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Abstract

O presente artigo discute, por meio da sistematização dos dados das cem maiores empresas atuantes no Brasil, a crise do processo de substituição de importações entre as décadas de 1970 e 2010. Nos valendo das informações coletadas a partir do anuário Maiores e Melhores, da Revista Exame, sistematizamos os dados sobre as maiores empresas no Brasil, ao longo dessas quatro décadas, destacando sua nacionalidade e seu setor de atuação. Dando destaque para a análise das empresas estrangeiras, é possível verificar a dinâmica dos ciclos de investimento industrial, identificando os maiores setores instalados no país em cada período histórico. O estudo abarca a fase final do governo militar brasileiro, marcado pelo último esforço de desenvolvimento industrial no país, passando pelas décadas de abertura comercial, caracterizadas por um processo de desindustrialização. No primeiro recorte cronológico do artigo, entre 1974 e 1994, é possível verificar tanto o auge da participação do setor industrial no PIB nacional como os primeiros sinais da crise da industrialização por substituição de importações. No segundo recorte do estudo, entre 1994 e 2015, por sua vez, verifica-se a diversificação da nacionalidade e dos setores econômicos entre as cem maiores empresas, com a redução da participação de setores tradicionais da indústria, ilustrando a tendência da desindustrialização ocorrida no país nas últimas décadas. Ark: http://id.caicyt.gov.ar/ark://s5toy2999
Anuario Centro de Estudios Económicos de la Empresa y el Desarrollo
Nº 15 - Año 13 - Junio-Noviembre 2021 - ISSN 2545-8299
Índice
Presentación ........................................................................................... 11
Dossier
La “etapa compleja” de la Industrialización por Sustitución
de Importaciones y sus transformaciones
durante la segunda mitad del siglo XX
coordinado por Claudio Belini y Cecilia Dethiou
La “etapa compleja” de la Industrialización por
Sustitución de Importaciones y sus transformaciones
durante la segunda mitad del siglo XX
Claudio Belini y Cecilia Dethiou ..........................................................15
Las políticas de regulación del comercio exterior y
el fomento de las exportaciones textiles
durante el primer peronismo (1946-1955)
Maria Helena Garibotti ........................................................................ 23
Estrategias para el desarrollo de la petroquímica durante
la ISI: los casos de Ensenada, San Lorenzo y
Río Tercero: actores, trayectorias e impactos regionales
Enzo Vicentin ......................................................................................... 61
La reconfiguración asimétrica de la industria
automotriz argentina (1976-2001)
Bruno Pérez Almansi ............................................................................ 91
Ciclo de investimento e indústria no Brasil (1974-2015):
da industrialização por substituição de importações
à desindustrialização da economia brasileira
Guilherme Grandi y Alexandre Macchione Saes ............................. 119
Reseñas
Santilli, Daniel. 2019. La desigualdad en la Argentina: apuntes para su
historia, de la colonia a nuestros días. Rosario: Prohistoria.
Tomás Guzmán .................................................................................... 153
Directrices para autores/as ................................................................. 157
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Nº 15 - Año 13 - Junio-Noviembre 2021 - ISSN 2545-8299
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Ciclo de investimento e indústria no Brasil (1974-2015):
da industrialização por substituição de importações à
desindustrialização da economia brasileira
Resumo
O presente artigo discute, por meio da sistematização dos dados
das cem maiores empresas atuantes no Brasil, a crise do processo de subs-
tituição de importações entre as décadas de 1970 e 2010. Nos valendo das
informações coletadas a partir do anuário Maiores e Melhores, da Revista
Exame, sistematizamos os dados sobre as maiores empresas no Brasil, ao
longo dessas quatro décadas, destacando sua nacionalidade e seu setor
de atuação. Dando destaque para a análise das empresas estrangeiras, é
possível verificar a dinâmica dos ciclos de investimento industrial, iden-
tificando os maiores setores instalados no país em cada período histórico.
O estudo abarca a fase final do governo militar brasileiro, marcado pelo
último esforço de desenvolvimento industrial no país, passando pelas dé-
cadas de abertura comercial, caracterizadas por um processo de desin-
dustrialização. No primeiro recorte cronológico do artigo, entre 1974 e
1994, é possível verificar tanto o auge da participação do setor industrial
no PIB nacional como os primeiros sinais da crise da industrialização por
substituição de importações. No segundo recorte do estudo, entre 1994
e 2015, por sua vez, verifica-se a diversificação da nacionalidade e dos
setores econômicos entre as cem maiores empresas, com a redução da
participação de setores tradicionais da indústria, ilustrando a tendência da
desindustrialização ocorrida no país nas últimas décadas.
Fecha de recepción del artículo: 27-10-2020
Fecha de aceptación del artículo: 18-12-2020
1 Departamento de Economia - FEA/USP, São Paulo, Brasil
2 Departamento de Economia - FEA/USP, São Paulo, Brasil
Guilherme Grandi1
ggrandi@usp.br
https://orcid.org/0000-0002-6040-0650
Alexandre Macchione Saes2
alexandre.saes@usp.br
https://orcid.org/0000-0003-4274-1993
pp. 119-152 - Año 13 - ISSN 2545-8299
Anuario CEEED - Nº 15 - Junio/Noviembre 2021
https://doi.org/10.56503/ANUARIO/Nro.15(13)pp.119-152
Anuario CEEED - Nº 15 - Año 13 - ISSN 2545-8299
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Guilherme Grandi y Alexandre Macchione Saes
Palavras-chave
Desindustrialização; industrialização por substituição de importações;
Brasil.
Ciclo de inversión y industria en Brasil (1974-2015): de
la industrialización por sustitución de importaciones a la
desindustrialización de la economía brasileña
Resumen
Este artículo analiza, a través de la sistematización de las cien ma-
yores empresas que operan en Brasil, la crisis del proceso de sustitución
de importaciones entre las décadas de 1970 y 2010. Utilizando los datos
producidos por el anuario Maiores e Melhores, de la Revista Exame, siste-
matizamos la información sobre las mayores empresas de Brasil, durante
estas cuatro décadas, destacando su nacionalidad y su sector de actividad.
Haciendo hincapié en el análisis de las empresas extranjeras, es posible
verificar la dinámica de los ciclos de inversión industrial, identificando
los mayores sectores instalados en el país en cada período histórico. El
estudio cubre la fase final del gobierno militar brasileño, marcada por el
último esfuerzo de desarrollo industrial en el país, atravesando las décadas
de apertura comercial, caracterizadas por un proceso de desindustrializa-
ción. En la primera sección cronológica del artículo, entre 1974 y 1994,
se puede constatar tanto el pico de participación del sector industrial en el
PIB nacional como los primeros indicios de la crisis de industrialización
por sustitución de importaciones. En el segundo tramo del estudio, entre
1994 y 2015, a su vez, se encuentra la diversificación de nacionalidad y
sectores económicos entre las cien mayores empresas, con la reducción
de la participación de sectores tradicionales de la industria, ilustrando la
tendencia de desindustrialización que se produjo en el país en las últimas
décadas.
Palabras clave
Desindustrialización; industrialización por sustitución de importaciones;
Brasil.
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Ciclo de investimento e indústria no Brasil (1974-2015):
da industrialização por substituição de importações
à desindustrialização da economia brasileira
Investment cycle and industry in Brazil (1974-2015):
from industrialization by import substitution to
deindustrialization of the Brazilian economy
Abstract
This article discusses, through the systematization of the hundred
largest companies operating in Brazil, the crisis of the import substitu-
tion process between the 1970s and 2010. Using the data produced by
the Maiores e Melhores yearbook, from Exame Magazine, we system-
atized the information about the largest companies in Brazil, over these
four decades, highlighting their nationality and their sector of activity.
Emphasizing the analysis of foreign companies, it is possible to verify
the dynamics of industrial investment cycles, identifying the largest sec-
tors installed in the country in each historical period. The study covers
the final phase of the Brazilian military government, marked by the last
industrial development effort in the country, going through the decades of
commercial opening, characterized by a process of deindustrialization. In
the first chronological section of the article, between 1974 and 1994, it is
possible to verify both the peak of the participation of the industrial sector
in the national GDP and the first signs of the industrialization crisis due
to import substitution. In the second section of the study, between 1994
and 2015, in turn, there is the diversification of nationality and econom-
ic sectors among the hundred largest companies, with the reduction of
the participation of traditional sectors of industry, illustrating the trend of
deindustrialization that occurred in the country in recent decades.
Keywords
Deindustrialization; industrialization by import substitution; Brazil.
Introdução
Neste artigo, apresentamos a trajetória, a partir de dados sobre
faturamento, das cem maiores empresas atuantes no Brasil entre 1974 e
2015. O período de quarenta anos selecionados para o estudo foi marca-
do por uma profunda mudança na estrutura da economia brasileira que
passando de uma fase de industrialização por substituição de importações
(doravante denominada ISI), marcada por grande intervenção do governo
e com forte presença das companhias estatais durante o regime militar,
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seguiu para uma nova tendência, ao longo dos anos 1990, de abertura eco-
nômica e privatizações. O trabalho busca analisar a evolução das maiores
empresas atuantes no Brasil, com destaque para as estrangeiras, avaliando
como as transformações da economia internacional, dos avanços tecnoló-
gicos e dos marcos institucionais do país acabaram influenciando o ciclo
de investimentos empresariais na economia brasileira depois da crise do
modelo de ISI.
Por meio das publicações anuais “Maiores e Melhores” da Revista
Exame, fizemos um levantamento das cem maiores empresas registradas
ao longo das décadas de 1970 e 20103. Ao sistematizarmos as informações
sobre quais eram essas maiores empresas, nos foi possível compreender
a evolução dos principais setores da economia brasileira, da nacionalida-
de das empresas atuantes, assim como se eram empresas de sociedades
anônimas, familiares ou estatais, entre outras informações. Acreditamos
que uma análise que perpassa por períodos históricos tão distintos pode
nos fornecer significativas indicações acerca dos desafios do setor empre-
sarial tanto em sua relação com o Estado, como com os mercados nacional
e internacional. Em se tratando de uma economia em desenvolvimento, é
relevante compreendermos as variáveis que mais influenciaram o estabe-
lecimento e a evolução das empresas estrangeiras no mercado brasileiro.
