BookPDF Available

METODOLOGIA DE PESQUISA: INTRODUÇÃO À PESQUISA QUALITATIVA

Authors:

Abstract

Nesta apostila são apresentados os fundamentos da pesquisa qualitativa, seus objetivos e formas de operacionalização. Inicialmente, abordamos suas características e desenho. Na sequência, tratamos dos principais tipos de pesquisa qualitativa, bem como as possibilidades de coleta de dados, concentrando atenção nos instrumentos que para elaboração de questionários e realização de entrevistas. Por fim, são abordadas duas técnicas para a análise e tratamento dos dados: análise de conteúdo e análise de discurso.
METODOLOGIA DE PESQUISA:
INTRODUÇÃO À PESQUISA QUALITATIVA
Luciana Leite Lima
Professora do Programa de Pós-Graduação Profissional em Economia e do Programa de Pós-
Graduação em Políticas Públicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Júlia Gabriele Lima da Rosa
Mestre em Políticas Públicas e Doutoranda em Políticas Públicas, Programa de Pós-
Graduação em Políticas Públicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Rafael Barbosa de Aguiar
Mestre em Políticas Públicas e Doutorando em Políticas Públicas, Programa de Pós-
Graduação em Políticas Públicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Material de apoio à disciplina Metodologia de Pesquisa: Métodos Qualitativos do Mestrado
Profissional em Economia e Política da Cultura e Indústrias Criativas, realização: Universidade
Federal do Rio Grande do Sul/Faculdade de Ciências Econômicas/NECCULT- Núcleo de
Estudos em Economia Criativa e da Cultura, Itaú Cultural/Observatório Itaú Cultural.
Como citar:
LIMA, Luciana Leite Lima; ROSA, Júlia Gabriele Lima da; AGUIAR, Rafael Barbosa de.
Metodologia de pesquisa: introdução à pesquisa qualitativa. [Manual da disciplina Metodologia
de Pesquisa: Métodos Qualitativos do Mestrado Profissional em Economia e Política da
Cultura e Indústrias Criativas/ UFRGS]. Porto Alegre, 2022.
Apresentação
Nesta apostila são apresentados os fundamentos da pesquisa qualitativa, seus objetivos e
formas de operacionalização. Inicialmente, abordamos suas características e desenho. Na
sequência, tratamos dos principais tipos de pesquisa qualitativa, bem como as possibilidades
de coleta de dados, concentrando atenção nos instrumentos que para elaboração de
questionários e realização de entrevistas. Por fim, são abordadas duas técnicas para a análise e
tratamento dos dados: análise de conteúdo e análise de discurso.
1. O que é a Pesquisa Qualitativa?
A pesquisa qualitativa se caracteriza por utilizar uma abordagem de observação mais
próxima ao fenômeno social de interesse, demonstrando sensibilidade às peculiaridades do
contexto (Cardano 2017). Nesse sentido, é um estilo de pesquisa que valoriza o
aprofundamento e o detalhamento dos contextos empíricos, tratando mais especificamente das
interpretações das realidades sociais (Bauer and Gaskell 2002) e da compreensão detalhada das
características e significados dos fenômenos (Richardson et al. 1999).
A pesquisa qualitativa trabalha com a noção de construção social da realidade, assim,
tem interesse nas perspectivas dos participantes, suas práticas cotidianas e em seus
conhecimentos relativos ao fenômeno em estudo. Os métodos e técnicas utilizadas devem ser
harmonizadas com essas premissas, ou seja, devem ser determinados pela pergunta de pesquisa
e devem permitir o entendimento dos processos e relações sociais (Flick 2009).
O que torna a pesquisa qualitativa diferente de outros tipos nas diversas áreas das
ciências sociais é a amplitude da área de investigação. Creswell e Báez (2016) e Yin (2016)
destacam algumas vantagens desse tipo de pesquisa:
É contingencialista: se situa no contexto, buscando entender de que forma ele molda o
que as pessoas pensam, fazem e têm a dizer.
É processualista: observa como os processos se desenrolam ao longo do tempo.
É intensiva: se concentra em um pequeno número de casos/pessoas/lugares, com
aprofundamento nos detalhes, buscando especificidade e não a generalização.
Dá voz aos participantes, buscando relatar suas perspectivas individuais sobre as
situações.
Oferece representação não parcial, ou seja, inclui as perspectivas e as vozes de grupos
marginais.
Pode revelar conceitos existentes ou emergentes que ajudam a explicar o
comportamento social humano.
A pesquisa qualitativa permite realizar estudos que se aprofundam em diferentes
tópicos, além de permitir que a escolha dos temas de interesse seja feita com maior liberdade.
Outros métodos de pesquisa podem ser limitados pela falta de possibilidade em estabelecer as
condições de pesquisa (experimento), pela falta de dados ou pela falta de abrangência de
variáveis suficientes, ou ainda pela dificuldade em obter a quantidade de respostas suficientes
para trabalhar com uma amostra adequada (no caso do levantamento). Por isso, a pesquisa
qualitativa tem ganhado destaque em muitas áreas acadêmicas e profissionais, representando
um modo atraente de produção de pesquisa (Yin 2016).
