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Narrativas que transformam: a Influência da Abordagem Metodológica de História de Vida de Professores na Construção da Identidade de Licenciandos em Química

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Abstract

Este trabalho tem por objetivo mostrar como a história de vida de professores de química da educação básica pode influenciar a percepção sobre a docência de estudantes de um curso de licenciatura em química de uma Instituição de Ensino Superior. Para tanto, constroem-se os dados partindo das gravações das aulas da disciplina desse curso de licenciatura que tem como foco a docência em química e de entrevistas feitas pelos estudantes com professores de química do ensino médio. A partir do diálogo com os educadores da educação básica, os licenciandos puderam conhecer os motivos pelos quais escolheram a docência em química e a iniciação na profissão docente. Entende-se que a personalidade docente não “nasce” com a conclusão do curso superior, pelo contrário, é um processo longo, complexo, dinâmico e que exige um esforço individual, mas que dialogue com a sociedade.
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Narrativas que transformam: a Influência da
Abordagem Metodológica de História de Vida de
Professores na Construção da Identidade de
Licenciandos em Química
Marlúcia Pereira Santana
1
Hélder Eterno da Silveira2
RESUMO
Este trabalho tem por objetivo mostrar como a história de vida de
professores de química da educação básica pode influenciar a percepção
sobre a docência de estudantes de um curso de licenciatura em química
de uma Instituição de Ensino Superior. Para tanto, constroem-se os
dados partindo das gravações das aulas da disciplina desse curso de
licenciatura que tem como foco a docência em química e de entrevistas
feitas pelos estudantes com professores de química do ensino médio. A
partir do diálogo com os educadores da educação básica, os licenciandos
puderam conhecer os motivos pelos quais escolheram a docência em
química e a iniciação na profissão docente. Entende-se que a
personalidade docente não “nasce” com a conclusão do curso superior,
pelo contrário, é um processo longo, complexo, dinâmico e que exige um
esforço individual, mas que dialogue com a sociedade.
PALAVRAS-CHAVE: Identidade Docente. Licenciatura em Química.
História de Vida. Formação de Professores.
1
Mestre. Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, MG, Brasil. Orcid: https://orcid.org/0009-
0005-3007-6705. E-mail: marluciasme@hotmail.com.
2 Doutor. Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, MG, Brasil. Orcid: https://orcid.org/0000-
0002-2966-2636. E-mail: helder.silveira@ufu.br.
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Narratives that transform: The Influence of the Methodological
Approach to the Life History of Teachers in the Construction of the
Identity of Undergraduate Students in Chemistry
ABSTRACT
This dissertation aims to demonstrate how the life stories of basic
education chemistry teachers can influence the perception of teaching by
students in a chemistry degree at a University. To achieve this, data is
constructed from recordings of classes in this teacher education program
that focuses on chemistry teaching and interviews conducted by students
with high school chemistry teachers. Through dialogue with educators
from the basic education level, the student teachers were able to
understand the reasons behind their choice of a career in chemistry
education and their initiation into the teaching profession. It is
understood that the teaching persona is not "born" upon completing
higher education; on the contrary, it is a lengthy, complex, dynamic
process that demands individual effort while also engaging with society.
KEYWORDS: Teacher Identity. Undergraduate Chemistry. Life History.
Teacher Education.
Narrativas que transforman: Influencia del abordaje metodológico
de la historia de vida de los docentes en la construcción de la
identidad de los estudiantes de graduación en química.
RESUMEN
Este artículo tiene como objetivo mostrar cómo la historia de vida de los
profesores de química en la educación básica puede influir en la
percepción de los estudiantes de enseñanza de la carrera de química en
una institución de educación superior. Para ello, los datos se construyen
a partir de las grabaciones de las clases de la disciplina de esta carrera
que se centra en la enseñanza de la química y de las entrevistas
realizadas por los estudiantes a profesores de química de secundaria. Del
diálogo con los educadores de Educación Básica, los estudiantes pudieron
conocer las razones por las que eligieron enseñar química e iniciarse en
la profesión docente. Se entiende que la personalidad docente no "nace"
con la finalización de la carrera de educación superior, por el contrario, es
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un proceso largo, complejo, dinámico, que requiere un esfuerzo
individual, pero que dialoga con la sociedad.
PALABRAS CLAVE: Identidad Docente. Licenciatura en Química.
Historia de Vida. Formación del Profesorado.
* * *
Introdução
Professores são agentes fundamentais em nossas vidas, muitas vezes
responsáveis por colaborar positivamente para a formação do nosso caráter,
nossa visão de mundo e nosso futuro. Mas, por trás das aulas ministradas e
das lições ensinadas, uma história de vida única e fascinante que
geralmente passa despercebida. As histórias de vida de professores são
repletas de desafios, conquistas e superações, e nos revelam a força, a paixão
e a dedicação desses profissionais que se esforçam a educar e inspirar
gerações. Neste contexto, entender essas trajetórias, é uma forma de
valorizar a educação e o papel do professor para nossa existência.
A utilização de narrativas de histórias de vida é uma abordagem
pedagógica amplamente aplicada em diversos contextos educacionais, como
por exemplo, educação em saúde, onde Kleinman (2020), usou as histórias
de vida de seus pacientes para compreender acerca da condição humana e
doenças crônicas; educação em ciências sociais, o historiador Zinn (2015)
explora movimentos sociais, mudanças culturais a partir de perspectivas
pessoais e por meio das histórias de vida de outras pessoas; educação de
adultos, em que Freire (1987) dialoga com seus alunos, provocando reflexões
utilizando suas próprias histórias afim de promover a transformação social.
De acordo com estudos realizados por Freire (1987) e Bakhurst (1991),
as narrativas de histórias de vida são capazes de aproximar o conhecimento
teórico e a vivência real dos estudantes. Isso acontece porque as narrativas
permitem que eles entendam de forma mais profunda as teorias e conceitos
apresentados, estimulam o pensamento crítico e a reflexão. Ao ouvir
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narrativas de outras pessoas, os estudantes têm a oportunidade de
compreender e lidar com as emoções, o que contribui para o seu
desenvolvimento pessoal e profissional.