Visando alcançarmos nosso objetivo, dividimos o presente ar-
tigo em três seções. A primeira, traz a discussão sobre a capacidade de
investimento da economia brasileira diante de um cenário marcado pela
diminuição da participação do produto industrial no PIB brasileiro. Ques-
tões tais como os efeitos das políticas governamentais sobre o nível de
investimento, as estratégias de internacionalização de algumas das maio-
res empresas, bem como os efeitos do movimento de abertura comercial e
financeira ocorrido nos anos 1990, são em conjunto de suma importância
para a avaliação sobre os ciclos de investimentos que se verificaram na
economia brasileira entre 1974 e 2015. Já as duas seções seguintes exami-
nam, de maneira mais pormenorizada, os dados relativos a diversos aspec-
tos das maiores empresas estrangeiras atuantes no Brasil nos respectivos
3 A Revista Exame, originalmente publicada pela Editora Abril, é uma revista
especializada em temas de economia, negócios, política e tecnologia. Criada em
1967, por meio das revistas Transporte Moderno, Máquinas e Metais e Quími-
ca e Derivados, a partir de 1974 lançou o anuário Maiores e Melhores, número
inspirado na revista Fortune, que trazia as quinhentas maiores empresas atuantes
no Brasil. O anuário apresenta a lista das maiores empresas do setor industrial e
comercial, excluindo o setor financeiro, indicando a nacionalidade, o tipo de con-
trole acionário, o valor realizado, o capital da empresa, entre outras informações.
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subperíodos, de 1974-1994 e 1994-2015. Ao final, discutimos, à guisa de
conclusões, qual foi o papel dos investimentos estrangeiros ao longo dos
períodos assinalados.
A Industrialização por Substituição de Importações no Brasil
A economia brasileira passou por uma profunda transformação
ao longo do século XX. De uma estrutura econômica fundamentalmente
agrário-exportadora no início do século, observou-se, a partir de 1930, um
aumento expressivo da participação da indústria no produto total da eco-
nomia. Tal mudança ficou marcada pela expressão de Celso Furtado, em
Formação econômica do Brasil (Furtado 2007, cap.32), do deslocamento
do centro dinâmico, isto é, quando o mercado interno e a indústria nacio-
nal passaram também a assumir um papel mais relevante na definição do
nível de emprego e salários no país4.
Entre 1930 e 1945, durante o primeiro governo de Getúlio Vargas,
tem-se o início da construção de um projeto nacional de desenvolvimento
industrial5. No período, a síntese maior do projeto industrial do governo
foi a concretização do projeto siderúrgico nacional, com apoio financeiro
dos Estados Unidos para a construção da Companhia Siderúrgica Nacio-
nal, empresa controlada pelo Estado. Outros relevantes empreendimentos
industriais foram efetivados no período, como a criação da Fábrica Nacio-
nal de Motores, mas, acima de tudo, com a expansão do mercado interno
e da urbanização, observou-se um crescimento das indústrias de bens de
consumo não duráveis, tanto pela consolidação e ampliação de empresas
instaladas antes de 1930, como de outros negócios fomentados no perío-
do6.
Se materialmente foi possível observar importantes avanços, tal-
vez outro importante legado do período foi que o pensamento industria-
lista fomentado, baseado no modelo de substituição de importações, en-
contraria amplo espaço dentro do Estado moderno então em construção.
4 Maria da Conceição Tavares usa a expressão de um modelo de desenvolvimento
voltado para dentro, enquanto Lessa já se apropria da ideia de uma industrializa-
ção por substituição de importações não conduzida pelo Estado, mas em decor-
rência do contexto de crise internacional, resultado de uma política anticíclica do
governo Vargas e de uma depressão da moeda nacional.
5 Não é nosso objetivo retomar uma discussão sobre a origem do desenvolvimen-
tismo no Brasil. Para o tema, conferir Fonseca e Salomão (2017).
6 Sobre a atuação do Estado, durante o governo Vargas, no processo de industria-
lização, indicamos Ianni (1971) e Draibe (1985).
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A marcante presença do economista e industrial Roberto Simonsen em
órgãos do governo é simbólica nesse sentido7. Depois de 1945, com a
reconstrução do mundo no pós Segunda Guerra Mundial e a disseminação
da Teoria do Desenvolvimento Econômico, a defesa da industrialização
alcança quase uma posição hegemônica no debate econômico nacional,
tendo a CEPAL como instrumento decisivo na proposição de estudos e
projetos (Bielschowsky 2000, cap. 2).
Assim, ao longo das duas décadas seguintes ao final da Segunda
Guerra Mundial, o Brasil iniciaria uma deliberada política de ISI. A partir
de 1948, uma política cambial passaria a ser usada como instrumento tan-
to de proteção do mercado nacional, como de importação de bens essen-
ciais para a industrialização. Os governos investiram esforços no sentido
de produzir estudos e planos para superar os gargalos de infraestrutura e
permitir o desenvolvimento industrial, tais como o Plano Salte (1948), a
Comissão Mista Brasil-Estados Unidos (1951-53) e a síntese deste pro-
cesso, o Plano de Metas do governo de Juscelino Kubitschek (1956-61)8.
O Plano de Metas é tido como o primeiro plano de desenvolvi-
mento do Brasil, como uma efetiva política de planejamento, destacan-
do diretrizes e objetivos a serem alcançados (Lafer 1987, 29-30). Tendo
como instrumento de promoção das políticas o Banco Nacional de Desen-
volvimento Econômico (BNDE), o governo realizou relevantes projetos
nos setores de transporte e energia, enquanto que por meio de uma política
de incentivo à instalação das indústrias estrangeiras no Brasil foi possível
ampliar, de maneira significativa, o parque industrial do país.
Quando comparado com o perfil da política de desenvolvimen-
to empreendida pelo governo antecessor, de Getúlio Vargas (1950-1954),
o Plano de Metas incentivou uma maior participação do capital estran-
geiro na economia brasileira. Por meio da Instrução da Superintendên-
cia da Moeda e do Crédito número 113, o governo estimulou a entrada
de empresas estrangeiras com isenções de importação de bens de capital,
aproveitando o ciclo de expansão das multinacionais9 – especialmente dos
Estados Unidos e, somente mais tarde, da Europa e Japão – para acelerar
a constituição do parque industrial brasileiro.
Foi nesse período, por exemplo, que a indústria automobilística
começou a ser instalada no país por meio dos investimentos das empre-
7 Para a discussão sobre o projeto de industrialização do Brasil no período, ver
Bastos e Fonseca (2012).
8 Vide Sola (1988) e Lessa (1981).
9 Sobre a expansão das multinacionais no período, consultar Wilkins (1974) e
Gilpin (1975).
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sas multinacionais, abrindo também oportunidades para o empresariado
nacional atuar no setor de autopeças. Essa seria a principal diferença da
atuação das multinacionais na América Latina, quando comparado com
o caso das plataformas de exportação instaladas na Ásia entre as décadas
de 1950 e 1980. Conforme o argumento de Amsden (2009), enquanto na
América Latina o objetivo das multinacionais era conquistar o mercado
consumidor, fugindo de políticas protecionistas, na Ásia, o investimento
direito estrangeiro buscou reduzir o custo de produção ao se valer dos bai-
xos níveis salariais dos trabalhadores asiáticos, quando comparados com
aqueles praticados nos países onde se localizam as matrizes das compa-
nhias10.
Essa primeira fase do ciclo da ISI acabou encontrando um cenário
de crise ao final do Plano de Metas, produzindo um ambiente de instabi-
lidade econômica e política, culminando com o golpe militar de 196411.
O projeto de expansão industrial seria mantido durante o governo militar
brasileiro, mas em novas bases. Isto é, apesar de manter uma política in-
tensiva de industrialização do país, com a manutenção das empresas mul-
tinacionais na economia brasileira, agora o governo empreendia políticas
de arrocho salarial para estimular os investimentos, produzindo elevados
custos sociais e a ampliação da desigualdade econômica12.
Como continuidade ao projeto iniciado na década de 1950, a in-
dustrialização brasileira prosseguiria dependendo de três pilares: o capi-
tal estrangeiro, com a entrada no mercado brasileiro das multinacionais,
instalava a estrutura industrial pesada e mais intensiva em tecnologia; o
Estado, por sua vez, se voltava à infraestrutura como, por exemplo, por
10 A Coreia do Sul, por exemplo, promoveu entre as décadas de 1960 e 1980
alguns novos setores industriais selecionados pelo governo, com o consentimen-
to do setor privado, por meio da conjunção entre proteção tarifária, subsídios e
outras formas de auxílio governamental, como serviços de informação prestados
pela agência estatal de exportação. Além disso, o governo coreano se encarre-
gou de um amplo programa de concessão de crédito a custo baixo e de grandes
projetos de investimento via empresas estatais como, por exemplo, no setor de
siderurgia (Chang, 2008, 14).
11 Na literatura brasileira a crise da ISI abriria um relevante debate em torno da
tese da estagnação econômica propugnada por Celso Furtado pela primeira vez
em 1966. A tese receberia uma das principais revisões com o trabalho de Maria da
Conceição Tavares e José Serra. A respeito, ver Furtado (1974), Tavares (1962) e
Tavares e Serra (1972).
12 Para o tema consultar Hoffmann e Duarte (1972), Mata e Bacha (1973), Malan
e Wells (1973), Wells (1974), Bacha and Taylor (1980) e Colistete (2007).
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meio do salto da oferta de energia via Eletrobrás e Petrobrás; e o capital
nacional assumia os setores subsidiários, como as empresas de autopeças
para as indústrias automobilísticas estrangeiras (Evans 1980).
Ao longo de aproximadamente 50 anos, portanto, entre as décadas
de 1930 e 1980, através do processo de ISI – fosse ainda como resultado
da grande depressão de 1930, ou de uma política deliberada de desenvol-
vimento nos governos democráticos, entre 1945 e 1964, ou das políticas
industriais e de financiamento da infraestrutura dos governos militares,
entre 1964 e 1985 – o Brasil foi uma das economias que mais cresceu no
mundo. A participação do Brasil no PIB mundial cresceu de aproximada-
mente 1,5% para quase 4,5% (Gráfico 1).
De maneira mais ampla também, a renda per capita do conjunto
de países da América Latina cresceu cerca de 3,0% ao ano entre as déca-
das de 1960 e 1980. A esse respeito, Chang (2004, 219-219, Tabela 4.2)
observa que tratou-se de um desempenho superior ao obtido pelos “países
atualmente desenvolvidos”, durante o “século de desenvolvimento” des-
ses países, de 1820 a 1913, no qual a média de crescimento ficou entre 1,0
e 1,5% ao ano.
Gráfico 1. Participação do PIB brasileiro no PIB mundial: 1822-2022
Fonte: Alves (2015).
