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Agroflorestas urbanas como apropriação de espaços livres públicos da cidade. Um estudo de caso da Agrofloresta do Cocotá

Authors:

Abstract

O trabalho investiga a apropriação urbana a partir de práticas locais sustentáveis e contra-hegemônicas que buscam subverter a lógica dominante a fim de alcançar uma outra experiência e consciência social. O caso a ser estudado profundamente será a Agrofloresta do Cocotá, na Ilha do Governador, na qual se tem uma vivência pessoal, e é entendido como um modo de se apropriar os espaços livres públicos da cidade. Nesse intento se pretende construir um produto textual e gráfico, através de descrições, relatos, desenhos e fotografias, que revele os processos pelos quais o território da Ilha, e principalmente o Cocotá, atravessaram, e possa sintetizar a experiência de apropriação através do tempo por meio dos agentes envolvidos, operações realizadas e resultados alcançados.
AGROFLORESTAS URBANAS COMO APROPRIAÇÃO
DE ESPAÇOS LIVRES PÚBLICOS DA CIDADE.
Um estudo de caso da Agrofloresta do Cocotá.
ilha do
governador
plantação
baía
urbanização
loteamento
militarização
aterramento
aterro do
Cocotá
monocultura
subsistência
banho
pesca
mobilidade
cultura e lazer
apropriações
teatro
skate
feira
plantio
agrofloresta
do
Cocotá
negligência
falsas promessas
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Trabalho Final De Graduação 2
Orientadora Profª Maria Paula Albernaz
Ana Beatriz Kempf Schmitz Pereira
Agradecimentos ao coletivo Agrofloresta do Coco que
desde o primeiro contato me abraçou e fez com que eu me
sentisse em casa. Ao meu grande amigo Guilherme Cerejo
Ribeiro que se fez presente do início ao fim deste trabalho,
com contribuições de extrema importância para a fluidez e
exatidão das palavras. E claro à minha família que acreditou
em mim e, mesmo que muitas vezes não concordassem,
apoiaram minhas decisões. Sem vocês eu nada seria.
2022.2
Agroflorestas Urbanas como apropriação de
espaços livres da cidade
Um estudo de caso da Agrofloresta do Cocotá O trabalho investiga a apropriação urbana a partir de
práticas locais sustentáveis e contra-hegemônicas que
buscam subverter a lógica dominante a fim de alcançar
uma outra experiência e consciência social. O caso a ser
estudado profundamente será a Agrofloresta do Cocotá, na
Ilha do Governador, na qual se tem uma vivência pessoal, e
é entendido como um modo de se apropriar os espaços
livres públicos da cidade. Nesse intento se pretende
construir um produto textual e gráfico, através de
descrições, relatos, desenhos e fotografias, que revele os
processos pelos quais o território da Ilha, e principalmente o
Cocotá, atravessaram, e possa sintetizar a experiência de
apropriação através do tempo por meio dos agentes
envolvidos, operações realizadas e resultados alcançados.
palavras chave; urbanismo contra hegemônico; apropriação
urbana; espaços livres; agroecologia; agroflorestas urbanas;
ilha do governador;
RESUMO
_SEMEAR motivações e intenções
_ENRAIZAR metodologia
_BROTAR introdução
_RAMIFICAR desenvolvimento
_FRUTIFICAR conclusões
_ADUBAR referências
Da semeadura ao brotamento.
Ilustração digital vetorizada e
editada a partir de ilustração
Germinação do Feijão de Ivy
Livingstone (1995).
_SEMEAR
A semeadura iniciou em 2016, logo após o incêndio no
último pavimento do Edifício Jorge Machado Moreira que
abriga a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Escola de
Belas Artes e Reitoria da UFRJ. Estudantes de toda a
Universidade decidiram ocupar a Reitoria para lutar contra a
proposta de Teto de Gastos - atualmente EC 95 - apresentada
pelo governo-golpista de Michel Temer. Ali tive minha primeira
vivência de ocupação coletiva de um espaço como
reivindicação de direitos. Um longo mês de trocas e trabalho
coletivo por um objetivo comum me trouxeram outra visão
sobre o corpo como criador/produtor de um espaço. A partir
de então, passei a me atentar às ocupações e apropriações
que ocorrem na cidade, como maneira de tentar fazer
transformações com as próprias mãos me atravessou por
inteiro.
O intercâmbio na Escuela de Arquitectura y Diseño da
PUC Valparaíso em 2019 definitivamente contribuiu para um
olhar sensível, contemplador e subjetivo. A escola direcionou
ainda mais meu olhar às Américas e nossas raízes no
continente. A poética, o corpo e o respeito à natureza
marcaram as aulas de Amereida nas dunas da Ciudad Abierta,
no norte da região de Valparaíso. Essa experiência me permitiu
conhecer e estimular uma visão da arquitetura que busca
desvendar o invisível do habitar humano através da
experimentação, investigação e reflexão. Ao mesmo tempo,
acontecia no Chile uma onda de greves e mobilizações que
reacendeu meu olhar às ruas, às ocupações e manifestações
urbanas a partir das demandas dos cidadãos.
Apesar de ter nascido e vivido parte da minha vida no
Cocotá e conhecer algumas das iniciativas dos moradores,
apenas em 2020, com a pandemia, voltei a frequentar com
mais regularidade a região onde nasci. Conheci a Agrofloresta
do Cocotá em agosto de 2020 quando o coletivo fazia planos
para construir um pergolado. Logo me interessei e em
algumas semanas nos organizamos para a execução da obra
em meio ao parque. Desde então minha esperança nos
movimentos urbanos foi reacendida e participei de todos os
mutirões e encontros que pude. A atuação, que se manteve
ativa até o início de 2022, e a reflexão sobre o sistema
agroflorestal, me conferiu um maior entendimento dos
processos naturais e uma outra percepção do impacto da
ação humana na natureza, dessa vez, surpreendentemente,
positivo. Ali pude expandir ainda mais minha consciência social
e, agora, ecológica.
Essas vivências me atingiram como futura arquiteta e
urbanista, me fizeram questionar a produção/lógica dos
espaços urbanos ao longo da graduação e têm como
consequência este trabalho teórico. Escolhi o caminho da
teoria pois busco entender as minúcias das práticas urbanas
agroecológicas no Cocotá através do debate de ideias, e
representar suas subjetividades de forma gráfica.
POLÍTICA POÉTICA ECOLÓGICA
Um pensador urbano que se declare, ao mesmo
tempo, interessado em intervir sobre a praxis e em ir
empós uma transparência do social levada às ultimas
consequências está propondo um paradoxo.
(SANTOS, 1981)
Por isso não tratarei aqui de propor intervenções, mas
sim dissecar os processos de atuação e resultados desse
movimento no aterro do Cocotá. Entre as intenções desse
trabalho está a de: documentar as novas práticas urbanas e
ecológicas em crescimento na Ilha do Governador; apontar as
particularidades encontradas na Agrofloresta do Cocotá a fim
de propiciar possíveis futuras comparações; e difundir a
agroecologia na área de planejamento e projeto urbano.
Para enraizar é necessário um ambiente propício e tal
ambiência varia entre os diferentes genótipos. Primeiro é
preciso identificá-lo para, a partir de suas especificidades,
buscar a condição que potencializa seu processo natural. As
raízes são fundamentais para fixar a planta ao substrato e
garantir a absorção de água e nutrientes disponíveis no solo -
indispensáveis para o crescimento. À medida que a primeira
raiz da planta se desenvolve, filamentos laterais surgem a fim
de formar um sistema de raízes ramificadas. Nesse sentido, a
função de enraizar no trabalho é dada pela metodologia e
alguns conceitos fundantes, responsáveis por estruturar e
nutrir essa pesquisa, primeiro passo rumo à frutificação.
Se esse trabalho busca romper, de certa maneira, com a
lógica hegemônica de se produzir cidades, é natural que se
desenvolva em sentido contrário à forma convencional de se
pensar a urbe.
O urbano é seu locus privilegiado. O que se
chama de "desordem" nas cidades é a expressão da
racionalidade técnica e do predomínio da taxa de
lucro. Frente a esses fatores condicionantes
apagam-se as diferenças entre lugares e
fundem-se os tipos culturais no caldo único da
civilização industrial do capitalismo.
(SANTOS, 1981)
Assim como as florestas, movimentos urbanos à
primeira vista podem parecer um tanto caóticos. Porém, à
medida que nos aproximamos, é possível entender um pouco
melhor sua motivação, processo e estruturação. Neste ponto, a
vivência nos permite decodificar mensagens antes
subliminares. Na natureza toda forma e posição se justificam
em si, essa dinâmica não necessariamente segue a lógica
humana de ordenação. Portanto, não faria sentido seguir
sistemáticas que nos guiem a entendimentos e cosmovisões
que excluem diferentes processos de vida neste trabalho.
_ENRAIZAR
Para auxiliar na reflexão sobre a ordem por trás da
aparente desordem das apropriações urbanas me apoio na
teoria ator-rede (‘ANT’). Essa metodologia não se limita a
investigar os atores humanos individualmente, nem se atém à
uma teoria fundamental para explicar suas ações, mas sim
amplia o uso da palavra ator-atuante a entidades
não-humanas e não-individuais e analisa as inúmeras teorias
implícitas em suas atividades. A usual linha de pensamento
lugar a uma rede de possibilidades onde as ações têm
diversas motivações e finalidades formando ramificações que
podem ou não se encontrar.
Essa corrente teórica não se contenta em
apenas duas ou três dimensões, como no caso de
superfícies ou esferas, mas propõe pensar através
de filamentos que possuem tanto diferentes
dimensões quanto conexões. (...) A força não vem da
concentração, pureza ou unidade mas sim da
disseminação, heterogeneidade e o cuidadoso
entrelaçamento de laços fracos.
(LATOUR,1990)
As raízes mais uma vez podem ser usadas como
analogia, uma vez que também se ramificam e seus filamentos
seguem em diferentes direções em busca de umidade e
nutrientes, por isso possuem diferentes formas e tamanhos.
Nascida e difundida na área das ciências sociais, a teoria
ator-rede tem sido introduzida pouco a pouco no estudo da
arquitetura e urbanismo.
Ao invés de analisar o impacto de fatores
externos na arquitetura, nós deveríamos nos atentar
em entender a performance de diferentes tipos de
motivações, objetos, configurações tecnológicas
e instituições. ‘ANT’ nos mais uma ferramenta
para investigarmos a maneira com que os
humanos interagem com os objetos e ambientes e
moldar culturas arquitetônicas dinâmicas em
diferentes escalas. (YANEVA, 2017)
A arquiteta e professora de teoria de arquitetura da
Universidade de Manchester Albena Yaneva em “Five Ways to
Make Architecture Political: An Introduction to the Politics of
Design Practice” (2017) explica que se em nosso campo de
estudo nos acostumamos com o aprisionamento a dicotomias
como objetivo-subjetivo, essa teoria vem para romper com a
ideia de que conteúdo e recipiente são heterogêneos, sugere
que a matéria é absorvida ao significado e então a pesquisa na
arquitetura poderia engajar na análise de como a
materialidade e a política vão se unir.
Através da investigação do fazer e experienciar espaços,
é possível uma visão mais ampla sobre o objeto e seus atores
locais abrangendo variáveis complexas que antes não eram
levadas em consideração. No lugar de encaixar realidades em
teorias, busca entender quais teorias emergem da prática
urbana. A pergunta-resposta dá espaço à resposta-pergunta.
Também me amparo em Carlos Nelson dos Santos,
autointitulado ‘antropoteto, que foi inovador ao aplicar a
metodologia da observação participante aliada a conceitos
marxistas na arquitetura e urbanismo no Brasil, em paralelo ao
início do estudo da ‘ANT’, em busca da ‘escala do real’ e
utilizava de semelhante forma de análise para compreender
outras visões sobre o campo. Principalmente na metodologia
aplicada em “Movimentos Urbanos no Rio de Janeiro (1981)
onde Santos, a partir da teoria dos movimentos sociais
urbanos (‘MSU’) de Manuel Castells, analisa três casos onde
teve participação ativa através de estudos etnográficos, feitos
por si mesmo em anos anteriores, material alheio relacionado
aos casos, documentos históricos e entrevistas com atores
anos após as ações.
Dissecar os MSUs, separá-los em seus
elementos constituintes, determinar em que
condições surgem e que resultados geram, passa
a ter significado instrumental.
(SANTOS, 1981)
Assim como ele, fui ‘atuante e paciente’ da vivência a ser
descrita e por isso não tenho a menor intenção de ser
imparcial neste trabalho.
O estudo e vivência da informalidade urbana permite
compreender práticas locais complexas de mobilização
política para a apropriação de espaços públicos. A partir da
metodología antes mencionada, o capítulo brotar investiga
alguns acontecimentos do processo de ocupação da Ilha do
Governador que refletem na cultura urbana local, a relação
entre a urbanização e as apropriações que ocorreram no
Aterro do Cocotá e em seguida, reduz o objeto de estudo à
Agrofloresta do Cocotá.
Em ramificar o objeto se distribui em diferentes
filamentos que por sua vez se dividem e se conectam a outros
ramos, sem uma ordenação pré moldada.
Esses filamentos tratam das particularidades das
relações urbanas presentes na Agrofloresta do Cocotá e serão
descritos e analisados principalmente a partir da vivência da
autora na Agrofloresta do Cocotá mas também a partir de
relatos e pesquisas de campo.
Essas análises terão apoio em teorias da área da
sociologia, filosofia, geografia urbana, agroecologia, com
ênfase na arquitetura e urbanismo, acumuladas durante a
passagem na graduação, que podem ser observadas na
prática urbana em estudo a partir da experiência no Cocotá.
A partir do objeto de estudo, seis tópicos - principais
ramificações - ajudam no seu entendimento: premissas,
organização, objetivo, ações, processos e território, e delas
outros filamentos são formados, cada um deles possui
diferente peso e proximidade com a Agrofloresta do Cocotá.
