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João Filipe Pereira de Sousa
A HISTÓRIA LOCAL E A SUA RELEVÂNCIA
PEDAGÓGICO-DIDÁTICA
Relatório de Estágio do Mestrado em Ensino de História no 3.º ciclo do
Ensino Básico e no Ensino Secundário orientado pela Professora Doutora Ana
Isabel Sacramento Sampaio Ribeiro e coorientada pela Professora Doutora
Clara Isabel Calheiros da Silva de Melo Serrano, apresentado ao Conselho de
Formação de Professores da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
.
17 de outubro de 2023
FACULDADE DE LETRAS
A HISTÓRIA LOCAL E A SUA RELEVÂNCIA
PEDAGÓGICO-DIDÁTICA
Ficha Técnica
Tipo de trabalho
Relatório de Estágio
Título
A História Local e a sua relevância pedagógico-
didática
Autor
João Filipe Pereira de Sousa
Orientadoras
Ana Isabel Sacramento Sampaio Ribeiro
Clara Isabel Calheiros da Silva de Melo Serrano
Júri
Presidente: Doutor Alexandre Guilherme Barroso de
Matos Franco de Sá
Vogais:
1. Doutor João Paulo Cabral de Almeida Avelãs
Nunes
2. Doutora Ana Isabel Sacramento Sampaio Ribeiro
Identificação do Curso
2º Ciclo em Ensino de História no 3º ciclo do Ensino
Básico e no Ensino Secundário
Área científica
Formação de Professores
Especialidade/Ramo
Ensino de História
Data da defesa
17-outubro-2023
Classificação do
Relatório
17 valores
Classificação do
Estágio e Relatório
18 valores
AGRADECIMENTOS
Ao longo do trabalho realizado, algumas foram as forças externas que o auxiliaram a
chegar a bom porto. Cabe nesta secção nomear, nos limites do possível, as individualidades que
acrescentaram algo de si a este relatório, seja diretamente ou indiretamente.
Começo por agradecer à Professora Doutora Ana Isabel Ribeiro e à Professora Doutora
Clara Isabel Serrano, por orientar e coorientar, respetivamente, este trabalho. Demonstraram-
se sempre disponíveis, ajudando para que o trabalho aqui presente estivesse o melhor possível,
nomeadamente durante a produção do relatório final presente, com as correções sempre
pertinentes, bem com as suas sugestões.
De seguida, gostaria de agradecer à Professora Lília Carvalho, que orientou de forma
belíssima o Núcleo de Estágio que lhe foi entregue, permitindo aos docentes estagiários
evoluírem, com os seus conselhos. De facto, a carga positiva do Estágio Pedagógico deveu-se
à sua presença, enriquecida com os ensinamentos que alguém tão experiente no meio docente
tem para oferecer. Ainda dentro deste contexto, agradeço ao meu colega de estágio, Francisco
Fontes, por ter sido um companheiro, na verdadeira aceção do termo, durante todo este período
em que trabalhamos juntos. Agradeço ainda aos restantes colegas do mestrado, em especial ao
Gustavo Gonçalves pela ajuda que foi disponibilizando.
De um modo mais especial, gostaria de reconhecer a importância de alguns elementos
da minha família. Antes de mais, gostaria de agradecer à minha mãe Dília e à minha irmã
Sandra, pelo apoio que me foram dando ao longo das diferentes etapas da minha vida. De
seguida, ao meu querido padrinho Miguel, agradeço imenso pela sua ajuda, especialmente por
me ter permitido avançar nos estudos, através da sua presença e dedicação, durante a minha
vida académica.
Para terminar, e nunca menos importante, agradeço com muito apreço à Matilde, minha
querida companheira, que acompanhou todo este processo de um ângulo mais próximo,
ajudando sempre que fosse preciso. Por toda a tranquilidade e luz diária, entrego-lhe o maior
obrigado que o coração e a alma podem dar.
RESUMO
A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
O trabalho aqui presente é fruto de uma reflexão sobre a pertinência da História Local,
no contexto de sala de aula. O estudo insere-se no Mestrado em Ensino de História no 3.º Ciclo
do Ensino Básico e no Ensino Secundário, focando-se, num primeiro momento, na descrição
das atividades desenvolvidas no período da Prática de Ensino Supervisionada. O segundo
momento deste estudo centra-se na apresentação da investigação levada a cabo no ano letivo
de 2022/2023, estando esta baseada na aplicação pedagógico-didática da História e do
Património Local a uma turma do 12.º ano do curso de Línguas e Humanidades.
A História Local tem uma demarcada importância no contexto da Nouvelle Histoire,
sendo transportada para o contexto português posteriormente. Com o objetivo de apresentar a
História numa escala geográfica mais reduzida, é uma peça importante para compreender o
“puzzle” complexo da História de escalas maiores, como é o caso da História Nacional e da
História Internacional. Porém, ao contrário do distanciamento que estas últimas escalas podem
causar, a História Local retrata uma realidade próxima aos seus locais, aproximando-os do
Património Cultural envolvente.
A partir deste ponto, pretendeu-se perceber quais seriam as virtudes da História Local
para o contexto letivo, observando até que ponto poderia auxiliar os alunos no contexto da
disciplina de História e das suas Aprendizagens Essenciais-. Desta forma, foram realizadas três
aulas específicas de História Local, acrescentando-se a estas duas visitas de estudo e, ainda,
uma atividade centrada na memória local, realizada em cooperação com familiares dos alunos.
O objetivo passou por entender qual a efetividade da abordagem da História Local, no quadro
da disciplina.
O desfecho da investigação apresentada demonstra que a História Local teve um papel
relevante num conjunto de pontos observados, podendo colaborar para uma melhor aquisição
dos conhecimentos programáticos, aproximando as temáticas históricas, nacionais e
internacionais, da realidade dos alunos.
Palavras-chave: História Local; Património Local; Ensino da História; Estratégias
pedagógico-didáticas; Ensino Secundário
ABSTRACT
Local History and its didactic-pedagogical relevance
This paper is the result of a reflection on the relevance of local history in a classroom
context. The study is integrated into the master’s in teaching history (7-12), being presented
first by focusing on the description of the activities incremented in the period of the Supervised
Teaching Practice. The second moment of this study is based on the presentation of the
investigation being carried out throughout the academic year of 2022/2023, being based on the
didactic-pedagogical application of Local History and Heritage in a 12th-grade Languages and
Humanities class.
Local History has a marked relevance in Nouvelle Histoire, being transported
subsequently to the Portuguese context. Intending to present History at a more reduced
geographical scale, it is important to understand the complex “puzzle” of larger scale History,
as is the case of National History and International History. However, contrary to the distance
these previous scales may cause, Local History depicts a close reality to its places, bringing
them closer to the surrounding Cultural Heritage.
From this point onwards, the goal was to understand what the virtues of Local History
in the academic/teaching context would be, observing at what point it could benefit the students
within the context of the subject of History and its contents. This way, three specific Local
History lessons were delivered, as well as two field trips and an activity centred on local
memory, held with the cooperation of the student’s family members. The objective was to
understand the effectiveness of the Local History approach within the framework of the subject.
The outcome of the present investigation shows that Local History had a relevant role
in a group of observed topics, aiding in better programmatic knowledge acquisition, bringing
national and international historical themes closer to the students’ realities.
Keywords: Local History; Local Heritage; Teaching History; Pedagogical Strategies;
High School
ÍNDICE
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 1
CAPÍTULO I - O ESTÁGIO PEDAGÓGICO .......................................................... 5
1.1 - Turmas.................................................................................................................... 6
1.2 - Atividades .............................................................................................................. 8
1.3 - Reflexão sobre a prática pedagógica e formativa ................................................ 11
CAPÍTULO II - ENQUADRAMENTO TEÓRICO ............................................... 15
2.1 - História Local – historiografia e o seu desenvolvimento ..................................... 15
2.2 - História Local e a sua aplicação didático-pedagógica ......................................... 18
CAPÍTULO III – AS EXPERIÊNCIAS PEDAGÓGICAS .................................... 24
3.1 - Apresentação das atividades realizadas ............................................................... 24
3.1.1 - Aulas de História-Local .................................................................................... 25
3.1.2 - Visitas de Estudo ............................................................................................... 29
3.1.3 - A memória do Estado-Novo ao 25 de Abril...................................................... 36
3.2 - Análise dos Resultados ........................................................................................ 42
3.2.1 - Inquérito I .......................................................................................................... 43
3.2.2 - Inquérito II ........................................................................................................ 48
3.2.3 - Inquérito III ....................................................................................................... 51
3.4 - Reflexão sobre as atividades ................................................................................ 56
CONCLUSÃO............................................................................................................. 58
BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................ 63
ANEXOS ..................................................................................................................... 66
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
1
INTRODUÇÃO
A História encontra-se numa posição pré-concebida nas mentes da sociedade portuguesa,
sendo considerada uma disciplina de finalidade enciclopédica, que se resume à memorização
1
.
Neste contexto, cabe ao docente introduzir alternativas ao regime tradicionalista, numa tentativa
de demonstração das demais competências passíveis de serem desenvolvidas. É importante a
defesa da premissa de que a História é a “pedagogia central do cidadão”
2
, apresentando a disciplina
como um meio de desenvolvimento crítico para uma melhor cidadania. Desta forma, encontrou-
se na História-Local um potencial de desenvolvimento desses pontos, criando uma rutura do ensino
tradicionalista
3
. Apresentando elementos que dinamizam elos de aproximação entre os alunos e a
matéria a abordar, nomeadamente pela geografia próxima, as aprendizagens poderão ser adquiridas
de maneira mais eficaz
4
.
Partindo desta premissa, onde se reconhece a importância da História Local, o trabalho
levado a cabo visou observar a influência da mesma, na instituição acolhedora de realização de
estágio. Qual a relevância pedagógico-didática da História Local? Será efetivamente pertinente a
utilização de dados relativos à realidade local, onde a escola e o seu corpo discente se inserem?
Estas serão as questões orientadoras da investigação da temática, sendo que, para além de possíveis
resultados sumativos, será importante observar a influência da abordagem desta temática no
desenvolvimento da cidadania dos alunos. Para tal, considerou-se que o método mais pertinente
para a concretização do trabalho passaria pelo estudo de caso.
Trata-se de um método experimental, onde o conhecimento retirado da “realidade natural
ou social é estável e quantificável”, criando um distanciamento entre o investigador e a realidade
alvo de estudo
5
. Assim, pretende-se compreender as complexas inter-relações presentes no
contexto de sala de aula. O estudo de caso requer ainda que se realize trabalho de campo, no qual
o investigador está presente, onde observa e analisa os dados, existindo um foco centrado na lógica
de construção do conhecimento. Considera-se central o contacto contínuo do desenvolvimento do
caso, exigindo ao investigador uma presença assídua no “campo”. A investigação qualitativa,
1
Luís Alberto Alves, «A História local como estratégia para o ensino da História», Estudos em homenagem ao
Professor Doutor José Marques 3 (2006): 65–72, pp. 65-66.
2
Carmen Margarida Alveal, José Envagelista Fagundes, e Raimundo Nonato Araújo da Rocha, Reflexões sobre
História Local e produção de material didático (Natal: EDUFRN, 2017), p. 28.
3
Maria Aparecida Leopoldino Tursi Toledo, «História local, historiografia e ensino: sobre as relações entre teoria e
metodologia no ensino de história», Antíteses 3, n.o 6 (dezembro de 2010): 743–58, p. 745.
4
Maria Schmidt e Marlene Cainelli, Ensinar História (São Paulo: Sciopione, 2004), p. 113.
5
Manuel Meirinhos e António Osório, «O estudo de caso como estratégia de investigação em educação», EDUSER:
revista de educação 2 (2010), p. 50.
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
2
associada ao estudo de caso, conduz os pontos da investigação para fenómenos ou casos, em que
o contexto é desconhecido e/ou incontrolável
6
.
A pertinência da aplicação da História Local na disciplina de História encontra-se
apresentada nas linhas orientadoras das Aprendizagens Essenciais, documento central e
organizador do currículo escolar. No caso específico da disciplina de História, a articulação com a
História Local é apresentada no documento, para os diferentes anos de escolaridade, seja no Ensino
Básico com a disciplina de História (7.º, 8.º, e 9º anos), seja no contexto do Ensino Secundário.
Neste segundo, a presença relativamente à relação da matéria com a realidade local é comum às
diferentes disciplinas relacionadas com a História, ou seja, nas disciplinas de História A (10.º, 11.º
e 12.º anos), História B (10.º e 11.º anos) e História e Cultura das Artes (10.º e 11.º anos). É possível
observar-se, no documento referente ao 12.º ano de História A, a menção à História Local como
um dos quatro eixos organizadores:
Opção por uma pedagogia que envolve os alunos na construção do conhecimento,
permitindo o aprofundamento de determinados temas, a mobilização de componentes
locais para a construção do currículo e as explorações interdisciplinares.
7
Para a generalidade dos níveis e disciplinas aqui apresentados, é apontada uma clara
relevância à História Local, podendo observar a sugestão de relação com o conteúdo curricular
programático. Para o Ensino Básico, é possível ler-se:
Relacionar, sempre que possível, as aprendizagens com a História regional e local,
valorizando o património histórico e cultural existente na região/local onde
habita/estuda.
8
No caso do Ensino Secundário, considerando-se as diferentes disciplinas diretamente
ligadas ao ensino da História, tais como História A, História B e História e Cultura das Artes.
Ambas têm como ponto comum a referência à História Local, nomeadamente, enquanto objeto de
comparação com a História nacional e mundial. Para além da História Local, a História Regional
é igualmente mencionada, criando uma diferenciação entre o local e regional, à imagem do que
foi observado nas Aprendizagens Essenciais relativas ao Ensino Básico. O documento das
Aprendizagens Essenciais de História A é possível ler-se em dois momentos, linhas que direcionam
para a História Local:
6
Robert E. Stake, Investigación con estudio de casos (Madrid: Morata, 1999).
7
República Portuguesa, «Aprendizagens Essenciais: História A 12.o Ano», Revisão 2022 de 2018, p.3.
8
República Portuguesa, «Aprendizagens Essenciais: História 7.o Ano», Revisão 2022 de 2018, p. 3 - Esta mesma
citação encontra-se presente nas Aprendizagens Essenciais referentes aos 8.º e 9.º anos do Ensino Básico.
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
3
Relacionar a história de Portugal com a história europeia e mundial, distinguindo
articulações dinâmicas e analogias/especificidades, quer de natureza temática quer de
âmbito cronológico, regional ou local.
9
Valorizar o património histórico e natural, local, regional e europeu, este último numa
perspetiva de construção da cidadania europeia.
10
As citações presentes, apesar de priorizarem uma valorização do local e regional,
apresentam uma linha lógica diferenciada. Se num primeiro caso, existe uma leitura que conjuga
a matéria programática abordada no currículo de História A, com a realidade geográfica especifica
do local de ensino, seja local ou regionalmente centrada, num segundo momento temos uma ideia
centrada na valorização do património, das diferentes escalas (local, regional e europeu). Existe
uma clara noção da necessidade de construção de uma cidadania europeia, a partir da dinamização
da História Local. A ideia que relaciona a História Local com a Cidadania é algo defendido e
observado por alguns autores, sendo o caso de Luís Alberto Alves
11
.
No caso das disciplinas de História B e História e Cultura das Artes, os seus documentos
orientadores referentes às Aprendizagens Essenciais referem-se à História Local seguindo uma
linha de reflexão semelhante ao observado nos casos anteriores. Deste modo, observamos um ideal
presente, onde é clara a presença da ligação das diferentes escalas. A ligação entre a História Local
e Regional, com as escalas mais abrangentes, torna-se fulcral para o desenvolvimento da cidadania,
permitindo reforçar a importância do património histórico e a relevância de estudos que incluam
estas temáticas. Assim, é possível afirmar que a História Local é claramente sugerida pelas
Aprendizagens Essenciais, tornando pertinente a aplicação da mesma no contexto de sala de aula.
O presente trabalho tem como objetivo principal a apresentação dos dados recolhidos no
âmbito do estágio pedagógico bem como a sua análise. O estudo em causa é relativo à História
Local e à sua relevância pedagógico-didática e pretende verificar e analisar a ligação entre o objeto
de estudo com a produtividade intelectual dos alunos, mas também aferir sobre o seu impacto no
desenvolvimento da cidadania e valores de intervenção cívica. Deste modo, será analisada a
sensibilidade dos alunos, perante a História Local, verificando qual a importância que lhe
9
República Portuguesa, «Aprendizagens Essenciais: História A 12.o Ano», Revisão 2022 de 2018, p. 4. – Texto
igualmente presente nos documentos relativos ao 10.º e 11.º anos da disciplina de História A.
10
República Portuguesa, p. 8. - Texto igualmente presente nos documentos relativos ao 10.º e 11.º anos da disciplina
de História A.
11
Alves, «A História local como estratégia para o ensino da História».
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
4
atribuem. Como será aprofundado a posteriori, este estudo teve como base de trabalho a turma do
12.º Y, com a realização de aulas centradas em matéria de História Local, visitas de estudo e a
realização de alguns inquéritos.
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
5
CAPÍTULO I - O ESTÁGIO PEDAGÓGICO
O estágio pedagógico foi realizado numa escola do concelho de Coimbra, durante o ano
letivo de 2022/2023, com o acompanhamento assíduo da Professora Orientadora. Sob a sua
orientação, foi possível seguir um percurso de evolução positiva, melhorando os pontos frágeis
detetados. O decorrer do estágio fez-se acompanhar pela possibilidade de seguir diferentes turmas,
participando como observador em aulas com outros docentes além da orientadora de estágio,
demonstrando uma disponibilidade clara da generalidade do corpo docente, nomeadamente do
grupo de História. Desta maneira, foi possível assistir e lecionar aulas na disciplina de História, no
3.º Ciclo do Ensino Básico, e História A, no Ensino Secundário. Para além disto, foram realizadas
algumas atividades, nas quais o Núcleo de Estágio de História participou, auxiliando no processo
da sua planificação. No capítulo presente, serão aprofundados aspetos relativos às aulas
lecionadas, às estratégias e metodologias adotadas e, ainda, às atividades dinamizadas.
A comunidade escolar encontra-se num contexto particular, no qual foi possível verificar e
sentir a realidade social expressa nas dificuldades diárias que os desafios de uma sociedade
desequilibrada proporcionam na caminhada das crianças e jovens discentes da instituição em
causa. A escola integra um quadro específico no Programa Integrado de Educação e Formação,
entregando uma certa autonomia à instituição, permitindo adaptar-se à realidade da comunidade
em que está inserida. Existe uma integração positiva entre a escola e as restantes organizações
presentes na geografia em que esta se localiza, bem como a comunidade próxima. Por esta mesma
razão, é possível observar um espírito de presença diferenciado, que permite uma integração
completa no contexto escolar, pois existe a inserção naquela que é a realidade da sala de aula, mas
também, uma inserção na vida dinâmica que a escola oferece, para além das paredes das salas.
Este ponto é deveras importante, pois assegura que os alunos se sentem completamente integrados
na instituição escolar, e providencia um sentimento de pertença próximo do familiar, bem como a
noção de uma herança imaterial e uma cultura escolar suis generis.
Este trabalho de inserção acabou por ser uma verdadeira bandeira escolar, hasteada pelas
comunidades discente e docente, em sintonia, fazendo uma demonstração categórica do papel
fundamental que a escola ocupa na vida dos seus alunos. Esta dinâmica é espelhada em qualquer
atividade em que a instituição se apresente. É possível observá-la no projeto Erasmus +, um
projeto que visa colocar um conjunto de alunos na rede parceira de escolas internacionais, com o
intuito de tecerem experiências culturais diferenciadas. Deste modo, foi possível proporcionar à
comunidade uma experiência além-fronteiras, que para muito destes alunos não se configurava
como uma possibilidade, pois a realidade socioeconómica dos mesmos não permitia tais objetivos,
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
6
pelo menos a curto prazo. Uma segunda experiência na qual os alunos participam é o evento das
Escolíadas. Este evento cultural une a escola em torno de uma tradição existente desde a década
de 1990, reunindo um conjunto de escolas da zona centro, dividido em três polos. Nesta celebração
da cultura, observamos uma verdadeira defesa da herança cultural, produzida por vários anos, pela
escola, criando laços fortíssimos entre toda a comunidade.
