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Embora tenham alguns traços em
comum, ciência, tecnologia e negó-
cios são empreendimentos distin-
tos. E cada um deles tem sua pró-
pria história. A tecnologia está co-
nosco desde sempre – digo: desde
quando nossos ancestrais caçado-
res-coletores trilhavam as savanas
africanas. O mundo dos negócios é
algo bem mais recente; suas ori-
gens se confundem com o adven-
to da agricultura e o acúmulo de
excedentes agrícolas. A ciência é
o mais novo dos três – a ciência ex-
perimental, especificamente, só se
firmaria a partir do século 17.
Até uns 10 mil anos atrás, os hu-
manos viviam em grupos peque-
nos (c. 150 indivíduos). A rotina
era ditada pelas urgências mais
básicas (e.g., procurar alimento e
evitar grupos rivais). A caça e a
coleta eram as fontes de subsis-
tência. A vida era dura e a agen-
da, apertada. Mas nossos ances-
trais já dispunham de tecnologias
para lidar com os desafios mais
comuns (e.g., abater e transportar
presas, curar feridas e combater o
frio). Algumas delas (e.g., uso do
fogo e fabricação de ferramentas),
no entanto, não foram criadas pe-
lo Homo sapiens. Foram herdadas
de linhagens anteriores à nossa.
(Continua na 2a orelha.)
A FORÇA DO
CONHECIMENTO
FELIPE A P L COSTA
A FORÇA DO CONHECIMENTO | FELIPE A P L COSTA
Inovações tecnológicas de base ci-
entífica só ganhariam força a partir
do século 18, quando a ciência e a
tecnologia passaram a andar de
mãos dadas. A partir de então, as
inovações se tornariam cada vez
mais frequentes. Os donos do di-
nheiro – digo: as classes dominantes
(sim, muitas sociedades já abriga-
vam classes sociais) – se apercebe-
ram dos benefícios econômicos da
ciência, notadamente como fonte
de inspiração para novas tecnolo-
gias e, por conseguinte, para no-
vas oportunidades de negócios.
Os séculos 18 e 19 testemunha-
ram mudanças radicais. Os estados
nacionais passaram a promover o
desenvolvimento de comunidades
científicas próprias. A ciência foi
institucionalizada. Muitos daque-
les filósofos da natureza que inicia-
ram o século 18 a escrever enci-
clopédias, saíram do século 19 co-
mo professores universitários a pu-
blicar artigos técnicos em revistas
de alcance internacional.
FELIPE A P L COSTA é biólogo e es-
critor; autor, entre outros, de Ecologia,
evolução & o valor das pequenas coisas
(2ª ed., 2014); O evolucionista voador &
outros inventores da biologia moderna
(2017); e O que é darwinismo (2019).
ESTE LIVRO tem duas ambições: (i) chamar a atenção para os elos
que existem entre o estudo do animal humano e o estudo das civili-
zações; e (ii) mostrar como a ciência pode iluminar a compreensão
que temos a respeito da nossa experiência no mundo.
– O autor, p. 4.
O FATO de vermos uma cadeira e podermos então ir até o lugar on-
de a localizamos e descansar nossos corpos num objeto substancial
não parece particularmente interessante ou difícil de explicar – até
que procuremos explicá-lo.
– W H Ittelson & F P Kilpatrick (1975), p. 40.
DUAS pessoas que tenham vivido juntas por muitos anos acabam,
habitualmente, trocando observações ocasionais sem qualquer ativi-
dade falante ou auditiva. – D Fry (1978), p. 46.
O APETITE por reuniões à luz do fogo, visando conversas íntimas e
histórias noturnas, permanece conosco até hoje.
– P W Wiessner (2014), p. 58.
TANTO A agricultura como a criação animal são frutos da previ-
dência, da perseverança e do autocontrole, e exigem uma prática
constante dessas virtudes para serem produtivas.
– A Toynbee (1987), p. 73.
ONDE a ciência persegue a verdade, a tecnologia prega a eficiência.
– G F Kneller (1980), p. 105.
A CIÊNCIA normal [...] consiste em solucionar quebra-cabeças.
– T S Kuhn (1982), p. 110.
A DIFERENÇA [entre processo e produto] explica por que tantos
bons cientistas são pessoas bitoladas e tolas e por que tantos acadê-
micos sábios no campo são considerados cientistas fracos.
– E O Wilson (1999), p. 112.