2. Desenho da pesquisa qualitativa
O desenho de pesquisa se refere à estrutura que norteia a execução do estudo, devendo
estar concentrado na obtenção dos resultados. De acordo com Cardano (2017), o desenho da
pesquisa qualitativa deve conter uma pergunta de pesquisa e a explicitação de sua relevância,
a delimitação de um contexto teórico e de um contexto empírico, a escolha do caso ou dos
casos e uma metodologia com técnicas de análise bem delineadas. A seguir, apresentamos os
elementos constituintes de cada um desses pontos.
2.1 Pergunta de pesquisa e sua relevância
A pesquisa social é um tipo de agir estratégico “voltado à elaboração de respostas
plausíveis a perguntas relevantes” (Cardano 2017, p. 48). Tais perguntas versam sobre o como
de um fenômeno social específico. A especificação da pergunta deriva da definição de um
problema pesquisa, o qual gira em torno de um fenômeno social que se pretende investigar,
delimitado em meio a uma temática de interesse (Creswell and Báez 2016). Nesse sentido, a
pesquisa qualitativa busca resolver um problema através da formulação de uma pergunta, que
será respondida por meio da coleta e análise de dados.
Quadro 1- Construção da pergunta de pesquisa com exemplo
Elemento
Exemplo
Temática de interesse
Políticas Públicas
Fenômeno social de interesse
Implementação de uma política pública
Problema de pesquisa
Aproximação/distanciamento do processo de
implementação em relação ao plano da política
Pergunta de pesquisa
Como ocorreu o processo de implementação tendo em
vista o alinhamento com o plano da política?
Fonte: elaboração própria.
Creswell e Báez (2016) explicam que, nesse momento inicial da pesquisa, deve-se
refletir sobre o tópico de estudo e delimitar o fenômeno de interesse. Ao longo desse processo,
deve-se perguntar: Tenho acesso aos participantes? Tenho recursos para realizar a pesquisa e
analisar as informações? É um tema interessante a ser estudado? Vai chamar a atenção dos
leitores? Acrescenta à literatura existente? É publicável? É do meu interesse? Consigo falar
sobre esse tema por um longo tempo?
Nessa reflexão, devemos considerar alguns pontos:
cuidado ao escolher “estudar o próprio quintal”, ou seja, locais onde se trabalha ou com
os quais se tem alguma relação muito próxima (Creswell and Báez 2016), pois corre-se
o risco que ser capturado por explicações particularistas de pretensão generalista (“é
assim que acontece, eu sei porque estou lá há muito tempo”).
Outro risco de selecionar um recorte com o qual se tenha intimidade é focar numa
pergunta irrelevante, isto é, para a qual acredita-se que já tenha resposta. A pergunta de
pesquisa deve ser motivada por curiosidade, pelo genuíno interesse em descobrir e
conhecer algo que não se sabe.
“A pergunta se propõe a dar explicações do como de um fenômeno social, sem
pretender captar a sua essência, explicar sua totalidade” (Cardano 2017, p. 50).
Para justificar o empenho na construção de uma resposta à pergunta de pesquisa, é
necessário delimitar sua relevância teórica e pragmática (Cardano 2017). A relevância teórica
tange à capacidade dos resultados esperados, e depois obtidos, de oferecer uma contribuição
ao conhecimento dos fenômenos sociais. Essa contribuição pode ser pela adição de nova
documentação a um dado campo teórico, novas dimensões analíticas ou materiais empíricos
adquiridos com novos métodos. Já a relevância pragmática diz respeito à capacidade da
resposta de orientar a solução do problema social ou de oferecer uma representação mais eficaz
dele. Trata-se, então, da utilidade do estudo para a sociedade. Aqui, deve-se evitar a tendência
de derivar a relevância do estudo da importância do fenômeno para a sociedade, a pergunta de
pesquisa deve ser relevante por seu próprio mérito.
2.2 Delimitação do contexto teórico
A delimitação do contexto teórico se refere à escolha de um campo de conhecimento
científico consolidado que se dedica a investigar e compreender o fenômeno social de interesse.
O contexto teórico engloba teorias, conceitos e modelos analíticos que oferecem explicações
sobre a produção e reprodução do fenômeno em estudo, bem como sobre seus efeitos e
consequências sociais. Ele funciona como uma lente que orienta a interpretação dos dados
coletados.
Por exemplo: Aguiar, Lima e Lui (2022) analisaram os desenhos das políticas de
economia criativa de Porto Alegre (RS), São José dos Campos (SP) e Ananindeua (PA) com a
finalidade de verificar seu potencial quanto à promoção do desenvolvimento (problema de
pesquisa). Para tanto, construíram o contexto teórico com os conceitos de capacidades estatais,
de desenvolvimento endógeno e de desenho de políticas. Martins et al. (2021) analisaram como
as mudanças adotadas na administração pública brasileira influenciaram as políticas de cultura
desde 1985 (problema de pesquisa). Como contexto teórico, eles utilizaram o conceito de
políticas públicas de cultura e de modelos de gestão governamental.
