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Análise de conteúdo da produção científica brasileira sobre produtos orgânicos (2010-2021)

Authors:

Abstract and Figures

O objetivo deste estudo foi realizar uma revisão do conteúdo sobre produtos orgânicos no contexto brasileiro entre 2010 e 2021, na perspectiva da análise lexical. No percurso metodológico, realizou-se o levantamento de trabalhos científicos nacionais, publicados nas plataformas Spell e Periódicos Capes, no período delimitado, o que possibilitou selecionar 43 artigos. Em seguida, analisou-se o conteúdo dos artigos selecionados em abordagem quantitativa e qualitativa, por meio do software Iramuteq. Os resultados mostraram que o corpus textual foi subdividido em classes de 1 a 4. Por abordarem assuntos complementares, as classes 2 e 3 têm maior proximidade entre si, enquanto a 1 e a 4 aparecem de forma mais independente e isolada. Em geral, notam-se insights importantes que enfatizam a necessidade de incentivar a agricultura orgânica para reduzir a poluição, promover a sustentabilidade e atender às preocupações ambientais e de saúde dos consumidores. Os resultados levam a deduzir que trabalhos e discussões relacionados a produtos orgânicos – que englobam as temáticas desenvolvimento sustentável, políticas públicas e feiras verdes/agroecológicas, são ainda incipientes na agricultura familiar, o que indica a necessidade de pesquisas adicionais à literatura.
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Cadernos de Ciência & Tecnologia, Brasília, v. 40, e27271, 2023
DOI: 10.35977/0104-1096.cct2023.v40.27271
CC&T
Cadernos de Ciência & Tecnologia
ISSNe 0104-1096
www.embrapa.br/cct
Recebido em
10/04/2023
Aprovado em
08/12/2023
Publicado em
28/12/2023
This article is published in Open Access under
the Creative Commons Attribution licence,
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the original work is correctly cited.
Ideias centrais
• Necessidade de mais estudos sobre
produtos orgânicos na agricultura
familiar e políticas públicas.
• Importância da agricultura orgânica
para reduzir poluição e promover
sustentabilidade.
• Análise lexical de 43 artigos publica-
dos entre 2010 e 2021 sobre produtos
orgânicos no Brasil.
• As mudanças nos padrões alimen-
tares e a crescente demanda por
alimentos orgânicos de qualidade.
• O estudo sugere a necessidade de
ampliar pesquisas sobre produtores e
consumidores de orgânicos.
Análise de conteúdo da produção cientíca brasileira
sobre produtos orgânicos (2010-2021)
Luciana Girão de Vilhena1
Francisco Laercio Pereira Braga2
Filipe Augusto Xavier Lima3
RESUMO
O objetivo deste estudo foi realizar uma revisão do conteúdo sobre produtos orgânicos
no contexto brasileiro entre 2010 e 2021, na perspectiva da análise lexical. No percurso
metodológico, realizou-se o levantamento de trabalhos cientícos nacionais, publicados
nas plataformas Spell e Periódicos Capes, no período delimitado, o que possibilitou
selecionar 43 artigos. Em seguida, analisou-se o conteúdo dos artigos selecionados em
abordagem quantitativa e qualitativa, por meio do software Iramuteq. Os resultados
mostraram que o corpus textual foi subdividido em classes de 1 a 4. Por abordarem
assuntos complementares, as classes 2 e 3 têm maior proximidade entre si, enquanto
a 1 e a 4 aparecem de forma mais independente e isolada. Em geral, notam-se insights
importantes que enfatizam a necessidade de incentivar a agricultura orgânica para reduzir
a poluição, promover a sustentabilidade e atender às preocupações ambientais e de saúde
dos consumidores. Os resultados levam a deduzir que trabalhos e discussões relacionados
a produtos orgânicos – que englobam as temáticas desenvolvimento sustentável, políticas
públicas e feiras verdes/agroecológicas, são ainda incipientes na agricultura familiar, o
que indica a necessidade de pesquisas adicionais à literatura.
Termos para indexação: alimento orgânico, alimentação saudável, desenvolvimento
rural, consumidor.
Content analysis of the Brazilian scientic production on organic
products (2010-2021)
ABSTRACT
The objective of this study was perform a content review on organic products in the
Brazilian context between 2010 and 2021, from the perspective of the lexical analysis.
In the methodological path, a survey was carried out for the national scientic works
published on the Spell and CAPES journal platforms, in the delimited period, which
made it possible to select 43 articles. Subsequently, the content of the selected articles
was analyzed following a quantitative and qualitative approach, using the Iramuteq
software. The results showed that the textual corpus was subdivided into classes from
1 to 4. As they cover complementary subjects, classes 2 and 3 are closer to each other,
while classes 1 and 4 appear more independent and isolate. In general, important insights
are noted, which emphasizes the need to encourage organic farming, in order to reduce
1 Economista, mestre em Economia Rural, professora assistente, Universidade Estadual Vale do
Acaraú, Campus da Betânia, Avenida da Universidade, n.º 850, CEP 62040-370 Sobral, CE.
E-mail: luciana_girao@uvanet.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1592-3516.
2 Economista, doutor em Economia Rural, professor da Universidade Estadual do
Ceará. Avenida Dr. Silas Munguba, n.º 1.700, Itaperi, CEP 60714-903 Fortaleza, CE.
E-mail: laercio.braga@uece.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3145-2838.
3 Engenheiro-Agrônomo, doutor em Extensão Rural, professor adjunto, Universidade Federal do
Ceará, Campus do Pici, Avenida Mister Hull, n.º 2.977, Bloco 826, CEP 60020-181 Fortaleza, CE.
E-mail: lipeaxlima@ufc.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4235-1311.
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L.G. de Vilhena et al.
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pollution, promote sustainability, and address consumer’s environmental and health concerns. The results lead us to deduce that works
and discussions related to organic products – which encompass the themes on sustainable development, public policies, and green/
agroecological fairs – are still incipient in the family farming, which indicates the need for additional research to the literature.
Index terms: organic food, healthy food, rural development, consumer.
INTRODUÇÃO
No decorrer do século XX, constataram-se alterações signicativas e importantes no que
diz respeito aos padrões alimentares da população mundial. Essas mudanças zeram emergir a
relação direta existente entre alimentação e qualidade de vida, o que abriu espaço no mercado para
a comercialização de produtos orgânicos (Verga et al., 2020). Por esse motivo, a literatura sobre
esta temática vem mostrando que as mudanças dos padrões comportamentais, em âmbito global,
relacionados ao consumo de alimentos, estão tornando os consumidores cada vez mais exigentes com
relação à qualidade e à segurança dos alimentos que consomem, entre os quais estão incluídos os
alimentos de origem orgânica (Kumar, 2018; Kashif, 2019).
Neste panorama, deve-se ressaltar que a agricultura orgânica emerge dentro de um conceito
mais abrangente de agricultura alternativa, com correntes ligadas à agricultura natural, agricultura
biodinâmica, agricultura biológica, agricultura ecológica e permacultura (Sampaio et al., 2013). Assim,
quanto ao consumo, pessoas que têm preocupação ambiental tendem a adquirir produtos orgânicos,
visto que eles não necessitam de insumos que agridem a natureza (agrotóxicos) e são benécos à saúde
(Sampaio et al., 2013; Oliveira et al., 2016). Ou seja, nota-se preocupação e, até mesmo, inversão ao
atual modelo de desenvolvimento econômico baseado no consumismo desenfreado e de forte impacto
ambiental, na contramão da sustentabilidade, fragilizada pela intensicação do uso indiscriminado da
natureza em prol do crescimento econômico.
Desta maneira, por mais que se conheça a importância da utilização de produtos de origem
orgânica e de seu mercado, nota-se, ainda, incipiência de estudos que os relacionem com outras
temáticas relevantes que possam auxiliar a discussão tanto no âmbito das políticas públicas quanto
no campo acadêmico. Este cenário acontece ao mesmo tempo em que se constata que o Brasil é um
dos maiores consumidores de agrotóxicos do mundo, apresentando aumento de 190% na compra de
insumos agrícolas na década de 2010 (Machado et al., 2018).
Assim, para buscar compreender melhor a contribuição da literatura brasileira sobre a produção
orgânica para a ciência, tem-se a seguinte pergunta norteadora da pesquisa: qual o panorama teórico
brasileiro sobre as discussões quanto à produção de produtos da agricultura orgânica entre 2010
e 2021, a partir de uma revisão bibliográca lexical? Neste sentido, o objetivo deste trabalho foi
realizar uma revisão de conteúdo sobre o tema produtos orgânicos no contexto brasileiro entre 2010
e 2021, na perspectiva da análise lexical.
Para o percurso metodológico, optou-se pela seleção de 43 artigos e textos cientícos nacionais,
que fazem parte de um total de 85 artigos/textos publicados online em periódicos brasileiros, entre
janeiro e dezembro de 2010 e 30 de dezembro de 2021.
Optou-se pelo uso da análise lexical, por meio do software Iramuteq, que permite analisar um
corpus textual sobre o tema em exposição, na abordagem qualitativa e quantitativa. Por este motivo,
a importância do presente estudo reside em seu caráter inédito, pois foi possível obter resultados
da apreciação crítica, síntese das informações selecionadas e identicação de lacunas teóricas para
estudos futuros.