Quanto maior o aprofundamento em cada um dos ramos, mais
clara fica a compreensão da correlação ou independência
entre eles e teorias estudadas ao longo do curso, que poderão
ser identificadas na análise da prática. É preciso enfatizar que
os tópicos de análise não seguem uma linearidade em sua
abordagem sendo explorados de forma orgânica e
apresentados sequencialmente devido apenas à necessidade
de representação diagramática do trabalho.
CONSCIÊNCIA
COLETIVA
ILHA DO GOVERNADOR
PLANTAÇÕES
BAÍA
URBANO
ATERRO DO COCO
APROPRIAÇÃO LAZER E CULTURA
SKATE
FEIRA
PLANTIO
TEATRO FALSAS
PROMESSAS
NEGLIGÊNCIA
MONOCULTURA
SUBSISTÊNCIA
BANHO
PESCA
MOBILIDADE
LOTEAMENTOS
ATERRAMENTOS
MILITARIZAÇÃO
AGROFLORESTA DO
COCOTÁ
COMBATE AO
IMPACTOS
AMBIENTAIS
DISSEMINAÇÃO
DA PRÁTICA
AGRÍCOLA NO
MEIO URBANO
MUDANÇA
ECOLÓGICA
_ENRAIZAR
Para se manter fiel à metodologia ator-rede, este
trabalho não tratará de encaixar a Agrofloresta do Cocotá
em teorias, mas sim entender quais teorias nos auxiliarão na
investigação da prática urbana em questão. Como
estudante de arquitetura e urbanismo, ao longo da
graduação acumulei entendimentos sobre o urbano que
irão se refletir nessa investigação. O mesmo acontece com o
conhecimento sobre agroecologia adquirido com as
experiências dentro e fora da Agrofloresta do Cocotá.
Entendendo que nenhuma pesquisa pode ser isenta de uma
perspectiva, apresentarei alguns conceitos chave para que
se entenda a partir de qual ótica parte esse estudo.
Em que pese os inúmeros projetos de
desenvolvimento internacionais e patrocinados
pelo Estado, a miséria, a escassez de
alimentos, a desnutrição, o declínio nas
condições de saúde e a degradação ambiental
continuam sendo problemas no mundo em
desenvolvimento
(ALTIERI, 1995).
Os efeitos causados pelas mudanças climáticas nas
cidades trouxeram diversos questionamentos a respeito das
práticas arquitetônicas e urbanísticas contemporâneas. As
ações humanas geram formas de produção que
desregularam a ordem ‘natural’ que equilibra a relação
entre comunidade e natureza, Essas atividades são
exemplificadas pelo extrativismo, monocultura, queimadas,
desmatamento, poluição das águas, aterramento de
grandes áreas. Também não é novidade que os centros
urbanos são grandes responsáveis pelas ilhas de calor
causadas pelo crescimento da densidade demográfica que
acarreta a falta de permeabilidade do solo e escassez de
vegetação. os materiais escolhidos para caracterizar o
avanço urbano, acumulam e refletem a alta temperatura
das cidades tropicais e impedem o escoamento correto das
chuvas, enquanto a mobilidade, fator importante devido às
grandes distâncias, acelera a poluição do meio urbano.
(ALVA, 1997)
Na América Latina uma contínua deterioração
ambiental urbana atrelada ao seu crescimento, que reflete
espacialmente os problemas locais e globais. Os efeitos do
agravamento da insustentabilidade das grandes metrópoles
são vistos diariamente. (ALVA, 1997) Em contrapartida, surge
o interesse em reavaliar o lugar da prática vernacular nas
cidades contemporâneas que foi esquecida em meio à
globalização, como a da agricultura familiar.
O relatório de Mudanças Climáticas da ONU de 2022
afirma que as cidades e outras zonas urbanas podem
auxiliar na redução a partir: de um menor consumo de
energia desde planejamentos e projetos urbanísticos que
privilegiam o caminhar; da eletrificação do transporte em
combinação com fontes de energia de baixa emissão; da
maior absorção e armazenamento de carbono através da
conservação e ampliação da vegetação, principalmente em
grandes áreas de parques e espaços abertos. As zonas
úmidas, a agricultura e a silvicultura urbanas podem
também reduzir os riscos de inundações e efeitos das ilhas
de calor.
Existem diferentes interpretações acerca dos espaços
livres. Neste trabalho será assumida a percepção de Raquel
Tardin (2008) na qual se entende como partes do território
não ocupadas pelos assentamentos e pelas
infra-estruturas viárias, protegidas por lei ou não, de
propriedade pública ou privada, cobertos por vegetação ou
não, que possam representar oportunidades para a
reestruturação do território.
Os espaços livres têm grandes probabilidades de
transformação no processo de construção da
paisagem. Conformam o componente mais flexível
da estrutura do território, seja funcional ou
espacialmente. São também os lugares mais frágeis
e um dos mais promissores tendo em conta a
possibilidade de reestruturação do território.
(TARDIN, 2008)
Os espaços livres públicos podem ter diversas
origens, mas aqui se destacam aqueles esvaziados de
função ou subutilizados, que surgem tanto na política de
planejamento concentrada -que desconsidera partes da
cidade- quanto nos grandes projetos urbanísticos -que
ignoram as preexistências locais. A primeira pode ser notada
na ausência ou baixa manutenção de equipamentos
públicos e mobiliário urbano que incentivem a ocupação
das regiões mais periféricas, enquanto a outra na ineficácia
da malha viária urbana e no superdimensionamento de
equipamentos públicos quando comparados aos lotes do
entorno.
Nesses casos é preciso não só que o poder público e
os planejadores urbanos preservem e conservem esses
espaços como também que os projetos urbanos passem a
considerar a população local, suas relações e cultura
específicas, criando e revitalizando espaços que sejam
efetivamente úteis e que dialoguem com a dinâmica
urbana pré existente. Em paralelo, são observadas práticas
coletivas comunitárias numa tentativa de resgatar suas
especificidades perdidas durante o processo de
urbanização.
espaços livres públicos degradação ambiental
_ENRAIZAR
Com a malha urbana adensada e os lotes mais
ocupados, os espaços livres se tornam ainda mais
valorizados na cultura urbana. Quando ainda sem função ou
subutilizados, são locais onde se materializam práticas
urbanas que por vezes são vistos pela população local
como grande potencial para ricas trocas em busca de
responder e tratar os problemas urbanos por serem livres
de amarras projetuais. Para Henri Lefebvre (1992) tal
potencial é atingido quando ocorre a apropriação, conceito
oposto e inseparável do espaço dominante, e então
descreve o espaço apropriado como:
um espaço natural modificado para
servir às necessidades e possibilidades de um
grupo, que foi apropriado por esse grupo. Às
vezes tal espaço é uma estrutura, um
monumento ou edifício, mas não é sempre o
caso, um lugar, uma quadra ou rua também
podem ser legitimamente descritos como
espaços apropriados.
(LEFEBVRE, 1992)
Quando um espaço livre é apropriado pela
população local, a prática urbana determina seu uso. Ou
seja, ele geralmente expressa as demandas e ânsias
singulares da região ao invés da função ser ditada de cima
para baixo, como no caso dos espaços planejados e
projetados hegemônicos e homogeneizadores. Essa
subversão da lógica confere inúmeras possibilidades de
reativação desses territórios, que estão necessariamente
ligados a fatores sociais particulares, produzindo, assim,
espaços heterogêneos que se diferem por serem propostos
de baixo pra cima. A diversidade, por sua vez, garante
práticas urbanas inovadoras por permitir ações
transformadoras a partir de outras lógicas.
Para Félix Guattari (1989), o potencial para uma
reconstrução das relações sociais urbanas está nas práticas
inovadoras e experiências alternativas que objetivem o
respeito à singularidade e a produção da subjetividade, que
adquiram autonomia e ainda assim se articulem com o resto
da população local.
Segundo Lefebvre (1992), apesar dos muitos
exemplos de apropriação pelo mundo, ainda existe certa
dificuldade em decidir sua motivação, atores e objetivos e
que esse movimento nos ensina muito sobre a produção de
novos espaços. Esse é um dos caminhos que levou esse
trabalho a buscar o entendimento da prática da
Agrofloresta do Cocotá a partir de seus agentes,
operações e resultados para que futuramente ela possa ser
comparada e estudada por outros movimentos de
apropriação dos espaços livres da cidade.
apropriação
No Brasil, os sistemas agroflorestais são
utilizados em todas as regiões, especialmente
por comunidades tradicionais, como caiçaras,
ribeirinhos, povos indígenas e também por
muitos agricultores familiares. Esses sistemas
também estão presentes em áreas urbanas e
peri-urbanas, especialmente em pequenas e
médias cidades, mas também podem ser
encontrados até mesmo nas regiões
metropolitanas.
(KABASHIMA, 2009)
As agroflorestas urbanas se diferem das inseridas em
outros contextos por serem reflexo das relações de
produção e necessidades da urbe. No caso do meio rural, as
práticas agroecológicas estão difundidas no saber
popular e são praticadas por gerações enquanto as cidades
perderam esse conhecimento ao longo da urbanização e
inserção de suas problemáticas. No caso das agroflorestas
produzidas no espaço acadêmico, muitas vezes se tornam
como um laboratório para experimentação e estudo de
teorias da área. Apesar das suas diferenças, todas são
extremamente importantes, cada uma à sua maneira, para a
difusão do saber e produção agroecológicos.
Os Sistemas Agroflorestais podem
oferecer serviços ambientais importantes à
área urbana e contribuir na melhoria de
condições sócio-econômicas de parte da
população urbana. (...) Dentre as contribuições
pode-se citar segurança alimentar; aumento
de áreas permeáveis para minimização de
enchentes e contribuição para águas
subterrâneas; redução de poluição em áreas
urbanas; conservação de diversidade
biológica; promoção de recreação, educação e
interpretação ambiental.
(KABASHIMA, 2009)
O Sistema Agroflorestal em meio urbano, pode ser
desenvolvido em menor escala por não objetivar a
soberania alimentar como seria possível no meio rural por
sua extensa área. Seus objetivos principais podem ser
propagar ideais ecológicos, refletir sobre a origem dos
alimentos, promover a regeneração do solo urbano, difundir
a educação ambiental nas cidades e se posicionar como
uma crítica aos métodos agrícolas contemporâneos.
Esse estudo busca, dentre outras intenções, entender
quais as motivações, particularidades e consequências por
trás da inserção da agrofloresta no meio urbano a partir da
análise do Cocotá.
agroflorestas urbanas
A prática da agricultura moderna acelerou a
degradação da base de recursos naturais. Através da
monocultura, predominante em sistemas de produção de
larga escala, contribui para a disseminação de problemas
ambientais como erosão do solo, desertificação, poluição
por agrotóxicos e perda de biodiversidade. A ideia de
desenvolvimento neoliberal vendida globalmente fracassou
uma vez que não resolveu a questão da fome, desnutrição e
insegurança alimentar. Como uma alternativa ao modelo de
produção agrícola atual cresce um pensamento voltado à
agroecologia.
O novo modelo insere dimensões ecológicas, sociais
e culturais a respeito da produção de alimentos, que
eram observadas a partir de uma visão técnico-científica, e
busca responder à crise socioambiental que vivemos na
atualidade. Com o objetivo de desenvolver
agroecossistemas com uma dependência mínima de
insumos agroquímicos e energéticos externos busca
trabalhar e alimentar sistemas agrícolas complexos onde as
interações ecológicas e sinergismos entre os componentes
biológicos criem, eles próprios, a fertilidade do solo, a
produtividade e a proteção das culturas (ALTIERI, 2004). Em
territórios com solo degradados pela ação antrópica é
preciso restaurar e ampliar a biodiversidade natural do local
para restabelecer a auto regulação.
As agroflorestas se utilizam da dinâmica natural de
regeneração das florestas: as plantas se decompõem em
nutrientes para o solo; os nutrientes são absorvidos pelas
raízes; as raízes nutrem a planta; após o crescimento, as
plantas cumprem o ciclo se decompondo. Aliada à prática
agrícola do pequeno agricultor, são reconhecidas a
combinação de características de diferentes espécies para a
sua manutenção e o manejo como acelerador do processo
de regeneração.
O benefício desse encontro é visto na maior captação
dos raios solares pelas diferentes camadas de vegetação, no
maior aproveitamento do solo pelos sistemas de
enraizamento em várias profundidades; no fortalecimento
de espécies de ciclo curto pela superfície do solo
enriquecida com a queda das folhas das espécies de ciclo
médio-longo, entre outras a serem observadas nesse
estudo. Na falta da ação antrópica, as espécies acabam por
competir entre si pelos recursos, o que resulta no aumento
da biodiversidade.
agroflorestas
O tempo de brotamento das sementes, assim como em
todos os processos da natureza, acontece em diferentes
velocidades a depender das particularidades dos genótipos.
Os conceitos de lento/rápido se tornam relativos quando
comparados à longevidade dos variados organismos. O broto
surge, cresce e se diferencia, dando início a mais um ciclo.
Neste trabalho, esse processo é entendido como a fase de
investigação do histórico do território, a relação entre a
urbanização e a apropriação do Aterro do Cocotá e introdução
ao objeto de análise, a Agrofloresta do Cocotá.
Para um maior entendimento da cultura urbana
contemporânea e a apropriação dos espaços públicos na Ilha
do Governador são apresentados alguns acontecimentos
circunscritos a marcos do passado da região que parecem
influenciar a prática em estudo. Tais acontecimentos foram
divididos em três processos relacionados ao cultivo, à baía e
ao urbano que são sintetizados nos elementos terra, água e
concreto. Tais processos podem ser observados na ocupação
de outros territórios da cidade, e que serão analisados em
relação à presença dos atores locais e das particularidades de
suas vivências urbanas.