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Ciclo de investimento e indústria no Brasil (1974-2015):
da industrialização por substituição de importações
à desindustrialização da economia brasileira
Quando cruzamos os dados de crescimento do PIB per capita lati-
no-americano do período caracterizado como o auge da ISI com o período
subsequente, que no Brasil ficou marcado pelo retorno à democracia e
pelas reformas neoliberais dos anos 1990, vemos uma diferença significa-
tiva: dos 3,0% acima assinalados, para o período 1960-1980, a taxa média
de crescimento do produto per capita recuou para apenas 0,6%, entre 1980
e 1999 (Chang 2004, 221, Tabela 4.3). Prado e Leopoldi, ao comparar
esses dois períodos, reiteram as diferenças dos resultados econômicos à
luz da política da ISI como o traço característico do período desenvolvi-
mentista no Brasil:
No longo ciclo do desenvolvimentismo – particularmente no pe-
ríodo compreendido entre 1950 e 1980, a diferença entre a renda dos bra-
sileiros e a dos países industriais avançados diminuiu – um processo que
os historiadores econômicos chamam de cacthing-up, isto é, convergência
para os níveis de renda dos países industrializados avançados. Portanto,
esse foi um período de inegável sucesso das políticas econômicas de longo
prazo no Brasil. Por outro lado, se usarmos o mesmo critério para avaliar
o desempenho da economia brasileira depois dessa década, ao longo do
período da Nova República, particularmente entre 1980-2005, vemos o
processo inverso de afastamento progressivo do grupo de países mais di-
nâmicos do mundo – o que os historiadores econômicos chamam de fallin-
g-behind. Ou seja, esse é um período de relativo insucesso das políticas
econômicas de longo prazo no país. (Prado e Leopoldi 2018, 74).
Em suma, e de acordo com as ponderações dos autores acima, se
o desempenho da economia brasileira durante o auge da ISI assinala um
“movimento de convergência” da renda com o nível dos “países atual-
mente desenvolvidos”, a partir dos anos 1980 tal trajetória se inverte e
passa a se caracterizar por um “movimento de divergência” entre a ren-
da per capita dos países em desenvolvimento, como o Brasil, em relação
ao nível de renda dos países de industrialização mais avançada. Aliado a
isso, e segundo os teóricos da CEPAL defensores do modelo substitutivo,
em especial Prebisch (1972), a ISI permitiria também equacionar tanto o
problema do desemprego estrutural, absorvendo a população excedente
do setor agrícola, como o problema da dependência externa ligada à re-
lação desigual no comércio internacional, reduzindo o coeficiente de im-
portação e diversificando a pauta de exportações. Ressaltamos, ainda, que
tal processo, não podendo surgir espontaneamente, deveria apoiar-se em
forte intervenção do Estado por meio do planejamento e da política econô-
mica, de maneira a delimitar com precisão o espaço econômico nacional.
Sabemos, contudo, que o processo de substituição de importações
que, como temos visto, orientou a industrialização dos países latino-ame-
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ricanos e constituiu a base do processo de desenvolvimento de Brasil e
Argentina, os dois países mais avançados da região, já começara a mos-
trar sinais de enfraquecimento a partir das décadas de 1950-60. À medi-
da que esse modelo de substituição avançava, os progressos econômicos
adicionais se mostravam cada vez menos significativos, já que eles não
se pautavam pela produção de bens de maior complexidade tecnológica,
com maiores exigências relativas de capital e com o escopo mínimo ne-
cessário às plantas industriais. Dessa forma, as taxas de crescimento não
foram acompanhadas pelo aumento da produtividade e pela transferência
tecnológica correspondente, mas ao longo dos governos militares, os in-
vestimentos estatais, somados às políticas de arrocho salarial, garantiram
o aprofundamento da industrialização por mais um ciclo.
A década de 1980 foi um período de transição econômica e po-
lítica no mundo todo. O impacto das tensões geradas na década anterior,
como resultado do fim do Acordo de Bretton Woods e das duas crises in-
ternacionais do petróleo, provocou uma sucessão de choques que alterou
profundamente o cenário da geopolítica internacional. Após o Segundo
Choque do Petróleo em 1979, a alternativa vislumbrada pelo governo bra-
sileiro de buscar diminuir a absorção interna e estimular as exportações
por meio de um ajuste na relação entre câmbio e salários não surtiu um
efeito positivo imediato de curto prazo. Pode-se considerar que a política
de maxidesvalorização cambial, então implementada pelo ministro Delfim
Netto, até tivera um relativo sucesso no que diz respeito ao ajustamento
externo, mas certamente comprometeu ainda mais o cenário doméstico no
Brasil ao se mostrar um propagador do aumento dos preços internos da
economia. Como consequência das maxidesvalorizações de 30% do câm-
bio, adotadas em duas ocasiões sendo a primeira em dezembro de 1979,
a inflação anual a partir de 1980 alcançou a casa dos três dígitos. O alívio
do ponto de vista do desempenho da economia, no entanto, viria um
pouco mais tarde, em 1984, quando se observa uma melhora significativa
do resultado da balança comercial associada à recuperação da economia
norte-americana e à reativação das exportações brasileiras para esse país.
A transição, portanto, para a década de 1980 abriria uma fase de
desmonte das políticas desenvolvimentistas de substituição de importa-
ções, tanto pelo crescente endividamento do Estado brasileiro, mas tam-
bém pelo novo contexto mundial de abertura econômica e redefinição da
estrutura produtiva mundial. O resultado seria o de uma transformação do
perfil das empresas estrangeiras no Brasil, como veremos adiante, refle-
tindo tanto o novo ciclo de investimentos vinculado ao setor de serviços
como o processo de desindustrialização do país.
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Ciclo de investimento e indústria no Brasil (1974-2015):
da industrialização por substituição de importações
à desindustrialização da economia brasileira
Capacidade de investimento, desindustrialização e relativa abertura
econômica
Os anos de 1970 representaram para a estrutura industrial brasi-
leira uma fase de concretização de um ciclo de investimento de quase
duas décadas de elevado crescimento, que teria capacitado o país a atin-
gir significativos resultados de reprodução das tecnologias internacionais.
Com a introdução da indústria pesada, o parque industrial brasileiro era
complexo e, em determinados momentos, bastante robusto inclusive no
que diz respeito à competição no mercado internacional. Mas a segunda
metade da década colocaria ao governo um impasse relevante, sobre a
necessidade de dar prosseguimento aos elevados investimentos no setor
industrial, ou retomar uma política de ajustamento, tendo em vista o cená-
rio de crise que se desenhava.
Assim, a estratégia de ajustamento macroeconômico, de viés es-
trutural, adotado pelo governo brasileiro durante a gestão do general Er-
nesto Geisel (1974-1979) buscou enfrentar o choque externo causado pelo
aumento internacional do preço do petróleo através da intensificação do
processo de substituição de importações. Para Fonseca e Monteiro (2007),
a ideia do governo à época era dar um novo alento ao desenvolvimento
brasileiro através da execução do Segundo Plano Nacional de Desenvol-
vimento – II PND, cujo enfoque se voltava para o aumento da capacidade
energética e a produção de insumos industriais e bens de capital.
O Plano incidiu primordialmente sobre a produção de insumos bá-
sicos, metais não-ferrosos, mineração, petroquímica, fertilizantes, papel
e celulose. No setor energético e de infraestrutura, o objetivo foi o de
ampliar a prospecção de petróleo, fomentar a produção de energia nu-
clear, ampliar a capacidade do setor hidroelétrico e substituir a utilização
dos derivados de petróleo por energia elétrica e da gasolina pelo álcool.
Quanto ao setor de bens de capital, optou-se pelo fornecimento de ga-
rantias de demanda, incentivos fiscais – como créditos do imposto sobre
produtos industrializados – IPI, depreciação do câmbio acelerada, isenção
do imposto de importação etc –, incentivos de crédito, reservas de mer-
cado e garantias de política de preços para o setor privado. Muitas dessas
medidas denotavam uma mudança de prioridades da política industrial do
governo brasileiro.
A partir dessa estratégia em torno do II PND, o governo via na
ampla liquidez internacional a possibilidade de seguir com a economia
crescendo sem a necessidade de ter que gerar de imediato o excedente
para realizar a transferência de gastos imposta pela alta do petróleo. Ima-
ginava-se, por um lado, que o financiamento externo seria suficiente para
Anuario CEEED - Nº 15 - Año 13 - ISSN 2545-8299
130
Guilherme Grandi y Alexandre Macchione Saes
fechar o balanço de pagamentos no curto prazo e, por outro, os investi-
mentos nos setores carentes da matriz industrial brasileira, além do pro-
vável aumento na capacidade de exportação da economia, geraria uma
poupança para o pagamento da dívida aos credores externos no futuro. O
fato é que o modelo de financiamento dos megaprojetos industriais, parti-
cularmente os das empresas estatais com base no endividamento externo,
se mostrou insustentável à medida que o cenário internacional foi se dete-
riorando ao final da década de 1970, em especial após o segundo choque
internacional do petróleo.
Em 1979, os juros da dívida externa representaram 28% do valor
das exportações brasileiras, ao passo que as transações correntes apre-
sentaram um déficit da ordem de US$ 11 bilhões, acarretando a perda de
reservas na casa de US$ 2 bilhões e marcando, assim, o início da crise
cambial que se arrastaria durante toda a década de 80. No âmbito domés-
tico, tornava-se evidente a deterioração da situação fiscal do Estado em
função da redução da carga tributária bruta, do aumento no volume das
transferências (em especial para pagamento de juros sobre a dívida inter-
na), do enorme passivo financeiro representado pela situação deficitária
da maioria das empresas estatais e do comprometimento do orçamento
público que foi grandemente afetado pelas operações de crédito realizadas
pelo governo durante a execução do II PND.
Assim, frente ao expressivo excesso da demanda interna, aliado
à intensificação do sistema de indexação de preços e salários, a dívida
externa, a inflação e os preços relativos dos investimentos aumentaram
contínua e significativamente. Em contrapartida, os dados relativos à pro-
dutividade do capital apontavam para um declínio entre 1974 e 1984, pois,
segundo Bacha e Bonelli (2005, 166), a economia brasileira nesse período
experimentou uma “regressão tecnológica” ao invés de um movimento
marcado pelo progresso técnico, o que, sem dúvida alguma, teria sido
mais benéfico à economia do ponto de vista estrutural. A evidência a esse
respeito utilizada pelos autores é a associação positiva entre a queda da
taxa de crescimento do PIB, verificada a partir dos anos 80, e o colapso da
acumulação de capital medida pela taxa de variação do estoque de capital.
