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Meu Consentimento Não Respeitado: Sequelas Corporais e Sexuais em Estudantes
Universitárias Vítimas de Violência Sexual
My Consent Not Respected: Bodily and Sexual Seals in University Students Victims of
Sexual Violence
GISELLE ALEJANDRA PINCHEIRA NAVARRO
1
MARIA BEATRIZ REIS DIONÍSIO
2
SABRINA MAZO D'AFFONSECA
3
DOI: https://doi.org/10.23925/2764-8389.2023v3i2p29-60
RESUMO: Esta pesquisa buscou identificar possíveis consequências e impactos na corporeidade e sexualidade
em estudantes que sofreram violência sexual dentro do contexto universitário. A metodologia foi de caráter
qualitativo incluindo onze estudantes de graduação e pós-graduação de universidades públicas do interior do
Estado de São Paulo, estas participaram de entrevistas semiestruturadas, baseadas em métodos visuais, as quais
foram feitas no formato remoto. Os instrumentos utilizados foram: i) Questionário de caracterização das
participantes; ii) Roteiro de entrevista semiestruturado, incluindo a técnica de Linha do Tempo e da cartografia
corporal. Os resultados mostram que as estudantes estavam expostas a diversos cenários de violência no contexto
universitário, experiências que produziram diferentes níveis de impacto no âmbito físico, psicoemocional,
acadêmico, relações interpessoais e dificuldades de conectar com sua sexualidade e seu corpo após a agressão. O
intuito das universidades deve estar dirigido a reduzir o impacto dos traumas, evitando a revitimização, trabalhando
na prevenção de qualquer dano na população mais vulnerável da universidade.
PALAVRAS-CHAVE: Violência; universidade; sequelas corporais, assédio sexual; sexualidade.
ABSTRACT: This research sought to identify possible consequences and impacts on corporeality and sexuality
in students who have suffered sexual violence within the university context. The methodology was qualitative in
nature and included eleven undergraduate and graduate students from public universities in the interior of the State
1
Mestra em Psicologia, Universidade Federal de São Carlos. Diplomada em Dança, Movimento e Terapia,
Universidade Mayor no Chile. Diplomada em Teorías de Género, desenvolvimento e Políticas Públicas da
Universidade de Chile. é Bacharel e Licenciada em Sociología da Universidade Católica de Temuco, Chile. E-
mail: gis.pincheira@gmail.com. Orcid ID: https://orcid.org/0000-0003-3453-306X. Lattes:
http://lattes.cnpq.br/6687525344324940. Chile.
2
Graduada em Psicologia pela Universidade Federal de São Carlos (2015-2019), Mestre em Psicologia (UFSCar)
e Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Psicologia da Universidade Federal de São Carlos (PPGPsi-
UFSCar). E-mail: beatrizreisdionisio@gmail.com. Orcid ID: https://orcid.org/0000-0001-5711-5237. Lattes:
http://lattes.cnpq.br/9021929939090844. Brasil
3
Possui graduação em Psicologia pela Universidade Federal de São Carlos (2003), mestrado em Educação
Especial (Educação do Indivíduo Especial) pela Universidade Federal de São Carlos (2005) e doutorado em
Psicologia pela Universidade Federal de São Carlos (2013). E-mail: samazo@ufscar.br. Orcid ID:
https://orcid.org/0000-0001-9103-0616. Lattes: http://lattes.cnpq.br/0381029115416584. Brasil
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of São Paulo, who participated in semi structured interviews, based on visual methods, which were done in remote
format. The instruments used were: i) Questionnaire for characterization of the participants; ii) Semi-structured
interview script, including the Timeline technique and body cartography. The results show that the students were
exposed to several scenarios of violence in the university context, experiences that produced different levels of
impact on the physical, psycho-emotional, academic, interpersonal relationships, and difficulties in connecting
with their sexuality and their bodies after the aggression. The intention of universities should be directed at
reducing the impact of trauma, avoiding revictimization, working on the prevention of any damage in the most
vulnerable population of the university.
KEYWORDS: Violence; university; bodily harm, sexual harassment; sexuality.
SUMÁRIO: 1. Introdução; 2. Método 2.1. Participantes, 2.2 Instrumentos; 2.3 Aspectos éticos 2.4 Procedimentos
2.5 Análise de dados; 3. Resultados; 3.1. Assédio sexual em diferentes espaços universitários; 3.2. Redes de apoio;
3.3. Tempo de verbalização da violência; 4. Discussão; 5. Conclusões; 6. Referências.
1. INTRODUÇÃO
Como resultado da desigualdade de gênero e o sexismo em nossa sociedade, o assédio
sexual apresenta-se como uma das formas frequente de violência, amparada num sistema
patriarcal que acredita e reproduz a superioridade dos homens em detrimento das mulheres
(SAFFIOTI, 2002). Este tipo de violência sexual na psicologia é compreendido como um
conjunto de comportamentos sexuais, físicos, verbais e não verbais os quais são indesejados
pela pessoa que os recebe e que os percebe como ofensivos ou ameaçadores, não sabendo como
lidar com os mesmos (FERRER-PÉREZ, 2014). Este tipo de violência acontece frequentemente
como parte de uma cultura que normaliza relações abusivas em diversos ambientes sociais. A
universidade além de atuar como um espaço de pensamento crítico e conhecimento não é isento
da violência, sendo um ambiente propício para a disseminação de comportamentos, práticas e
atitudes que podem se tornar abusivas, ainda mais quando estão motivadas pelas relações
hierárquicas entre professores e alunos, a competição entre pesquisadores e a mercantilização
da educação (COELHO, 2018).
Dados sobre a violência nas instituições de educação superior indicam que mais de 70%
das vítimas são mulheres, ainda mais mulheres negras (BARROSO; LIMA, 2021). Os locais
das agressões são variados, podendo ocorrer nos “trotes”, nas festas universitárias, nas
repúblicas, salas de aulas, laboratórios, áreas abertas nos campis, ginásio, cafeteria, etc. Em
uma pesquisa com estudantes de uma universidade federal do interior do estado de São Paulo,
verificou-se que as repúblicas alcançaram a maior porcentagem de ocorrências (55%), seguida
das salas de aulas (52%) e por último as áreas abertas do campus (47%) incrementando-se se
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fosse de noite, pois a violência aumenta até um 67% (MONTRONE, 2020). Cumpre destacar
que um estudo feito numa universidade do sul do Chile em relação com a violência no namoro
em estudantes universitários, declararam que um 57% da amostra total (7.479 estudantes)
reportou ter sofrido violência psicológica, 26% sofreu violência física e um 20% sofreu
violência leve descrita por eles mesmos como os empurrões e tapinhas, enquanto que um 60%
recebeu chutes e socos do parceiro(a) (VIIZCARRA; PÓO, 2011).
O estupro também pode acontecer nos relacionamentos íntimos, por meio da coerção, o
consentimento pode ser forçado por ameaças, ou pelo uso de drogas ou álcool. Num
relacionamento, por exemplo, o consentimento é normalmente fornecido por comportamentos
não verbais potencialmente ambíguos, que nem sempre são fáceis de ler. O consentimento é um
processo contínuo (HILLS, 2020). Em algumas situações o consentimento do(a) parceiro(a)
pode ocorrer para construir intimidade, satisfazer o parceiro(a), flerte, evitar a tensão no
relacionamento, evitar machucar os sentimentos do parceiro(a) e manter a relação, ou sentir-se
obrigada a ter relação (MUEHLENHARD; PETERSON, 2005). Logo, a experiência do estupro
num relacionamento é muito difícil de divulgar, pois a maioria acredita que é “normal”, não
querem fazer público o acontecido porque isso pode lhes causar dano ou vergonha, ou
simplesmente não se sentem preparadas para falar disso com outros. O tempo de divulgação a
partir do episódio pode ser mínimo de seis meses, mas em aqueles relacionamentos de curto
prazo são mais propensos a revelar com antecedência os fatos (KOUTA, 2015).