Esta realidade presente na escola comprova que a vida na comunidade ultrapassa o que
ocorre nos limites de uma sala de aula, e ainda, ultrapassa a componente letiva. Mais do que nunca,
a escola é um espaço onde as diferentes realidades sociais necessitam de convergir, com a
finalidade de unir as diferenças, criando pontes entre estas, evitando a discriminação. Com a
realização destas atividades, a comunidade escolar une-se em torno do património que vai sendo
construído ao longo dos anos. Esta realidade demonstrou que, de facto, uma criança é, em parte,
fruto da vivência familiar que testemunha, socorrendo-se no ambiente escolar para encontrar
algum apoio para lidar com as suas dificuldades. A escola, para os alunos que vêm de contextos
mais desafiadores, serve como elo positivo para a construção dos jovens.
1.1 - Turmas
A Prática de Ensino Supervisionada do núcleo de estágio, onde se inseriu o Estágio
Pedagógico aqui descrito, centrou-se na distribuição de uma turma “principal” por cada elemento
pertencente a este mesmo núcleo. Num primeiro tempo, foi-nos possibilitada a observação do
conjunto de turmas pertencentes à esfera de ensino da professora orientadora, tornando possível
uma primeira leitura do corpo discente. Foram então disponibilizadas as turmas do 9.º Y do Ensino
Básico, e as turmas do 11.º Y e 12.º Y do Ensino Secundário, na especialização de Línguas e
Humanidades, inserido no percurso regular Cientifico-Humanístico. Para além das turmas citadas,
foi possível assistir a outras duas, sendo estas as turmas do 7.º W e 10.º Z, sendo possível devido
à convergência existente entre os demais docentes do grupo disciplinar de História.
Como foi mencionado, foi decidido desde cedo a atribuição de uma turma “prioridade” a
cada um dos estagiários presentes. Neste caso particular, foi atribuída a turma do 12.º, onde a
temática de estudo se centra no século XX. Contudo, esta atribuição não significou um
“aprisionamento” total à turma, pois foi possível lecionar algumas aulas à turma do 11.º Y e ao 9.º
Y, possibilitando assim uma noção diferenciada de realidades diferentes. A estas duas turmas
foram lecionadas um total de 10 aulas, sendo metade da quantidade apresentada dividida para cada
turma. A partir destes momentos foi possível experienciar, no caso do 11.º Y, uma realidade da
disciplina de História A diferente, com uma matéria situada num período cronológico diferente do
existente no currículo do 12.º ano. No caso do 9.º Y, a experiência era mais díspar, uma vez que o
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
7
grupo discente não tinha uma posição unânime quanto à disciplina. Neste caso, a relação com a
disciplina pode estar numa fase final, visto que alguns destes alunos poderão seguir caminhos onde
a disciplina não estará presente. O menor tempo dedicado à disciplina também não abona a favor
de uma ligação mais forte com a mesma, pois os 100 minutos totais, distribuídos em dois
momentos semanais, acabam por obrigar ao docente uma estratégia de sintetização.
Neste momento foi possível concluir uma das primeiras reflexões: nem sempre o que por
nós é acarinhado e fonte de interesse será visto da mesma forma pelo outro, pois vivemos numa
sociedade diversa, tornando completamente normal a diferenciação dos interesses. Deste modo, é
possível rematar com a seguinte observação: nem tudo o que nos interessa é bom, e por sua vez,
nem tudo que desconhecemos ou simplesmente não gostamos é inferior. Seguindo esta linha de
raciocínio, foi possível criar um conjunto de pontes de empatia, que auxiliaram a ligação com os
alunos, mesmo os que se desinteressam pela temática, ou pela disciplina na sua generalidade.
A turma do 12.º Y, turma central e na qual foi realizada a investigação do estágio, contou
com 21 alunos inscritos à disciplina de História A, dos quais fazem parte quatro alunos do sexo
masculino e 17 do sexo feminino. A turma demonstrou-se, desde início, bastante participativa e
colaboradora, relevando um alto nível de educação. O contexto social de cada aluno era único,
sendo possível observar um conjunto de alunos que, sendo maiores de idade, detinham algum tipo
de atividade profissional. Apesar de realidades diferenciadas, e de questões de sensibilidade maior,
a turma demonstrou-se disposta desde o início do processo a colaborar da melhor maneira possível.
Provaram ser excelentes anfitriões, tornando o conjunto de 152 aulas
12
algo fluído, tornando o
progresso do estágio bastante positivo, num caminho ascendente. Foi possível dinamizar
momentos de diálogo construtivo, com uma troca de ideias entre o conjunto discente e o docente.
Esta dinâmica de espírito crítico foi observada ao longo do ano letivo, tornando-se mais natural no
seu decorrer, apresentando o conforto que fora criado para assegurar o já referido diálogo
construtivo.
No que toca ao percurso da turma no quesito avaliativo, demonstraram uma evolução
igualmente bastante positiva, culminando no final do ano letivo com um aproveitamento total da
turma, com todos os alunos a terminarem com nota positiva. Todos os alunos conseguiram concluir
a disciplina de História A, permitindo a conclusão do ensino secundário. No ano letivo vigente, foi
possível observar uma evolução dos resultados individuais, expressos pela média da turma. O
primeiro semestre apresentou resultados positivos, com a presença de algumas notas negativas,
contabilizado mais precisamente cinco alunos nessa situação. Deste modo, os resultados da turma
12
As aulas contabilizadas correspondem a tempos letivos de 50 minutos cada uma.
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
8
situaram-se numa média coletiva de 12 valores, com uma taxa de sucesso fixada nos 77%. Os
períodos seguintes simbolizaram uma evolução favorável, com a subida da taxa de sucesso e da
média da turma, em simultâneo.
No segundo período, apenas dois alunos apresentaram notas finais negativas à disciplina
de História A, colocando a taxa de sucesso nos 90,05 %, taxa esta que superava as previsões
mínimas apontadas pela direção de turma à disciplina
13
. A média geral da turma subiu novamente,
para 12,6 valores, sendo que no terceiro período a média final fixou-se nos 13,6 valores. Assim, é
possível observar um aumento de 1,6 valores do primeiro para o último período do ano,
sustentando a boa prestação coletiva da turma, sendo esta realidade cimentada pelo valor da taxa
de aproveitamento, que se situou no final do ano nos 100%.
1.2 - Atividades
Durante o ano letivo foram organizadas atividades no contexto escolar. Para além de
atividades relacionadas com as turmas com as quais se trabalhou diretamente, houve igualmente
um conjunto de momentos realizados para a comunidade escolar. Como as atividades curriculares
relativas ao estudo elaborado para esta investigação serão abordadas no capítulo III, nesta secção
serão mencionadas as atividades que não se enquadram no tema do relatório. A escola pauta-se por
uma dinamização de atividades bastante vasta, seja para celebrar alguma data em específico, seja
a realização de palestras, entre outras mais atividades. Esta preocupação por parte da instituição
em elevar a vivência dos alunos, para além das aulas, demonstra uma preocupação da mesma na
criação de uma escola como local positivo, dinâmico e inclusivo. Para além das atividades que
serão elencadas, foram realizadas outras , mas serão abordadas apenas as que foram projetadas
pelo núcleo de estágio de História.
A primeira atividade, realizada pelo núcleo de estágio no dia 14 de outubro de 2022,
centrou-se numa aula lecionada por uma investigadora colaboradora do Centro de História da
Sociedade e da Cultura da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. A aula foi dirigida
para a turma do 11.º Y, sendo intitulada “As mulheres no Antigo Regime e a sua influência na
economia rural”. Este momento teve como base a caracterização e a importância das mulheres no
período do Antigo Regime, sensibilizando para o papel das mesmas durante a história, mudando
inclusivamente uma perspetiva pré-concebida, presente na turma em questão. A aula realizou-se
num bloco de 100 minutos, utilizando a primeira parte para a exposição da temática selecionada,
e no tempo seguinte, disponibilizou-se para responder algumas questões, clarificando dúvidas
existentes.
13
No início do ano letivo 2023/2024, a professora orientadora estipulou a taxa de sucesso nos 87%.
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
9
A atividade seguinte teve como objetivo celebrar o feriado do 5 de Outubro, data relativa
à implementação da República em 1910, com uma explicação breve das diferenças entre as
bandeiras monárquica e republicana. Esta ação teve uma dimensão reduzida, sendo realizada para
alunos da turma do 9.º Y. Desta forma, surge a ponte para a realização de uma outra atividade
relativa a uma outra efeméride, o1 de Dezembro, feriado referente à restauração da independência
em 1640, que levou à comunidade a questão “o que é ser português?”. Esta atividade englobou
toda a comunidade escolar, alunos, docentes e funcionários. Todos apresentaram a sua visão do
que significaria “ser português”, ou ainda, para os alunos estrangeiros, o que significava Portugal.
Se para os alunos nacionais as repostas baseavam-se muito na gastronomia e no futebol, para os
alunos internacionais foi possível observar um padrão, mencionando o sentimento de segurança
por diversos momentos. Das respostas recolhidas, foi feita uma seleção para posteriormente ser
exposta no bloco A da escola.
Chegando perto da data relativa à memória das vítimas do Holocausto, considerou-se
oportuna a realização de uma palestra que abordasse os perigos do totalitarismo. Realizada no
auditório, teve como público-alvo os alunos do 12.º ano dos cursos cientifico-humanísticos, e
como a lotação não estava completa permitiu-se que as turmas dos 11.º e 10.º anos assistissem,
caso desejassem. A palestra, intitulada “Os Totalitarismos: Passado e Presente”, ocorreu no dia 20
de janeiro de 2023, tendo uma duração de pouco mais de 100 minutos, dividida em duas partes
com uma pausa intermédia. O palestrante desta atividade foi um investigador integrado do Centro
de Estudos Interdisciplinares da Universidade de Coimbra. A apresentação, na primeira parte,
focou-se na importância do historiador, apresentando um pouco o trabalho do mesmo e de que
forma este utiliza as diversas ferramentas disponibilizadas e os diferentes documentos para
conseguir construir uma narrativa histórica. O convidado focou bastante a importância da imagem
como uma possível fonte de interpretação histórica, mostrando um conjunto de exemplos, que
inclusivamente, puseram em causa a noção temporal e a sua perceção, deixando os alunos
“confusos”.
Num segundo momento, o investigador focou-se na questão dos Totalitarismos, lançando
a questão “o que é o totalitarismo?”. Focou-se principalmente na restrição dos direitos políticos,
dos direitos civis, da perseguição, desenhando um exemplo tipo do que se observara durante os
presságios da Segunda Guerra mundial. Com isto, sensibilizou para o perigo da retórica falaciosa
atual da tolerância dos pensamentos ditatoriais e extremistas, pois caem no paradoxo da
intolerância, uma reflecção teórica do filósofo Karl Popper. Para finalizar, foi sublinhada a ideia
da não repetição da História. Podem existir pontos comuns entre várias ocorrências, mas nunca
serão cem por cento iguais, quebrando a teoria de uma História cíclica.
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
10
A sensibilização para o passado ditatorial foi fortalecida com esta atividade relativa aos
totalitarismos, deixando um caminho aberto para a realidade ocorrida no espaço nacional. Uma
reflecção centrada no 25 de Abril era necessária, bem como a celebração da efeméride com a
comunidade. Foram programadas atividades, estas dinamizadas pelo núcleo de estágio de História,
em conjunto com outros grupos.
Uma exposição foi inaugurada, no bloco A da escola. A exposição tinha desde
representações artísticas, elementos fotográficos cedidos por familiares de alunos, professores da
escola e funcionários, retratando bem a realidade precedente ao 25 de Abril e, ainda, testemunhos
de familiares dos alunos que quiseram fazer parte de uma atividade desenvolvida diretamente pelo
docente estagiário, em conjunto com a professora orientadora. Esta última atividade terá alguns
dos elementos recolhidos expostos a posteriori, no capítulo III. Esta atividade relativa à celebração
do 25 de Abril aproximou a escola da sua comunidade, pois permitiu a inclusão da família dos
elementos integrantes da instituição, criando laços, fomentando uma partilha da memória local
disponibilizada. Para finalizar, foi pintado um moral referente à data, na primeira parede logo após
a entrada da escola, ficando em destaque. Esta atividade, realizada em conjunto com a professora
de Educação Visual, seria para ser realizada apenas pelas turmas do 9.º ano, acabou por englobar
alunos de outros anos.
Já fora dos momentos de celebração da Revolução dos Cravos, foi realizada uma atividade
com a turma do 12.º Y já no final do ano, que exigiu algum trabalho manual por parte dos alunos.
O desafio lançado pela professora orientadora foi rapidamente aceite e concretizado. Os alunos
pegaram nas tintas e nas trinchas e lançaram-se ao trabalho, culminando em alguns trabalhos
bastante interessantes . Desta forma foram recuperados os bancos e alguns caixotes do lixo,
deixando o ambiente escolar mais colorido.
Por fim, após o término do calendário escolar, deu-se início à preparação do exame de
História A, com o conjunto de alunos que se inscreveram para o mesmo. Realizou-se um total de
sete horas de acompanhamento, ou seja, o equivalente ao tempo disponibilizado semanalmente
para a turma do 12.º Y, em História A.
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
11
1.3 - Reflexão sobre a prática pedagógica e formativa
O papel dos professores demonstra-se importantíssimo para a construção de uma
sociedade, sendo estes os preparadores de cidadãos que dinamizarão o mundo. Neste caminho para
futuros docentes, cabe-nos uma reflexão sobre a profissão que iremos exercer. Desta forma, após
a exposição geral do contexto da Prática de Ensino Supervisionada, avançar-se-á para uma
consideração sobre os aspetos principais e reflexões sobre a aprendizagem, adquirida durante este
ano letivo.
A realização do estágio pedagógico comprovou-se essencial para a criação de uma base
preparatória que só é possível com uma atuação “de campo”. Abre desde logo um longo e profundo
questionamento e reflexão sobre todo o percurso precedente. É irrefutável a importância de uma
preparação teórica, pois o conhecimento permite uma reflexão mais bem sustentada, permitindo
compreender as escolhas tomadas. Contudo, a prática docente depende de uma experiência
rotineira impraticável através da segregação da nossa atividade na componente teórica.
Possivelmente, devido a este facto, o início do percurso da Prática de Ensino Supervisionada é um
lançamento a um mundo novo. Existe uma sensação de aparente despreparo, muito movida pelo
contexto de uma nova experiência, uma nova realidade. Existe um passo seguinte que fora dado,
onde o que foi lido e absorvido em literatura académica passou para uma experiência em primeira
pessoa. A esta realidade junta-se a pressão aliada ao desejo de aplicar a teoria no contexto prático,
sob o receio de se ser incapaz de o fazer.
Esta sensação é efémera, pois o acompanhamento assíduo a uma turma auxilia na superação
de nervosismos e medos, sustentando a premissa da necessidade de realização do estágio
pedagógico. Tal controlo das emoções é conseguido através da experiência direta no contexto de
lecionação. Desde cedo se concluiu de que, quanto mais tempos letivos fossem lecionados, mais
tranquilo seria, tornando-se simultaneamente mais proveitoso. Por outro lado, a constante presença
de um docente estagiário permite uma aproximação diferenciada com a turma que leciona. Como
foi mencionado a priori, apesar de ter sido lecionado um conjunto de dez tempos letivos,
distribuídos pela metade entre o 9.º Y e o 11.º Y, a turma do 12.º Y foi o centro do trabalho, tendo
sido lecionados 156 tempos letivos de 50 minutos. Esta decisão, tomada em total concordância
entre a docente orientadora e o docente estagiário, tornou todo o período da Prática de Ensino
Supervisionada mais exigente, mas mais satisfatória e mais próxima de uma realidade docente.
Seguindo este método, toda a preparação das aulas seguia uma linha de raciocínio ligada aos
conteúdos a serem lecionado, ao longo do ano letivo, não se resumindo a uma planificação pontual.
Contudo, esta realidade tem um impacto mais rigoroso na organização e planificação dos
momentos de aula. A realização dos momentos de avaliação sumativa, bem como a sua correção,
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
12
ficaram ao cargo do docente estagiário, o que permitiu constatar as dificuldades inerentes à
elaboração e correção das fichas e testes de avaliação e o desafio que os mesmos apresentam.
Apesar de tudo, o processo foi sempre seguido pela professora orientadora, auxiliando em todas
as fases de elaboração dos materiais, estando sempre pronta para ajudar.
O acompanhamento de uma turma de modo quase exclusivo permite uma ligação mais
profunda com a mesma. A jornada com o 12.º Y permitiu uma experiência onde existia um claro
respeito mútuo, onde os alunos olhavam para o docente estagiário como “se fosse outro professor
qualquer”, afirmação várias vezes repetida pela docente orientadora e pelos próprios alunos. Esta
barreira era importante ser quebrada, pois observa-se desta forma um comportamento mais
genuíno, entregando mais certezas que os resultados obtidos correspondem a um contexto mais
próximo da realidade. Para além desta questão, existia igualmente um receio centrado na
proximidade etária existente entre o conjunto discente e docente estagiário. Esta proximidade, que
variava entre sete e oito anos de diferença, tornou-se um ponto positivo. Observou-se que a turma
se adaptou bastante bem à realidade, demonstrando estarem à vontade para colocarem as dúvidas
existentes, sem qualquer receio. Foi possível verificar igualmente uma participação natural, com
o epicentro das questões ter origem num grupo de alunos mais específico, na maioria das vezes.
Contudo, esta dinâmica proporcionava discussões interessantes, que incluíam alunos mais
inibidos. Desta forma, o grupo mais participativo conseguia trazer para o diálogo os restantes
alunos, que de outra maneira não estariam tão confortáveis em fazê-lo.
Esta existência de múltiplas personalidades dinamiza um ambiente produtivo e que produz
um conjunto de debates, sobre diversos temas, com pontos de vista diversos. A turma do 12.º Y
sempre se demonstrou animada para a realização de debates, muitos deles iniciados pela matéria
abordada no momento, ligando com factos mais atuais. Nesta situação, com uma turma bastante
participativa e curiosa, existe uma visão criada de que o docente possui uma mente enciclopédica,
e esse é o primeiro desafio. Nem sempre um professor terá a resposta devida, e sempre e que isso
acontece é necessário notificar o aluno, mas nunca deixando o aluno no vácuo. Nestas situações,
era tomada uma das duas opções: ou o docente estagiário se comprometia em procurar a
informação, ou então, delegava essa tarefa ao aluno que colocou a questão. Esta segunda opção
leva a que o aluno se preocupe em procurar a informação, para apresentar na aula seguinte,
fomentando o seu interesse pela disciplina. Ainda assim, a ideia mencionada anteriormente
manteve-se, podendo observar tal facto a partir da afirmação muitas vezes repetida: “o professor
que sabe tudo”.
Desta forma, com a apresentação desta ideia eternizada pelos alunos, servimos como ponte
para o seguinte ponto, a preparação científica. De facto, trata-se de um ponto essencial, deter uma
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
13
base científica robusta para o exercício eficiente da docência. É necessário aplicar conteúdo
científico atualizado, pois caso contrário, limitaremos os alunos, impedindo deste compreenderem
a complexidade da História, como um a ciência fluída. Este fator acaba por ser bloqueado pela
estagnação científica observável nos manuais escolares, estes que mantêm conteúdos
desatualizados. No caso do 12.º ano, os manuais utilizados não se encontravam alinhados com as
Aprendizagens Essenciais, algo que se deve ao facto de estes terem sido lançados após a
promulgação das mesmas. Esse problema acaba-se por estender no tempo, pois, um manual após
ser selecionado mantêm-se no mercado por seis anos, impedindo atualizações profundas. Por não
se atualizar durante esse período, existe conteúdo historiográfico desatualizado. Esta falha
científica cria uma lacuna enorme para os alunos, que, em muitos dos casos, utilizam o manual
como recurso quase exclusivo para o seu estudo, a par dos apontamentos que poderão ir
escrevendo.
Ora, no caso dos outros anos de escolaridade, que já se encontram atualizados com as
Aprendizagens Essenciais, existe um outro problema. Existe um enfoque desproporcional sobre as
mesmas, havendo uma predisposição por parte das editoras em diminuir os conteúdos da
disciplina, apresentando-os em linhas bastante rasas. Esta redução do conteúdo, numa tentativa de
descomplicar a matéria de História, acreditando ser muito complexa para os jovens alunos, é
totalmente contraproducente. No fundo, reduzir as temáticas e as fontes apresentadas a um mínimo
acaba por nivelar por baixo a exigência suposta da disciplina. Juntar este facto, à distribuição
horária existente para História, estaremos a perpetuar a desvalorização à disciplina, realidade que
observamos na atualidade. Se no caso de outras disciplinas a dificuldade não é impedimento para
tentar explicar a matéria ao aluno, deveria ser com a mesma lógica que se devia pôr em prática na
disciplina de História, ao invés de reduzir a mesma a factos solitários, um conjunto limitado de
datas nomes e alguns conceitos, sendo estes memorizados com o intuito último de aplicar numa
prova e depois esquecer.