O presente trabalho buscou a elucidação de que é possível “envergar ainda mais o tema”, com
estudos sobre os pers de produtores e consumidores, bem como detectar pontos necessários para a
implementação de políticas públicas.
Análise de conteúdo da produção cientíca brasileira
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Possíveis limitações podem estar na extração dos dados que, para o presente estudo, foi feita a
partir de duas plataformas: Spell e Periódicos Capes.
Agricultura orgânica: história e conceitos
O início da “Segunda Revolução Agrícola” marca o processo de industrialização do campo e
a exclusão de agricultores menos capitalizados (Ehlers, 1994). Em contraponto ao modelo agrícola
proposto, ocorriam movimentos “rebeldes” – na Europa, na América do Norte (Estados Unidos) e
na Ásia (Japão) –, dispostos em quatro vertentes: agricultura biodinâmica, agricultura orgânica e
agricultura biológica, na Europa; e agricultura natural, no Japão.
Nesse sentido, Fonseca (2009) explica que os anos 1970 e 1980 marcam o uso do termo
agricultura alternativa. Esse movimento caracteriza-se por ser antagônico à agricultura industrial,
pois inicia-se no século XX, na Europa Ocidental e na América do Norte, e é uma das ações da
“Revolução Verde. A denominação agricultura orgânica, por sua vez, deu-se por meio de uma decisão
dos tribunais europeus, que garantiram a vinculação do termo ao modelo de agricultura não industrial.
De forma resumida, entende-se que o surgimento dos primeiros produtos orgânicos no mercado
europeu deu-se na década de 1970 e, durante as duas décadas seguintes, presencia-se o fortalecimento
desse tipo de produção (Fonseca, 2005).
Faveret Filho et al. (2002) apontam que, até a década de 1970, no Brasil, relacionava-se a
produção de orgânicos a um movimento losóco de busca por uma vida alternativa, com o retorno do
contato com a terra. No entanto, na década de 1980, observa-se o aumento do consumo dos produtos
orgânicos e a organização de muitas instituições, como por exemplo, cooperativas de produção e
consumo de produtos naturais.
Os métodos da agricultura e os impactos causados pelo uso indiscriminado de agrotóxicos
são pautas de discussões desde a década de 1970, que marcou o início do movimento da agricultura
alternativa (AA) como resposta à hegemonia do capitalismo no meio rural (Ehlers, 1999). Dentre as
diferentes vertentes defendidas pela agricultura alternativa destacam-se a agricultura orgânica e a
agroecologia (Santos, 2002). Ehlers (1999) esclarece que a agricultura orgânica baseia-se em manejo
natural, com o modelo de produção que permite a redução dos níveis de poluição da água, do ar e
do solo e que não utiliza adubos químicos, pesticidas ou organismos geneticamente modicados.
Tal modelo visa aumentar a produção de forma sustentável, gerando acréscimo da resiliência dos
agroecossistemas e da rentabilidade da produção (Zucatto, 2009).
A agricultura orgânica no Brasil foi regulamentada pela Lei 10.831/2003, que dene tal sistema
em seu art. 1, § 2°, como qualquer sistema agrícola pautado na produção sustentável de alimentos,
bras e outros produtos, dispondo de responsabilidade ambiental, social e econômica (Brasil, 2003).
Vale ressaltar que, nos regulamentos técnicos brasileiros, a denominação contempla também termos
como agroecológico, permacultura e extrativismo sustentável orgânico. Assim, percebe-se que
agricultura orgânica e agroecologia são termos complementares.
Conforme Miollo (2019):
A agricultura orgânica é teoricamente fundamentada nas técnicas de produção, pois
busca produzir alimentos (certicados) que não dispõem de contaminantes químicos,
considerando-se que esta produção cause o mínimo de impacto aos agroecossistemas.
A agroecologia é termo que dene o desenvolvimento de uma agricultura com enfoque
ambiental, social e econômico.
Apesar da importância dos termos conceituados, é possível perceber que agricultura orgânica e
agroecologia são tratados como sinônimos pela legislação. Tal fato é considerado por Miollo (2019)
como uma simplicação, principalmente o uso do termo agroecologia, que é visto pela autora como
“paradigma de desenvolvimento rural emergente”.
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L.G. de Vilhena et al.
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Segundo Alves et al. (2012), a discussão em torno da temática desenvolvimento sustentável
estimulou a produção e a procura por alimentos orgânicos, motivando organizações não governamentais
(ONGs) a procurarem o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), a m de
levantar a necessidade de regulamentação e certicação desses produtos. Tal incursão resultou, em
1991, na criação da Comissão Especial e publicação, por meio de portarias e, em seguida, na criação
do Comitê Nacional de Produtos Orgânicos (Pessoa et al., 2002). Assim, após consulta pública, as
normas que regulamentavam a produção, a identicação, o comércio e a certicação da qualidade de
produtos orgânicos, de origem vegetal ou animal, transformaram-se em instrução normativa publicada
em 1999 (Alves et al., 2012).
Dando continuidade à linha cronológica da regulamentação dos orgânicos no Brasil, tem-se a
aprovação da já mencionada Lei 10.831/2003, fruto da estruturação do MAPA acerca das questões da
agricultura orgânica. Esta norma conceitua produto orgânico e estabelece critérios para a certicação,
facultando o procedimento, no caso de comercialização direta aos consumidores por agricultores
familiares, em que passa a ser necessário que estes produtores cadastrem-se junto ao órgão scalizador
(Brasil, 2003). A lei citada foi regulamentada em 2007, por meio do Decreto n.° 6.323, e dispôs de
diretrizes relacionadas à identicação, rotulagem e publicidade, além de instruções sobre insumos
(Brasil, 2007). Nesse sentido, a identicação utilizada pode ser “Certicação Orgânica” ou “Sistema
Participativo de Garantia da Qualidade Orgânica” (Brasil, 2007; Alves et al., 2012).
Assad (2015) destaca a importância do mecanismo de certicação, que ele que garante a
qualidade de um alimento orgânico, in natura ou processado. Esta certicação pode ser realizada
de três formas, conforme a legislação (Decreto n.° 6.323/2007): a Certicação por Auditoria, a
Certicação pelos Sistemas Participativos de Avaliação da Conformidade Orgânica (OPAC) e a
Organização de Controle Social (OCS) (Fonseca, 2009). Estes, por sua vez, estão de acordo com as
normas do sistema de certicação por auditoria (Alves et al., 2012).
A Instrução Normativa (IN) n.° 46/2011 foi aprovada em 2011 e apresenta normas técnicas para
os sistemas orgânicos de produção, dispondo, também, das listas de substâncias e práticas permitidas
para uso nestes sistemas. Tal normativa disponibiliza orientações sobre o plano de manejo e os
requisitos gerais dos sistemas orgânicos de produção, principalmente no que se refere às questões
ambientais e às atividades econômicas. Em 2012, por meio do Decreto n.° 7.794, institui-se a Política
Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PNAPO), que apresenta como objetivo principal
viabilizar políticas, programas e ações indutores da transição agroecológica, da produção orgânica e
de base agroecológica, com vista ao desenvolvimento sustentável e à qualidade de vida da população
(Brasil, 2012).
Em 2014, a IN n.° 18/2014 estabeleceu o selo único ocial do Sistema Brasileiro de Avaliação da
Conformidade Orgânica. No ano de 2015, a IN n.° 13/2015 foi aprovada e, por meio dela, formaliza-
se a Subcomissão Temática de Produção Orgânica (STPOrg) e as Comissões da Produção Orgânica
nas Unidades da Federação (CPOrg-UF) (Brasil, 2015).
Em 2021, o Ministério da Agricultura publicou a portaria n.º 52/2021, que modicou a Instrução
Normativa (IN) n.º 46/2011 e regulamentou a produção primária animal e vegetal orgânica. No entanto,
a quantidade de alterações causou preocupação aos participantes de movimentos orgânicos, pois elas
incluem substâncias e práticas que podem desvirtuar o que se espera de um produto orgânico.
Apesar de não ser interesse do presente trabalho aprofundar essa questão, é perceptível que o
meio rural ganha interesse dos agentes econômicos, pois insere a agricultura orgânica nos debates
sobre desenvolvimento e agricultura sustentável. É nesse aspecto, portanto, que, em Almeida (2009)
direciona-se o debate para a questão do desenvolvimento rural, elemento importante para a transição
da agricultura arcaica para a moderna, e que Navarro (2001) contribui com a discussão, ao colocar
o desenvolvimento rural como ação articulada, geradora de mudanças no ambiente social. Logo,
nota-se que são temáticas relacionadas e que devem ser debatidas em conjunto, de modo a se obter os
melhores resultados, tanto na dimensão social quanto na ambiental e econômica.
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METODOLOGIA
Esta seção metodológica explana toda ação desenvolvida no caminho deste trabalho de pesquisa,
isto é, faz-se a apresentação das opções de escolha de análises e captação dos dados analisados. Logo,
prende-se na exposição sobre análise lexical e a utilização do software Iramuteq como instrumento de
coleta e disposição dos dados.
A análise de material verbal transcrito – textos, entrevistas, documentos, redações etc. – é
denominada de análise textual e baseia-se em fontes comuns para estudos nas áreas de ciências
humanas e sociais (Nascimento & Menandro, 2006). Também chamada de análise lexical, este
tipo de metodologia possibilita a descrição de um determinado material produzido individual ou
coletivamente, além de permitir a comparação de produções diferentes, em razão de variáveis
especícas capazes de descrever quem produziu o texto (Lahlou, 1994).
