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O Asilo da Ignorância

Authors:
  • Academia de Moscovo e UÉvora

Abstract

Sinopse O Asilo da Ignorância é um lugar onde a ignorância é celebrada e a busca da verdade é vista como perigosa. Ao entrar, os visitantes recebem óculos de sol para “proteger os seus olhos da luz ofuscante da verdade”. Os habitantes são diversos: alguns escolheram viver ali para escapar às complexidades do mundo, enquanto outros foram enviados por serem demasiado curiosos. As atividades diárias incluem aulas de “Desaprendizagem” e “Meditação Ignorante”, e a biblioteca contém livros em branco para evitar a leitura. No Jardim da Negação, a realidade é uma ilusão e a ignorância é a única verdade. Este lugar faz-nos refletir sobre a nossa relação com o conhecimento e a verdade, lembrando-nos que, embora a busca da verdade possa ser desconfortável, é essencial para uma vida com propósito.
O Asilo da Ignorância
Vítor Burity da Silva
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Sinopse
O Asilo da Ignorância é um lugar onde a ignorância é
celebrada e a busca da verdade é vista como perigosa. Ao
entrar, os visitantes recebem óculos de sol para “proteger os
seus olhos da luz ofuscante da verdade”. Os habitantes são
diversos: alguns escolheram viver ali para escapar às
complexidades do mundo, enquanto outros foram enviados
por serem demasiado curiosos. As atividades diárias incluem
aulas de “Desaprendizagem” e “Meditação Ignorante”, e a
biblioteca contém livros em branco para evitar a leitura. No
Jardim da Negação, a realidade é uma ilusão e a ignorância é
a única verdade. Este lugar faz-nos reetir sobre a nossa
relação com o conhecimento e a verdade, lembrando-nos
que, embora a busca da verdade possa ser desconfortável, é
essencial para uma vida com propósito.
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Imagine um lugar onde a ignorância não é apenas tolerada,
mas celebrada. Um refúgio onde a falta de conhecimento é
vista como uma virtude, e a busca da verdade é considerada
uma atividade perigosa e subversiva. Bem-vindo ao Asilo da
Ignorância, um lugar onde a luz do conhecimento é apagada
e a escuridão da ignorância reina suprema.
Neste asilo, os habitantes vivem numa bolha de
desinformação cuidadosamente mantida. Os livros são
objetos raros e perigosos, fechados em cofres e guardados
por sentinelas que garantem que ninguém se aventura a lê-
los. As escolas, em vez de serem templos de aprendizagem,
são locais onde se ensina a arte de esquecer e desaprender.
Os professores são mestres na arte da desinformação, e os
alunos são premiados pela sua capacidade de ignorar factos
e abraçar mitos.
A comunicação social, controlada por um conselho de
ignorantes, transmite apenas o que é conveniente para
manter a população na escuridão. As notícias são
fabricadas, e a verdade é distorcida até se tornar
irreconhecível. A curiosidade é vista como uma doença, e
aqueles que ousam questionar são rapidamente silenciados
e enviados para reabilitação, onde são ensinados a aceitar a
ignorância como a única realidade.
Os líderes do Asilo da Ignorância são venerados pela sua
capacidade em manter a população submissa e
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desinformada. São mestres na arte da manipulação,
utilizando o medo e a desinformação como ferramentas para
controlar as massas. Qualquer tentativa de iluminar as
mentes é rapidamente esmagada, e os dissidentes são
tratados como traidores.
Neste mundo distópico, a ignorância é a moeda de troca, e a
sabedoria é um crime. A busca do conhecimento é vista
como uma ameaça à ordem estabelecida, e aqueles que
ousam desaar o status quo são perseguidos sem piedade.
O Asilo da Ignorância é um lembrete sombrio do que
acontece quando a verdade é suprimida e a ignorância é
exaltada.
Ao entrar no Asilo da Ignorância, é recebido por um simpático
rececionista que lhe entrega um par de óculos de sol. “Para
proteger os seus olhos da luz ofuscante da verdade”, explica
com um sorriso. Aqui, a verdade é vista como uma ameaça à
paz e à tranquilidade. Anal, quem precisa da verdade
quando a ignorância é uma bênção?
O rececionista, um homem de meia-idade com um ar de
serenidade quase zen, guia-o por um corredor decorado com
quadros de paisagens idílicas e frases inspiradoras que
exaltam as virtudes da ignorância. A verdade é um fardo
pesado”, diz uma das placas, “deixe-o à porta e entre leve
como uma pluma”.
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Ao longo do caminho, repara noutros visitantes, todos
usando os mesmos óculos de sol, a caminhar com
expressões de contentamento. Alguns estão sentados em
confortáveis poltronas, a ler livros com títulos como “A Arte
de Não Saber” e A Felicidade da Desinformação”. Existe
uma biblioteca inteira dedicada a obras que celebram a
ignorância, cada livro cuidadosamente selecionado para
garantir que nenhuma verdade inconveniente perturba a paz
dos leitores.
O rececionista leva-o até uma sala de espera, onde toca uma
música suave em fundo. “Aqui, pode relaxar e esquecer todas
as suas preocupações”, diz, apontando para uma mesa com
chá e bolachas. “A verdade pode esperar fora. Aqui, está
seguro.
À medida que se instala, percebe que o ambiente está
pensado para ser o mais confortável e acolhedor possível. As
paredes estão pintadas em tons suaves de azul e verde, e há
plantas em cada canto, criando um ambiente de
tranquilidade. Tudo está pensado para que se sinta em casa,
longe das pressões e das exigências do mundo exterior.
Neste asilo, a ignorância não é apenas uma escolha, mas um
estilo de vida. E, por momentos, pergunta-se se vale mesmo
a pena procurar a verdade quando a ignorância oferece tanta
paz e conforto.
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