TERRA
Atracam na ilha os primeiros colonizadores portugueses
André Gonçalves, em 1501, e Nuno Manuel, em 1502, o que
tornou esta a região mais antiga do Rio de Janeiro. (RUSSO,
1997). As extensas florestas com abundância de pau-brasil
tornaram a ilha importante ponto de extração do material
corante que passou a ser comercializado, iniciando na região
um longo histórico de extrativismo em larga escala e
degradação ambiental. Uma vez que não se fixaram na Ilha
Paranapuã ou Ilha do Gato, nomes dados pelos portugueses,
não houve conflitos com os povos originários que se tornaram
supridores dos embarques do pau-brasil nos navios. (SOUZA,
BUARQUE, 2019) (ALMEIDA, 2013)
Este levantamento histórico da Ilha do Governador
utilizou três principais fontes; relatos e publicações feitas pelo
historiador insulano Jaime Moraes na página Ilha do
Governador - O passado no presente; a publicação de 1997 de
Paulo Roberto Russo, Ilha do Governador: Considerações
acerca de seu Processo de Ocupação; e as edições dos jornais
Correio do Amanhã e Jornal do Brasil disponibilizadas pela
Biblioteca Nacional Digital.
A Ilha do Governador, na época Ilha de Maracajás
-gato-do-mato-, foi inicialmente ocupada por indígenas
temiminós cujas principais atividades eram a horticultura e
cerâmica. Se estabeleceram em grandes aldeias
preferencialmente implantadas próximo a rios, matas e
altitudes inferiores a 400m. A ocupação foi especialmente
densa e longa e mantinham uma relação harmoniosa com a
paisagem natural. Na Baía de Guanabara existia um intenso
conflito entre os tamoios, que ocupavam o litoral do
continente, e os maracajás, como eram chamados os
temiminós por seus rivais. (RUSSO, 1997) (SOUZA; BUARQUE,
2019) (ALMEIDA, 2013)
Do surgimento
Em 1560, os temiminós foram expulsos da região pela
aliança entre franceses e tamoios que transformaram o
território em um grande campo de batalhas contra os
portugueses trazendo grande impacto à paisagem natural. Até
que em 1565, os portugueses fundaram a cidade de São
Sebastião, e em 1567, apoiados pelo temiminós, recuperaram a
ilha. (VIRGILIO; DIONÍSIO; MENEZES, 2011)
_BROTAR
TERRA ÁGUA CONCRETO
Em 1567, com a ocupação dos portugueses no Rio de
Janeiro já consolidada, a região recebe o nome atual uma vez
que Mem de Sá doa mais da metade da ilha ao Governador da
Capitania do Rio de Janeiro. Salvador Correa de iniciou a
prática da monocultura na ilha através de um grande
engenho de cana de açúcar, um dos primeiros a produzir o
alimento no Rio de Janeiro, marcando mais um período de
degradação do solo no local. Até o final do século XVI se
manteve a ocupação agrária que conferiu o apelido de Ilha
dos Sete Engenhos à área. Devido ao cultivo de cana e a
produção de açúcar, a exportação do produto foi a primeira
atividade econômica de importância da região. (RUSSO, 1997)
(VIRGILIO; DIONÍSIO; MENEZES, 2011)
Ainda que a monocultura de cana fosse a principal
prática da região, outros gêneros agrícolas também eram
cultivados com o objetivo de manter a subsistência da então
pequena população insulana. (RUSSO, 1997)
No século seguinte as duas partes são finalmente
subdivididas, sendo boa parte ao Oeste doada aos monges
beneditinos, em 1695, que reiniciam a criação de animais e o
cultivo de alimentos, principalmente produtos da base
alimentar indígena, como o milho, a mandioca e o inhame,
incluindo boa parte da produção açucareira. (RUSSO, 1997)
Ainda no fim do século XVII, é erguida a Capela de
Nossa Senhora da Ajuda e então em 1710 foi criada a freguesia
de Nossa Senhora da Ajuda, responsável pela instalação de
diversas igrejas ao longo do litoral das porções Leste e Central
que originaram os núcleos das primeiras ocupações como se
conhece atualmente. (RUSSO, 1997)
Com o passar dos anos, a região é dividida em seis
grandes fazendas: Freguesia, Fazenda de São Bento, Fazenda
da Bica, Fazenda Amaral, Fazenda da Ribeira ou Juquiá e
Fazenda da Ponta do Tiro até Cocotá. (SOUTO, 2015) Segundo
Russo (1997), a Ilha passa a receber a atenção de novos
moradores tanto para o desenvolvimento da lavoura quanto
por ser um recanto atraente e bucólico.
Implantadas nas áreas mais secas da porção Oeste e
Central, as grandes propriedades rurais resistiram até a
chegada das companhias imobiliárias em meados dos anos
20, com o objetivo de lotear o Jardim Guanabara, antiga
Fazenda da Conceição. Em 1930, as atividades agrícolas de
grande porte haviam desaparecido, restando apenas as
pequenas fazendas situadas em Itacolomi e Tubiacanga que
em 1942 foram desapropriadas para a instalação da Base
Aérea do Galeão. (RUSSO, 1997)
O Morro do Dendê, maior favela da Ilha do Governador,
foi inicialmente ocupado por migrantes nordestinos, na
década de 40, que encontraram uma volumosa plantação de
dendê na área, dando o nome do coqueiro à região. Hoje parte
de sua ocupação se concentra no Cocotá, nome que significa
roça para os povos originários.
Mapa de André Thevet (1556),
(Fonte: Arquivo Nacional)
SÃO BENTO
FREGUESIA
PONTA DO TIRO ATÉ COCOTÁ
RIBEIRA OU JUQUIÁ
AMARAL
DA BICA
MORRO DO
DENDÊ
DA CONCEIÇÃO
ÁGUA
Em 1838, devido à necessidade gerada pelo comércio
do açúcar e cerâmica que cresceu ainda mais na região, a ilha
finalmente iniciou uma ligação regular com o continente a
partir de embarcações a vapor que atracavam na Freguesia.
(MORAES, s/d) Mas foi em 1903 que se iniciou a viagem
destinada à população com sentido ao Centro iniciada na
Freguesia com atracações no Cocotá e Zumbi (próximo a
Ribeira). Com a inauguração dos bondes em 1922 ocorreu
uma ampliação da mobilidade terrestre, por isso o serviço de
barcas se restringiu a Ribeira, desativando as outras
atracações. (MORAES, s/d) Desde então, o transporte
marítimo foi pauta recorrente dos insulanos que sofrem com a
precariedade do transporte público e a falta de incentivo para
sua melhoria devido a baixa oferta de horários e alto custo do
translado.
A partir dos anos 1930, com a consolidação de redes de
telefonia, embarcações, bondes elétricos e ônibus, que se
inicia o adensamento urbano na Ilha do Governador, que em
1949 é intensificado pela ligação física com o continente a
partir da primeira ponte da área. (RUSSO, 1997)
O Cocotá se posiciona no recôncavo formado entre as
grandes regiões da Freguesia e Ribeira. O bairro é banhado
pela Baía da Guanabara e limitado pelos bairros da Praia da
Bandeira, Cacuia, Tauá, e grande parte do Morro do Dendê.
Após as obras de urbanização da Avenida Paranapuã em 1948,
o Cocotá passou a ser considerado o “meio da ilha”, uma vez
que ali passou a ocorrer o encontro e desvio dos bondes
vindos da Ribeira e Freguesia. (MORAES, s/d) As imagens ao
lado destacam o Saco de Olaria e a Praia do Cocotá que
recebiam moradores e visitantes de outras regiões da ilha que
possuíam uma relação afetiva com a Baía relatada por Luiz
Gonzaga na música Cocotá.
“De manhã muito cedinho
Lá vou eu para o meu banho de mar
Visto o short, saio correndo
No caminho é só dizendo
Praia boa é Cocota
(...)
Reumatismo foi embora
Alergia se acabou
Para um banho medicina
Praia boa é Cocota
Ilha do Governador”
...a pesca foi um fator importante na ocupação
inicial das praias, embora não represente valor
ponderável na população atual, existindo na Ilha do
Governador apenas uma colônia de pescadores, que
está localizada no Saco do Jequiá…”
Paulo Roberto Russo, 1997.
Em paralelo à prática agrícola, a pesca foi uma das
principais atividades insulana da época e incentivou boa parte
da ocupação próximo ao litoral, influenciando os primeiros
centros populacionais da região. (RUSSO, 1997) Ainda hoje é
possível observar que a pesca recreativa permanece forte na
cultura insulana com diversos pontos espalhados
principalmente ao Leste da ilha, no eixo
Ribeira-Cocotá-Freguesia e alguns na porção mais ao Norte,
concentrados na Praia da Rosa, no Moneró e Tubiacanga. A
antiga Colônia de Pescadores Z-10 localizada próxima à área
militar do Cacuia ainda possui forte influência pesqueira
passada por gerações mesmo com a crescente especulação
imobiliária na região que por vezes acaba por diluir a cultura
local.
Em 1808, com a vinda da família real para a cidade, D.
João VI insere uma nova atividade na região através de uma
área destinada à caça. Com a constante visita da realeza, a
ilha passou a ser destino de veraneio aos que buscavam se
distanciar da grande metrópole. As praias insulanas recebiam
novos visitantes de toda a cidade influenciados pela cultura
real de se banhar nas águas da Baía de Guanabara.
Com o crescimento populacional e avanço da
urbanização, somados a obras de dragagem que ocorreram
em diversos pontos a fim de aumentar a faixa de areia que
desaparecia com o aumento da maré, as praias da Ilha
passaram a ter um número ainda maior de frequentadores.
Insulanos e moradores de outras áreas da cidade que
careciam de espaços de lazer. (MORAES, s/d) Na região
encontraram locais democráticos, autônomos e gratuitos para
banho, prática de esportes e socialização.
Assim se intensificou o contato com a Baía até o avanço
da urbanização que trouxe problemáticas como o
adensamento urbano sem planejamento. Devido a falta de
saneamento, se iniciou uma série de despejos diretamente
nas águas, contribuindo para sua degradação ambiental.
Mesmo com as praias impróprias para o banho, a busca por
lazer permanece nas praias da Ilha principalmente através da
prática de esportes e socialização, mas ainda há aqueles que
não dispensam um mergulho em dias mais quentes.
CONCRETO
“Os contrastes dentro da Ilha do Governador são
bem visíveis, principalmente na questão dos serviços de
responsabilidade do poder público. Observa-se nas
localidades onde um poder aquisitivo maior, uma
melhor eficiência dos sistemas de infra-estrutura em
detrimento das localidades que servem de residência
aos moradores de baixa renda, deixando ainda mais
grave a vida já tão precária destes.
(RUSSO, 1997)
A única saída rodoviária da Ilha se localiza próximo ao
Aeroporto Internacional e à adjacente área da Aeronáutica.
Encontra-se do lado oposto à concentração residencial da
região, fato que somado à falta de oferta do transporte
marítimo agrava ainda mais a situação da mobilidade insulana
e intensifica o isolamento dessa população.
A urbanização impulsionou a degradação ambiental da
Ilha do Governador. O processo de aterramento (em azul no
mapa) resultou na destruição de grande área de ecossistema
de manguezal, o que impactou a produtividade biológica na
Baía de Guanabara. (RUSSO, 1997) Quanto ao desmatamento,
foram reflorestadas somente nas áreas militares que se
localizam no Galeão, Freguesia e Cacuia.
A ocupação residencial na Ilha do Governador é maior
ao Leste, coincidindo com as zonas de povoamento mais
antigas, que se localizavam em sua maioria nas proximidades
do litoral. (RUSSO, 1997). Segundo Russo (1997), a escolha do
local se deu pelas condições mais favoráveis ao
estabelecimento da vida humana, como o fato desta área ser
caracterizada por um litoral arenoso de mais fácil atracação
para as embarcações, diferentemente de outras áreas, como
o litoral Oeste, que era marcado pela presença de faixas de
manguezais e terrenos embrejados que dificultavam o
desembarque e, em decorrência, qualquer tipo de intenção de
fixar um núcleo de ocupação.
A porção central da ilha resultou de um processo de
ocupação tardio pois não representava uma área interessante
a ser urbanizada uma vez que é composta de altos relevos
(RUSSO, 1997). Foi a partir de 1926 que as companhias de
loteamento passaram a ter interesse em investir na região,
principalmente devido à promessa da nova ponte e os novos
aeroportos que traziam olhos atentos à áreA. (MORAES, s/d)
Diferentemente de outras intervenções no território da cidade,
os bairros Jardim Guanabara e Jardim Carioca foram inspirados
no modelo de “cidades jardins”, onde são aproveitadas as
condições naturais do meio. (RUSSO, 1997) De acordo com
Russo (1997) tal preocupação paisagística se justifica nas
intenções econômicas, que eram a de transformar esta
porção num ponto atraente para a fixação de moradores de
boa situação financeira. Nesse sentido o projeto foi executado
com êxito uma vez que até hoje essas áreas são ocupadas
pela parcela mais rica da região.
Com os anos, se inicia uma forte pressão para que a
parte a Oeste da Ilha fosse ocupada, principalmente após a
inauguração da ponte que a conecta com o continente em
1949. Então são feitos grandes aterros provenientes de
desmontes na região, somando cerca de ¼ da área atual, que
tiveram entre seus objetivos criar espaço físico para os
aeroportos, inaugurados em 1952 e 1977,
respectivamente.(RUSSO, 1997) Com o término da Segunda
Guerra Mundial, a Ilha ganhou a primeira vila militar,
localizada no Galeão. Após a criação do Ministério da
Aeronáutica, a antiga Fazenda de São Bento foi desapropriada
pelo governo e assim, praticamente metade da Ilha do
Governador passou a fazer parte do referido ministério. Ainda
em meados dos anos 50, as primeiras casas de soldados e
oficiais foram levantadas e foram se unindo ao conglomerado
até 1983, quando os blocos de apartamentos dos sargentos
foram então construídos. (RUSSO, 1997)
A história do Cocotá também é atravessada pela ação
antrópica que conferiu drásticas mudanças na paisagem
natural. Com o fim do transporte marítimo no bairro, o
significativo aumento da poluição da Baía devido à
urbanização informal, o fim dos bondes que traziam
moradores de outras regiões, e a nova ligação com o
continente a partir do lado Oeste da ilha, comerciantes da área
motivados pelos desmontes nas áreas militares solicitam o
aterramento do Saco de Olaria. Na época foi proposto que a
grande área fosse destinada exclusivamente ao lazer dos
moradores da região. (MORAES, s/d)
O aterro de parte da orla do Cocotá, iniciado nos anos
60, afetou significativamente a cultura urbana local. O
processo que durou longos anos fez com que aumentasse
ainda mais a grande demanda por áreas de lazer na região que
carecia de equipamentos culturais públicos.