Para formular o corpus desta pesquisa foi utilizado a transcrição das
gravações de aulas de uma disciplina do curso de licenciatura em química de
um Instituto de Ensino Superior de Minas Gerais que tem como foco a
docência. A escolha dessa disciplina foi em razão da professora regente
utilizar o recurso metodológico de histórias de vida para provocar os seus
estudantes a refletirem à docência, uma forma diferente do que
habitualmente estamos acostumados a observar nas universidades, com
leituras de textos teóricos e discussões sobre a realidade docente.
O objetivo desse estudo, portanto, é investigar como a história de vida
de professores pode colaborar para a percepção sobre a docência de
estudantes de um curso de licenciatura em química de uma Instituição de
Ensino Superior. Partindo dessa indagação, tem-se a intenção de
desenvolver o seguinte escopo: ter uma compreensão mais profunda da
docência; desenvolver a empatia e o respeito pela profissão docente; inspirar
futuros educadores; identificar representações a serem seguidas; informar
políticas educacionais, pois a pesquisa sobre a história de vida dos
professores pode fornecer informações úteis como saúde do professor, onde
se concentra os principais conflitos entre outros; melhorar a formação de
professores e promover a valorização da profissão docente.
Além disso, durante a pesquisa bibliográfica, notei que mesmo havendo
muitos estudos e discussões sobre o uso da história de vida na formação de
professores, não encontrei publicações a respeito da aplicação em sala de
aula. Penso, que talvez possa ser, que os professores universitários
desconheçam sua utilização como um recurso metodológico ou que não dão a
devida relevância a histórias de vida de docentes. No entanto, essas
suposições não são as que diretamente estão relacionadas a este trabalho,
mas continuam sendo o pano de fundo e a motivação para estudos e
pesquisas adicionais.
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Para tanto, é demonstrado como o uso da metodologia qualitativa
desempenha um papel fundamental na compreensão aprofundada do
fenômeno em estudo, permitindo a exploração das nuances e complexidades
que cercam o tema em questão. Nesse contexto, a técnica da análise
documental se destaca como ferramenta valiosa. A análise documental,
segundo Minayo (2009), é um método que possibilita a investigação, por
exemplo, na transcrição dos vídeos utilizados para coleta de dados,
fornecendo uma base sólida de elementos para a pesquisa.
Como fruto deste trabalho uma coletânea de crônicas sobre histórias de
vida de professores de química, onde foi produzido um e-book intitulado “A
química do ensino: histórias de professores inspiradores”. O intuito é criar
um documento que retrate a memória de professores brasileiros, porque
segundo Candido (1995), as crônicas podem servir como documentos
históricos e sociológicos importantes.
O que se sabe sobre formação identitária de licenciandos em
química no Brasil?
Recentemente, as controvérsias sobre a formação de professores têm
ocupado espaço no debate da educação brasileira, gerando um grande
volume de produções acadêmicas e científicas acerca da construção
identitária de professores. No entanto, esses estudos, ainda, não são
suficientes para proporcionar uma adequação às realidades educacionais
com as quais futuros professores são confrontados, fazendo com que a
profissionalização docente em química busque novas perspectivas para a
formação inicial.
Pesquisadores como Marques (2003), Maldaner (2003), Tearrazzam e
colaboradores (2008), Schnetzler (2000) entre outros, trazem reflexões sobre
a docência em química e concordam que a formação inicial deve-se pautar no
desenvolvimento de habilidades que levem os licenciados a pensar
criticamente o que fazem, porque fazem e como isso se relaciona com suas
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crenças, valores e objetivos. Neste contexto, é apresentado a seguir, além dos
autores mencionados, outros estudos em Educação que abordam o
processo de formação e construção da identidade docente de licenciandos de
química brasileiros.
Silva e Oliveira (2009) apontam que os professores recém-formados se
deparam com circunstâncias complexas da rotina escolar que não lhes foram
apresentadas, mesmo que hipoteticamente, nos cursos de formação inicial
em química, causando-lhes estresse e conflitos. Por consequência, esses
sentimentos podem se transformar em insegurança e frustração, fazendo
com que o docente em sua iniciação, tenha dúvidas sobre sua formação e
escolha sobre a docência. As autoras explicam que isso ocorre porque
uma propensão em priorizar a formação do químico e em detrimento da
formação do professor de química.
De forma geral, os programas de licenciatura em química no Brasil têm
buscado se atualizar e se adaptar às demandas do ensino de química na
atualidade, mas ainda enfrentam desafios para formar professores com uma
visão crítica e reflexiva da ciência e aptos a enfrentar as complexidades do
ensino de química na educação básica. Embora, Terrazzan e colaboradores
(2008) expliquem que muitos cursos de licenciatura que utilizem o
modelo da “racionalidade prática”, onde se deve instigar os estudantes à
reflexão constante da ação docente, o que se constata é que na prática esse
modelo pouco se efetive.
Como visto anteriormente, uma das preocupações de pesquisadores da
Educação é em relação a formação inicial do professor. Para investigadores
como e Santos (2017), Marcelo (2009), Durana (2007), Brito, Lopes e
Lima (2017), antes de pensar em estratégias de ensino para o magistério, é
necessário primeiramente entender como o professor constrói sua identidade
profissional. Dessa maneira, consideremos a seguir o que esses e outros
pesquisadores discursam a respeito do assunto.
Woodward (2009) expõe que a identidade profissional é constituída
culturalmente por meio de representações que se traduzem em significação
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para o sujeito e fazem com que se assumam posições: me identificando como
tal, posso ser como tal ou desejo ser como tal. Para essa pesquisadora, a
construção desses significados é feita pelas pessoas em uma relação de
poder, que se estabelece no contexto social e na apropriação que se faz
dessas relações, caracterizando o “eu” que desejo ser.
Marcelo (2009) considera importante o professor se perceber e se
reconhecer em sua identidade, pois a forma que nos vemos e que queremos
que nos vejam, influenciam no resultado de nosso trabalho. Segundo o autor:
A identidade não é algo que se possua, mas sim algo que se
desenvolve durante a vida. A identidade não é um atributo
para uma pessoa, e sim um fenômeno relacional. O
desenvolvimento da identidade acontece no terreno do
intersubjetivo e se caracteriza como um processo evolutivo,
um processo de interpretação de si mesmo como pessoa
dentro de um determinado contexto. (Marcelo, 2009, p. 4).
