ArticlePDF Available

PERSPECTIVAS TERAPÊUTICAS DA Cannabis sativa L. NA ODONTOLOGIA

Authors:

Abstract and Figures

O uso medicinal da Cannabis sativa é milenar, envolvendo diversas culturas ao redor do mundo e a utilização dos fitocanabinoides como opções terapêuticas na odontologia podem trazer diversos benefícios à qualidade de vida de muitos pacientes. Este estudo teve como objetivo discorrer sobre os avanços das aplicações clínicas dos fitocanabinoides na odontologia. A metodologia empregada envolveu uma revisão de literatura, através da técnica de documentação direta, sendo classificado como pesquisa bibliográfica, utilizando a base de dados PubMed e utilizado o ‘’Google Scholar’’ como buscador de apoio, com os descritores “Cannabis”, "Canabinoides" e “Odontologia” no período de março a abril de 2023, com busca por artigos em língua inglesa e portuguesa publicados nos últimos cinco anos. Os critérios de inclusão sendo estudos meta-análises, revisões sistemáticas e ensaios clínicos randomizados, que abordassem o uso de fitocanabinoides na odontologia. Foram selecionados oito estudos para alcançar os objetivos do trabalho. Os resultados obtidos indicaram que as evidências sobre o uso de fitocanabinoides em doenças orofaciais ainda é insuficiente, em vias farmacológicas adequadas podem trazer benefícios potenciais em situações clínicas de dor nociceptiva, neuropática e crônica, entretanto, as pesquisas encontradas destacam a necessidade de mais estudos clínicos para serem desenvolvidos e garantir a melhor compreensão dos protocolos terapêuticos e melhores formas farmacêuticas, dessa forma, garantir maior confiabilidade para utilização clínica nessas e em outras aplicações da prática odontológica.
Content may be subject to copyright.
DOI: 10.58731/2965-0771.2024.46
PERSPECTIVAS TERAPÊUTICAS DA Cannabis sativa L.NA
ODONTOLOGIA
THERAPEUTIC PERSPECTIVES OF CANNABIS SATIVA L. IN DENTISTRY
Otacílio José de Araújo Neto1; Nadja de Azevedo Correia2; Karla Veruska
Marques Cavalcante da Costa3; Diego Nunes Guedes4; Katy Lísias Gondim Dias de
Albuquerque5
1Cirurgião-Dentista, Universidade Federal da Paraíba. Colaborador PEXCannabis - UFPB.
2,3,4 Departamento de Fisiologia e Patologia, Universidade Federal da Paraíba. Colaborador
PEXCannabis - UFPB
5Departamento de Fisiologia e Patologia, Universidade Federal da Paraíba. Coordenadora do
PEXCannabis UFPB, Membro da Sociedade Brasileira de Estudos da Cannabis -SBEC.
Submetido em 03 de março de 2024
Aceito para publicação em 14 de maio de 2024
Publicado em 17 de junho de 2024
Revista Brasileira de Cannabis, São Paulo, Vol. 3, n. 2, p. 88 a 100, 2024.
RESUMO
O uso medicinal da Cannabis sativa é milenar, envolvendo diversas culturas ao redor do
mundo, e a utilização de fitocanabinoides como opções terapêuticas na odontologia
podem trazer inúmeros benefícios à qualidade de vida de muitos pacientes. Este estudo
teve como objetivo discutir os avanços nas aplicações clínicas dos fitocanabinoides na
odontologia. A metodologia empregada envolveu revisão de literatura por meio da
técnica de documentação direta, classificada como pesquisa bibliográfica, utilizando a
base de dados PubMed e Google Acadêmico como mecanismo de busca de apoio, com
os descritores “Cannabis”, “Cannabinoids” e “Odontologia” no período de março a abril
de 2023, com foco em artigos publicados nos últimos cinco anos e/ou com relevância
científica significativa. Os critérios de inclusão foram metanálises, revisões sistemáticas
e ensaios clínicos randomizados abordando o uso de fitocanabinoides em odontologia.
Dos 66 estudos encontrados no PubMed, 8 estudos relacionados ao tema atenderam aos
critérios de inclusão para atingir os objetivos do trabalho. Os resultados indicaram que
as evidências sobre o uso de fitocanabinoides em doenças orofaciais ainda são
insuficientes. Formas farmacêuticas adequadas podem trazer benefícios potenciais em
situações clínicas de dor nociceptiva, neuropática e crônica. Contudo, as pesquisas
encontradas nesta análise evidenciam a necessidade de novos estudos serem
desenvolvidos nesta área para garantir um melhor entendimento dos protocolos
terapêuticos, das melhores formas farmacêuticas, e assim garantir maior confiabilidade
para uso clínico nestas e outras condições odontológicas.
Palavras-chave: Canabinoides, Cannabis, Odontologia.
Revista Brasileira de Cannabis, São Paulo, Vol. 3, n. 2, p. 88 a 100, 2024.
ABSTRACT
The medicinal use of Cannabis sativa is ancient, involving various cultures around the
world, and the utilization of phytocannabinoids as therapeutic options in dentistry can
bring numerous benefits to the quality of life of many patients. This study aimed to
discuss the advances in the clinical applications of phytocannabinoids in dentistry. The
methodology employed involved a literature review through direct documentation
technique, classified as bibliographic research, using the PubMed database and Google
Scholar as a supporting search engine, with the descriptors "Cannabis," "Cannabinoids,"
and "Dentistry" from March to April 2023, focusing on articles published in the last five
years and/or with significant scientific relevance. Inclusion criteria were meta-analyses,
systematic reviews, and randomized clinical trials addressing the use of
phytocannabinoids in dentistry. Out of the 66 studies found on PubMed, 8 studies
related to the topic met the inclusion criteria to achieve the objectives of the work. The
results indicated that the evidence on the use of phytocannabinoids in orofacial diseases
is still insufficient. Suitable pharmaceutical forms may bring potential benefits in
clinical situations of nociceptive, neuropathic, and chronic pain. However, the research
found in this analysis highlights the need for further studies to be developed in this area
to ensure a better understanding of therapeutic protocols, the best pharmaceutical forms,
and thereby guarantee greater reliability for clinical use in these and other dental
conditions.
Keywords: Cannabinoids, Cannabis, Dentistry.
Revista Brasileira de Cannabis, São Paulo, Vol. 3, n. 2, p. 88 a 100, 2024.