Por outro lado, pensando nas consequências das vítimas da violência, estudos revelam
impactos, por exemplo, no desenvolvimento da sexualidade (NAVARRO, 2021). A pesquisa
de Turchik (2014) com uma amostra de 309 estudantes universitárias nos Estados Unidos,
indica que aquelas mulheres que vivenciaram coerção sexual ou estupro eram mais propensas
a relatar uma falta de desejo sexual posterior ao episódio e tinham dificuldades de atingir o
orgasmo. Outro estudo transversal com uma amostra de 9.145 entre estudantes de graduação e
pós-graduação professores e funcionários expôs as dificuldades de manter relações afetivas
sexuais com parceiros íntimos após a experiência traumática (BERGERON, 2019).
Alunos com histórico de violência na infância, são mais propensos a sofrer uma
revitimização e agressões no contexto universitário, trazendo como consequências a ansiedade,
depressão, baixo rendimento acadêmico, insônia, e/ou transtorno de estresse pós-traumático
(POTTER, 2018). Sequelas nos sobreviventes podem incluir consequências psicológicas ; e
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acadêmicas/profissionais; comportamentais; físicas; sexuais; sociais e alimentares
(BERGERON, 2019, FIELDING-MILLER, 2019; ROTHMAN, 2019; MENNICKE, 2019;
POTTER, 2018; CONLEY, 2017; DELOVEH, 2017; ZINZOW, 2011; FIELDING-MILLER,
2019; DONDE, 2018; GROFF, 2016; KEEFE, 2018; MAMARU, 2015; JORDAN, 2014;
LINDQUIST, 2013; MARTIN-BAENA, 2016; ZINZOW, 2011; CASTAÑO-CASTRILLÓN,
2010). As doenças sexualmente transmissíveis são consequências graves após violência sexual.
DREZETT (2003) menciona que entre as mais graves estão a gonorreia, clamídia, sífilis,
hepatites B ou HIV. O problema da gravidez por estupro se agrava na medida em que menos
de 10% das mulheres que sofrem violência sexual recebem a anticoncepção de emergência nos
serviços de saúde, mesmo quando há risco de gravidez. Da mesma forma, o estudo de Potter
(2018) destaca-se as consequências na saúde reprodutiva, relacionado também com problemas
gastrointestinais. Em muitos casos após o estupro podem manifestar-se infecções sexualmente
transmissíveis.
Quando mulheres sofrem qualquer tipo de violência, há um comprometimento na
construção da imagem corporal, tendo repercussões negativas na percepção de seu próprio
corpo e, como tal, em sua consciência corporal, entendida como a “percepção consciente das
estruturas e segmentos do próprio corpo” (LIMA, 2015, p.85). A dissociação ou desagregação
aparecem em contextos traumáticos e implica que dois ou mais processos mentais não estão
associados ou integrados. Desde a psicologia clínica podem ser entendido desde três
perspectivas diferentes, como expressa (JUNIOR, 2006): 1) para caracterizar módulos mentais
semi- independentes ou sistemas cognitivos não acessados conscientemente e/ou não integrados
dentro da memória, identidade e volição conscientes do indivíduo; 2) como representação de
alterações de consciência do indivíduo, em situações em que certos aspectos do Eu e do
ambiente desconectam-se; e 3) como mecanismo de defesa associado a fenômenos variados,
tais como amnésia psicológica, eliminação de sofrimento físico ou emocional, e não integração
crônica da personalidade.
Estudos enfatizam as barreiras para a denúncia, como um fator que diminui a
probabilidade da vítima de buscar ajuda (ALLEN, 2015). Uma das principais refere-se ao medo
de não ser acreditado, ser julgada e questionada quanto à vida sexual e íntima, sentindo
vergonha e culpa (BOGEN, 2019). Isso poderia ser entendido como uma vitimização secundária
que refere se a atitudes que culpam a vítima pelo acontecido, comportamentos que vêm de
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profissionais de sistemas de saúde, legal ou até o entorno familiar e de amizades, causando um
trauma adicional nas mesmas. Uma estudante que se atreve a denunciar no contexto da
instituição acadêmica e não recebe o acolhimento esperado, pode ter uma exacerbação dos
sintomas físicos ou emocionais associados ao trauma (ALLEN, 2015).
Existe uma insatisfação dos estudantes pelas nulas respostas das instituições acadêmicas
em relação com as denúncias a respeito dos abusos (BASHONGA. KHUZWAYO, 2017). E
como resultado dessas múltiplas expressões de violência nas instituições de ensino superior, as
estudantes determinaram organizar-se coletivamente com o fim de ter mais força e visibilizar
as situações de abuso e negligência pelas quais muitas alunas eram vítimas, ações concretas que
desafiaram as autoridades das universidades (BUSTAMANTE, 2019). De fato, há uma
deficiência na geração de protocolos que preveem e sancionem o assédio e violência sexual no
âmbito universitário.
Considerando os possíveis efeitos da experiência de violência sexual em estudantes
universitárias, a presente pesquisa teve como objetivo geral identificar possíveis consequências
e impactos na corporeidade e sexualidade em estudantes que sofreram violência de género
dentro do contexto universitário, no especifico abuso e violência sexual. Para isso foram
considerados como objetivos específicos: 1) Descrever as situações de violência de género
(atual ou passado) das estudantes, dentro do âmbito universitário; 2) Mencionar impactos da
violência sexual na corporeidade e na percepção da sua imagem corporal. 3) Identificar
possíveis consequências no desenvolvimento sexual das estudantes universitárias.
2. MÉTODO
2.1. Participantes
Foram entrevistadas 11 estudantes do gênero feminino, a maioria de universidades
federais do estado de São Paulo e uma estudante pertence a uma universidade do estado do
Paraná. A idade variou entre os 21 e 36 anos (M=22; DP=4,65), sendo que 72,7% (N=8) de
graduação e o 27,3% (N=3) da pós-graduação.
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2.2. Instrumentos
4
1) Questionário de caracterização das participantes, elaborado pela pesquisadora para
verificar dados de identificação das participantes (gênero, ocupação, qual é o seu
relacionamento afetivo atual? Você tem filhos?) e a experiência de violência de gênero dentro
do âmbito universitário).
2) Roteiro de entrevista semiestruturado: O roteiro foi elaborado pela pesquisadora e
continha perguntas abertas que garantem as dimensões no contexto da violência, revelação do
abuso, redes de apoio, impactos da violência percebidos pelas entrevistadas em diversos
âmbitos da sua vida, focando na relação com seu corpo e sexualidade. Algumas perguntas
foram: Quem foi a primeira pessoa que você contou o que tinha acontecido? Quanto tempo
depois você foi capaz de verbalizar o que aconteceu? Passou por períodos de depressão e / ou
ansiedade? Você conseguiu lidar com isso? Você experimentou perda de interesse ou de prazer
sexual após a experiência de abuso? É capaz de dizer quando algo incomoda ou se sente
desconfortável?
2.3. Aspectos éticos
O projeto de pesquisa foi encaminhado e aprovado no Comitê de Pesquisa com Seres
Humanos da UFSCar (CAAE:15113119.6.0000.5504).