Percebe-se nesta reflexão que a identidade tem a ver com o aqui e o
agora envolvendo tanto a pessoa como o contexto. Mas o autor entende que
na docência, pode-se ir além, se perguntando o que o indivíduo quer vir a
ser, tendo consciência de que este pode buscar elementos que melhorem o
seu desempenho ou ressignifique aquilo que deseja ser.
Além do exposto, é preciso discorrer sobre a transição dos estudantes
para docentes. Esse período, segundo Vonk (1996), é marcado por conflitos e
busca de equilíbrio pessoal, chamado inserção. O limbo que o licenciando
passa de professor em formação para professor autônomo não é vazio, é um
espaço onde sua identidade passa também por transições, onde se deve
ensinar, mas também deve-se aprender a ensinar. Segundo o autor, a
reflexão sobre a prática, a valorização da experiência, o suporte e a formação
continuada são apontados como estratégias fundamentais para o
desenvolvimento da autonomia do professor e para a construção de uma
prática docente mais significativa e efetiva.
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Por tudo isso, podemos concluir que a formação identitária dos
professores de química no Brasil é um processo complexo e multifacetado
que envolve não apenas aspectos educacionais, mas também sociais,
culturais e políticos. É importante destacar que a identidade do docente de
química não é algo estático, mas sim dinâmico e em constante construção.
Nesse sentido, é necessário que os programas de formação docente
considerem não apenas o conhecimento técnico e científico, mas também as
habilidades socioemocionais e a reflexão crítica sobre o papel do professor na
sociedade, a fim de contribuir para uma formação mais integrada e
significativa dos futuros professores de química no país.
O que histórias de vida tem a ver com formação de professores?
Um dos pioneiros que utiliza a história de vida como abordagem
científica na educação, é Antônio Nóvoa. Segundo esse pesquisador, as
histórias de vida são uma forma importante de conhecer a profissão docente
e permite compreender como os saberes do cotidiano escolar são construídos.
Por esta razão, Nóvoa (1997), argumenta que a formação profissional é um
processo dinâmico e reflexivo entre o sujeito e o meio social, não sendo
acumulativo, mas é um percurso, uma trajetória da vida pessoal articulada
a vida profissional.
Vinculada a essa concepção, Bolzan, Isaias e Maciel (2013), defendem o
uso da história de vida de professores como um objeto de autorreflexão,
significação e transformação. Segundo as autoras, quando um docente narra
sua história, ele tem a possibilidade de compreender a si mesmo e
interpretar sua concepção de docência, pois “Um mesmo sujeito está ocupado
simultaneamente em narrar, viver, explicar e reviver sua história” (Bolzan,
Isaia, Maciel, 2013, p. 55). Além da autorreflexão da vida pessoal, as autoras
acreditam que ao narrar suas histórias, os indivíduos realizam uma
autocritica sobre suas práticas educativas, procuram entender as questões
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educacionais e compartilham as suas experiências para alcançar novas
aprendizagens de forma colaborativa.
De fato, o ato de lecionar faz parte da história de vida das pessoas,
mesmo aquelas que não frequentaram uma escola, sabem da existência e
importância do professor. As representações docentes podem incentivar
escolhas de carreiras e impulsionar sonhos, como pretende-se observar nos
relatos dos licenciandos que participaram desta pesquisam, assim como na
investigação de e Santos (2017, p.108), que caracteriza o exemplo dado
pelo educador e seu profissionalismo, como “um estímulo do campo
pedagógico”.
A formação de professores é um campo complexo e multifacetado que
envolve a aquisição de saberes que são essenciais para a prática pedagógica
eficiente. Os saberes docentes, ou conhecimentos profissionais dos
professores, abrangem não apenas o conhecimento acadêmico do conteúdo a
ser ensinado, mas o conhecimento sobre como ensinar esse conteúdo de
maneira competente, considerando o contexto específico da sala de aula e as
necessidades dos estudantes.
Um dos aspectos que se tornou objeto de estudo de diversos
pesquisadores em educação como Tardif (2002) e Shulman (1986) sobre a
formação de professores, é a maneira como esses saberes docentes são
construídos e reconstruídos ao longo da vida do professor. Nesse processo, os
autores alegam reiteram que as histórias de vida dos professores
desempenham um papel fundamental, onde sua trajetória, suas
experiências pessoais, educacionais e profissionais, marcam profundamente
a maneira como o professor aborda o ensino.
Portanto, esses saberes não podem ser desconsiderados ou esquecidos,
pois “[...] o novo surge e pode surgir do antigo exatamente porque o antigo é
reatualizado constantemente por meio dos processos de aprendizagem”
(Tardif, 2002, p. 36). Essa afirmação nos diz que a inovação e o novo
conhecimento não surgem de maneira isolada, mas tem raízes no
conhecimento e nas experiências anteriores. Isso significa que o
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conhecimento antigo é constantemente revivido e não permanece estático,
são atualizados e adaptados ao longo do tempo. Nos lembrando que o
processo pelo qual esse conhecimento se modifica é por meio da
aprendizagem e a aquisição de novos conhecimentos e habilidades é um
processo fundamental para a evolução do conhecimento e para a criação de
coisas novas.
Contexto da pesquisa, análises e reflexões
Foram analisadas as transcrições das gravações de um conjunto de 20
aulas, do curso de licenciatura em química, da Universidade Federal de
Uberlândia, de uma disciplina que tem como foco a docência. A disciplina
contou com 30 discentes matriculados, teve duração de 60 horas e ocorreu
entre novembro de 2021 a abril de 2022. Neste período, o país enfrentava a
pandemia causada pela Covid-19 e o Conselho Nacional de Educação (CNE),
sobe orientação, instituiu o ensino remoto emergencial. Para possibilitar a
interação dos docentes e discentes do curso, além da plataforma digital
Moodle, utilizada pela instituição como um sistema de apoio e registro das
atividades acadêmicas, a professora regente utilizou o aplicativo Zoom de
videoconferência, para os encontros semanais que tinham duração de 100
minutos.