INTRODUÇÃO
A história da Cannabis sativa como um recurso medicinal abrange milênios e
envolve diversas culturas ao redor do mundo, onde a planta foi usada para tratar várias
doenças. O cultivo e o uso medicinal são documentados desde a antiguidade, com
descobertas arqueológicas e registros históricos atestando a utilização terapêutica em
diferentes sociedades1. Avanços significativos na pesquisa da planta ocorreram durante
o século XX. Em 1940, o canabidiol (CBD) foi isolado pela primeira vez 2, e em 1964
foi isolado pela primeira vez o delta-9 tetra-hidrocanabinol (THC)3, sendo esses os
principais componentes da planta, denominados fitocanabinoides. Posteriormente,
receptores canabinoides foram identificados no cérebro, e em 1992, o primeiro
neurotransmissor endocanabinoide, a anandamida (AEA), foi isolado.3O segundo
neurotransmissor endocanabinoide, 2-araquidonilglicerol (2-AG), foi isolado em 1995.4
Esses avanços científicos contribuíram para uma maior compreensão dos efeitos e
potenciais terapêuticos da C. sativa e sua relação com o sistema endocanabinoide
(SEC).
O SEC desempenha um papel crucial na modulação de várias funções
fisiológicas no organismo humano, incluindo a regulação do humor, do apetite, da dor,
da memória, da neuroproteção e de outros. Esse sistema complexo é composto por
receptores canabinoides do tipo I e tipo II, por ligantes endógenos conhecidos como
endocanabinoides, como a AEA e o 2-AG e enzimas de síntese e degradação deles. A
produção de AEA é feita através da ação da enzima específica
araquidonil-fosfatidiletanolamina-fosfolipase D (NAPE-PLD), enquanto o 2-AG é
sintetizado pela diacilglicerol lípase (DAGL). Os endocanabinoides produzidos são
transportados através do transportador de membrana dos endocanabinoides (EMT) para
que possam se ligar aos receptores canabinoides. No entanto, esses endocanabinoides
são rapidamente degradados, sendo que a AEA é degradada pela hidrólise das amidas
dos ácidos graxos (FAAH) e o 2-AG é degradado pela FAAH ou pela monoacilglicerol
lipase (MAGL) como representado na figura 1. O SEC é composto pelos receptores
canabinoides, endocanabinoides, enzimas e transportador EMT. 5 7
Figura 1: Sistema Endocanabinoide.Fonte:Autores.
Os endocanabinoides são moduladores chave que interagem com os receptores
canabinoides, influenciando processos neuronais e participando tanto da
neurotoxicidade quanto da neuroproteção.8Em C. sativa, as maiores concentrações de
fitocanabinoides podem ser encontradas nos tricomas glandulares, estruturas
especializadas localizadas principalmente nas flores fêmeas não fertilizadas da planta,
Revista Brasileira de Cannabis, São Paulo, Vol. 3, n. 2, p. 88 a 100, 2024.
antes da senescência. Essas concentrações de fitocanabinoides e terpenos variam em
concentração e perfil dependendo do estágio de crescimento e do quimiotipo da planta.9
Os metabólitos secundários de C. sativa, incluindo fitocanabinoides e terpenos,
desempenham um papel crucial nas propriedades medicinais da planta. Estes compostos
interagem de maneira sinérgica, potencializando os efeitos terapêuticos uns dos outros
e, assim, contribuindo para o chamado "efeito entourage" ou efeito comitiva.10
A literatura científica sobre fitocanabinoides teve avanços significativos nos
últimos anos, reafirmando o seu potencial terapêutico. Estudos relatam que o CBD
possui efeitos como prolongamento do sono, ação anti-inflamatória, anticonvulsivante,
ansiolítica e alívio da dor neuropática, além disso, os fitocanabinoides tem se mostrado
útil no controle da dor, tratamento da dependência de álcool, abstinência de opioides,
estimulação do apetite, efeitos antipiréticos, antibacterianos e demonstrado sua eficácia
no tratamento de doenças neurodegenerativas, como a doença de Parkinson e Doença de
Alzheimer.11 AC. sativa tem sido empregada ainda no tratamento da epilepsia refratária
e no alívio dos sintomas de pacientes com transtorno do espectro autista de forma
segura e eficaz.12,13 Tais usos terapêuticos, documentados desde a antiguidade,
corroboram o seu potencial como um recurso medicinal valioso e reforçam a
importância de aprofundar os estudos e pesquisas nessa área.
Segundo a Academia Americana de Dor Orofacial, a disfunção
temporomandibular (DTM) é definida como um conjunto de distúrbios que envolvem os
músculos mastigatórios ou a articulação temporomandibular e estruturas associadas,
sendo considerada a maior causa de dor com origem não odontogênica na região
orofacial.14 Essa condição não é causada apenas por um único fator, sendo considerada
como uma desordem complexa que possui comorbidades sobrepostas, alterações físicas
e psicológicas. A etiologia multifatorial e a difusão do modelo biopsicossocial são
justificadas pela manifestação de sinais e sintomas da DTM em circunstâncias de
estresse emocional. O tratamento pode ser tão complexo quanto o seu diagnóstico,
evidências científicas demonstraram que as terapias são divididas em tratamentos
definitivos e de suporte, como aconselhamento e orientações de autocuidado,
farmacoterapia, fisioterapia, fonoterapia, psicoterapia, higiene do sono, laserterapia,
placas estabilizadoras e procedimentos cirúrgicos. Mesmo apresentando considerável
sucesso, pacientes que desenvolvem uma sensibilização central do quadro de dor
crônica, fazendo com que algumas vezes a terapia conservadora não seja eficaz, esses
são considerados refratários ao tratamento.15
O tratamento da dor neuropática em pacientes odontológicos é uma área de
crescente interesse e envolve a colaboração entre cirurgiões-dentistas especialistas em
DTM e Dor Orofacial e médicos neurologistas. O manejo envolve uma abordagem
multidisciplinar, incluindo tratamentos farmacológicos, intervenções não
farmacológicas e procedimentos intervencionistas, conforme a necessidade do paciente.
A atual farmacoterapia aplicada nesses casos se com o uso de antidepressivos
tricíclicos como a amitriptilina e nortriptilina devido à sua capacidade de bloquear a
recaptação de serotonina e norepinefrina. Anticonvulsivantes como a pregabalina e
gabapentina são medicamentos de primeira linha para a dor neuropática, pois atuam no
sistema nervoso central para reduzir a excitabilidade neuronal. O uso de
anti-inflamatórios não esteroides, como ibuprofeno e naproxeno, podem ajudar a
controlar a dor em alguns pacientes.16 No entanto, a busca por alternativas terapêuticas
eficazes, seguras, com menos efeitos colaterais e mais adesão clínica continua e os
medicamentos à base de C. sativa têm atraído atenção como potenciais agentes
analgésicos com alta tolerabilidade e baixos riscos de efeitos adversos.