2.4. Procedimentos
Os critérios de inclusão na pesquisa foram, a) estudantes universitárias (mulheres cis ou
trans); b) com idade igual ou superior a 18 anos; c) que tinham experimentaram ao menos um
episódio de abuso, agressão e ou violência sexual (atual ou passado) dentro da universidade ou
por parte da comunidade universitária, e d) não ter sintomas psiquiátricos ou transtornos de
4
Foram utilizados outros instrumentos na investigação, os quais podem ser revisados no texto completo na seguinte
referência. Navarro, G. (2021). Cartografia do corpo em estudantes universitárias vítimas de violência sexual. .
Dissertação (Mestrado em Psicologia) –Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2021. Disponível em:
https://repositorio.ufscar.br/handle/ufscar/15592.
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personalidade. Assim, 22 estudantes foram elegíveis para a etapa das entrevistas, nove
desistiram de continuar sua participação devido a: 1) não responder aos instrumentos e/ou 2)
manifestaram diretamente não querer continuar pela dificuldade de falar da situação de
violência e não contar com um espaço privado para se conectar na entrevista. Onze participantes
concordaram em fazer a entrevista online. No contato para agendar a entrevista, a pesquisadora
solicitava que a participante garantisse condições básicas para sua realização online. Por
exemplo, um espaço que assegura o mínimo de interferências externas e/ou excessivo ruído
ambiental, além de gerar privacidade e confiança para o relato das experiências, pelo menos
por um tempo estimado de uma hora. Enquanto aos recursos necessários era indispensável um
computador com conexão à internet, câmara web e microfone, lápis e papel. Na data agendada
de acordo com a disponibilidade das mesmas, foi enviado o link do Google Meet via e-mail.
As entrevistas ocorreram virtualmente. Além da pesquisadora, uma psicóloga com experiência
no atendimento de mulheres vítimas de violência e que conhecia os objetivos da pesquisa
participou da entrevista. O tempo de realização das entrevistas foi de cerca de uma hora e meia.
A entrevista foi conduzida a partir da técnica de Linha do Tempo. Por meio da percepção
e experiência, busca descrever e explorar o que ocorreu a partir do ponto de vista da participante
(BERENDS, 2011), favorecendo uma maior compreensão da história de vida e ênfase nos
respectivos contextos (CALLEWAERT, 2007). Adriansen (2012) e Kolar et al., (2015)
destacam que a linha do tempo por ser uma representação visual dos principais eventos na vida
das pessoas, permite que o entrevistado observe sua própria história e, ao mesmo tempo, veja o
que está sendo observado pelo entrevistador. Ademais, ela favorece que o participante pense
ativamente a respeito de si mesmo e, consequentemente, contribui para que ele tenha uma
compreensão maior de suas próprias vidas. Finalmente, "a construção da linha do tempo é um
esforço colaborativo compartilhado pelo entrevistador e pelo entrevistado". (ADRIANSEN,
2012, p. 43).
Para executar de maneira positiva uma linha do tempo nas entrevistas foi o princípio
organizador dos eventos e não ao pressuposto de linearidade e coerência. A seguir, foi preciso
ter clareza da periodicidade da linha do tempo, ou seja, começar com a uma data X e terminar
na data Y, seguindo com perguntas sobre eventos importantes. Como expresso por Kolar (2015)
é benéfico se pensarmos que garante aos participantes conforto para falar e, assim, ter controle
de uma certa maneira da entrevista; aspectos positivos e negativos devem ser privilegiados,
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deixando isso como parte da ética da ferramenta metodológica. Uma das estratégias que ele
aponta era pedir aos participantes que pensassem em suas aspirações futuras para um
fechamento positivo da entrevista (KOLAR, 2015).
A cartografia corporal foi utilizada como método de pesquisa biográfica, incorporando
o corpo como elemento para evocar a memória. Essa fase é caracterizada por seu nível de
densidade simbólica, pois a partir daí é construída uma representação dos sujeitos, oferecendo
uma interpretação intertextual da construção de uma biografia corporal (SILVA, 2013). A
corporeidade como um espaço textualizado possibilita novas janelas de metodologia. Com os
mapas corporais, então, conjugam-se preocupações sobre o significado de sua corporalidade,
expressos como linguagem, incorporados na biografia de cada sujeito.
2.5. Análise de dados
Os dados obtidos com os instrumentos foram computados de acordo com as
recomendações de cada instrumento e, posteriormente, foram realizadas análises de estatística
descritiva. Já os dados qualitativos obtidos a partir das entrevistas, linha do tempo e cartografia
corporal, foram organizadas segundo as indicações de Minayo (2011). Primeiro foi feita a
transcrição das 11 entrevistas e das anotações da pesquisadora. Seguida de uma leitura íntegra
das entrevistas e posterior codificação de acordo com as dimensões do roteiro de entrevistas.
Posteriormente, foi utilizado o software Atlas.ti Cloud, gerando categorias que concordaram
com as dimensões estabelecidas e com a literatura revisada, além disso surgiram algumas
categorias não consideradas previamente, mas que resultam complementares para a discussão.
De acordo com Bar-On (2006, p. 33) as análises da linha do tempo podem dar-se a partir
de uma análise cronológica (história de vida). A extração de datas acompanhada de uma análise
sequencial dos dados biográficos, como histórico de abusos, tipos de manifestações de
violência, lugar de ocorrência, quem ou quem foram os agressores, redes de apoio e tempo de
verbalização de violência. O mapa corporal foi analisado por meio de uma análise comparativa
dos principais eixos: Consequências e impactos na sexualidade, relação com sua imagem
corporal, desconforto do gênero feminino, consequências psicoemocionais, impacto no âmbito
social e relações interpessoais, percepção da maternidade e reflexões finais.
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3. RESULTADOS
Seguindo as diretrizes éticas na pesquisa decidiu-se designar uma nomenclatura
diferente para cada uma das participantes, assegurando dessa maneira o sigilo da informação.
Foram escolhidos nomes de flores para se referir às mesmas.
Oito participantes estavam cursando algum semestre na graduação e três estavam em
cursos de pós-graduação. A idade variou entre os 21 e 36 anos de idade (M=23,9; DP=4,5).
Apenas uma estudante manifestou ter um filho (Azaléia, 36 anos). No âmbito das relações
afetivas cinco revelaram não estar em nenhum tipo de relacionamento no momento da
entrevista, três estavam namorando e morando com o parceiro(a) e três estavam namorando,
mas morando sozinhas.
Os resultados estão conformados pela triangulação entre alguns parágrafos das
entrevistas, as linhas do tempo e os mapas corporais
5
elaborados pelas próprias participantes,
evidenciando diversas situações de violência de gênero acontecidas não somente no contexto
universitário, mas também falaram de episódios na infância, no contexto familiar e em relações
afetivo sexuais com parceiros/as íntimos.
As manifestações de violência foram variadas e dependiam do contexto e do agressor.
Os episódios relatados pelas estudantes são situados tanto dentro dos campis universitários
(moradias estudantis, laboratórios de pesquisa e salas de aulas), como fora dos campis
universitários (repúblicas, calouradas e festas). Também aconteceram situações
constrangedoras, por exemplo, o assédio de estranhos no trajeto ida e volta à universidade,
perseguições em carro por parte de outros alunos da universidade de distinto curso. Os
agressores no contexto universitário mencionados com maior frequência foram: professores, a
maioria homens; colegas do laboratório; mestrandos, chefes do estágio obrigatório e também
colegas do curso até inclusive mulheres que não acreditavam a versão das estudantes e
revitimizavam o abuso e professoras mulheres que tentavam minimizar a situação. Nos casos
de assédio na rua ou áreas abertas da universidade identificavam o agressor como pessoas
5
Os desenhos das linhas do tempo e mapas corporais podem ser revisados no documento completo na seguinte
referência. Navarro, G. (2021). Cartografia do corpo em estudantes universitárias vítimas de violência sexual..