Camargo & Justo (2013) ressaltam que as análises estatísticas textuais estão diretamente
relacionadas com o algoritmo do ALCESTE, que possibilita a recuperação do contexto em que as
palavras se encontram, o que o torna ferramenta popular entre os pesquisadores da área de ciências
humanas.
Lahlou (2012) esclarece que Ratinaud desenvolveu o software Iramuteq (Interface de R pour
les Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires), que engloba: a classicação
hierárquica descendente (CHD), proposta por Reinert (1990) e outras análises lexicais que não são
realizadas pelo software ALCESTE. Esse software gratuito foi criado em 2009, inicialmente na
língua francesa, mas conta com dicionários completos em várias línguas. Sua utilização no Brasil
iniciou-se em 2013, aplicado em pesquisas de representações sociais, por conta das possibilidades de
processamento de dados qualitativos (Kami et al., 2016).
Portanto, argumenta-se que o presente estudo, com uso do software Iramuteq, é do tipo
qualitativo, quantitativo e exploratório (Braga & Lima, 2022), pois baseia-se na análise do conteúdo
e de conclusões/considerações nais, de um conjunto de 43 trabalhos cientícos publicados em
periódicos nacionais, de um total de 85 trabalhos encontrados nas plataformas Spell (Scientic
Periodicals Electronic Library) e Capes Periódicos, no período entre 2010 e 2021. Ao todo, esta
pesquisa foi dividida em três etapas (Figura 1):
i. Levantamento de artigos publicados nas plataformas Spell e Capes Periódicos, entre 2010 e
2021, que registrassem o vocábulo orgânico(s) em seu título. Nessa etapa, foram encontrados
85 estudos sobre orgânicos no período citado.
ii. Seleção de artigos que tivessem, entre suas palavras-chave, os vocábulos produtos
(alimentos) orgânicos, e/ou desenvolvimento sustentável e/ou sustentáveis, e/ou agricultura
orgânica. Nessa fase, 45 artigos foram excluídos da etapa seguinte, pois não continham estas
expressões entre suas palavras-chave.
iii. “Limpeza” do corpus textual formado por todas as conclusões/considerações nais dos 43
artigos selecionados, para obtenção dos outputs do estudo.
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L.G. de Vilhena et al.
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Figura 1. Procedimento metodológico de escolha dos artigos analisados.
Deve-se salientar que o período temporal escolhido para o presente estudo decorre do fato de ele
ter sido feito na década imediatamente posterior à publicação de todos os decretos de regulamentação
da produção e comercialização de produtos orgânicos. Além disso, teve-se, em 2007, por exemplo, o
Decreto n.° 6.323/2007, que trata do mecanismo de certicação da qualidade do alimento orgânico
in natura ou processado. Todo o aparato legal, criado na década anterior, possibilitou que a temática
produtos orgânicos ganhasse cada vez mais destaque nos estudos acadêmicos e debates públicos.
Assim, como dito anteriormente, foram selecionados 43 artigos publicados em diversos
periódicos e congressos de âmbito nacional. Após a seleção desses artigos, todas as conclusões/
considerações nais foram postas em um único arquivo de texto, para formar o corpus textual da
análise. Nesse processo, o corpus foi preparado a partir de sucessivas leituras para correções e
decodicações, para evitar a ocorrência de interferências nas análises posteriores ou, pelo menos,
minimizá-las (Tabela 1).
Tabela 1. Artigos selecionados para compor o corpus de análise.
Artigos Título/Autor/Ano
Artigo 1
Construção social de mercados orgânicos: o caso das Células de Consumidores Responsáveis em Florianópolis-SC
(Miranda et al., 2021).
Artigo 2
Agroturismo e circuitos curtos de comercialização de alimentos orgânicos na Associação “Acolhida na Colônia” – SC/
Brasil (Fantini et al., 2018).
Artigo 3 Mudança no perl sociodemográco de consumidores de produtos orgânicos (Pereira et al., 2015).
Artigo 4
O papel dos preços e do dispêndio no consumo de alimentos orgânicos e convencionais no Brasil (Ferreira & Coelho,
2017).
Artigo 5
Certicação de produtos orgânicos: obstáculos à implantação de um sistema participativo de garantia na Andaluzia,
Espanha (Caldas et al., 2012).
Artigo 6
Avaliação da inserção de alimentos orgânicos provenientes da agricultura familiar na alimentação escolar, em
municípios dos territórios rurais do Rio Grande do Sul, Brasil (Santos et al., 2014).
Artigo 7
O reexo da ausência de políticas de incentivo à agricultura urbana orgânica: um estudo de caso em duas cidades no
Brasil (Maas et al., 2020).
Artigo 8
Incentivos competitivos e cooperativos em relações diádicas: um estudo de caso na cadeia de uvas orgânicas (Cislaghi
et al., 2019).
Artigo 9
Panorama da agricultura orgânica e dos agrotóxicos no Brasil: uma análise a partir dos censos 2006 e 2017 (Mattei &
Michellon, 2021).
Artigo 10 A convencionalização na produção de sementes na agricultura orgânica brasileira (Parra Filho et al., 2018).
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Artigos Título/Autor/Ano
Artigo 11
Normativa de produção orgânica no brasil: a percepção dos agricultores familiares do assentamento da Chapadinha,
Sobradinho (DF) (Muñoz et al., 2016).
Artigo 12
Aspectos relativos à saúde e ao meio ambiente ligados ao consumo de alimentos orgânicos (Albuquerque Júnior et al.,
2013).
Artigo 13
Gestão estratégica da qualidade para empresas produtoras de alimentos orgânicos: diretrizes para a expansão do
mercado consumidor (Anacleto & Paladini, 2015).
Artigo 14
Avaliação da gestão da qualidade em produtoras rurais de alimentos orgânicos: alinhamento entre processo e
consumidor (Anacleto et al., 2014).
Artigo 15
Além da losoa altruísta: um estudo sobre os determinantes do envolvimento do consumidor de alimentos orgânicos
(Barros et al., 2018).
Artigo 16 A inuência do consumo sustentável na decisão de compra de produtos orgânicos (Borges et al., 2019).
Artigo 17
Atributos de estilo de vida do consumidor relacionados ao consumo de produtos orgânicos no varejo especializado
(Braga Junior et al., 2014).
Artigo 18
Consciência saudável e conança do consumidor: um estudo sobre a aplicação da teoria do comportamento planejado
na compra de alimentos orgânicos (Branco et al., 2019).
Artigo 19
Representações sociais sobre alimentos orgânicos para agricultores: uma revisão de literatura nacional (Clay et al.,
2016).
Artigo 20
Estratégia de desenvolvimento de produtos no agronegócio: um estudo em produtos orgânicos (Cremonezi et al.,
2012).
Artigo 21
As indústrias de produtos orgânicos, o marketing de relacionamento e o endomarketing: estudo de múltiplos casos
(Cremonezi et al., 2013).
Artigo 22
Aspectos a tomada de decisão na inclusão de alimentos orgânicos em unidades de alimentação e nutrição (DeNegri &
Heck, 2018).
Artigo 23
Comportamento do consumidor de alimentos orgânicos: um modelo baseado em inuenciadores diretos e indiretos
(Fernandes et al., 2021).
Artigo 24 Produtos orgânicos: as ferramentas de marketing para sua sustentabilidade econômica (Graziano et al., 2012).
Artigo 25
Comportamento do consumidor de produtos orgânicos: uma aplicação da teoria do consumidor planejado (Hoppe et
al., 2012).
Artigo 26 Análise da disposição de consumo por orgânicos em uma indústria de cereais (Hsu et al., 2020).
Artigo 27
Intenção de compra de alimentos orgânicos: revisão sistemática dos preditores utilizados em extensões da teoria do
comportamento planejado (Iwaya & Steil, 2019).
Artigo 28
Intenção de compra de alimentos orgânicos: evidências de validade da teoria do comportamento planejado (Iwaya et
al., 2021).
Artigo 29
Efeito do estilo de vida relacionado à alimentação orgânica na atitude e intenção de compra de alimentos orgânicos:
evidências do Brasil (Jungles et al., 2021).
Artigo 30
“Antropocêntricos ou ecocêntricos?” As motivações dos consumidores para a compra de alimentos orgânicos em uma
feira de Recife/Pe (Silva-Lacerda et al., 2016).
Artigo 31 Percepção ambiental de consumidores de produtos orgânicos (Pinheiro et al., 2020).
Artigo 32 O comércio internacional de produtos orgânicos: atuação do Brasil e de países atuantes no setor (Luizzi et al., 2016).
Artigo 33 Segmentação psicográca dos consumidores de alimentos orgânicos (Maciel et al., 2016).
Artigo 34 Segmentação dos consumidores a respeito dos produtos orgânicos (Maciel et al., 2015).
Artigo 35
Perl socioeconômico dos consumidores de restaurantes em relação à valorização de produtos orgânicos: uma análise
comparativa (Meireles et al., 2016).
Artigo 36
Estudos construtivistas de mercado e lógicas institucionais: proposição de um quadro analítico para uma organização
do mercado brasileiro de alimentos orgânicos (Merabet, 2020).
Artigo 37
A formação do mercado de alimentos orgânicos no Brasil: uma análise histórica a partir do agenciamento das práticas
representacionais da revista A Lavoura (Merabet & Barros, 2021).