SACO DE OLARIA
FREGUESIA
RIBEIRA
JARDIM GUANABARA
GALEÃO
COLÔNIA
Z-10
COCO
MONERÓ
TUBIACANGA
ACESSO
CACUIA
PARQUE MANUEL BANDEIRA
A urbanização da área aterrada finalizada em 1978, dez
anos após o último aterro do Saco de Olaria, deu origem ao
Parque Poeta Manuel Bandeira. Amplamente divulgado
como uma miniatura do Parque do Flamengo, o novo espaço é
implantado em uma área de 110.000 metros quadrados, dos
quais 40.000 de área verde. (MORAES, s/d) Em sua primeira
fase de construção contava com 120 bancos, um grande
campo de futebol, duas quadras poliesportivas para basquete,
vôlei e futsal, duas quadras de tênis, um parque infantil e
duas extensas áreas de estacionamento para 860 carros.
O Parque era a maior área de lazer da Ilha do
Governador, responsável por atrair moradores de toda a região
e visitantes de diferentes pontos da cidade motivados pelas
notícias de sua implantação.
Assim como o Parque do Flamengo, o Parque Manuel
Bandeira, no Cocotá, é marcado por grandes áreas livres. Se
comparado à malha urbana do bairro insulano fica evidente o
seu superdimensionamento que resulta nesses amplos
espaços entre equipamentos. Diferentemente do parque da
Zona Sul, o Manuel Bandeira não possui um complexo projeto
paisagístico ou qualquer cuidado e manutenção das áreas
permeáveis, tendo como consequência a falta de espaços
cobertos e o acúmulo de calor. Após anos de abandono do
poder público evidenciados na falta de manutenção da
iluminação, mobiliário, sanitários e quadras, a falta de
segurança levou o espaço a se tornar marginalizado e pouco
frequentado.
Do crescimento
Por muito tempo o aterro do Cocotá manteve uma
feição desértica ocasionada pelas grandes áreas que
permaneciam vazias na maior parte do tempo, a implantação
destacada da malha residencial e a falta de manutenção e uso
que levavam à insegurança de muitos moradores.
Mesmo com a promessa da área aterrada ser de uso
exclusivamente destinado ao lazer, possivelmente, numa
tentativa de trazer mais movimentação ao aterro, instituições
como o Fórum de Justiça, Detran e UPA 24H passaram a
compor o cenário. Especialmente alocados próximos à orla,
esses equipamentos impediram parte da antiga relação com a
Baía, contato de extrema importância como se pode observar
em outros bairros litorâneos ao Leste da ilha que ainda
mantém a pesca como atividade recreativa.
Apesar do histórico de abandono e insegurança, o
aterro tornou-se parque marcado pela apropriação. Um
exemplo é a prática de soltar pipas que sempre esteve
presente como relatado por muitos dos antigos moradores da
região. em 1979, ano seguinte à inauguração, o Jornal do
Brasil noticiava que skatistas ocuparam partes do amplo
estacionamento do parque para praticar manobras e
lamentavam a falta de uma área destinada a esta prática no
parque, evidenciando a falta de diálogo durante o projeto. No
mesmo ano o Jornal denunciava o descaso da prefeitura com
os novos espaços de lazer da Zona Norte da cidade.
Em 1981, iniciam as ocupações temporárias dos
espaços livres por parques de diversão temáticos, feiras e
desfiles. Essa apropriação, por parte de comerciantes e
escolas da Ilha, buscava aproveitar a grande área sem uso e
manter a vitalidade do espaço livre esquecido pelo poder
público. (MORAES, s/d)
Motivados pela falta de equipamentos culturais, após o
fechamento dos três únicos cinemas da Ilha, o GATIC (Grupo
de Artes e Teatro da Ilha do Governador) inicia um grande
movimento cultural comunitário intitulado “Teatro a Ilha Quer”.
O coletivo mobilizou moradores, artistas e produtores a fim de
reivindicar um espaço para cultura na região e assim em 1987
é inaugurada em parte do estacionamento do parque, a
primeira Lona Cultural do Rio de Janeiro, nomeada Teatro de
Lona Elbe de Holanda, em homenagem à fundadora do grupo.
(MORAES, s/d)
Com a falta de subsídios da prefeitura para a
manutenção do espaço e contratação de artistas, o GATIC
deixa a gestão desses equipamentos culturais, que fica a
cargo do Bloco Cocotá, formado por moradores e
comerciantes, o que levou à aceleração de seu abandono e o
fim do uso destinado à cultura, levando à demolição arbitrária
em 1997. (MORAES, s/d) No ano anterior a Biblioteca Euclides
da Cunha foi realocada onde está atualmente.
Os anos 2000 foram de extrema importância para a
reativação da área que recebeu uma grande revitalização
através do Projeto Rio Cidade em 2004 e fez melhor uso das
extensas áreas de estacionamento. O parque então passa a
contar com mais dois campos de futebol menores, mais uma
quadra poliesportiva e atendendo aos pedidos da população é
inaugurado um skatepark (street style), um círculo de
patinação e pergolados que cobriam uma grande área livre de
pavimentação lisa também pensada para os atletas.
MORRO DO
DENDÊ BAÍA DE
GUANABARA
BARCAS
PISTA DE SKATE
AGROFLORESTA
BIBLIOTECA
BARCAS
UPA INFANTIL 24H
DETRAN
CLÍNICA DA FAMÍLIA
FÓRUM
CICLOVIA
PRAIA DO COCO
LONA CULTURAL
ESTAC. BARCAS
PARÓQUIA S. SEBASTIÃO
BIBLIOTECA EUCLIDES DA CUNHA
VESTIÁRIO E AGROFLORESTA
ANFITEATRO E PARQUE INFANTIL
QUADRAS DE TÊNIS
PERGOLADO
QUADRAS POLIESPORTIVAS
CAMPOS DE FUTEBOL
RINGUE DE PATINAÇÃO
PISTA DE SKATE
MORRO DO DENDÊ
BAÍA DE GUANABARA
A partir de 2006 três novos equipamentos são
implantados no aterro, um a cada ano, a iniciar pela
realocação do terminal de barcas, seguido da Lona Cultural
Renato Russo, e em 2008 a inserção de mais um
equipamento de saúde, a Clínica da Família Wilma Costa, que
encerra de vez qualquer ligação do parque com o litoral.
Apesar do desinteresse do poder público tanto com a
manutenção dos equipamentos implantados quanto com a
cultura insulana de banho e pesca, a população local seguiu
frequentando a região. A resistência fez surgir diferentes
movimentos populares em busca da ativação e conservação
do parque.
O projeto composto de grandes áreas livres entre os
equipamentos permitiu dar continuidade nas apropriações
temporárias dos espaços livres através de parques de
diversão e circos, prática que perdura até os dias atuais. Aos
domingos, uma grande feira de roupas e comidas tem
presença garantida no enorme passeio demarcado por
pergolados e proporciona uma grande ativação do parque.
Os skatistas sempre marcaram presença no parque,
mesmo antes da construção da pista, se apropriando das
áreas subutilizadas, e se faziam vistos pelos outros usuários.
Para além dos encontros ocasionados pela prática esportiva,
quase uma década após a reurbanização do parque, em 2013,
a ocupação da pista de skate resultou no coletivo SoulPixta,
formado por atletas e artistas, que reúne skate, pixo, graffiti e
hip hop numa grande celebração da cultura urbana. Em
paralelo às festividades e competições, o grupo também tem
sido responsável pela manutenção do equipamento através
da constante cobrança aos órgãos públicos e principalmente
através de mutirões comunitários como o ocorrido em 2018 e
que se repetiu em 2021. Uma vez entendida a importância
desta área para a cultura local e para a vitalidade do parque,
os membros se organizam para receber doação de materiais e
mão de obra por parte de moradores e usuários da pista.
Pela ausência do Estado, outras movimentações
comunitárias acontecem para a manutenção dos espaços no
parque, semelhantes ao que ocorre no skatepark, sendo
observadas nas quadras de tênis e no campo de futebol.
REGIÃO
COMERCIAL
Em 2017, em um grande canteiro ocioso no centro do
parque surgem as primeiras raízes do movimento que hoje se
conhece como a Agrofloresta Urbana do Cocotá. A iniciativa
de começar o plantio no parque partiu da parceria entre
insulanos e a TV Globo que organizaram o evento Programão
Ilha após o sucesso do Programão Carioca que ocorreu na
região no ano anterior. Com objetivo de incentivar a produção
artística na Ilha do Governador, a emissora buscava “promover
maior sinergia entre os artistas do bairro e estimular a
realização de outros projetos culturais”. Dentre as ações que
ocorreram no dia, como exposição de artes, atividades físicas,
apresentações e oficina de materiais recicláveis, houve o
plantio de sementes de girassóis, coordenado pelo morador
Pedro Vettorazzo, responsável pelo projeto Horto Vitae.
AGROFLORESTA DO COCOTÁ
Da diferenciação
Alguns meses de cultivo deixaram evidente algumas
dificuldades de manter a horticultura uma vez que o espaço
não possuía a infraestrutura necessária nem a qualidade do
solo desejável. Em 2018, houve um esvaziamento do espaço e
então outros moradores que admiravam e participavam
pontualmente da iniciativa tomaram à frente do movimento. A
partir desse momento inicia a transição para a silvicultura,
que busca restaurar o solo através de plantas pioneiras e
nativas. Para essa mudança e a inserção de práticas
agroecológicas, foi de grande influência a participação de
moradores e estudantes da UFRJ que integravam os coletivos
MUDA e Capim Limão. As vivências universitárias e
motivação dos envolvidos foram as principais responsáveis
pela disseminação dos ideais agroecológicos que perduram
no Aterro do Cocotá. Desde então é praticado o cultivo de
espécies mais resistentes, como árvores frutíferas e nativas,
além de espécies pioneiras e de baixa manutenção. O manejo
se torna imprescindível para acelerar o processo natural de
sucessão até a efetivação da floresta.
Em geral, pode-se considerar que a mudança para
prática agroecológica foi resultado das experiências pessoais
somadas à constatação da pobreza de nutrientes do solo de
aterros, necessidade de uma mudança ecológica na
comunidade e da disseminação de práticas agrícolas
sustentáveis no meio urbano.
Como era esperado, as mudas deixadas pelo programa
foram adotadas por alguns moradores que se revezavam para
regar e até mesmo criar um sistema de irrigação próprio a
partir de garrafas PET. Nesse processo destaca-se a
estudante Ana e o skatista Randall Batista que frequentavam
quase diariamente o parque e mantinham uma longa relação
com seus frequentadores. A necessidade de reinvenção para
a manutenção das iniciativas levou a uma atuação também na
área de plantio. O acúmulo de experiências no aterro iniciados
nesse momento foram de extrema importância para o triunfo
hoje da Agrofloresta.
Com o passar das semanas, outros moradores locais e
amigos de Randall, ao observar o crescimento das plantas
passaram a se interessar pela prática. É então que com o
objetivo de agregar valores sociais e de preservação da
natureza se desenvolve uma horta comunitária no Aterro do
Cocotá.
É importante ressaltar que a cultura ancestral de
plantio e os saberes populares dos moradores foram os
primeiros fatores que impulsionaram o início da prática
agrícola no parque e as mantiveram nos momentos de crise.
Ao lado, o levantamento cronológico de imagens de
satélite do Google Earth permite constatar a transição da
horticultura para o Sistema Agroflorestal e o avanço da prática
A agroecologia, para além do sistema de cultivo
contribuiu para a discussão e execução de infraestruturas
verdes no espaço, tais como composteira, mudário, banheiro
seco e pergolado, a serem detalhados na próxima etapa do
trabalho. Nesse processo alguns dos participantes tiveram o
primeiro contato com o potencial que o campo da arquitetura
poderia trazer à iniciativa, disseminada principalmente pelo
arquiteto Victor Huggo, ex-aluno da FAU UFRJ.
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10/201801/201907/2019
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O plantio ele tá relacionado a
cuidado né? Você começa a
entender um pouco sobre cuidado
assim né? E cuidado também te
gera uma responsabilidade você se
sente responsável ali pelas coisas
que você tá cuidando sabe? Não
não como uma obrigação
mas, ‘caraca’ vamos lá manter (...)
acho que é uma coisa que acende
nas pessoas muito tranquilamente,
tem gente que chega ali até hoje ou
começa a frequentar sem ter
nenhum mutirão nem nada ou
então no meio do mutirão… Se
tornou um momento ali com o
espaço até por ser público, tá bem
ali no meio, galera tem uma
curiosidade. Se identifica porque
gosta de planta, tem planta, um
familiar tem planta. Eu lembro que
nos anos noventa, quando era
‘moleque’, era muito comum e
agora meio que voltou isso com
força total (...) a galera gostava
muito de cultivar em casa, trocar
mudinha.
Anos dois mil, tecnologia,, a gente
se maravilhando com muita coisa,
muitos eletrodomésticos em casa
(...) e aí hoje em dia isso já meio
que voltou (...) Todo mundo se
alimenta né? Uma coisa que
quando a gente fala ali também é a
questão do alimento, dá pra plantar
o alimento sabe? A pessoa já fica
(curiosa) como plantar o alimento?
Como é que é plantar um tempero?
Como é que é plantar um chá?
A gente também fala muito sobre
as necessidades das pessoas
porque é uma realidade né? (...)
Necessidade de as pessoas
conhecerem outras coisas, se
alimentarem. E a gente também
quer debater ali hoje em dia.