No decorrer das aulas, a professora regente utilizou alguns
instrumentos para avaliar os discentes na disciplina e a entrevista foi um
deles. Durante a atividade, os licenciandos dialogaram com os professores da
educação básica sobre: o período da graduação, a escolha da profissão, a
primeira aula como professor regente, os desafios da carreira e as
motivações que os levam a continuar o exercício da docência em química.
A intensão da professora regente com a entrevista, foi instigar os
licenciandos, utilizando a história de vida dos professores da educação
básica, a refletirem sobre o exercício da docência e a partir de suas
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inquietações, estabelecer critérios para a construção de sua própria
identidade docente.
Para obter as respostas acerca do questionamento apresentado neste
trabalho, como a história de vida de professores pode influenciar a percepção
de estudantes de um curso de licenciatura em química, produziu-se os dados
a partir das gravações das aulas da disciplina Prointer I e das entrevistas
feitas pelos licenciandos com professores de química do ensino médio. Neste
contexto, a abordagem de histórias de vida foi empregada pela professora
regente como forma de instigar os estudantes a pensarem sobre a docência e
utilizada pela pesquisadora para entender como os licenciandos constroem
suas identidades docentes por meio de suas narrativas pessoais.
A primeira etapa deste estudo foi a transcrição das videoaulas da
disciplina. Para isso, foi utilizado o software VEED.IO, que converte áudios
e vídeos em textos digitais. Após a leitura do material, selecionou-se trechos
de fala dos estudantes que foram distribuídos em três temas: a) as ideias
iniciais dos licenciandos sobre a docência, b) a experiência com as histórias
de vidas dos docentes da educação básica e c) as conclusões dos licenciandos
sobre a docência ao final da disciplina. O próximo passo, foi elaborar os
quadros de análises.
Nesta pesquisa, foi construído três quadros de análises, as ideias
iniciais sobre a docência, as experiências com as histórias de vida e as
conclusões dos licenciandos sobre a docência, buscando identificar as
transformações nas percepções e concepções dos licenciandos ao longo de sua
jornada de formação inicial de professores.
A interseção entre a trajetória de vida de professores de química na
educação básica e a construção da identidade docente de licenciandos em
química, traz importantes reflexões a respeito da complexidade da formação
docente.
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Ideias iniciais dos licenciandos sobre a docência.
Nesta categoria o foco era conhecer os motivos que levaram os
estudantes a ingressar no curso de licenciatura, o que sabiam sobre a
docência e quais as expectativas que tinham em relação a disciplina. As
principais observações foram:
Ao analisar as participações dos licenciandos na segunda aula em que a
professora da disciplina perguntou sobre: Quem te inspirou a ser professor
ou o que te motivou a escolher a licenciatura em química? foi identificado um
padrão onde dos 28 estudantes que estavam online, 06 responderam que a
docência não foi a primeira opção e que não pretendiam exercer a profissão.
Como na fala de G “Eu não sei se é todo mundo aqui, mas eu entrei no
curso não com o intuito de ser professora (...) Eu tenho muita vontade de
passar meu curso para a engenharia, e atuar dentro de uma fábrica.” e de M
“Não sei se vou seguir a profissão de professor...como eu disse ontem, eu
pensei em duas faculdades eeee como talvez eu não poderia passar, optei por
essa, mas não sei se vou seguir, pretendo terminar essa e eeee... não sei se
vou seguir a carreira de professor.”
A fala dos estudantes revela que dez anos depois, essa realidade é a
mesma apresentada pela pesquisa de e Santos (2011) sobre a motivação
pela carreira docente em química. As autoras evidenciam que os fatores que
determinam a procura do curso não são o gosto pela área e a frustração pelo
não ingresso em outras modalidades de curso. Reforçando que a profissão
docente dificilmente é a primeira opção dos estudantes que ingressam no
ensino superior e mais ainda em química.
Sobre a motivação, se destaca na respostas dos licenciandos, a
influência dos ex-professores da educação básica e exemplos da família,
como a mãe ser professora: I “Eu conheci ela e ela tinha aquele amor por
ensinar os alunos...ee eu peguei um amor muito grande, falei assim, eu
conversei com ela sobre o curso e ela falou que gostava de dar aula de
química, que era o que ela queria fazer para o resto da vida dela, ee me
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inspirou a ser professora”; EL “Oi professora! Quem me inspirou na
verdade foi duas professoras minhas do ensino médio, não sei se você vai
conhecer. Era de química.”; NA “Oi, professora! É, é, é... o que me inspira
ser professora foi minha mãe, ela é professora pedagoga.”
No primeiro excerto I, expressa como uma professora que demonstrava
amor pelo ensino e uma paixão por dar aulas de química a inspirou a seguir
a carreira docente. A conexão pessoal com essa professora e a admiração por
sua dedicação serviram de motivação para que a licencianda considerasse se
tornar uma professora. Isso destaca a importância dos próprios professores
na formação de futuros educadores, mostrando como o exemplo e a paixão
dos professores podem influenciar positivamente os alunos.
No segundo excerto EL, menciona que duas de suas professoras de
química do ensino médio foram fontes de inspiração, destacando como
experiências positivas e significativas durante a educação básica podem
influenciar a escolha da carreira. Foi percebido que impacto dos professores
no ensino médio é relevante para inspirar futuros educadores.
Já no excerto de NA, relata que sua mãe, que é pedagoga e professora,
a inspirou a seguir a carreira docente. Isso ilustra como membros da família,
particularmente aqueles envolvidos na educação, podem exercer uma forte
influência sobre as escolhas de carreira dos estudantes. O exemplo da mãe
como professora pedagoga serviu como uma fonte de inspiração direta.
Dessa forma, podemos remeter as falas dos licenciandos a estudos que
se referem a motivação, que pode ser de dois tipos, extrínseca e intrínseca.
Segundo Huertas (2001), a motivação extrínseca é aquela que vem de fora,
que está relacionada a uma contingência externa, enquanto a intrínseca é
gerada por estímulos internos, a um interesse da própria atividade.