Esta taxa se expressa da seguinte maneira: K = s(1/p)uv – δ, onde:
s = taxa de poupança agregada (taxa de poupança interna mais
externa);
p = preço relativo do investimento (razão entre o deflator implíci-
to da formação bruta de capital fixo e o deflator implícito do PIB);
u = grau de utilização do estoque de capital;
v = razão entre o PIB e o estoque de capital em utilização;
δ = taxa anual de depreciação do estoque de capital.
Anuario CEEED - Nº 15 - Año 13 - ISSN 2545-8299
131
Ciclo de investimento e indústria no Brasil (1974-2015):
da industrialização por substituição de importações
à desindustrialização da economia brasileira
A taxa de crescimento do estoque de capital corresponde ao inves-
timento fixo líquido, expresso enquanto proporção do estoque de capital
preexistente. O lado direito da equação reúne as fontes de financiamento
dos investimentos. No entanto, mais importante do que a própria taxa de
poupança é, como sustentam os autores, o poder de compra sobre bens
de capital, que consiste no determinante do nível real de investimento da
economia. Ademais, a multiplicação do grau de utilização do estoque de
capital (u) pela relação entre o PIB e o estoque de capital em uso (v) re-
presenta a relação produto-capital que, por sua vez, configura uma medida
de investimento bruto. Por fim, ao se deduzir a taxa de depreciação (δ),
tem-se o investimento líquido como proporção do estoque de capital ou,
simplesmente, a taxa de variação do estoque de capital (Bacha e Bonelli,
2005, 169).
Ainda de acordo com esses mesmos autores, a principal fonte de
dinamismo do estoque de capital no período 1974-1984 foi a taxa de pou-
pança e seu reflexo sobre o significativo aumento do déficit externo.
a acintosa retração da taxa de crescimento do estoque de capital, que se
verifica mais evidentemente a partir de 1983, explica-se pelo comporta-
mento adverso do preço relativo do investimento, acompanhado também
das quedas do nível de emprego e da relação produto-capital em uso. Em
suma, a razão para a retração da acumulação de capital nas últimas três
décadas no Brasil “parece ter sido o aumento no preço relativo do inves-
timento, que reduziu fortemente o poder de compra da poupança” (Bacha
e Bonelli 2005, 181).
Mas, nesse contexto, qual foi o papel exercido pelos investimen-
tos estrangeiros ao longo do período de abertura da economia brasileira
a partir da década de 1990? Como devemos avaliar os gastos com ca-
pital provenientes de grupos empresariais internacionais? Em virtude da
dificuldade caracterizada acima, qual seja, a da insuficiência do poder de
compra da poupança interna no Brasil, a demanda por investimento acaba
tendo que ser suprida pelo excedente poupado em outros países e, por isso,
inúmeros economistas defendem a abertura dos mercados e a livre movi-
mentação de capital. Argumenta-se que a abertura da economia não se res-
tringe a resolver tão somente esse gap de poupança entre as nações, mas
há outros benefícios que incidem sobre a eficiência da economia, além dos
efeitos diretos resultantes de uma melhor alocação do capital e de retorno
mais elevados sobre os investimentos, tais como a indução (portanto, um
efeito indireto da abertura) das “melhores práticas” nos campos da política
governamental e da governança corporativa.
Para Franco (1998, 129), a mudança na estrutura de mercado de-
corrente da emergência de uma nova dinâmica competitiva acarretada
Anuario CEEED - Nº 15 - Año 13 - ISSN 2545-8299
132
Guilherme Grandi y Alexandre Macchione Saes
pelo processo de abertura induz condutas virtuosas por parte da atuação
das empresas que produzem maior eficiência. Em um contexto onde se
percebe a presença de competidores estrangeiros que buscam disputar por
maiores fatias de mercado, investimentos em tecnologia, dentre outros fa-
tores que incrementam a produtividade, se tornam uma necessidade pre-
mente, embora Chang pontue algo fundamental a respeito dos fluxos de
capital estrangeiro:
Foreign capital flows into developing countries consist of three
main elements – grants, debts and investments. Grants are money given
away (but often with strings attached) by another country and are called
foreign aid or official development assistance (ODA). Debts consist of
bank loans and bonds (government bonds and corporate bonds). Invest-
ments are made up of ‘portfolio equity investment’, which is equity (share)
ownership seeking financial returns rather than managerial influence, and
foreign direct investment (FDI), which involves the purchase of equity
with a view to influence the management of the firm on a regular basis.
(Chang 2008, 86).
Tal caracterização proposta por Chang é importante para o presen-
te trabalho, pois serve de subsídio para esclarecermos que nossa intenção
é investigar a participação do capital estrangeiro exclusivamente por meio
do investimento direto estrangeiro (IDE) realizado no Brasil, que usual-
mente é feito por empresas multinacionais.
Gráfico 2. Nacionalidade e tipo de controle acionário das cem maiores
empresas brasileiras, 1974-1990 (% do capital)
0.0%
5.0%
10.0%
15.0%
20.0%
25.0%
30.0%
35.0%
40.0%
45.0%
50.0%
1974 1979 1984 1990
Alemão Americano Argentino Brasileiro Estatal Holandês
Fonte: “Maiores e Melhores”, Revista Exame (1974-1990).
Anuario CEEED - Nº 15 - Año 13 - ISSN 2545-8299
133
Ciclo de investimento e indústria no Brasil (1974-2015):
da industrialização por substituição de importações
à desindustrialização da economia brasileira
De qualquer forma, e com base na imagem acima, observamos o
predomínio das empresas controladas pelo Estado brasileiro entre 1974 e
1990, embora de 1979 em diante o controle acionário por parte de grupos
privados nacionais tenha aumentado continuamente. Se, em 1974, cerca
de trinta das cem maiores empresas estavam nas mãos do Estado e, em
1984, tal índice se eleva a 44,8%, em 1990 é possível notar um recuo do
controle estatal das maiores empresas atuantes no país, dado que tal parti-
cipação estacionou em aproximadamente 36%.
É evidente a perda de importância do Brasil no cenário global
do investimento internacional ao longo da década de 80, haja vista a
queda do país da sexta para a décima terceira posição do ranking dos
países receptores de investimento direto. Sua participação nos fluxos
internacionais de investimento direto se reduziu de cerca de 5,2%, em
média entre 1976 e 1980, para menos de 1%, em 1991-92 (Bielschowsky e
Stumpo 1996, 10). Não obstante, as entradas de capital no Brasil apontam
para uma recuperação somente em 1994, quando o país passa a apresentar
déficits em conta corrente, embora em níveis bem abaixo dos observados
durante os anos 70 (Franco 1998, 141).
Embora o biênio 1985-86 tenha registrado significativas taxas de
crescimento da produção industrial, 8,3% e 11,7% respectivamente, o ní-
vel de investimento na indústria de transformação não foi suficiente para
manter, e muito menos para aumentar, sua participação no PIB brasileiro.
Gráfico 3. Nacionalidade e tipo de controle acionário das cem maiores
empresas brasileiras, 1994-2015 (% do capital)
0.0%
5.0%
10.0%
15.0%
20.0%
25.0%
30.0%
35.0%
40.0%
1994 2000 2004 2010 2015
Alemão Americano Argentino Brasileiro Estatal Holandês
Fonte: “Maiores e Melhores”, Revista Exame (1994-2015).
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Guilherme Grandi y Alexandre Macchione Saes
Ao final do ano de 1990, a economia brasileira registrou um recuo de 4,3%
do PIB, com a indústria de transformação reduzindo seu produto em 9,5%
(Sallum Jr. 2018, 172).
Em outro recorte temporal (Gráfico 3), o controle acionário das
maiores empresas atuantes no Brasil se altera significativamente do qua-
dro apresentado anteriormente para o período 1974-90, a despeito da per-
manência do caráter relativamente fechado da economia brasileira entre
1994 e 2015. Os controles estatal e privado nacional praticamente se igua-
lam ao final desse período, em aproximadamente 30%, ao passo que a
terceira posição, ocupada pelo capital de origem norte-americana, ficou
em cerca de 7% apenas.
De acordo com Suzigan e Furtado (2006, 172-73), o resultado
mais evidente da Política Industrial e de Comércio Exterior (PICE), im-
plementada durante o governo Collor de Mello (1990-92), foi a libera-
lização do comércio com os países estrangeiros que veio acompanhada,
em momentos posteriores, pelo estabelecimento de acordos multilaterais
no âmbito da OMC e pela sobrevalorização do Real. Em resposta à in-
tensificação do movimento de abertura ao investimento direto estrangei-
ro, o setor industrial buscou se ajustar com as empresas enxugando suas
estruturas operacionais visando melhorar a qualidade de seus produtos e
aumentar a produtividade com o objetivo de se inserirem nos mercados de
exportação. Como consequência, cadeias produtivas foram desarticuladas
– especialmente as de eletrônica, bens de capital e química/farmacêutica –
e os segmentos de alta tecnologia desativados.
Em suma, a participação da indústria de transformação no PIB
despencou, evidenciando um claro movimento de desindustrialização
da economia brasileira13. Como resultado, uma nova estrutura produtiva
emergiu, marcada pela atuação do Estado como agente regulador, pelo do-
mínio do capital estrangeiro em algumas indústrias estratégicas do ponto
de vista da inovação tecnológica e pela reestruturação de grupos privados
nacionais que passaram a apresentar limitada capacidade financeira e re-
duzidas sinergias produtivas, sobretudo em novas tecnologias.
13uma bibliografia extensa sobre o conceito de desindustrialização. Para um
aprofundamento a esse respeito, indicamos Almeida (2009), Bonelli e Pessôa
(2010), Bacha e Bolle (2013), Cano (2012), Morceiro (2012), Morceiro (2018) e
Maia (2020). De modo geral, como observa Rodrik (2016), as participações do
valor adicionado da manufatura no PIB e do emprego industrial sobre o emprego
total são as formas mais recorrentemente presentes na literatura para se investigar
o caráter das transformações estruturais da economia e, assim, avaliar a ocorrên-
cia ou não do fenômeno da desindustrialização.
Anuario CEEED - Nº 15 - Año 13 - ISSN 2545-8299
135
Ciclo de investimento e indústria no Brasil (1974-2015):
da industrialização por substituição de importações
à desindustrialização da economia brasileira
Ainda segundo esses autores, uma das prováveis explicações para
a retração da atividade industrial entre 1983 e 2004, além do que já men-
cionamos – elevação do preço relativo do investimento e queda da relação
produto-capital em uso –, é a total ausência de uma política industrial
efetiva e claramente especificada pelo Estado brasileiro, em particular ao
longo de toda a década de 1990. Tudo isso considerado, o resultado é o
que se observa no gráfico a seguir.