2.3 Delimitação do contexto empírico
O contexto empírico é o lugar onde podemos observar o fenômeno social de interesse.
Por exemplo: a coletânea organizada por Marcela Maciel e Simone Constante (Maciel and
Constante 2021) é formada por diversos estudos que analisaram a implementação da Lei Aldir
Blanc (fenômeno social) nos municípios do Rio Grande do Sul (contexto empírico); Garcia
(2019) estudou as ações sociopolíticas dos agentes culturais (fenômeno social) em conselhos e
comitês, associações profissionais e empresariais, bem como em movimentos e coletivos de
artistas em Porto Alegre (contexto empírico) e; Aguiar e Lima (2020) examinaram a
apropriação do conceito de economia criativa (fenômeno social) nas políticas de economia
criativa do município de São José dos Campos/SP (contexto empírico).
A relação entre a pergunta de pesquisa e a individuação do contexto empírico pode
tomar duas formas, pelo menos:
A partir da delimitação da pergunta de pesquisa, escolhemos o contexto empírico que
oferece uma resposta mais eloquente.
A partir da experimentação em um dado contexto empírico, podemos adaptar
progressivamente a pergunta a ele. Essas são denominadas pesquisas oportunistas:
quando quem pesquisa tira proveito de sua experiência em um contexto de ação. Nesse
caso, atenção aos pontos elencados no tópico anterior, pois há risco de não conseguir
construir a pergunta de pesquisa [“quem não sabe o que procurar, corre o risco de não
encontrar”(Cardano 2017, p. 58).
2.4 Escolha dos casos e amostragem
Tendo em vista a relação entre a pergunta de pesquisa e o contexto empírico, surge a
exigência de selecionar uma amostra de indivíduos, grupos, textos ou eventos, que servirá
como alvo de investigação. Por amostra entende-se “o resultado de qualquer operação visando
constituir o corpus empírico de uma pesquisa” (Pires 2014, p. 154).
Pires (2014) divide as amostras qualitativas em dois tipos:
A amostragem por caso único: estudo em profundidade de um único caso. O
caso pode ser simples (uma pessoa, um processo jurídico) ou complexo (uma
comunidade, um setor criativo).
Amostragem por casos múltiplos: utilizada quando o objetivo demanda
construir um panorama, uma visão de conjunto ou um retrato global de um
problema ou situação. Por isso, um dos critérios que orientam a seleção dos
casos é o da diversificação, com a finalidade de incluir a maior variedade
possível.
2.5 Método e técnicas
A escolha do método se refere à qualificação das técnicas de pesquisa, a partir das quais
será construída a documentação empírica que será analisada com vistas à elaboração da
resposta à pergunta do estudo. Dessa maneira, tal escolha deve ser consistente com a pergunta
de pesquisa e o contexto empírico e deve considerar a viabilidade do estudo e implicações
éticas. “Trata-se, antes de tudo, de avaliar se e em quais condições podemos ter acesso à
documentação empírica necessária aos nossos objetivos” (Cardano 2017, p. 96).
No escopo da pesquisa qualitativa, as técnicas mais comuns são:
Observação participante: técnica na qual a proximidade com o objeto transforma-se no
compartilhamento da experiência das pessoas envolvidas no estudo. É um estilo
interativo. Cardano (2017) sustenta que essa é a principal técnica para o estudo da
interação social, pois o agir é observado diretamente, no seu fazer, e não reconstruído
por meio de relatos. Pode demandar tempo prolongado no campo.
Observação não participante: técnica na qual, durante a observação, a interação social
com os informantes é inteiramente removida. A pessoa que está pesquisando tenta
observar o(s) objeto(s) de estudo de maneira a não interferir em seu funcionamento.
Como exemplo de sua aplicação empírica podemos destacar o estudo conduzido por
Liu e Maitlis (2014). Nele, as autoras utilizaram a observação não participante para
coletar dados em uma empresa produtora de jogos virtuais de médio-porte localizada
no Canadá com fins de apurar como as dinâmicas emocionais dos membros do alto
escalão da empresa afetam os processos de elaboração das estratégias organizacionais.
Entrevista: coleta de material empírico por meio de interlocução direcionada. Existem
dois tipos: (a) na entrevista estruturada, a interação entre entrevistador(a) e
entrevistado(a) é guiada por um roteiro (pontos a serem perguntados) ou questionário
(perguntas pré-determinadas); (b) a entrevista discursiva é uma forma de conversação
em que o(a) entrevistador(a) define o tema da conversa e como ela se desenvolverá, e
o(a) entrevistado(a) expõe livremente a partir da provocação. As entrevistas
estruturadas podem ser individuais, quando se quer explorar em detalhes a cosmovisão
pessoal do(a) entrevistado(a); ou grupais, quando o objetivo é estimular o(a)s
participantes a discutir e reagir àquilo que outras pessoas no grupo dizem (Gaskell
2002).