Partindo desta reflexão, entende-se que a motivação é um fator
determinante para que o licenciando prossiga carreira docente e o
entendimento positivo desta profissão, pode desencadear, segundo o autor,
três características que é autodeterminação, competência e satisfação em
fazer algo. Quando os licenciandos relatam que reconhecem na fala e nas
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atitudes de seus ex-professores o amor pela profissão, a maneira como dão
aula e tratam seus alunos, o exemplo que tem em casa, fazem com que essa
motivação externa, passe a se tornar interna. Segundo Huertas (2001), isso
pode auxiliar o indivíduo a superar as dificuldades que possam ir se
apresentando ao longo do processo de aprendizado, assim como na formação
inicial e durante o exercício da profissão docente.
Quando os licenciandos foram indagados pela professora da disciplina
sobre O que é ser um professor/a? e obteve respostas como: G “Eu acho que
ser um professor é... você estar disposto a aprender, é como se você fosse um
eterno aluno, acho que diante do relato de outros professores não só de
química, mas de outras matérias também.”; E – “Eu preciso ver que ele está
aprendendo, tipo, ver que eu preciso saber que ele saiba disso, que o que eu
passando ele aprendendo.” e J “Eu penso que ser professor é tipo,
transmitir conhecimento. No nosso caso, de química.”
No primeiro excerto, G enfatiza que ser um professor envolve uma
disposição constante para aprender. Ele compara a função do professor à de
um "eterno aluno". Isso sugere a ideia de que os professores estão sempre
adquirindo conhecimento e crescendo em sua prática, à medida que
aprendem com suas próprias experiências e com o feedback de outros
profissionais como coordenadores. A perspectiva de G ressalta a importância
da aprendizagem contínua na carreira docente.
No segundo excerto, E destaca a importância de verificar se os alunos
estão aprendendo. Ela expressa a necessidade de se assegurar de que o
conhecimento transmitido está sendo absorvido pelos alunos, o que pode
refletir a ênfase na avaliação e na responsabilidade do professor em garantir
que seus alunos compreendam o conteúdo. A perspectiva de E mostra a
dimensão de ensino como um processo de verificar o progresso dos alunos.
No excerto de J, apresenta uma visão mais tradicional da docência,
enfatizando a transmissão de conhecimento. O licenciando percebe o papel
do professor como aquele que transmite informações, particularmente na
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área de química. Esse entendimento se concentra na entrega do conteúdo e
na comunicação do conhecimento aos alunos.
Observa-se que os licenciandos não refletiram ainda sobre o que um
indivíduo precisa saber para ser um professor. Os autores Bessa, Castro e
Rodrigues (2019), pesquisaram sobre as representações do que é ser um bom
professor e concluíram que a maioria dos entrevistados pensam que é a
capacidade de transmitir, planejar, estimular a aprendizagem e
principalmente o conhecimento da sua disciplina.
A ideia de que lecionar é apenas transmitir conhecimento é uma visão
simplista da docência que historicamente prevaleceu em nosso sistema
educacional. Essa concepção reducionista da função do professor
desconsidera a complexidade da profissão docente, que envolve muito mais
do que os conhecimentos da próprios da disciplina. Essa visão é comum
devido, segundo Shulman (1992) a vários fatores, incluindo tradição, falta de
compreensão das múltiplas dimensões da docência e pressões externas que
enfatizam a avaliação do desempenho dos alunos com base em resultados
quantitativos.
Outra tendência observada no relato dos licenciandos são as
idealizações e estereótipos em relação ao trabalho do professor. Percebe-se
que na fala dos licenciandos a seguir, uma tendência em tornar penoso,
como ter que trabalhar muito para ser bem remunerado, ou desprestigiar o
trabalho docente: I “Tanto que as pessoas falam você é professor?
nossa...que pena...deve dar um trabalho danado.”; M “...eles falavam que
trabalhavam muito, muito, muito, muito, tinham que trocar de cidade, mas
ganhavam bem pra caramba.... professor da escola pública, da escola
particular, dependendo da escola particular ela vai valorizá mais o
professor, e varia da qualidade do professor...e tem professor que tem mais
conhecimento.” e H “Acho que vai muito de status do curso também, eu
vejo muito isso na minha família, quando eu disse que passei para química e
disse licenciatura, todo mundo ficou...nossa...dar aula, sabe...e tenho um
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primo que está fazendo engenharia, não tem emprego ainda, mas para a
família, ele é superior.”
Sobre essa perspectiva, vale mencionar que Nóvoa (1995) explora as
representações sociais dos professores e a idealização da figura do professor
como modelo de comportamento. Ele destaca como essas idealizações podem
influenciar a percepção pública e as expectativas em relação aos professores
podem variar amplamente, refletindo percepções culturais, sociais e
históricas.
Neste momento examinou-se a participação dos estudantes em
atividades que envolveram a história de vida de professores de química da
educação básica. Nesta fase, os estudantes realizaram a entrevista com seus
ex-professores do ensino médio e tiveram a oportunidade de ouvir dois
professores da educação básica convidados pela professora da disciplina para
contar suas histórias de vida docentes. A categoria gerada foi “Compreensão
das perspectivas dos professores e rotinas” e as principais observações foram
as seguintes.
Foi observado que os licenciandos conseguiram absorver um pouco do
que é o cotidiano de uma escola e que o professor não sai pronto da
faculdade, como demonstrado nos seguintes trechos: I - A Entrevista eu
achei muito interessante porque eu tive a oportunidade de encontrar com o
professor e conhecer mais da rotina da sala de aula e fora dela, da vida
pessoal mesmo.” é quando o licenciando se refere ao excerto de um docente
da educação básica (DEB): DEB1 “Todo dia é uma caixinha de surpresa
porque você lida com o fator humano e as pessoas são múltiplas e são
diversas. Então eu gosto desse esquema. Às vezes vo cinco aulas do
mesmo assunto, você vai dar cinco aulas diferentes.” e M “Deram exemplos
reais, falam sobre como é estar em sala de aula para os alunos do ensino
médio. O que eles gostam, que eles não gostem, que eles aconselham, que
eles não aconselham. Então é um momento importante do curso e aí, com o
tempo as coisas vão fazendo cada vez mais sentido, sabe?” ao fazer
referência aos excertos: DEB 5 “Não. É o que funciona pra mim. A maneira
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que você faz é o que ficar confortável pra você. Tem pessoas que não gostam
de interagir e a aula do cara é maravilhosa. então tem que ir lá e dar a cara
a tapa porque é só na sala de aula que você vai entender como é a dinâmica
e como você vai trabalhar, ter esse perfil desenvolvendo sua técnica.” e DEB
6 “Não sei se chamo de técnica, mas aahh, primeira coisa que agente tem é
o estudo, a vida de professor é uma vida que tem que estar estudando
sempre mesmo quando sei umas coisas menos, outra mais, mas acho que é
em toda profissão é assim.”
