
Chegando ao fim de nossa análise, é particularmente notável como o substantivo
“deus”, se relacionou no texto não a termos como “senhor”, “Jesus” e “cristo”, como
ocorre na linguagem cotidiana. As associações mais próximas ao termo se consistiram de
verbos como “tirar”, “lutar” e “acreditar”. Isso ocorre, porque a utilização de elementos
religiosos dentro da retórica bolsonarista ocorre de forma estratégica. Para
antiestruturalistas, como podem ser classificados os dois perfis do X em estudo, símbolos
vagos como “deus”, “nação”, “povo”, “comunista”, “(anti) corrupção” são, antes de tudo,
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elementos de mobilização, que dentro das lógicas de sentido fluído das redes, permitem
a articulação de diferentes grupos operando a partir de bases de sentido diferentes
(Cesarino, 2022a, p. 164).
Algo que foi bastante visível durante a análise, uma vez que o uso de termos e
representações de fundo religioso nas publicações dos dois perfis ocorreu, em sua quase
totalidade, sempre a partir de dois objetivos diferentes, embora complementares. O
primeiro se constituiria em consolidar representações religiosas do antagonismo entre os
dois candidatos ao certame presidencial de 2022, baseando-se na construção da
dicotomia: sagrado/profano. Já o segundo, ainda usando a citada dualidade, ampliaria o
escopo simbólico do confronto eleitoral, criando a expectativa de que qualquer que fosse
o resultado da eleição, esse possuiria consequências e desdobramentos permanentes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente texto se dedicou a tentar compreender como temáticas e elementos
religiosos foram tratados e utilizados durante a campanha do segundo turno das eleições
de 2022. A partir de um levantamento direcionado por 8 palavras-chave, foram coletados
variados tipos de publicações nos perfis @nikolas_dm e @MagnoMalta. Material a partir
do qual foi realizada, com auxílio do software de processamento de dados textuais
IRAMUTEQ, uma análise comparativa qualitativa dos padrões de discurso e
representação utilizados pelos dois perfis durante os 31 dias do mês de outubro de 2022.
Percebeu-se que os termos de maior ocorrência durante o período de estudo pelos
dois perfis, denotaram o caráter antiestrutural e de alta toxicidade presente na retórica
bolsonarista. Algo que ficou patente frente ao fato de que os termos mais frequentes em
todo o conjunto de textos da análise foram palavras que denotavam não apenas ideias de
recusa, mas também de temporalidades transitórias.
Além disso, observou-se que as representações e imagens religiosas nos perfis
tinham um caráter performativo e instrumental. O bolsonarismo, longe de ser um
movimento fundamentalista religioso, mostra-se mais alinhado a uma vertente
tradicionalista e reacionária. Quando utiliza imagens apocalípticas de um "fim do
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mundo", isso ocorre de maneira performativa, sem estar vinculado a dogmas religiosos,
mas sim a uma percepção emocional de distanciamento da realidade presente e uma
idealização de sociedade e valores baseada numa idealização do passado.
Para concluir, esta análise não apenas lança luz sobre os discursos e estratégias
utilizadas durante a campanha eleitoral, mas também destaca como a utilização simbólica
e emotiva de elementos religiosos contribuiu para a construção de uma narrativa política
marcada por elementos tradicionalistas, reacionários e antiestruturais.
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NOTAS
Agradecimentos: Gostaria de agradecer o apoio e incentivo da Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais no desenvolvimento da minha pesquisa.
Financiamento: O programa de bolsas assistenciais da PUC Minas permite minha
permanência no Programa de Pós-Graduação, ao cobrir integralmente minha
mensalidade.
Comitê de ética em Pesquisa: Não se Aplica.
Contribuições dos autores: Não se aplica.
Disponibilidade de dados e material: A pesquisa se utilizou da ferramenta de
processamento de dados gratuita IRAMUTEQ e do conjunto de textos e materiais
audiovisuais transcritos publicados na plataforma X pelos perfis @MagnoMalta e
@nikolas_dm. Todos os materiais e dados, incluindo a ferramenta de processamento de
dados, possuem acesso livre e gratuito.