Começou assim, da gente cuidar do parque, mas a
gente também percebeu que através desse cuidado com o
parque a gente tá tendo cuidados com o planeta que a gente
vive. (...) Antigamente eu achava que você tem que fazer
alguma coisa muito enorme no mundo todo pra ter um
impacto. Mas não, tu tem que fazer no ‘teu bairro (...) Começa
a ter ali aquele retorno do teu bairro e tu vê cara no rosto
das pessoas mesmo assim, elas: a mudança de algumas
coisas é possível.
O plantio de hortaliças era muito do alimento germinado que (Randall)
tinha em excesso em casa e ele jogava aqui pra poder plantar e começou a
nascer. Aqui a galera sempre foi muito conectada, ? A galera da UFRJ, que
vinha andar de skate, e também apareciam umas pessoas de sítio, (...) a
galera do MUDA, foram chegando as pessoas assim ? Alastrando uma
plantinha e acho que a transição pra agrooresta foi meio que um curso
natural porque tinha essa essa questão das árvores e do calor. É muito
aberto ali. Pô, vamos plantar o quê? Mas vamos plantar uma fruta, ? Vamos.
Então antes mesmo de chegar assim a palavra agrooresta e tal começou
a rolar a ideia de plantar fruta. E quando chegou essa ‘parada agrooresta,
algumas pessoas foram pro curso (MUDA), outros estavam fazendo curso
vieram pra e fazendo essa troca, levando a troca (..) então quando
começou a gente tinha um pouco essa ideia já, que não tinha ali o sistema
feito sabe exatamente de acordo, então foi meio que aprimorando o processo.
As pessoas chegando com conhecimento e isso foi bem bacana porque foi a
questão das pessoas trazerem conhecimento para as pessoas e elas
mesmas colocaram em prática e viram que funciona mesmo.
(...) Então a transição foi muito suave por conta disso porque ali carecia
de árvores, ? Pô não tinha nada ali, nada, nada, nada. Então parece que foi
uma grande convergência assim, mas no fundo foram pessoas que estavam
dispostas a se ouvir, tentar algo novo, sabe? Experimentar coisas assim pra
uma pra fazer um impacto no parque, um impacto positivo! Isso foi foi essa
questão de origem assim e sempre não como uma porta giratória, duas
pessoas vindo, indo, circulando, trazendo conhecimento e a gente formou
muito conhecimento aqui e foi levando pra outros lugares ? Outros lugares
começaram a ser plantados aqui na ilha.
Acho que essa questão de dar motivação acho que tá muito ligada à
gente poder ter um pouco da nossa ação no lugar. A gente colocar nossas
mãos pra poder fazer as coisas no parque assim. Porque quando tem uma
interferência no parque, quando tem uma criação do plano diretor, quando vai
fazer assim o layout do parque não tem a participação do público ? o
público muitas das vezes que tá aqui sente as demandas e cai dentro.
(....)a transição pra agrofloresta foi meio que um curso
natural porque tinha essa essa questão das árvores e do calor.
É muito aberto ali. , vamos plantar o quê? Mas vamos plantar
uma fruta, né? Vamos. Então antes mesmo de chegar assim a
palavra agrofloresta e tal já começou a rolar a ideia de plantar
fruta. E quando chegou essa ‘parada’ agrofloresta, algumas
pessoas foram pro curso (MUDA), outros estavam fazendo
curso vieram pra e fazendo essa troca, levando a troca (..)
então quando começou a gente tinha um pouco essa ideia já, só
que não tinha ali o sistema feito sabe exatamente de acordo,
então foi meio que aprimorando o processo. (...) foi bem bacana
porque foi a questão das pessoas trazerem conhecimento para
as pessoas e elas mesmas colocaram em prática e viram que
funciona mesmo.
Com a saída do Randall, a gente assumiu trazendo esse conhecimento
de plantio agroflorestal (...) aqui não tinha dono, ‘né mano’? Quem tava eram
as pessoas que estavam organizando o pensamento e as atividades do que
ser feito (...) e calhou no que foi na verdade uma transição que começou a
trazer uma série de pessoas também e o que colaborou por exemplo com
esse plantio que a gente vê hoje nesse nível de cima, as árvores. (...) Esse foi
um momento lindo de muito plantio assim, coletivo e de moradores. (...) Então
foi esse momento aí que foi o estopim e combinou nisso, cada um estudando
individualmente. E muito ligado a agrofloresta mesmo, a ecologia, a
agroecologia, de forma muito orgânica, sem cobrança, muito natural (...)
porque cada um tinha a sua agenda, o seu compromisso, todo mundo
entendia isso aqui como um trabalho, mas um trabalho voluntário mesmo. E
nesse voluntário cada um era responsável por si. E esses estudos
caminhando, a gente indo pra outros lugares conhecer.
Jefferson Nogueira,
morador do Cocotá, músico,
estudante e trabalhador da Horta
da UPA 24h.
Victor Huggo,
morador do Cocotá,
arquiteto e urbanista pela
FAU/UFRJ
_RAMIFICAR
As ramificações a partir da Agrofloresta do Cocotá
podem seguir múltiplas direções. Assim como os ramos que
possuem dimensões variadas e podem se dividir em outros
filamentos, o estudo da prática urbana pode ser feito sob
distintos aspectos. A seguir, a escolha foi de repartir a análise
em seis tópicos: premissas, organização, objetivos, ações,
processos e território. Por vezes esses ramos se reaproximam
e até mesmo se confundem, numa confluência natural.
Esses tópicos foram analisados com base na vivência da
autora no coletivo e de relatos de outros membros. Eles nos
levam ao entendimento de atores, operações e produtos
envolvidos na apropriação de espaços livres na cidade por
parte de Agroflorestas Urbanas, a partir da experiência do
Cocotá.
Ao buscar entender quais as premissas em que se
baseiam o grupo é possível relacioná-las com o
direcionamento dos objetivos, a pluralidade na organização, a
execução dos processos e a forma do território. Através dos
objetivos fica mais claro a escolha dos processos, a maneira
de se organizar e as ações. Com a análise da organização
veremos a sua aplicação nos processos e ações, esta por sua
vez implica na limitação do território, potencializam as
premissas e cumprem o objetivo de difundir a prática. Os
processos e o território estão diretamente ligados uma vez
que os primeiros definem os aspectos do segundo. Dessa
forma todos os tópicos se relacionam sem uma ordem pré
concebida, as soluções são encontradas de maneira orgânica
com o surgimento dos desafios.
AGROFLORESTA
DO COCO
ORGANIZAÇÃO
PREMISSAS
OBJETIVOS
AÇÕES
PROCESSOS TERRITÓRIO
AUTOGESTÃO
PLURALIDADE
HORIZONTALIDADE
SABERES
POPULARES
ECOLOGIA
SISTEMAS
AGROFLORESTAIS
DIFUSÃO DA
PRÁTICA
EDUCAÇÃO
AMBIENTAL
SEGURANÇA
ALIMENTAR
EXPANSÃO
LIMITES
FORMA
INFRAESTRUTURA
SEGURANÇA
MUDAS
COLHEITA
COMPOSTAGEM
MANUTENÇÃO
VIVÊNCIAS
MUTIRÕES
VISITAS
TROCA DE
SABERES
PLANTIO
PREMISSAS
Dentre as premissas nos quais a Agrofloresta do Cocotá
se apoia e desenvolve se destacam a ecologia, os sistemas
agroflorestais e os saberes populares. As duas primeiras
foram difundidas principalmente por parte de frequentadores
do parque que tiveram contato com a área de agroecologia na
universidade, enquanto a última é somada diariamente a partir
de contribuições significativas de cada membro e visitante do
espaço.
Apesar do grupo não se ater a nenhum autor ou teoria
para o embasamento das ações, mas sim na prática e
acúmulo de experiências, as premissas propagadas dentre os
participantes servem de fundamento e podem ser
reconhecidas a partir do pensamento de alguns estudiosos.
ECOLOGIA
O termo ‘ecologia foi originado por Ernst Haeckel
(1866), na obra Generelle morphologie der organismen, a
partir da etimologia da palavra grega que em tradução literal
significa casa e estudo, então poderia-se entender como o
estudo do local em que os seres vivos habitam. Outra forma
de definir a ecologia seria a partir da biologia, como sendo a
ciência que estuda as relações dos organismos entre si e
deles com o meio ambiente.
Alguns dos conceitos mais difundidos da ecologia de
Eugene Odum (1953), pioneiro e visionário da área, são:
ecossistema, que compreende os componentes com interação
e interdependência constantes e formam uma composição
unificada; níveis de organização, que divide os seres em
comunidade, população, organismo, órgão, célula e gene; e
relações ecológicas que num ecossistema influenciam na
distribuição e abundância dos organismos através da
competição pelo espaço, pelo alimento ou por parceiros.
No geral, cada disciplina tem uma percepção da
ecologia, sendo abordada em diversos assuntos, como na
economia circular, gestão de recursos naturais, planejamento
das cidades, sustentabilidade, poluição ambiental, agricultura
e outras. As diversas percepções são debatidas e trazidas para
os encontros numa tentativa de refletir sobre os desequilíbrios
que vemos nas cidades e em busca de alternativas possíveis.
O filósofo e psicanalista revolucionário Félix Guattari
(1990), também enriquece o termo ao tratar das três ecologias:
ambiental, do meio ambiente, social, das relações sociais e
mental, da subjetividade humana, trazendo uma visão
interdisciplinar para o debate. Algumas características dessas
ecologias propostas pelo autor serão identificadas na
organização e objetivos do coletivo.
SISTEMAS AGROFLORESTAIS
As crises ambientais, sociais, econômicas, e do
capitalismo levaram à ascensão do estudo de práticas
agrícolas sustentáveis. Miguel Altieri, referência nos estudos
de agroecossistemas, em seu livro Agroecologia: a dinâmica
produtiva da agricultura sustentável publicado em 1998 afirma
que só uma compreensão mais profunda da ecologia humana
dos sistemas agrícolas pode levar a medidas coerentes com
uma agricultura realmente sustentável. Assim, a emergência da
agroecologia como uma nova e dinâmica ciência representa um
enorme salto na direção certa. A agroecologia fornece os
princípios ecológicos básicos para o estudo e tratamento de
ecossistemas tanto produtivos quanto preservadores dos
recursos naturais, e que sejam culturalmente sensíveis,
socialmente justos e economicamente viáveis
O estudo dos ecossistemas na agricultura sustentável
indica quais são alguns dos processos que guiam o
desenvolvimento da Agrofloresta do Cocotá. O grupo busca
seguir os princípios básicos dos sistemas agroflorestais: alta
biodiversidade, sucessão das espécies, estratificação e
cobertura vegetal. Outros ideais difundidos são o de manejo
como acelerador dos processos naturais, consórcio entre
espécies, regeneração natural e reaproveitamento de
recursos naturais. Esses métodos são observados em alguns
dos ‘agroecosistemas’ aprofundados por Altieri (2004):
“A produção sustentável em um agroecossistema deriva
do equilíbrio entre plantas, solos, nutrientes, luz solar, umidade e
outros organismos coexistentes. O agroecossistema é produtivo
e saudável quando essas condições de crescimento ricas e
equilibradas prevalecem, e quando as plantas permanecem
resilientes de modo a tolerar estresses e adversidades. Às vezes,
as perturbações podem ser superadas por agroecossistemas
vigorosos, que sejam adaptáveis e diversificados o suficiente
para se recuperarem passado o período de estresse.
Ainda segundo Altieri (2004), dentre os elementos
técnicos básicos de uma estratégia agroecológica estão a
conservação e regeneração dos recursos naturais, manejo dos
recursos produtivos e implementação de elementos técnicos.
O agroflorestamento é classificado como uma das técnicas de
manejo a partir da diversificação espacial, observada na
Agrofloresta do Cocotá. O autor descreve os sistemas
agroflorestais como o uso de terras em que árvores são
associadas espacialmente e/ou temporalmente com plantios
agrícolas e/ou animais e que o sistema combina o elemento
terra particularmente adequada, a áreas marginais e sistemas
de baixo uso de insumos.
Para a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(EMBRAPA) os SAFs são sistemas produtivos que podem se
basear na sucessão ecológica, análogos aos ecossistemas
naturais, em que árvores exóticas ou nativas são consorciadas
com culturas agrícolas, trepadeiras, forrageiras, arbustivas, de
acordo com um arranjo espacial e temporal pré estabelecido,
com alta diversidade de espécies e interações entre elas. Em
geral, nos SAFs são realizados plantios de sementes e/ou de
mudas. Os recursos e o retorno da produção são gerados
permanentemente e em diversos estratos. Os SAFs otimizam o
uso da terra, conciliando a preservação ambiental com a
produção de alimentos, conservando o solo e diminuindo a
pressão pelo uso da terra para a produção agrícola.
O esquema abaixo busca representar sinteticamente a
aplicação do conceito de sucessão natural das espécies e
exemplificar quais espécies podem ser utilizadas para atingir
uma alta biodiversidade e a possibilidade de consórcios
durante o processo de inserção dos sistemas agroflorestais
até se desenvolver em uma floresta.
climax
biodiversidade
policultivos/
consórcios
agricultura
orgânica
agricultura
sintrópica
manejo
florestal
sustentável
floresta
sistemas agroflorestais
1
2
3
4
5
1_ placenta, ciclo curto. até 1 ano.
milho, feijão, abóbora, arroz e gergilim.
2_ pioneiras. ciclo médio. de 1 a 3 anos.
mandioca, abacaxi, mamão, banana,
feijão guandú e pimenta.
3_ secundárias I e II, ciclo médio. de 3
a 18 anos. banana prata urucum, amora,
cubiu, ingá e apuruí.
4_secundárias III. ciclo longo. de 18 a
40 anos. pupunha, biribá, abacate,
graviola, abio e café.
5_primárias. ciclo longo. acima de 40
anos. açaí, cacau, cupuaçu, seringueira,
copaíba, cajá, manga, cedro, mogno,
jatobá.
sucessão natural das espécies e
consórcios dominantes
PREMISSAS
A disposição espacial do plantio está diretamente
relacionada com os consórcios que são agrupados de acordo
com o ciclo de vida e seu estrato. A estratificação é entendida
como uma estratégia para otimizar a captação dos raios
solares entre as espécies em busca de evitar a competição
pela luz. Para tal, é necessário se atentar à disposição das
diferentes plantas em busca de uma cooperação entre elas.