Vamos interpretar os principais pontos que esses excertos podem
indicar:
a) Interesse pela Experiência de Professores da Educação Básica: I
expressa seu interesse e apreço pela oportunidade de interagir com um
professor da educação básica e conhecer mais sobre sua rotina, tanto na sala
de aula quanto em sua vida pessoal. Isso sugere que o contato com
professores em exercício pode enriquecer a formação de futuros educadores,
fornecendo visões sobre a realidade da profissão;
b) Complexidade da Docência: DEB1 enfatiza a imprevisibilidade da
profissão de professor, com cada aula sendo única devido à diversidade e
individualidade dos alunos. M ressalta que a experiência dos professores da
educação básica compartilhada com os licenciandos inclui exemplos reais de
suas experiências em sala de aula, bem como seus gostos e desgostos. Essa
complexidade demonstra a necessidade de adaptação e desenvolvimento
contínuo por parte dos professores.
c) Abordagens Diversas: DEB 5 destaca que não há uma única maneira
certa de ensinar, e que os licenciandos devem experimentar diferentes
abordagens para descobrir o que funciona melhor para eles. DEB 6 salienta
a importância do estudo contínuo na vida do professor, ressaltando que a
aprendizagem é um aspecto fundamental da profissão.
Entende-se, portanto, que a dinâmica dos licenciandos de interagir com
os professores da educação básica pode fornecer subsídios para que os
futuros professores elaborem suas próprias estratégias de ensino e gestão de
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sala de aula, baseadas nas histórias de vida contadas por meio das
entrevistas. Dessa forma, aprenderão habilidades sobre o “Saber da ação”
que Tardif (2005) defende como essencial para a prática docente eficaz. Este
saber está relacionado às habilidades práticas e às tomadas de decisão
rápidas que os professores precisam para lidar com situações imprevistas na
sala de aula.
Goodson (2020) propõe a ideia de que os professores iniciantes, em
particular, passam por uma transição significativa na qual suas histórias de
vida, experiências educacionais e profissionais se entrelaçam. Durante essa
fase de transição, os professores iniciantes podem enfrentar desafios, ajustes
e mudanças em suas identidades profissionais e que as histórias de vida
podem inspirar suas escolhas de estratégias de ensino, abordagens
pedagógicas e relações com os alunos. Além disso, as experiências de vida
podem influenciar a maneira como os professores percebem a diversidade, a
inclusão e o contexto social em que trabalham.
Foi notório o contento dos licenciandos ao constatarem que os docentes
da educação básica, passaram por situações parecidas no início de suas
carreiras, sentimentos semelhantes como a insegurança, identificados em
excertos como: E “Foi importante saber que eles tem inseguranças, que as
primeiras aulas eles tremeram, assim como eu acho que vai ser comigo.”; G
“Eu me identifiquei quando alguns professores disseram que foi difícil no
começo, mas conseguiu. Eu também estou achando muito difícil, mas se eles
conseguiram e estão gostando, acho que eu também vou gostar.” e R
“Quando a gente é aluno, imagina que o professor, sabe, é um ser supremo,
que não dança, não bebe e ririri...ou que só viaja nos feriados e recessos, mas
é importante entender que ele é uma pessoa como qualquer outra, que
adoece, que tem problemas familiares, que tem sonhos que não é sobre
estudante...”.
No primeiro excerto, Ed percebe relevância de saber que os professores
da educação básica também tiveram inseguranças em suas primeiras aulas.
Isso demonstra que os professores não são perfeitos desde o início de suas
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carreiras e que passam por desafios semelhantes aos dos futuros
professores. Essa compreensão pode reduzir a pressão e a ansiedade dos
estudantes em relação às suas próprias inseguranças iniciais.
No excerto de G, a licenciada se identifica com os professores que
compartilharam suas experiências de superar dificuldades no início de suas
carreiras. Essa identificação é relevante, pois os estudantes notam que os
desafios não são exclusivos deles e que é possível superá-los. Isso pode
inspirar confiança e resiliência. Já no excerto de R, aborda a necessidade de
entender que os professores são pessoas comuns, com suas próprias vidas,
sonhos e desafios. Isso ajuda a humanizar a figura do professor, desfazendo
estereótipos de que os professores são perfeitos ou distantes. Os estudantes
percebem que os professores também enfrentam problemas pessoais e têm
aspirações, o que pode facilitar a construção de relacionamentos mais
genuínos entre alunos e professores.
O desfecho da disciplina mostra as percepções dos estudantes em
relação ao seu aprendizado. A análise das principais observações nesta fase
de finalização da disciplina, gerou a categoria “Ampliação da percepção
sobra a carreira docente”, desdobrada em:
À medida que os estudantes ingressam em cursos de licenciatura,
muitas vezes trazem consigo concepções iniciais sobre o que significa ser um
professor e como a educação deve ser conduzida. No entanto, ao longo de sua
jornada educacional e profissional, essas visões podem evoluir à medida que
são expostas a novas teorias, práticas, experiências de sala de aula e
reflexões. Esse processo de evolução e refinamento é fundamental para o
desenvolvimento de professores capazes de atender às demandas complexas
da educação contemporânea e criar ambientes de aprendizagem
significativos para seus alunos.
Neste contexto, podemos perceber pelos excertos seguintes como os
estudantes de licenciatura ampliaram seu entendimento e perspectivas em
relação ao trabalho docente quando a professora da disciplina perguntou se
a percepção sobre a docência permanecia a mesma inicial: M “De como é o
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histórico da profissionalização da carreira, entendendo que, mesmo hoje
algumas pessoas acham que ser professor não é uma profissão, que é uma
vocação que você não precisa aprender conteúdo nem nada, porque o negócio
vem inspirado de um ser superior e tal. A gente entende que é uma profissão
que tem um conjunto de saberes, profissionais, de conhecimentos
profissionais. São adquiridos na prática, na teoria, na conjunção entre teoria
e prática”; MA “O professor é insubstituível. concordo plenamente que o
professor é insubstituível. Não tem programa de computador, não tem
aplicativo, não tem recursos de livro, curso autoinstrucional, não tem nada
que substitua a capacidade do professor de fazer a síntese e de ensinar a
gente.” e T “O que me marcou muito foi uma frase de uma professora da
entrevista que fala assim: ‘Mais é isso, né. Vocês vão encontrar as dores de
vocês. As minhas nem sempre vão ser as suas. Isso nos mostra que teremos
que passar por tudo isso para encontrar nosso caminho como professores,
não importa o quão preparados estaremos.”.