Nota-se que nas décadas de 1980-90, o PIB industrial real no Bra-
sil ficou praticamente estagnado até 2002, quando, a partir daí ele experi-
mentaria um aumento ao saltar de 17,4% para 22,3%, em 2008. Deste ano
em diante, o comportamento desse indicador oscilou bastante até 2018,
ao atingir seu nível máximo em 2013 (22,7%) e o seu pior resultado em
2016 (18,9%), uma média de 21% entre 2008-18. Morceiro e Guilhoto
veem características distintas entre os setores manufatureiros em relação
ao movimento mais geral ocorrido na economia brasileira:
Vestuário, couros e calçados e o setor têxtil começaram a perder
participação desde início da década de 1970; máquinas e equipamentos
desde meados da década de 1970; metalurgia e produtos de metal, e mine-
rais não-metálicos desde início da década de 1980; química e petroquími-
ca desde meados dos anos 1980; alimentos, bebidas e fumo desde meados
Gráfico 4. Brasil: PIB real da indústria de transformação e grau de
industrialização, 1948-2018
1
3
5
7
9
11
13
15
17
19
21
23
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
PIB real (1947 = 1,00)
% no PIB
PIB real da manufatura
Manufatura (% do PIB) a preços de 2018
PIB real da manufatura per capita
Fonte: Morceiro e Guilhoto 2019, p. 6.
Anuario CEEED - Nº 15 - Año 13 - ISSN 2545-8299
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Guilherme Grandi y Alexandre Macchione Saes
de 2005. Ademais, pouquíssimos setores manufatureiros como material
elétrico, informática e eletrônica, e papel, celulose e gráfica não apresen-
tam uma tendência clara de desindustrialização. Dessa maneira, a desin-
dustrialização brasileira não teve início em todos os setores no mesmo
período. (Morceiro e Guilhoto 2019, 13)
Para os autores, o processo brasileiro de desindustrialização tem
se mostrado, à luz da experiência histórica, mais intenso nos setores de
alta tecnologia (indústrias de equipamentos de informática, eletrônicos e
ópticos, farmacêutica e aviação) e média-alta tecnologia (automobilísti-
ca, química, equipamentos e materiais elétricos e outros equipamentos de
transporte) ao passo que nos demais setores tecnológicos o que se observa
é uma tendência mais estável de participação setorial no PIB. Em suma,
a desindustrialização no Brasil tem ocorrido de modo mais evidente nas
indústrias intensivas em capital, portanto, de maior conteúdo tecnológico,
e em outros dois segmentos industriais de baixa e média-baixa intensidade
tecnológica, como são os casos das indústrias de borracha e plástico (Mor-
ceiro e Guilhoto 2019, 15).
Em suma, os setores de alta e média-alta tecnologia participaram,
em 2016, com 33,3% da produção industrial brasileira e com 70,8% das
importações de insumos e bens comercializáveis internacionalmente.
Essa considerável dependência das importações denota que tais setores
têm demonstrado um protagonismo menor na estrutura produtiva do país
em comparação aos de baixa e média-baixa tecnologia que, portanto, são
majoritários e apresentam um grau de adensamento produtivo14 maior do
que as empresas e atividades voltadas à geração de inovação tecnológica
(Carta IEDI, 929).
Diante do exposto, nossa intenção é, nas próximas seções deste
estudo, verificar quais eram as maiores e principais empresas estrangeiras
atuantes no Brasil e em quais setores da atividade econômica elas atua-
vam, além de investigar suas principais características por meio de um
conjunto variado de indicadores.
Investimento direto estrangeiro no Brasil, 1974-1994
As duas décadas entre 1974 e 1994 podem ser caracterizadas na
história econômica do Brasil como uma fase de transição do perfil da es-
14 O adensamento produtivo da indústria se mede pelo coeficiente importado de
insumos e componentes comercializáveis (CIICC), de modo que quanto maior
ele for, menor será o grau de adensamento produtivo de determinada indústria ou
setor, e vice-versa (Carta IEDI, 929).
Anuario CEEED - Nº 15 - Año 13 - ISSN 2545-8299
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Ciclo de investimento e indústria no Brasil (1974-2015):
da industrialização por substituição de importações
à desindustrialização da economia brasileira
trutura industrial e de um novo modelo de inserção internacional do país.
A economia brasileira viveria seus anos finais do regime militar com uma
estrutura industrial ainda sustentando elevados investimentos estatais, as-
sim como generoso espaço para a presença das empresas nacionais no
mercado nacional. Os elevados investimentos do governo por meio do II
PND, associado ao ambiente de crise da dívida e fechamento da economia
brasileira nos anos 1980, acabou por reduzir o espaço para a atuação das
empresas estrangeiras entre os maiores grupos em atuação no país. Se em
1974 eram 61 as empresas estatais e nacionais entre as cem maiores, nú-
mero que oscilou pouco entre 1979 e 1984, 59 e 63 respectivamente, nos
anos 1990 a presença nacional alcançou sua maior participação, com 70
empresas em 1990 e 69 em 1994.
Vale lembrar que, por outro lado, o conturbado cenário econômico
brasileiro dos anos de 1980, com os dilemas da dívida externa e o cresci-
mento da inflação, acabava afugentando o capital estrangeiro do país. Em
suma, os esperados efeitos da abertura econômica nacional ao mercado
internacional, ocorrido no Brasil entre os governos Collor de Mello (1990-
1992) e Cardoso (1994-2002), com resultados efetivos no processo de pri-
vatização, somente seriam sentidos entre os dados dos maiores grupos
registrados no país nos anos 2000. Foi assim que, ao longo do século XXI,
essa participação das empresas nacionais e estatais sofreria uma gradativa
tendência de queda, caindo para 52 empresas e chegando na sua menor
participação em 2015, com 47 empresas.
No que diz respeito à nacionalidade das empresas, durante a déca-
da de 1970 somente estiveram presentes entre as cem maiores empresas
acompanhadas pelo estudo, companhias estrangeiras dos Estados Unidos,
Canadá, Argentina e da Europa. A presença de empresas norte-americanas
e europeias expressava a chegada das grandes empresas multinacionais
nos mercados periféricos detentores de grandes mercados consumidores,
como o Brasil, diferentemente da tendência de instalação das multina-
cionais em países asiáticos que se tornaram plataformas de exportação
(Amsden 2009).
Os Estados Unidos foram os pioneiros nesse processo, especial-
mente num ambiente de crescente protecionismo do pós-Segunda Guerra
Mundial e da disseminação de políticas de substituição de importações
(Eichengreen 2000)15. Maior potência econômica mundial, os Estados
Unidos foram também dominantes na presença internacional: em meados
15 Como Mira Wilkins apresenta em seu clássico trabalho, o processo de interna-
cionalização das empresas norte-americanas pode ser recuperado no século XIX,
contudo, foi no pós-guerra que a presença se mostrou dominante (Wilkins 1974).
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Guilherme Grandi y Alexandre Macchione Saes
dos anos 1970, das 391 maiores multinacionais existentes no mundo, 180
eram americanas, outras 135 eram da Europa, 61 do Japão e apenas 15
tinham suas sedes em outras regiões (Veron 1980, 41).
A estratégia de instalação das empresas multinacionais não so-
mente acelerava a instalação de indústrias modernas nos países periféri-
cos, respondendo ao ambiente geopolítico de disseminação do capitalismo
(Gilpin 1975), como também se tornava um meio de superar alguns gar-
galos mais imediatos identificados pela política industrial, como a falta de
poupança interna ou os limites do balanço de pagamentos.
Naturalmente, a presença americana, maior economia mundial
naquele momento, foi dominante entre as maiores empresas estrangeiras
atuantes no Brasil no período. Entre 1974 e 1984, sua presença foi de
quinze a dezessete empresas entre as cem maiores, representando algo em
Tabela 1. Posição das maiores empresas norte-americanas atuantes
no Brasil, 1974-1994
Empresas 1974 1979 1984 1990 1994
General Motors do Brasil S.A. 4 9 9 4 4
Ford Brasil S.A. 5 10 13 9 *
Esso Brasileira de Petróleo S.A. 6 6 5 10 15
Cia. Atlantic de Petróleo 13 11 12 25
Texaco Brasil S.A. 14 12 11 23 16
Anderson Clayton S.A. 25
Goodyear 32
IBM 32 28 21
Xerox 35
Cargill 47
Fonte: “Maiores e Melhores”, Revista Exame (1974-1994).
* Entre 1987 e 1996, a Ford e Volkswagen se uniram numa joint-venture
chamada de Autolatina, que passou a funcionar contabilmente somente a partir
dos anos 1990. Em 1994 a empresa se encontrou na segunda posição entre as
maiores empresas do país, apenas atrás da Petrobrás.
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Ciclo de investimento e indústria no Brasil (1974-2015):
da industrialização por substituição de importações
à desindustrialização da economia brasileira
torno de 15 a 20% do capital das cem maiores empresas no país, e figuran-
do somente atrás da participação de empresas nacionais e estatais. Cinco
dessas empresas permaneceram durante praticamente todo o período entre
as vinte e cinco maiores empresas, representando, em suma, significativa
liderança no mercado nacional.
Essas maiores empresas norte-americanas atuantes no Brasil ope-
ravam basicamente em dois setores: automotivo, com a General Motors
e a Ford, e de distribuição de petróleo, com a Esso, a Texaco e a Atlantic.
Podemos dizer que tais empresas representavam a materialização do mo-
delo de industrialização brasileiro iniciado ainda nos anos 1950, pois por
meio do Plano de Metas, durante o governo de Juscelino Kubistchek, o
país iniciaria sua trajetória de consolidação do processo de industrializa-
ção, dando especial espaço para a presença do capital estrangeiro, através
de instrumentos como a Instrução 113 da Sumoc, que favorecia a entrada
de bens de capital para companhias internacionais16. A indústria automo-
bilística se instalava com significativo êxito naquela oportunidade, por
meio dos maiores grupos internacionais, abrindo oportunidades para as
empresas nacionais assumirem todo um rol de atividades acessórias, como
as indústrias de autopeças.
16 Para o Plano de Metas há uma vasta literatura. O mérito da obra de Lessa (1981)
é apresentar, de maneira bastante sistematizada, as metas e realizações do Plano.
Tabela 2. Posição das maiores empresas alemãs atuantes no Brasil,
1974-1994
Empresas 1974 1979 1984 1990 1994
Volkswagen do Brasil S.A. 2 5 6 3
Mercedez-Benz do Brasil S.A. 10 13 36 19 19
Cia. Siderúrgica
Mannesmann 58 44 91 93
Bayer do Brasil S.A. Inds.