Revista Brasileira de Cannabis, São Paulo, Vol. 3, n. 2, p. 88 a 100, 2024.
AC. sativa tem despertado interesse crescente na pesquisa médica quanto aos
seus potenciais efeitos terapêuticos em várias áreas da saúde, incluindo a odontologia.
Estudos recentes sugerem que os compostos da planta, em especial o CBD e o THC,
podem ter efeitos benéficos no tratamento de dor orofacial, inflamação e ansiedade em
pacientes odontológicos. Além disso, os fitocanabinoides podem ter ação
antimicrobiana e anti-inflamatória na gengivite e periodontite, que são condições
odontológicas comuns. O CBD é conhecido por interagir com o SEC, regulando assim
processos inflamatórios e modulando a dor.17, 18
Estudos documentam que o SEC tem uma atuação intensa em áreas
fundamentais para a percepção da dor, com endocanabinoides modulando eventos
dolorosos como a hiperalgesia e alodínia. A ativação dos receptores CB1 pode
contribuir para a redução da hiperalgesia e da alodínia, especialmente em cenários
inflamatórios. Os canabinoides parecem limitar a liberação de glutamato no hipocampo,
atenuando a dor associada ao receptor N-metil-D-aspartato (NMDA), sugerindo
potencial para tratar condições como enxaqueca e fibromialgia, cefaleias entre outras
relacionadas à atividade glutamatérgica. A interação entre os sistemas canabinoide e
opioide envolve a liberação de endorfina e a otimização do efeito analgésico dos
opioides 19.
Com base nessas evidências, a utilização de fitocanabinoide como opção
terapêutica, na odontologia, pode ser uma área promissora de pesquisa e prática clínica,
e este trabalho tem como objetivo discorrer sobre os avanços dos estudos das aplicações
clínicas de fitocanabinoides na odontologia por meio de uma revisão de literatura.
Materiais e métodos
Realizou-se uma revisão de literatura com pretensão de analisar o atual uso de
fitocanabinoides na prática odontológica. Para tal, foi efetuada uma investigação
detalhada de artigos científicos na base de dados “PubMed” e utilizado o “Google
Scholar” como buscador de apoio, com os descritores “Cannabis”, “Canabinoides” e
“Odontologia” no período de março a abril de 2023, seguindo uma estratégia de busca
(Figura 2). Foram selecionados artigos dos últimos 5 anos e/ou com grande relevância
científica. Aplicaram-se os critérios de inclusão: artigos de meta análise, revisão
sistemática e ensaios clínicos randomizados que abordassem o uso de fitocanabinoides
na odontologia e exclusão aqueles que fogem do tema pesquisado nos resultados
encontrados. Foram selecionados os artigos de acordo com o título e o resumo para
análise e aplicação dos critérios de inclusão. A realização de uma avaliação criteriosa
possibilitou a relação das possibilidades terapêuticas com o uso de fitocanabinoides da
C. sativa em situações odontológicas, mediante uma abordagem qualitativa. Dos 66
estudos encontrados no PubMed foram selecionados 8 estudos relacionados ao tema que
seguiram os critérios de inclusão, para que os objetivos do trabalho fossem alcançados.
Revista Brasileira de Cannabis, São Paulo, Vol. 3, n. 2, p. 88 a 100, 2024.
Figura 2. Estratégia de busca utilizada. Fonte:Autores.
Resultados
A crescente compreensão dos efeitos terapêuticos dos compostos de C. sativa
tem impulsionado a exploração de seu potencial em diversas áreas da saúde, incluindo a
odontologia. Ao longo desta análise, aborda-se os possíveis benefícios, desafios e
implicações futuras da incorporação de compostos fitocanabinoides como opções
terapêuticas na prática odontológica.
Bellocchio et al.20 (2021), em revisão sistemática, avaliaram os efeitos da C.
sativa na saúde bucal associados ao uso recreativo e fins terapêuticos, abordando a
importância de os cirurgiões-dentistas compreenderem tanto os efeitos adversos quanto
os benefícios potenciais dos fitocanabinoides. A revisão incluiu 31 estudos, que
apresentaram resultados variados, alguns estudos indicaram que o uso recreativo,
abusivo e fumado de C. sativa, pode causar danos à saúde bucal, incluindo maior
prevalência de cárie dentária, doença periodontal, boca seca, câncer e xerostomia. Por
outro lado, alguns estudos sugeriram que os canabinoides têm potencial para tratar
doenças bucais, devido às suas propriedades anti-inflamatórias, analgésicas e
antimicrobianas.
Votrubec et al.21 (2022) desenvolveram uma revisão sistemática e investigaram o
potencial dos canabinoides, tanto naturais quanto sintéticos, no manejo da dor orofacial
em pacientes no contexto odontológico (manejo de efeito miorrelaxante em pacientes
com dor miofascial, efeitos em radioterapia em cânceres da cabeça e pescoço, efeitos
trans e pós-operatórios), foram selecionados 5 ensaios clínicos randomizados. De
acordo com os autores, apesar do CBD e do THC apresentarem um amplo espectro de
ações antinociceptivas e anti-inflamatórias, o uso de canabinoides no tratamento da dor
orofacial ainda é controverso e incipiente. Apenas um estudo demonstrou efeitos
positivos do uso de CBD tópico no alívio da dor da DTM, mas a evidência geral
permanece insuficiente. Os pesquisadores recomendam mais estudos randomizados
rigorosos para avaliar diferentes doses de canabinoides tópicos e sistêmicos e possíveis
interações com outros medicamentos, a fim de fornecer informações mais conclusivas
sobre seu potencial terapêutico na odontologia.