Os excertos trazem revelações importantes sobre a compreensão dos
licenciandos (M e T) sobre a profissão docente e o processo de se tornar um
professor. Eles destacam a evolução da percepção da profissão docente, que
historicamente foi muitas vezes vista como uma "vocação" desprovida de
necessidade de formação profissional formal. Agora, os licenciandos
entendem que ser professor envolve um conjunto complexo de saberes e
conhecimentos profissionais que são adquiridos por meio da prática e da
teoria.
o excerto de MA ressalta a insubstituibilidade do professor na sala
de aula, destacando que a habilidade do professor de sintetizar informações
e ensinar não pode ser substituída por programas de computador,
aplicativos ou recursos de autoaprendizado. Isso enfatiza a importância do
papel ativo do professor na facilitação do aprendizado dos alunos. Enquanto
o excerto de T aborda a ideia de que cada professor enfrentará desafios e
dificuldades únicas ao longo de sua carreira, e essas experiências são parte
integrante do processo de se tornar um professor. Isso reflete a compreensão
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de que a formação de professores envolve a construção de um caminho
profissional pessoal e a necessidade de aprender com as experiências,
independentemente do nível de preparação inicial.
De acordo com Huertas (2001), um bom professor possui objetivos de
ensino, o que o tornará um aluno motivado a aprender. O autor afirma que
as metas são desencadeadoras da conduta motivada e que para haver
aprendizagem é preciso, antes de tudo haver a motivação. Dessa forma, ao
final da disciplina, percebeu-se que grande parte dos licenciandos estavam
motivados com a carreira docente.
Na última aula, a professora da disciplina solicitou que cada estudante
externasse o que aprenderam, o que ficou marcado e se perspectivas de
prosseguirem na carreira. Como resposta, foi extraído os seguintes excertos:
R “Foi muito bom entender quais são as minhas opções no mercado de
trabalho e quais são as vantagens de cada área? Então já ter uma noção
disso desde o início da faculdade, é muito importante. Eu acho muito
importante. Então, tudo isso foi útil durante essa disciplina.”; N “Nós
também entendemos que é muito importante, não é para você e para nós,
para o aluno que vai ser professor conhecer um pouco sobre a docência, em
especial desmistificar algumas questões como professor é mal remunerado.”
e RO “A gente, sabe quer agradecer, um dos aspectos que a gente vai
agradecer é estudar com uma professora doutora, e doutorado em química,
eu acho muita coisa de verdade e a senhora mostrou que temos essa
possibilidade, e que a docência é tão pomposa quanto um engenheiro ou um
médico. Eu quero muito explorar todas as possibilidades que eu tiver nessa
carreira.”
Os excertos reforçam algumas perspectivas que foram discutidas
neste estudo sobre a importância da compreensão da docência e das opções
de carreira desde o início da formação acadêmica, como a valorização da
docência em que R destaca a importância de os estudantes entenderem suas
opções no mercado de trabalho, com ênfase na carreira docente. O
licenciando reconhece que ter essa compreensão desde o início da faculdade
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é valioso, pois permite que eles explorem as vantagens de cada área. Isso
reflete a importância de informar os estudantes sobre as possibilidades de
carreira e os benefícios da docência, a fim de aumentar o interesse e a
valorização da profissão.
No geral, esses excertos enfatizam a importância de informar e inspirar
os estudantes de licenciatura a considerarem à docência como uma carreira
de prestígio e a desenvolverem uma compreensão mais ampla da profissão
desde o início de sua formação. Assim como destacam o papel fundamental
dos educadores e das experiências de aprendizado na formação das
perspectivas dos alunos em relação à docência. Parte superior do formulário.
Os licenciandos, no início da disciplina tinham representações
superficiais sobre a docência. Suas ideias iniciais eram frequentemente
influenciadas por estereótipos ou visões simplistas da profissão. No entanto,
ao longo da disciplina, a compreensão das perspectivas dos professores e de
suas rotinas diárias começou a evoluir.
A exposição às histórias de vida dos professores de química da
educação básica teve um impacto significativo na quebra desses estereótipos
e na construção de uma compreensão mais profunda da profissão. Os
licenciandos começaram a perceber a complexidade do trabalho docente,
incluindo os desafios e as recompensas envolvidas.
À medida que os licenciandos desenvolviam uma compreensão mais
sólida das perspectivas dos professores e de suas rotinas, sua percepção
sobre a carreira docente começou a se ampliar. Eles passaram a perceber a
docência não apenas como um ato de transmitir conhecimento, mas como
uma profissão que envolve o desenvolvimento de habilidades interpessoais,
adaptação constante, e um compromisso com o aprendizado dos alunos.
A relação entre as representações iniciais dos licenciandos sobre a
docência e a ampliação de sua percepção sobre a carreira docente, é notável.
As representações iniciais, muitas vezes serviram como um ponto de partida
para essa transformação e a exposição às histórias de vida dos professores
expandiu as visões iniciais dos licenciandos. Isso evidencia como as
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representações iniciais podem ser moldadas e refinadas ao longo do tempo,
resultando em uma compreensão mais rica da carreira docente.
Conclusão
Durante todo o processo, não só os licenciandos tiveram a oportunidade
de explorar as histórias de vida de seus mentores, os professores de química,
e essa experiência teve um impacto marcante em suas próprias jornadas
como futuros educadores, mas também em minha própria formação como
educadora e formadora de professores. Essa abordagem revelou que, mais do
que apenas adquirir conhecimento sobre a disciplina, à docência é uma
profissão que envolve valores, identidade e um compromisso social.