O trabalho levado a cabo pelo Núcleo de Estágio de História da instituição recetora foi
positivo, tendo havido um ambiente sempre propício ao desenvolvimento profissional, com um
auxílio mútuo entre os docentes estagiários presentes. Como foi mencionado, o acompanhamento
por parte da docente orientadora foi impecável, demonstrando-se incansável e sempre pronta para
ajudar os seus orientandos. A caminhada realizada foi consideravelmente mais fácil devido ao
ambiente vivido, com uma alegria patente nos professores ali presentes, de pertencerem a uma
comunidade tão afável, tão familiar. Um respeito enorme entre professores e funcionários, tendo
aceitado muito bem todos os estagiários existentes, para além dos dois referentes ao Núcleo de
Estágio de História, sendo olhados como iguais aos restantes colegas.
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
14
Esta alegria é a marca que influencia diretamente o pensamento para o futuro. A felicidade
de fazer o que se gosta genuinamente permite olhar para uma profissão como uma extensão e um
ser, sem se tornar num peso diário. O futuro passará pela tentativa de passar o gosto pela História
às próximas gerações de alunos e, aos que não gostarem da disciplina, pelo menos que reconheçam
a importância da mesma para a construção de um cidadão mais sensível e com pensamento crítico.
Tornar a disciplina o mais atrativa possível, com pontes para atualidade, sendo o docente capaz de
adaptar a sua retórica e a sua postura mediante o “público” alvo. O objetivo passará igualmente
por apresentar a complexidade da História, de forma progressiva, permitindo aos discentes
absorver corretamente a matéria, sem comprometer o conteúdo científico.
Por fim, o olhar para o futuro deve passar por uma postura de empatia, compreendendo as
fragilidades existente em diferentes turmas, olhando para a dificuldade não como uma barreira,
mas como um desafio. Aproximar a história às realidades locais, culturais e sociais, permitindo
uma ligação próxima a disciplina. O professor como um mensageiro, adaptando-se aos tempos,
adaptando-se às pessoas.
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
15
CAPÍTULO II - ENQUADRAMENTO TEÓRICO
O ensino no contexto nacional encontra-se atualmente fixado num contexto de História
Nacional e Internacional, orientado pelas Aprendizagens Essenciais. Esta realidade força o docente
a um ensino centrado sobre uma retórica limitada e focada em eventos chave, num contexto
geográfico centrado numa escala alargada. A História Geral, presente nos conteúdos programáticos
das disciplinas de História (3.º Ciclo do Ensino Básico) e História A (Ensino Secundário), são
propostos de uma maneira cada vez mais sintetizada, com uma visão generalista e distantes dos
eventos. Neste contexto, a História Local pode surgir para ajudar a aproximar os alunos da
disciplina, incluindo conteúdos históricos próximos, espacialmente, do grupo discente. A História
Local e História Regional foram aprofundadas e analisadas por um conjunto de académicos, e
posteriormente, foi questionada a sua pertinência no contexto letivo.
Na investigação aqui presente, analisamos a pertinência pedagógico-didática da História
Local, correlacionando com a questão do Património Local, este último inevitavelmente ligado.
Deste modo, iniciamos o percurso por analisar a História Local e Regional, na esfera da
historiografia, seguindo-se de uma curta análise da situação presente do ensino da História em
Portugal.
2.1 - História Local – historiografia e o seu desenvolvimento
A História Local está presente na historiografia de modo a completar o vácuo deixado por
uma História Geral, incapaz de responder de um modo tão eficaz a um conjunto de especificidades,
muito devido à sua larga escala. Deste modo, é necessário recuar até aos anos setenta do século
XX, para observar um levantamento científico sobre a História Local, apresentando a sua
importância no campo historiográfico. Na obra dirigida por Jacques Le Goff, La Nouvelle Histoire,
a História Local apresenta-se como importante, no contexto desta “Nova História”. L’école des
Annales, na qual fazem parte os fundadores Marc Bloch e Lucien Febvre (onde se verificam os
nomes Fernand Braudel e o já citado Jacques Le Goff), fomentou este interesse, abrindo espaço
para o estudo do mesmo
14
.
Nesta linha, Marc Bloch apresentou a História Local como sendo uma problemática da
História, onde se colocam “testemunhos que proporcionam um campo de experiência restrito”
15
.
Foi neste pensamento que a argumentação de Elenice Ferreira se situou, afirmando a importância
14
Elenice Silva Ferreira, «La Nouvelle Histoire e o ressurgimento da História Local: contribuições para a pesquisa
em História da Educação», Cadernos de História da Educação 21 (2022): 1–20, pp .4-5.
15
Marc Bloch, La Historia rural francesa (Barcelona: Editorial Crítica, 1978), p. 48. In Margarida Sobral Neto e
Mário Simões Rodrigues, Informações paroquiais e história local. A diocese de Coimbra (Coimbra: CHSC/Palimage,
2012), http://hdl.handle.net/10316/86336, p. 24.
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
16
da Nouvelle Histoire para o avanço do estudo da História Local. O artigo da autora é deveras
importante para entender de que modo o local tem importância na conceção da História, realizando
a ponte necessária com o ensino da disciplina nos Ensinos Básico e Secundário
16
. A autora utiliza,
inclusivamente, a História Local para o estudo da História da Educação, na dimensão local
específica de Vitória
17
.
Entrando na dimensão do que foi produzido sobre História Local no território português,
foi possível chegar a Luís Reis Torgal, mais precisamente a um artigo publicado na Revista de
História das Ideias, em 1987
18
. Segundo o autor, o aparecimento do interesse sobre a História
Local, em Portugal, tem influência direta do pós-25 de Abril, pois, de uma maneira geral, foi
disponibilizada uma oportunidade das diferentes geografias lusas poderem investir e aprofundar a
sua realidade local, a sua própria História. O autor liga a História Local a um trabalho de “memória
coletiva”, passando as memórias existentes das realidades locais para o contexto “científico” da
História. A História Local em Portugal passa a ter um lugar firme na ciência histórica, sendo
produzida com o mesmo rigor que a restante
19
. Nesta linha, a memória surge como um elemento
crucial da identidade, seja coletiva ou individual, apresentando-se como essencial na sociedade
atual. Segundo Ana Filipa Mesquita, “defender o Património implica uma postura de preservação
de uma memória (…)”
20
, o que aponta desde logo para uma postura de dinamização partilha do
Património Local, a partir da História Local.
Segundo Margarida Neto, as primeiras cedências da historiografia portuguesa, à influência
da Nouvelle Histoire no campo da História Local, foram a publicação de trabalho referentes às
cidades do Porto e Coimbra, das regiões do Algarve, Entre Douro e Minho, Aveiro e Baixo-
Mondego, e ainda, “concelhos em que se articulou a história da população, a economia e a
sociedade”
21
. Neste ponto verificamos que existe a diferenciação em duas classificações, uma vez
que, segundo José Mendes, a História Local poderá ser entendida como “História de escala”, onde
se observam limites geográficos dinâmicos, e a História Local, definida como História de uma
16
Ferreira, «La Nouvelle Histoire e o ressurgimento da História Local: contribuições para a pesquisa em História da
Educação».
17
Município brasileiro pertencente ao estado da Bahia.
18
Luís Reis Torgal, «História… Que História?: Algumas reflexões introdutórias à temática da História Local e
Regional», Revista de História das Ideias O Sagrado e o Profano, n.o 9 (1987).
19
Torgal, pp. 845-846.
Ana Filipa Mesquita, «Lugares de Memória no ensino da História Contemporânea. Alunos e familiares redescobrindo
património(s)» (Porto, Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2013), https://repositorio-
aberto.up.pt/bitstream/10216/70735/2/28540.pdf, p. 16.
20
21
Neto e Rodrigues, Informações paroquiais e história local. A diocese de Coimbra, p. 23.
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
17
localidade, ou região. Nesta segunda opção, o enquadramento espacial é definido e aceite
previamente, sendo fixados os limites do mesmo
22
.
Porém, esta segunda opção levanta a questão sobre a escala do espaço, assim dizendo “a
região” ou “o local”. Segundo Marc Bloch, existe um questionamento sobre os conceitos,
sustentando a ideia de que os mesmos seriam mutáveis mediante as diferentes variáveis
23
. Para
além disso, defende que os dois conceitos não são sinónimos, representando diferentes
realidades
24
. Segundo Carvalhão Santos, “o local” ou “a região” não deverão ser definidos a partir
de um olhar geográfico ou político-administrativo, mas por sua vez a partir de uma “expressão
espacial de relações sociais”
25
. A demarcação dos limites dependerá dos pontos considerados
relevantes, devendo o historiador determiná-los. Elenice Ferreira avança que a História Geral
acaba por ser a soma das diversas Histórias Locais
26
.
A utilização da História Local e Regional permite que seja explicado aos alunos que “o
nacional e o global não são um todo homogéneo”, pois é possível constatar uma pluralidade de
realidades que coexistiram, em diferentes locais, com características distintas. Segundo Ana Filipa
Mesquita, a explicação desta realidade auxiliará os alunos a compreenderem melhor a atualidade,
mas ainda, acrescenta a autora, ajuda também “a respeitarem outras culturas e modos de vida (...),
compreendendo melhor a singularidade da sua
27
. Maria Toledo surge como aparente defensora da
aplicação de História Local, onde serviria para demonstrar as diferentes dinâmicas (económicas,
sociais, …) existentes no contexto da “cidade”. A autora, a partir da bibliografia que apresenta e
do contexto espacial em que se encontra (Brasil), apresenta uma História Local quase exclusiva
ao estudo da Urbe
28
. Contudo, apesar da aparente limitação geográfica, a autora classifica a
História Local como uma rutura ao tradicionalismo historiográfico.
A esta questão acrescenta-se a visão de Luís Reis Torgal, de que a História Local e Regional
será aproximadamente tão antiga quanto a historiografia nacional, afirmando categoricamente de
que não existe uma História Geral sem a História Local
29
. A circunstância em que é possível
22
José Amado Mendes, «História local e memórias: do Estado-Nação à época da globalização», Revista Portuguesa
de História, n.o 34 (2000): 349–68, p. 351.
23
Neto e Rodrigues, Informações paroquiais e história local. A diocese de Coimbra, p. 24.
24
Couto, «A História Local e o Património Histórico-Cultural no Ensino da História», p. 16.
25
J. J. Carvalhão Santos, «Do Local ao Global: uma reflexão sobre conceitos e práticas», Revista Portuguesa de
História, n.o 39 (2007): 121–52, pp. 143-146.
26
Ferreira, «La Nouvelle Histoire e o ressurgimento da História Local: contribuições para a pesquisa em História da
Educação», p.16.
27
Mesquita, «Lugares de Memória no ensino da História Contemporânea. Alunos e familiares redescobrindo
património(s)», p. 29.
28
Toledo, «História local, historiografia e ensino: sobre as relações entre teoria e metodologia no ensino de história».
29
Torgal, «História… Que História? : Algumas reflexões introdutórias à temática da História Local e Regional», p.
857.
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
18
detetar a evolução da História Local seriam precisamente as respetivas mutações na historiografia.
Atualmente, quando se aborda História Local, estamos de facto presente ao que se intitula de
“Nova História Local”, sendo que Joaquim Carvalhão Santos salienta a sua relevância e contributo
para a historiografia.
No contexto europeu, devido a um movimento generalizado pelo desejo de mudança das
Ciências Sociais, a História embarca por consequência num período de reflexão e de reforma. Uma
“História Nova” surge no pensamento dos jovens historiadores, que declaram urgentemente uma
reforma para esse caminho, onde se destacam novamente as escalas regional e local da
historiografia
30
. Contudo, é possível recorrer ao século XIX para verificar um surgimento
cimentado dos estudos de História Local. Esta ascensão, segundo alguns autores como José
Mendes
31
, Margarida Neto
32
e Reis Torgal
33
, é assinalável devido ao cruzamento entre um período
de influência da escola metódica, juntamente com a afirmação dos Estados.
Qualquer progresso historiográfico aliado à História Local acabou por ser interrompido
pela chegada de António de Oliveira Salazar às esferas do poder, já no segundo lustro da década
de 1920. Existe desde logo uma alteração das prioridades de investigação, dando primazia para
uma História político-institucional, dos grandes acontecimentos e figuras nacionais
34
. A História
Local seguirá a ser consumada fora das academias, tendo de esperar até à chegada da década de
1960 para que esta vá ganhando novamente o seu espaço. Só a partir da década de 1970 é que
efetivamente ocorrerá uma mudança significativa na historiografia nacional, reanimando a
História Local, que voltará a integrar o mundo académico mais claramente
35
.
2.2 - História Local e a sua aplicação didático-pedagógica
Como foi observado, existe um percurso que caracteriza a História Local na historiografia
académica, tomando a passo um lugar relevante, com o reconhecimento da sua importância na
elaboração de um retrato mais preciso dos contornos nacionais e internacionais. Deste modo, são
irrefutáveis os benefícios que esta área promove para a comunidade, e mais importante, que pode
dinamizar num contexto letivo. José Mendes afirma que existe de facto um serviço prestado à
comunidade a partir da dinamização da História Local e do seu Património
36
. Assim, procurou-se
30
Neto e Rodrigues, Informações paroquiais e história local. A diocese de Coimbra, p. 19.
31
Mendes, «História local e memórias: do Estado-Nação à época da globalização».
32
Neto e Rodrigues, Informações paroquiais e história local. A diocese de Coimbra.
33
Torgal, «História… Que História? : Algumas reflexões introdutórias à temática da História Local e Regional».
34
Neto e Rodrigues, Informações paroquiais e história local. A diocese de Coimbra, p. 20.
35
Mendes, «História local e memórias: do Estado-Nação à época da globalização», p. 361.
36
Mendes, p. 366.
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
19
encontrar o caminho da investigação já realizada sobre o tema pelo mundo académico, incluído
trabalho presente em relatórios finais.
No documento Perfil do aluno à saída do ensino obrigatório a questão da História Local
acaba por não ser mencionada. Muito possivelmente devido ao seu cariz generalista, pois trata-se
de uma base documental para todas as disciplinas, a questão relativa à História Local e Regional
acabou por não se enquadrar. Existe um objetivo orientador para a elaboração de princípios
humanistas. O documento orienta o docente para um trabalho descentrado da formação escolar
estática, dinamizando igualmente uma formação preparatória para cidadãos ativos socialmente,
culturalmente e politicamente.
Já no caso seguinte, existe desde logo uma importância à História Local, presente nas
Aprendizagens Essenciais, um dos documentos centrais do ensino português. Tal como
inclusivamente foi observado a priori, existe um conjunto de linhas estratégicas apontadas nos
documentos referentes ao ensino da História no Ensino Básico, e em História A, História B e
História e Cultura das Artes, no Ensino Secundário. As estratégias resumem-se, essencialmente, a
uma sugestão da utilização da História Local e Regional, apontando para uma valorização do
património “da região em que habita”, especificando que poderá ser de cariz “material e
imaterial”
37
. Podemos igualmente observar uma ligação propositada entre diferentes escalas da
História, nomeadamente o local, o regional e o europeu, apresentando um intuito de interligar as
diferentes realidades entre si
38
. Ainda nas Aprendizagens Essenciais, na secção das “Ações
estratégicas orientadas para o Perfil dos alunos”, reforça-se as linhas já mencionadas sobre a
História Local, voltando a frisar os pontos analisados. Desta maneira, é possível concluir, num
primeiro momento, que existe uma relação de cooperação entre a História Local e Regional com
a História Geral, destacando uma valorização do património presente.
Podemos desta forma admitir que, por parte do ministério responsável pela pasta da
educação, existe uma preocupação para que se valorize e se aplique a História Local, onde se inclui
o estudo do seu património, como um meio para preparar civicamente o conjunto discente. Deste
modo, observa-se que a História Local contabiliza um conjunto de aplicações variadas. O
aprofundamento da mesma, enquanto temática especifica no âmbito da historiografia é
amplamente justificado, como se observou pelos documentos basilares do ensino português, que a
sua utilização no contexto letivo é profundamente pertinente. Joaquim Carvalhão Santos defende
a sua utilização, permitindo um trabalho com fontes locais mais próximas aos alunos e de
37
República Portuguesa, «Aprendizagens Essenciais: História 7.o Ano».
38
República Portuguesa, «Aprendizagens Essenciais: História 9.o Ano», Revisão 2022 de 2018.
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
20
acessibilidade mais facilitada
39
, partindo da premissa de que estes deveriam ter um melhor
conhecimento e sensibilidade sobre as fontes documentais. Sílvia Araújo avança de que os
docentes poderiam recorrer aos arquivos para dinamizar no contexto de sala de aulam uma análise
das fontes históricas
40
. O objetivo por trás deste tipo de atividades passaria principalmente por
uma demonstração à escala, do que seria o trabalho do historiador e os processos que são basilares
para a História.
Este trabalho com os alunos que os autores propõem visa igualmente o desenvolvimento
autonómico dos discentes. Existe mesmo uma ideia defendida por Joaquim Carvalhão Santos, onde
o mesmo declara que a realização do trabalho prático acaba por ser mais vantajosa que uma
demonstração de um “saber feito”
41
. Esta visão, partilhada por Luís Alberto Alves, defende a
aplicação da História Local como método de adaptar e aplicar conteúdos para “alimentarem as
habilidades e capacidades pois são estas que podem facilitar ou inibir o exercício da
competência”
42
.
Desta maneira, a História pode ser apresentada como uma “pedagogia central do
cidadão”
43
, onde então poderemos colocar a História Local na pedagogia e didática? Qual o peso
na cidadania?
Helder de Macedo encontra-se livre de dúvidas sobre a relevância da História Local,
declarando firmemente ser um dos “pré-requisitos para se compreender melhor os processos
históricos em nível regional, nacional e global”
44
. Acrescenta ainda, que a introdução da temática
contribui para firmar a identidade da população com o lugar onde nasceram ou habitam. Utilizar a
História Local como uma abordagem, significa que se considera como metodologia, sendo
possível minimizar “a aversão ou apatia frente às aulas de História”, estabelecendo ainda ligações
lógicas com a História Nacional e internacional
45
.
Existe uma apresentação da aplicação da História Local como um recurso metodológico
nas aulas de História, que pode constituir um desafio tanto para o docente como para os seus
discentes, “pois exige tempo e dedicação para a sua execução”
46
. Nilson Ferreira e António Mota
apresentam a História Local como uma estratégia didática de valor pedagógico claro. Desta forma,
39
Santos, «Do Local ao Global: uma reflexão sobre conceitos e práticas», p. 127.
40
Sílvia Isabel Araújo, «“Só se ama o que se conhece ...”: Contributos da História local no Ensino da História» (Porto,
Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2017), https://hdl.handle.net/10216/108721, p. 46.
41
Santos, «Do Local ao Global: uma reflexão sobre conceitos e práticas», p. 127.
42
Alves, «A História local como estratégia para o ensino da História», p. 68.
43
Alveal, Fagundes, e Rocha, Reflexões sobre História Local e produção de material didático, p. 28.
44
Alveal, Fagundes, e Rocha, p .61.
45
Alveal, Fagundes, e Rocha, pp. 63-77.
46
Nilson Gomes Ferreira e Antonia da Silva Mota, «Educação patrimonial: a história local como recurso metodológico
nas aulas de história», Conjecturas 22, n.o 10 (2022): 392–404, p. 402.
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
21
concordando com a importância da mesma, os autores do artigo “Políticas para o ensino de História
Local”, consideram importante lançar políticas de valorização da História Local, construindo um
plano de ensino dedicado, que viabilize aos docentes possuir, na sua prática pedagógica, “situações
de pesquisa, investigação e criação de estratégias didáticas, visando uma formação integral e
primando pelos direitos de aprendizagem do educando”
47
.
Para a realização deste trabalho, optou-se por eleger publicações consideradas pertinentes
para o aprofundamento teórico. Primeiramente, realizou-se uma análise inicial de um conjunto de
relatórios de estágio referentes ao Mestrado em Ensino de História no 3.º Ciclo do Ensino Básico
e no Ensino Secundário. De antemão, procurou-se que a temática dos relatórios fosse relativa à
História Local. Desta forma, foram realizadas duas ações: em primeiro lugar, foi observada e
selecionada bibliografia, a fim de abrir o leque de leituras referente à História Local; em segundo
lugar, examinar o conteúdo dessas mesmas leituras, conhecendo os dados que os colegas
recolheram e apresentaram nos seus relatórios, tornando possível a comparação de resultados
obtidos, com trabalhos já apresentados
48
.