Grossman, Tan, Gadiwalla22 (2022) realizaram uma revisão sistemática sobre os
efeitos do uso medicinal de produtos à base de C. sativa na dor e inflamação orofacial,
destacando que, tanto produtos à base de C. sativa natural quanto sintética para uso
medicinal, têm ganhado crescente atenção mundial devido ao aumento das evidências
que apoiam seu uso no alívio da dor crônica inflamatória e neuropática associada a
Revista Brasileira de Cannabis, São Paulo, Vol. 3, n. 2, p. 88 a 100, 2024.
diversas condições. Foram selecionados 3 ensaios clínicos randomizados que abordam o
uso de fitocanabinoides no contexto de inflamação pós e pré-operatória e na dor
miofascial. Um estudo demonstrou resultados positivos na aplicação de CBD tópico
para redução desse tipo de dor. Entretanto, outros dois estudos não demonstraram
efeitos analgésicos significativos no uso de canabinoides sintéticos após exodontia do
terceiro molar. Os autores ressaltam que, apesar de existir um vasto corpo de evidências
de alta qualidade que apoiam o uso de produtos à base de C. sativa no tratamento da dor
nociceptiva e neuropática crônica, as evidências relacionadas especificamente às
manifestações orofaciais são extremamente limitadas, sendo necessária a realização de
mais pesquisas para investigar a eficácia desses produtos e sua aplicabilidade na área
orofacial, enfatizando que os profissionais médicos e dentistas devem acompanhar de
perto os resultados desses estudos, uma vez que isso pode trazer benefícios
significativos para os pacientes.
Sainsbury et al.23 (2021) avaliaram a eficácia dos medicamentos à base de C.
sativa e canabinoides sintéticos comparados com terapias placebos em pacientes com
dor neuropática crônica por meio de uma revisão sistemática com meta-análise. A
meta-análise incluiu 15 ensaios clínicos randomizados e mostrou que houve uma
redução significativa na intensidade da dor para THC/CBD, THC e dronabinol em
comparação com o placebo. Além disso, pacientes que tomaram THC/CBD e THC
apresentaram maior probabilidade de alcançar uma redução de 30% a 50% na dor em
comparação com o grupo placebo. No entanto, as evidências foram classificadas como
de qualidade moderada a baixa, indicando a necessidade de mais pesquisas para avaliar
a eficácia e segurança e definir protocolos clínicos para o uso de canabinoides no
tratamento da dor neuropática crônica.
Bhaskar et al.24 (2021) reuniram especialistas de nove diferentes países que
desenvolveram recomendações baseadas em consenso sobre como dosar e administrar
fitocanabinoides em pacientes com dor crônica. Os resultados demonstraram consenso
entre os especialistas de que os fitocanabinoides podem ser considerados para pacientes
com dor neuropática, inflamatória, nociceptiva e mista. Foram propostos três protocolos
de tratamento, incluindo um protocolo de rotina, um protocolo conservador e um
protocolo rápido conforme ilustrado (figura 3). Esses protocolos variam na dose inicial
e na taxa de titulação de CBD e THC, de acordo com as necessidades e objetivos do
paciente.
Revista Brasileira de Cannabis, São Paulo, Vol. 3, n. 2, p. 88 a 100, 2024.
Figura 3. Protocolos de tratamento com fitocanabinoides. Fonte:Bhaskar et al. 2021.
O primeiro protocolo, chamado de protocolo de rotina, envolve o início do
tratamento com uma variedade de CBD predominante, administrando 5 mg de CBD
duas vezes ao dia. A dose é ajustada em incrementos de 10 mg a cada 2 a 3 dias, até que
o paciente atinja seus objetivos terapêuticos ou até a dose máxima de 40 mg/dia de
CBD. A escolha do CBD se por sua segurança e alta tolerabilidade, não induzindo
efeitos psicoativos e com baixos riscos de efeitos adversos. Se necessário, pode-se
considerar adicionar THC em 2,5 mg e ajustar a dose em 2,5 mg a cada 2 a 7 dias, até
atingir uma dose diária máxima de 40 mg/dia de THC. O segundo protocolo,
denominado protocolo conservador, começa com 5 mg de CBD uma vez ao dia e titular
a dose de CBD em incrementos de 10 mg a cada 2 a 3 dias, até atingir os objetivos do
paciente ou até a dose máxima de 40 mg/dia. Após alcançar a dose predominante de
CBD de 40 mg/dia e não chegar no potencial máximo da terapia, pode-se adicionar
THC em 1 mg/dia e ajustar a dose em incrementos de 1 mg a cada 7 dias, até uma dose
diária máxima de 40 mg/dia de THC. O terceiro protocolo, chamado protocolo rápido,
inicia o tratamento com uma variedade equilibrada de THC:CBD, administrando 2,5-5
mg de cada fitocanabinoide uma ou duas vezes ao dia. A dose de cada fitocanabinoide é
ajustada em incrementos de 2,5-5 mg a cada 2 a 3 dias, até que o paciente atinja seus
objetivos terapêuticos ou até uma dose máxima de THC de 40 mg/dia. Esses protocolos
detalhados oferecem orientações valiosas para profissionais de saúde na personalização
do tratamento com fitocanabinoides para pacientes com dor crônica, levando em
consideração necessidades e objetivos específicos de cada paciente, o SEC, efeito
comitiva dos fitocanabinoides e o alcance da dose ideal.
AminiLari et al.25 (2022), em revisão sistemática e meta-análise, propõem que
canabinoides, sintéticos ou naturais, podem ser modestamente eficazes no tratamento de
distúrbios do sono, como insônia e apneia do sono. 39 estudos (5.100 pacientes) foram
elegíveis para revisão, dos quais 38 avaliaram canabinoides orais e um administrou C.
sativa inalada. O acompanhamento médio foi de 35 dias e a maioria dos ensaios incluiu
pacientes com dor crônica oncológica ou não oncológica. O estudo demonstrou que o
uso de canabinoides pode proporcionar pequenas melhorias na qualidade do sono e na
perturbação do sono entre pacientes com dor crônica, sendo que esses benefícios podem
Revista Brasileira de Cannabis, São Paulo, Vol. 3, n. 2, p. 88 a 100, 2024.
ser mais significativos em pacientes com dor crônica não oncológica. No entanto, o uso
dessas substâncias também pode estar associado a efeitos colaterais adversos, incluindo
um risco modesto na ocorrência de tontura e um risco menor de outros efeitos colaterais
temporários, como fadiga e náusea com tratamentos mais prolongados. Os autores
enfatizam que a evidência disponível para comparação entre a C. sativa medicinal e os
canabinoides e outros tratamentos ativos ainda é de baixa a muito baixa certeza,
indicando a necessidade de mais pesquisas para entender melhor o papel dessas
substâncias no tratamento de distúrbios do sono.