Como nos SAF é comum plantar espécies arbóreas em
alta densidade, ou seja, bem próximas umas às outras, o
manejo é responsável por criar condições mais favoráveis
através de podas que facilitam a entrada dos raios solares. As
podas, por sua vez, são reaproveitadas para a cobertura do
solo que tem o objetivo de manter a umidade e absorver os
nutrientes da matéria que entrará em decomposição.
Segundo o quadro de sistemas de administração do
solo, espaço, água e vegetação utilizados por agricultores
tradicionais no mundo, elaborado por Altieri (2004) baseado
em Klee (1980), o agroflorestamento é recomendado diante
aos obstáculos ambientais encontrados em espaços limitados
e em temperaturas ou radiação solar extremas com os
objetivos de maximizar o uso de recursos e terra do ambiente
e melhorar o microclima, respectivamente. Fatores que
compõem o cenário do aterro do Cocotá onde foi introduzida
a prática agroecológica.
SABERES POPULARES
A rotação de culturas, a reutilização de matéria
orgânica e materiais recicláveis, o uso de métodos
alternativos para a defesa contra pragas, o conhecimento de
espécies nativas e plantas alimentícias não convencionais,
são alguns dos saberes populares que caminharam junto à
Agrofloresta do Cocotá. Sementes crioulas de espécies
nativas cultivadas tradicionalmente sem uso de agrotóxicos
chegaram no espaço a partir de diferentes frequentadores do
parque que viam no grupo uma tentativa de trazer para a
cidade os ensinamentos do campo ou até mesmo resgatar a
antiga prática de plantio que existia na ilha. A partir de antigos
moradores foi possível entender mais sobre o clima e o
processo de aterramento da região.
O reconhecimento e a valorização do saber popular é
uma estratégia considerada essencial pela agroecologia, uma
vez que a população local acumula décadas de experiências
sobre as particularidades da região. Nesse sentido, Altieri
(2004) afirma que a sustentabilidade não é possível sem a
preservação da diversidade cultural que nutre as agriculturas
locais. E inclui nelas as qualidades como a capacidade de
tolerar riscos, eficiência produtiva de misturas simbióticas de
cultivos, reciclagem de materiais, utilização dos recursos e
germoplasmas locais, habilidade em explorar toda uma gama
de microambientes. De certa maneira, a agroecologia retorna
às origens da agricultura familiar e alinha o saber popular com
o conhecimento científico em busca de estratégias que
respeitem e preservem a biodiversidade local e assegurem
uma produção sustentável.
milho; proteção solar
suporte para trepadeiras
feijão; trepador,
fornece nitrogênio
abóbora; proteção e
descompactação do solo,
preservação da umidade
OBJETIVOS
São diferentes os objetivos que motivam cada um dos
integrantes do grupo, nem sempre terão uma meta em
comum ou muitas vezes não está claro o que os mobiliza,
sendo necessário debates e constante alinhamento para
caminhar na direção acordada.
O que direciona todo o grupo são os pensamentos
trazidos nas premissas, relacionados a troca de saberes
populares, educação ambiental, difusão da prática
agroecológica e da segurança alimentar. Esses ideais partem
de diferentes perspectivas, mas se encontram na Agrofloresta
do Cocotá. Outras intenções são levantadas ao decorrer do
processo de apropriação do espaço, dizem respeito a ações
visando um resultado pontual que podem trazer benefícios a
curto ou médio prazo e são levadas adiante desde que
acordadas pela maioria.
Aliar a iniciativa de plantio em um grande espaço livre
público à questão alimentar e ambiental é considerado
imprescindível para alguns dos habitantes da região quando
iniciaram as ações. Plantar, colher, dividir, ensinar e alertar
eram verbos recorrentes na mente dos insulanos que
encontraram em um canteiro de grama, sem diversidade,
profundidade ou resistência, a oportunidade de movimentar o
parque num sentido ecológico.
TROCA DE SABERES POPULARES
Como dito anteriormente, a troca de saberes populares
trouxe desde início o interesse em incentivar a
biodiversidade nos canteiros do Aterro do Cocotá sendo um
princípio muito valorizado pelo grupo. Desde que a
apropriação principiou, a cada semana surgem novos
frequentadores, com sementes e mudas para trocas e como
doação para o novo grupo que se formava. Hortaliças, árvores,
arbustos, trepadeiras, todas as espécies são bem vindas no
grande canteiro-floresta comunitário. As dicas de cuidado
passadas por gerações são recebidas com afeto e atenção.
EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Com o avanço da crise climática os debates acerca da
degradação ambiental estão cada vez mais presentes nas
cidades que sofrem diretamente as consequências do avanço
desenfreado às custas dos recursos naturais. Na Ilha, a
oportunidade de um espaço para debater essas mudanças e
buscar a conscientização de ainda mais pessoas é abraçada
por muitos que buscam retornar as características de uma ilha
do passado. Na Agrofloresta do Cocotá não foi diferente, e
brevemente, para além da discussão e ação no Aterro do
Cocotá, atividades em escolas e outros bairros foram
planejadas por participantes. A partir dos encontros e
discussões, a educação ambiental e consciência ecológica
foram propagadas em outros territórios através de parceria
com outros grupos, expandindo assim a rede.
DIFUSÃO DA PRÁTICA AGROECOLÓGICA
Com o passar dos anos a prática agroecológica se torna
cada vez mais clara para o grupo e o sistema agroflorestal é
entendido e difundido pelos integrantes aos poucos. Do
Cocotá, outras iniciativas agroecológicas são iniciadas em
outros bairros da região, como Freguesia, Bancários, Ribeira e
Zumbi. Algumas das práticas dos sistemas agroflorestais
como a cobertura vegetal e o reaproveitamento de materiais
são adotados por outros frequentadores que por sua vez
difundem esses métodos a outros grupos de pessoas.
SEGURANÇA ALIMENTAR
Outro tema bastante recorrente é a segurança
alimentar. A produção de alimentos em larga escala com fim
de suprir a necessidade local ainda não é uma realidade no
Cocotá uma vez que o espaço destinado ao plantio ainda é
reduzido e sem a infraestrutura necessária. Ainda assim,
um debate e direcionamento às reflexões sobre a origem e
qualidade dos alimentos, ao incentivo ao plantio para o
autoconsumo, à possibilidade de produção em pequenos
espaços, à importância de uma alimentação variada e rica em
nutrientes. A agrofloresta traz para a cidade a discussão a
respeito de um novo sistema alimentar, com alimentos livres
de agrotóxicos, biodiversos, produzidos localmente e com
valorização do pequeno agricultor, que busca a segurança
alimentar de todos.
Você vai ali, se você tá num momento de que você quer
aprender a cultivar, se você quer aprender a plantar em casa ou
se você quer cuidar do parque ou se você só quer fazer parte da
manifestação cultural (...) Um objetivo principal ali, ao meu ver,
que é o meu objetivo e eu vejo muitas pessoas alinhadas, é o
objetivo da disseminação de informação. É o que dissemina ali
coisas que podem acontecer através de nós mesmos, o poder
popular, então é trabalho de base ali na tua área, no teu bairro,
na comunidade, sabe? Eu acho que o objetivo é esse ‘cara’, eu
troco muito essa ideia com todo mundo que chega lá e começa
a conhecer o lugar e tal.
Teve um senhor que foi lá na na UPA hoje, expliquei pra
ele o que que era agrofloresta, plantio agroflorestal, falei sobre
aqui (Agrofloresta do Cocotá), ele veio pra depois (...) você
dissemina a informação porque muita gente não sabe, porque é
escondido da gente mesmo, essa questão de onde vem teu
alimento? (...) a gente já recebeu criança aqui que falava que o
feijão nascia no mercado. (...) Eu acho que o grande objetivo é
esse, estimular as pessoas a se sentirem à vontade para fazer
isso em um terreno próximo de casa. E ajudarem! Porque (o
plantio) ajuda em tudo, as pessoas chegam ali no dia quente e
percebem que ali é mais fresco, sabe? Percebe que tem uma
fruta bonita, tem uma mudinha pra tirar um chá pra fazer,
perfume, um banho de erva, pra religião…. engloba muita coisa!
Jefferson Nogueira, morador do
Cocotá, músico, estudante e trabalhador da
Horta da UPA 24h.
Aqui as pessoas têm também muita vontade
também de ver algumas coisas diferentes, sabe?
Então se você troca uma ideia diferente com as
pessoas aqui elas estão dispostas a ouvir (...) acho
que aqui também a gente aprendeu muito a
conversar profundamente sobre as coisas, sabe? a
gente começou a questionar algumas coisas assim
tipo transporte dos alimentos, por que os alimentos
vem de tão longe, por que que a gente não estimula
a produção local, sabe? Por que que a gente tem
lavouras enormes de soja e usa muito agrotóxico?
As pessoas não veem isso na televisão (...)
Então aqui a gente tem essas conversas e acho que
quando a gente tem essas conversas as pessoas
começam a ver as fontes, pesquisar, verificar assim
a própria opinião (...) é muito ‘maneiro’ que isso
enriquece muito o diálogo.
Depois do evento, as pessoas que frequentavam o
aterro também começaram a ver a possibilidade de modificar
o local com a plantação, além de poder aprender mais sobre
os Sistemas Agroflorestais e compartilhar conhecimento.
Como se fosse a ‘galeraque ia jogar futebol, a ‘galera’ da
Agrofloresta ia pra plantar e pra aprender. Eu comecei a
‘colar’ também, ia pra ajudar desde pintar placa, a cavar
buraco, fui com o intuito de ajudar como eu pudesse.
Felipe Park, grafiteiro e estudante de
Pintura na Escola de Belas Artes da UFRJ,
morador da Colônia de Pescadores Z-10.
Frequenta o aterro desde 2008 e foi
membro do coletivo Soul Pixta.
ORGANIZAÇÃO
Desde o início da prática agrícola no Parque Manuel
Bandeira a organização foi feita a partir de todo e qualquer
morador interessado, o que configurou uma autogestão de
forma orgânica. Sem apoio do Estado ou de iniciativas
privadas, como a que começou o plantio, os insulanos
tomaram as rédeas de maneira horizontal, e constituíram uma
apropriação na qual toda pessoa motivada pela ideia de uma
mudança ecológica na região pode aderir ao movimento.
Mesmo após uma maior organização dos membros do
coletivo, todos os frequentadores do parque sempre foram
recebidos com entusiasmo. Tal atitude reuniu diferentes
agentes, artistas, atletas, estudantes e trabalhadores de
diferentes áreas, aposentados, conhecidos e desconhecidos
passaram a compor o grupo. A diversidade de ideais e pessoas
que compõem o coletivo tem garantido a pluralidade na
organização da apropriação e incentivam a inovação de
pensamentos e práticas trazendo a harmonia e
horizontalidade do grupo. Na Agrofloresta do Cocotá não
importa o nível de escolaridade, classe social, faixa etária ou
qualquer outra hierarquia imposta pela sociedade
contemporânea, todos são ouvidos e suas colocações são
levadas em consideração para um objetivo comum.
As ações do grupo podem acontecer principalmente a
partir de dois movimentos. O primeiro se refere a uma
demanda coletiva, quando é consenso entre os participantes
da necessidade de uma ação para alcançar uma meta
comum. O outro ocorre quando uma pessoa traça um plano e
o compartilha com o grupo em busca de apoio. Normalmente
o primeiro acontece espontaneamente sem que seja
necessário extensas discussões sobre a finalidade da
atividade, como acontece com os mutirões ordinários e
semanais onde cada um define a partir da observação e troca
quais são as principais necessidades do espaço. O segundo é
principalmente marcado por um acontecimento específico ou
evento que exigem uma maior estruturação organizacional do
grupo. Depois de um acúmulo de reflexões sobre o assunto e
organização das atividades, os voluntários assumem papéis de
maneira a garantir a execução.
Por se tratar de um trabalho comunitário sem fins
lucrativos, as atividades nem sempre podem ser consideradas
prioridade pelos participantes, fazendo com que a
organização seja bem fluida e diversificada. A inconstância
dos encontros devido à rotatividade ou baixa frequência entre
os integrantes do grupo sempre foi uma questão para aqueles
que buscam uma gestão sólida e hierárquica.
Denúncias de abandono e ameaças de pôr um fim ao
movimento acompanharam o crescimento do coletivo aum
entendimento geral que é desta maneira, orgânica, horizontal
e autônoma, que o grupo se organiza. Aos que questionam ou
se incomodam com a prática fica o convite para a participação
ativa e desenvolvimento de mutirões no espaço que é aberto
a toda população.
Assim como acontece na Agrofloresta do Cocotá, Félix
Guattari (1989) sugere que a ‘eco-lógica não busca
homogeneizar as relações sociais ou converter os contrários.
O filósofo aponta que na ecologia social momentos de
ativação onde todos são levados a fixar objetivos comuns
como também períodos de ressingularização quando as
subjetividades individuais e coletivas adormecem. A teoria de
Guattari pode ser observada na volatilidade da condução das
atividades do grupo ao longo dos anos que não é
desconsiderada como um impedimento para o resultado do
coletivo, como também confere liberdade e autonomia aos
integrantes e evita que o trabalho coletivo seja visto como
uma obrigação mas sim como uma possibilidade de
reinvenção das práticas sociais.
Em relação a como funciona a gestão e as relações,
sempre foi uma coisa muito horizontal. É claro que vamos ter
pessoas que vão ter essa característica de liderança e também
acho que é o caso de pessoas que moram na proximidade e
usam o aterro com mais frequência, e acabam se tornando
líderes né, mas eu acho que é uma coisa eventual. Eu sempre
percebi que tava com muita abertura pras outras pessoas,
aberto pras opiniões. Essas pessoas que tão sempre por perto e
frequentam mais acabam puxando as ações, que geralmente
acontecem por mutirões, aos sábados. E ‘cola’ quem quiser, no
caso é sempre muito aberto e recebemos pessoas de outros
coletivos e outros lugares.