O relatório de estágio realizado por Sílvia Brochado Araújo, intitulado “«Só se ama o que
se conhece…»: Contributos da História Local no Ensino da História”
49
, realizado na Faculdade de
Letras da Universidade do Porto, tem como foco Vila Meã, freguesia integrante do concelho de
Amarante. A autora afirma no seu trabalho, que o professor deveria dinamizar momentos didático-
pedagógicos, para que a aprendizagem fosse interiorizada, fomentando o interesse do aluno pela
disciplina. Acrescenta ainda que “a disciplina de História propicia esta situação porque são
inúmeros os conteúdos, contextos e épocas históricas que são passíveis de ser utilizados em prol
da História local”
50
.
Para além do relatório apresentado, existe um conjunto de trabalhos levados a cabo no seio
da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, que podem ser referenciados. Esses trabalhos
complementam bem o estudo da História Local, no contexto didático. Entre os anos de 2017 e
2022 podemos apresentar alguns relatórios que encontraram na História Local uma pertinência
clara na sua utilização. Sérgio Couto e Paula Fenta debruçaram-se sobre a importância estratégica
da História Local e o Património, no contexto das aulas de História. O estudo de Paula Fenta foi
realizado com turmas de 8.º ano do 3.º Ciclo e no 11.º do Ensino Secundário, aplicando a História
47
José Antonio Nascimento, Erica Karnopp, e Bianca Tamara Siqueira, «Políticas para o ensino de História Local»,
Revista Latino-Americana de História 11, n.o 27 (2022), p. 290.
48
Os relatórios apresentados são resultado de uma pesquisa levada a cabo nos repositórios das principais universidades.
49
Araújo, «“Só se ama o que se conhece ...”: Contributos da História local no Ensino da História».
50
Araújo, p.11.
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
22
Local como elo motivador, principalmente a partir das visitas de estudo
51
. Sérgio Couto apresenta
também a sua perspetiva sobre a importância da História Local, apresentando, à imagem do que já
foi observado anteriormente, dados relativos à importância da visita de estudo, seja in loco, seja
virtualmente
52
. O virtual, por sua vez, foi refletido por Ana Moniz, que trabalhou com a memória
e História Local, no contexto tão atual como é o digital
53
. Assim, utilizando as tecnologias é
possível integrar História Local no momento da aula de História.
Seguindo com “Viagens pela minha terra: As visitas de estudo no contexto da História
Local e Regional”, relatório de estágio de Valério Santos, é apresentada a importância das saídas
programadas. É mencionado no decorrer do trabalho a realização de visitas de estudo tradicionais,
assentes numa deslocação ao local de visita, mas também, a realização de uma visita de estudo
virtual. Esta segunda opção apresentada recorre ao meios digitais para transportar os alunos ao
património desejado. A experiência não sendo a mesma, acaba por dinamizar um olhar
diferenciado do que poderá ser uma visita de estudo. Ponto interessante no trabalho realizado por
Valério Santos, quando chegamos às conclusões obtidas, verificamos que os alunos vêm o
professor, no contexto de visita de estudo, próximo de um Guia de visita. Isto acontece devido ao
papel de elemento esclarecedor de dúvidas existentes
54
.
Num contexto geral, os relatórios apontam uma relevância clara à História Local,
conectando-a sempre com as saídas ao “terreno”, observando o Património Local, ligando com as
matérias lecionadas. Nos relatórios anteriores, defendidos na Faculdade de Letras da Universidade
de Coimbra, observamos um trabalho centrado na cidade, com as visitas de estudo ocorridas na
mesma. Esta decisão por parte dos autores demonstra uma relevância de Coimbra, em alguns dos
conteúdos estudados na disciplina de História. Vale ainda citar, por exemplo, o trabalho realizado
por Ana Neves, onde para além da valorização da cidade, fê-lo ligando com o 25 de Abril, criando
um roteiro de visita de estudo, em torno dos acontecimentos ocorridos
55
.
Contudo, é relevante mencionar outros trabalhos, com geografias distintas, mas que são
oportunos para observar a pertinência da História Local, noutras localizações. Deste modo, é
possível mencionar os relatórios de João Liceia
56
, que focou o seu trabalho no concelho da Figueira
51
Paula Fenta, «O Património Histórico como estratégia no ensino da História: Experiência Pedagógica no 8.o e 11.o
ano» (Coimbra, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 2020), https://eg.uc.pt/handle/10316/93775.
52
Couto, «A História Local e o Património Histórico-Cultural no Ensino da História».
53
Ana Moniz, «“Pedagogia da memória” no século digital: Tecnologias digitais para estudar História Local»
(Coimbra, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 2020), https://eg.uc.pt/handle/10316/93751.
54
Valério Santos, «Viagens pela minha terra: As visitas de estudo no contexto da História Local e Regional» (Coimbra,
Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 2019), https://eg.uc.pt/handle/10316/93358, p. 71.
55
Ana Neves, «A História e o Património Cultural Local como estratégia no ensino-aprendizagem da História»
(Coimbra, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 2022), https://eg.uc.pt/handle/10316/104081.
56
João Liceia, «História e Património local enquanto ferramenta pedagógico-didática no ensino da História: O caso
da Figueira da Foz» (Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 2021), http://hdl.handle.net/10316/97031.
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
23
da Foz, Inês Morais
57
, que optou por escolher Aveiro, e ainda Tiago Ferreira
58
, que trabalhou sobre
o concelho de Condeixa. Nestes trabalhos, a aplicação de História Local como estratégia
pedagógico-didática insere-se no contexto geográfico onde os mesmos realizaram o seu estágio
pedagógico. Esta decisão é totalmente pertinente, pois tem como objetivo aproximar os seus alunos
da disciplina, com a introdução dos elementos de História Local das suas geografias. Todavia, esta
não foi a linha de raciocínio optada por todas as individualidades, sendo o exemplo de Leandro
Correia
59
, autor que utilizou a História Local para explicar o contexto da emigração portuguesa,
no século XIX, utilizando o caso de São Vicente de Pereira, freguesia pertencente ao concelho de
Ovar.
Neste caso, foi utilizada uma localidade afastada da realidade escolar na qual o estágio
pedagógico teve lugar. O autor preferiu aproximar a geografia próxima ao mesmo, introduzindo-a
ao corpo discente. Ainda assim, nunca colocando em causa a relevância da História da localidade,
considera-se questionável a aplicação de elementos de História Local de geografias distantes ao
local de estágio, pois perde-se desde logo o elemento vital de aproximação do aluno com a
História. Em concreto, a distância entre o aluno e a disciplina mantém-se se abordarmos a História
Nacional centrando-a em Lisboa, ou História Local situada a cerca de 90 quilómetros. Contudo,
visto que o objetivo do autor não passou por incutir essa proximidade histórica, e sim, pôr em
prática um conjunto de atividades ligadas ao efeito da emigração para o Brasil no século XIX,
acabou por se demonstrar oportuno, dentro das linhas propostas no relatório em causa.
57
Inês Morais, «Contributos da História Local e do Património Cultural para o ensino da História: O caso da Arte
Nova em Aveiro» (Coimbra, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 2022),
https://eg.uc.pt/handle/10316/104072.
58
Tiago André Simões Ferreira, «A História Local e o Património como estratégia no ensino da História. Experiência
Pedagógica no 8.o ano.» (Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 2021), http://hdl.handle.net/10316/97036.
59
Leandro Correia, «Partir, Regressar e Investir: Uma abordagem didática sobre a emigração no século XIX
português» (Coimbra, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 2017), https://eg.uc.pt/handle/10316/85379.
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
24
CAPÍTULO III – AS EXPERIÊNCIAS PEDAGÓGICAS
Nesta secção serão apresentados os dados recolhidos, sendo estes fruto de experiências
realizadas no contexto escolar. Será esta secção dividida em três momentos, sendo uma primeira
parte dedicada à descrição das atividades realizadas. A segunda parte será realizada a análise dos
dados obtidos nas atividades apresentadas, interligando com elementos presentes nos inquéritos
realizados. Por fim, esta secção será concluída com uma terceira parte, e última, onde serão
comparadas as informações adquiridas neste estudo, com os resultados obtidos por outros autores.
3.1 - Apresentação das atividades realizadas
Durante o decorrer do ano letivo foram aplicados elementos entre as matérias abordadas e
a História Local. Este trabalho, como foi dito a priori, foi realizado na turma de 12.º Y, onde está
presente a matéria relativa ao século XX (História Contemporânea)
60
. Desta maneira, foram
organizados alguns momentos pedagógico-didáticos, aplicados progressivamente. Primeiramente,
decidiu-se dinamizar um conjunto de aulas mais expositivas, apelando sempre à participação dos
alunos. Nestas aulas o objetivo passou sempre pela aproximação dos alunos à matéria, no qual se
inseria a temática de História Local abordada, bem como a apresentação de uma cidade, que todos
tinham ligação, mas que desconheciam muito sobre a mesma.
Após a realização de três aulas dedicadas à História Local, realizaram-se duas visitas de
estudo. Uma primeira realizada na Alta da cidade de Coimbra (sendo que o ponto de encontro foi
na zona da Portagem), tendo como objetivo demonstrar os diferentes momentos históricos, pelos
quais a cidade de Coimbra ficou marcada. Esta visita de estudo foi guiada pelo docente estagiário,
tendo o objetivo de ser uma aula “a céu aberto”, com a participação dos alunos. A segunda visita
de estudo teve como destino a Exposição das Primaveras Estudantis, um espaço museológico
temporário, situado no Convento de São Francisco.
Por fim, uma última atividade foi realizada, tendo como base um trabalho mais autónomo
dos alunos, já fora do contexto de aulas. Foi pedido que realizassem um levantamento junto dos
seus familiares, das memórias desde o Estado Novo até ao período revolucionário. Neste contexto,
o que seria inicialmente uma atividade exclusivamente dedicada à turma do 12.º Y, acabou por se
alastrar a outras turmas
61
, pois ligou-se esta atividade a uma exposição realizada na escola, sobre
60
Ministério da Educação, Aprendizagens Essenciais de História – 12o ano, Ensino Secundário (Lisboa, 2018).
61
Para além da turma do 12.º Y, no qual se centra o trabalho, o docente estagiário deu igualmente aulas a outras duas
turmas pertencentes à professora orientadora do estágio, sendo estas o 11.º Y e o 9.º Y. No que toca à realização do
levantamento de testemunhos familiares, a turma que se juntou à atividade está inserida no percurso de Línguas e
Humanidades, sendo esta o 10.º Y.
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
25
o 25 de Abril
62
. Para este trabalho serão selecionados os testemunhos referentes ao 12.º Y, seguindo
a lógica de acompanhamento específico desta turma.
3.1.1 - Aulas de História Local
O conjunto de aulas dedicadas à História Local começou ainda no primeiro período
63
. O
primeiro momento foi inserido na subunidade “Portugal: O Estado Novo”
64
, mais precisamente no
conteúdo temático referente às obras públicas dinamizadas pelo Regime salazarista. A aula teve
como título “Coimbra do Estado Novo: Grandes obras públicas que marcaram a cidade”. Com esta
aula, o objetivo passava por demonstrar a influência das políticas de construção dos gabinetes do
Estado Novo, na cidade de Coimbra, deixando marcas claras na estética urbana, bem como na
organização populacional da mesma.
Figura 1- Plano Polo 1: 2ª versão preliminar - 1942
65
Foi apresentada a evolução da cidade, a partir da comparação de vários edifícios, sendo
que algumas das estruturas apresentadas não existiram até à reforma realizada pelo Regime.
Exemplo claro da reforma salazarista, é a reconstrução da Alta coimbrã. É o caso quase inabdicável
para explicar as mudanças ocorridas. Nesse primeiro tempo, apresentou-se a Alta de Coimbra,
antes da reforma, com o edificado típico da época, sem os edifícios que hoje caracterizam a Cidade
62
A escola dinamizou um conjunto de atividades ligadas ao 25 de Abril, sendo que o Núcleo de História auxiliou na
realização das mesmas, e ainda procedeu igualmente à realização de outras. No relatório final serão expostos esses
mesmo trabalhos, como por exemplo, a elaboração de um moral referente ao 25 de Abril, numa das paredes exteriores
da Escola.
63
As planificações das aulas específicas de História Local encontram-se disponibilizadas em anexo.
64
Ministério da Educação, Aprendizagens Essenciais de História – 12.o ano, Ensino Secundário, p. 10.
65
Susana Constantino, «Coimbra e o valor identitário da retórica do Estado Novo», Dearq - Universidad de Los Andes,
n.o 21 (2017): 64–75, p. 67.
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
26
Universitária
66
. Neste momento da aula, alguns alunos mostraram-se interessados, e questionaram
o que aconteceu às pessoas que viviam na Alta conimbricense. Uma pergunta pertinente e
importante, pois serviu de ponte para a explicação da construção dos novos bairros de Celas
67
e
Marechal Óscar Carmona (atual Bairro Norton de Matos)
68
. De ressalvar a identificação quase
direta das linhas arquitetónicas dos edifícios universitários, conseguindo fazer uma comparação
com a Universidade de Roma, ou seja, com linhas fascizantes, tal como Susana Constantino
avança
69
.
No cômputo geral, os cinquenta minutos da aula foram bem utilizados e distribuídos. Como
será abordado em avanço, os primeiros cinco minutos foram utilizados para realizar um primeiro
inquérito, de forma a saber a que ponto o docente estagiário iria confrontar.
A segunda aula teve sua ocorrência no segundo período, acompanhando a linha temática
“Portugal, do autoritarismo à democracia”
70
. O docente estagiário expôs a realidade conimbricense
entre a Primavera Marcelista e o período revolucionário, intitulando a sua aula “Coimbra: do
Marcelismo à Revolução”. À imagem da primeira aula dedicada à História Local, iniciou-se com
a realização de um inquérito, o segundo desde o início do ano letivo. De seguida, avançou-se para
a exposição do conteúdo. A estratégia de aula foi bastante próxima ao realizado na primeira
oportunidade. Focou-se bastante na utilização do audiovisual, com a utilização de fotografias e
vídeos, contemporâneos à matéria. O material utilizado foi retirado, no que diz respeito às
fotografias, na totalidade da página online do projeto 25AprilPTLab. No que diz respeito aos
vídeos utilizados, esses foram observados a partir da página do Arquivo RTP
71
.
A estrutura da aula seguiu a ordem cronológica dos eventos a ser apresentados, sendo que
relativamente ao período Marcelista, foram apresentadas imagens da realidade social vivida nas
localidades da Conchada e da Relvinha, ambas em 1970. Desta maneira, foi possível mostrar aos
alunos um paralelo com a realidade nacional vivida no período de estudo. Habitações com parcas
condições, na sua generalidade, onde podemos observar uma clara mancha de pobreza,
demonstrando as fragilidades reais da população portuguesa.
66
Margarida Calmeiro, Urbanismo antes dos planos: Coimbra 1834-1934 (Coimbra: Câmara Municipal de Coimbra,
2021), pp. 185-204.
67
Para o caso do Bairro de Celas, sugere-se a leitura do seguinte trabalho: Maria Ferrão, «Identidade e memória: o
bairro económico de Celas, Coimbra» (Porto, Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, 2018),
https://sigarra.up.pt/faup/pt/pub_geral.pub_view?pi_pub_base_id=310883.
68
Calmeiro, p. 195.
69
Constantino, «Coimbra e o valor identitário da retórica do Estado Novo», p. 70.
70
Ministério da Educação, Aprendizagens Essenciais de História – 12.o ano, Ensino Secundário, p. 12.
71
https://arquivos.rtp.pt/ - último acesso realizado no dia 13 de maio de 2023.
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
27
Figura 2- Bairro da Conchada em 1970
72
De seguida, avançou-se para o período revolucionário, tendo sido apresentados vários
momentos-chave da História de Portugal. O primeiro momento escolhido, não podendo deixar
passar, foi o 25 de Abril de 1974, onde se deu início ao período revolucionário e transição do
Regime autoritário do Estado Novo, para um Regime democrático. Por Coimbra, apesar de não ter
sido exatamente no dia da Revolução dos Cravos, mas entre os dias 26 a 28 do mês de abril desse
ano, a sede da PIDE/DGS de Coimbra foi tomada pela população, o que demonstra uma clara
posição da mesma de não esquecimento do papel opressor da instituição. Seguiram-se imagens da
saída em massa da população conimbricense à rua, durante as manifestações do 1.º de Maio, o
primeiro celebrado em liberdade. As fotografias demonstram claramente uma mobilização imensa
nas ruas da cidade percorrendo a Avenida Sá da Bandeira até a oeste da margem do Rio Mondego.
Figura 3- O primeiro 1de Maio em liberdade - Coimbra 1974.
73
72
https://25aprilptlab.ces.uc.pt/ - último acesso ao site no dia 9 de julho de 2023.
73
https://25aprilptlab.ces.uc.pt/ - último acesso ao site no dia 9 de julho de 2023.
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
28
Por fim, existiram mais dois momentos de apresentação audiovisual: um primeiro, onde
são apresentadas imagens de populares a demonstrarem descontentamento, relacionado com a
tentativa de Golpe do General Spínola a 11 de março de 1975. O segundo momento, foi constituído
pela visualização de duas reportagens que acompanham as eleições constituintes em Coimbra, a
25 de Abril de 1975.
À imagem do que ocorreu na primeira aula de História Local (e que acontecerá igualmente
na terceira), existiu um levantamento de ideias tácitas no início da aula, para observar os
conhecimentos previamente adquirido pelos alunos sobre os temas. Num primeiro tempo
questionou-se o que sabem sobre o tema na sua generalidade, e depois, sobre o mesmo tema, mas
geograficamente restrito a Coimbra. Esta segunda aula serviu de ponte para o tema que seria
abordado na aula seguinte, dedicada aos acontecimentos ligados à Crise Académica de 1969.
A terceira aula, e última, ocorreu no seguimento da anteriormente referida, mantendo assim
uma linha lógica, tentando manter a atenção e compreensão dos alunos. Apesar de
cronologicamente a temática em questão encontrar-se antes dos eventos revolucionários,
considerou-se pertinente dedicar uma aula exclusiva para a questão da Crise Académica de 1969.
Se essa razão não fosse considerada, o tema encaixaria na perfeição no momento anterior, na parte
dedicada ao Regime de Marcelo Caetano.
Novamente, a aula teve uma característica expositiva e explicativa, apresentando os
eventos ligados à Crise Académica a partir de imagens dos acontecimentos
74
. O surgimento de
uma crise académica em Coimbra, numa década onde a comunidade estudantil nacional já se tinha
demonstrado desagradada com o regime
75
. As universidades eram um campo dinamizador de
estudantes opositores, influenciado por orientações marxistas
76
. Esta realidade oposicionista no
contexto universitário é importante para compreender a demonstração de desagrado que se irá
despoletar na Academia conimbricense. As imagens apresentadas ao corpo discente apresentam
todo o progresso da contestação realizada, sendo explicados os momentos que acompanham a
evolução da Crise Académica de 1969. Para além do conteúdo fotográfico já mencionado, foi
apresentando um vídeo relativo ao tema, presente no site RTP Ensina
77
.
74
Fotos obtidas a partir do artigo jornalístico publicado no site do Observador: https://observador.pt/2016/03/24/crise-
1969-as-imagens-luta-capas-negras-estudantes/ - último acesso realizado no dia 14 de maio de 2023.
75
Miguel Cardina, «Memórias incómodas e rasura do tempo: Movimentos estudantis e praxe académica no declínio
do Estado Novo», Revista Crítica de Ciências Sociais, n.o 81 (2008): 111–31, p. 120.
76
Cardina, «Movimentos estudantis na crise do Estado Novo: mitos e realidades», p. 68.
77
https://ensina.rtp.pt/artigo/a-crise-academica-de-1969-17-de-abril/ - último acesso realizado no dia 14 de maio de
2023.
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
29
Após a apresentação da temática, foram levantadas algumas questões pelos estudantes,
sempre pertinentes e relativas ao tema, servindo de exemplo a seguinte:
O que aconteceu com os alunos que se recusaram a fazer parte da greve? Foram
perseguidos pelos que fizeram? E, por exemplo, os professores que eram favoráveis ao
movimento dos estudantes, o que lhes aconteceu?