Valenti et al.26 (2022), em revisão sistemática, investigaram os efeitos biológicos
do CBD em uma variedade de células cancerígenas humanas, localizadas em tecidos
tegumentares, gastrointestinais, genitais, mamários, respiratórios, nervosos,
hematopoiéticos e esqueléticos. O trabalho englobou 84 estudos publicados nos últimos
24 anos, constataram que o CBD afeta a viabilidade celular, proliferação, migração,
apoptose, inflamação, metástase e expressão de receptores de canabinoides. Os
resultados mostraram que o CBD geralmente inibe a viabilidade e a proliferação celular,
com exceção do sistema tegumentar, e que a migração celular foi reduzida em todas as
concentrações testadas. Além disso, ele induziu a apoptose em doses altas e baixas,
reduziu a inflamação em células nervosas e gastrointestinais e diminuiu a metástase em
baixas concentrações. Esses achados sugerem que o uso terapêutico do CBD apresenta
um grande potencial de aplicações clínicas em diversas condições patológicas. A
determinação de uma dose terapêutica adequada que minimize os efeitos colaterais é
crucial para estabelecer uma abordagem eficaz e segura com o CBD. O estudo destaca a
importância de uma análise aprofundada dos mecanismos de ação do CBD e de estudos
clínicos adicionais para fornecer um melhor entendimento das doses ideais e das
possíveis implicações terapêuticas. Assim, os profissionais de saúde poderão utilizar o
CBD como uma alternativa viável e promissora no tratamento desses pacientes.
Umpreecha et al.27 (2023), através de estudo clínico randomizado, investigaram
a eficácia e segurança do CBD pasta oral tópica a 0,1% no tratamento de úlceras aftosas
recorrentes. O estudo randomizado incluiu 72 pacientes alocados em um grupo placebo,
um grupo controle tratado com a triancinolona acetonida (TA) e o grupo tratado com
CBD 0,1%. Os resultados mostraram que o CBD reduziu significativamente o tamanho
da úlcera e acelerou a cicatrização sem causar efeitos colaterais, além de apresentar
efeitos anti-inflamatórios no estágio inicial e efeito analgésico no estágio avançado,
apresentando uma ação muito similar ao grupo tratado com a TA. A pesquisa demonstra
que o CBD tópico a 0,1% pode ser uma alternativa mais apropriada para pacientes com
úlceras aftosas recorrentes que não desejam utilizar esteroides tópicos, exceto em casos
que o CBD seja contraindicado, fornecendo uma opção terapêutica segura e eficaz para
o manejo dessa condição. No entanto, estudos adicionais com amostras maiores e um
período de acompanhamento mais longo são necessários para confirmar esses achados e
determinar a eficácia a longo prazo e o perfil de segurança do tratamento.
Discussão
A crescente atenção à utilização dos fitocanabinoides para fins terapêuticos tem
incentivado diversos pesquisadores que exploram suas possíveis aplicações na
odontologia. Esses estudos têm contribuído para um melhor entendimento dos
benefícios potenciais e efeitos adversos dos fitocanabinoides, permitindo aos
cirurgiões-dentistas uma abordagem mais embasada no uso desses produtos em suas
práticas clínicas.
O uso abusivo de forma fumada da planta pode ocasionar diversos efeitos
Revista Brasileira de Cannabis, São Paulo, Vol. 3, n. 2, p. 88 a 100, 2024.
adversos ao paciente e repercussões na saúde bucal, como a maior prevalência de cárie,
doenças periodontais e lesões teciduais como bem abordado pelo estudo de Bellocchio
et al. (2021)23, entretanto o uso de fitocanabinoides em formas farmacêuticas adequadas
podem trazer benefícios potenciais em diversas situações clínicas. O estudo de Votrubec
et al. (2022)24 avaliando adequadas aplicação dos canabinoides sintéticos e naturais
constatou efeitos positivos do CBD tópico no alívio da dor na DTM, porém devido
poucos estudos para solidificar tais resultados, a evidência geral ainda é insuficiente. O
trabalho de Grossman, Tan e Gadiwalla (2022)25, avaliando os produtos à base de C.
sativa sintéticos e naturais em situações de dor e inflamação orofacial também destacou
a limitação em evidências para as manifestações orofaciais. A meta-análise de
Sainsbury et al. (2021)26 demonstrou significativa redução da intensidade de dor em
pacientes com dor neuropática crônica com o uso de THC/CBD, THC e dronabinol
quando comparado ao placebo, entretanto esse estudo também considerou as evidências
de qualidade moderada/baixa.
Pacientes refratários a terapias tradicionais da DTM, dor neuropática ou em
quadros de sensibilização central com baixa resposta à terapia farmacológica necessitam
de profissionais capacitados que levem em consideração as necessidades e objetivos
específicos do tratamento, o SEC, efeito comitiva dos fitocanabinoides e o alcance de
doses ideais, dessa forma o estudo elaborado por Bhaskar et al. (2021)27 pode oferecer
recomendações valiosas de dose de fitocanabinoides para o tratamento desses pacientes
em consultório odontológico.
Conclusões
Diante dos achados do estudo, é possível observar que as evidências científicas
sobre o uso de fitocanabinoides nas doenças orofaciais ainda são insuficientes. Diante
da metodologia empregada na seleção dos artigos, poucos estudos evidenciaram o uso
desse recurso em situações clínicas odontológicas, os achados demonstram que os
fitocanabinoides podem ser aliados chaves em situações como na dor nociceptiva,
neuropática e crônica, entretanto, mais estudos precisam ser desenvolvidos nessa área
para garantir a melhor compreensão dos protocolos terapêuticos, as melhores formas
farmacêuticas e dessa forma garantir maior confiabilidade para utilização clínica nessas
e em outras condições odontológicas.
Referências
1. Zuardi AW. History of Cannabis as a medicine: a review. Brazilian Journal of
Psychiatry. 2006;28(2):153-7.
2. Adams R, Hunt M, Clark JH. Structure of cannabidiol, a product isolated from the
marihuana extract of Minnesota wild hemp. I. J Am Chem Soc. 1940;62(1):196-200.
3. Devane WA, Hanus L, Breuer A, Pertwee RG, Stevenson LA, Griffin G, Gibson D,
Mandelbaum A, Etinger A, Mechoulam R. Isolation and structure of a brain constituent
that binds to the cannabinoid receptor. Science. 1992;258(5090):1946-9.
4. Mechoulam R, Ben-Shabat S, Hanus L, Ligumsky M, Kaminski NE, Schatz AR,
Gopher A, Almog S, Martin BR, Compton DR, et al. Identification of an endogenous
2-monoglyceride, present in canine gut, that binds to cannabinoid receptors. Biochem
Pharmacol. 1995;50(1):83-90.
5. Pope C, Mechoulam R, Parsons L. Endocannabinoid signaling in neurotoxicity and
neuroprotection. Neurotoxicology. 2010;31(5):562-71.
