Apesar da recorrência de discursos nacionalistas e da vasta literatura acerca do papel das identidades na política externa, o conflito entre Rússia e Ucrânia foi acompanhado pela aparente revitalização do instrumental teórico realista. Nessa perspectiva, ao ignorar o equilíbrio de poder e dilemas de segurança, liberais e construtivistas teriam não só perdido capacidade explicativa, mas seriam
... [Show full abstract] ainda responsáveis por produzir diretrizes políticas que estariam entre as causas imediatas dos conflitos. Neste artigo, argumentamos que identidades ainda guardam implicações relevantes tanto nas estratégias da Rússia para o “exterior próximo” quanto da Ucrânia em sua “política externa multivetorial”. Através da análise das controvérsias historiográficas acerca dos povos da região e do exame da instrumentalização da memória coletiva em discursos das elites políticas, argumentamos que a dinâmica recente de conflitos na região não está descolada das narrativas de assimilação e alteridade entre russos e ucranianos. Considerando que narrativas históricas são fiadoras de práticas de segurança e parte constituinte das reivindicações políticas do presente, argumentamos que a literatura sobre disputas geopolíticas no antigo espaço soviético não pode prescindir de sua análise.