Dissertação (Mestrado em Psicologia) –Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2021. Disponível em:
https://repositorio.ufscar.br/handle/ufscar/15592.
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desconhecidas, alguns deles não eram estudantes mesmo da universidade, mas rondavam pela
cercania dos campis, outros eram estudantes de cursos diferentes.
3.1. Assédio sexual em diferentes espaços universitários.
Nas festas universitárias surgiram situações que ultrapassavam o consentimento das
estudantes, assim atos de conotação sexual tais como caricias, toques e beijos, pressões para
manter relações sexuais e comentários sexistas foram frequentes nesse espaço de encontro
social. Situações de estupro também foram mencionadas nas festas pelas participantes sendo
algumas delas vítimas direitas ou testemunhas de alguma das situações descritas a continuação:
“bom...ele se sentiu com o direito de me tocar, eu estava alterada havia bebido, mas
isso não dava nenhum direito a ele de fazer nada, e ele...me tocou sem mim permissão,
me levou para um lugar bem afastado da festa, eu não percebi...quando eu percebi já
estava em um lugar, eu não percebi que ele me estava me afastando dos meus amigos
e ele me tocou por baixo das minhas roupas e depois disso ele faz sexo comigo sem
mim permissão. Eu pedi para ele parar, pedi para ele sair de cima de mim, pedi para
ele não fazer aquilo e ele continuo fazendo e foi péssimo, foi uma experiência horrível,
eu lembro que me senti suja, que me senti usada, foi uma experiência horrível e eu só
queria sair dessa situação, eu não conseguia falar, não conseguia gritar, não conseguia
andar, fiquei paralisada sabe”. Mimosa
Nas interações entre professores/as e os estudantes, foram descritas situações percebidas
como assédio sexual por quem as vivenciaram. Mencionaram insinuações de conotação sexual,
piadas e comentários sexistas, além de falas que possuíam relação direta com o corpo das
estudantes ou sua forma de vestir. Algumas atitudes que reforçam a relação de hierarquia entre
professores e alunos referiram-se a pedir favores sexuais em troca do sucesso acadêmico e
consequências em seu histórico acadêmico quando elas recusaram as investidas
“um professor que fui a falar sobre a disciplina dele e ele...não lembro exatamente o
que ele falou mais que eu poderia ir mais vezes, que a gente poderia falar outras coisas
insinuando que poderia ser sexo”. Azaleia
“e ele fez insinuações, sabe! foi bem chato, foi bem desagradável eu fiquei sem graça,
não sabia o que falar, só fui embora, mas ele foi bem assim... pergunto para mim o
que eu poderia fazer por ele sabe, foi bem tenso porque ele é um professor sabe...isso
foi o 2017, foi a primeira vez que eu vivi uma situação dessa na universidade”.
Mimosa
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Foram relatadas situações em que os professores aproveitavam sua posição para tocar
partes do corpo sem o consentimento das alunas.
“um professor que pediu para sair como modelo para explicar um exercício e aí foi
um menino e ele falou! ah não tem que vir uma mulher! e ele falou: vem você, e aí eu
fui não lembro se foi para calcular não sei na verdade. Mas ele falou as mulheres tem
cintura e apertou minha cintura frente na sala inteira e foi muito constrangedor assim,
e não tinha nada ver apertar minha cintura para fazer o exercício sabe, o formato do
corpo masculino ou feminino não afetava em nada para fazer o exercício, mas ele
podia usar um menino como modelo, mas ele queria usar uma mulher modelo”.
Azaleia
Outros também humilhavam as alunas com injúrias que minimizam sua capacidade
intelectual, pelo fato de estar num curso que historicamente foi ocupado por homens. Ademais,
havia comentários racistas que desvalorizavam a origem geográfica e socioeconômica das
estudantes. Menciona-se uma normalização destas atitudes por parte dos professores e colegas.
“Meu primeiro dia de aula, falavam de forma pejorativa para as pessoas que estavam
fora de São Paulo, numa região que eles consideravam muito pobre, seus comentários
eram bem racistas e pela cor da minha pele e também a forma de falar”. Rosa
“…professores colegas é horrível, sabe. Os colegas do curso tinham até grupo de
WhatsApp para comentar sobre as meninas, compartilhavam piadas muito escroto, de
mulher pelada, chamando a meninas de puta, eu descobri porque um amigo. (o grupo
era só de homens rejeitavam também aqueles que eram visivelmente gays), ele me
comentou e ele era gay, aah e tinha uma menina que saiba ela achava engraçado isso”.
Rosa
Nos relacionamentos íntimos, as participantes relataram ter sofrido violência sexual e
manipulação emocional, além da violência psicológica que fazia parte do cotidiano no
relacionamento. A continuação a participante Lavanda relata alguns desses episódios:
“meu namorado falava assim de se matar, dependendo de algumas atitudes minhas
assim, !eu não quero isso¡, !ah tá então vou pegar o carro e vou embora¡ pegava o
carro e que eu vou me matar…”Lavanda
“…quando ele ficava estressado, ele batia na parede socava na parede, socava os
objetos e isso me assustava muito, tomava um soco e isso...então era muito explosivo”
Lavanda
O assédio sexual por parte de desconhecidos no trajeto na universidade também foi
mencionado como situações do risco para as estudantes:
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“eu estava mais perto da universidade e estava de a pé com uma amiga e aí passou um
cara com um carro e aí chamou a gente, só que aí minha amiga respondeu ela falou
assim xingando a ele” Margarida
“Em relação nas festas e o transporte público ainda não sei dizer, mas eu ainda me
sinto muito insegura, muito, muito eu fico sem graça de sair com determinada roupa
nas ruas, fico falando “nossa vão chamar a atenção, vão me seguir, vão acontecer
algum coisa ruim” eu me sinto culpável por usar alguma roupa...” Lavanda
3.2. Redes de apoio
Esta categoria descreve, primeiro, a importância de contar com uma rede de apoio e
suporte no contexto de violência, e, segundo, identifica quais foram essas pessoas que estiveram
perto no momento de verbalizar os abusos. A maioria nomeou as amizades em geral como a
primeira rede de apoio, seguida dos seus pais ou familiar de confiança, seu parceiro (a), também
alguma professora ou professor que consideraram poderia escutá-las. Outras optaram por falar
com a psicóloga nas sessões de terapia.
“eu acho que foi por conta das conversas com as amigas, porque elas assim, quando
a gente está em um relacionamento abusivo a gente não consegue enxergar muito...”.
Lavanda
“eu falei para três amigas que elas eram do meu grupo de graduação e para um amigo
também e eles ficavam mais perto quando eu tinha que ir embora mais tarde ou uma
delas ficava na universidade me esperando até ir-me a buscar” Rosa
3.3. Tempo de verbalização da violência.
As estudantes relataram as dificuldades de expor com outros os episódios de violência
acontecidos. O tempo estimado em verbalizar para alguns estudantes foi de até um ano depois
do ocorrido.