Pesquisa documental (Cellard 2014): o documento escrito é uma fonte de dados
importante para a pesquisa social. Nesse método, a influência da pessoa que pesquisa é
minimizada, pois não há pretensão de influenciar no conjunto de interações e
acontecimentos pesquisados. Esse tipo de pesquisa envolve: (1) reconhecimento dos
depósitos de arquivos; (2) realização de inventário exaustivo e seleção rigorosa da
informação disponível; (3) identificação e explicitação do contexto social mais amplo
no qual foi produzido o documento; (4) conhecer a autoria do documento, bem como
seus interesses e intenções; (5) assegurar-se da qualidade da informação e da
procedência do documento; (6) considerar a natureza do texto antes de tirar conclusões,
pois documentos (de natureza teológica, médica ou jurídica, por exemplo) “são
estruturados de formas diferentes e só adquirem um sentido para o leitor em função de
seu grau de iniciação no contexto particular de sua produção” (Cellard 2014, p. 302);
(7) identificação dos conceitos-chave presentes no texto e delimitação do sentido das
palavras e conceitos; (8) leitura repetida para identificar as similaridades, relações e
diferenças.
3. Estudo de Caso
O estudo de caso é uma estratégia de pesquisa que possibilita a compreensão de
fenômenos individuais, organizacionais, sociais e políticos. Ele deve ser utilizado por
pesquisadores e pesquisadoras que procuram responder às questões como e por que certos
fenômenos acontecem, que desejam foco sobre um evento contemporâneo e quando não
exigência de controlar o comportamento do evento (Yin 2018).
Esse tipo de pesquisa considera a unidade a ser estudada como um todo, seja ela uma
pessoa, uma família, um grupo, uma instituição, uma política pública, um setor econômico,
uma região, um país ou um evento. Por meio da junção de todas as informações, busca-se
explorar profunda e exaustivamente o objeto do estudo, de forma a fazer uma descrição
detalhada e complexa. Nesse sentido, no estudo de caso não há homogeneização e as
particularidades são consideradas (Goldenberg 2011). Desse modo, os estudos de caso
costumam atribuir intensidade e profundidade à pesquisa, visto que apresentam muitas
informações sobre a unidade estudada (Grønmo 2019; Marshall and Rossman 2016).
Por tudo isso, o estudo de caso é considerado eficiente para estudos exploratórios, para
a identificação de temas de pesquisa ou estudos-piloto. Também, é útil para realizar análises
precedentes da pesquisa e teste de hipóteses ou ideias para estudos posteriores (Chizzotti 2006).
A Figura 1 apresenta um fluxograma de referência para decisão de uso de estudo de
caso no desenho de pesquisa qualitativa, o objetivo é que cada questão de pesquisa seja
elencada, formando uma lista de referência.
Figura 1 - Fluxo de Referência para Estudo de Caso
Fonte: adaptado de Hancock e Algozzine (2006).
Em relação ao propósito, os estudos de caso podem ser instrumentais ou intrínsecos
(Stake 1994). Um estudo de caso instrumental é realizado na busca de refinar uma teoria e
verificar e pode ser aplicada para casos semelhantes em pesquisas posteriores. Por ser o estudo
de caso uma unidade típica de um universo maior, é comum que sejam realizadas comparações
entre diferentes unidades e posteriores generalizações teóricas, como parte de um projeto maior
- que continua sendo considerado um estudo de caso pelo fato de as unidades serem estudadas
individualmente (Grønmo 2019). Já o estudo de caso intrínseco é escolhido por conta de sua
singularidade, apesar de não ser representativo de outros casos (Stake 1994; Yin 2016). O
objetivo é compreender de forma abrangente ou integral a unidade estudada por ser esta
considerada de interesse científico, sem necessariamente ser considerada como parte de um
interesse maior.
Quanto às unidades de análise, os estudos de caso podem ser classificados como
holísticos ou incorporados. A unidade holística é aquela que usa uma unidade de análise de
nível global (por exemplo, um programa, uma escola, uma clínica). Geralmente unidades
holísticas são usadas quando as subunidades não podem ser identificadas ou não são relevantes
para as questões de pesquisa. Nesse caso, é feita uma análise mais abstrata dos casos
disponíveis (Guetterman and Fetters 2018). Por sua vez, a unidade de análise incorporada
envolve unidades de análise originadas em diferentes níveis. Esse tipo de unidade permite a
compreensão detalhada dos fenômenos e é escolhido quando existe a necessidade de
compreensão de vários níveis (Guetterman and Fetters 2018). As unidades de análise podem
ser, nesse caso, a percepção de diretores sobre a implementação de um programa em uma escola
específica.
Por último, no tocante ao número de casos, tem-se o estudo de caso único e de casos
múltiplos. Nos próximos subtópicos serão apresentados os preceitos e a conduta de cada um
deles.
Quadro 2 - Escolhas envolvendo o estudo de caso
Características
Descrição
Propósito
Instrumental
Caso representa um fenômeno de interesse
Intrínseco
Caso representa uma situação única ou importante, tornando o próprio
caso de interesse primário
Unidades de Análise
Holístico
A unidade de análise é de nível global
Incorporado
As unidades de análise vêm de vários níveis
Número de Casos
Único
Seleciona caso crítico relevante, caso incomum, caso comum, caso
revelador ou caso longitudinal
Múltiplo
Seleciona casos para comparar e contrastar
Fonte: Adaptado de Guetterman e Fetters (2018, p. 5).