Artigo 38
O uso de recursos estratégicos na produção de orgânicos: o caso dos produtores da feira ecológica de Passo Fundo-RS
(Padilha et al., 2019).
Artigo 39
De saberes a sabores à escolha alimentar: uma análise a partir da conectividade com a natureza e da orientação
temporal para o consumo de alimentos orgânicos (Pinheiro et al., 2018).
Artigo 40 Intenção de compra e consumo de alimentos orgânicos (Sampaio & Gosling, 2014).
Artigo 41 Consumo de alimentos orgânicos: um estudo exploratório (Sampaio et al., 2013).
Artigo 42
Introdução progressiva de alimentos orgânicos e agroecológicos na merenda escolar no município de São Paulo: uma
análise a partir dos instrumentos de ação pública (Santos et al., 2020).
Artigo 43
O hiato entre atitude e comportamento ecologicamente conscientes: um estudo com consumidores de diferentes
gerações para produtos orgânicos (Vaccari et al., 2016).
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Entre as principais análises do corpus textual, têm-se: i) nuvem de palavras; ii) classicação
hierárquica descendente (CHD), que está relacionada ao método de Reinert (1990), em que se elabora
um dendrograma com frequência (absoluta e relativa) de palavras e suas posições, em percentuais, no
texto; iii) análise fatorial de correspondência (AFC), resultante dos cruzamentos entre as ocorrências
lexicais dos vocábulos do corpus textual analisado com as classes oriundas da CHD, e representa, ao
nal, o plano cartesiano com os diversos vocábulos de maior frequência das classes; iv) análise de
similitude que, por sua vez, mostra visualmente as conexões entre os elementos textuais, via ligações
de palavras (Reinert, 1990; Camargo, 2005; Camargo & Justo, 2013; Larrea et al., 2021; Braga &
Lima, 2022).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na primeira subseção desta etapa, é possível encontrar os principais resultados descritivos dos
dados analisados, ou seja, envolve a análise quantitativa do estudo (análise lexical). Nesse caso,
apresentam-se todos os resultados estatísticos obtidos por meio da utilização do software Iramuteq. A
segunda subseção refere-se à análise qualitativa do conjunto textual selecionado, em que se observa
não o número, mas aquilo que foi colocado no conteúdo dos dados.
Descrição dos dados analisados
Dos 43 estudos selecionados que formam o corpus textual analisado, o software Iramuteq
reconheceu a separação do corpus em 43 unidades de texto iniciais (UCEs), 252 segmentos de textos
(ST), 4.222 formas distintas e 23.937 ocorrências de palavras no texto. Dos 671 segmentos de textos,
514 foram retidos, ou seja, 76,6% do total de palavras, o que cou acima do limite mínimo aceito de
75% que permite análise adequada do corpus textual, assim como foi colocado por Camargo & Justo
(2013).
Com a realização da análise estatística, por meio do Iramuteq, constatou-se que, do conjunto
do corpus textual, algumas palavras emergem com destaque, como por exemplo, “consumidor” (com
183 repetições), “orgânico” (166 repetições), “estudo” (139 repetições), “pesquisa” (123 repetições),
“produtos” (105 repetições) e “mercado” (87 repetições). Assim, a análise gráco-textual, que forma
a nuvem de palavras, mostra a representação que expressa o comportamento relacionado à frequência
com que uma palavra aparece em um corpo textual (Figura 2). Em geral, a nuvem simplica a análise
da lexia dos vocábulos, ajudando a compreender de forma rápida a relevância de cada um desses
elementos dentro do contexto do estudo (Larrea et al., 2021). As palavras mencionadas têm, portanto,
a capacidade de expressar o condicionamento existente na estrutura do texto, o qual exibe a palavra
“consumidor” como aquela que por mais vezes aparece na estrutura, seguida, consequentemente, de
“orgânico” e “estudo”.
Figura 2. Nuvem de palavras do corpus textual analisado.
Análise de conteúdo da produção cientíca brasileira
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Após a etapa de descrição geral das palavras de maior frequência, procede-se à análise de
agrupamento, para a organização hierárquica de grupos de variáveis (vocábulos). A classicação
hierárquica descendente (CDH) mostrou a existência de dois grandes grupos de (clusters), aqui
denominados de subcorpus R1 e subcorpus R2. O subcorpus R1 é composto por outros dois subcorpora
internos, aqui denominados de R1A e R1B. O subcorpus R1A compõe-se da classe 1 (em vermelho);
enquanto o R1B é formado pelas classes 2 (em verde) e 3 (em azul). O subcorpus R2, por sua vez, é
composto apenas da classe 4 (em roxo). Ou seja, no total, obtiveram-se quatro classes, apresentadas
no dendrograma oriundo da análise de CHD, que agrupam as 43 unidades de texto iniciais (Figura 3).
A classe 1 compõe-se de 27,5% do total do corpus textual analisado e aparece em uma
ramicação separada. No que diz respeito à classe 2, tem-se 21,2% do total das palavras do corpus e
está intrinsecamente relacionada com a classe 3, que é composta por 30,5% do seu total. Por último,
tem-se, também de forma isolada, a classe 4, que constitui 20,6% do total dos vocábulos do corpus da
presente análise. Portanto, o subcorpora (R1 e R2) é formado por 79,4% e 20,6% do total de palavras,
respectivamente. Nesse aspecto, de acordo com Camargo & Justo (2013) e reforçado por Braga &
Lima (2022), quanto mais próximo as classes estiverem uma das outras (na mesma ramicação),
maior será a anidade contextual e, consequentemente, maior será a probabilidade de que ocorram
agrupamentos futuros para a construção das categorias nais.
Figura 3. Classicação hierárquica descendente do corpus textual analisado.
É possível averiguar, também, a maneira como os artigos agruparam-se nas respectivas classes, a
partir da análise do corpus textual completo (Figura 3). Este processo mostra aqueles artigos ou grupos
de autores que tratam de assuntos similares e que, de certa maneira, conversam entre si no conteúdo
debatido (Braga & Lima, 2022). Nessa representação, nota-se que os artigos da classe 1 trataram sobre
a perspectiva dos consumidores de produtos orgânicos, quanto aos seguintes parâmetros: seus pers
socioeconômicos (Meireles et al., 2016); segmentação (Maciel et al., 2016); percepção (Pinheiro et
al., 2020); comportamento (Hoppe et al., 2012); consciência saudável e conança dos consumidores
(Branco et al., 2019).
Para a formação da classe 2, observou-se a aglutinação de artigos que versam, principalmente,
sobre os seguintes temas: mudança do perl sociodemográco dos consumidores de produtos
orgânicos (Pereira et al., 2015); papel dos preços e dispêndios com produtos orgânicos (Ferreira
& Coelho, 2017); aspectos relativos à saúde e ao meio ambiente (Albuquerque Júnior et al., 2013);
indústria de produtos orgânicos e marketing (Cremonezi et al., 2013); e ferramentas de marketing
(Graziano et al., 2012).
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A classe 3, que está ligada à classe 2, reuniu artigos que trataram sobre assuntos relacionados aos
seguintes itens: intenção de compra de alimentos orgânicos (Iwaya & Steil, 2019); decisão de compra
e tomada de decisão (DeNegri & Heck, 2018; Borges et al., 2019); e estudos sobre produtoras rurais
de alimentos orgânicos e avaliação da inserção de alimentos orgânicos de agricultores familiares em
escolas (Santos et al., 2014; Anacleto & Paladini, 2015).
Por último, têm-se os artigos que formam a classe 4, que aparece, por sua vez, isolada das
demais. Os principais estudos versam sobre as seguintes temáticas atreladas a alimentos orgânicos: o
comércio internacional desse nicho de mercado (Luizzi et al., 2016); estratégias na produção orgânica
e estratégias de desenvolvimento de produção no agronegócio (Cremonezi et al., 2012; Padilha et
al., 2019); incentivos à competitividade e cooperativas desse mercado (Cislaghi et al., 2019); e
certicação de produção orgânica e normativa de produção orgânica no Brasil (Caldas et al., 2012;
Muñoz et al., 2016).
Após a formação dos agrupamentos dos estudos selecionados (CHD), iniciou-se o processo
de análise fatorial de correspondências (AFC) quanto às relações entre os principais vocábulos do
corpus textual. Vale ressaltar, como colocado por Braga & Lima (2022), que esta fase envolve relativa
complexidade de análise, pois é o momento em que se mostra a distribuição dos elementos lexicais
em seus respectivos campos léxico-semânticos (classes/categorias). Assim, para melhor compreensão
da disposição gráca, deve-se destacar que, quanto maior a proximidade entre os artigos no plano,
mais os assuntos apresentam anidades de conteúdo. Dessa maneira, é possível visualizar, no plano
cartesiano, o cruzamento dos vocábulos mais frequentes das classes (Larrea et al., 2021).
Assim, nota-se que a classe 1 (vermelha) não se mesclou com os demais vocábulos que formam
as outras classes, o que corrobora aquilo que foi apresentado no CHD. Esta classe, como mencionado
anteriormente, trata principalmente de estudos que envolvem a perspectiva do consumidor de produtos
orgânicos.
As classes 2 (verde) e 3 (azul) aparecem no plano mais interligadas, o que indica que são
congruentes nas argumentações trazidas no debate temático. A classe 2, dada a sua formação, relaciona
aspectos sobre perl do consumidor, preços e gastos com produtos orgânicos, enquanto a classe 3
utiliza-se de referências à tomada de decisão de compra de produtos orgânicos.