“Um ano depois conversei com um amigo e como era um processo de
mediação com aquela situação, procurei a psicóloga universitária, mas
realmente não foi uma boa experiência porque esperava como ter apoio
ou o que poderia fazer”. Violeta
“Eu fui para fazer um Boletim de ocorrência e o policial que me atendeu
falou assim, “não tem como a gente registrar o B.O. porque você queria
né”, ele falou assim desse jeito, e aí eu não registre B.O.”. Mimosa
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“se eu acho que me afetou mais, de certa forma foi bom porque foi a
primeira pessoa que contou pra ele tudo o que tinha acontecido, mas ao
mesmo tempo me fez mal porque não senti o apoio que queria ou
alguém assim poderia acompanhar o que eu estava começando a superar
depois de um ano, pois foi depois de um ano que contei e procurei ajuda
e conversei com os amigos, aí foi uma frustração pois as pessoas não
davam importância ao que tinha acontecido” Violeta
3.4. Dificuldades de estabelecer relações afetivo sexuais.
A partir da revisão inicial dos mapas corporais
6
, algumas estudantes identificaram a
dificuldade de estabelecer qualquer tipo de relação interpessoal, posterior a sua experiência de
abuso e violência sexual, enfatizando na complexidade de se- envolver em novas relações
afetiva sexuais.
Figura 1 – Mapa corporal da estudante Urze
"Hoje em dia a gente já não se enamora mais, e eu vejo que não, eu não
gostava de aquilo, eu não colocava o corpo para aquilo e desde então
eu não me relacionado com ninguém. Eu terminei o relacionamento em
outubro e estou fugindo de relações e de qualquer pessoa que se
aproxime a mim, não estou receptiva. Na verdade, que hoje quero não
me relacionar mais com homens, eu sinto que quero me relacionar com
mulheres eu vou investir em isso, e assim eu trabalho isso com minha
psicóloga, trabalho essa questão, e inclusive eu tenho transtornos de
personalidade” Mimosa
6
A descrição dos mapas corporais das participantes, foram transcritos pela autora com o intuito de manter o sigilo
das estudantes.
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Do mesmo modo, uma estudante manifestou claramente vontade de começar uma nova
relação priorizando o carinho, respeito e compreensão mútua (Azaleia).
A estudante Rosa falou da dificuldade de se conectar com outras pessoas, depois das
experiências de abuso, que motivou nela começar sua vida sexual mais tarde segundo sua
percepção, isto em comparação com outras meninas da sua mesma idade. Olhando a
sexualidade como um tabu do qual ela (s) preferia não falar é mesmo assim, esquecer esse
aspecto da sua vida.
Figura 2 - Mapa corporal da estudante Rosa
O sentimento de medo emergiu de maneira recorrente no relato dos desenhos das
participantes, sendo nomeado como um dos principais obstáculos na hora de marcar um
encontro sexual com outro (a) ou estabelecer formalmente relações afetivas sexuais (Azaleia,
Urze, Girassol, Violeta, Lírio, Margarida, Lavanda, Jasmim). Também o medo de se envolver
novamente numa relação abusiva (Azaleia).
A falta de desejo e impossibilidade de sentir prazer na intimidade, seja com sigo mesma
ou com outros (as), foi descrita como um dos impactos na sexualidade produto da violência
sofrida (Orquídea, Azaleia), mesmo com a dificuldade para atingir o orgasmo. Questão que se
pode vincular de acordo a seus relatos também, com a falta de conhecimento que elas sentiam
com seu próprio corpo e sexualidade (Orquídea). Algumas descreviam seu corpo como uma
casca (Mimosa), um objeto distante e fora delas (Violeta) (Lavanda).
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Figura 3 - Mapa corporal da estudante Orquídea
A participante Orquídea manifestou contrariamente às demais, que sua vida sexual
sempre foi muito ativa. De fato, após os abusos sofridos a frequência dos encontros sexuais
aumentaram, argumentando que sentia seu corpo alheio pelo que simplesmente era utilizado
como um instrumento para dar prazer a um outro (a), ficando ela “fora” dessa interação:“...ter
o corpo disponível para outros que não fosse eu” Orquídea.
Pode-se identificar uma imagem corporal e uma subjetividade que discorda em ocasiões
com a imagem real delas. Expressam “horror” em palavras delas de se olhar no espelho, que
em alguns casos eram justificadas por situações de bullying acontecidas no percurso da sua vida
(Rosa).
“eu sempre vim alguma característica minha muito angustiada eu acho que está muito
relacionado com isso, com a ideia do masculino, do que homem não gosta, ou
simplesmente não me sinto confortável com meus peitos. sempre tive muita angústia
com meu cabelo porque não é o cabelo mais fácil de lidar do mundo e aí eu acho que
me sexualize muito então eu fiquei isolada dos homens porque desde pequena eu acho
que fui sexualizada pelos homens e eu acho que isso percebi recentemente por isso
me incomoda ser bonita ser considera uma mulher bonita às vezes me gera muita
angústia ir para os lugares” Girassol.
As apreciações pessoais do seu próprio corpo chegam a sinalizar uma lista de
imperfeições e reparos com seu corpo. Assim, alguns estudantes mencionam a imperfeição do
seus genitais, o grande dos seus seios, outras diziam que eram muito pequenos, não se sentiam
“bonitas”, criticavam seu cabelo, sua pele (Girassol), (Azaleia), (Orquídea), (Jasmim).
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Figura 4 - Mapa corporal da estudante Girassol
3.5. Desconforto do gênero feminino
Participantes como Mimosa, manifestaram explicitamente a rejeição de ser mulher ou
pertencer ao gênero feminino após o episódio de abuso. Os questionamentos sobre ser mulher
estão diretamente relacionados com se sentir vulnerável, pensando que ter genitais femininos
significa fraqueza, sendo mulher estão expostas a que demais pessoas possam transpassar seus
limites, tocar sem sua permissão.
Outras sentem medo de expor seu corpo em público, em situações que gostariam de usar
peças de roupa mais leves como os shorts ou blusinhas pequenas, sentem-se muito observadas,
constrangidas e intimidadas, pelo que evitam fazer uso desse tipo de roupa já que causa um
prejuízo para elas (Margarida).
"Não me sentia mais confortável com ser mulher, não sentia confortável com ter uma
vagina sabe, foi algo bem perturbador, meu desejo era poder ser assim homem para
ver se me tratariam de igual a igual, sabe...” Jasmim
“não sei, acho que eu vejo uma carcaça mesma, uma carcaça dura envolta assim,
como se eu tentasse sempre de me proteger de tudo os espaços” Urze
3.6. Consequências psicológicas e emocionais
As estudantes manifestam sentir vergonha e culpa após os episódios de violência (Urze).
Ansiedade, insegurança, medo e angústia, depressão e pesadelos constantes (Azaléia,
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Margarida, Urze, Lavanda, Girassol, Orquídea). O medo joga um papel decisório no bem-estar
e desenvolvimento futuro das estudantes. Muitas questionam suas capacidades, dizendo que
não são suficientes ou capazes de desenvolver-se na vida pessoal, acadêmica e profissional
(Jasmim, Mimosa).
“eu chorava às vezes ficava tremendo um pouco com o coração acelerava”
Margarida
“estava triste mesmo acho que me sentia um pouco culpada porque eu pensava meu
deus eu estava muito bêbada se não houvesse estado bêbada houvesse reagido, mas
depois eu comecei a perceber que não era minha culpa e hoje em dia eu só sinto raiva
eu acho” Margarida
“A universidade como eu não fiz nada ou nada fiz nesses casos, então foi isso que
também caí em depressão, por causa de tudo isso. Afetou muito minha autoestima,
sexualmente me afetou igual, me afetou muito em todo, sentir que as pessoas podiam
fazer qualquer coisa comigo”. Violeta
3.7. Consequências na sexualidade e sintomas no físico
Estudantes refletem e lembram os sinais do seu corpo após sofrer o abuso ou experiência
de desconforto. Algumas mencionaram sentir uma tremedeira geral em seu corpo, suor nas
mãos e pés, nó na garganta, dor de cabeça, enxaquecas graves e dor no peito (Margarida,
Azaleia).