Felipe Park
Depois do evento, as pessoas que
frequentavam o aterro também
começaram a ver a possibilidade de
modificar o local com a plantação, além
de poder aprender mais sobre os
Sistemas Agroflorestais e compartilhar
conhecimento. Como se fosse a ‘galera’
que ia jogar futebol, a ‘galera’ da
Agrofloresta ia pra plantar e pra
aprender. Eu comecei a ‘colar’ também,
ia pra ajudar desde pintar placa, a cavar
buraco, fui com o intuito de ajudar como
eu pudesse.
Uma das chaves aqui da parada é o debate. O diálogo
assim, a gente aprende muito. discuti muito com pessoas
aqui, tive muita opinião contrária, ainda tenho, mas a gente
aprendeu muito a ver as coisas um pouco mais pela mente da
natureza, muito bonitom acho que um pouco mais pela lente da
natureza assim da da questão de entender os processos da
natureza em si, sabe? Natureza.
Jefferson Nogueira
O pensamento sobre o espaço, é
um pensamento de ocupação mesmo
porque as praças geralmente não
pensam muito em como lidar com o
verde, pelo menos é um pensamento
meu. A ideia é sempre ocupar o aterro
todo, não ficar no local onde
começou a agrofloresta e assim
modificar a paisagem.
AÇÕES
VISITAS
As visitas de membros da Agrofloresta do Cocotá em
Creches e Escolas Municipais tem como principal objetivo a
educação ambiental Nesses encontros o grupo tem a
oportunidade de ter uma troca direta com crianças e
estabelecer diálogo com o espaço educacional. Organizados
juntamente à diretoria ou algum membro do grupo de
professores, outro parceiro crucial para o desenvolvimento
dessas visitas é o Coletivo Casa Frida, que leva arte e cultura
através de contação de histórias, biblioteca móvel, música e
atividades artesanais. Os representantes da Agrofloresta estão
presentes principalmente na distribuição de mudas, plantio e
conversa sobre ecologia. Os estudantes possuem idades
variadas e por isso as visitas são sempre distintas, conforme
as demandas e interesse dos mais novos.
MUTIRÕES
Os mutirões acontecem em busca de alcançar uma
meta imediata em comum. Os cotidianos, que acontecem no
Cocotá regularmente, são marcados por frequentadores do
parque que simpatizam com as práticas adotadas pelo grupo.
A participação infantil nas atividades é muito marcante na
Agrofloresta, em diferentes ocasiões se estabeleceu uma
relação constante de parceria com crianças que encontraram
no espaço a liberdade, confiança e atenção para participar e
até mesmo propor ações.
Encontros pontuais que buscam somar em uma ação
que requer mais mãos também marcam o dia-a-dia das ações
da Agrofloresta do Cocotá. A volta após um período de
ausência requer um esforço maior do grupo para a
manutenção do espaço. A força de um mutirão com a ajuda de
parceiros pode ser de grande impacto na vivência do local.
Como exemplo, a partir de um mutirão com a participação de
membros do MUDA/UFRJ ocorreu a primeira expansão fora
do canteiro central e posteriormente em outro encontro foi
feito um banheiro seco, um dos primeiros contatos com a
permacultura na agrofloresta.
VIVÊNCIAS
Receber parceiros é algo enriquecedor, assim como
conhecer novos espaços que possuem práticas e objetivos
em comum. Duas das vivências de alguns dos participantes
que contribuíram fortemente para o desenvolvimento do
grupo foi no Sitio do Café, onde a troca com agricultores
locais pode agregar ainda mais para a prática e saber
agroecológico, e no Ebiobambu, onde a prática da construção
com terra e o contato com bioconstruções e saberes da
permacultura impactaram e abriram possibilidades para o
coletivo.
EXPANSÃO
Por vezes os mutirões são os meios para a ação de
expansão dentro e fora do Aterro do Cocotá. Em 2018,
acontece uma série de mutirões que dão início a três grandes
iniciativas de plantio no morro do Dendê. Os espaços que
antes eram ocupados por resíduos domésticos da
comunidade, foram limpos e receberam o plantio de espécies
resistentes em consórcio seguindo os princípios
agroflorestais. Alguns dos moradores dos locais participaram
e apoiaram a iniciativa, mas o impacto não foi suficiente para
que se mantivesse viva e hoje se encontra mais uma vez
coberta por lixo, uma vez que a região carece de
infraestrutura para coleta necessária.
Como dito anteriormente, a presença em espaços
educacionais é uma característica da Agrofloresta do Cocotá;
A E.M. Cuba, no Zumbi, a E.M. Sun Yat Sen, no Tauá e a E.M.
Rotary, na Freguesia, são exemplos de onde foi inserido um
espaço de plantio através de mutirão. Esses espaços cedidos
pelas escolas que possibilitam a experiência e ensino de
práticas baseadas nos agroecossistemas, são considerados
expansão da Agrofloresta do Cocotá. O manejo para
manutenção é ensinado para que os estudantes prossigam
com o desenvolvimento, com visitas pontuais do grupo do
Cocotá até sua autonomia.
AÇÕES
Através das visitas e/ou vivências por parte de outros
grupos no espaço da Agrofloresta do Cocotá foi possível
expandir as práticas agroecológicas para outros locais da ilha.
São exemplos a Agrofloresta do Zumbi e a Agrofloresta da
Ribeira. A primeira se localiza em uma grande praça com
canteiros subutilizados e sem manutenção e a segunda em
um generoso canteiro, resíduo de operações viárias. Ambos
foram iniciados por grupos de moradores dos bairros
insatisfeitos com a falta de arborização e o desmatamento
recorrente nas áreas e que possuem, dentre seus residentes,
participantes em comum com a Agrofloresta do Cocotá.
FREGUESIA
PITANGUEIRAS
JD. GUANABARA
GALEÃO
COCO
MONERÓ
PORTUGUESA
BANCÁRIOS
TAUÁ
CACUIA RIBEIRA
PRAIA DA BANDEIRA
ZUMBI
DENDÊ
JD. CARIOCA
E.M. ROTARY,
FREGUESIA
E.M. SUN YAT SEN,
TAUÁ
E.M. CUBA,
ZUMBI
ENCOSTA DA FIAT,
DENDÊ, TAUÁ
RUA DE PEDRA,
DENDÊ, COCOTÁ
BOA VISTA,
DENDÊ. COCOTÁ
PLANTIO
Dentre as espécies cultivadas no local se destacam as
Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCS), medicinais,
nativas, silvestres e árvores frutíferas. Ao plantar, é necessário
avaliar a disponibilidade de água no local somada à presença
de cobertura vegetal e adubação verde que em conjunto
garantem a umidade e nutrientes necessários para a
fortificação da planta no novo local. Na Agrofloresta do
Cocotá, não existe um ponto com água para a rega e por isso
soluções alternativas são pensadas pelo grupo. No início do
plantio, quando as hortaliças ainda dominavam o canteiro e
não haviam árvores ou grandes arbustos que propiciassem
sombra, um mecanismo de rega a partir de garrafas PET foi
muito utilizado. Posteriormente houve tentativas de captação
de água mas que não vingaram. A falta de água para a rega
impede algumas ações e inviabiliza o plantio de algumas
espécies e por isso é um assunto em constante debate.
COLHEITA
Sobre a colheita existem dois principais tópicos que
sempre surgem quando se trata de plantio em espaços
públicos: o tempo de colheita e a divisão dos alimentos. Cada
espécie possui o melhor período para ser colhida, quando
ocorre o maior desempenho da planta e os nutrientes estão
concentrados no ponto de interesse. Num espaço comunitário
o respeito ao tempo de colheita é muito importante mas nem
sempre acontece. A individualidade e competição fazem parte
do sistema em que vivemos e por isso é preciso constante
debate e reflexão sobre o significado de apropriação de
espaço público, criação e distribuição de bens comuns, e
importância da participação em outros processos para uma
colheita ainda mais abundante e frequente.
PROCESSOS
PRODUÇÃO DE MUDAS
A produção de mudas é o início do processo cíclico de
desenvolvimento de uma agrofloresta. No Cocotá, ele é feito
de duas maneiras principais, cada uma delas utilizando como
insumos: sementes ou estaquias. As primeiras são
preferencialmente crioulas herdadas de pequenos
agricultores e possuem características de mutação que
garantem maior resistência a pragas e períodos de
instabilidade; as outras são provenientes do processo de
reprodução a partir de raízes, caules ou folhas que quando em
contato constante com ambientes úmidos se desenvolvem.
Para um crescimento sadio é utilizado um rico composto
orgânico proveniente da composteira. As mudas são sensíveis
ao contato direto da luz solar e períodos de seca, por isso é
necessário um cuidado especial. O mudário é um local
sombreado, onde são armazenadas as mudas até que sejam
plantadas ou que sejam levadas para um outro espaço de
plantio. Na Agrofloresta do Cocotá é comum a cultura de troca
de mudas e sementes, sendo boa parte das plantas vindas de
diferentes origens. Destaca-se também o uso de recipientes
reutilizados para acomodar as novas plantas.
IMAGENS MUDAS E SEMENTES
O plantio e colheita são pensados a partir de três
principais fatores: a estação do ano, o calendário lunar do mês
e as condições do dia. A atenção às especificidades das
espécies é de extrema importância para o sucesso desses
processos. As estações definem quais os alimentos a serem
plantados e colhidos naquele trimestre, o calendário lunar
indica qual o melhor período do mês para as ações e as
condições do dia dizem respeito à disponibilidade de pessoas,
ferramentas e água e ao clima, fatores que alteram
frequentemente.
MANUTENÇÃO
Do ponto de vista de manejo, os componentes básicos
dos agroecossistemas incluem: cobertura vegetal,
suprimento regular de matéria orgânica, mecanismos eficazes
de reciclagem dos nutrientes e regulação de pragas (ALTIERI,
2004). Na Agrofloresta do Cocotá, a manutenção da área é
feita principalmente a partir de podas que possibilitam a
entrada de luz solar em espécies de diferentes estratos e
impedem a competição entre si. A abertura de caminhos
também é de grande importância para ampliar o acesso à
área de plantio e por consequência, o entendimento pelos
visitantes dos processos, Também é importante delimitar os
canteiros para que nenhuma nova planta passe despercebida
entre as espontâneas que crescem por todo lugar. Os resíduos
da manutenção são reutilizados tanto diretamente na
cobertura vegetal, a fim de garantir imediatamente nutrientes
e manter a umidade nos canteiros, quanto na compostagem,
que gera um rico composto orgânico a ser utilizado em novos
plantios ou mesmo como adubo natural em plantas com
fraqueza de nutrientes.
PROCESSOS
COMPOSTAGEM
A compostagem marca o fim e prepara o novo início do
ciclo da agrofloresta. O método escolhido pelo grupo foi a
compostagem termofílica também conhecida como
compostagem seca, caracterizada pelo baixo custo, pouca
manutenção e por não necessitar de outros insumos que não
os encontrados na área. Dentre as diferentes possibilidades de
compostagem a partir das bactérias que agem em altas
temperaturas para decompor naturalmente a matéria, foi
escolhido o processo a partir de leiras estáticas. As leiras são
formadas por camadas de matéria orgânica proveniente de
podas e sobras de alimentos, alternadas por matéria seca
advindas da palha da roçagem feita no parque, galhos secos
das podas e serragem, quando cedida pela madeireira
localizada no Cacuia. Após cerca de três meses é possível
recolher um rico adubo orgânico pronto para ser utilizado.
Nesse processo, o composto fica ao ar livre, cercado apenas
por paletes e protegido pela matéria seca, assim ela é aberta
para todos que queiram contribuir se tornando um ecoponto
de coleta de resíduos do bairro. Desta maneira são
reaproveitados materiais de diferentes origens que se tornam
um valioso aliado para a manutenção do plantio.
CROQUI LEIRAS
TERRITÓRIO
LIMITES
A apropriação iniciada no grande canteiro central do
parque certamente determinou, por um tempo, o limite da
Agrofloresta do Cocotá. O canteiro de cerca de 480m²
representa uma barreira determinada principalmente pela
altura dos dois diferentes níveis. O mais baixo foi o primeiro a
ser ocupado, quando ainda prevalecia a agricultura
tradicional, e por isso ainda carrega traços da prática
convencional de plantio em leiras com limites bem
determinados. Já o mais alto, é caracterizado pela forma
orgânica onde os caminhos que determinam as áreas de
plantio.
Com o crescimento do envolvimento da comunidade na
causa ambiental, o plantio, principalmente de árvores
frutíferas como os pés de acerola e amora que já são colhidos
periodicamente por frequentadores, expandiu para outras
áreas do parque. Em outros pontos, foram plantados
diferentes consórcios em alta densidade e seu manejo segue
as práticas agroecológicas. É notório que as plantações fora
do canteiro principal sofrem bem mais com as ações
prejudiciais às plantas, Quando jovens elas estão mais
sensíveis a períodos de seca, eventuais acidentes, pragas e à
insolação em excesso e por isso possuem menor resistência
perdurando por menos tempo, sendo muitas vezes necessário
o replantio. Infelizmente também é muito comum o furto de
espécies de maior valor, reacendendo o debate sobre o
significado de espaço público, divisão de bens comuns e da
importância da participação popular no processo para
manutenção e difusão da prática ecológica assim como
ampliação da colheita.
SEGURANÇA
Um problema a respeito do território que está sempre
em evidência é a preocupação com a segurança dos
frequentadores na área de plantio, principalmente durante a
noite. Em épocas quando a mata está mais densa, a fim de
propiciar mais sombra e reter umidade, a visibilidade pode
ficar comprometida. A estratificação justifica a vegetação em
diferentes alturas que dificulta a identificação do que ocorre
no interior da Agrofloresta e por isso esses períodos requerem
uma atenção redobrada por parte do grupo para que as
podas garantam uma permeabilidade visual.