A última classe – classe 4 (roxo) – mostra-se independente das demais, isto acontece porque ela
representa um grupo de artigos que tratam de assuntos diversos referentes aos produtos orgânicos, a
saber: comércio, produção e certicação da produção orgânica (Figura 4).
Figura 4. Análise fatorial de correspondência (AFC).
Análise de conteúdo da produção cientíca brasileira
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As classes 1 e 4 aparecem no plano cartesiano formando “ilhas” afastadas do conjunto de
informações das classes 2 e 3. Isto signica que essas “ilhas” indicam lacunas de estudos que poderiam
relacionar-se mais com temáticas de produção, comercialização e certicação de produtos orgânicos
e de tomada de decisão de compra. Outra observação importante é a de que as classes 1 e 2 focam-se
na perspectiva do consumidor e que, apesar de não haver maior nível de interação entre essas classes,
elas se encontram próximas (Figura 4).
A construção da AFC leva em consideração as palavras que obtiveram valores de frequência
qui-quadrado 2) ≥ 20 e p ≤ 0,0001 – igual ou superior à frequência média registrada. O plano
cartesiano foi elaborado, portanto, com os vocábulos que obtiveram maior percentagem quanto à
frequência média entre si e diferente entre elas. Esta argumentação corrobora a de Braga & Lima
(2022) que comentam que, quanto maior o teste χ2, maior será a representatividade da palavra na
respectiva classe, o que indica que as palavras têm força de associação.
A classe 1 tem, entre suas palavras mais frequentes e signicativas dos segmentos de textos,
as seguintes palavras: “estudo”, com 63,11% de incidência da palavra dentro dos artigos da classe 1;
“pesquisa” (com 57,61% de incidência); “futuro” (80%); e “resultado” (61,19%), com p<0,0001. Ou
seja, estas quatro palavras apresentam peso signicativo no grupo dos artigos que compõem a classe.
A classe 2 reuniu como mais frequentes e signicativos os seguintes vocábulos: “atitude”,
com 76,47% de incidência da palavra dentro dos artigos da classe 2; “consumo” (58,46%); “preço”
(80,77%); e “alto” (100%).
A classe 3 responde por 30,5% do corpus e está associada diretamente à classe 2. As palavras mais
frequentes e signicativas desses segmentos de textos foram: “saúde”, com 75,68% de incidência da
palavra dentro dos artigos da classe 2; “saudável” (88,24%); “atender” (100%); e “pessoa” (78,95%).
A classe 4 representa 20,6% do corpus e não está associada a nenhuma das outras classes. Os
vocábulos mais frequentes e signicativos foram: “mercado” (60,32%); “processo” (70%); “ator”
(92,86%); e “prático” (68,97%).
Todas as palavras das classes citadas registraram p < 0,0001, com o χ2 maior que 20. Dessa
maneira, na próxima subseção será possível encontrar o contexto em que essas palavras foram
inseridas, por meio da análise qualitativa do conteúdo do corpus textual formado pelos 43 artigos
analisados.
Análise e discussão do conteúdo do corpus textual
Para reforçar o contexto em que os vocábulos foram evocados, escolheu-se a principal palavra da
classe 1 – “estudo” – e citam-se alguns trechos desta classe que são representativos para a compreensão
da ideia geral. Nota-se que a classe 1 é formada por um conjunto de artigos que trazem, além de seus
resultados relevantes, insights de ideias para estudos futuros que envolvam a temática de produtos
orgânicos, deixando-se evidente, inclusive, a necessidade de aprofundamento de estudos relacionados
à temática em questão (Tabela 2). Um desses insights é o colocado por Sampaio & Gosling (2014),
em que os autores reforçam a necessidade de encorajar o poder público das diversas localidades
a incentivarem a agricultura orgânica, haja vista que essa forma de produção tem características
especícas, tais como a redução dos níveis de poluição da água, do ar e do solo, pois não utilizam, por
exemplo, adubos e pesticidas tóxicos (Zucatto, 2009). Além dessas investigações, recomendam-se
estudos comparativos de regiões brasileiras (Pinheiro et al., 2020) e aprofundamento dos fatores que
inuenciam o consumo de alimentos orgânicos (Branco et al., 2019).
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Tabela 2. Análise de conteúdo para o vocábulo “estudo” da classe 1.
Artigos Contexto de “estudo”
Artigo 39 [...] recomenda-se, ainda, o desenvolvimento de estudos segregados por regiões para efeitos de
comparabilidades dos seus resultados e o uso de métodos qualitativos também possibilitam um maior
aprofundamento nas relações evidenciadas [...] (Pinheiro et al., 2018).
Artigo 31 [...] trazem como oportunidades de estudos futuros o conhecimento que os pesquisadores possuem
do consumidor de produtos orgânicos ou consumidor consciente ainda está longe se comparado ao
conhecimento de outros produtos [...] (Pinheiro et al., 2020).
Artigo 35 [...] para uma melhor evolução do tema, sugere-se a realização de estudos mais aprofundados, com o
uso de técnicas qualitativas apropriadas, como entrevistas e grupos focais, que possam esclarecer melhor
as relações entre gêneros, escolaridade, renda e idade e com valorização de produtos orgânicos em
restaurantes [...] (Meireles et al., 2016).
Artigo 40 [...] neste estudo cou evidente que a agricultura orgânica apresenta especicidades que precisam ser
encorajadas pelo poder público, principalmente em localidades onde ainda não há políticas de agricultura
urbana orgânica [...] (Sampaio & Gosling, 2014).
Artigo 18 Esta pesquisa possui diversas contribuições, a primeira contribuição refere-se ao aprofundamento do
estudo sobre os principais fatores que inuenciam o consumo de alimentos orgânicos. Esse assunto ainda
é incipiente no Brasil, principalmente se o foco for apenas sobre alimentos orgânicos que utilizam a
teoria do comportamento planejado (Branco et al., 2019).
No que diz respeito à classe 2, assim como realizado anteriormente, escolheu-se a principal
palavra – “atitude” – e citam-se alguns trechos representativos para a compreensão da ideia do
conteúdo. É possível perceber que o conjunto de artigos que formam a classe 2 mostra, principalmente,
os resultados de suas pesquisas, especialmente no que diz respeito às atitudes dos consumidores de
produtos orgânicos (Tabela 3). Essas atitudes dos consumidores, percebidas nos estudos elaborados
por esses autores da classe 2, deixam evidente que a produção orgânica vem, gradativamente, sendo
compreendida como atividade capaz de melhorar várias dimensões (agroecologia, ciclos biológicos,
atividades biológicas do solo, qualidade de vida e economia), pois envolve normas de produção que
impactam a sustentabilidade social, ambiental e econômica (Silva-Lacerda et al., 2016).
Tabela 3. Análise do conteúdo para o vocábulo “atitude” da classe 2.
Artigos Contexto de “atitude”
Artigo 43 [...] indivíduos de diferentes gerações podem ser afetados de forma distinta pelos fatores que aumentam
ou reduzem o hiato entre atitudes e comportamento ecologicamente conscientes. Os fatores que
explicam o hiato entre atitude e comportamento ecologicamente consciente podem diferir em função da
atividade de consumo [...] (Vaccari et al., 2016).
Artigo 29 [...] assim, o estímulo ao consumo depende, também, da consciência dos benefícios dos alimentos
orgânicos que tendem a reforçar a atitude em relação a esses alimentos. Por sua vez, a teoria indica que a
consciência possibilitada pelos processos de comunicação é um componente da formação de atitudes [...]
[...] o presente artigo traz implicações gerenciais ao revelar o papel fundamental da informação no estilo
de vida relacionado à alimentação orgânica e na formação de uma atitude frente ao consumo de orgânicos
no contexto brasileiro (Jungles et al., 2021).
Artigo 23 [...] vericou-se que a qualidade do produto, a consciência ecológica e o conhecimento sobre alimentos
orgânicos inuenciam positivamente a atitude dos consumidores em relação aos produtos orgânicos,
sendo a qualidade o principal preditor (Fernandes et al., 2021).
Em relação à classe 3, escolheu-se a principal palavra da classe – “saúde” – e seus respectivos
trechos representativos (Tabela 4). Em geral, constatou-se que “saúde” apareceu nas conclusões
dos autores, para colocá-la como protagonista na decisão dos consumidores, na hora de decidir pela
compra de produtos orgânicos, pois, normalmente, está relacionada aos termos “maior qualidade de
vida” e “vida mais saudável”, argumentação que é percebida em vários estudos ( Sampaio et al., 2013;
Santos et al., 2014; DeNegri & Heck, 2018; Iwaya & Steil, 2019).
Análise de conteúdo da produção cientíca brasileira
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Tabela 4. Análise do conteúdo para o vocábulo “saúde” da classe 3.
Artigos Contexto de “saúde”
Artigo 27 [...] isso signica que questões relacionadas à saúde individual e familiar podem ser consideradas como
bons parâmetros para predição de compra de alimentos orgânicos [...] são percebidos como uma opção
mais saudável em comparação com alimentos convencionais... (Iwaya & Steil, 2019).
Artigo 17 [...] o que contribui nesta consideração é que o consumidor que frequenta este tipo de varejo na cidade de
São Paulo é motivado pela qualidade do produto e pelo benefício que pode agregar a saúde [...] (Braga
Junior et al., 2014).