Figura 5 - Mapa corporal da estudante Azaleia
“e eu fiquei com medo também de ter engravidado, então eu estava na paranoia sabe,
eu passei vários meses fazendo os testes para confirmar que eu não estava grávida
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sabe que não havia acontecido nada...sem contar que que criei uma disforia com
minha genital sabe…”Jasmin.
3.8. Impacto no âmbito social
No âmbito social, as participantes mencionaram dificuldades para poder comunicar-se
e estabelecer qualquer tipo de relação com outras pessoas. A incapacidade de não confiar nos
outros era o principal limitante nessas interações, outras justificavam esse bloqueio pela timidez
para concretizar uma aproximação.
“sim, eu acho que eu fiquei assim um pouco mais afastada assim, até acabei um tempo
sem festa e de se relacionar com as pessoas também, depois de o último
relacionamento eu não tive um relacionamento assim longe, eu sai com outras
pessoas, mas nada duradouro assim” Urze
“Eu senti que não podia fazer nada sobre isso, eu não fui capaz de falar com ninguém
sobre isso por um longo tempo, então o que eu fiz foi me isolar, como se eu não
quisesse mais falar com ninguém, eu não fiz nada, eu estava lá fora e fui embora da
moradia” Violeta
“eu pelo menos fiquei com muito medo de se a pessoa é muito parecida assim
agressiva de se parecer em alguma forma com a pessoa, acho que a gente vai se
fechando assim por algumas coisas, acho que o relacionamento é de umas coisas que
eu me fechei” Urze
Violeta menciona que após ter sofrido o abuso, não teve maior impacto no âmbito
acadêmico. Argumenta que a estratégia que ela achou para lidar com o trauma foi colocando
toda sua atenção nos estudos.
“A psicóloga me fez sentir que como se ela considerasse não ser algo importante o
estupro porque eu não estava indo mal na faculdade, então ela estava se perguntando
se isso estava afetando meu desempenho acadêmico. E não realmente, porque o que
eu fiz para cuidar de mim foi estudar...” Violeta
3.9. Percepção da maternidade
A categoria emergente da maternidade esclareceu como alguns participantes não tinham
vontade de ser mãe (Violeta), outras não negaram a possibilidade, mas depois da experiência
de abuso ficaram com medo de não ter a capacidade de entregar a proteção a seu filho (a)
pensando em que a história de abuso fosse a repetir-se (Mimosa). Outras rejeitam com
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segurança, ficando uma opção não viável, seja por uma desvalorização como mulheres e medo
de não encontrar um “companheiro bom” ou contrariamente relacionar-se com um parceiro
íntimo que exerça violência sobre elas ou medo de que aconteça o mesmo com seus filhos (as)
no futuro.
“e, eu tenho medo, sei lá...se eu tivesse uma filha, sabe, não quero um ser humano
feminino neste mundo sinceramente... e aí a gente fica o tipo com medo pelas relações
futuras, eu imagino como era antes, imagino como vai ser depois e eu vejo muito isso
nas meninas que já sofreram uma situação assim, já não querem ter filhos, não querem
se casar. Isso meio que destrói nossos sonhos, nossas expectativas para o futuro, é
triste, é uma realidade muito triste” Mimosa
“desde antes, minha opinião sobre isso é como se eu não quisesse, mas isso também
tem a ver com a minha infância e a maneira como eu como eu cresci, minha família é
só de mulheres, meus pais separados tão bem, como vou ver as mães solteiras e ver o
que elas têm que passar tendo filhos como eu não quero essa vida e o que a
maternidade acarreta, não sei se tem a ver com isso o que passe pero sigo pensando
que não quero” Violeta
Apesar das dificuldades que tiveram que experimentar e que ainda estão enfrentando,
as participantes foram capazes de refletir sobre seu presente e futuro, ressaltando aspectos que
gostariam melhorar tanto fisicamente como no âmbito emocional ou questões que já colocaram
em prática (Girassol, Lavanda, Urze, Jasmim). Mencionaram o estabelecimento de limites
como uma estratégia de autocuidado que estavam adotando. Novos hábitos de cuidado com seu
físico, fazendo exercícios, preocupando-se com sua aparência pessoal, alimentando-se mais
saudavelmente. Trabalhando numa comunicação não violenta consigo mesma, desde a empatia,
não sentindo culpa do acontecido. Mencionaram ter vontade de focar a atenção nas coisas boas
dela e não ressaltar seus defeitos. Outras gostariam de relacionar-se com mais confiança com
as pessoas e não ser tão tímidas.
Em relação com sua sexualidade, algumas mencionaram que hoje estão cuidando de seu
corpo como um “templo”, assim também pensando que o prazer não depende só de outras
pessoas (Orquídea), que é uma questão de conhecimento individual e de amor-próprio.
A seguir uma série de falas das estudantes:
“eu pretendo trabalhar um pouco os traumas que eu tenho, espero que melhorem
porque a gente fica sempre se isolando e se privando das coisas e se protegendo, para
mim é muito difícil, então não sei assim na mesma área de atuação do meu trabalho,
na área da saúde muitas vezes acolhendo situações como estas, então apesar de ser
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difícil eu acho que a gente tenta estar preparado para saber o que fazer, como lidar,
como ajudar aos outros, como se ajudar” Urze.
“eu espero que isso continue e que eu acabei melhorando, eu sinto que eu estou é um
constante processo de aprendizado que eu erro também, ou que eu errei isso me deu
para reconhecer essas situações e outras que eu já vivenciei o que eu posso aprender
ou ensinar para outras pessoas, acho que são lesões que eu vou levando e que eu espero
que pelo resto da minha vida possa ir aprendendo” Lírio
"conseguir ter prazer por mim mesma..."Orquídea
“bem o que eu mais gostaria hoje e o que estou tentando fazer é nunca permitir que
alguém se aproveite de mim de novo...” Violeta
4. DISCUSSÃO
O objetivo do presente estudo foi identificar possíveis consequências e impactos na
corporeidade e sexualidade em estudantes que sofreram violência sexual dentro do contexto
universitário. Observou-se que a maioria das participantes que cursaram estudos de graduação,
relataram ter sofrido algum tipo de violência no contexto universitário, critério fundamental
para a continuidade desta pesquisa.
É sabido que o ingresso na universidade traz benefícios além da aquisição de
conhecimento no âmbito de relações interpessoais, amplia o círculo social, experimentam-se
novas experiências, situações novas, sentimentos de alegria e excitação, além de insegurança e
ansiedade (SANT’ANNA, 2008). O início da vida acadêmica, sobretudo nas festas
universitárias de bem-vinda, em palavras das estudantes, percebia-se como locais de alta
vulnerabilidade para elas e que estava fortemente relacionada com o consumo de álcool nas
festas. Entendendo que sempre a culpa é de quem exerce a agressão e não da vítima, mas o fator
do álcool pode desenvolver situações de risco para as mulheres porque aumenta a probabilidade
de ser alvo de agressões, o álcool pode restringir habilidades cognitivas, portanto, pode diminuir
a percepção de risco (TESTA, 2009), situação que várias estudantes se questionaram dizendo
“se eu não houvesse bebido tanto talvez poderia ter reagido de outra forma”. Outros autores
mencionam que o álcool limita a capacidade física de agir ante uma agressão sexual
(NEILSON, 2017). Nos relatos das estudantes pode apreciar-se como isso aconteceu nos
espaços de conglomeração e diversão, onde as agressões iniciavam com toques em seu corpo
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sem permissão delas, beijos forçados até episódios de estupro que vivenciaram alguns
estudantes e que ao momento de verbalizar conheceram também outras histórias similares.