Revista Brasileira de Cannabis, São Paulo, Vol. 3, n. 2, p. 88 a 100, 2024.
6. Fonseca BM, Costa MA, Almada M, Correia-da-Silva G, Teixeira NA. The
endocannabinoid anandamide: from immunomodulation to neuroprotection.
Implications for multiple sclerosis. Vitam Horm. 2013;92:157-92.
7. Hall JA, Romano B, Zanella I, Pilon C, Paternolli C, De Martin S. The
endocannabinoid system: a potential target for the treatment of various diseases. Int J
Mol Sci. 2019;21(9):2969.
8. Koppel BS, Brust JCM, Fife T, Bronstein J, Youssof S, Gronseth G, Gloss D.
Systematic review: efficacy and safety of medical marijuana in selected neurologic
disorders: report of the Guideline Development Subcommittee of the American
Academy of Neurology. Neurology. 2014;82(17):1556-63.
9. De Backer B, Debrus B, Lebrun P, Theunis L, Dubois N, Decock L, Verstraete A,
Hubert P, Charlier C. Evolution of the content of THC and other major cannabinoids in
drug-type Cannabis cuttings and seedlings during growth of plants. J Forensic Sci.
2012;57(4):918-22.
10. Russo EB. Taming THC: potential Cannabis synergy and
phytocannabinoidterpenoid entourage effects. Br J Pharmacol. 2011;163(7):1344-64.
11. Zuardi AW. Cannabidiol: from an inactive cannabinoid to a drug with wide spectrum
of action. Rev Bras Psiquiatr. 2008;30(3):217-80.
12. Bragatti JA. O uso do canabidiol em pacientes com epilepsia. Rev AMRIGS.
2015;59:60.
13. Silva Junior EAD, Medeiros WMB, Torro N, Sousa JMMD, Almeida IBCMD,
Costa FBD, Pontes KM, Nunes ELG, Rosa MD, Albuquerque KLGD. Cannabis and
cannabinoid use in autism spectrum disorder: a systematic review. Trends Psychiatry
Psychother. 2021.
14. De Leeuw R, Klasser GD, editors. Orofacial pain: guidelines for assessment,
diagnosis, and management. 6th ed. Chicago: Quintessence; 2018.
15. Okeson JP. Management of Temporomandibular Disorders and Occlusion-E-book.
Elsevier Health Sciences; 2019.
16. Finnerup NB, Attal N, Haroutounian S, McNicol E, Baron R, Dworkin RH, et al.
Pharmacotherapy for neuropathic pain in adults: a systematic review and meta-analysis.
Lancet Neurol. 2015;14(2):162-73.
17. Abidi AH, Alghamdi SS, Derefinko K. A critical review of Cannabis in medicine
and dentistry: A look back and the path forward. Clin Exp Dent Res. 2022;8(3):613-31.
18. David C, Pereira GC, Santos MA, Montanha JR, Moreira CS, Santos LFM.
Cannabidiol in Dentistry: A Scoping Review. Dent J (Basel). 2022;10(10):193.
19. Lessa MA, Cavalcanti IL, Figueiredo NV. Cannabinoid derivatives and the
pharmacological management of pain. Revista dor, 2016;(17):47-51.
20. Bellocchio L, Inchingolo AD, Inchingolo AM, Lorusso F, Malcangi G, Santacroce
L, Scarano A, Bordea IR, Hazballa D, D'Oria MT, et al. Cannabinoids Drugs and Oral
Health-From Recreational Side-Effects to Medicinal Purposes: A Systematic Review.
Int J Mol Sci. 2021;22(15):8329.
21. Votrubec C, Tran P, Lei A, Brunet Z, Bean L, Olsen BW, Sharma D. Cannabinoid
therapeutics in orofacial pain management: a systematic review. Aust Dent J.
2022;67(4):314-27.
22. Grossman S, Tan H, Gadiwalla Y. Cannabis and orofacial pain: a systematic review.
Br J Oral Maxillofac Surg. 2022;60(5):677-90.
23. Sainsbury B, Bloxham J, Pour MH, Padilla M, Enciso R. Efficacy of
Cannabis-based medications compared to placebo for the treatment of chronic
Revista Brasileira de Cannabis, São Paulo, Vol. 3, n. 2, p. 88 a 100, 2024.
neuropathic pain: a systematic review with meta-analysis. J Dent Anesth Pain Med.
2021;21(6): 479-506.
24. Bhaskar A, Kairamkonda V, Bhatnagar S, Sushma B, Joshi S, Rao Y, et al.
Consensus recommendations on dosing and administration of medical Cannabis to treat
chronic pain: results of a modified Delphi process. J Cannabis Res. 2021;3:1-12.
25. AminiLari M, Wang L, Neumark S, Adli T, Couban RJ, Giangregorio A, Carney
CE, Busse JW. Medical Cannabis and cannabinoids for impaired sleep: a systematic
review and meta-analysis of randomized clinical trials. Sleep. 2022;45(2):zsab234.
26. Valenti C, Billi M, Pancrazi GL, Calabria E, Armogida NG, Tortora G, Pagano S,
Barnaba P, Marinucci L. Biological effects of cannabidiol on human cancer cells:
Systematic review of the literature. Pharmacol Res. 2022;181:106267.
27. Umpreecha C, Bhalang K, Charnvanich D, Luckanagul J. Efficacy and safety of
topical 0.1% cannabidiol for managing recurrent aphthous ulcers: a randomized
controlled trial. BMC Complement Med Ther. 2023;23(1):57.
Revista Brasileira de Cannabis, São Paulo, Vol. 3, n. 2, p. 88 a 100, 2024.
ResearchGate has not been able to resolve any citations for this publication.