A pergunta apresenta um nível considerável de interesse por parte do aluno e, até, de
curiosidade. Compreendeu, a partir das informações apresentadas, que existiam estudantes, que
por diversos motivos, não fizeram parte de toda a movimentação estudantil, o que levou a que o
discente em questão se sensibilizasse para essa questão. Para além disso, ainda complementa a sua
pergunta, questionando sobre as possíveis sanções sobre os docentes apoiantes da movimentação
estudantil. No fundo, existe uma preocupação com as repercussões que as figuras históricas teriam
sido vítimas.
No final, houve uma reflexão coletiva que levou automaticamente para um debate
interessante sobre a Academia e a importância da mesma no contexto nacional, relativamente à
data da Crise Académica. Afirmaram igualmente que desconheciam uma grande parte dos
acontecimentos que ocorreram durante o acontecimento estudado, apesar da maioria dos alunos
saber da existência do evento abordado. Desde logo observamos que muitos dos eventos os alunos
conhecem, mas com uma ligeireza marcada pela inexistência que a História Local ocupa nas suas
vidas.
3.1.2 - Visitas de Estudo
A aprendizagem de História Local poderá, potencialmente, trazer o interesse do aluno a
uma possível aproximação à temática abordada, pois ao mesmo tempo que este se manifesta
interessado pela “História das áreas longínquas, manifesta igualmente um grande interesse pela
“História das regionalidades próximas”
78
. Desta maneira, é importante aproveitar os recursos
próximos, criando uma situação de aula no exterior. A visita de estudo torna-se nuclear neste
sentido, trazendo o corpo discente para o espaço físico abordado em aula. Uma forma empírica de
assimilação, sendo considerada uma “visita de estudo” uma saída, independentemente da distância,
com objetivos educativos claros
79
. Estas atividades que representam uma deslocação dos alunos,
tendem a ser tentadoras para os mesmos. Contudo, deve ser bem cimentada a ideia do significado
78
José Machado País, Consciência Histórica e Identidade – Os Jovens Portugueses num contexto europeu (Oeiras:
Celta Editora, 1999), p. 186.
79
António Almeida, Visitas de estudo- Conceções e eficácia na aprendizagem (Lisboa: Livros Horizonte, 1998), p.
51.
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
30
e implicações das saídas de estudo, no quadro das aprendizagens, distanciando inequivocamente
de “meros passeios turísticos”
80
.
As visitas de estudo in loco dependem de um conjunto linhas preparatórias, onde se devem
filtrar os conteúdos a serem explorados e os materiais auxiliares necessários à sua realização. A
burocratização das atividades exteriores ao espaço escolar exige uma preparação logística mais
assídua, onde para além dos documentos e informações que devem ser fornecidos, devem ser
contactadas as entidades devidas. Nos momentos anteriores à visita deve existir um planeamento
atencioso, sendo aconselhado um conhecimento prévio sobre o local pretendido, facilitando
especialmente a designação de objetivos e a elaboração de materiais a serem utilizados
81
. O
momento seguinte é definido pela realização efetiva da visita, onde os alunos deverão estar atentos,
retirando notas, que mais posteriormente poderão ser utilizadas como o docente achar melhor, seja
no diálogo centrado num debate construtivo, ou por exemplo, na elaboração de trabalhos com, ou
sem, apresentações orais.
Esta estratégia oferece um conjunto de pontos positivos que devem ser tidos em conta. As
visitas de estudo são momentos em que a captação e assimilação de informação, reafirmando
conhecimento obtido na realidade da sala de aula. Num campo socioeconómico, entrega aos alunos
com uma realidade mais frágil, a possibilidade de experienciar o património de uma maneira que,
de outro modo, lhes seria mais difícil, criando uma promoção da igualdade de oportunidades
82
.
Em ambos os exemplos que serão apresentados, as visitas de estudo foram devidamente
planeadas, de modo a rentabilizar o máximo possível, potenciando a eficácia da atividade.
Encontrando-se num contexto mais tranquilo, existe maior participação por parte dos alunos, de
forma relativamente mais relaxada e aproximada dos mesmos, dinamizando um empenho claro
por parte dos alunos, com o compromisso claro de participação
83
. O contexto é propício a esta
intervenção dinâmica dos alunos, pois os mesmos sentir-se-ão capazes de reconhecer o que fora
lecionado no contexto de sala de aula. Criam desta forma, ligações claras entre a teoria e a prática,
sendo por esta razão necessário aproveitar as “potencialidades pedagógicas do meio”
84
.
Deste modo, considerou-se pertinente a realização de duas visitas de estudo. Uma primeira,
realizada no espaço geográfico da Alta de Coimbra (dando o seu início ainda na Baixa da cidade),
80
Araújo, «“Só se ama o que se conhece ...”: Contributos da História local no Ensino da História», p.71.
81
Couto, «A História Local e o Património Histórico-Cultural no Ensino da História», pp. 36 e 37.
82
Couto, p. 38.
83
Hélder Oliveira, «As potencialidades didáticas das visitas de estudo: a perceção dos alunos sobre a aprendizagem
desenvolvida» (XIII Coloquio Ibérico de Geografia., Santiago de Compostela, 2012), p.1682. in Araújo, «“Só se ama
o que se conhece ...”: Contributos da História local no Ensino da História», p. 72.
84
Almeida, Visitas de estudo- Conceções e eficácia na aprendizagem, p. 55.
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
31
e uma segunda saída, dirigida para a exposição “Primaveras Estudantis: da Crise de 1962 ao 25 de
Abril”.
A primeira atividade, intitulada “Uma viagem pelo tempo na cidade de Coimbra” e
realizada no dia 28 de março de 2023, teve como objetivo apresentar a presença do diferente
património histórico, representante das mais diferentes épocas, pelas quais Coimbra vivenciou. O
roteiro, planeado antecipadamente, previu o início no Largo da Portagem, onde se explicou o
enquadramento histórico do mesmo, aproveitando para fazer uma alusão à evolução da Ponte de
Santa Clara, apresentando as diferentes versões da mesma
85
. Importa salientar que foi entregue aos
alunos um desdobrável (realizado pelo docente estagiário), para que os mesmo fossem
respondendo a perguntas presentes no mesmo, à medida que o a visita de estudo avançava e os
discentes iam recebendo as informações. Os alunos não se fizeram acompanhar de informações ou
materiais, para além do desdobrável e de um bloco de apontamentos que cada um utilizou para
tirar notas sobre questões que eram abordadas. Esta foi igualmente a única atividade, realizada
com a turma do 12.º Y com componente programática que não se centrava exclusivamente nas
Aprendizagens Essenciais do nível mencionado. Pelo contrário, o objetivo da atividade tinha o
princípio de incluir diferentes domínios das Aprendizagens Essenciais da disciplina de História A,
dos diferentes níveis do Ensino Secundário. Desta maneira o roteiro tinha o objetivo de rever
matéria abordada, entregando exemplos da História Local, tendo essas referências nas questões
colocadas no documento desdobrável entregue pelo docente.
A turma, acompanhada pelo docente estagiário e o docente orientador, avançou pela Rua
Ferreira Borges, que se interceta a meio coma Rua Visconde da Luz, em direção à Praça 8 de Maio.
O objetivo deste primeiro caminho, sabendo que depois teríamos de voltar para trás, foi
principalmente para observar o Mosteiro de Santa Cruz, considerado primeiro Panteão Real
Nacional, analisando as diferentes evoluções arquitetónicas presentes na sua fachada
86
. Durante o
percurso a caminho da Praça 8 de Maio, foram observados alguns monumentos relevantes da Baixa
coimbrã. De longe, foi possível visualizar a casa medieval, património num estado de conservação
bastante positivo. Observou-se igualmente a Igreja de São Tiago, património bastante alterado da
sua feição medieval original
87
, e ainda a Igreja de São Bartolomeu. Mencionou-se de forma rápida
85
É possível observar as diferentes variantes da Ponte de Santa Clara, desde do seu período medieval, até à construção
do exemplar de 1875, na seguinte obra do século XIX: António Cardoso Borges de Figueiredo, Coimbra antiga e
moderna (Lisboa: Livraria Ferreira, 1886), pp. 83-84.
86
Fernando Daniel Couto, «Mosteiro Santa Cruz de Coimbra: análise e reconstituição» (Coimbra, Departamento de
Arquitectura da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, 2014),
http://hdl.handle.net/10316/27231, pp. 55-68.
87
Isabel Carvalhos, «Da legitimidade da correção do restauro efetuado na Igreja de S. Tiago em Coimbra» (Seminário
em Mestrado de História da Arte, Coimbra, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 2006),
http://hdl.handle.net/10316/31091, pp. 5-17.
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
32
a localização do Pátio da Inquisição, e apontou-se a importância central da construção da Rua da
Sofia, um traço claro da época moderna
88
.
Com a observação destes exemplos localizados na Baixa da cidade, deu-se início à subida
em direção à Alta Coimbrã. A paragem seguinte marcou a passagem pela antiga Muralha da
Cidade
89
. Esta entrada foi assinalada pelo docente estagiário, pois tratava-se dos poucos sobras da
fortificação da cidade. A passagem pela Porta de Barbacã, cupulada à Torre de Almedina, era a
entrada mestre pela zona da Baixa para a zona muralhada da cidade. Os alunos demonstraram-se
interessados na ideia de uma Coimbra entremuros, que lhe foi sugerido a visita do projeto Coimbra
Medieval, um site onde é feita uma reconstituição daquela que seria a cidade no período da Idade
Média
90
.
Seguiu-se uma paragem ao Largo da Sé Velha, onde se realizou-se uma paragem de
explicação do monumento. Analisou-se o mesmo, identificando o estilo arquitetónico e a
importância da instituição no passado. Do espaço da Sé Velha a turma, juntamente com os
docentes, dirigiu-se pela Rua Coutinho, identificando, ainda que à distância, o edifício pertencente
à Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação. O objetivo da escolha deste caminho foi
chegar, a partir da Rua Sobre Ripas, para a Torre de Anto, uma outra estrutura pertencente à
Muralha de Coimbra. A visita continuou subindo pelo caminho utilizado até à Torre de Anto, mas
subindo pela Rua João Jacinto, até a interceção com a Couraça dos Apóstolos. Chegando próximo
da Rua Padre António Viera, o grupo de docentes e discentes subiu pela rua paralela ao Colégio
de Jesus (Rua Inácio Duarte), chegando ao Largo Marquês de Pombal, entre esse mesmo edifício
já citado, e o Laboratório Chímico. Quando a turma se situava nesta zona, houve uma troca de
ideias sobre a intervenção de Marquês de Pombal, sendo que os alunos foram capazes de fazer
uma ligação dos conhecimentos obtidos no passado
91
. Avançou-se desta forma em direção do
Largo da Feira dos Estudantes, possibilitando assim a observação e análise da fachada da Sé Nova,
fazendo, inclusivamente, algumas comparações com a Sé medieval. A linha arquitetónica
aproximada a uma fortaleza distingue-se por completo da catedral moderna.
A visita tomou a direção do Museu Nacional Machado de Castro, centrando-se no edificado
referente ao criptopórtico romano. Esta estrutura serviria para nivelar e suportar o fórum
88
Walter Rossa, «A Sofia: Primeiro episódio da reinstalação moderna da Universidade portuguesa», Monumentos, n.o
25 (2006): 16–23.
89
Leontina Ventura, «A Muralha Coimbrã na Documentação Medieval», em Actas das I Jornadas do Grupo de
Arqueologia e Arte do Centro (Coimbra: Grupo de Arqueologia e Arte do Centro, 1980) (separata).
90
https://coimbramedieval.wixsite.com/coimbramedieval - Último acesso realizado no dia 16 de maio de 2023.
91
República Portuguesa, «Aprendizagens Essenciais: História A 11.o Ano», Revisão 2022 de 2018, p. 9.
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
33
inicialmente construído por Augusto, mas reconstruído, mais tarde, pelo imperador Cláudio
92
. Esta
estrutura representa fisicamente uma época sobre a qual muitos dos alunos desconheciam ter
ocorrido pela cidade de Coimbra. Quando questionados, rapidamente apresentaram Conimbriga
como legado clássico romano, contudo, não tinham qualquer ideia de que uma cidade romana ter-
se-ia erguido em Coimbra (Aeminium). A entrada no criptopórtico acabou por demonstrar aos
alunos de que a cidade de Coimbra, na verdade, passou por um conjunto de etapas, que a foram
moldando até aos dias de hoje. Tal como um aluno declarou, “Coimbra, no final das contas, é o
resultado de todos os povos que viveram aqui”
93
.
A visita de estudo, já perto da sua reta final, foi dirigida para o Paço das Escolas, subindo
pela Rua São João, e depois, entrando no Largo da Porta Férrea. Passando o largo, onde foi possível
observar a Faculdade de Letras e a Biblioteca Geral, os alunos e os docentes entraram então pelo
Paço das Escolas, passando pela Porta Férrea. No local, foi questionado aos alunos o que saberiam
sobre o mesmo, sendo que estes se pronunciaram de forma correta. Apresentaram a data de
fundação da Universidade com D. Dinis (1290), a data de fixação permanente em Coimbra, com
D. João III (1537) e falaram da construção da Biblioteca Joanina no século XVIII. Foram capazes
de fazer ligação à primeira aula de História Local, quando foram abordadas as grandes obras
públicas da Alta de Coimbra, durante o período salazarista, relacionando com imagens
previamente observadas.
Apesar de todas as informações corretas, o docente estagiário avançou com informações
relativas ao período de domínio muçulmano em Coimbra, que terminou em 1064
94
. Esta referência
serviu para explicar que, no sítio onde os mesmos reconheceram como “Palácio Real”, já tendo
sido pertencente do Rei D. Afonso Henriques, tratava-se de um alcácer
95
. Desta forma, a premissa
anteriormente citada sobre uma Coimbra construída em torno de várias influências ganha mais
força, acrescentando mais uma realidade cultural ao argumento apresentado.
Terminada a paragem pelo Paço das Escolas, os alunos, em conjunto com os docentes
presentes, dirigiram-se pela Rua Larga até à Estatua de D. Dinis, fazendo um ponto de conclusão,
resumindo a viagem realizada durante o dia. Desta forma foi possível observar a que ponto a visita
pela cidade tinha sido conseguida, pois os alunos mostraram-se bastante participativos. Foi neste
ponto igualmente que se verificou as respostas dadas às perguntas entregues no início da viagem,
92
Jorge de Alarcão, Pedro Carvalho, e Ricardo Silva, «Los foros de Conimbriga y de Aeminium: comparación y
síntesis del estado de la cuestión», Zephyrus 80 (2017): 131–46, https://doi.org/10.14201/zephyrus201780131146, p.
139.
93
Declaração de um aluno da turma 12.º Y, durante a visita de estudo.
94
Jorge de Alarcão, «Coimbra e sua região no tempo de D. Sesnando», Portvgalia, Nova Série, 42 (2021): 159–73,
https://doi-org/10.21747/09714290/port42a8, p. 160.
95
Alarcão, p. 163.
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
34
concluindo-se que os alunos teriam estado bastante atentos e presentes. Assim, o programa da
visita dava-se por concluindo, tendo a turma que se dirigir em direção ao ponto de partida, o Largo
da Portagem. O caminho selecionado passava pelo Jardim Botânico, entrando-se pela Porta do
Arco da Traição. O objetivo foi simples: utilizar o jardim botânico como fase de relaxamento, onde
os alunos aproveitariam apenas a tranquilidade do espaço, após uma longa manhã. Chegando à
Rua da Alegria, os docentes orientaram os alunos até ao Largo da Portagem, dando-se por
concluída a visita de estudo, sendo realizado tudo como programado.
A segunda saída, realizada no dia 27 de abril de 2023, teve lugar no Convento de S.
Francisco. Neste espaço esteve presente a exposição “Primaveras Estudantis: da Crise de 1962 ao
25 de Abril”, já mencionada a priori, onde se encontrava um conjunto de elementos relativos ao
tema abordado. A visita teve a presença de um guia residente, que acompanhou a turma ao longo
da exposição, explicando todo o seu conteúdo, tornando a participação dos docentes presentes
mais passiva. A exposição teve a sua devida pertinência, sustentada pela matéria estudada no
contexto da disciplina de História A, estando diretamente ligada à temática do Estado Novo
Salazarista, e ainda, à matéria relativa à Primavera Marcelista
96
. Para além ligação entre a temática
abordada na visita e a matéria relativa às Aprendizagens Essenciais previstas para o 12.º, o tema
sobre a Crise Académica de 1969 foi abordado de maneira mais aprofundada, do que previsto pelas
Aprendizagens Essenciais. Como foi previamente abordado, o tema em causa foi selecionado para
realizar uma aula inserida na temática pedagógica central deste estudo, tornando-se inevitável a
ligação entre a visita em questão e a aula realizada a priori.
97
A exposição tinha como objetivo demonstrar a dinâmica democrática presente na academia
portuguesa, entregando especial foco às universidades de Lisboa e Coimbra. No que toca à
dinâmica coimbrã, foi referida e sublinhada a Crise Académica de 1969, tendo um peso importante
na sociedade, demonstrando a necessidade de transformação da mesma
98
. Toda a apresentação teve
um papel de consolidação da matéria já abordada em aula, entregando detalhes e curiosidades não
aprofundados em aula, desconhecidos dos alunos. Por exemplo, relativamente à crise de 1962, que
apesar de ser abordada em contexto de sala de aula, acabou por não ser tão aprofundada e, naquele
contexto, foi possível observar todo o conjunto de realidades que dinamizaram esta primeira
insurreição académica. Outro ponto que suscitou o interesse dos alunos foi a aproximação a
documentos históricos, como jornais, boletins e manuscritos, que por nunca terem observado tão
96
República Portuguesa, «Aprendizagens Essenciais: História A 12.o Ano», Revisão 2022 de 2018, pp. 10 e 12.
97
Plano de aula presente em Anexo.
98
Cardina, «Memórias incómodas e rasura do tempo: Movimentos estudantis e praxe académica no declínio do Estado
Novo».
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
35
de perto tais exemplares, ficaram agradados. Tiveram a oportunidade de observar documentação
histórica relativa ao período, tomando conhecimento das fontes, tão mencionadas na disciplina.
Por fim, o simples facto de dar nome às pessoas envolvidas, aos estudantes enviados para o
Ultramar, aproximou todo o grupo da retórica ali apresentada. O quadro final, com as listas dos
estudantes enviados para a Guerra Colonial sensibilizou bastante o conjunto discente. Um aluno
afirmou inclusivamente que, “agora que vemos esta lista, e todos estes nomes, parece mais pessoal,
podiam ser nossos familiares”.
A realização das duas visitas de estudo prendeu-se principalmente na dinamização de
conteúdos relacionados com a História Local. Ambos os momentos visam apresentar a História
centrada em acontecimentos relacionados ao global, ou nacional, observados na realidade local.
Luís Reis Torgal, na sua reflexão em 1987, afirma se qualquer dúvida que sem a História Local e
Regional não seria possível realizar a História Geral. Esta afirmação vai ao encontro da ideia de
dependência entre as diferentes escalas da História, aqui apresentadas
99
. André Machado afirma
que nenhum acontecimento surge como História Regional ou Local, sendo a nossa visão de mundo
elege e hierarquiza as circunstâncias, definindo o estado que estas terão no nosso entendimento
sobre o passado. O autor declara, inclusivamente, que as ocorrências tidas como História Regional,
normalmente receberam dois tratamentos. Por um lado, nas obras que têm como objetivo
apresentar uma narrativa de História Nacional, eventos regionais e locais acabam por ser
ignorados, a menos que os mesmos estejam contemplados numa categoria “superior”, como, por
exemplo, a apresentação de tratados, que complementam a narrativa central
100
.
Todavia, é possível contemplar uma importância efetiva na História Local e Regional, que
para além de servir de simples adereço complementar, “contribui para a correção de teorias ou
generalizações apressadas”
101
. O erro da generalização presente numa visão centrada numa grande
escala ocorre devido à desvalorização das ocorrências descentralizadas, inclusivamente, na crença
a que existe um percurso sincronizado por todo o território nacional. O que a História Local e a
História Regional demonstram, ainda que em escalas diferentes, é a disponibilização de novas
dimensões da História, demonstrando a complexidade dos eventos. Deste modo, são
disponibilizados elementos para uma melhor assimilação do processo histórico, possibilitando
uma “aproximação do vivido”, humanizando a História Geral, contrapondo “ao anonimato dos
99
Torgal, «História… Que História?: Algumas reflexões introdutórias à temática da História Local e Regional», p.860.