A desigualdade de gênero manifesta-se num ciclo de violência continua existindo,
questão que é cristalizada no contexto das instituições de educação superior através de práticas
institucionalizadas como o assédio sexual universitário e a manutenção de políticas de
discriminação racial (CALAFELL, 2014). Por exemplo, as situações que vivenciaram nos
chamados “trotes” e que faziam a réplica da época da escravidão no Brasil. Apesar dos diversos
relatos de violência e abusos nos trotes e as consequências nas vítimas, apenas a partir do 1999
com a morte de um aluno na Universidade de São Paulo, que foi vítima de afogamento num
trote, começou a ser considerado como uma prática que deve ser questionada e punida para
erradicação de toda a violência acontecida (BANDEIRA, 2017). Mas ainda é insuficiente, pois
continuam situações de humilhações e preconceitos na convivência universitária. Os dados
coletados indicaram situações de estupro acontecidas anos anteriores no contexto universitário,
de fato uma das ações a modo de prevenção por parte de uma universidade no interior de São
Paulo, foi a criação de uma comissão anti-trote, mais infelizmente pela situação sanitária da
pandemia seu funcionamento não continuou como era esperado.
Com o mesmo objetivo e sendo parte de uma estratégia de prevenção terciária, foram
criados vários coletivos de estudantes que trabalham desde a redução de danos com a
perspectiva do antiproibicionismo. Com o foco na importância de contar com a informação
necessária sobre as substâncias que ingere e os riscos que pode ter seu consumo abusivo. Alguns
grupos colocam o foco na criação do setting, espaços de acolhimento e segurança para os
usuários que estão baixos os efeitos do álcool ou drogas e precisam de ajuda sem serem
julgados. São justamente este tipo de grupos que trabalham na erradicação das violências
acontecidas nas diversas festas universitárias. (DOS SANTOS, 2021).
Pelo anterior, o sentimento de culpa é bastante recorrente e apareceu nos relatos das
estudantes como uma barreira no momento de revelar o abuso. Dados de pesquisas realizadas
com estudantes, indicaram que aquelas que decidem revelar para algum funcionário do campus
universitário, psicóloga ou até a própria polícia, logo se arrependeram expressando que se
sentiram retraumatizadas (EISENBERG, 2019). Cumpre destacar que no momento em que a
vítima recebe uma reação negativa de sua fonte de apoio, por exemplo, culpando-a diretamente
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do acontecimento ou minimizando a violência, dizendo que melhor esqueça, essa atitude pode
ser extremamente prejudicial.
A vergonha também surgiu como uma emoção frequente. Muitas participantes relataram
se sentir inadequada, defeituosa, com medo de ser rejeitada por outros, assumindo uma atitude
submissa e isolando-se do mundo. Existe uma vergonha corporal relacionada com as vítimas
de abuso, que sentem que seus corpos machucados são diferentes e as outras pessoas podem
perceber isso, autores falam que a vergonha passa finalmente a ser parte da identidade da
sobrevivente (CREMPIEN, & MARTÍNEZ, 2010).
Estudos também demonstram que mulheres com histórico de agressões sexuais têm
maior probabilidade de risco de vitimização do que aquelas que não têm um histórico de
violências. Outros descrevem que as mulheres com histórico empregam uma variedade de
métodos comportamentais e estratégias cognitivas para lidar com emoções e pensamentos
negativos relacionados com seu ataque (NEILSON, 2017). Isso vai de encontro aos resultados
obtidos pelas participantes, pois, a maioria relatou episódios de violência em cenários diferentes
do acadêmico, como, por exemplo, as agressões dentro dos relacionamentos afetivos sexuais,
abusos acontecidos durante a infância e adolescência no contexto intrafamiliar e abusos
perpetrados por desconhecidos em espaços públicos.
Experiências sexuais sem consentimento e traumas por violência sexual, como abuso
sexual na infância e estupro, têm um impacto negativo superior a outros tipos de violência que
vão direto detrimento da relação com sua sexualidade (CARDOSO, 2020).
A literatura destaca que o suporte social pode atuar como um precursor do crescimento
pessoal, isto porque influencia no comportamento de enfrentamento das situações traumáticas
e promove uma adaptação bem-sucedida às crises da vida (SCHAEFER; MOOS, 1998).
Procurar apoio social melhora os recursos sociais, provendo de simpatia ou reduzindo
sentimentos no indivíduo de solidão e isolamento (PRATI; PIETRANTONI, 2009). A mesma
importância é ter redes de apoio no momento da divulgação da experiência traumática, ficando
cientes da difícil decisão de revelar o abuso sexual. Neste estudo, as pessoas que mais foram
mencionadas como ouvintes da experiência de abuso, foram amigos(as), familiares ou alguma
professora que consideravam de seu círculo de confiança. De fato, Hassija e Turchik, (2016)
assinalam que num estudo de vitimização sexual em estudantes universitárias em Estados
Unidos, mais do 80% divulgou para seus pares, 10% divulgou para seus familiares, 8% para o
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parceiro íntimo e só 1% para o serviço de acolhimento. Uma vez que tem a oportunidade de
divulgar detalhes de sua experiência de agressão em um contexto de suporte, às sobreviventes
de violência sexual podem fornecer uma oportunidade de receber feedback corretivo,
incentivando assim a reavaliação cognitiva, bem como facilitando o processamento emocional
(HASSIJA; TURCHIK, 2016). Assim, o papel que tem a rede de apoio é fundamental na
prevenção e tratamento da angústia, depressão e ansiedade após o trauma (BORJA;
CALLAHAN, 2006).
Demostra-se que as experiências traumáticas (agressão sexual, tortura, violência
intrafamiliar, etc.) gera uma quebra nos sentimentos de segurança de uma pessoa e uma perda
de confiança nos outros (ECHEBURÚA; AMOR, 2018). Questão que é confirmada pelos
relatos das participantes que mencionaram a dificuldade de estabelecer a confiança com outro,
sem sentir medo ou desconfiança das intenções dos demais. Considerando que os impactos são
transversais e que atua em diferentes níveis, os estudantes mencionaram uma série de
consequências no curto, médio e longo prazo das violências experimentadas.
Nas 11 entrevistas realizadas evidenciou-se mais uma correlação das violências sexuais
com o desenvolvimento da sexualidade. As estudantes manifestaram sentir rejeição ou aversão
com o sexo e com tudo o que implica a sexualidade. Começando por uma evitação do contato
físico e sexual com os demais pelo menos por um tempo, que algumas especificaram até um
ano. O estudo de Pereira (2007) menciona como algumas mulheres que foram vítimas de
violência sexual, após seis meses da agressão sexual não tinham reiniciado a pratica da vida
sexual. Ter relações sexuais ou afetivas sexuais representava, em palavras delas, como um
espaço de vulnerabilidade que rememorava as lembranças hostis. Segundo Pereira (2007), as
fortes lembranças da ocorrência eram frequentes nas mulheres sobreviventes de violência
sexual. Nessa mesma linha, a perda do desejo sexual e do prazer foi apontada de forma
recorrente por alguns estudantes. Observa-se que tais comportamentos são coincidentes com
estudos anteriores (TURCHIK, 2014; DONDE, 2018; BERGERON, 2019).