Article
Full-text available
Background Although topical steroids constitute the first-line therapy for recurrent aphthous ulcers (RAUs), their long-term use often leads to candidiasis. Although cannabidiol (CBD) can be an alternative for pharmacologically managing RAUs due to its analgesic and anti-inflammatory in vivo effects, there is a lack of clinical and safety trials concerning its use. The aim of this study was to evaluate the clinical safety and efficacy of topical 0.1% CBD for managing RAU. Methods A CBD patch test was performed on 100 healthy subjects. CBD was applied on the normal oral mucosa of 50 healthy subjects 3 times/day for 7 days. Oral examination, vital signs, and blood tests were performed pre- and post-CBD use. Another 69 RAU subjects randomly received one of three topical interventions: 0.1% CBD, 0.1% triamcinolone acetonide (TA), or placebo. These were applied on the ulcers 3 times/day for 7 days. The ulcer and erythematous size were measured on day 0, 2, 5, and 7. Pain ratings were recorded daily. The subjects rated their satisfaction with the intervention and completed a quality-of-life questionnaire (OHIP-14). Results None of the subjects exhibited allergic reactions or side effects. Their vital signs and blood parameters were stable before and after the 7-day CBD intervention. CBD and TA significantly reduced ulcer size more than placebo at all time points. The erythematous size reduction was higher in the CBD intervention than the placebo on day 2, while TA reduced the erythematous size at all time points. The pain score in the CBD group was lower compared with placebo on day 5, whereas TA reduced pain more than placebo on day 4, 5, and 7. The subjects receiving CBD reported higher satisfaction than placebo. However, the OHIP-14 scores were comparable among the interventions. Conclusions Topical 0.1% CBD reduced ulcer size and accelerated ulcer healing without side effects. CBD exerted anti-inflammatory effects in the early stage and an analgesic effect in the late RAU stage. Thus, topical 0.1% CBD might be more appropriate for RAU patients who decline to take topical steroids, except for cases where CBD is contraindicated. Trial registration Thai Clinical Trials Registry (TCTR) Number TCTR20220802004. Retrospectively registered on 02/08/2022.
Article
Full-text available
Introduction: In the last two decades, our understanding of the therapeutic utility and medicinal properties of cannabis has greatly changed. This change has been accompanied by widespread cannabis use in various communities and different age groups, especially within the United States. With this increase, we should consider the potential effects of cannabis-hemp on general public health and how they could alter therapeutic outcomes. Material and methods: The present investigation examined cannabis use for recreational and therapeutic use and a review of pertinent indexed literature was performed. The focused question evaluates "how cannabis or hemp products impact health parameters and do they provide potential therapeutic value in dentistry, and how do they interact with conventional medicines (drugs)." Indexed databases (PubMed/Medline, EMBASE) were searched without any time restrictions but language was restricted to English. Results: The review highlights dental concerns of cannabis usage, the need to understand the endocannabinoid system (ECS), cannabinoid receptor system, its endogenous ligands, pharmacology, metabolism, current oral health, and medical dilemma to ascertain the detrimental or beneficial effects of using cannabis-hemp products. The pharmacological effects of pure cannabidiol (CBD) have been studied extensively while cannabis extracts can vary significantly and lack empirical studies. Several metabolic pathways are affected by cannabis use and could pose a potential drug interaction. The chronic use of cannabis is associated with health issues, but the therapeutic potential is multifold since there is a regulatory role of ECS in many pathologies. Conclusion: Current shortcomings in understanding the benefits of cannabis or hemp products are limited due to pharmacological and clinical effects not being predictable, while marketed products vary greatly in phytocompounds warrant further empirical investigation. Given the healthcare challenges to manage acute and chronic pain, this review highlights both cannabis and CBD-hemp extracts to help identify the therapeutic application for patient populations suffering from anxiety, inflammation, and dental pain.
Article
Full-text available
Background: Chronic neuropathic pain (NP) presents therapeutic challenges. Interest in the use of cannabis-based medications has outpaced the knowledge of its efficacy and safety in treating NP. The objective of this review was to evaluate the effectiveness of cannabis-based medications in individuals with chronic NP. Methods: Randomized placebo-controlled trials using tetrahydrocannabinol (THC), cannabidiol (CBD), cannabidivarin (CBDV), or synthetic cannabinoids for NP treatment were included. The MEDLINE, Cochrane Library, EMBASE, and Web of Science databases were examined. The primary outcome was the NP intensity. The risk of bias analysis was based on the Cochrane handbook. Results: The search of databases up to 2/1/2021 yielded 379 records with 17 RCTs included (861 patients with NP). Meta-analysis showed that there was a significant reduction in pain intensity for THC/CBD by -6.624 units (P < .001), THC by -8.681 units (P < .001), and dronabinol by -6.0 units (P = .008) compared to placebo on a 0-100 scale. CBD, CBDV, and CT-3 showed no significant differences. Patients taking THC/CBD were 1.756 times more likely to achieve a 30% reduction in pain (P = .008) and 1.422 times more likely to achieve a 50% reduction (P = .37) than placebo. Patients receiving THC had a 21% higher improvement in pain intensity (P = .005) and were 1.855 times more likely to achieve a 30% reduction in pain than placebo (P < .001). Conclusion: Although THC and THC/CBD interventions provided a significant improvement in pain intensity and were more likely to provide a 30% reduction in pain, the evidence was of moderate-to-low quality. Further research is needed for CBD, dronabinol, CT-3, and CBDV.
Article
Full-text available
Study Objectives We conducted a systematic review to explore the effectiveness of medical cannabis for impaired sleep. Methods We searched MEDLINE, EMBASE, CENTRAL and PsychINFO to January 2021 for randomized trials of medical cannabis or cannabinoids for impaired sleep vs. any non-cannabis control. When possible, we pooled effect estimates for all patient-important sleep-related outcomes and used the GRADE approach to appraise the certainty of evidence. Results Thirty-nine trials (5,100 patients) were eligible for review, of which 38 evaluated oral cannabinoids and 1 administered inhaled cannabis. The median follow-up was 35 days, and most trials (33 of 39) enrolled patients living with chronic cancer or noncancer chronic pain. Among patients with chronic pain, moderate certainty evidence found that medical cannabis probably results in a small improvement in sleep quality versus placebo (modeled risk difference [RD] for achieving the minimally important difference [MID], 8% [95% CI, 3 to 12]). Moderate to high certainty evidence shows that medical cannabis vs. placebo results in a small improvement in sleep disturbance for chronic non-cancer pain (modeled RD for achieving the MID, 19% [95% CI, 11 to 28]) and a very small improvement in sleep disturbance for chronic cancer pain (WMD of -0.19cm [95%CI, -0.36 to -0.03cm]; interaction p=0.03). Moderate to high certainty evidence shows medical cannabis, versus placebo, results in a substantial increase in the risk of dizziness (RD 29% [95%CI, 16 to 50], for trials with ≥3 months follow-up), and a small increase in the risk of somnolence, dry mouth, fatigue, and nausea (RDs ranged from 6% to 10%). Conclusion Medical cannabis and cannabinoids may improve impaired sleep among people living with chronic pain, but the magnitude of benefit is likely small.