Artigo 22 [...] não há dúvidas de que o uso de orgânicos em cardápios esteja indicando que consumidores
valorizam esses alimentos pelo aspecto de saúde [...] (DeNegri & Heck, 2018).
Artigo 30 [...] não apenas a saúde melhora, mas a economia local também, trazendo melhores condições de vida no
campo e estimulando a formação de cooperativas [...] (Silva-Lacerda et al., 2016).
Artigo 41 [...] o benefício à saúde, a qualidade de vida e a consciência de ser um indivíduo que respeita mais as
pessoas e ao meio ambiente natural [...] (Sampaio et al., 2013)
Artigo 6 [...] para que exista uma maior e melhor inserção de alimentos orgânicos na alimentação escolar,
necessita da participação de diversos setores da saúde, educação e meio ambiente [...] (Santos et al.,
2014).
É importante ressaltar que, não apenas nesta classe 3 a saúde ganha destaque, mas em outros
estudos ela também emerge dentro deste mesmo contexto, ou seja, produtos orgânicos favorecem
a maior qualidade de vida de seus usuários (Albuquerque Júnior et al., 2013) e são indicados para
recuperação e promoção da saúde (DeNegri & Heck, 2018). O fato é que a partir da segunda metade
da década de 2010, as pessoas passaram a repensar seus hábitos de consumo, preocupando-se, cada
vez mais, com os impactos ambientais causados pela agricultura convencional (uso de agrotóxico) e
os benefícios que os alimentos orgânicos geram à saúde (Sampaio et al., 2013; Oliveira et al., 2016).
Da classe 4, escolheu-se –”mercado” –, como principal palavra, e citam-se os trechos
representativos, de modo a compreender o contexto inserido (Tabela 5). Nota-se que, de maneira
geral, este grupo de artigos traz o mercado dentro de um ambiente que ainda precisa crescer, pois é
considerado, de certo modo, embrionário no Brasil. Organis (2019) reforça esta argumentação, ao
pontuar que, de cada dez brasileiros, apenas dois consideram-se consumidores de alimentos orgânicos.
Segundo Lima et al. (2020), este fato ainda posiciona o Brasil entre os maiores consumidores e
vendedores desse setor, na América Latina, mas, em termos de números de produtores, o Brasil ca
atrás do Peru e Paraguai, que se posicionavam entre os dez países com maior número de produtores
orgânicos do mundo, em 2017. Isto mostra, portanto, desaos a serem contornados no cenário
nacional, pois, mesmo registrando crescimento de 30% na produção, em 2010, o que está acima do
crescimento mundial, o crescimento médio anual no quantitativo de produtores orgânicos, no Brasil,
foi de quase 17% entre 2010 e 2018 (Lima et al., 2020).
Por este motivo, diante desta conjuntura nacional, estudar o consumidor de produtos orgânicos
auxilia a identicar obstáculos e oportunidades, para alavancar a expansão do mercado desse setor no
Brasil (Muñoz et al., 2016). A classe 4 deixa evidente, também, a importância da busca dos produtores
por um novo modelo produtivo e a diferenciação do produto, pois estes dois fatores podem elevar o
rendimento e, consequentemente, atrair novos produtores (Luizzi et al., 2016).
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Tabela 5. Análise do conteúdo para o vocábulo “mercado” da classe 4
Artigos Contexto de “mercado”
Artigo 36 [...] o conceito de práticas de mercado sustenta ser promissor ao nível micro de análise [...]
[...] as práticas representacionais que mantêm relação com a lógica agroecológica tendam a representar o mercado
de produtos orgânicos de modo a inuenciar as práticas normativas e, portanto, formulação de políticas públicas [...]
(Merabet, 2020).
Artigo 10 [...] tais experiências protagonizadas pelos movimentos sociais contribuíram para a superação, ainda que parcial e
regionalmente, de alguns impasses enfrentados pelo mercado formal de sementes orgânicas [...] (Parra Filho et al.,
2018).
Artigo 11 [...] além disso, são conscientes da importância da identicação do fornecedor no mercado, percebendo este aspecto
como a forma de ganhar conança e credibilidade no mercado de orgânicos [...] (Muñoz et al., 2016).
Artigo 14 [...] a abordagem com foco no consumidor auxilia a aproximação dos motivos reais de consumo destes alimentos, de
forma a alavancar a expansão do mercado deste setor no Brasil [...] (Anacleto et al., 2014).
Artigo 32 [...] a busca dos produtores por um novo modelo produtivo e diferenciado no produto para melhores rendimentos
tem aumentado a adesão de novos agricultores no sistema orgânico. As indústrias buscam novos mercados através do
processamento de orgânicos, motivando o consumo interno no Brasil [...] (Luizzi et al., 2016).
Um dos componentes importantes da análise de conteúdo pelo Iramuteq é o dá a possibilidade de
observar a similitude, que expressa gracamente o comportamento dos dados entre os seus contextos
e mostra como cada palavra está relacionada com sua classe. O lograma representa a conectividade
das palavras por seus ramos (Figura 5), que mostram a palavra central “consumo”, encontrada na classe
2, interligada fortemente ao contexto geral da temática com as palavras “orgânico”, “comportamento,
“produto”, “pesquisa”, “estudo” e “alimento”. Este tipo de análise, com base na teoria dos grafos,
possibilita, ainda, indicar as co-ocorrências entre as palavras, ou seja, suas conexões e como elas
orientam a compreensão do contexto temático. Cada uma dessas palavras, por sua vez, interliga-se
com outras de maneira secundária (mais fracamente), mas que não devem ser desconsideradas nas
análises. Por exemplo, a palavra “estudo” aparece dentro de um ambiente, em que surgem várias
sugestões para estudos futuros, a partir dos resultados encontrados nos trabalhos (Meireles et al.,
2016; Pinheiro et al., 2020).
Figura 5. Análise de similitude do corpus textual.
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O vocábulo “produto” liga-se a “produtor”, “qualidade”, “desenvolvimento” e “valor”. Ou
seja, os produtores estão, cada vez mais, procurando melhorar a qualidade de seus produtos, via
desenvolvimento de práticas de produção, valorizando-os ecientemente e ampliando seus mercados
(Luizzi et al., 2016; Merabet, 2020). O vocábulo “orgânico”, por sua vez, liga-se de forma secundária
com intenção de compra e contrasta com a ideia de alimento que faz uso de agrotóxico, de cujo
mercado o Brasil é um dos maiores consumidores (Machado et al., 2018). Nesse aspecto, desde
1970, o Brasil discute sobre o uso de agrotóxico e sobre as externalidades negativas de seu uso
indiscriminado. Por esse motivo, a produção orgânica e a agroecologia ganharam destaque como
alternativas (Ehlers, 1999; Santos, 2002).
No entanto, nos debates sobre a questão de alimentação orgânica, nota-se que ainda há muito a
percorrer, pois, os estudos sobre políticas públicas de incentivo à agricultura orgânica são incipientes,
dentro da própria área da economia, no Brasil. Principalmente sabendo-se, como colocado por Ehlers
(1999), que a agricultura orgânica é uma agricultura alternativa à tradicional, e que seus efeitos
– redução de poluição (terra, água e ar) e aumento da produtividade/rentabilidade (Santos, 2002;
Zucatto, 2009) – devem ser destacados e estimulados entre os produtores.
Salientamos que, embora tenhamos metodologicamente adotado critérios de seleção de
estudos com base nas palavras-chave, não foi possível vericar a discussão relacionada ao contexto
de orgânicos com desenvolvimento sustentável ou desenvolvimento rural. Para se ter uma ideia,
a palavra “desenvolvimento” apareceu apenas quatro vezes em todo o corpus textual, enquanto o
vocábulo “rural” apareceu uma única vez. Outro aspecto que não foi abordado signicativamente no
conjunto de artigos foi a ausência de ligação entre “orgânico”, “familiar” e “agroecologia”.
Esta constatação é preocupante, de certa maneira, pois a relação entre agricultura familiar
e orgânicos mostra-se em fase embrionária neste contexto de estudos cientícos brasileiros, o
que exige novos aprofundamentos para contribuição à literatura nacional sobre o tema. A relação
orgânico-desenvolvimento rural, que era esperada nas conclusões dos trabalhos, não foi encontrada,
mesmo sabendo-se que a agricultura orgânica é uma alternativa para novas saídas para a crise social,
econômica e ambiental de áreas rurais do país.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo deste estudo foi alcançado a partir da realização de uma revisão teórica sistemática
sobre o tema produtos orgânicos no cenário brasileiro, para o período de 2010–2021, na perspectiva
da análise lexical. Assim, o uso do software Iramuteq para analisar o conteúdo dos 43 trabalhos
selecionados foi primordial para atingir o objetivo proposto.
O corpus foi dividido em quatro classes pelo software e subdividido em dois subcorpora (R1 e
R2). No subcorpus R1, tem-se a classe 1, representando 27,6% das palavras da classe, sobre o total das
palavras presentes no corpus geral da análise, e se debruçou sobre o perl do consumidor de produtos
orgânicos; a classe 2 (21,2%) tratou de assuntos relacionados ao perl do consumidor, preços e gastos
com produtos orgânicos; e a classe 3 (30,5%) agrupou artigos que versam sobre a tomada de decisão
por compra de produtos orgânicos. No subcorpus R2, foi possível identicar apenas a classe 4, com
20,6%, que trabalha na vertente comércio, produção e certicação da produção orgânica.