A anorgasmia também aparece como impacto na sua sexualidade que elas podem
identificar, pois falam de uma ausência de orgasmo após a violência sexual, situação
mencionada no estudo de Cardoso et al (2020). A experiência traumática quita possibilidade de
tornar-se autônomo enquanto a sua sexualidade, a forma de agir nos relacionamentos e gera
uma percepção subjetiva limitada da sua imagem corporal que, no geral, foi bastante negativa.
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Deixando vestígios da experiência de abuso que acompanham as estudantes e que irrompem
com pensamentos disruptivos que limitam sua liberdade de movimento espacial e nas relações
sociais. Em nossos resultados foi possível distinguir pelo menos em uma estudante (Mimosa)
que falou abertamente de sua disforia sexual, gerando nela essa discordância entre a identidade
de gênero e seu sexo físico.
A presença de estados emocionais negativos como a raiva, depressão, ansiedade ou
medo são frequentes e vem acompanhado de fatores individuais. A estudante Orquídea
manifestou ter uma sensação de dissociação com seu corpo, um distanciamento tanto psíquico
como corporal, que vinha justo depois do trauma da violência sexual e começavam quando
tentavam interatuar sexualmente com outros ou até incluso consigo mesmas. como resultado da
violência sexual apresenta-se uma dissociação como mecanismo de defesa em algumas
participantes. É possível encontrar na literatura como a dissociação pode obstaculizar o
processamento cognitivo e afetivo das experiências traumáticas, isso significa que o sujeito vive
com fortes incongruências, sem atingir a consciência dele (RODRIGUEZ, 2005). Segundo a
teoria psicanalítica esse mecanismo é considerado proposital, ainda que inconsciente. Mas
segundo Pierre Janet, descarta que seja proposital, mas surgiria quando o indivíduo tem
experiências veementes que levariam ao estreitamento do campo atencional e desorganização
das funções usuais de integração da consciência (JUNIOR, 2006).
Os impactos na autoestima após uma experiência de agressão sexual foram
mencionados pelas estudantes, e vão na direção de julgar continuamente sua imagem corporal,
seu desempenho no plano sexual e indicar as incapacidades que elas acham para desenvolver-
se abertamente com outras pessoas ou em outros espaços. É bem sabido que a autoestima e a
auto aceitação são pontos diretamente relacionados com a sexualidade. Ter um bom
entendimento da nossa sexualidade e de suas implicações em nossa vida, faz com que
consigamos estabelecer uma relação saudável e positiva com ela e também uma boa relação
interpessoal e sexual com outras pessoas. A saúde sexual, segundo a Organização Mundial da
Saúde (2010), “é um estado de bem-estar físico, mental e social em relação à sexualidade.
Requer uma abordagem positiva e respeitosa da sexualidade e das relações sexuais, bem como
a possibilidade de ter experiências sexuais agradáveis e seguras, livres de toda coerção,
discriminação e violência”. Por outro lado, a autoestima sexual elevada atua como um fator de
proteção contra a perpetração de agressão sexual, tendo menos comportamentos sexuais de
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risco, definidos em termos de sexo casual, comunicação pouco clara e uso de álcool em
situações sexuais. A literatura também evidencia que uma autoestima sexual positiva está
relacionada com o conhecimento das doenças sexualmente transmissíveis vinculadas com os
comportamentos sexuais de risco (SCHUSTER; KRAHÉ, 2018).
Apesar dos diversos danos e impactos mencionados pela estudante Violeta, ela é grata
de mencionar seu sucesso acadêmico com tudo as dificuldades que experimentou depois da
situação de estupro. Ao invés de baixar seu rendimento acadêmico e, segundo ela, como uma
forma de evadir e como estratégia de defesa, conseguia focar sua energia em seus estudos
permitindo-lhe manter o tempo todo ocupada em outras atividades que não trazerem lembranças
do sucesso traumático.
O último enunciado dos resultados destacou reflexões futuras das participantes, em
direção a um fechamento das entrevistas em que pudessem imaginar cenários ótimos e mais
agradáveis do seu ponto de vista. Embora seja um processo que está sendo encaminhado, a
narrativa de auto percepção e de reconstrução do indivíduo já leva a mudanças no plano
cognitivo e resulta num crescimento posterior. Entendendo o crescimento pessoal como um
ponto de resolução do trauma (SPLEVINS, 2010). Ressaltar a concepção da maternidade na
fala das entrevistadas permitiu refletir e questionar que a ideia mais primária e original da
maternidade está numa constante relativização, pois atualmente muitas mulheres preferem o
desenvolvimento pessoal antes que olhar a maternidade como o fim do seu desenvolvimento
como mulher.
É necessário que estudos futuros considerem uma amostra mais ampla, incluindo
professoras, técnicas, e população dissidente e, dentro do possível, com um tamanho maior de
participantes. Um número abrangente ajuda na melhor compreensão dos fenômenos sociais. A
instituições universitárias precisam com urgência implementar programas e políticas que
tentem diminuir a cultura de violência e estupro dentro do seu âmbito, tanto como ampliar o
resguardo dos seus estudantes nos contextos de republicas e festas que são alcançadas na vida
universitária.
5. CONCLUSÕES
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A utilização de métodos visuais nas entrevistas possibilitou que as participantes
tivessem um espaço de reflexão e diálogo com suas experiências, no momento de reorganizar
os diversos cenários de violência e observar seus próprios desenhos. A dificuldade dessa tarefa
é indiscutível, as lembranças traumáticas interferem em algum plano da sua vida e a maioria
das pessoas potencializa a capacidade de esquecer as questões ruins da vida e lembrar as
positivas como um mecanismo de sobrevivência. Porém é importante destacar a coragem e
valentia que tiveram as estudantes ao verbalizar parte da sua biografia, a bondade de
compartilhar tentando que outras mulheres consigam quebrar com o silêncio.
O fator determinante que atua em cada uma das violências acontecidas e relatadas pelas
participantes, é o desrespeito do consentimento das mulheres ou o mal-entendido
consentimento e até muitas vezes forçado. A maior parte do trauma vivenciado revela-se no
corpo, com somatizações que se fazem persistentes no tempo e com comportamentos de
evitação do contato físico com outros. O relato foi só uma parte que emergiu como lugar de fala
e de expressão destas experiências. Para superar um trauma deve haver uma escuta ativa por
parte de alguém que acredite na história e um reconhecimento simbólico de quem é o abusador
e quem é a pessoa abusada. Minimizar os impactos na sexualidade ou na corporeidade é
justificar a violência que acontece nos espaços educativos e cometidos também por parte da
comunidade universitária fora de seu limite físico, como nas festas que durante o ano acadêmico
são celebradas em várias oportunidades.
O intuito das universidades deve estar dirigido a reduzir o impacto dos traumas, evitando
a revitimização, trabalhando na prevenção de qualquer dano a população mais vulnerável da
universidade (BAKKEN; KRUSE, 2019). Espera-se o engajamento de mais pesquisadores que
queiram contribuir nesta linha de pesquisa, é preciso gerar clamor nas autoridades que tenham
poder de decisão nas instituições de educação superior, para que assim se tomem as medidas de
prevenção e punição para quem corresponda. Precisam-se espaços exclusivos de educação nos
quais se fale abertamente dos tipos de violência e os estudantes possam distinguir quando estão
frente a uma situação de assédio ou violência, de maneira que ao identificar vem a possibilidade
de solicitar a ajuda no momento necessário.
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DATA DE SUBMISSÃO: 2022-12-28
DATA DE APROVAÇÃO: 2022-11-27
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