Article
Full-text available
Background: marijuana, the common name for cannabis sativa preparations, is one of the most consumed drug all over the world, both at therapeutical and recreational levels. With the legalization of medical uses of cannabis in many countries, and even its recreational use in most of these, the prevalence of marijuana use has markedly risen over the last decade. At the same time, there is also a higher prevalence in the health concerns related to cannabis use and abuse. Thus, it is mandatory for oral healthcare operators to know and deal with the consequences and effects of cannabis use on oral cavity health. This review will briefly summarize the components of cannabis and the endocannabinoid system, as well as the cellular and molecular mechanisms of biological cannabis action in human cells and biologic activities on tissues. We will also look into oropharyngeal tissue expression of cannabinoid receptors, together with a putative association of cannabis to several oral diseases. Therefore, this review will elaborate the basic biology and physiology of cannabinoids in human oral tissues with the aim of providing a better comprehension of the effects of its use and abuse on oral health, in order to include cannabinoid usage into dental patient health records as well as good medicinal practice. Methods: the paper selection was performed by PubMed/Medline and EMBASE electronic databases, and reported according to the PRISMA guidelines. The scientific products were included for qualitative analysis. Results: the paper search screened a total of 276 papers. After the initial screening and the eligibility assessment, a total of 32 articles were considered for the qualitative analysis. Conclusions: today, cannabis consumption has been correlated to a higher risk of gingival and periodontal disease, oral infection and cancer of the oral cavity, while the physico-chemical activity has not been completely clarified. Further investigations are necessary to evaluate a therapeutic efficacy of this class of drugs for the promising treatment of several different diseases of the salivary glands and oral diseases.
Article
Full-text available
BACKGROUND AND OBJECTIVES: Medical properties of Cannabis sativa have been reported for centuries for the treatment of diff ent disorders and, more recently, to manage pain. Th study aimed at reviewing major pharmacological advances of the endocannabinoid system and the potential therapeutic use of some cannabinoid compounds to manage diff ent types of pain. CONTENTS: A search was carried out in Pubmed, Scielo and Lilacs databases to identify studies and literature reviews on the pharmacology and therapeutic use of cannabinoids for pain. The following keywords were used: Cannabis sativa, tetra-hydrocannabinol, cannabidiol, sativex®, cannador®, cannabinoids, endocannabinoid, pain and neuropathic pain. Synthetic cannabinoids and Cannabis sativa extracts have shown analgesic effects in several clinical trials, suggesting their potential role for pain management, especially neuropathic pain. Synthetic cannabinoids and CS extracts have also induced anxiolytic effects when used as adjuvants to treat cancer pain, rheumatoid arthritis and multiple sclerosis. However, significant adverse effects, such as euphoria, depression and sedation limit the clinical use of such cannabinoids. CONCLUSION: Further understanding of endocannabinoid system pharmacology, together with study results involving pain management with cannabinoid substances may be very useful for the development of drugs allowing a significant advance in the treatment of patients with painful syndromes, especially difficult to control. However, further studies are needed to confirm such findings and to determine the safety of such compounds.
Article
The objective of this paper is to investigate the published evidence regarding effects of cannabinoids (natural and synthetic) on post‐operative and/or out‐of‐office pain management in patients suffering from orofacial pain that presents in the dental setting. Three online databases (Ovid (MEDLINE), PubMed (MEDLINE), Scopus) were searched (July 2021). Additional studies were sought through grey literature searching (Cochrane Library Trials and ClinicalTrials.gov) and hand‐searching the reference lists of included articles. All studies that analysed cannabinoid products and pain management of conditions that present in the general or specialist dental setting in the English language were included. Of the five articles included, one reported a significant effect on temporomandibular disorder pain relief using a topical cannabidiol formulation compared to a placebo. Four articles reported no significant effects of cannabinoids for pain management across various orofacial pain conditions. Although one study reported a positive effect, insufficient evidence exists to support a tangible clinical benefit of cannabinoids in managing orofacial pain, further research is recommended to investigate the benefits of cannabinoids’ use. © 2022 Australian Dental Association.
Article
This systematic review examine the biological effects of CBD, a major component of therapeutic Cannabis, on human pathological and cancer cell populations of integumentary, gastro-intestinal, genital and breast, respiratory, nervous, haematopoietic and skeletal districts in terms of cell viability, proliferation, migration, apoptosis, inflammation, metastasis, and CBD receptor expression. The included studies were in English, on human cell lines and primary culture from non-healthy donors with CBD exposure as variable and no CBD exposure as control. Quality assessment was based on ToxRtool with a reliability score ranging from 15 to 18. Following the PRISMA statement 4 independent reviewers performed an electronic search using MEDLINE via PubMed, Scopus and Web of Science. From 3974 articles, 83 studies have been selected. Data showed conflicting results due to different concentration exposure, administrations and time points. CBD inhibited cell viability and proliferation in most cellular districts except the integumentary apparatus. Also a significant inhibition of migration was observed in all cell types, while an increase in apoptosis at both high and low doses (greater and less than 10 μM respectively). Considering inflammation, CBD caused an anti-inflammatory effect on nervous cells at low doses and on gastro-intestinal cells at high doses, while metastatic power was reduced even at low doses, but in a skeletal cell line there was an increased angiogenesis. CB1 receptor has been related to viability effects, CB2 to apoptosis and TRPV1 to inflammation and invasiveness. A detailed insight into these aspects would allow therapeutic use of this substance without possible side effects.
Article
The naturally occurring Cannabis plant has played an established role in pain management throughout recorded history. However, in recent years, both natural and synthetic cannabis-based products for medicinal use (CBPMs) have gained increasing worldwide attention due to growing evidence supporting their use in alleviating chronic inflammatory and neuropathic pain associated with an array of conditions. In view of these products’ growing popularity in both the medical and commercial fields, we carried out a systematic review to ascertain the effects of cannabis and its synthetically derived products on orofacial pain and inflammation. The application of topical dermal cannabidiol formulation has shown positive findings such as reducing pain and improving muscle function in patients suffering from myofascial pain. Conversely, two orally administered synthetic cannabinoid receptor agonists (AZD1940 and GW842166) failed to demonstrate significant analgesic effects following surgical third molar removal. There is a paucity of literature pertaining to the effects of cannabis-based products in the orofacial region; however, there is a wealth of high-quality evidence supporting their use for treating chronic nociceptive and neuropathic pain conditions in other areas. Further research is warranted to explore and substantiate the therapeutic role of CBPMs in the context of orofacial pain and inflammation. As evidence supporting their use expands, healthcare professionals should pay close attention to outcomes and changes to legislation that may impact and potentially benefit their patients.