3.1 Estudo de Caso Único
A amostragem por caso único implica fazer um estudo em profundidade de um único
caso. O caso pode ser simples (uma pessoa, um processo jurídico) ou complexo (uma
comunidade, um setor criativo) (Pires 2014). A escolha do caso deve considerar alguns
critérios: a pertinência em relação ao problema de pesquisa; suas qualidades intrínsecas (sua
“riqueza”); sua tipicidade (aquilo que num determinado domínio é típico, que constituiu uma
espécie de microcosmo do mais amplo domínio do qual faz parte); a possibilidade de aprender
com o caso; o seu interesse social; as oportunidades que ele oferece para entender certos
aspectos da vida social e, por fim, sua acessibilidade à investigação (Pires 2014).
O estudo de caso único pode ser conduzido como introdução a um estudo mais apurado,
como um mecanismo exploratório, ou na condução de caso-piloto, primeiro de um estudo de
casos múltiplos. Ademais, para (Yin 2015) o estudo de caso único é apropriado em três
principais circunstâncias:
a) Caso decisivo: quando o objetivo é testar uma teoria bem-formulada. Tal teoria
especificaria um conjunto de proposições, assim como as circunstâncias nas quais se
acredita que as proposições sejam verdadeiras. Visando confirmar, contestar ou
estender a teoria, deve existir um caso único, que satisfaça todas as suas condições
necessárias. Assim, "o caso único pode, então, ser utilizado para determinar se as
proposições de uma teoria são corretas ou se algum outro conjunto alternativo de
explanações possa ser mais relevante" (Yin 2015, p. 62).
b) Caso raro ou extremo: ocorre quando não existem muitas situações semelhantes para
que sejam feitos estudos comparativos (Cesar 2005). Esse caso depende fortemente dos
agentes e das instituições envolvidas, do contexto e de fatores causais que não podem
ser previstos a partir da recorrência a padrões de normalidade e regularidade típica da
análise estatística. Nesse caso, a pesquisa precisa partir da premissa de não-
variabilidade para explicar mais profundamente o fenômeno estudado (Rezende 2011).
c) Caso revelador: ocorre quando a pessoa que está pesquisando tem a oportunidade de
observar e analisar um fenômeno previamente inacessível à investigação científica. De
outra forma, ocorre quando "pesquisadores têm oportunidades semelhantes e podem
desvendar alguns fenômenos predominantes previamente inacessíveis aos cientistas, as
condições justificam a utilização de um estudo de caso único, tendo como base sua
natureza reveladora" (Yin 2015, p. 63).
As amostras de caso único podem ser baseadas em ator, meio ou acontecimento (Pires
2014).
As amostras de ator são comumente usadas em pesquisas biográficas, consistem
em um conjunto de dados que se constitui em torno de uma pessoa ou de uma
família.
As amostras de meio podem ser de um meio geográfico ou institucional, como
uma cidade, um setor cultural, uma política pública, uma organização etc.
As amostras de acontecimento ou enredo tomam como ponto de fundamentação
empírica um acontecimento que é pouco frequente: um escândalo, uma crise,
um incidente, um embate moral etc. Nesse caso, tem-se o critério da atipicidade:
casos desviantes, que se comportam de forma muito diferente em relação aos
demais dentro de um domínio em estudo.
Como principal fragilidade do estudo de caso único pode-se destacar a vulnerabilidade
em potencial, isto é, o caso pode, mais tarde, acabar não sendo o que se pensava que fosse.
Como forma de evitar esse problema, duas considerações devem ser satisfeitas: esse tipo de
estudo exige uma investigação cuidadosa do caso em potencial para minimizar as chances de
uma representação equivocada e para maximizar o espaço de coleta de evidências e; não se
comprometer com o caso único até que todas as preocupações maiores sejam neutralizadas
(Yin 2015).
3.2 Estudo de Casos Múltiplos
A amostragem por casos múltiplos é utilizada quando o objetivo demanda construir um
panorama, uma visão de conjunto ou um retrato global de um problema ou situação (Pires
2014). Desse modo, a partir da observação comparada de múltiplos casos, os cientistas sociais
podem compreender e explicar mais profundamente os comportamentos e ações de agentes,
instituições e coletividades situadas em determinados contextos (Rezende 2011). Como
consequência, os estudos de casos múltiplos podem ampliar a confiabilidade dos resultados por
meio da replicação do estudo de caso para uma maior quantidade de casos. Assim, eles possuem
a vantagem de serem mais convincentes e serem vistos como mais robustos (Yin 2015),
oferecendo validade externa aprimorada (Voss, Tsikriktsis, and Frohlich 2002).
Cabe destacar que os estudos de casos múltiplos não implicam na lógica da amostragem
estatística, no qual se busca representar estatisticamente o universo. De acordo com Yin (2015),
a escolha dos casos deve ser discricionária e depende do grau de veracidade que se quer ter
sobre os resultados. Assim, os casos devem ser selecionados com base em amostragem teórica,
considerando suas adequações particulares visando entender relações e lógicas entre construtos
(Eisenhardt and Graebner 2007; Siggelkow 2007).