Conflitos de interesse: Não há conflitos de interesse pertinente a declarar.
Uso de Inteligência Artificial (IA): Sim. Utilizou-se a ferramenta de processamento de
dados IRAMUTEQ para criar imagens e interfaces a partir dos conjuntos de dados, não
só para aprimorar a interpretação dos dados da análise, mas também tornar o texto mais
acessível e interessante ao leitor. Versão: R 4.1.3 do IRAMUTEQ.
Publisher: Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP),
Faculdade de Filosofia e Ciências de Marília. Programa de Pós-Graduação Ciências
Sociais. Portal de Periódicos UNESP. As ideias expressadas neste artigo são de
responsabilidade de seus autores, não representando, necessariamente, a opinião dos
editores ou da universidade.
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Neste artigo, buscamos mapear os sites que compõem o ecossistema de mídia evangélica digital no Brasil e construir uma tipologia própria para analisá-lo. Apesar de suas diferenças internas, os evangélicos brasileiros formam uma importante força política, graças a esforços que já duram décadas. No entanto, pouco se estudou seu ecossistema na internet e seu papel na reprodução de posições políticas divisivas. Identificamos os sites evangélicos compartilhados por lideranças no Facebook entre abril e outubro de 2021, complementando a base de dados com outros sites previamente conhecidos e encontrados na plataforma. Avaliamos estes sites conforme a tipologia construída e apresentamos uma análise das narrativas políticas comumente sustentadas por eles. Demonstramos que estes sites frequentemente reforçam um imaginário permeado por uma guerra político-cultural travada contra os cristãos, cuja identidade é redesenhada pela ameaça de uma ampla perseguição e pela derrocada de seus valores.
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RESUMO: O artigo tem por objetivo discutir, sob uma perspectiva histórico-antropológica, as representações que, nos últimos tempos, têm perpassado o acionamento do lema "Deus, pátria e família" por uma parcela da população brasileira. Com base em conteúdos jornalísticos veiculados ao longo do ano de 2022, o intuito da discussão é pôr em relevo certos componentes da gramática moral conservadora que, em meio a uma das mais acirradas polarizações político-ideológicas da história, confere a uma disputa eleitoral os contornos de uma batalha espiritual ou, ainda, de uma guerra do Bem contra o Mal.
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Neste trabalho, tomando-se a Análise do Discurso como um campo de saber ancorado no materialismo histórico, intenta-se desvelar as contradições do discurso religioso, mormente o do neopentecostalismo, como uma das expressões do discurso do capital na sociedade brasileira. A discussão aqui proposta se volta às possibilidades produtivas (ou parafrásticas) e/ou criativas (ou polissêmicas) dos efeitos de sentido do discurso fascista no Brasil. Tal discurso se assenta sobre elementos da religiosidade postos em circulação desde a Ação Integralista Brasileira (AIB), em 1930. Sustenta-se que elementos interdiscursivos deste movimento fascista são resgatados na contemporaneidade, o que demonstra uma tensão entre passado e presente, entre o já-dito, o reformulado e o ressignificado na atualidade.
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This essay approaches Bolsonarism as a socio-technical phenomenon, characterized by circular performative mobilization of latent demands guided by realtime metrics. From this perspective, agency and decision-making do not belong to specific actors, but are emergent properties of the global socio-technical system. I suggest that the multiple segments that resonate together to form Bolsonarism share a common cybernetic dynamic, characterized by antistructural incisions in the Brazilian public sphere. KEYWORDS Bolsonarism; digital media; antistructure
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O discurso presidencial de posse se mostra relevante não só por expressar a concepção político-ideológica do novo governante, mas também pelo seu alcance e influência na sociedade. À vista disso, o presente artigo visa analisar o discurso de posse do presidente brasileiro Jair Bolsonaro, buscando detectar quais condições sociais e/ou ideológicas o fundamentariam. Para tanto, adotou-se como quadro teórico-metodológico: o trabalho desenvolvido por van Dijk (2001, 2008), interessado na análise das conexões existentes entre a materialidade do discurso e as relações sociais, em interface com a proposta de Charaudeau (2006), a partir da qual selecionou-se as seguintes categorias de análise: as condições de Simplicidade, Credibilidade, Dramatização, escolhas lexicais mais recorrentes, significado das palavras, temáticas mais recorrentes, sinônimos, metáforas e ethos. Quanto aos principais resultados encontrados, foi possível observar que o discurso analisado, dotado de forte viés populista, baseou-se na tríade “pátria, família e religião”, apresentando ideais voltados para a recuperação da esperança nacional, bem como marcas ufanistas e religiosas em sua configuração.