100
André Roberto Machado, «Entre o nacional e o regional: Uma reflexão sobre a importância dos recortes espaciais
na pesquisa e no ensino da História», Anos 90 24, n.o 45 (2017): 293–319, p. 306.
101
Santos, «Do Local ao Global: uma reflexão sobre conceitos e práticas», p. 125.
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
36
números e das estatísticas, o individual, o particular, o específico”
102
. Vale a pena reforçar que não
existe uma resistência entre as diferentes escalas, pelo contrário. Se por um lado, as Histórias Local
e Regional servem a História Geral, construindo uma imagem fiel do território que abrange,
demonstrando as complexidades do mesmo, a História Geral serve igualmente a outra parte,
fornecendo um enquadramento que auxilia a compreender as dinâmicas envolvidas numa escala
menor. Existe uma contribuição mútua entre ambas as historiografias, para o aprofundamento final
do conhecimento
103
.
3.1.3 - A memória do Estado Novo ao 25 de Abril
Durante o decorrer do terceiro período, tendo tido início a meados do seu antecessor, foi
levado a cabo um projeto, orientado pelo Núcleo de História, a nível escolar. Este projeto, inserido
nas comemorações do 25 de Abril, tinha como objetivo reunir um conjunto de relatos dos
familiares dos alunos, aglomerando um conjunto de memórias locais
104
.
A Memória e a História, apesar de muitas vezes confundidas, têm traços distintos que
devem ser identificados. A conceção da História, aliada a um pensamento positivista, representa
uma verdade objetiva, baseando-se em documentação para quantificar, sendo ainda utilizada uma
nomenclatura específica. A memória é uma construção subjetiva, que pode deformar a verdade
histórica para legitimar ações, sendo capaz de manipular uma perceção coletiva, com uma
premissa pseudo-complementar da História
105
. Contudo, é possível conjugar a Memória e a
História, a partir do momento em que a primeira citada se sujeite à critica da História, tornando-a
o mais fiel, tornando-se credível
106
.
Desta forma, a utilização da memória como complemento à inclusão de História Local,
através complementaridade que pode ser criada entre esta última e a Memória presente no seio
local, oriunda dos familiares próximos dos alunos participantes. O objetivo principal passava pela
utilização das realidades de cada interveniente, cruzando com a realidade histórica abordada na
disciplina, com a retórica elaborada pelos participantes. Desta forma, seria possível observar a
presença de personalidades locais, como atores de uma ação nacional.
102
José Amado Mendes, «Para uma Nova História Local: Reflexões e Perpectivas», Revista Beira Alta XLIX (1990):
125–34, pp. 128-129.
103
Mendes, «História local e memórias: do Estado-Nação à época da globalização», pp. 363-364.
104
Apesar da realização da atividade a diferentes turmas, contabilizando o 9.º ano e o ensino secundário, para este
trabalho, apenas os dados recolhidos pelos alunos do 12.º Y serão considerados. Esta decisão prende-se com o facto
de ter sido com esta turma que o trabalho sobre a História Local foi realizado.
105
Maurice Halbwachs, La Mémoire Collective, 2.a (Paris: Presses universitaires de France, 1968), pp. 68-74.
106
François Dosse, «Entre histoire et mémoire: une histoire sociale de la mémoire», Raison présente Mémoire et
Histoire, n.o 128 (1998): 5–24, https://doi.org/10.3406/raipr.1998.3502, p.21.
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
37
A atividade “recolha de testemunhos” por parte dos alunos, junto dos respetivos familiares
foi pensada, a priori, como uma atividade do grupo disciplinar, só no final do 1.º período. De
facto, aquando da recolha de propostas, em setembro, para integrar o Plano Anual da Escola, foi
apresentada e discutida a importância da comemoração das efemérides, com destaque para os
feriados nacionais de 5 de Outubro, 1 de Dezembro e 25 de Abril. Na abordagem ao feriado relativo
à Revolução dos Cravos, não estava inicialmente prevista a atividade “recolha de testemunhos”,
porém, e depois da concretização das primeiras efemérides, impôs-se, com maior incidência, a
pertinência do conhecimento da nossa historiografia, mais em particular a que diz respeito ao
feriado do 25 de Abril. Para os nossos alunos, na generalidade, um feriado é “um dia sem aulas”.
Esta constatação foi o princípio que orientou a decisão de “ir mais longe”, envolvendo os alunos
na compreensão do período relativo ao Estado Novo, no que diz respeito às dificuldades vividas,
entre elas a fome, a Guerra Colonial, a emigração ilegal e o medo da polícia política. A estratégia
delineada incumbia os próprios alunos de serem os agentes e os construtores dessa mesma
compreensão.
Se se atentar ao Programa de História A
107
, este refere na sua Introdução que:
(…) As transformações das sociedades contemporâneas, pela rapidez com que se
processam e pela cada vez maior imprevisibilidade dos seus desfechos, evidenciaram a
importância de uma escolaridade (…) menos divorciada das realidades quotidianas e das
interrogações que estas colocam. Neste contexto complexo – em que se exige «mais
escola», mas, simultaneamente, se pretende uma escola diferente – urge assegurar aos
jovens formações sólidas, orientadas para o desenvolvimento de competências
mobilizadoras da totalidade do indivíduo e que, pelo elevado grau de transferência que
apresentem, suscitem desempenhos adequáveis a novas situações.
108
Nesta linha, é possível observar no segundo parágrafo das Aprendizagens Essenciais de
História A, uma retórica concordante :
O objeto e o método próprios da disciplina de História A tornam-na importante para a
consecução do Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória: recorrendo à
multiperspetiva e a comparações entre realidades espácio-temporais distintas, o aluno
adquire a compreensão do mundo em que vive e uma consciência histórica que lhe permite
assumir uma posição informada e participativa na construção da sua identidade individual
107
Apesar de se tratar de um documento revogado pelo despacho 6605-A/2021, de 6 de julho, ainda constitui uma
importante linha de orientação na gestão dos conteúdos.
108
Ministério da Educação - Departamento do Ensino Secundário, «Programa de História A», 2002, p. 3.
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
38
e coletiva, numa perspetiva humanista; um método que valoriza a análise exaustiva de
fontes diversificadas e promove o desenvolvimento de uma perspetiva crítica,
possibilitando a desconstrução de informação, identificando o erro e a ilusão, promovendo
uma intervenção consciente e democrática na vida coletiva.
109
Nesse sentido, a atividade inicialmente pensada para uma turma do 9.º ano, ganhou uma
dimensão transversal a toda a escola (do 3.º Ciclo ao ensino Secundário), atraindo aderentes e
entusiastas, indo para além da recolha de testemunhos, também para a cedência de fotos e outros
documentos pelos familiares, cedidos com algum receio que se perdessem. Foi importante a
confiança assegurada, junto dos alunos, para que tranquilizassem os seus familiares de que tudo
lhes seria devolvido, razão pela qual se optou pela cópia de algumas dessas fotos, já que as mesmas
integraram a exposição sobre a temática de “Abril”. Em termos metodológicos, a atividade
pensada e realizada, veio ao encontro do que é sugerido no Programa de História A, no ponto 2.5
“Sugestões metodológicas gerais”, considerando-se que:
(…) Os princípios enunciados na Introdução (…) requerem a opção por uma linha
metodológica que enfatize o desenvolvimento de aprendizagens promotoras da autonomia
pessoal e conducentes à construção progressiva de um quadro de referências orientador
da intervenção crítica na vida coletiva. (…).
E ainda,
(…) Um tal processo, que visa desenvolver nos alunos a apropriação consciente de formas
de pensar estruturadas e de modos de agir criativos, implica a conceção:
- Da aula como um espaço aberto às dinâmicas individuais e de grupo, num equilíbrio
entre iniciativas individuais e cooperação;
- Do professor como um orientador atento, conciliando o cumprimento da programação
com respostas pedagogicamente adequadas às necessidades dos alunos, procedendo à
diversificação de estratégias e à necessária individualização do ensino. (…).
Para que,
(…) os alunos atinjam os objetivos propostos e venham a evidenciar as competências
consideradas desejáveis, toda uma variedade de recursos e de atividades poderá ser
mobilizada pelo professor, no sentido de:
109
República Portuguesa, «Aprendizagens Essenciais: História A 12.o Ano», p. 2.
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
39
- Incentivar e orientar a pesquisa individual em suportes diversos, dentro e fora da sala
de aula. (…).
110
O objetivo traçado foi plenamente atingido, quando os alunos, depois de ouvirem,
escreveram e gravaram o que foi narrado na primeira pessoa, do “seu avô” ou da “sua avó”,
sentindo e interiorizando o momento difícil que lhes foi pedido que compreendessem, levando-os
a desabafos, como “Nunca pensei que fosse assim…”, ou “Eu não imaginava que era assim tão
mau”.
Também a comunidade escolar foi atraída pela curiosidade de ler alguns dos extratos
expostos, considerando-os de um interesse maior, sugerindo que fossem fotocopiados,
encadernados e disponibilizados na Biblioteca Escolar, tornando-os acessíveis a uma leitura mais
individualizada, “Eu gostava de levar e ler em casa. Façam isso, por favor.” (docente de Filosofia),
ou “O conteúdo do que está exposto é de uma riqueza tamanha. Merece ser divulgado.” (docente
de Português).
Esta atividade, que demonstrou uma amplitude imensa, com uma escala que referenciou
um conjunto alargado de alunos e turmas, serviu para realizar igualmente um levantamento de
memórias locais pertinentes para a investigação, sendo a seriação dos testemunhos limitada aos
entregues pela turma do 12.º Y
111
. Assim sendo, foram escolhidos dois relatos de momentos
Históricos relativos ao período do Estado-Novo, sendo que o segundo aborda uma realidade de
transição de poderes coloniais, no pós-25 de Abril, durante o Período Revolucionário em Curso
(PREC). Esta aproximação dos discentes à História, possibilitado pela História Local, pode ocorrer
quando os mesmo observam alguém próximo a fazer parte do acontecimento histórico. Por esta
razão a Memória pode ser uma ferramenta útil, criando mais um elemento de motivação para o
estudo e a compreensão da História. Assim sendo, segue-se o seguinte relato:
Hoje vou falar do tio da minha mãe, […], irmão do meu avô. Esse senhor, pertenceu a um
grupo chamado Luar, esse grupo foi criado para combater o regime do Estado Novo. O
grupo organizou um assalto ao Banco de Portugal na Figueira da Foz em 17 de maio de
1967, e esse senhor ficou encarregue de cortar as comunicações do banco em Palma de
Maiorca, para proceder ao assalto. Tiraram do cofre cerca de 20 mil escudos, esse dinheiro
não ficou para eles, mas sim para ajudar na revolução do Estado Novo. […] guardou as
110
Ministério da Educação - Departamento do Ensino Secundário, p. 11.
111
Para a proteção da identidade dos alunos participantes e os seus familiares, não serão utilizados nomes para
identificar os levantamentos apresentados.
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
40
metralhadoras usadas no assalto, no seu sótão. Nessa altura ele estava no café e dizia às
pessoas mais chegadas se queriam metralhadoras, mas claro era a gozar. Depois do 25 de
Abril de 1974 a polícia daquela altura foi buscar essas metralhadoras usadas no assalto.
O irmão do meu avô já tem uns 77 anos e encontra se no brasil (sic).
112
Este primeiro relato está diretamente relacionado com um parâmetro do conteúdo
programático de História A. O caso do Assalto do Banco de Portugal
113
, na Figueira da Foz é
abordado, sendo uma das demonstrações de fragilidade interna, após o início da Guerra
Colonial
114
. Apesar da geografia do evento ser externa à relativa a este estudo, existe ainda assim
uma ligação à História Local, ainda que na Figueira da Foz, com a História Nacional
115
. A memória
cria uma ponte entre a teoria do que é aprendido, para a realidade, o que entrega desde logo uma
imagem da História que contraria o pensamento primário generalizado.
O segundo relato foi contado pelo avô de uma aluna da mesma turma. Ao contrário do
anterior, relatado na terceira pessoa, este foi apresentado pela própria personagem histórica, pela
primeira pessoa. Este senhor esteve presente no território angolano, no período de transição em
1975:
Eu não estive propriamente na Guerra Colonial. Fui «fazer» a independência de Angola.
Estive lá desde março até novembro de 1975. Eu era motorista de carros blindados
Panhards e fazia a segurança, nomeadamente de Jonas Savimbi, o líder da UNITA.
Gostava muito dele e um dia prometeu-me que quando Angola fosse livre levava-me para
lá, a mim e à minha família. Apesar de o tempo em que eu estive em Angola não ter
correspondido à Guerra Colonial, também nessa altura se comia mal. Inicialmente ainda
havia comida, mas nos últimos três meses havia escassez de produtos. Quando regressei a
Portugal, ainda andei uns tempos traumatizado porque vi muita gente morrer. Vi abrirem
valas comuns e a enterrarem apenas braços e pernas de pessoas, sem as restantes partes
do corpo. Era horrível. Curiosamente, um dos meus irmãos foi para Guerra Colonial na
112
Relato entregue no dia 30 de março de 2023, por um aluno do 12.º Y. O texto mantém-se original, tendo sido
retiradas as referências diretas ao nome do indivíduo referido.
113
Para maior aprofundamento sobre o caso, sugere-se a leitura da seguinte obra: Luís Vaz, Palma Inácio e o Assalto
ao Banco de Portugal da Figueira da Foz (1967) (Lisboa: Âncora Editora, 2016).
114
República Portuguesa, «Aprendizagens Essenciais: História A 12.o Ano», pp. 12 e13.
115
Apesar da individualidade em causa ter participado num evento fora da localidade onde o estudo da História Local
é relevante, a individualidade participante seria residente próximo à geografia abrangente neste trabalho. Contudo,
sublinha-se a ideia de que nunca se saiu da temática da História Local.
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
41
década de 60, para a Guiné, e foi dado como morto. Na verdade, quem tinha morrido tinha
sido um outro soldado, para alegria de todos nós.
116
Esta personalidade vivenciou um momento que marcou profundamente, tanto a realidade
portuguesa, como a realidade angolana. Interessante observar como este avô da aluna do 12ºY
conheceu e teve uma experiência próxima com Jonas Savimbi
117
, uma das personalidades mais
influentes e importantes durante a transferência de poder de Portugal, para Angola, e depois,
durante a Guerra Civil, opondo-se ao MPLA
118
, partido do Regime, e ao FNLA
119
. Ademais, o
avô desta aluna, responde à questão “Que importância atribui ao 25 de Abril de 1974?”, da seguinte
forma:
Para mim foi importante porque eu participei nas operações. Quando ocorreu o 25 de
Abril eu estava na tropa. No dia anterior estava no Quartel de Estremoz. Eu pertencia à
Cavalaria 3, nos carros blindados. Fomos chamados para Vila Franca para reforçar
posições do MFA que já tinham partido para a Praça do Comércio. Mais tarde, quando os
mesmos partiram para o Quartel do Carmo, onde estava Marcello Caetano, nós
avançámos para a Praça do Comércio. Isto também porque tinham chegado os da
Cavalaria 7 para combater contra o MFA, e por isso fomos reforçar as forças
revolucionárias. O meu carro era o ME3217. Mas só passado alguns dias é que festejámos.
Lembro-me de ver pessoas que tinham os genros e filhos presos pela PIDE e quando tudo
acabou foi uma grande alegria.
120
Esta observação representa bastante o sentimento presente nos diversos combatentes
presentes na Guerra Colonial
121
, tal como é sentido a partir do movimento que dinamizará a queda
do regime, o Movimento das Forças Armadas. O fim da Guerra era uma demanda pedida pelos
que faziam representar, de maneira forçada, os interesses do Regime do Estado Novo. O fim da
Direção-Geral de Segurança
122
era ansiado profundamente, o que demonstra o cariz repressivo
que a polícia política tinha, sendo um espelho ela mesmo do Regime autoritário, vigente até 1974.
116
Relato entregue no dia 30 de março de 2023, por uma aluna do 12.º Y.
117
Líder Político da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), assassinado em fevereiro de
2002.
118
Movimento Popular de Libertação de Angola.
119
Frente Nacional de Libertação de Angola.
120
Relato entregue no dia 30 de março de 2023, por uma aluna do 12.º Y.
121
Para compreender e ter um exemplo da realidade da Guerra Colonial, aos olhos dos combatentes, num contexto
local, sugere-se a leitura da seguinte obra: Rodrigo André Vitorino Vaz, Memórias de guerra : como fazer história a
partir de quem a viveu? (Viana do Castelo: Junta de Freguesia de Castelo do Neiva, 2021).
122
Apresentada como “PIDE” (Polícia Internacional e de Defesa do Estado) na citação, demonstrando que a sigla
anterior ficou bastante presente nas mentes das pessoas, apesar da reforma de Marcelo Caetano.
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
42
Esta atividade acabou por proporcionar um momento de reflexão aos alunos participantes.
Sendo confrontados com a realidade vivida pelos seus familiares, conseguiram reconhecer alguns
elementos estudados no contexto de sala de aula. Desta forma, foi ainda possível seguir alguns dos
objetivos propostos pelas Aprendizagens Essenciais, como:
Identificar a multiplicidade de fatores e a relevância da ação de indivíduos ou grupos,
relativamente a fenómenos históricos circunscritos no tempo e no espaço;
Mobilizar conhecimentos de realidades históricas estudadas para fundamentar opiniões,
relativas a problemas nacionais e do mundo contemporâneo, e para intervir de modo
responsável no seu meio envolvente;
Problematizar as relações entre o passado e o presente e a interpretação crítica e
fundamentada do mundo atua.
123
Assim, a História Local e a memória acabam por se complementar, aproximando a História
dos alunos, numa tentativa de auxiliar os mesmos na sua compreensão, conjugando as
características consideradas importantes, a partir das Aprendizagens Essenciais, com a
proximidade dos eventos locais.
3.2 - Análise dos Resultados
A realização de atividades de História Local revelou-se produtiva e dinamizadora de um
interesse generalizado no seio da turma. Houve desde logo uma participação bastante positiva no
decorrer das aulas específicas de História Local. Nas saídas, em visita de estudo, a primeira
realizada na Alta da cidade de Coimbra obteve uma participação louvável. Uma turma que se
mostrou sempre atenta e interessada em participar. A segunda visita de estudo acabou por se tornar
um pouco mais “tradicional”, pois tendo um guia, o silêncio reinou, sendo principalmente uma
demonstração de civismo por parte dos alunos. A tranquilidade sentida não será sinónimo de
desinteresse, pois ao longo da mesma vários foram os alunos que colocaram dúvidas,
demonstrando atenção. A última atividade, realizada no contexto das celebrações do 25 de Abril,
acabou por não ter uma adesão de maior dimensão, resumindo-se principalmente a três alunos, no
caso da turma do 12.º Y.
O objetivo central a todas as atividades programadas era a aproximação à disciplina de
História, a partir da introdução de História Local, como estratégia pedagógico-didática. Nesse
123
República Portuguesa, «Aprendizagens Essenciais: História A 12.o Ano», pp. 3-5.
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
43
sentido, para analisar mais claramente a influência da aplicação do conteúdo relativo a História
Local, observemos os dados recolhidos a partir dos inquéritos.
3.2.1 - Inquérito I
O primeiro inquérito
124
, que serviu para recolher dados preliminares da turma, teve uma
amostra de 19 alunos. Deste conjunto de alunos, podemos observar a seguinte distribuição ao nível
dos seus locais de residência:
Observamos desta maneira que a maioria dos alunos vive perto da escola, sendo que 52%
dos alunos inquiridos vivem na União de Freguesias de Eiras e São Paulo de Frades. Depois, 38%
dos alunos presentes vivem no concelho de Coimbra, mantendo a proximidade ao estabelecimento
escolar
125
. Os restantes alunos vivem fora dos limites concelhios, porém, em ambos os casos, existe
uma ligação familiar a Coimbra, para além de ser o local onde os encarregados de educação
exercem as suas atividades profissionais.
Quando questionados se consideravam a História Local importante (pergunta 1), e se
gostariam de estudá-la no contexto da disciplina de História A (pergunta 2), os presentes
responderam todos “Sim”. Esta alegada unanimidade pode ter leituras distintas: se nos resumirmos
apenas aos dados, podemos concluir que existe um franco interesse geral pela História Local e que
gostariam que a mesma fosse desenvolvida em sala de aula. Por outro lado, podemos justificar esta
esmagadora presença do “Sim” como uma decisão assente na boa relação com o docente estagiário.