Em geral, os resultados alcançados sugerem que ainda há uma lacuna de estudos que relacionem
essa temática com outros assuntos, como por exemplo, agricultura familiar, pequenos produtores,
desenvolvimento rural e feiras verdes/agroecológicas. Os estudos ainda estão concentrados no
campo acadêmico da administração (estudos de marketing e intenção de compra dos consumidores),
saúde (qualidade de vida) e meio ambiente. Isto mostra o caminho a ser explorado nos estudos
desenvolvidos na literatura sobre o tema. Entre os artigos que foram selecionados, não foi possível
encontrar elementos fortes e indicativos de debates e discussões, sobre desaos a serem contornados
pelos produtores orgânicos no Brasil.
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DOI: 10.35977/0104-1096.cct2023.v40.27271
Contudo, é possível apontar as limitações e críticas ao presente estudo. O primeiro diz respeito
à utilização de apenas duas plataformas digitais de busca de trabalhos cientícos nacionais, sobre a
temática produtos orgânicos no Brasil – Spell e Periódicos Capes –, o que restringiu a possibilidade
de ampliação da base de coleta de outros trabalhos cientícos. O período denido (2010-2021) surge
como outro limitador, pois como esta pesquisa iniciou-se em 2022, optou-se, metodologicamente,
por excluir as publicações desse ano. Por último, a opção de utilizar trabalhos cientícos publicados
deixou, à margem da pesquisa, estudos técnicos desenvolvidos por órgãos e institutos nacionais que
podem ter tratado sobre essa temática.
Diante deste cenário de desaos e potencialidades, abrem-se novas possibilidades para estudos
futuros que já despontam na literatura como, por exemplo: i) estudos segregados e comparativos
por regiões brasileiras, de modo a auxiliar o aprofundamento do conhecimento sobre a demanda por
esses alimentos orgânicos; ii) ampliação de estudos qualitativos com base em entrevistas e grupos
focais, em que se favoreça a identicação do perl socioeconômico dos consumidores desse nicho
de mercado; e iii) estudos de políticas públicas locais, adotadas por diversos entes da federação, que
sirvam de modelos para divulgação e implantação em outras localidades.
AGRADECIMENTOS
Agradecimento especial à Universidade Federal do Ceará (UFC), pelo apoio institucional para
que a pesquisa de campo fosse concretizada; e à Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), pela
liberação de uma parcela da carga horária da autora principal, para que pudesse realizar a pesquisa de
campo em Fortaleza.
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No Estado do Rio de Janeiro, a maior concentração de produtores orgânicos encontra-se no município de Petrópolis. Neste estudo, objetivou-se, caracterizar o perfil do produtor orgânico e o manejo fitotécnico da produção orgânica de olerícolas no distrito de Posse, Petrópolis-RJ, entre o segundo semestre de 2022 e o primeiro semestre de 2023. Os dados foram obtidos através da aplicação de questionários previamente estruturados a 19 olericultores orgânicos regionais. Os resultados mostraram perfil de produtores com média de 48 anos de idade e baixa escolaridade. Tais produtores são motivados pela preocupação com a saúde e a receita obtida, predominantemente. A agricultura orgânica é a principal fonte de renda para os produtores e a única para 71% deles. As lavouras apresentam, em média, 2,5 hectare, alta diversidade na produção de olerícolas, baixo índice de pragas e doenças, predominância da mão de obra familiar e presença de assistência técnica periódica. O principal mecanismo de certificação é o Sistema Participativo de Garantia. A comercialização da produção ocorre, principalmente, em feiras orgânicas no município do Rio de Janeiro. Os principais desafios impostos aos olericultores orgânicos são o alto custo para a realização das feiras e a falta de pontos de venda. Conclui-se que a olericultura orgânica encontra-se estruturada na região com possibilidade de crescimento. Políticas públicas que auxiliem no aprimoramento do planejamento e nas ações para o desenvolvimento desse setor são fundamentais para a continuidade da produção de olerícolas orgânicas na região.
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Este estudo focou o comportamento de compra/consumo do consumidor de alimentos orgânicos, buscando responder a seguinte questão: quais são os fatores que influenciam a intenção de compra/consumo de alimentos orgânicos e quais as relações desses fatores entre si? A teoria pesquisada baseou-se no estudo do comportamento do consumidor, com ênfase em alimentos orgânicos. Nessa pesquisa, classificada como descritiva, com uma fase exploratória, foram desenvolvidos dois grupos focais e um survey com 560 consumidores de alimentos orgânicos da cidade de Belo Horizonte (MG). Após a construção da escala, um modelo de comportamento de compra/consumo de alimentos orgânicos foi elaborado, tendo este como método multivariado, a modelagem de equações estruturais com base na técnica de Partial Least Squares (PLS). Dos três construtos exógenos do modelo proposto, apenas dois apresentaram impacto significativo, que foram os construtos crença e atributo. O construto grupos de referência não exerceu influência direta na intenção de compra/consumo, apesar de ser considerado pelos consumidores. O objetivo geral (propor e testar um modelo que avalie o impacto das variáveis que afetam a intenção de compra/consumo de alimentos orgânicos a partir da perspectiva do consumidor desse tipo de alimento) foi executado conforme o Inner Path Model (modelo estrutural). O construto endógeno Intenção de Compra/Consumo apresentou um coeficiente de correlação de 41% (R² = 41%), indicando que 41% de suas variações são explicadas pelos construtos exógenos o que é justificado tendo em vista esta ser uma pesquisa inédita sobre o tema em questão de caráter descritivo com fase exploratória.
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O artigo descreve o processo de busca de evidências de validade de conteúdo e de estrutura interna do modelo da Teoria do Comportamento Planejado (TCP) (Ajzen, 1991) aplicado à predição da intenção de compra de alimentos orgânicos no contexto brasileiro. O artigo apresenta o efeito que as atitudes, as normas subjetivas e o controle comportamental percebido exercem sobre a intenção de compra de alimentos orgânicos. A pesquisa seguiu o delineamento de levantamento online com amostragem por conveniência. A amostra contou com 705 consumidores brasileiros, maiores de idade e responsáveis ou parcialmente responsáveis pela compra de alimentos em suas residências. Na análise de dados foram utilizadas as técnicas de análise fatorial exploratória, confi rmatória e de regressão linear múltipla hierárquica. O modelo da TCP explicou 58% da variação da intenção de compra de alimentos orgânicos. As atitudes (β=0,42), as normas subjetivas (β=0,30) e o controle comportamental percebido (β=0,35) são preditores da intenção de compra de alimentos orgânicos. Os resultados são relevantes para as organizações públicas e privadas envolvidas na cadeia de produção, de alimentos orgânicos que buscam subsídios teóricos e evidências científi cas para justifi car o desenvolvimento de mensagens voltadas à promoção da compra de alimentos orgânicos. As evidências encontradas corroboram a efi cácia da TCP como modelo preditivo e apresentam resultados signifi cativos que contribuem para o entendimento da formação da intenção de compra de alimentos orgânicos no contexto brasileiro. Palavras-chave: Intenção. Alimentos Orgânicos. Psicologia do Consumidor. Comportamento do Consumidor. Abstract The article describes the search process for evidence of content validity and internal structure of the Theory of Planned Behavior model (TPB) (Ajzen, 1991) applied to the prediction of the intention to purchase organic food in the Brazilian context. The article presents the eff ect that attitudes, subjective norms and perceived behavioral control have on the intention to purchase organic foods. The research followed the design of an online survey with convenience sampling. The sample included 705 Brazilian consumers, of legal age and who are responsible or partially responsible for the purchase of food at their homes. In the data analysis, the techniques of exploratory and confi rmatory factor analysis and hierarchical multiple linear regression were used. The TBP model explained 58% of the variation in the intention to purchase organic food. Attitudes (β = 0.42), subjective norms (β = 0.30) and perceived behavioral control (β = 0.35) are predictors of the intention to purchase organic foods. The results are relevant for public and private organizations involved in the organic food production chain that seek theoretical subsidies and scientifi c evidence to justify the development of messages aimed at promoting the purchase of organic foods. The evidence found corroborates the eff ectiveness of TPB as a predictive model and presents signifi cant results that contribute to the understanding of the formation of the intention to purchase organic food in the Brazilian context.
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Resumo Frente ao debate relativamente antigo sobre o uso de agrotóxicos e práticas agrícolas mais sustentáveis, este artigo se propõe a fazer um panorama da agricultura orgânica e do uso de agrotóxicos no Brasil, a partir dos Censos Agropecuários de 2006 e 2017. A pesquisa se caracterizou como comparativa descritiva e focou a análise nos estabelecimentos agropecuários. Os principais resultados indicaram que, em 2006, cerca de 27% dos estabelecimentos agropecuários usavam agrotóxicos; já em 2017, esse percentual subiu para 33%. As regiões líderes em estabelecimentos com uso de agrotóxicos em 2006 e 2017 eram Sul e Nordeste. Os estados Rio Grande do Sul e Paraná eram os estados onde se encontravam o maior número de estabelecimentos produzindo com agrotóxicos do total brasileiro, nos dois Censos analisados. Com relação à agricultura orgânica, percebeu-se que houve uma redução relativa do número de estabelecimentos com agricultura orgânica no Brasil nesse período, embora seja preciso fazer ressalvas quanto à possibilidade de superestimação das informações. Em 2006, estavam, na região Nordeste, 46,7% desses estabelecimentos, 21% na região Sul e 20% na região Sudeste. Já em 2017, 28% estavam na região Sudeste, 27% na região Nordeste e 20% na região Sul.