Químicas 83 79 75 94 89
Krupp Metalúrgica C. Limpo
S.A. 90
Robert Bosch Ltda. 73 50
Siemens 79
Hoechst 99 63 51
Fonte: “Maiores e Melhores”, Revista Exame (1974-1994).
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Guilherme Grandi y Alexandre Macchione Saes
Esse padrão de investimento no setor automotivo também foi do-
minante no caso das empresas alemãs. Salta aos olhos a presença das em-
presas Volkswagen e Mercedes Bens. A primeira empresa como símbolo
da produção de automóveis no Brasil durante o governo Kubitschek, e a
segunda como a empresa central na produção de caminhões. Contudo,
apesar da relevância do setor automotivo, se comparado ao caso america-
no, a presença alemã esteve concentrada em poucos grupos entre 1974 e
1994, variando entre quatro e seis empresas entre as cem maiores atuantes
no país.
As outras empresas tradicionais da indústria alemã que estiveram
com relevante presença no país foram a Basf, a Bayer e a Hoechst, no
setor químico, a Siemens no setor elétrico, a Bosch em produção de má-
quinas e equipamentos automotivos e a Mannesmann no setor siderúrgico
e metalúrgico. Em certo sentido, eram todas empresas tradicionais de se-
tores em que a Alemanha conquistou posição tecnológica pioneira, desde
a segunda Revolução Industrial, mantendo destaque no mercado mundial
no pós-Segunda Guerra Mundial (Landes 1994). Especialmente a presen-
ça das indústrias químicas reforçava um dos grandes objetivos do governo
militar no Brasil de implementar a indústria pesada no país, promovendo
a atração das empresas líderes do setor químico e farmacêutico.
A Companhia Siderúrgica Mannesmann, fundada em 1952, man-
teve durante quase todo o período presença expressiva no mercado nacio-
nal, atendendo, por exemplo, o fornecimento de tubos para a Petrobras. A
empresa que era importante do setor siderúrgico e metalúrgico, mas tam-
bém mantinha atividades de mineração, acabou se desfazendo de parte de
seus negócios em 1992, voltando-se ao core das atividades de produção de
tubos, mas reduzindo seu faturamento e deixando de figurar entre as cem
maiores empresas a partir de então17.
Vale destacar a diferença do perfil das maiores empresas ameri-
canas e alemãs e aquelas de outros países europeus entre os anos de 1974
e 1994. Se as empresas líderes dos Estados Unidos e Alemanha estavam
concentradas nos setores automobilístico e de distribuição de petróleo, as
empresas francesas, inglesas, italianas e holandesas acabavam tendo um
perfil setorial mais diversificado. Entre esses dois setores somente figu-
raram a Holanda, com a Shell – posteriormente passando para o controle
acionário para a Inglaterra –, e a Itália, com a Fiat. No mais, é possível
verificar empresas em setores de bens de consumo não duráveis, como
a Nestlé, Gessy Lever, Souza Cruz, assim como de setores que tiveram
17 Conferir: http://www.vallourec.com/COUNTRIES/BRAZIL/PT/AboutUs/His-
tory/Paginas/default.aspx
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Ciclo de investimento e indústria no Brasil (1974-2015):
da industrialização por substituição de importações
à desindustrialização da economia brasileira
importante crescimento durante o governo militar, como o químico e pe-
troquímico, com a Rhodia, Ciba Gessy, Eletro Cloro, e o eletrônico, com
a Ericsson, Philips e Olivetti.
As empresas japonesas entram na lista das cem maiores somente
em 1984, com a presença da Honda na posição 100, sem aparecer no-
vamente entre os anos de 1990 e 1994. O retorno definitivo dos inves-
timentos japoneses com representativa participação ocorreria apenas no
segundo período deste estudo, a partir dos anos 2000. Por um lado, os
investimentos japoneses apareceram com a Usiminas, primeira empresa
brasileira privatizada nos anos 1990 e responsável pela aquisição da Com-
panhia Siderúrgica Paulista (Cosipa) em 1993, mas passou para as mãos
dos japoneses somente nos anos 2000; outra importante empresa que se
destacaria entre os investimentos japoneses seria a NEC, empresa do setor
de telecomunicações; e, por fim, a partir de 2004, as montadoras de veícu-
los entram definitivamente na lista, com a Honda e a Toyota.
Em suma, a estrutura industrial desse primeiro período de análise
ilustra a centralidade do setor petrolífero no desenvolvimento econômico
nacional dos anos 1970 e 1980. Em 1984, os setores de distribuição de
petróleo e químico e petroquímico somavam cerca de 40% do faturamento
do ano, sendo a Petrobrás a responsável pela metade dessa participação. O
setor de alimentos, bebida e fumo, por outro lado, oscilando pouco ao lon-
go de todo o período, ficou nas duas décadas em torno de 10%, enquanto
o setor automotivo sofreria maiores oscilações, sendo afetado diretamente
pelo impacto da crise dos anos 1980, decaindo de 15%, em 1974, para
aproximadamente 8%, em 1984.
Investimento direto estrangeiro no Brasil, 1994-2015
A dinâmica da economia brasileira seria significativamente alte-
rada ao longo dos anos 1990. A nova inserção do país na economia in-
ternacional, resultante do processo de globalização e das transformações
tecnológicas, de um lado, e da forma de assimilação desse processo com
a abertura do mercado nacional, por outro lado, acabou por influenciar
na transformação de alguns aspectos da estrutura industrial brasileira. A
chegada de novas empresas internacionais, a diversificação da nacionali-
dade dos países atuantes no mercado nacional entre as empresas líderes, a
disseminação de novos negócios e atividades, são apenas alguns aspectos
do conjunto de alterações que ocorreriam ao longo dos quase vinte anos
que abarcam essa segunda fase do estudo.
O discurso que pautou as reformas econômicas brasileiras no iní-
cio dos anos 1990 era de que o país teria sustentado uma indústria com
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Guilherme Grandi y Alexandre Macchione Saes
baixa produtividade e tecnologicamente atrasada, tanto por conta de uma
agressiva política de substituição de importações até os anos 1970, como
pelo fechamento da economia brasileira com a crise da dívida externa dos
anos 1980. Em suma, o cenário de proteção da indústria nacional oferecia
para a população produtos mais custosos do que a concorrência interna-
cional poderia ofertar.
A abertura econômica, para além de uma estratégia decisiva com-
binada com políticas de combate à inflação, permitiria ao Brasil acompa-
nhar o padrão de consumo oferecido pelas inovações de setores como os
das telecomunicações e da informática. A privatização de empresas es-
tatais se apresentava como instrumento tanto para viabilizar recursos a
novos investimentos industriais por meio da poupança externa, como tam-
bém, conforme o discurso hegemônico, para superar o atraso tecnológico
e a baixa produtividade das empresas estatais.
Se, até o início dos anos 1990, as maiores empresas estrangeiras
atuantes no Brasil eram dos Estados Unidos, do Canadá, de seis países da
Europa e da Argentina, somando nove nacionalidades diferentes, no ano de
2010 já seriam 18 nacionalidades diferentes. Entre os novos países presen-
tes com investimentos representativos no Brasil encontramos companhias
asiáticas do Japão e Coreia – em 2015 também uma empresa chinesa do
setor agropecuário –; investimentos indianos em siderurgia e metalurgia;
empresas de países da Europa que não figuravam na lista das cem maiores,
como Portugal e Espanha no setor de telecomunicações; e, por fim, as em-
presas mexicanas dos setores de telecomunicações e automotivo.
Nas últimas décadas, entretanto, a nacionalidade dos investimen-
tos tem se tornado cada vez mais fluida e variável. Com a crescente inte-
gração dos mercados financeiros internacionais, a composição acionária
majoritária das empresas tem se tornado mais sujeita a rápidas alterações,
tais como a da Ambev, que de capital nacional com a Brahma em 18ª po-
sição entre as maiores empresas em 2000, passou a figurar em 2004 como
a quinta maior empresa atuante no Brasil, mas agora com capital belga18.
Mas relevantes aspectos de continuidade também merecem ser en-
fatizados. Como já apontamos acima, a participação das empresas nacio-
nais e estatais entre as cem maiores foi paulatinamente reduzida. Contudo,
entre as maiores empresas atuantes no país a Petrobrás manteve a primeira
18 Além do caso da Ambev, pode-se ilustrar essas mudanças de sedes das empre-
sas em casos como o do Pão-de-açúcar, comprado por um grupo francês; o da
Vivo, da Portugal Telecom, adquirido pela espanhola Telefônica; ou mesmo o da
Raízen combustíveis, resultante da compra da Esso pela Cosan e posterior fusão
da Cosan com a Shell.
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Ciclo de investimento e indústria no Brasil (1974-2015):
da industrialização por substituição de importações
à desindustrialização da economia brasileira
posição no quesito faturamento das cem maiores empresas em todo o pe-
ríodo. O setor petrolífero como um todo continuou como o mais lucrativo
entre as maiores empresas, mas ao longo dos anos 2000 mudanças impor-
tantes ocorreriam entre as empresas líderes.
As empresas americanas, Texaco e Esso, que durante décadas es-
tiveram entre as vinte maiores empresas do mercado brasileiro, deixariam
de operar com suas razões sociais: a Texaco Brasil se transformou em 2005
na Chevron Brasil, por conta da fusão da Texaco com a Chevron, criando
a segunda maior empresa de energia com sede nos Estados Unidos. Adi-
cionalmente, em 2008, a Chevron Brasil foi desmembrada com a criação
da Chevron Brasil Lubrificantes, que dividiria suas atividades de distribui-
ção de combustíveis e de lubrificantes. Possivelmente, essa divisão dos ne-
gócios acabou por promover o desaparecimento da empresa entre as cem
maiores em faturamento nos anos de 2010 e 2015. No caso da Esso, sua
aquisição pela empresa nacional Cosan em 2008 e com sua posterior fusão
com a anglo-holandesa Shell em 2011, criando a empresa Raízen, acabou
por retirar o grupo americano do mercado brasileiro. Essa alteração no se-
tor de distribuição de petróleo acabou resultando numa significativa queda
da presença das empresas americanas entre as maiores empresas no Brasil,
com a participação decrescendo a metade, de 15 para 7%19.
19 Em contrapartida, entre as cinco maiores empresas de 2015, três eram dis-
tribuidoras de petróleo, BR Distribuidora, Ipiranga e Raízen Combustíveis, e a
Petrobrás manteve a liderança como empresa do setor químico e petroquímico.