124
Exemplo do inquérito I em Anexo.
125
Nesta contabilização foram considerados os alunos que declararam ter residência em Coimbra (sem especificação),
União de Freguesias (UF) Torre de Vilela e Trouxemil, e UF Vil de Matos/Antuzede.
52%
5%
5%
5%
5%
28% UF Eiras/S. Paula de Frades
UF Vil de Matos/Antuzede
UF Torre de Vilela/Trouxemil
Lousã
Soure (Carvalhal)
Coimbra (sem especificação)
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
44
É possível admitir que ambos os cenários são possíveis, e que mesmo um misto de ambos seja
verdade.
Nesta linha, a pergunta 3, apesar das semelhanças com a questão anterior, foca-se mais na
pertinência do estudo de História Local, no contexto da disciplina no 1.2º ano. Esta pergunta, neste
caso, era de tipo aberto, permitindo a explicação mais alongada dos alunos. É possível transportar
as respostas para “Sim” ou “Não”, entregando 18 respostas positivas e, num primeiro olhar, uma
negativa. Todavia, a resposta aparentemente negativa, não se resume a uma visão que procure
negar a pertinência da História Local na disciplina, no ano de escolaridade da turma, pois o aluno
declarou logo no início que “Não é só a História Local em si, […]”, deixando claro que considera
a temática importante. A partir desta resposta observamos igualmente que o aluno possivelmente
não terá uma noção clara do que abrange História Local, ou do que se tratará, pois ele afirma que
não seria somente esta, mas “envolvendo geopolítica e de como vão-se organizando as cidades do
território”.
Podemos concluir, observado esta questão, de que o aluno valoriza a História Local, mas
considera que não seria apenas esta que deveria incluir o programa, sendo necessário aprofundar
outras questões. Como foi apresentado, o olhar positivo sobre a aplicação de História Local na
disciplina e no ano de escolaridade em questão. Alguns alunos, não só se posicionam
favoravelmente no âmbito desta questão, como apontam um problema no estudo da História, que
acaba por ter um estudo limitado na sua geografia. Observamos esta leitura nas seguintes respostas:
Na minha opinião, o estudo da História Local no contexto do programa de História-A do
12º ano de escolaridade é bastante pertinente, na medida em que nos permite conhecer
mais acerca da nossa localidade e associar os contextos gerais da História, lecionados
nas aulas, a realidades mais próximas de nós. Também nos permite ter um maior
conhecimento da História sem esta estar associada à capital Lisboa. – Aluno A12Y
O programa de História, no que toca ao conteúdo nacional, foca-se muito em Lisboa e no
Porto, esquecendo-se das outras cidades/regiões e locais menos centralizados, mas que
podem igualmente ter um papel importante bem como uma História interessante. Por isso,
claro que considero pertinente o estudo da História Local no programa de História A do
12º ano – Aluno B12Y
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
45
Na minha perspetiva o programa de História A foca-se demasiado nas áreas de Lisboa e
do Porto. Desta forma desvaloriza-se outros locais importantes para a História, como é o
caso de Coimbra. – Aluno C12Y
Estas respostas, acabam por partilhar a mesma linha de pensamento, algo bastante
interessante tendo em conta que este primeiro inquérito foi realizado antes de qualquer menção à
História Local. Existe, pelos dados apresentados, um conjunto de alunos que apresentam um nível
mais apurado sobre a realidade das temáticas ensinadas em História. Para além disso, reconhecem
a centralidade de Lisboa na retórica dos acontecimentos históricos. O aluno A12Y avança mesmo
para uma questão abordada a priori, quando se refere à pertinência da História Local, não só para
aprofundar conhecimentos sobre a “a nossa localidade”, mas ainda “associar a contextos gerais da
História, […], a realidades próximas de nós”. Esta noção apresentada pelo aluno A12Y, demonstra
uma clara certa perceção sobre as diferentes camadas existentes na construção da História. Existe
então, na visão dos alunos presentes, uma ideia de descentralização da História, quando se fala em
História Local.
Outra ideia bastante presente nas respostas dos alunos era relativamente à importância que
a História Local teria na formação dos habitantes, enfatizando a pertinência para o cidadão que
vive no local de estudo. Para os alunos que se seguem, existe ativamente a ideia de um
conhecimento do legado Histórico-Local:
Na minha opinião o estudo da História Local é importante, não só para podermos ver qual
a importância da História da nossa cidade na História do nosso país. Para além disso temos
ainda o fator de enriquecer o nosso conhecimento geral como nativos da cidade bem como
o conhecimento geral do nosso país. – Aluno D12Y
Estudar História Local seria benéfico e iria conceder aos alunos um conhecimento mais
abrangente impedindo-os de não saberem o básico, principalmente para quem nem sempre
viveu na mesma cidade. No entanto, acho que não se deveria dedicar um estudo intensivo.
– Aluno E12Y
É pertinente porque percebemos melhor o local onde vivemos, o que se passou no passado,
e por isso importante. – Aluno F12Y
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
46
Do meu ponto de vista, é importante estudar e integrar a História Local no programa de
História A do 12º ano de escolaridade pois como cidadãos de uma cidade é nosso dever
conhecer a sua História e também os seus edifícios Históricos. – Aluno H12Y
Este conjunto de exemplos tem um ponto transversal a todos, sendo este a noção de que a
História Local será um complemento para a cidadania. Esta ideia acompanha o raciocínio
apresentado por Luís Alberto Alves
126
. O autor aponta a possibilidade de o exercício ligado à
História Local “construir um fator essencial à motivação para os conteúdos e ao exercício da
cidadania”
127
. A partir das respostas apresentadas pelos alunos, é possível alegar que os mesmo
entendem a introdução da História Local como um auxiliar no progresso do aluno, enquanto
cidadão. Existe um pensamento ligado a uma ideia, onde o conhecimento do local próximo, a ideia
de conhecer melhor o sítio onde vivemos, acresce valor enquanto cidadão. Esta ideia encontra-se
presente nas Aprendizagens Essenciais do 12.º ano de História A, sendo possível ler:
Desenvolver a consciência da cidadania e da necessidade de intervenção crítica em
diversos contextos e espaços.
128
Por fim, uma última ideia presente nas respostas dos alunos à pergunta 3, temos uma noção
de acréscimo cultural a partir das aprendizagens adquiridas com a História Local. Seja esta ligada
ao edificado, ou seja, conhecer o património físico presente na zona de residência será sinónimo
de acréscimo cultural:
O estudo da História Local tem uma pertinência bastante grande, pois, sendo uma zona
com edifícios históricos, torna-se uma cidade muito mais enriquecida a nível cultural. –
Aluno I12Y
Por outro lado, existe uma conceção cultural partilhada de forma mais abstrata, ligada ao
conhecimento geral:
126
Alves, «A História local como estratégia para o ensino da História».
127
Alves, p. 68.
128
República Portuguesa, «Aprendizagens Essenciais: História A 12.o Ano», p. 5.
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
47
No meu ponto de vista o estudo de História Local é pertinente para a cultura dos jovens.
– Aluno J12Y
Concordo, pois é importante abrangermos a nossa cultura e o conhecimento. – Aluno
K12Y
Esta noção abrangente da cultura, ligada ao conhecimento na sua generalidade, apresenta
uma ideia mais inclinada para a noção imaterial do conhecimento, não se fixando numa noção de
História Local dependente do Património material. Podemos, assim sendo, apresentar a divisão
das justificações centrais, sobre a pertinência da História Local da seguinte maneira:
Analisando o gráfico, observamos na turma do 12.º Y uma tendência maior para justificar
a importância da História Local a partir do desenvolvimento cultural de cada um. O fomento da
cidadania tem um resultado próximo, o que entrega à História um papel de auxiliar na construção
do cidadão. A ideia descentralizadora resume-se aos três alunos apresentados (A12Y, B12Y E
C12Y). Por fim, houve um conjunto de alunos em que a sua justificação acabou por ser um pouco
confusa, ou ainda, apenas avançaram com uma consideração simplista, concordando apenas, sem
grandes avanços.
A última pergunta (4) pedia apenas para identificar um conjunto de monumentos
pertencentes à coleção patrimonial existente na cidade de Coimbra. Nas seis imagens apresentadas,
nenhum aluno conseguiu nomear a totalidade do património apresentado. A certo ponto, quando
16%
31%
37%
16%
Descentralizar o estudo da História Fomento no desenvolvimento da Cidadania
Desenvolvimento Cultural Outro/Não identificada
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
48
se realizava o inquérito, alguns alunos afirmavam conhecer o edificado, contudo, não sabiam o
nome dos mesmos. Desta forma, é possível concluir, que existe um conhecimento muito rarefeito
do património existente em Coimbra, por parte dos alunos. Por esta razão, a visita de estudo
realizada no dia 28 de março de 2023, demonstrou-se essencial para preencher uma lacuna
existente na turma em causa. Após a realização da mesma, os alunos demonstraram reconhecer o
património que aquando do questionário I não foram capazes de identificar. Nesta atividade, tal
como será abordado a posteriori, foi entregue aos alunos um roteiro-questionário, com algumas
perguntas que obrigavam os alunos a estar atentos e a identificar alguns monumentos e informação
que era apresentada. A realização deste primeiro questionário demonstrou-se essencial para
compreender o nível a que a turma se encontrava, bem como serviu de argumento base para
justificar uma visita de estudo, à alta de Coimbra.
3.2.2 - Inquérito II
O segundo inquérito foi realizado no dia 24 de março de 2023
129
, servindo de etapa
intermédia para questionar alguns dados diretamente ligados à aula de História Local desse mesmo
dia. Este inquérito serviu também para entender a que nível de satisfação a turma se encontraria,
relativamente às ao processo de aplicação de História Local. A três primeiras perguntas eram
fechadas, sendo as duas respostas possíveis o “Sim” e o “Não”.
129
Exemplo do inquérito II presente em anexo.
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
Sabe o que foi a “Crise Académica
de 1969” ?
Reconhece alguma importância da
Cidade de Coimbra na História
Nacional?
Consegue identificar alguma
instituição, presente em Coimbra,
relevante na História de Portugal?
Sim Não
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
49
Como é possível ver, uma grande maioria unanime respondeu positivamente às três
primeiras perguntas. Ao contrário do que ocorrera com o património edificado, o acontecimento
histórico da “Crise Académica de 1969”, muito possivelmente devido ao facto deste mesmo
acontecimento estar presente na matéria relativa à “Primavera Marcelista”. Esta posicionamento
positivo por parte dos alunos demonstra igualmente uma aproximação mais clara à História Local,
à medida que a mesma vai sendo incluída.
A segunda questão, possivelmente pela influência da primeira aula de História Local,
acabou por ter unanimidade total na resposta positiva. Os alunos reconheceram importância da
cidade de Coimbra, na História de Portugal. Este ponto tornar-se-á ainda mais sólido após a
realização da visita de estudo pela Alta da cidade, onde os alunos vão consolidar conhecimentos,
aproximando a teoria, a exposição realizada em sala de aula, com a saída para os espaços
referenciados.
A terceira questão, última aqui presente, seguia-se do pedido de exemplos. A resposta mais
observada foi a Universidade de Coimbra, instituição que representa igualmente o maior peso
histórico, segundo os alunos. Para além da menção à universidade, quase um terço dos alunos
130
inquiridos mencionou igualmente a Sé Velha. Para este caso, os alunos recordar-se-iam da
instituição mencionada, muito dado ao facto de ter sido mencionada na realização do primeiro
inquérito. Outros elementos do património conimbricense foram igualmente mencionados, como
o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, por exemplo, estiveram igualmente presentes nesse
questionário passado. Verificando as respostas, é possível afirmar que não existe um conhecimento
aprofundado das diversas instituições históricas, presentes na cidade, o que os levou a “jogar pelo
seguro”. A Universidade de Coimbra acaba por ser a opção mais óbvia para os alunos.
A pergunta 4 deste inquérito tinha uma configuração de resposta aberta. Sendo aberta à
opinião honesta dos alunos, estes tinham de dizer se consideravam que a História local estava a
ser bem aplicada corretamente no contexto da disciplina. A respostas foram todas positivas.
Servem como exemplo as seguintes transcrições:
Sim, tem sido bem aplicada. Pois, sempre que falamos de História Local, a explicação é
sempre mais aprimorada e ficamos sempre a saber coisas novas, que eram desconhecidas.
– Aluno L12Y
130
Seis alunos dos dezanove inquiridos mencionaram a Sé Velha.
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
50
Considero que a abordagem à História Local é importante para o conhecimento regional
e local. Neste ano a História Local tem sido bem aplicada e deve continuar a ser pelo
menos uma vez por período e com visitas de estudo. – Aluno M12Y
Considero que a História Local tenho sido bem aplicada no contexto da disciplina, pois,
acabamos por perceber melhor os acontecimentos ocorridos na nossa cidade, de modo a
perceber o porquê da nossa cidade ser como é hoje em dia. – Aluno N12Y
Este posicionamento positivo, descrito pelos alunos, é cimentado com a avaliação
quantitativa, pedida na questão 5. Nessa questão, foi pedido aos alunos para avaliar, num valor
entre 0 e 10, a importância da aplicação de História Local. A maioria dos alunos respondeu com
10 valores, sendo que a nota mais baixa foi 8, o que contia a ser bastante positivo.
Os resultados positivos obtidos a partir da observação e análise dos inquéritos I e II
complementam-se e demonstram uma importante compreensão dos alunos, relativamente à
pertinência da utilização da História Local. Ao longo do ano letivo, a introdução das aulas
específicas, da introdução de pequenos elementos em momentos de lecionação de matéria
programática, ou ainda, com as visitas de estudo, os alunos foram captando a matéria com um
olhar diferente do início do ano. Em vários momentos de aula, alunos diferentes foram aplicando
conhecimentos adquiridos, sobre História Local. Um número considerável de alunos em diversos
momentos de diálogo, no decorrer da aula, aplicavam questões de História Local em alguns dos
seus exemplos. Infelizmente, o mesmo não ocorreu nas provas escritas, o que acabou por não
permitir retirar exemplos mais consideráveis.
21%
16%
63%
8 Valores 9 Valores 10 Valores
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
51
Contudo, os exemplos foram surgindo, sendo possível registar alguns deles. Um desses
momentos ocorreu durante o Segundo Período e centrou-se numa comparação do programa de
obras levadas a cabo na cidade de Coimbra
131
, com as restantes realizadas em Portugal, num
quadro relativo aos Planos de Fomento. No diálogo dinamizado, foram ainda acrescentadas
semelhanças com o programa de obras públicas do fascismo italiano e do regime Nazi alemão.
Isto demonstrou uma agilidade considerável, pois, foi capaz de enquadrar esse programa,
lecionado no primeiro período, com as medidas dos Plano de Fomento, abordados no segundo
período, criando uma dupla comparação: a nível internacional, com a realidade dos regimes
autoritários das décadas de 1920 a 1940; a nível local, com os efeitos das decisões políticas do
regime na cidade de Coimbra.
A aplicação desses mesmos conhecimentos nunca foi muito visível no contexto da
avaliação sumativa. Ocorreu sim na realização de atividades ou em debates realizados em sala de
aula. Na oralidade foi possível observar uma maior utilização dos novos elementos de História
Local. Foi possível observar essa aquisição de conhecimentos, quando se realizava um
esclarecimento de dúvidas, devido à realização de uma prova sumativa, e se abordava a Primavera
Marcelista. Neste momento, um conjunto de alunos ligou diretamente com a questão da Crise
Académica em 1969, bem como abordou um fracasso social da realidade marcelista, pegando o
exemplo da realidade conimbricense, observada através das imagens apresentadas a priori.
3.2.3 - Inquérito III
O último inquérito, realizado virtualmente, não obteve a participação do mesmo nível das
anteriores. Ao passo que nos inquéritos I e II, houve uma participação de 19 alunos por cada, este
último teve apenas a participação de 16 alunos. A primeira justificação prende-se no método de
aplicação do mesmo. A realização do inquérito digitalmente retirou, possivelmente, a
responsabilidade de alguns alunos em responder, apesar dos pedidos realizado na aula para a sua
realização. Para além disto, existe um conjunto de alunos que, para além de faltar algumas vezes,
trabalham num contexto extra-aulas, sendo um possível sinónimo de falta de tempo para a
realização do inquérito.
Apesar da participação de 16 alunos, que corresponde a 76% da turma, considerou-se
válido o inquérito, devido à importância dos dados adquiridos. Este último inquérito tinha como
principal propósito a confirmação de dados observados previamente, nos inquéritos anteriores
132
.
De maneira geral, os resultados encontram-se numa linha concordante ao observando ao longo do
131
Temática abordada na aula intitulada “Coimbra do Estado Novo: Grandes obras públicas que marcaram a cidade”.
A descrição da mesma se encontra neste mesmo capítulo, na secção “I – Aulas de História Local”.
132
Exemplo do inquérito III presente em anexo.
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
52
trabalho realizado. Existe um olhar positivo generalizado, relativamente à aplicação de História
Local, dividindo-se apenas na forma de aplicação da mesma, na disciplina de História A. Esta
visão positiva é reforçada a partir da análise dos dados referente às capacidades adquiridas pelos
alunos, segundo os mesmos, fomentadas pela aplicação de História Local, a partir das atividades
realizadas. Existe uma partilha dos resultados, existindo percentagens muito semelhantes entre as
capacidades apresentadas no gráfico.
No total das respostas, a “Observação e anotação de informação” e o “Relacionamento da
História Local com a História Nacional” detêm vinte por cento das respostas. Esta última merece
especial atenção, pois vai ao encontro de um dos objetivos principais deste trabalho. Como foi
inclusivamente abordado no capítulo II, A História Local surge como uma necessidade
humanizadora da História Geral, aproximando os acontecimentos locais e regionais, dos eventos
mencionados na História Geral. Os dados aqui apresentados mostram que os alunos consideram
que adquiriram a capacidade de relacionar as diferentes escalas, entregando uma importância clara
à História Local, reconhecendo a interdependência desta última, com a História Geral.
Acrescenta-se ainda, que pela primeira vez, se observa uma resposta negativa, tendo um
aluno avaliado 2 valores (numa escala de 1 a 5), relativamente à pergunta referente à motivação
criada pela História Local, em relação à disciplina. Apesar desta resposta negativa, exclusiva no
conjunto total das perguntas (qualitativas e qualitativas), as repostas a esta pergunta são
16%
8%
20%
18%
18%
20%
COMPETÊNCIAS ADQUIRIDAS
Autonomia
Comunicação oral
Observação e anotação de
informação
Pesquisa
Consciência cívica e respespeito pelo
património
Relacionamento da História Local
com a História Nacional
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
53
positivas
133
. Não existe, todavia, uma justificação evidente para esta resposta, solitariamente
negativa. Sendo o questionário anónimo, não foi possível averiguar o resultado, tornando-se frágil
qualquer conclusão.
Para além do apresentado, existem algumas respostas abertas muito interessantes, que
corroboram a perceção positiva, sobre a perceção de História Local. Na última pergunta, os alunos
tiveram de responder ao seguinte:
“Por fim, escreva um comentário, ou opinião, sobre a aprendizagem que realizou através
das atividades de História Local, sobre as capacidades que desenvolveu e as dificuldades
que sentiu. Explique de que maneira foi influenciado/a pela História Local.”
Esta pergunta contou com alguma respostas interessantes, onde se observa um olhar
positivo, relativamente a todo este processo a que a turma foi sujeita. A resposta que se segue, para
além da construção frásica e do vocabulário utilizado, demonstra uma perceção das atividades
realizadas, no contexto de aplicação de História Local, bastante favorável.
Apesar da dificuldade natural em reter tantas informações de imediato, consegui adquirir
alguns novos conhecimentos suficientes mesmo para repassar a terceiros, sendo essa uma
das melhores facetas do real aprendizado. Saber mais acerca da história da cidade e/ou
país no qual vivo é interessante e importante, seja para o presente, seja para o futuro. Estes
mesmos conhecimentos levam, também, a uma percepção acentuada do facto de que tantos
indivíduos e tantas ocorrências se manifestaram nos mesmos ambientes de nossa passagem
rotineira ou eventual, bem como a uma reflexão de como tudo levou a hoje — sendo poucos
os sentimentos mais interessantes do que este. – Aluno O12Y
Este último inquérito cimentou os dados adquiridos ao longo do ano. É possível afirmar, a
partir deste último exemplo citado, que a influência pedagógica da História Local é positiva.