Ainda sobre a segurança, durante anos o canteiro que
possui um poste para iluminação se manteve no escuro
durante a noite. Finalmente em 2022, após algumas conversas
sobre o receio, principalmente entre as mulheres, de
frequentar o local durante o período noturno, foi feito um
requerimento à subprefeitura da Ilha do Governador para o
religamento do poste. Hoje a iluminação representa uma das
pautas levantadas pelas mulheres que seguem ocupando o
espaço exponencialmente.
COMUNICAÇÃO VISUAL
Dentre as características do território da Agrofloresta
do Cocotá também se destaca o uso de placas de sinalização,
sejam identificativas, informativas ou com o objetivo de trazer
reflexões sobre o espaço. As placas são responsáveis pela
comunicação quando não há membros do coletivo presente e
buscam trazer autonomia para todos os frequentadores.
INFRAESTRUTURA
Com o avanço da prática agroecológica aparecem
necessidades relacionadas à infraestrutura do território. O
grupo sempre lidou com as adversidades e demandas
relacionadas à falta ou deficiência de infraestrutura, com
criatividade e inovação, características que refletem nas
soluções propostas. Os processos determinam algumas das
necessidades de infraestrutura para funcionamento do
coletivo, destacando-se alguns componentes desta, como
será exemplificado a seguir.
FORMA
A forma da Agrofloresta pode ser considerada
rizomática e sazonal.
“O rizoma define-se por uma série de
características: conexão e heterogeneidade, pois
qualquer ponto do rizoma pode conectar-se com o
outro; multiplicidade que é formado por linhas
que estabelecem uma conexão; ruptura inócua,
que o rizoma, caso se rompa, não cessa de
reconstruir-se. Trata-se então de linhas de
territorialização e de fuga de direções mutantes”
(MONTANER, 2009)
Como apontado anteriormente nas premissas, o
consórcio entre espécies de diferentes estratos conferem
uma configuração vertical composta por diferentes alturas e a
diversidade garante distintas texturas e formatos. Na
horizontal é possível observar a densidade e implantação
orgânica, alternada entre diferentes espécies, características
do SAF. O livre crescimento das plantas permite que ocorra
expansão nos canteiros que constantemente são reajustados.
Os processos de plantio e manejo somados às
condições climáticas das diferentes estações do ano são
responsáveis pela constante mutação da forma. No verão as
copas estão mais densas para a proteção dos raios solares e
no inverno mais dispersas pois as podas são utilizadas para a
cobertura vegetal e adubação verde que garantirão a
umidade necessária até o fim do período de secas. A sucessão
das espécies também é determinante para a efemeridade de
sua aparência, em permanente renovação.
3 metros
MUDÁRIO
COMPOSTEIRA
PERGOLADO
BANHEIRO SECO
EXPANSÕES
TERRITÓRIO
MUDÁRIO
O mudário é responsável por abrigar e sinalizar onde
acontece a produção e troca de mudas. Nele é possível
concentrar as regas que acontecem com mais frequência no
processo de produção de mudas, proteger as novas plantas
de acidentes, abriga-las do contato direto com os raios
solares e dar visibilidade a esse processo tão importante para
a Agrofloresta. As construções que caracterizam os mudários
até hoje foram efêmeras, dependendo da quantidade de
mudas que estão sendo produzidas no momento, e
compostas por uma estrutura improvisada, com sobras de
madeira, plástico ou ferro ou reaproveitamento da base de
mesas, cobertos por um sombrite responsável por filtrar a luz
solar. Em períodos de alto rendimento, a estrutura já chegou a
comportar cerca de 200 mudas simultaneamente.
CAPTAÇÃO DE ÁGUA
A disponibilidade de água é um dos grandes desafios
do plantio nos espaços públicos, porque numa plantação a
rega é de extrema importância para o desenvolvimento sadio
das espécies. A falta do elemento vital determina quais
plantas sobrevivem à competição natural pela umidade do
solo e assim reduz a biodiversidade presente nos canteiros.
No início da plantação, onde se destacavam as hortaliças, foi
necessário a criação de um sistema de irrigação improvisado
a partir da reutilização de garrafas PET que lentamente
liberaram água ao solo. Com o desenvolvimento da
Agrofloresta, a necessidade de regas foi reduzida graças à
cobertura do solo que retém a umidade presente da terra por
mais tempo. Ainda assim houveram tentativas de captação da
água da chuva através de grandes recipientes, mas o que
vinha a ser a solução por um lado, trazia problemas
relacionados ao mau armazenamento que atraiu mosquitos
dando fim à iniciativa.
COMPOSTEIRAS
O processo de compostagem e a escolha do método
determina a demanda por um componente de infraestrutura
de grande importância para o ciclo agroecológico, a
composteira. Assim como o mudário, é uma construção
efêmera que é adaptada de acordo com a demanda dos
participantes, quanto mais resíduos, maior a composteira ou o
número de leiras. Mais uma vez é destacado o uso de
materiais reutilizados, nesse caso, pallets, grades ou redes
que compõem a cerca que protege a leira de acidentes, uma
vez que age em altas temperaturas. A composteira
comunitária é aberta aos frequentadores do parque e por isso
placas comunicam como funciona o manejo por camadas de
resíduos orgânicos alternados por matéria seca, também
indicam quais os resíduos que podem ser compostados. A
dimensão e forma da composteira são temporárias e variam
de acordo com o fim do ciclo de compostagem e reinício,
dependente da necessidade de uma nova leira.
PERGOLADO
Em busca de uma estrutura que desse suporte às
trepadeiras como maracujá, uva e bucha vegetal e também
que fosse responsável por marcar a entrada e a presença do
movimento da Agrofloresta do Cocotá no parque foi
concebido um projeto para a construção do pergolado pelo
arquiteto e membro do coletivo Victor Huggo que
imediatamente foi abraçado pelo grupo. A materialidade do
pergolado se apresenta em tora de eucalipto natural tratada
in loco e bambu. Esses materiais foram escolhidos por serem
sustentáveis, de baixo custo e que correspondentes a fontes
seguras que respeitam o processo ecológico. Para a junção
dos elementos foi proposto dois sistemas simples: na união
das toras de eucalipto, que compõe as vigas e pilares da
construção, foi feita a fixação com barras roscadas porcas e
arruelas e para o encontro com os bambus, que compõem as
ripas, foram adotados lacres plásticos em dois tamanhos
utilizados como braçadeiras. A fundação do pergolado
também foi concebida de maneira simples, sendo executadas
em toras fixadas com cerca de 55cm abaixo do nível do solo.
TERRITÓRIO
O financiamento para a execução do projeto foi
coletivo. A obra durou cerca de 20 horas seguidas em um
grande mutirão que ocorreu de maneira horizontal e cada
participante contribuiu em diferentes meios dentro da
disponibilidade e vontade individual. Abaixo um organograma
que busca representar como aconteceu a execução do
pergolado.
BANHEIRO SECO
Um mutirão com a presença de integrantes do coletivo
MUDA/UFRJ deu origem ao primeiro banheiro seco do Aterro
do Cocotá, conformado por um simples sistema de manejo e
estrutura em bambu. O banheiro público do parque
funciona em dias de feira -domingo e por isso a grande
demanda por uma estrutura na região.. A intenção era de que
o novo sanitário ecológico atendesse as necessidades de
todos os frequentadores da grande área em todos os dias da
semana. Com o tempo, a falta de conhecimento a respeito do
uso e as complicações relacionadas ao manuseio do banheiro
seco que ainda são pouco difundidas entre os usuários
levaram ao fim da estrutura. Mas a idealização e execução do
banheiro seco deixou um ensinamento enquanto
experimentação com bioconstrução no local e posteriormente
incentivou outros projetos.
Recentemente, a discussão sobre a necessidade de
captação de água e um banheiro público somados ao
conhecimento técnico por parte do Victor Huggo, fez com que
se desenvolvesse um projeto para a captação segura de água
junto ao banheiro seco. A iniciativa ainda está em discussão e
revisão, a fim de ocorrer de maneira participativa e atender as
demandas dos frequentadores do local. Alguns aspectos que
foram levantados para uma mudança do projeto foram a
visibilidade do que ocorre dentro da construção, a
acessibilidade para que atenda a todos os usuários e a
implantação em local seguro e acessível,
.
limpeza da área
medição e corte
‘das peças
preparo da
fundação
tratamento
das peças
montagem do
pergolado
_FRUTIFICAR
Como frutos desse trabalho temos a documentação
de movimentos urbanos de base agroecológica para possível
desenvolvimento de projetos e planejamentos que incluam
práticas sustentáveis e emancipatórias. Fica evidente o
impacto do arquiteto e urbanista nas ações comunitárias e a
possibilidade de retornar à cidade/bairro o conhecimento
técnico adquirido ao longo da graduação. Assim como na
Agrofloresta o manejo é responsável por acelerar o
desenvolvimento natural da floresta, esse trabalho se mostra
como uma tentativa de impulsionar a prática agroecológica
na arquitetura e urbanismo a partir do entendimento dos
seus processos e infraestruturas necessários.
_ADUBAR
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artistas-do-bairro.ghtml>
_RAMIFICAR
Fotografias da Agrofloresta do Cocotá disponíveis no acervo
do coletivo.
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O presente trabalho teve por objetivo avaliar os argumentos que constituem os diferentes discursos acerca do Planejamento Urbano e o Direito à Cidade tendo como foco a construção de um Grande Projeto Urbano (GPU) denominado “Novo Recife”. Para tal, acessamos três posições discursivas sobre o assunto: das empresas que formam o consórcio responsável pela construção, da Prefeitura do Recife e de um movimento social organizado denominado Direitos Urbanos (DU). O método adotado foi a arqueologia foucaultiana e sua análise de discurso. Nossos achados apontam para cinco formações discursivas antagônicas: duas favoráveis e três contestadoras do modelo de planejamento urbano adotado no Recife. Palavras-chave: Gestão Pública, GPU, Urbanismo Crítico
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O artigo apresenta a retomada das pesquisas arqueológicas desenvolvidas pelo Museu Nacional na Ilha do Governador, Rio de Janeiro. Seu ponto de partida são as investigações lá realizadas de forma pioneira por arqueólogos nas décadas de 1960 e 1970. Utilizando uma abordagem dialógica, pretendemos apresentar algumas reflexões acerca das pesquisas na região, ontem e hoje. Buscamos, ainda, ao fim deste texto, encaminhar outras reflexões que têm se colocado como necessárias e de interesse para o trabalho de reconstrução após o incêndio que afetou o Museu Nacional em 2018.
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Este trabalho teve por objetivo o levantamento de contribuições e a discussão da aplicação de Sistemas Agroflorestais (SAF) em áreas urbanas. SAF podem oferecer serviços ambientais importantes à área urbana e contribuir na melhoria de condições sócio-econômicas de parte da população urbana. Sua aplicação não se restringe a áreas de produção, sendo sua utilização possível também na recuperação de Áreas de Proteção Permanente (APP) e de Reserva Legal. Dentre as contribuições pode-se citar segurança alimentar; aumento de áreas permeáveis para minimização de enchentes e contribuição para águas subterrâneas, redução de poluição em áreas urbanas; conservação de diversidade biológica; promoção de recreação, educação e interpretação ambiental. Observa-se a importância de adequação desse tipo de sistema ao contexto urbano. As políticas públicas em relação a esse assunto ainda estão pouco estruturadas, faltando maior participação efetiva do estado nos diferentes níveis.
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In this article, the author points to a number of common misconceptions about actor-network theory (ANT), which stem from the everyday use of the word "network." The author explains his choice of this term by stating that it allows us to produce a new ontology, a new topology, and, eventually, new politics. Networks are the endpoint of reduction; there is nothing but networks, which are all contingent in nature. The author explains his approach by drawing on the following key themes: first, the approach includes removing the opposition between distance and closeness. Second, the approach is based on replacing the metaphor of scale with the metaphor of association, eventually bringing about the breakdown of the dichotomy "micromacro." Third, the approach includes the removal of the division between inside and outside, and the replacement of this division with the immanence of networks. In addition to this topology, the approach is based on the ontological claim that a network is work that is done by actors who are acting, or entities that are acted upon. Importantly, the author warns against anthropocentrism or sociocentrism in our understanding of this term. The latter half of the article explains the architecture of ANT, which is based on three main parts. The first part of this architecture is the semiotic understanding of the construction of entities, and this allows us to view all actors as equal no matter what their characteristics or contexts are. Extending semiotics to things allows us to use an empty methodological frame, which can help us to follow any type of actor and to unravel chains of associations and to remain between descriptive and explanatory forms, which is the essence of the second part of ANT architecture. And, finally, the third part consists of the ontological character of networks and actors. The author explains specific relativism, relationism, and reflexivity of ANT and introduces the term "infralanguage." In addition, the author explains the idea of following and sketching out networks. In the conclusion of the article, the author proposes to view networks as the production and the distribution of characteristics such as "sociality," "textuality," and "naturality.".
Agroecologia: a dinâmica produtiva da agricultura sustentável
  • Miguel Altieri
ALTIERI, Miguel. Agroecologia: a dinâmica produtiva da agricultura sustentável. Porto Alegre: Editora da UFRGS. ed. 6, 2004.
Desenvolvimento Sustentável e
  • Eduardo Neira
ALVA, Eduardo Neira. Desenvolvimento Sustentável e.
A atualidade do pensamento de Carlos Nelson Ferreira dos Santos. Revista de Administração Municipal
  • Rafael Gonçalves
  • Soares
  • Maíra Machado-Martins
GONÇALVES, Rafael Soares. MACHADO-MARTINS, Maíra. A atualidade do pensamento de Carlos Nelson Ferreira dos Santos. Revista de Administração Municipal, n.289, p.25-34, 2017.
Nebulosas do Pensamento Urbanístico: modos de pensar. Salvador: EDUFBA
  • Margareth Pereira
  • Da Silva
PEREIRA, Margareth da Silva (Orgs.). Nebulosas do Pensamento Urbanístico: modos de pensar. Salvador: EDUFBA, 2018. p. 209-335.