Gráfico 5. Principais setores entre as 100 maiores empresas
no Brasil, 1994-2015
0.0%
5.0%
10.0%
15.0%
20.0%
25.0%
1994 2000 2004 2010 2015
Alimentos, Bebidas e Fumo
Automotivo
Comércio Varejista
Distribuição de Petróleo
Energia
Químico e Petroquímico
Fonte: “Maiores e Melhores”, Revista Exame (1994-2015).
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Guilherme Grandi y Alexandre Macchione Saes
Tabela 3. Posição das empresas americanas entre as 80 maiores no
Brasil, 1994-2015
Empresas 1994 2000 2004 2010 2015
General Motors do Brasil S.A. 4 7 9 13 31
Ford Brasil S.A. 40 21 58
Esso Brasileira de Petróleo S.A. 15 17 16
Motorola 63
Texaco Brasil S.A. 16 16 17
Alcoa 67 80
Intel 77
IBM 21 54 80
Xerox 35 61
Cargill 47 35 19 22 11
Kraft Foods 74 79
Multibrás 77
Elektro 79
Walmart 18 23
Whirlpool 54 72
ADM 63 35
HP 78
Amil 29
General Electric 77
Fonte: “Maiores e Melhores”, Revista Exame (1994-2015).
Outra importante mudança no perfil dos investimentos america-
nos em solo brasileiro foi sua tendência de diversificação setorial. Em
2000, o número de empresas americanas entre as cem maiores empresas
no Brasil alcançou a maior presença entre as estrangeiras, com dezoito
empresas, mas sendo sete delas nas posições entre 80 e 100. Ao longo da
década seguinte, a presença caiu continuamente alcançando apenas onze
empresas em 2010 e nove em 201520. Se o perfil das primeiras posições
20 Os Estados Unidos, mesmo com menor quantidade de empresas atuantes em
2015 continuou sendo o país com maior presença de empresas na lista das cem
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Ciclo de investimento e indústria no Brasil (1974-2015):
da industrialização por substituição de importações
à desindustrialização da economia brasileira
foi bastante alterado com a saída das empresas de distribuição de petróleo,
no que diz respeito ao setor automobilístico, Ford e General Motors con-
tinuariam marcando presença, mesmo com o crescimento da competição
com a entrada de novas marcas no mercado, especialmente de montadoras
asiáticas21.
Como a Tabela 3 demonstra, entretanto, a marcante característica
da participação das maiores empresas americanas no período entre 1994 e
2015 foi sua diversificação em setores e a dispersão entre companhias. Al-
guns dos importantes grupos americanos refletiram a dinâmica da econo-
mia brasileira nos anos 2000. De um lado, com o significativo crescimento
do mercado interno, empresas do comércio varejista, como o Walmart, e
de serviços, como a Amil, aproveitaram a ampliação da renda e do consu-
mo nacional para se estabelecer no topo das empresas mais lucrativas do
país, especialmente a partir de 2005. Por outro lado, o setor agrário-expor-
maiores no Brasil; Alemanha e França viriam em segundo lugar, com seis empre-
sas de cada país.
21 Para além das relevantes companhias automotivas, a italiana Fiat e a alemã
Volkswagen, que estiveram entre as vinte e cinco primeiras posições nos anos
2000, outras empresas passariam a disputar espaço no mercado, como as france-
sas Renault e Peugeot, e as japonesas Toyota e Honda.
Tabela 4. Posição das empresas alemãs entre as 100 maiores
no Brasil, 1994-2015
Empresas 1994 2000 2004 2010 2015
Volkswagen do Brasil S.A. 3 7 3 14
Mercedez-Benz do Brasil S.A. 19 25 33 45
Bayer do Brasil S.A. Inds.
Químicas 89 96 55
ThyssenKrupp CSA 97
Robert Bosch Ltda. 50 70 83
Siemens 39 58
Hoechst 51
Basf 47 49 67 56
Daimlerchrysler 36
MAN Latin America 73
Fonte: “Maiores e Melhores”, Revista Exame (1994-2015).
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Gráfico 6. Setores “secundários” entre as 100 maiores empresas no
Brasil, 1994-2015
0.0
%
2.0
%
4.0
%
6.0
%
8.0
%
10.0
%
12.0
%
14.0
%
1994 2000 2004 2010 2015
Construção
Eletroeletrônica
Siderurgia e
Metalurgia
Telecomunicações
Transportes
Fonte: “Maiores e Melhores”, Revista Exame (1994-2015).
tador foi outro que recebeu grande impulso, se valendo do momento do
boom das commodities pela demanda chinesa que impulsionou empresas
que atendiam atividades agrícolas como a Cargill e a ADM – Archer Da-
niels Midland Company.
No caso das empresas alemãs, sua presença parece ter se mantido
mais estável. Não somente os grupos tradicionais, tanto do setor automo-
bilístico (Volkswagen e Mercedes) como de setores tidos como tradicio-
nais da indústria alemã, empresas como Bayer, Basf, Bosch e Simens, se
mantiveram na lista das cem maiores com alguma regularidade.
A presença das empresas francesas no mercado nacional nos anos
2000 também reforça a relevância do mercado interno nacional. Ao longo
do período de 1994 a 2015, o setor varejista manteve sua participação entre
5 e 7%, mas diferentemente da dispersão nacional dos negócios, houve nas
duas últimas décadas significativo controle do setor pelo capital francês.
Este esteve presente no mercado em 2015 com o controle acionário do
grupo Pão de Açúcar e da empresa Cnova atuando no e-commerce de
empresas como Casas Bahia –, e do tradicional grupo Carrefour, além de
dois grupos do setor atacadista, o Assaí Atacadista e o Atacadão.
O setor de telecomunicações foi, por outro lado, um dos que
mais se transformou durante essa segunda fase de análise do artigo. Até
1994 ainda existiam os grandes grupos estatais de telefonia, como a
Telesp em vigésima posição, a Embratel em vigésima terceira, a Telerj
em quadragésima terceira e a Telemig em septuagésima terceira. A
privatização desses grupos deu oportunidade para a entrada das empresas
estrangeiras Vivo e Telefônica. A conjuntura de inflexão tecnológica
com a introdução da telefonia móvel exigiu investimentos de grande
monta desses novos grupos, ampliando significativamente o número de
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Ciclo de investimento e indústria no Brasil (1974-2015):
da industrialização por substituição de importações
à desindustrialização da economia brasileira
consumidores e elevando a participação do faturamento do setor entre as
cem maiores empresas até quase 12% em 2010.
Em suma, o segundo período de análise do artigo, entre 1994 e 2015,
foi marcado pela tendência de transformação da estrutura da economia
brasileira, com a materialização do processo de desindustrialização. O setor
industrial, que alcançou o auge de sua participação no PIB brasileiro em
meados dos anos 1980, representando cerca de 32%, em 2015 não
chegava aos 12%; o setor de serviços, por outro lado, ampliou sua
participação de 45% para mais de 70% durante essas três décadas22. O
resultado deste processo, no que diz respeito ao perfil das maiores
empresas atuantes no Brasil, produziu uma maior diversificação dos
setores e da nacionalidade das empresas entre as cem maiores. Ainda que
setores tradicionais tenham permanecido com significativa participação,
como o de distribuição de petróleo e petroquímico – com a presença da
Petrobrás, a maior empresa do país –, a entrada de empresas entre as cem
maiores em negócios como aqueles relacionados aos setores de
construção, telecomunicações e varejo, ilustram a tendência de
redução da relevância do setor industrial na economia brasileira.
Considerações finais
Analisamos neste artigo o desempenho em termos de faturamento
das maiores empresas estrangeiras no mercado brasileiro nos últimos
quarenta anos. O período que vai de meados da década de 1970 a 2015
foi marcado por profundas transformações econômicas, tanto de caráter
tecnológico, como também do perfil dos grupos empresariais. Uma fase de
crise do processo de ISI e avanço das reformas liberais na região, as quais
produziram uma tendência de desindustrialização da economia brasileira.
No que diz respeito às inovações tecnológicos, a economia mundial viveria
um novo ciclo de investimento com o desenvolvimento do setor de
telecomunicações e informática, setores que abririam não somente
22 Mesmo durante os governos do Partido dos Trabalhadores, em que uma retórica
desenvolvimentista fora resgatada, pouco se produziu em termos de geração de
emprego e de políticas industriais no sentido de ampliar a participação das indús-
trias na economia brasileira. Para uma discussão sobre a retórica do governo, con-
ferir Saes e Rego (2021). Para uma análise do perfil do emprego dos trabalhadores
no período, conferir Rugitsky (2016).
um novo padrão de consumo, com a disseminação de produtos como
computadores e celulares para a população, mas também promoveriam
mudanças nas formas de produzir com a modernização de maquinário,
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processos produtivos e de comercialização. Por outro lado, o cenário de
maior abertura econômica, construído mundialmente a partir dos anos
1980, ampliou a circulação de bens e capital entre países, cujo resultado
mais evidente foi a diversificação da nacionalidade de empresas entre as
mais lucrativas presentes na economia brasileira.
Contudo, contrariando as perspectivas de grandes alterações no
perfil das empresas atuantes no Brasil, algumas continuidades são
efetivamente marcantes. Por exemplo, no que diz respeito à lista das vinte
maiores empresas em faturamento, tanto estrangeiras como nacionais,
durante os quarenta anos os setores químico e petroquímico, de distribuição de
petróleo e automotivo se perpetuaram nas primeiras posições. Mesmo que
tenhamos observado a variação de algumas empresas na listagem das
cem maiores, com a saída das empresas americanas do setor de
distribuição de petróleo, e a ascensão de empresa automobilísticas de
outras nacionalidades acirrando a competição no mercado interno, os
setores continuaram como os mais lucrativos e dinâmicos da economia
brasileira.
Os poucos setores que despontaram com posições mais
representativas no rol das maiores empresas, mas não o suficiente para
superar a liderança dos setores de petróleo e automóveis, foram os setores de
telecomunicações e o de eletrônica. Juntos, esses setores passariam a
representar a participação de 10 a 15% do faturamento das grandes
empresas atuantes no Brasil entre 1994 e 2015. Seriam dois setores
que abririam as portas para novos grupos, com novas nacionalidades, no
mercado interno: é o caso das companhias de telefonia de Portugal,
Espanha e México, e das empresas asiáticas de produtos eletrônicos.