Um dos critérios que orientam a seleção dos casos é o da diversificação, com a
finalidade de incluir a maior variedade possível (Pires 2014). A diversificação pode ser de duas
formas:
externa (intergrupo) ou contraste: se aplica quando a finalidade é apresentar um retrato
global ou contrastar um leque de casos variados. Por exemplo, no estudo sobre como
os municípios se apropriaram do conceito de economia criativa para orientar as políticas
públicas locais, Aguiar et al. (2022) escolheram três municípios que se diferenciavam
quanto à posição que ocupavam no ranking de cidades criativas. Com isso, foi possível
identificar as estratégias de cada município e os resultados alcançados, oferecendo uma
visão geral de um grupo heterogêneo. Trata-se, assim, de garantir na amostra a presença
de ao menos um representante de cada grupo pertinente em relação ao objeto de
investigação.
Interna (intragrupo): usada quando pretende-se apresentar um retrato global sobre uma
situação dentro de um grupo homogêneo. Por exemplo, em estudo sobre as dinâmicas
relacionais no setor da música, Lima, Ruiz e Steffen (2020) investigaram a
representação desse grupo de agentes quanto à sua identidade. Aqui, o primeiro critério
é a homogeneidade da amostra: somente membros do setor da música são admissíveis;
em seguida, deve-se ter em conta a diversificação interna do grupo: gênero, raça, região,
idade, escolaridade etc. Trata-se, então, de um estudo em profundidade de um grupo
restrito.
Outro critério que orienta a seleção de casos nesse tipo de amostragem é o da saturação,
quando se julga que os últimos dados coletados (documentos, entrevistas, observações) não
trazem mais informações novas ou diferentes para justificar uma ampliação do material
empírico. Ou ainda, quando a adição de novos casos deixa de agregar para a compreensão do
fenômeno em estudo. Desse modo, a saturação indica o momento de parar de inserir casos na
amostra ou de coletar dados.
Em relação aos tipos, a amostra por casos múltiplos pode ser por contraste, por
homogeneização, por contraste-aprofundamento ou contraste-saturação.
Por contraste, o objetivo é permitir a comparação, portanto, se trata de garantir a
presença de ao menos um representante de cada grupo pertinente em relação ao objeto
de investigação.
Por homogeneização, quando a intenção é estudar um grupo relativamente homogêneo:
empreendedores culturais das artes cênicas, gestores municipais da cultura ou uma
comunidade religiosa. Nesse tipo, portanto, se aplica o critério da diversificação
interna: tornar os informantes mais diversos dentro do grupo. O propósito é descrever
a diversidade interna de um grupo.
As amostras por contraste-aprofundamento são aplicadas ao estudo coletivo de casos
com o propósito de comparar dois ou três casos de um meio social diferente. Por
exemplo, na pesquisa já mencionada de Aguiar et al. (2022), os três municípios
selecionados, além de estarem numa posição diferente no ranking de cidades criativas,
tinham diferentes características como população, IDH e estado da federação.
As amostras por contraste-saturação acumulam vários casos e consideram poucos
dados para cada um. Essa amostragem permite a construção de casos-tipo, ou seja, a
criação de uma tipologia derivada da agregação dos casos considerados homogêneos.
4. Instrumentos de coleta de dados
Na pesquisa social, a aplicação de questionários e entrevistas são meios bastante
utilizados para coletar dados. Essas duas formas de extrair dados primários do contexto
empírico são definidas como instrumentos de coletas de dados distintos. A escolha, o
planejamento e a preparação desses instrumentos são dependentes da delimitação da pergunta
de pesquisa, e da especificação do contexto teórico e empírico.
O uso de questionários na pesquisa social consiste na aplicação de “uma técnica de
investigação composta por um número mais ou menos elevado de questões apresentadas por
escrito às pessoas, tendo por objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos,
interesses, expectativas, situações vivenciadas etc.(Gil 1989, p. 24). Já o uso de entrevistas
como instrumento de coleta de dados consiste em um modo de comunicação em que a
informação é transmitida de uma pessoa para outra, incluindo uma que assume o papel de
emissora das informações e outra, o papel de receptora. As entrevistas, portanto, são um modo
de comunicação bilateral que “refere-se ao ato de perceber realizado entre duas pessoas
(Richardson et al. 1999, p. 208). Assim, a entrevista qualitativa segue um formato
conversacional, que permite que haja mais interação entre a pessoa que está realizando a
pesquisa e a pessoa que está provendo as informações (Yin 2016).
Ressalta-se que a aplicação desses instrumentos exige o consentimento da pessoa
respondente, a qual deve formalizar sua disposição de participar da pesquisa por meio do
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Conselho Nacional de Saúde 2012). Tal
documento deve apresentar todas as informações sobre a pesquisa em linguagem objetiva e
acessível, como objetivos, responsáveis e formas de contato, forma de armazenamento e uso
das informações, anonimato, forma de registro da entrevista (gravação), dentre outras. A
permissão para participar da pesquisa deve ser dada antes da aplicação do instrumento de coleta
de dados.