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Resumo O objetivo deste trabalho é oferecer um quadro interpretativo que auxilie na compreensão do re-sultado das eleições presidenciais de 2018, consi-derando como preponderantes o fator religioso e as pautas morais para a eleição de Jair Bolsonaro. Partimos da hipótese de que o ressentimento é o afeto que catalisa os vínculos de identificação entre Bolsonaro e seu eleitorado, sobremaneira, o evan-gélico. Assim, após apresentarmos as ferramentas teóricas utilizadas, estruturadas a partir dos con-ceitos de hegemonia, equivalência e populismo, exploraremos os elementos discursivos dessa con-figuração, para salientar sua importância através do escrutínio dos dados empíricos, que permitem avançarmos na proposição do discurso religioso co-mo mobilizador privilegiado dos afetos traduzidos em adesão eleitoral ao candidato. Palavras-chave: ressentimento; Jair Bolsonaro; evangélicos; eleições; populismo. Abstract The objective of this article is to offer an interpretative framework that helps to understand the outcome of the 2018 presidential election in Brazil, considering the religious factor and the moral agenda as fundamental to the election of Jair Bolsonaro. We start from the hypothesis that resentment is the affection that catalyzes the identification bonds between Bolsonaro and his electorate, especially the evangelical voters. After presenting the theoretical tools we used, structured from the concepts of hegemony, equivalence and populism, we explore the discursive elements of this configuration in order to highlight its importance through the scrutiny of empirical data, which allow us to propose that religious discourse is the main mobilizer of affections translated into electoral adhesion to the candidate.
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Esta pesquisa investiga o uso do Twitter pelo presidente eleito Jair Bolsonaro e seus três filhos que também seguem uma carreira política: Carlos, Eduardo e Flávio Bolsonaro, que parte dos mídia brasileiros denomina “clã Bolsonaro”. Conforme verificado a narrativa divulgada nas redes sociais pelo clã Bolsonaro seja distinta em ano de campanha eleitoral. O objetivo é saber como o clã Bolsonaro utilizou o Twitter como instrumento de comunicação política em 2017 e 2018. O recorte temporal desta pesquisa é a partir de 1 de janeiro de 2017 até 3 de novembro de 2018. A metodologia de pesquisa é quantitativa e análise de conteúdo com utilização do aplicativo Twitonomy para coleta dos dados. Os resultados demonstram que há um comportamento distinto no discurso dos políticos da família Bolsonaro no ano político de 2017, priorizando em campanha negativa, para o ano eleitoral de 2018, onde predomina a construção da imagem dos candidatos.
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This article presents an analysis of the use of populist framing mechanisms by grassroots right-wing organizations. It brings together the social movement literature on framing and the populist literature to understand how actors build an emergent field of activism in a highly contentious context. Based on the analysis of a sample of 4,574 Facebook posts published by 5 civil society organizations during the campaign to oust Brazilian president Dilma Rousseff, it argues that two mechanisms, reductionism and antagonism, enabled actors to focus on similar targets and diagnostics while maintaining relevant differences when seeking to motivate followers and present prognostic frames. These were key mechanisms used by all the actors, albeit with different contents, depending on the frame task. This article contributes to filling gaps in the framing and populist literatures and sheds light on the relevance of populist communication in the rise of right-wing activism.