Mas o que o estudo fundamentalmente revela é que o modelo
brasileiro de industrialização constituído desde meados do século XX
tinha previsto uma certa divisão de tarefas entre as empresas multinacionais,
as estatais e as nacionais. Em certo sentido, essa divisão se manteve ao
longo de todo a segunda metade do século XX: os investimentos estatais se
concentraram nos setores de infraestrutura, mineração, siderurgia e petróleo
(tendo a Petrobrás como a principal empresa em faturamento durante todo o
período do estudo); os investimentos estrangeiros se fizeram presentes nas
indústrias de bens de consumo duráveis e não duráveis, como a indústria
automobilística, farmacêutica, de alimentos, etc.; e o capital nacional em
setores de menor desenvolvimento tecnológico, como o comércio varejista e
atacadista, a construção civil, a indústria de alimentos, entre outros.
Finalmente, a mudança no direcionamento da política industrial
brasileira do final dos anos 1970 para as décadas seguintes acabou por enfatizar
a instalação de uma indústria no Brasil voltada ao atendimento do seu mercado
interno sem a preocupação de constituir uma indústria
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Ciclo de investimento e indústria no Brasil (1974-2015):
da industrialização por substituição de importações
à desindustrialização da economia brasileira
competitiva internacionalmente, como também sem a preocupação de
promover verdadeiros investimentos em inovação e tecnologia. Em suma, se é
possível notarmos algumas tendências, mesmo que suaves, dos ciclos de
investimento e de inovações tecnológicas no perfil das cem maiores
empresas estabelecidas no mercado brasileiro entre 1974 e 2015, foi
possível perceber também ao longo do artigo as evidentes continuidades da
estrutura industrial brasileira que parecem insistir ao imperativo do tempo.
Contribución de Autoría
Conceptualización, Curación de datos, Análisis formal, Adquisición de
fondos, Investigación, Metodología, Administración del proyecto, Recursos,
Software, Supervisión, Validación, Visualización, Redacción (borrador
original), Redacción (revisión y edición): Guilherme Grandi y Alexandre
Macchione Saes.
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Resumo: O artigo discute como o método e a interpretação de Celso Furtado formaram sólidas bases para sua contínua análise das economias brasileira e internacional ao longo de suas quase cinco décadas de trabalho intelectual. O método histórico estrutural permitiu que Celso Furtado pudesse observar as transformações políticas e econômicas mundiais, revisando suas próprias teses e indicando novos dilemas para a sociedade. Ao confrontar as ideias de Furtado com a política econômica mais recentemente construída no país, consideramos que sua proposta de análise ainda é um instrumento poderoso para indicar caminhos para promover o projeto de transformação social almejado.
Thesis
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Manufacturing sector has a high potential to leverage both the economic and social development of a nation, especially in countries at intermediate stages of development such as Brazil. Since the mid-2000s, a premature deindustrialization process, which is not to be neglected, has been underway in Brazil. Brazilian deindustrialization occurs by the shrinkage of manufacturing value-added in GDP, in current and constant values, as well as the deteriorating manufactured goods' Brazilian foreign trade. However, the recent Brazilian deindustrialization has its peculiarities, such as the generation of a significant amount of jobs and improvement in social indicators, which, at first glance, may seem contradictory to the deindustrialization diagnosis.
Thesis
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A indústria de transformação, que havia liderado o crescimento econômico do Brasil nas cinco décadas precedentes a 1981 na fase de industrialização, perdeu dinamismo desde início dos anos oitenta. Desde 1981, o produto manufatureiro brasileiro cresceu pouco e abaixo da modesta taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Com isso, o setor manufatureiro tem contribuído cada vez menos para a formação do PIB brasileiro e encolhido bastante relativo a indústria global, desde 1981 até 2017. Esta pesquisa realiza uma avaliação da estrutura produtiva e tecnológica bem desagregada setorialmente da indústria de transformação brasileira, desse modo, ela oferece um diagnóstico mais detalhado da perda de dinamismo industrial. Esta pesquisa procurou responder as seguintes perguntas: i) os setores manufatureiros diminuíram participação no PIB de maneira uniforme ou foi concentrado setorialmente? ii) os setores intensivos em conhecimento e tecnologia seguem uma trajetória de desindustrialização normal ou prematura? (iii) o tecido industrial do país está mais oco ou rarefeito nos anos 2000? (iv) o país é um montador que faz pouca transformação industrial em algum segmento manufatureiro? (v) os segmentos industriais que mais importaram insumos e componentes são também aqueles que mais exportaram? Ou seja, o Brasil tem uma inserção ativa nas cadeias globais de valor (CGV)? (vi) os setores de serviços são relevantes na realização de pesquisa e desenvolvimento (P&D) no país de modo que a desindustrialização é irrelevante da perspectiva tecnológica? Para responder essas perguntas foram criadas sérias inéditas de longo prazo da participação dos setores manufatureiros no PIB. Também foi obtida uma tabulação especial do IBGE com informações para 258 subsetores industriais que permitiu avaliar o grau de adensamento produtivo deles. E por fim foram utilizados dados das Contas Nacionais do Brasil, das matrizes de insumo-produto e de investimento setor por setor para fazer um retrato setorial da produção e uso de P&D, através de técnicas de insumo-produto. Os resultados encontrados permitem concluir que o desenvolvimento industrial brasileiro está estagnado desde 1981 e a manufatura apresenta uma retração de longo prazo do produto manufatureiro real per capita. Esta pesquisa também apresentou uma abordagem setorial da desindustrialização pelo PIB de forma inédita, revelando que parte da desindustrialização brasileira é normal (ou esperada) e parte é prematura (e indesejada), dado o nível de desenvolvimento do Brasil. A desindustrialização prematura ocorreu nos setores intensivos em tecnologia, que também possuem baixo grau de adensamento produtivo ao importar parcela substantiva dos insumos e componentes intensivos em P&D. Também foi constatado que o Brasil se insere de forma passiva nas CGV, pois as classes industriais que mais importaram insumos e componentes não exportaram. Por fim, os setores de serviços – que ganharam bastante peso no PIB nas últimas décadas – conduzem no Brasil poucos investimentos em P&D e em menor magnitude que os setores manufatureiros. Portanto, da perspectiva tecnológica, a prematura mudança estrutural rumo aos serviços tem implicações relevantes quanto ao progresso tecnológico futuro do Brasil.
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The article presents the historical formation of the Brazilian developmentalism and discusses its relevance for the Brazilian economy. Therefore, recovers its origins, showing that results from the confluence of interventionists, nationalists and in defense of industrialization ideas that coalesced in the last quarter of the nineteenth century, during the agro-export period. Then, from the developmentalist concept it argues that this as a historical phenomenon, able to adapt itself to the changes in the Brazilian economy during the twentieth century, not being restricted to the import substitution industrialization period. Thus, we conclude that today’s challenge is its update face to the economic changes in recent decades, particularly with regard to deindustrialization. KEYWORDS: developmentalism; Brazilian industrialization; Brazilian economy in the 21st century
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No livro Estado e Planejamento Econômico no Brasil, Ianni faz uma análise das políticas do Estado para o desenvolvimento da economia brasileira. O autor delimita esta análise considerando o período compreendido entre o golpe de Vargas em 1930 e o golpe militar de 1964. As políticas de planejamento econômico relevantes dos governos que compuseram este período, juntamente com uma contextualização histórica, são apresentadas na obra. Ianni inicia seu estudo caracterizando o contexto político e econômico brasileiro que antecede o governo Vargas. A depressão econômica de 1929 simbolizou uma ruptura do antigo modelo político que permitia que as oligarquias agrárias tivessem total controle sobre a economia brasileira. O autor situa Vargas como um inovador, que deu um novo rumo à economia. A burguesia urbana brasileira, grupo que deu sustentação ao golpe e ascende ao poder, teve oportunidade, naquele momento, de propor um novo modelo econômico para o Brasil, baseado em planejamento e urbanização. A prioridade do novo governo foi desenvolver o processo industrial brasileiro, o que significou uma ruptura com o antigo modelo econômico agroexportador e com a oligarquia cafeeira que controlava a economia do país até então. O autor tem uma postura conservadora em relação ao tema proposto. Apesar de falar do modelo econômico, não dá ênfase em seus estudos ao contexto social, citando-o apenas de maneira superficial. Uma possível justificativa para esta postura é o contexto político no qual o livro foi publicado, que foi o da ditadura militar. Neste período, nenhuma forma de oposição era admitida, o que levou Ianni a expor suas críticas às políticas econômicas de forma extremamente sutil. Este artifício é revelado principalmente quando 1 Professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Falecido em 4 de abril de 2004. Nascido em 1926, Ianni se formou em Ciências Sociais na USP, onde fez mestrado, doutorado e livre-docência. Foi professor em universidades brasileiras e em outros países, como México, Estados Unidos, Espanha e Itália. É considerado um dos principais sociólogos do País, ao lado de Florestan Fernandes e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Durante o regime militar, Ianni foi proibido de dar aulas na USP e encontrou refúgio na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Ianni participou da chamada escola de sociologia paulista, que traçou um panorama novo sobre o preconceito racial no País. Nos últimos anos, dedicou seus estudos à globalização, deixando claro sua visão crítica em artigos e livros. Mesmo doente, nos últimos meses de vida, o professor continuava atendendo alunos e pesquisadores em sua sala no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Suas principais obras são: Cor e mobilidade social em Florianópolis (1960, em colaboração); Homem e sociedade (1961); Metamorfoses do escravo (1962); Industrialização e desenvolvimento social no Brasil (1963); Política e revolução social no Brasil (1965); Estado e capitalismo no Brasil (1965); O colapso do populismo no Brasil (l968); A formação do Estado populista na América Latina (1975); Imperialismo e cultura (1976); Escravidão e racismo (1978); A ditadura do grande capital (1981; Revolução e cultura (1983); Classe e nação (1986); Dialética e capitalismo (1987); Ensaios de sociologia da cultura (1991); A sociedade global (1992). * Licenciada em historia pela UNESC e Especialista em políticas publicas pela UDESC.
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O texto analisa a desindustrialização em marcha no Brasil e alguns dos impasses da política macroeconômica. A industrialização atingida nas décadas anteriores deteriorou-se face à ausência de políticas industriais e de desenvolvimento e da conjugação de juros elevados, falta de investimento, câmbio sobrevalorizado e exagerada abertura comercial. Nesse contexto, ocorre uma desindustrialização nociva que fragiliza o país e compromete sua economia. Na ausência de uma política macroeconômica consentânea com a política industrial, o desenvolvimento fica comprometido. Por sua vez, cabe lembrar que o subdesenvolvimento não representa uma etapa ou acidente de percurso, mas um processo que se inicia com a inserção no mercado internacional capitalista no século XIX e, desse processo, o Brasil ainda não se libertou.
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Introducción -- El patrón oro -- La inestabilidad del periodo de entreguerras -- El sistema Bretton Woods -- De la fluctuación a la unificación monetaria