A seguir, apresentaremos os preceitos estruturantes e condutas do uso de questionários
e de entrevistas como instrumentos de coleta de dados em pesquisas qualitativas.
4.1 Questionário
O questionário busca cumprir duas funções básicas na construção do corpus da
pesquisa: descrever as características de um grupo social e mensurar as variáveis desse grupo.
Ele pode ter um número variado de perguntas sobre um ou mais tópicos, sendo essa definição
atrelada aos objetivos de pesquisa e às condições do contexto empírico. Por meio do
questionário é possível, por exemplo, observar as características do grupo social escolhido,
como os marcadores sociais de gênero, faixa etária, escolaridade, orientação sexual, entre
outros. Dessa forma, esse instrumento tem por função medir variáveis individuais ou grupais,
podendo ser composto por questões unidimensionais (perguntas múltiplas, na forma de escalas
ou abertas) (Richardson et al. 1999).
Os questionários podem ser classificados conforme o tipo de pergunta e conforme o seu
modo de aplicação. Quanto ao tipo de pergunta, há três categorias de questionários:
a) com perguntas fechadas: são aqueles em que as alternativas de respostas são fixas e
preestabelecidas. Na elaboração dessas questões, é importante que sejam incluídas
todas as possibilidades de resposta que se possa esperar e que as alternativas sejam
excludentes (não havendo espaço para dúvida entre qual alternativa escolher por terem
o mesmo significado ou sentidos próximos).
b) Com perguntas abertas: são aqueles que permitem que as respostas sejam dadas na
forma de frases ou orações. Assim, a responsabilidade pela elaboração integral das
respostas é da pessoa respondente.
c) Combinação entre perguntas fechadas e abertas: usado quando o objetivo é aprofundar
opiniões e/ou ampliar o escopo de achados. A inclusão da opção ‘outros’, por exemplo,
provê respostas ainda não identificadas e pode auxiliar na adequação das opções para
respostas de perguntas fechadas.
Quadro 2 - Tipos de perguntas e exemplos
PERGUNTAS FECHADAS
Alternativas dicotômicas
Exemplos:
Sim - Não.
Verdadeiro - Falso.
Certo - Errado.
Concorda - Discorda
Respostas múltiplas
Exemplo:
( ) Manhã.
( ) Tarde.
( ) Noite.
Alternativas hierarquizadas
Exemplo:
( ) Nunca.
( ) Ocasionalmente.
( ) Frequentemente.
PERGUNTAS ABERTAS
Todas as respostas são
válidas.
Exemplo:
Qual é a sua ocupação
principal?
……………………………..
Perguntas abertas e fechadas
São oferecidas opções de
respostas com base no tema
da pergunta.
Exemplo:
Qual o tipo de programa de
TV é de sua preferência?
( ) Noticiários.
( ) Esportivos.
( ) Humorísticos.
( ) Outros: ………………..
Fonte: adaptado de Richardson (1999), p. 191-193.
Existem temas que podem ser abordados por perguntas fechadas, pois podem ser
limitados a algumas poucas alternativas. Porém, há outros que não podem ser classificados em
uma quantidade limitada de categorias. O quadro 3 apresenta algumas vantagens e
desvantagens de cada tipo de pergunta.
Quadro 3 - Vantagens e desvantagens de perguntas abertas e fechadas
Vantagens
Desvantagens
As respostas são mais fáceis de codificar.
Dificuldade em proporcionar todas as
alternativas possíveis, fazendo com que a
pessoa entrevistada escolha entre
alternativas que não correspondem
necessariamente à sua maneira de pensar.
O(A) entrevistado(a) não precisa formular
uma resposta.
A pessoa respondente pode ficar impaciente
e assinalar a primeira alternativa para que o
questionário termine o mais cedo possível.
Preenchimento menos cansativo.
Não há possibilidade de coletar detalhes e
nuances na resposta oferecida.
Torna mais provável a devolução do
questionário preenchido.
Pode resultar em um número grande de
respostas a serem codificadas.
Vantagens
Desvantagens
Propicia maior liberdade de resposta.
Dificuldade de classificação e codificação.
possibilidade de explorar detalhes e
nuances da resposta.
O fato de algumas pessoas terem mais
facilidade para escrever que outras pode
dificultar a interpretação.
Pode incentivar uma resposta mais fidedigna
com a realidade, por dar mais espaço ao
pensamento da pessoa respondente.
Maior tempo é demandado para o
preenchimento.
Fonte: adaptado de Richardson (1999, p. 194-196).
Quanto ao modo de aplicação, os questionários podem ser aplicados mediante contato
direto com as pessoas respondentes, pelo(a) próprio(a) pesquisador(a) ou por pessoas treinadas
por ele(a), ou, podem ser preenchidos pela própria pessoa entrevistada. O contato direto para o
preenchimento permite uma maior interação e explicação da pesquisa e evita o não
preenchimento do questionário. Outra forma de aplicação do questionário é pelo envio deste e
de suas instruções pelo correio ou por e-mail, atribuindo um tempo hábil entre a entrega e a
devolução. Essa forma permite que sejam incluídos na pesquisa um grande número de pessoas
de localidades diferentes. Porém, há uma baixa taxa de devolução dos questionários enviados.