Verifica-se que as junções das diversas atividades, com o currículo da disciplina, acrescentam uma
nova camada no desenvolvimento cognitivo dos alunos. Pelos dados apurados conclui-se que
existe uma noção generalizada na turma do 12.º Y sobre a importância da História Local. Do
conjunto total de alunos inquiridos, 68,8% destes deram nota 5, o máximo possível, na pergunta
133
Inquérito III: “Considera que a História Local foi motivadora para a sua aprendizagem em História A?” – 1 valor (
0 alunos); 2 valores (1 aluno); 3 valores (2 alunos); 4 valores (6 alunos); 5 valores (7 alunos).
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
54
“Considera importante a História Local?”. Os restantes alunos avaliaram com 3 e 4 valores,
resultando em 31,2%, cerca de um terço apenas, entregando ainda assim respostas positivos.
A mesma tendência mantém-se na pergunta seguinte, onde se questionava a relevância da
aplicação da História Local, no contexto da sala de aula, onde 62,5% dos alunos inquiridos avaliou
com 5 valores, sendo que os restantes alunos mantiveram as suas avaliações positivas.
12,50%
18,80%
68,80%
Considera importante a História Local ?
3 Valores 4 Valores 5 Valores
Considera relevante a aplicação de História Local, no contexto da
sala de aula?
3 Valores 4 Valores 5 Valores
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
55
Acrescentando a estes resultados observados, considerou-se importante saber se a
estratégia pedagógica selecionada ajudaria o conjunto discente a compreender melhor a matéria
em estudo. Neste campo, apesar da avaliação dos alunos se situar na sua maioria nos 5 valores
(50% dos alunos inquiridos), houve um maior número de alunos a entregar 4 valores (37,5% dos
alunos inquiridos). Existe uma linha bastante sólida de resultados positivos, fruto da dinamização
das aulas de História Local, da realização de atividades envolvendo a comunidade, e ainda,
organizando visitas de estudo na cidade. Segundo o questionário, 80% dos alunos considera que a
sua perceção sobre a História Local mudou.
Para estes alunos, as atividades elaboradas tiveram um peso diferente, sendo possível
averiguar que estratégia acabou por atingir mais alunos. Segundo os dados recolhidos, dos cinco
momentos de aplicação pedagógico-didática da História Local, 50% dos alunos inquiridos preferiu
a visita de estudo número 1, ou seja, “Uma viagem pelo tempo na cidade de Coimbra”. Estes dados
podem significar, que a turma do 12.º Y prefere uma aula mais prática, no exterior. Por enumeras
vezes, diversos alunos admitiram “preferir ter aulas na rua” e ainda “que aprendia melhor assim”,
que acaba por ser fortalecido com uma avaliação de 5 valores, quando questionados sobre a
importância das visitas de estudo para a História Local, entregue por 81,3% dos inquiridos.
12,50%
12,50%
18,80%
50%
6,30%
Das atividades realizadas, qual gostou mais?
Aula 1: "Coimbra do Estado Novo:
Grandes obras públicas que marcaram
a cidade"
Aula 2: "Coimbra: do Marcelismo à
Revolução"
Aula 3: "A Crise Académica de 1969"
Visita de Estudo 1: "Uma Viagem pelo
tempo na cidade de Coimbra"
Visita de Estudo 2: "Primaveras
Estundantis: da Crise de 1962 ao 25 de
Abril"
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
56
3.4 - Reflexão sobre as atividades
As atividades propostas tiveram como objetivo integrar na dinâmica pedagógica e didática
dos alunos, na disciplina de História A, a História Local, de forma a introduzir mais elementos
sobre o local onde residem, onde convivem, onde a história das comunidades onde se inserem
converge. Os dados obtidos através dos inquéritos espelham uma aplicação positiva, bem como os
resultados dinamizados pelas atividades. As aulas dedicadas à História Local tiveram um duplo
serviço, podendo se afirmar, que acabou por se demonstrar realizado com sucesso. Esta face das
aulas apresentou-se, desde logo, uma forma de integrar a matéria e linhas orientadoras das
Aprendizagens Essenciais, tendo como objetivo a aproximação da História dos alunos. Tal como
Sílvia Araújo avança, é possível verificar esta importância da História Local, pois a mesma
enquadra-se no global, compreendendo desde logo que “o seu estudo não se encontra isolado do
mundo”
134
.
Assim, as atividades propostas e realizadas permitiram aos alunos do 12.º Y relacionar o
global, com o meio que vivem, ou estudam, aprofundando as suas noções sobre a História, e
reconhecendo importância à História Local. Existe uma valorização do património físico, mas
igualmente da herança do património imaterial. Esta ideia de conhecer melhor o “sítio onde
vivemos” está bem expressa, conectando a uma noção de cidadania igualmente presente nos
testemunhos dos alunos. Por esta razão, a visita de estudo realizada ao longo da Alta da cidade de
Coimbra possibilitou aos alunos relacionar um conjunto de conhecimentos que possuíam, do
global, numa geografia próxima aos mesmos. A pesar da matéria relativa ao 12.º ano de História
A ser relativa ao século XX, foi possibilitada uma consolidação de conhecimentos, aproximando
toda uma narrativa que se assemelha longínqua, para uma geografia conhecida, familiar e próxima
destes alunos.
Sérgio Couto, na sua partilha de uma experiência semelhante, afirma que o seu conjunto
discente revelou “capacidades nítidas de mobilizar os seus conhecimentos que mobilizaram em
sala de aula”
135
, algo bastante próximo à realidade observada no contexto da turma em estudo, o
12.º Y. Outro ponto em comum, com o que Sérgio Couto apresenta, é o facto dos seus alunos
afirmarem que a aplicação das experiências pedagógico-didáticas auxiliou a maioria da turma na
sua aprendizagem, motivando-os em certa medida, no contexto da disciplina. Ana Neves, no seu
trabalho, defende que a melhor maneira de abordar a temática da História Local é através das
visitas de estudo, sendo estas uma via segura.
134
Araújo, «“Só se ama o que se conhece ...”: Contributos da História local no Ensino da História», p. 149.
135
Couto, «A História Local e o Património Histórico-Cultural no Ensino da História», p. 101.
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
57
A dinamização do conjunto de atividades levadas a cabo durante o ano letivo demonstrou-
se pertinente, permitindo observar diferenças entre as diferentes propostas. De facto, as visitas de
estudo, como estratégica didático-pedagógicas, acabaria por recolher mais consenso positivo, pois
impõe um conjunto de questões práticas que agradam aos alunos. Um momento de aula no exterior
acaba por ser mais motivador pelo contexto que o próprio se enquadra, acrescentando ao facto de
permitir aos alunos respirar um ar diferente do existente na sala de aula. Este ponto foi confirmado
durante a primeira visita de estudo realizada pela Alta de Coimbra, quando um aluno, já perto do
final declarou preferir as saídas organizadas, pois sentia que “aprendia mais do que sentado e
parado na sala”.
Todavia, atividades organizadas demonstraram-se relevantes e tiveram uma aceitação
positiva por parte dos alunos, tal como pôde ser observado nos inquéritos disponibilizados. A
realização de aulas centradas na História Local, apesar de serem num contexto expositivo,
recorreram a um diálogo recorrente, pois a curiosidade demonstrada por parte do corpo discente
foi claro, principalmente, segundo eles, por não saberem que “Coimbra tinha tantos factos
interessantes”. Esta afirmação vai de encontro a um ponto a presentado por André Roberto
Machado, que menciona que, numa situação normal, tanto para o aluno como para um professor,
a ideia de História Regional não é uma questão urgente
136
. Não sendo algo visto como deveras
importante, acaba por ser desconsiderado, não surgindo como opção. Assim, quando confrontados
com a aplicação de História Local, ou História Regional, é possível assistir a declarações
acompanhadas de alguma surpresa.
A última atividade apresentada acabou por levar a História Local numa direção diferente,
pois criou ligações afetivas entre os alunos e as informações recolhidas, muito por serem relativas
aos seus avós. A exploração da memória local acabou por unir a História Local com a recolha de
memórias. Como foi mencionado a priori, as memórias históricas devem ser tratadas com algum
cuidado devido plasticidade das mesmas, podendo ser influenciadas por um conjunto de fatores,
como por exemplo, o contexto em que o possuidor da memória a adquiriu. Não obstante, a
atividade resultou numa recolha fruitiva, demonstrando o papel importante dos atores históricos
locais.
136
Machado, «Entre o nacional e o regional: Uma reflexão sobre a importância dos recortes espaciais na pesquisa e
no ensino da História», p. 300.
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
58
CONCLUSÃO
O trabalho realizado durante o ano letivo correspondeu a um exercício enriquecedor para
a futura prática profissional. A realização do Estágio Pedagógico colmatou a necessidade da
aplicação dos conhecimentos teóricos, no campo. O desafio de desenvolver em simultâneo com o
corpo discente permitiu ter uma Prática de Ensino Supervisionada mais próxima daquilo que o
futuro reserva.
A estratégia passou por acompanhar a turma do 12.º Y, quase em exclusivo, mas tendo a
oportunidade de lecionar igualmente as turmas dos 11.º Y e 9.º Y. No total contabilizaram-se 166
aulas, sendo que, apenas dez foram para as últimas duas turmas apresentadas. Apesar da exigência
, é possível afirmar que a filosofia de trabalho aplicada foi corretamente decidida, pois permitiu
alcançar realidades que de outra maneira seria mais difícil. Desde logo, permitiu uma aproximação
da turma do 12.º Y, resultado de uma partilha de 156 aulas das 207 lecionadas, ou seja, 75,36% do
tempo. A quantidade de aulas lecionadas trouxe consigo outras responsabilidades inerentes a um
docente “principal”, nomeadamente a participação nas diversas reuniões organizadas, bem como
a elaboração e correção das provas de avaliação. Pela atribuição da turma, a realização dos
momentos designados para a investigação sobre a temática da História Local, teve de ser bastante
ponderada. Pois, se por um lado existia mais tempo disponibilizado para realizar as atividades
dedicadas, por outro era necessário cumprir as Aprendizagens Essenciais da disciplina. Foi
necessária uma agilização para que os alunos nunca saíssem a perder, pois o objetivo foi
precisamente o oposto.
O ano letivo foi presenteado por um conjunto de atividades bastante considerável. A
instituição que sediou o núcleo de estágio presente demonstrou-se bastante ativa e aberta às
propostas dos demais docentes, inclusivamente dos docentes estagiários. Um conjunto de
atividades que celebraram as efemérides nacionais sensibilizaram toda a comunidade. Foram
mencionadas as celebrações do 5 de Outubro, com uma pequena atividade realizada pelo 9.º Y, do
1 de Dezembro, na qual se questionou à comunidade o que era ser português, ou ainda, o que
significaria Portugal. Esta segunda atividade levou à realização de uma pequena exposição, com a
seleção de uma parte dos testemunhos e colocados no Bloco A. Nesta linha, realizou-se igualmente
uma palestra sobre os Totalitarismos, realizada por um Historiador a convite do Núcleo de Estágio,
no âmbito do dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto.
A celebração dos 49 anos do 25 de Abril de 1974 marcou profundamente a comunidade
escolar. Foram organizadas várias atividades pelas diversas turmas, nomeadamente de expressão
artística, para serem expostos na exposição elaborada no Bloco B para a temática. A esta exposição,
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
59
acrescentaram-se fotos, disponibilizadas por familiares de alunos, professores e funcionários, e
ainda, um conjunto de testemunhos, reunidos pelos alunos através de familiares. Esta última
atividade esteve diretamente relacionada com a atividade realizada no contexto desta investigação,
alargando-se a toda a escola para uma finalidade maior. Por fim, terminando o conjunto de
atividades dedicadas ao 25 de Abril, elaborou-se de raiz um mural temático relativo à data,
juntando-se os alunos das turmas do 9.º ano, tendo o auxílio de elementos do 12.º Y.
Todo o conjunto de atividades realizadas demonstra a abertura que a instituição procurou
disponibilizar para tornar confortável o local de estágio. Esta característica tão positiva permitiu
perceber que a cooperação pode ser atingida, e ainda, num contexto onde todos apreciam o local
em que se encontram. É curiosa a dinâmica de uma escola, que, devido à realidade social onde a
mesma se insere, tenta proporcionar o melhor das atividades aos alunos. Sejam as atividades que
foram mencionadas, sejam atividades artístico-culturais, servindo de exemplo a participação nas
Escolíadas, ou ainda, atividades de intercâmbio cultural, em países distintos.
Na turma de trabalho em questão, o 12.º Y, a experiência demonstrou que, apesar da
realidade socioeconómica dos alunos, é possível motivá-los a realizar atividades que permitam
encontram conforto num espaço seguro, sendo esse espaço a escola. O simples ato de pintar os
bancos da escola, com os colegas, demonstrou características que um professor deseja ver nos seus
alunos: atitudes cívicas e de entreajuda, tornando-se belos exemplares de cidadãos em construção.
Desta forma, a escolha do tema da História Local visava aproximar os alunos da disciplina,
a partir da introdução de uma realidade que lhes é próxima. A apresentação doas consequências
dos eventos que estudam em grande plano numa História Geral, numa escala mais reduzida. Os
dados referentes às atividades realizadas foram na sua grande maioria positivos, acabando por
corroborar a posição dos demais autores apresentados neste trabalho.
Os resultados obtidos em cada um dos inquéritos vão ao encontro de abordagens
apresentadas ao longo do trabalho. Como inclusivamente já foi apresentado, a visão de Luís
Alberto Alves vai ao encontro do observado no decorrer do estágio, tal como verificamos com a
questão ligada à cidadania. Para além disso, o mesmo afirma que os jovens portugueses
manifestam um interesse relevante pela História das regionalidades (incluindo aqui a História
Local) e pela “História das áreas longínquas”. Com as declarações anteriormente apresentadas nos
inquéritos, a retórica de Luís Alves é observável no contexto do 12.º Y. Para além deste autor, a
posição defendida pelos autores José Nascimento, Erica Karnopp e Bianca de Siqueira no artigo
“História Local e (re) construção de identidades”, onde afirmam desde logo a importância da
História Local para a construção da cidadania.
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
60
A turma, através das diversas atividades, demonstrou que a utilização da História Local
pode incentivar os jovens alunos a se aproximarem da disciplina. De que maneira? A partir do
momento em que os aproximamos dos acontecimentos estudados, através da geografia próxima, e
ainda, com a inclusão da memória local, aproximando a ação estudada com um elemento próximo
do aluno. A autora Helena Pinto afirma que “o contacto direto com artefactos e edifícios do passado
é uma oportunidade para aprofundar conhecimentos”
137
. Desta maneira, a História Local permite
que isso mesmo ocorra, por via das visitas de estudo, por exemplo, algo que foi realizado com os
alunos do 12.º Y.
A tentativa de introduzir a História Local na matéria programática, cruzando com as
Aprendizagens Essenciais, de modo a aplicar em contextos pertinentes para os alunos. Para estes,
observar o legado do Estado Novo na cidade de Coimbra é a extensão da matéria estudada e
avaliada no contexto de sala de aula. Esta realidade foi observada igualmente por Sílvia Araújo,
ainda que num nível de ensino diferente (7.º ano), onde a autora demonstra como, a partir da
História Local, podemos introduzir um conjunto de elementos de escalas diferenciadas, presentes
na matéria lecionada:
Tentamos abordar a temática local como um conjunto de conhecimentos mais realistas,
concretos e particulares mas não estanques. Abordamos a História local sempre
enquadrada no global, dando a entender que o seu estudo não se encontra isolado do
mundo. Isso foi possível, por exemplo, quando trabalhamos o Românico e fizemos um
enquadramento que mostrava de que forma este estilo chegou a outras partes da
Europa.
138
Como é possível observar nos dados, os alunos adquiriram algumas capacidades que
auxiliam o seu estudo e a compreensão da matéria estudada. Entre essas capacidades, podemos
apontar a autonomia. Os alunos consideraram o estudo da História Local como algo culturalmente
importante, bem como uma importância ligada à formação do cidadão, sendo possível observar
esta visão a partir das respostas presentes no inquérito II e III. Este segundo ponto é apresentado
frequentemente ao longo deste trabalho, podendo-se considerar que a História Local tem um papel
importante nesse âmbito. Esta questão era um objetivo fortemente desejado, tendo sido realizado
com sucesso.
137
Helena Pinto, Educação Histórica e Patrimonial: Conceções de Alunos e Professores sobre o Passado em Espaços
do Presente (Porto: CITCEM – Centro de Investigação Transdisciplinar «Cultura, Espaço e Memória», 2016), p. 148.
138
Pinto, p. 149.
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
61
Assim, podemos responder à questão de investigação proposta a priori: Qual a relevância
pedagógico-didática da História Local? Será efetivamente pertinente a utilização de dados
relativos à realidade local, onde a escola e o seu corpo discente se inserem?
Segundo os dados observados e analisados, ao longo deste trabalho, é possível responder
afirmativamente a esta questão. A pertinência da História Local é clara, aproximando o conjunto
discente na matéria abordada, e tal como Pedro Barbosa afirma: “Só se protege aquilo que se gosta
e só se gosta daquilo que se conhece. Por isso, o primeiro passo é conhecer”
139
. Esta citação
encaixa-se na perfeição na ideia presente na aplicação de História Local, entregando a conhecer
algo que os alunos se identificam, criando um sentimento de pertença, tal como defende Sílvia
Araújo
140
. Quando se leciona História Local, é praticamente inevitável o aprofundamento no
campo do património, dinamizado a partir da realização de visitas de estudos, pois como foi
observado anteriormente, os alunos, neste caso de estudo pelo menos, surgem mais próximos e
deliciados pelas aulas no exterior, observando o património próximo, do que as aulas que abordam
a História Local como “matéria de manual”
141
.
Apesar de tudo, existem certas questões que ficam em aberto, nomeadamente o papel que
a introdução de elementos de História Local pode, ou não, influenciar nos resultados académicos
dos alunos. Apesar da melhoria relativa da média da turma entre o primeiro e segundo períodos
142
,
não é possível fazer uma ligação inequívoca com a História Local, pois existem outros fatores que
têm de ser levados em conta. Possivelmente, poderá existir uma pequena influência na aquisição
de conhecimentos, mas é difícil de contabilizar.
Na globalidade, foi possível observar uma influência positiva da introdução da História
Local, reforçando as aprendizagens onde a sua aplicação era realizável. Observou-se que a noção
de “herança” patrimonial estava bastante presente, e que a mesma estaria ligada a uma ideia de
“melhor cidadão”, um conceito diretamente ligado com a cidadania. Aproximando os alunos da
História Local é possível criar pontes para um conjunto de conceções pertinentes, observadas neste
trabalho. Apesar de opiniões diversas em vários pontos concretos, a pertinência global da aplicação
da realidade local, no contexto da turma em estudo, foi claramente positivo. Assim sendo, a
História Local demonstrou-se como uma estratégia pedagógico-didática eficiente, acrescentando
139
Pedro Barbosa, «Preservação e memória.», em Património Local e Regional: subsídios para um trabalho
transdisciplinar (Lisboa: Ministério da Educação, Departamento do Ensino Secundário, 1998), p. 24.
140
Araújo, «“Só se ama o que se conhece ...”: Contributos da História local no Ensino da História».
141
Expressão utilizada por aluno, para designar a matéria curricular.
142
No 1.º Período a turma do 12.º Y obteve uma média de 12 valores, contabilizando com 77% de taxa de sucesso.
No 2.º Período, a turma viu a sua média subir para 12,6 valores, bem como a taxa de sucesso, passando para 90%. No
3.º Período a turma conseguiu atingir 100% da taxa de sucesso.
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
62
uma nova visão dos acontecimentos aos alunos, enquadrando o local próximo, na História
longínqua dos manuais.
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
63
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João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
66
ANEXOS
Anexo I
Plano Individual de Formação
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
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João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
68
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
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Anexo II
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
70
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
71
Anexo III
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
72
Anexo IV
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
73
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
74
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75
Anexo V
Aula I - “Coimbra no Estado Novo: grandes obras públicas que marcaram a cidade”
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
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João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
77
Anexo VI
Aula II – Coimbra: do Marcelismo à Revolução
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
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79
Anexo VII
Aula III - Crise Académica de 1969
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
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João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
81
Anexo VIII
Visita de Estudo I – “Uma viagem pelo tempo na cidade de Coimbra”
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Anexo IX
Visita de Estudo II - “Primaveras Estudantis”
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
89
Anexo X
Atividade “1 de Dezembro”
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
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João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
91
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92
Anexo XI
Atividades referentes ao 25 de Abril
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
93
João de Sousa A História Local e a sua relevância pedagógico-didática
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