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RESUMO O artigo tem por objetivo explorar como o agenciamento das práticas representacionais presentes nas reportagens da revista A Lavoura produziu versões do mercado de produtos orgânicos no período 1990-2007. A publicação é editada pela Sociedade Nacional de Agricultura desde 1897 e que, em virtude de uma ampla distribuição, alcança sindicatos, universidades, centros de pesquisa, bibliotecas, empresas do agronegócio entre outros. Em termos teóricos, a pesquisa foi informada por conceitos vinculados aos Estudos Construtivistas de Mercado, desenvolvidos em marketing, e pela perspectiva histórica reorientacionista, desenvolvida no âmbito dos estudos organizacionais, para acessar versões do mercado localizadas no passado. O percurso metodológico foi constituído por um estudo de caso histórico de orientação indutiva e de corte longitudinal. Em decorrência do processo de análise, três versões hegemônicas para o mercado de produtos orgânicos foram produzidas ao longo do período considerado. Os resultados apontam para a existência de dinâmicas de inclusão e de marginalização de atores humanos e não-humanos presentes no processo de agenciamento das práticas representacionais e, por conseguinte, nas versões de mercado. Recomenda-se que essas dinâmicas sejam reconhecidas por pesquisas futuras interessadas em investigar questões ideológicas, sociais e de políticas públicas que cercam os processos de formação de mercado.
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O crescimento da agricultura orgânica, seguido pelo aumento de consumidores interessados em tais produtos e do número de estabelecimentos que os comercializam atualmente, instigaram este estudo a analisar diferentes determinantes do comportamento do consumidor de alimentos orgânicos, pela proposição de um modelo estrutural que explique e preveja fatores que influenciam, direta e indiretamente, o consumo efetivo destes produtos. Para isso, realizou-se uma pesquisa survey em diferentes grupos e comunidades de produtos orgânicos presentes na rede social Facebook. Os dados foram analisados por meio da técnica de modelagem de equações estruturais, baseada nos mínimos quadrados parciais (PLS). Os resultados apontaram que a qualidade do produto, consciência ecológica do consumidor e conhecimento sobre produtos orgânicos, a disponibilidade do produto e o tempo que os consumidores consomem orgânicos influenciam positivamente o consumo desses alimentos, tanto em termos de variedade de produtos como de valores gastos. Identificou-se, ainda, um efeito moderador do preço na relação entre a atitude dos consumidores frente aos alimentos orgânicos e o seu comportamento de compra, sugerindo que quanto melhor for o preço desses produtos para o consumidor, cuja atitude em relação a eles seja favorável, maior será o seu consumo.
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Contemporary movements against industrial production forms, supply, and agrifood consumption defend alternative processes that reconnect producers and consumers, rescuing cultural and social values, relocating agriculture in the territories and valuing the environmental dimension. In this context, it is important to highlight the demand increases for organic food and changes in production and consumption patterns, based on quality and trust values. Related to this perspective, this study aims to analyze the Family Farming Commercialization Laboratory (FFCL-UFSC) experience, focusing on the extension project Responsible Consumption Cells (RCC), in an effort to comprehend its contribution to the market social construction of organics/agro-ecological in Florianópolis – SC, Brazil. Theoretically, the study defines Alternative Food Networks (AFN) and bonds its notion with Civic Food Networks (CFN). Methodologically, participant observation is developed, as well as the primary data analysis and other documents. It was possible to conclude that the CCR is an effective model of social technology that helps articulate new production and consumption arrangements, integrating itself in the CFN logic, representing a resistance form in agrifood markets able to contribute to the food supply chains redesign in big cities.
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Ao longo do século XX pode-se observar mudanças significativas no comportamento dos indivíduos a respeito do consumo de alimentos, e tais alterações apresentam-se em ciclos que demonstraram uma associação entre a alimentação e a qualidade de vida, numa relação direta, abrindo caminho para os alimentos orgânicos. Desse modo a lacuna explorada foi se a perspectiva de bem-estar subjetivo do indivíduo influencia a sua intenção em comprar alimentos orgânicos. Para tanto utilizou-se a Teoria do Comportamento Planejado e a perspectiva do Bem-Estar Subjetivo. O método foi quantitativo, por meio da análise fatorial confirmatória. Os resultados indicaram que o construto Bem-Estar Subjetivo aumentou a explicação da variância da Intenção de Compra, demonstrando sua capacidade preditiva frente a intenção do consumidor.
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O artigo analisa a implementação do Plano de Introdução Progressiva de Alimentos Orgânicos ou de Base Agroecológica na Alimentação Escolar no município de São Paulo, Brasil, plano este que coloca em prática a aquisição de produtos advindos da agricultura familiar, seguindo a Resolução nº 04/2015 do Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação (FNDE). O objetivo foi compreender o processo político a partir da rede de ação pública e os instrumentos que ela produz. Para tanto, foram mobilizadas as estratégias de pesquisa documental e entrevistas semiestruturadas. A pesquisa documental baseou-se em levantamento da legislação nacional e subnacional correspondente. Para as entrevistas, foram acionados representantes de quatro instituições governamentais e da sociedade civil. Os resultados mostram que os atores envolvidos na formulação da política apresentam convergência de ideias no desenho dos instrumentos de ação pública.
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Este artigo tem por objetivo principal verificar os efeitos das políticas públicas nacionais no processo de construção e afirmação social das comunidades Quilombolas remanescentes no Brasil por meio de trabalhos científicos nacionais a partir dos anos 2000. A pesquisa foi realizada fazendo-se uso de uma análise bibliográfica de estudos publicados a partir dos anos 2000 em plataformas digitais e analisados pelo software IRAMUTEQ. Através dessa análise verificou-se que a maior parte dos trabalhos publicados continha um ou mais tema que os aproximavam e, em sua maioria, foram publicados em revistas especializadas em Políticas Públicas. Ao final da análise, os resultados mostraram que apesar do grande número de políticas públicas desenvolvidas, nem todas são implementadas ou chegam às comunidades remanescentes de quilombos. Dessa maneira, as comunidades ficam dependentes dos interesses dos governos (Federal, Estadual ou Municipal). Além disso, os trabalhos analisados, apesar de proximidade com a temática, pouco se conectam, o que os tornam distantes em suas abordagens.
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RESUMOHistoricamente mercado é retratado em marketing como uma entidade neutra, concreta e objetiva. Contudo, essa concepção foi questionada com a consolidação dos estudos construtivistas de mercado que apontam para a observação das práticas e a forma como constituem agenciamentos sociotécnicos. Ainda assim, este último conceito é tido como nebuloso em termos operacionais de pesquisa, sobretudo com relação à dimensão política dos mercados. A fim de superar o desafio identificado, este ensaio possui o intento de estabelecer um diálogo com a perspectiva das lógicas institucionais segundo a qual os interesses dos atores são socialmente construídos em um campo organizacional entendido como uma arena de disputa política. Decorre desse diálogo uma proposta analítica para realização de investigação científica no âmbito do mercado brasileiro de produtos orgânicos. A escolha desse campo pode ser justificada por dois motivos: a) a pluralidade de atores e de interesses presente no desenvolvimento do marco regulatório confere aderência à agenda de pesquisa dos estudos construtivistas de mercado que contesta a representação típica do fenômeno em marketing baseada na economia neoclássica; e b) em sua estrutura de governança, está prevista a atuação das Comissões da Produção Orgânica, organização composta por diferentes atores governamentais e da sociedade civil que acena para a existência de diferentes lógicas institucionais materializadas em diferentes práticas de mercado. Neste contexto, pelo menos duas lógicas institucionais podem estar relacionadas com as práticas de mercado revelando a importância da dimensão política para pesquisas futuras no âmbito dos estudos construtivistas de mercado.Palavras-chave: Estudos Construtivistas de Mercado. Lógicas Institucionais. Sociologia Econômica. Mercado de Alimentos Orgânicos. ABSTRACTThe market has historically been portrayed in marketing as a neutral, concrete and objective entity. However, this conception has been questioned with the consolidation of constructivist market studies that indicate the observation of practices and how they constitute socio-technical agencements. Nonetheless, the latter concept is considered unclear in operational research terms, particularly in relation to the political dimension of markets. With the aim of tackling the challenge identified, this study endeavours to establish a dialogue with the institutional logics perspective, according to which the actors` interests are socially constructed in an organizational field, understood as an arena of political dispute. An analytical proposal stems from this dialogue for the conduct of a scientific investigation within the Brazilian organic product market. The selection of this field can be justified for two reasons: a) the plurality of actors and interests present in the development of a regulatory framework confers adherence to the constructivist market studies research agenda, which contests the typical representation of the phenomenon in marketing, based on neoclassical economics, and b) the Organic Production Committees` activities are included in its governance structure; the organization is made up of various government actors and civil society, which indicates the existence of different institutional logics, which are materialized in distinct market practices. In this context, at least two institutional logics may be related to market practices, revealing the importance of the political dimension for future research within the domain of constructivist market studies. Keywords: Constructivist Market Studies. Institutional Logics. Economic Sociology. Brazilian Organic Food Market.