A elaboração do questionário deve levar em conta que este não deve estender-se em
demasia, normalmente algo entre trinta minutos e uma hora, a depender do formato de
aplicação. Também deve levar em conta que os tópicos incluídos devem ter um motivo para
estarem ali e que é necessário o direcionamento para um público-alvo - isso permite (a)o
pesquisador(a) se prover de maior conhecimento sobre as características e interesses desse
público, facilitando o entrosamento entre ambos. Ao planejar o questionário, é necessário,
também, levar em conta o tipo de análise que se pretende realizar com os dados que serão
obtidos. Richardson (1999), indica algumas considerações importantes para a preparação do
questionário:
1. Deve-se determinar qual é o interesse da pesquisa;
2. É importante ter em mente as hipóteses que servirão de base para a formulação das
perguntas, para que as perguntas estejam ligadas aos objetivos do trabalho;
3. Estabelecer um roteiro de perguntas para o questionário;
4. Fazer a redação das perguntas; e,
5. Preparar os elementos adicionais ao questionário (apresentações, instruções e
agradecimentos).
Há ainda outros cuidados a serem tomados na elaboração das perguntas: somente incluir
perguntas que visem atender aos objetivos da pesquisa; utilizar vocabulário sem termos
técnicos; evitar unir duas perguntas em uma; evitar perguntas que geram racionalizações (por
que você fez isso?), as perguntas devem versar sobre os fatos: quando isso aconteceu? Como
isso aconteceu? Qual foi sua reação?; adequar as perguntas às possibilidades do(a)s
entrevistado(a)s e evitar perguntas que sejam difíceis de serem respondidas; dar preferência a
itens curtos, que possam ser lidos e compreendidos rapidamente; evitar perguntas negativas e;
não incluir perguntas direcionadas a ‘resposta certa’ ou pretendida.
Quanto à ordem dinâmica do questionário, pode-se iniciar com as questões que não são
voltadas à problemática da pesquisa (como perfil e trajetória), seguidas daquelas que estão
relacionadas de forma mais geral. Na sequência, podem ser incluídas as perguntas que formam
o núcleo do questionário (mais complexas ou emocionais). E, finalmente, as perguntas mais
fáceis.
Como outros instrumentos de pesquisa, o uso de questionários apresenta vantagens e
desvantagens. Entre as vantagens estão: o questionário pode coletar informações de muitas
pessoas simultaneamente; apresenta certa uniformidade nas informações, visto que todos o(a)s
entrevistado(a)s recebem as mesmas informações; as pessoas se sentem mais livres para
responder, em caso de questionários anônimos e; a tabulação dos dados é facilitada. Entre as
desvantagens, podemos citar: muitas vezes não são obtidas respostas de todos os questionários,
o que pode introduzir vieses na amostra; não há como se certificar que as respostas
correspondem à realidade, e; a confiabilidade é questionada, visto que as respostas dos
indivíduos podem mudar com o tempo.
4.2 Entrevista
A entrevista é uma técnica de coleta de dados empregada quando o objetivo é obter uma
descrição detalhada de um meio social específico (Gaskell 2002). Para tanto, ela permite o
desenvolvimento de uma relação entre as pessoas, a emissora da informação e a receptora,
desse modo, o processo de comunicação é bilateral e o entendimento é construído na interação.
Com efeito, a elaboração de questões adequadas exige conhecimento prévio sobre as pessoas
respondentes e sua linguagem.
A preparação e o planejamento da entrevista demandam que a/o pesquisador/a já tenha
desenvolvido a pergunta de pesquisa, bem como delimitado o contexto teórico com a
identificação dos conceitos centrais. Esses são os elementos que guiarão a elaboração das
questões. De acordo com essas escolhas, o planejamento da entrevista envolve definir o que
será perguntado (tópico guia) e a quem perguntar (seleção dos entrevistados) (Gaskell 2002).
O tópico guia é a agenda de quem está realizando a pesquisa, ou seja, a lista de temas
em foco, a qual é construída a partir do contexto teórico, de evidências empíricas de estudos
relacionados, de dados coletados por meio de observação e/ou conversas preliminares com
pessoas relevantes. A finalidade última deste guia é dar conta dos objetivos de pesquisa. Ele
não deve ser extenso, cabendo em uma página, e funciona como um lembrete dos pontos que
devem ser perguntados na ocasião da entrevista. Importante frisar que é boa prática de pesquisa
fazer perguntas apropriadas e relevantes para atender o objetivo da pesquisa, evitando solicitar
informações desnecessárias e/ou cuja utilização seja incerta.
Na condução da entrevista, é importante construir uma boa relação com a pessoa
respondente, isso envolve oferecer incentivos para que reflita sobre os tópicos demandados de
forma tranquila e fluida, sem sobressaltos e mudanças bruscas de assunto. Nesse sentido,
recomenda-se iniciar por um ