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PSICOLOGIA COGNITIVA E NEUROCIÊNCIAS
PSICOLOGIA COGNITIVA E NEUROCIÊNCIAS
MODELOS TEÓRICOS E APLICAÇÕES
J. Landeira-Fernandez
Joaquim Carlos Rossini
Breno Sanvicente-Vieira
(org.)
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
I
PESQUISA BÁSICA COM MODELOS ANIMAIS
1
A VALIDADE DOS MODELOS ANIMAIS PARA O ESTUDO DOS TRANSTORNOS MENTAIS
. . . . .15
Yury Lages
Daniel Mograbi
J. Landeira-Fernandez
2
TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE (TDAH) EM ESTUDOS COM
ANIMAIS
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33
Victor C. Romano
Yury Lages
J. Landeira-Fernandez
Thomas E. Krahe
3
ANSIEDADE E SOCIABILIDADE EM MODELOS ANIMAIS
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .51
Bruna de Moura Côrtes Coutinho
J. Landeira-Fernandez
Thomas E. Krahe
4
MODELOS ANIMAIS DO TRANSTORNO DO ESPECTRO ALCOÓLICO FETAL
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .69
Martina Viraág Kovaác
J. Landeira-Fernandez
Thomas E. Krahe
II
AVALIAÇÃO COGNITIVA E COMPORTAMENTAL NA PESQUISA COM HUMANOS
5
A IMPORTÂNCIA DE INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA PARA DETECTAR PRO-
BLEMAS AO LONGO DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .89
Flavia Monteiro
Luis Anunciação
J. Landeira-Fernandez
6
A IMPORTÂNCIA DO DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS SOCIOEMOCIONAIS: EVI-
DÊNCIAS DE UMA NOVA MEDIDA
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
Louise Marques
Ana Clara Capistrano
Lucas Andrade,
Adriana Lima
Bruno Oliveira
Anna Carolina Portugal,
J. Landeira-Fernandez
Luis Anunciação
7
COMO MEMORIZAMOS A ORDEM SERIAL DE INFORMAÇÕES VISUAIS E ESPACIAIS?
. . . . . . . .111
Jeanny Joana Rodrigues Alves de Santana
8
ASSIMETRIA CEREBRAL FUNCIONAL VISUOESPACIAL
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .131
Bruno Marinho de Sousa
Leonardo Gomes Bernardino
Rui de Moraes Jr.
9
RESSONÂNCIA MAGNÉTICA FUNCIONAL EM ESTADO DE REPOUSO COMO UMA FERRA-
MENTA PARA A CIÊNCIA PSICOLÓGICA
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .147
Felipe de Dios Almeida
Breno Sanvicente-Vieira
III
A COGNIÇÃO HUMANA EM DIFERENTES CONTEXTOS
10
USO DE MÍDIAS DE TELA E DESENVOLVIMENTO INFANTIL
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .167
Raphael Moura Cardoso
Murilo Henrique Mendes França
Lauro Eugênio,
Guimarães Nalini
Leandro Leonardo Batista
Briseida Dogo de Resende
11
MEMÓRIA E VIDEOGAMES
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .185
Edimilson dos Santos Gonçalves
Goiara Mendonça de Castilho
12
ESTUDO DA PUBLICIDADE BRASILEIRA DE PRODUTOS DIRIGIDA ÀS CRIANÇAS E A RELA-
ÇÃO COM AS DISTORÇÕES COGNITIVAS
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .209
Sandra Maria Prado Silveira
Ederaldo José Lopes
Renata Ferrarez Fernandes Lopes
13
AS FUNÇÕES EXECUTIVAS APLICADAS AO MANUSEIO DE ARMA DE FOGO
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .225
Luis Anunciação
Louise Marques
Carina Dana Christof,
Anna Carolina Portugal
J. Landeira-Fernandez
IV
MODELOS TEÓRICOS EM PSICOLOGIA COGNITIVA
14
NEUROCIÊNCIA RACIAL
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .239
Rui de Moraes Jr.
Leonardo Gomes Bernardino e
Ana Beatriz da Silva Mendes Araujo
15
ESTRESSE E FALHAS HUMANAS NO CONTEXTO DO TRABALHO: ALGUMAS CONSIDERA-
ÇÕES
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .255
Ederaldo José Lopes
Adriano Alves Pereira
Adriano de Oliveira Andrade,
Selma Terezinha Milagre
Jenaína Aparecida de Souza Magela
16
PROCESSOS MNÊMICOS E O EFEITO DO TEMPO E DOS AFETOS INTERNOS E EXTERNOS
..269
Louise Marques
Lucas Andrade
Anna Carolina Portugal,
J. Landeira-Fernandez
Luis Anunciação
17
MEMÓRIA OPERACIONAL NO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .283
Tatiane Santana Prado Ferraresi
Joaquim Carlos Rossini
18
JULGAMENTO MORAL EM ADULTOS COM TRANSTORNOS DO ESPECTRO AUTISTA (TEA)
. . 293
Matheus Fernando Felix Ribeiro
Wânia Cristina de Souza
Stevam Lopes Alves Afonso
Goiara Mendonça de Castilho
V
ASPECTOS APLICADOS DA PSICOLOGIA COGNITIVA
19
INTERVENÇÕES COGNITIVAS NA PROMOÇÃO DO ENVELHECIMENTO ATIVO: ASPECTOS
COGNITIVOS E PSICOLÓGICOS
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .303
Angela Maria Sacramento
Isabelle Patriciá Freitas Soares Chariglione
20
DOR, ATENÇÃO E MINDFULNESS: ASPECTOS ATENTIVOS DA DOR E A PRÁTICA DE
MINDFULNESS (ATENÇÃO PLENA)
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .319
Mariana Pizzotti Silva
Joaquim Carlos Rossini
José Aparecido da Silva
21
INTERVENÇÕES COGNITIVAS EM IDOSOS: BENEFÍCIOS EM MEDIDAS VISUOESPACIAIS E DE
HUMOR
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .335
Fernanda de Sousa Rocha
Gislane Ferreira de Melo,
João Lucas Araujo Assunção
Isabelle Patriciá Freitas Soares Chariglione
22
DEPRESSÃO INFANTO-JUVENIL E TERAPIA DO ESQUEMA: CONCEITOS TEÓRICOS E PRÁ-
TICA CLÍNICA
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .347
Renata Ferrarez Fernandes Lopes
Laiz Bueno Rodrigues,
Ederaldo José Lopes
Isabella Ferrarez Fernandes Lopes
23
ADAPTAÇÃO DE UM PROTOCOLO DE TRATAMENTO DA OBESIDADE PARA UM MODELO DE
TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL EM GRUPO
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .363
Andréia de Lima Barbosa
Leonardo Gomes Bernardino,
Ederaldo José Lopes
Renata Ferrarez Fernandes Lopes
SOBRE OS AUTORES
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .377
131
8
ASSIMETRIA CEREBRAL FUNCIONAL VISUOESPACIAL
Bruno Marinho de Sousa
Leonardo Gomes Bernardino
Rui de Moraes Jr.
Introdução
Nosso cérebro pode ser dividido em uma parte mais lógica e racional e outra mais emocional
e holística? Pessoas mais emotivas e pessoas mais racionais usam predominantemente o lado direito
e o lado esquerdo do cérebro, respectivamente? Usamos mais um hemisfério cerebral em tarefas
cognitivas que envolvem, por exemplo, a percepção e a atenção?
Há muitos mitos e equívocos que envolvem a Assimetria Cerebral Funcional (ACF). O encéfalo
é dividido em Hemisfério Esquerdo (HE) e Hemisfério Direito (HD), e, a despeito de suas semelhanças
macroscópicas, estes não são completamente simétricos anatomicamente e tampouco possuem as
mesmas funções. Essas descobertas datam do século XIX, e desde então o termo “assimetria cere-
bral funcional”, bem como seus sinônimos, “especialização hemisférica”, “lateralidade hemisférica”
e “lateralização das funções hemisféricas”, passaram a se referir às diferenças na estratégia e eficiên-
cia do processamento da informação de cada hemisfério em determinadas tarefas. Já “informação
lateralizada” refere-se ao modo como um determinado estímulo foi apresentado, sendo processado
exclusiva ou prevalentemente por um dos hemisférios (GESCHWIND, 1979; HELLIGE, 1993;
SERGENT, 1995; SPRINGER; DEUTSCH, 1998).
O presente capítulo tem por objetivo apresentar um breve histórico dos estudos iniciais sobre
a ACF, bem como as evidências sobre a lateralização na percepção visual e no processamento de fre-
quências espaciais. Espera-se, assim, construir um panorama dos estudos da psicologia experimental
e das neurociências sobre ACF, percepção visual e frequências espaciais e também confrontar infor-
mações pseudocientíficas veiculadas e reproduzidas pela mídia não especializada acerca desse tema.
Primeiros relatos
As primeiras décadas do século XIX foram fundamentais para o avanço de nosso conhecimento
sobre a relação entre o funcionamento do cérebro, as funções cognitivas e o comportamento. Até o
fim do século XVIII, a visão prevalente era a de que o cérebro era simétrico e suas funções seriam
as mesmas, ou equivalentes, nos dois hemisférios. Essa era a visão da Lei da Dualidade Orgânica,
baseada na teoria anatômica de François-Xavier Bichat, e também da frenologia, proposta por Franz
Joseph Gall. Os estudos posteriores não encontraram evidências para os postulados da frenologia,
por exemplo, a afirmação de que as regiões cerebrais aumentam ou diminuem de tamanho em
função de seu uso causando protuberâncias ou depressões no crânio, respectivamente. No entanto,
a proposta de Gall forneceu uma questão de investigação clara e testável: há uma relação entre a
localização cortical e as funções cognitivas?
Sousa, B. M., Bernardino, L. G., & de Moraes, R., Jr. (2023). Assimetria cerebral
funcional visuoespacial. In Landeira-Fernandez, J., Rossini, J. C., & Sanvicente-
Vieira, B., Psicologia cognitiva e neurociências: Modelos teóricos e aplicações (pp.
131-145). Curitiba, PR: Editora Appris.
ISBN-10 : 6525048060
ISBN-13 : 978-6525048062
132
J. LANDEIRA-FERNANDEZ | JOAQUIM CARLOS ROSSINI | BRENO SANVICENTE-VIEIRA (ORG.)
A fama pela descoberta da ACF é de Pierre Paul Broca, sendo atribuído a ele o primeiro relato de
funções especializadas dos hemisférios cerebrais em 1861 (CORBALLIS, 2009; ELING; WHITAKER,
2009; HUGDAHL, 2000; LEGRENZI; UMILTÀ, 2011). No entanto, uma pesquisa histórica mais deta-
lhada mostra-nos que Broca não foi o primeiro a relatar a ACF (MANNING; THOMAS-ANTÉRION,
2011). Três décadas antes, o médico francês Marc Dax, que trabalhou nas campanhas napoleônicas,
coletou dados de 40 pacientes com afasia
2
. Dax concluiu que foram lesões no HE que tornaram os
soldados incapazes de se comunicar verbalmente e serem acometidos de hemiparesia
3
no lado direito
do corpo. Foi com base nestes dados que ele defendeu a lateralização esquerda da linguagem no tra-
balho “Lésions de la moitié gauche de l’encéphale coïncidant avec l’oublides signes de la pensée” (em
tradução livre, “Lesões na metade esquerda do encéfalo coincidindo com sinais de esquecimento no
pensamento”), que foi apresentado no Congrès Méridional em 1836. Apesar de ser o primeiro relato
sobre a lateralização da linguagem, seu trabalho passou despercebido, provavelmente por apresentar
evidências contrárias à explicação vigente de que não havia diferença no funcionamento dos dois
hemisférios cerebrais (MANNING; THOMAS-ANTÉRION, 2011; SPRINGER; DEUTSCH, 1998).
O trabalho que conferiu fama a Broca foi a análise
post-mortem
do paciente M. Leborgne
(1861) que evidenciou uma lesão no giro frontal inferior do HE. Leborgue ficou conhecido como
“Tan”, por ser esse o único som que ele conseguia emitir. Dois anos mais tarde, Broca apresentou
novo trabalho com oito casos semelhantes e em 1865 publicou um artigo indicando que ambos os
hemisférios colaboravam para a produção da linguagem, entretanto a principal região envolvida
nesta função estaria localizada no HE. Posteriormente, em sua homenagem, a região foi batizada
área de Broca, que corresponde ao pars opercularis e ao pars triangularis do giro frontal inferior (áreas
44 e 45 de Brodmann, respectivamente).
É importante destacar que Broca foi cauteloso e concluiu que a lateralização da linguagem por
ele observada não indicava uma disparidade funcional entre os dois hemisférios cerebrais (BERKER;
BERKER; SMITH, 1986; PINEL, 2011). Entretanto, na mesma época, surgiram pesquisadores que
defenderam que os hemisférios têm papéis diferentes no processamento das funções cognitivas. Por
exemplo, em 1865, John Hughlings Jackson sugeriu que o HE seria o “condutor” das funções mentais.
Além disso, ele apontou que o processamento da informação visual ocorreria prevalentemente no
HD, pois este estaria envolvido na percepção espacial (1865) e na ideação e pensamento visual (1876)
(BROWN; KOSSLYN, 1995; CORBALLIS, 2003; GESCHWIND, 1979; SPRINGER; DEUTSCH, 1998).
Em 1874, o neurologista alemão Karl Wernicke publicou um estudo com dez pacientes afásicos
(análise post-mortem em quatro destes) e descobriu que o giro temporal superior esquerdo estaria
envolvido na compreensão da linguagem (ELING; WHITAKER, 2009). Essa região atualmente é
conhecida como área de Wernicke (área 22 de Brodmann). Um aluno de Wernicke, Hugo Karl Lie-
pmann, estudou 48 pacientes com apraxia
4
após sofrerem um acidente vascular encefálico (1900) e
concluiu que o HE está envolvido na ideia ou no plano de ação de um movimento (PEARCE, 2009).
Seus resultados ainda apontaram consequências comportamentais marcantes para lesões no HE:
problemas de fala e motricidade. Por outro lado, lesões no HD não causavam prejuízos comporta-
mentais tão óbvios. Devido a isso, o HE foi considerado como dominante (em inglês, dominant ou
major) sobre o HD (em inglês, subordinate ou minor), ideia essa que perdurou até a década de 1970
(SPERRY, 1982; SPERRY; ZAIDEL; ZAIDEL, 1979).
2
Afasia é um distúrbio adquirido da linguagem.
3
Hemiparesia é a paralisia parcial de um lado do corpo.
4
Apraxia é um distúrbio neurológico adquirido caracterizado pela execução incorreta ou imprecisa de um ato motor aprendido.
133
PSICOLOGIA COGNITIVA E NEUROCIÊNCIAS: MODELOS TEÓRICOS E APLICAÇÕES
No decorrer do século XX, inúmeros estudos encontraram evidências convergentes e
robustas sobre a existência da ACF. Nesse processo, os estudos da série da Califórnia foram
fundamentais, pois aumentaram drasticamente nossa compreensão sobre o funcionamento de
ambos os hemisférios.
Epilepsia e a série da Califórnia
A epilepsia é uma doença neurológica crônica caracterizada pela atividade súbita, excessiva
e sincronizada de grupos de neurônios no córtex cerebral (SMITHSON; WALKER, 2012). Essa
atividade anormal e temporária é mais conhecida como crise epiléptica. Na primeira metade do
século XX, o tratamento farmacológico era incipiente e, para muitos pacientes, este não era eficaz.
Para esses casos, uma abordagem cirúrgica foi proposta e testada por William P. van Wagenen e por
Andrew J. Akelaitis na década de 1940. Com a hipótese de que a intensidade e a duração da crise
epiléptica estavam relacionadas à transmissão da atividade elétrica entre os hemisférios via corpo
caloso, foram realizadas cirurgias para a secção das fibras que cruzam o plano sagital do cérebro e
que formam essa comissura. Essa intervenção é chamada de calosotomia ou comissurotomia. Embora
não tenham se observado grandes prejuízos das funções cognitivas após a cirurgia, o procedimento
foi abandonado porque alguns pacientes ainda apresentavam um grande número de crises epiléticas
(MATHEWS; LINSKEY; BINDER, 2008). Provavelmente, estes resultados pouco satisfatórios são
explicados pela secção incompleta e não uniforme do corpo caloso dos pacientes.
Por essa razão, a comissurotomia permaneceu esquecida por alguns anos, sendo retomada
por Ronald Myers e Roger Sperry na década de 1950. Em um engenhoso estudo, eles seccionaram
o quiasma óptico no plano sagital mediano em um grupo de gatos, restringindo a projeção da
informação visual apenas para o hemisfério ipsolateral no cérebro. Em outro grupo de gatos, eles
seccionaram o quiasma óptico e o corpo caloso. Após o procedimento cirúrgico, os gatos dos dois
grupos foram treinados numa tarefa de discriminação simples (diferenciar quadrado e círculo) com
uma venda no olho esquerdo. Ao fim do treino, a venda foi transferida para o olho direito e os gatos
foram testados novamente na mesma tarefa. Os resultados indicaram que não houve diferença no
desempenho em função do olho nos gatos com secção apenas do quiasma óptico. Por outro lado,
observaram-se dificuldades na realização da tarefa com o olho esquerdo (inicialmente vendado)
nos gatos com secção do quiasma óptico e do corpo caloso. Ou seja, não houve transferência de
informações entre os hemisférios para o aprendizado da tarefa (MYERS; SPERRY, 1953). Estudos
posteriores corroboraram o papel fundamental do corpo caloso na transferência da informação
visual e tátil entre os hemisférios (MYERS, 1956; SPERRY; MYERS; SCHRIER, 1960; STAMM;
SPERRY, 1957).
Diante destas evidências, a comissurotomia em humanos voltou a despertar interesse na década
de 1960. Dois neurocirurgiões do Instituto de Tecnologia da Califórnia, Philip Vogel e Joseph Bogen,
testaram a comissurotomia completa num paciente. A cirurgia foi bem sucedida e logo realizaram
esse protocolo cirúrgico em mais pacientes, que ficaram conhecidos como a série da Califórnia. O
resultado do procedimento cirúrgico, split-brain (cérebro dividido), tornou-se um termo clássico
dentro das neurociências (SPRINGER; DEUTSCH, 1998). Roger Sperry e seus colaboradores, entre
eles Michael Gazzaniga, tiveram a oportunidade de estudar a série da Califórnia. É importante des-
tacar que esse grupo de pesquisa foi o primeiro a estudar a ACF em humanos com o corpo caloso
completamente seccionado.
134
J. LANDEIRA-FERNANDEZ | JOAQUIM CARLOS ROSSINI | BRENO SANVICENTE-VIEIRA (ORG.)
Uma das técnicas utilizadas foi a do campo visual dividido, baseada na organização anatômica
do sistema visual (ver Figura 1), no qual o processamento ocorre no hemisfério contralateral ao da
origem espacial da informação (BOURNE, 2006). Assim, os hemisférios dos pacientes comissu-
rotomizados puderam ser estudados isoladamente, uma vez que não havia transmissão via corpo
caloso nem quiasma óptico. Nesse contexto, é fundamental destacar que o papel dos hemisférios
cerebrais nas tarefas é inferido e, ao contrário do que se possa imaginar, não é observado diretamente
(LINDELL; NICHOLLS, 2003).
Figura 1 – Via retino-genículo-estriada do processamento visual
A informação projetada em um dado hemicampo visual é inicialmente codificada no hemisfério cerebral contralateral.
A estimulação no hemicampo visual direito (2, em vermelho), por exemplo, estimula a hemiretina temporal do olho
do olho esquerdo, que envia projeções ipsilaterais ao núcleo geniculado lateral (4). Já no olho direito, a informação
do hemicampo visual direito alcança a hemiretina nasal, que envia projeções ao nervo óptico que cruzam para o lado
oposto no quiasma óptico (3) em direção ao núcleo geniculado lateral. Deste ponto em diante, a informação de ambos
os olhos recebidas do lado direito do campo visual alcança o córtex visual primário (6) do hemisfério cerebral esquerdo
por meio da radiação óptica (5). O trajeto é equivalente, porém invertido, para informações projetadas no hemicampo
visual esquerdo (1, em azul).
Fonte: os autores
Os primeiros estudos em pacientes da série da Califórnia indicaram diferenças marcantes
entre os hemisférios cerebrais em diversas tarefas sensoriais, tais como discriminação de tempe-
ratura, sensibilidade à dor e propriocepção. Os resultados apontaram melhor desempenho nas
135
PSICOLOGIA COGNITIVA E NEUROCIÊNCIAS: MODELOS TEÓRICOS E APLICAÇÕES
tarefas quando as informações eram enviadas ao HE, chamado dominante, em comparação ao HD
(GAZZANIGA; BOGEN; SPERRY, 1963). Posteriormente, alguns estudos revelaram o papel do
HD em diversas funções cognitivas, e essa visão de dominância do HE começou a ser questionada.
Por exemplo, o reconhecimento visual de um objeto anteriormente manipulado com as mãos foi
facilitado quando essas informações foram processadas no HD (LEVY-AGRESTI; SPERRY, 1968).
Nas décadas seguintes, outros estudos com pacientes comissutorizados também descreveram que
as informações espaciais são prevalentes e preferencialmente processadas pelo HD. Por exemplo,
Corballis, Funnell e Gazzaniga (2002) encontraram essa vantagem em tarefas de discriminação de
tamanho, orientação e acuidade de Vernier.
As evidências apontam vantagem para o processamento da linguagem no HE e da informação
visuoespacial no HD. Essas diferenças refletem um funcionamento cerebral mais amplo, que foi
selecionado no decorrer do processo evolutivo de nossa espécie (LEVY, 1969). Assim, o HE processa
as informações de maneira analítica e sequencial; e o HD, de maneira sintética e paralela. Essa orga-
nização é vantajosa, pois aumenta nossa capacidade de processamento ao reduzir a duplicação, a
interferência e o conflito de informações entre os hemisférios cerebrais (VALLORTIGARA; ROGERS,
2005). Cabe destacar ainda que, antes considerada uma característica exclusiva humana, a ACF é
observada em todos os vertebrados e em alguns invertebrados (ROGERS, 2014; VALLORTIGARA;
CHIANDETTI; SOVRANO, 2011). Sobre essa divisão de capacidades dos hemisférios cerebrais nos
pacientes com cérebro dividido, Sperry (1982, p. 1.224) afirma que cada hemisfério “poderia ter seu
próprio processo de aprendizado e sua própria cadeia de memórias, todas, é claro, essencialmente
inacessíveis à experiência consciente do outro hemisfério”.
O conhecimento advindo dos estudos com pacientes split-brain tornou-se um cânone nas
neurociências, com a descrição nos livros-textos, por exemplo, de que esses indivíduos respondem
com a mão esquerda aos estímulos apresentados no hemicampo visual esquerdo e respondem com
a mão direita e também verbalmente aos estímulos apresentados no hemicampo visual direito. O
impacto desses achados foi tão abrangente que, até mesmo, se encontram nos fundamentos de algu-
mas das principais teorias atuais sobre a consciência (e.g., teoria da informação integrada, teoria do
espaço de trabalho global, teoria do processamento recorrente; para uma discussão, ver DE HAAN
et al., 2021; LEDOUX; MICHEL; LAU, 2020). No entanto, há estudos que encontraram evidências
contrárias, revelando que, por exemplo, os indivíduos sem o corpo caloso respondem de maneira
acurada aos estímulos apresentados em qualquer localização do campo visual (PINTO et al., 2017).
Uma possibilidade indicada pelos autores é a de que o fenômeno split brain seja transitório, com a
reintegração da conexão entre os hemisférios, pois os pacientes do estudo foram avaliados muitos
anos após a cirurgia (de 10 a 23 anos).
Não se pode esquecer que os estudos clássicos supracitados e a afirmação de Sperry, bem
como os resultados mais recentes que desafiam a visão clássica, referem-se a pacientes comissuto-
rizados em condições experimentais. Dessa observação emerge uma pergunta: há ACF em pessoas
neurologicamente normais?
Percepção visual
As primeiras evidências de que a resposta é afirmativa foram apresentadas por Kimura (1961).
Os participantes, com e sem epilepsia, foram submetidos ao paradigma da escuta dicótica, no qual
duas informações auditivas são apresentadas simultaneamente, uma em cada ouvido. Os resultados
136
J. LANDEIRA-FERNANDEZ | JOAQUIM CARLOS ROSSINI | BRENO SANVICENTE-VIEIRA (ORG.)
apontaram uma vantagem de processamento para o ouvido direito em ambos os grupos, provavel-
mente devido às conexões mais amplas deste com áreas críticas para a linguagem no HE. Esse estudo
foi muito importante, por duas razões: demonstrou a ACF em uma modalidade sensorial diferente,
a audição; e ampliou as possibilidades de investigação da ACF ao revelar que esta também ocorre
em pessoas neurologicamente normais.
Nas décadas seguintes, a ACF em pessoas neurologicamente normais foi descrita em dife-
rentes tarefas comportamentais. Por exemplo, estímulos verbais foram processados mais eficien-
temente pelo HE (SCOTT; HELLIGE, 1998), e a assimetria é similar em tarefas de produção e de
compreensão da linguagem (HÄBERLING; STEINEMANN; CORBALLIS, 2016). Por outro lado,
observou-se maior acurácia e rapidez no desempenho dos participantes em tarefas de julgamento
de brilho, numerosidade e tamanho dos estímulos quando enviados ao HD (CHARLES; SAHRAIE;
McGEORGE, 2007; NICHOLLS; BRADSHAW; MATTINGLEY, 1999), embora também exista
evidência de maior distorção de tamanho na ilusão horizontal-vertical
5
para estímulos processados
neste hemisfério (WOLFE, MALONEY; TAM, 2005). Ademais, os achados de Cronin-Golomb (1986)
revelaram que, em arranjos de figura-fundo, o processamento da figura isolada foi mais eficiente no
HE e a integração figura-fundo no HD, sugerindo uma especialização para percepção de detalhes e
para percepção global, respectivamente. Essa correlação entre o processamento de características
locais (e.g., palavras) no HE e o processamento de formas globais (e.g., faces) no HD foi corroborada
recentemente por Brederoo et al. (2020).
Uma tarefa espacial muito conhecida na qual também se observa a ACF é a tarefa de bissecção
de linhas. Nesta, os participantes indicam o ponto médio de uma linha horizontal, isto é, a localização
espacial que a divide em duas partes iguais. A grande maioria dos participantes indica um ponto
médio mais à esquerda do ponto médio físico real. Em pessoas sem déficits neuropsicológicos, esse
desvio à esquerda é chamado de pseudonegligência (BOWERS; HEILMAN, 1980). Este nome faz
referência aos negligentes, pacientes com lesões cerebrais que apresentam déficits atencionais no
campo visual contralateral ao hemisfério da lesão. Em geral, esta condição clínica é observada em
pacientes com lesão no HD, principalmente dos córtices parietal e parieto-occipital, áreas envolvidas
na mobilização tanto da atenção transitória quanto da atenção sustentada em tarefas espaciais (BRO-
DIE, 2010; FINK et al., 2001). Em favor desta hipótese, uma meta-análise de mais de 70 estudos sobre
bissecção de linhas sugere que modificações na organização cerebral no processo de envelhecimento
repercutem sobre a modulação atencional, o que explicaria a observação de desvios à esquerda em
participantes mais jovens e desvios à direita nos mais velhos (JEWELL; McCOURT, 2000). Para
uma discussão ampla sobre os achados de que o desempenho humano em tarefas perceptivas varia
consideravelmente em razão da posição dos estímulos no espaço (anisotropias do espaço visual),
ver Aznar-Casanova e Bernardino (2018).
Uma das ACFs de processos perceptuais mais investigadas pela literatura é a análise de fre-
quências espaciais realizada pelo córtex visual. Isto ocorre porque a análise de frequências espaciais
é uma das operações mais básicas e fundamentais da visão. Depois da codificação neural do sinal
luminoso no olho, as informações alcançam o córtex visual primário. Lá, durante os primeiros
estágios da visão, o sinal neural é decomposto em duas dimensões principais: orientação e frequên-
cia espacial (HUBEL; WIESEL, 1968). A partir disso, faixas de frequências espaciais são espacial e
temporalmente processadas de modo diferente e dão base para operações mais complexas que se
5
Em um arranjo com duas linhas de mesmo tamanho, uma orientada na horizontal e outra na vertical, o tamanho desta última é superestimada
em relação ao tamanho da primeira.
137
PSICOLOGIA COGNITIVA E NEUROCIÊNCIAS: MODELOS TEÓRICOS E APLICAÇÕES
aproximam ou se configuram numa visão de alto nível: percepção de bordas, análise global/local,
reconhecimento de padrões e de estímulos complexos (BOESCHOTEN et al., 2005, KAUFFMANN;
RAMANÖEL; PEYRIN, 2014; MARR, 1982).
Análise de frequências espaciais
Antes, porém, de abordar a ACF em questão, cabe aqui uma breve conceituação de frequência
espacial. Definimos frequências espaciais como variações periódicas de luminância ao longo espaço.
Em psicologia experimental e psicofísica, frequências espaciais são mensuradas em ciclos por grau
de ângulo visual (do observador). Um ciclo consiste de uma área clara e outra escura, adjacentes no
espaço. Quanto maior a alternância de ciclos em dado espaço (i.e., um padrão de altas frequências
espaciais), mais detalhada a percepção. Por outro lado, quanto menor a quantidade de ciclos no
mesmo espaço (i.e., padrão de baixas frequências espaciais), mais grosseira é a informação da cena
visual (Figura 2).
Figura 2 – Frequência espacial: conceito e exemplos
A parte superior esquerda da imagem (a) ilustra o conceito de frequência espacial. Fonte: adaptada pelos autores de
webvision.med.utah.edu. A parte superior direita da imagem (b) mostra uma cena visual complexa que foi filtrada para
preservar frequências espaciais baixas (c) e altas (d). Fonte: foto original de Ricardo Feres (Parque Estadual do Jalapão,
TO, Brasil) e adaptação dos autores
138
J. LANDEIRA-FERNANDEZ | JOAQUIM CARLOS ROSSINI | BRENO SANVICENTE-VIEIRA (ORG.)
Padrões de altas e baixas frequências espaciais são analisados de modo diferente nos hemisfé-
rios cerebrais. Justine Sergent, em uma série de experimentos conduzidos na Universidade McGuill
e no Instituto Neurológico de Montreal na década de 1980, formulou a hipótese da especialização
hemisférica de frequências espaciais. Em seus estudos comportamentais, letras Navon
6
e faces filtra-
das eram apresentadas lateralizadas enquanto o tempo de resposta e os erros dos participantes eram
registrados. Em diferentes tarefas com alta demanda cognitiva, verificou-se simetria hemisférica na
sensibilidade às frequências espaciais nos estágios iniciais de processamento. No entanto, em está-
gios posteriores, os resultados mostraram que o HD foi mais sensível na percepção de frequências
espaciais baixas, enquanto que o HE se mostrou mais sensível na percepção de frequências espaciais
altas (SERGENT, 1982, 1985, 1987). Estes resultados foram corroborados por estudos posteriores
que utilizaram como estímulos tanto grades de ondas senoidais como imagens com filtragem espacial
(por exemplo, KEENAN; WHITMAN; PEPE, 1989; KITTERLE; SELIG, 1991; PROVERBIO; ZANI;
AVELLA, 1997) (Figura 3). Apesar disso, a hipótese de ACF de frequência espacial não era consenso
na literatura (PETERZELL, 1991, 1997; PETERZELL; HARVEY; HARDYCK, 1989).
Figura 3 – Assimetria cerebral funcional no processamento de frequências espaciais
O hemisfério esquerdo é mais eficiente para perceber aspectos locais de estímulos hierárquicos, grades de ondas senoidais
com alta variação de luminância e imagens com filtragem espacial que preservam frequências espaciais altas. O hemisfério
direito é mais eficiente para perceber aspectos globais de estímulos hierárquicos, grades de ondas senoidais com baixa
variação de luminância e imagens com filtragem espacial que preservam frequências espaciais baixas. Fonte: os autores
Fontes adicionais de concordância, maior robustez e refinamento teórico para uma ACF de
frequências espaciais foram possibilitadas por meio da revolução computacional, ainda na década de
1980, mas principalmente a partir dos anos 2000 (alguns exemplos são os trabalhos de MUSEL et al.,
6
Estímulos Navon são letras compostas por letras menores e, por isso, apresentam tanto um aspecto global quanto local.
139
PSICOLOGIA COGNITIVA E NEUROCIÊNCIAS: MODELOS TEÓRICOS E APLICAÇÕES
2013; PEYRIN et al., 2003, 2004; REINVANG; MAGNUSSEN; GREENLEE, 2002). Nesse contexto
histórico, foi possível: (1) realizar análises e sínteses de Fourier
7
que possibilitaram a utilização de
filtros de frequências espaciais em imagens complexas com maior controle metodológico e (2) fazer
uso mais acessível de técnicas de neuroimagem e de neuroeletrofisiologia.
Essas vantagens metodológicas ainda possibilitaram a mudança de foco na linha de investigação
em frequências espaciais visuais. Até a década de 1980, já existia extensa literatura sobre o papel de
células especializadas no córtex visual primário que respondiam a diferentes faixas de frequências
espaciais (DE VALOIS; ALBRECHT; THORELL, 1982; HUBEL; WIESEL, 1968; POGGIO, 1972).
Porém, após os efeitos da revolução tecnológica, centram-se cada vez mais esforços em desvendar
como ocorre a integração de frequências espaciais numa visão de alto nível em áreas corticais de
associação. Dessa maneira, emergiram outros modelos explicativos sobre o papel das frequências
espaciais na organização perceptiva (
e.g.
, teoria da dupla filtragem por frequência, teoria da hierarquia
reversa, e teoria do processamento coarse-to-fine), os quais se apoiam na ideia de que o processa-
mento lateralizado das frequências espaciais emerge após o nível sensorial (para uma revisão, ver
FELISATTI et al., 2020b).
Levando em conta o maior interesse na organização perceptiva, são relevantes os estudos
que utilizam estímulos como a face humana, por exemplo. A face humana é um estímulo visual de
alto valor ecológico e primariamente processada numa área de associação terciária bem delimi-
tada, a área facial fusiforme (KANWISHER; McDERMOTT; CHUN, 1997). Um estudo psicofísico
de reconhecimento de faces humanas controlou o tempo de exposição, o hemicampo visual de
apresentação, a tarefa solicitada pelos participantes e a faixa de frequência espacial preservada nas
faces. Os resultados evidenciaram que o contexto cognitivo (a tarefa), o tempo de apresentação e o
hemicampo de apresentação modulam a sensibilidade a frequências espaciais no reconhecimento
de faces. No entanto, a ACF é unidirecional. Quando a seleção da informação favorece frequências
espaciais baixas, prevalece o processamento realizado no HD. Já quando a seleção da informa-
ção favorece frequências espaciais altas, prevalece o processamento realizado no HE (MORAES
JÚNIOR et al., 2017).
Outro estudo evidenciou que a especialização dos hemisférios cerebrais pode influenciar
como ocorre a integração temporal de diferentes faixas de frequências espaciais. É sabido que, em
geral, o sistema visual processa as informações de frequências espaciais baixas mais rapidamente
que as informações de frequências espaciais altas (HEGDÉ, 2008). Esse padrão é conhecido como
coarse-to-fine. Ao serem apresentadas cenas naturais numa sequência coarse-to-fine (baixas seguidas
de altas frequências espaciais) e fine-to-coarse (altas seguidas de baixas frequências espaciais), obser-
vou-se maior ativação no córtex occipito-temporal direito e esquerdo, respectivamente (PEYRIN et
al., 2005). Um estudo interessante que fornece pistas sobre a dinâmica temporal do processamento
de faces humanas é o de Peters, Goebel e Goffaux (2018). Os resultados na tarefa comportamental
são congruentes aos observados com Eletroencefalografia (EEG), mostrando o processamento da
frequência espacial baixa por volta dos 176 ms, coincidindo com o pico do componente N170. Por
outro lado, observou-se o processamento da frequência espacial alta somente aos 296 ms, em média.
Os dados indicam não apenas que as frequências espaciais são processadas em diferentes intervalos
de tempo, corroborando o modelo coarse to-fine, mas também a ACF destas: frequência espacial alta
associada à ativação do HE e frequência espacial baixa associada à ativação do HD.
7
A Análise de Fourier é a decomposição de ondas complexas senoidais e/ou cossenoidais, enquanto que a síntese ou transformada de Fourier realiza
um somatório das ondas senoidais e/ou cossenoidais componentes de uma imagem para produzir o padrão complexo.
140
J. LANDEIRA-FERNANDEZ | JOAQUIM CARLOS ROSSINI | BRENO SANVICENTE-VIEIRA (ORG.)
Por fim, vale ressaltar uma contribuição que utiliza variação metodológica importante. Os
estudos comportamentais e de neuroimagem relatados anteriormente não estabelecem relações de
causalidade, mas relacionam índices psicofísicos ou atividade cerebral com as tarefas experimentais
impostas. No estudo de Dos Santos, Andrade e Fernandez-Calvo (2013), foi avaliada a sensibilidade
ao contraste a grades de ondas senoidais em pacientes com lesão cerebral unilateral. Os resultados
mostraram que pacientes com lesão no HD e HE tiveram prejuízo no processamento de frequências
espaciais baixas e altas, respectivamente.
A ACF no processamento de frequências espaciais é um tema clássico na literatura sobre
percepção que está longe de ser esgotado. Estudos atuais possuem uma diversidade metodológica e
estão ampliando o entendimento sobre as descobertas dos estudos pioneiros. Um bom exemplo é o
trabalho de revisão de Kauffmann, Ramanoël e Peyrin (2014). Nesse trabalho, o processamento de
alto nível de informações de frequências espaciais é explicado levando em consideração os modelos
coarse-to-fine, de ACF e de mapeamento retinotópico
8
.
Considerações finais
Ao percorrer uma livraria, é comum encontrar livros cujos títulos fazem referência à ACF,
tais como Aprendizado com o lado direito do cérebro em 30 dias: o programa da mente integral, de Pamela
Weintraub; e
Desenhando com o lado direito do cérebro
, de Betty Edwards. Cenário semelhante é
encontrado na rede mundial dos computadores com muitos testes que prometem identificar seu
hemisfério dominante. Essas publicações podem até apresentar evidências científicas obtidas em
condições controladas de laboratório, entretanto a divulgação desse conhecimento é realizada de
maneira exagerada, parcial e distorcida, convertendo-as em exemplos claros de pseudociência.
No nosso dia a dia, os hemisférios cerebrais interagem o tempo todo, via corpo caloso e outras
comissuras, criando uma unidade comportamental harmoniosa (HELLIGE, 1993; SERGENT, 1995).
Qualquer generalização das ACFs fora das condições experimentais deve ser vista com cautela (ver
CORBALLIS, 2014). Ademais, embora a ACF seja um fenômeno estável em pessoas neurologica-
mente normais, esta tem uma magnitude de efeito menor em comparação com populações clínicas
(IVRY; ROBERTSON, 1998). Esse efeito menor pode mascarar a ACF, sendo o responsável por
inconsistências descritas na literatura, quando um mesmo estímulo e/ou tarefa indica a especiali-
zação hemisférica em um estudo e não em outro.
O principal desafio nos próximos anos é a formulação de um modelo capaz de descrever,
explicar e prever os mecanismos subjacentes e os fenômenos relacionados às ACFs. Nessa direção,
um exemplo interessante é o trabalho de Ocklenburg et al. (2017). Os autores propõem um modelo
multifatorial para a ontogenia da ACF em humanos, cujo início seria ainda na vida fetal envolvendo
múltiplos genes e mecanismos moleculares para sua regulação epigenética. Outra proposta recente
é o modelo de ajuste de frequência assimétrica do cérebro (brain’s asymmetric frequency tuning model,
em inglês), que integra a lateralização de processamento das frequências espaciais com a assimetria
na orientação espacial da atenção para explicar a construção de um percepto coerente na díade
percepção-ação (FELISATTI
et al
., 2020a). O resultado é a representação ótima de frequências
espaciais altas no campo visual direito e de frequências espaciais baixas no campo visual esquerdo.
Este modelo parece promissor ao fornecer diretrizes para pesquisas futuras e aplicações em áreas
8
Organização celular cortical que segue o mapeamento da retina, onde ocorre maior sensibilidade a faixas de frequências espaciais altas e baixas
em áreas mediais e laterais, respectivamente.
141
PSICOLOGIA COGNITIVA E NEUROCIÊNCIAS: MODELOS TEÓRICOS E APLICAÇÕES
como cognição numérica, dificuldade de leitura, interações sociais e preferências estéticas. Torna-se
evidente que é necessário ampliar e aprofundar a integração de diferentes hipóteses explicativas
para tentar completar uma parte do quebra-cabeças da cognição humana.
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