Neste contexto, esta pesquisa não apenas ilustrou a importância da
abordagem "História de Vida de Professores" na formação de licenciandos
em química, mas também ressaltou a necessidade contínua de professores
comprometidos com a promoção na busca de melhorias para a educação no
Brasil. As histórias de vida dos professores se tornaram uma ponte entre o
passado e o futuro, moldando a identidade dos licenciandos, inspirando-os a
serem não apenas educadores competentes, mas também defensores
apaixonados dos valores que abraçaram. É uma homenagem à memória da
minha orientadora que essa pesquisa perpetue seu legado, inspirando
futuras gerações de educadores comprometidos com a construção de um
mundo mais inclusivo e igualitário.
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Recebido em novembro de 2023.
Aprovado em fevereiro de 2024.
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Article
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Esse estudo trata de pesquisa que teve como objetivo identificar as representações de "bom professor" por estudantes de licenciatura da Universidade Estadual de Goiás. Optou-se na abordagem pela teoria das representações sociais de Moscovici e Abric através de redes semânticas naturais. Os dados foram coletados por meio de evocações livres. Participaram 220 estudantes de 6 cursos de licenciatura. Sete palavras definiram o núcleo central das representações: compreensivo, educado, atencioso, paciente, inteligente, comprometido e dedicado. Foram analisados resultados relacionados ao gênero, idade e nível acadêmico, porém diferenças significativas foram encontradas somente quanto ao nível acadêmico. Verificou-se homogeneidade nas representações de todos os cursos quanto à competência profissional e as qualidades humanas requeridas do professor. As representações estão permeadas de ideias ligadas ao senso comum.
Article
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O Projeto de Pesquisa DIPIED tem desenvolvido, como uma de suas atividades, o estudo das recentes reformulações realizadas em Cursos de Licenciatura, procurando contribuir para uma melhor compreensão da organização das atuais configurações curriculares desses cursos. Neste trabalho, tomamos por base os Cursos de Licenciatura em Ciências Biológicas, em Física e em Química da UFSM, para analisar possibilidades das suas configurações Curriculares favorecerem a formação identitária do professor. Como fontes de informação, utilizamos os Projetos Político- Pedagógicos desses cursos. Constatamos que, aparentemente, os Cursos de Licenciatura em Ciências Biológicas e em Física dão menor ênfase à formação pedagógica de seus licenciados do que a icenciatura em Química. Em muitos aspectos, esses cursos ainda mantêm semelhanças com a formação proposta em legislações anteriores sobre o assunto, o que indica não haver avanços significativos que garantam uma formação comprometida com as especificidades da ação docente.
Article
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This article has been produced from an investigative network which is linked to the interlocution between research groups in relation to the studies they develop. GPFOPE, GTFORMA and KOSMOS groups, in quest of contributing for the area of teacher formation, have produced contributions for implementing and improving educational and institutional policies, seeking the qualification of classroom and distance learning courses. The purpose of this reflection is to offer alternatives to rethink the formation processes promoted by the IES and their repercussion in the organization of the pedagogical activities they develop. In this sense, we consider that the focus of teacher formation cannot be restrict to thinking and discussing the organization of teaching and its divisions but, most of all, it is to mobilize the subjects to continue learning in the different contexts of activity. This includes reflecting upon and about the pedagogical practice, understanding the problems within the teaching, analyzing curriculums, recognizing the influence of the didactic materials in the pedagogical choices, socializing the constructions and experiences exchange in order to advance in direction to new learning, within a constant exercise of reflexive, collaborative and collective practice. It is about a process that is characterized by tensions and challenges in unknown contexts in which the trainers seek professional balance. So that it happens, teachers need to be conscious that they are subjects in permanent evolution and professional development of teachers.
Book
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Ya están incluidos todos los capítulos del libro Motivación: querer aprender, con prólogo y todo. Que les aproveche.
Article
This 1991 book is a critical study of the philosophical culture of the USSR, and the first substantial treatment of a Soviet philosopher's work by a Western author. The book identifies a tradition within Soviet Marxism that has produced significant theories of the nature of the self and human activity, of the origins of value and meaning, and of the relation of thought and language. The tradition is presented through the work of Evald Ilyenkov (1924–1979), the man who did most to rejuvenate Soviet philosophy after its suppression under Stalin. Professor Bakhurst sets Ilyenkov's contribution against the background of the bitter debates that divided Soviet philosophers in the 1920s, of Vygotsky's 'socio-historical psychology', of the controversies over Lenin's legacy, and of the philosophy of Stalinism. He traces Ilyenkov's tense relationship with the Soviet philosophical establishment and his passionate polemics with Soviet opponents. This book offers a unique insight into the world of Soviet philosophy, the place of politics within it, and its prospects in the age of glasnost and perestroika.
Article
La situación en la enseñanza, si somos honestos, y la comparamos por ejemplo con la empresa, deja mucho que desear. Hemos hablado en anterior artículo sobre la falta de profesionalidad del docente; ahora tomamos el tema desde un poco más atrás: profesores mal formados inicialmente o formados hace décadas, frente a grupos de jóvenes de hoy, que están en otro contexto, en otro mundo. Profesores que se iniciaron con el pizarrón (encerado), alumnos con videoconsolas. Por qué admitimos esta educación…?; ningún empresario admitiría poner un ingeniero con formación numérica para manejar la última fresadora digitalizada (en medio han pasado las alfanuméricas y las analógicas y por supuesto, muchos años). En la enseñanza se admite todo…? El desencuentro es bastante claro. ¿Cuál es el nexo entre esos dos mundos…o es posible la unión de estos dos mundos?. El ingeniero ha tenido que dominar todos los sistemas de fresadoras…para poder mantenerse en su puesto. El profesor…no tiene tiempo, no es bien pagado, está ‘quemado’(burnout), al final pasa por encima de todos los sistemas pedagógicos…y de los alumnos…?
Identidade docente: reflexões de professores de Química sobre a trajetória acadêmica e profissional
  • A S Brito
  • E T Lopes
  • M Lima
BRITO, A. S.; LOPES, E. T.; LIMA. M. B. Identidade docente: reflexões de professores de Química sobre a trajetória acadêmica e profissional. Revista Educação Pública. Cuiabá, v. 26, n. 63, 2017, p. 907-926.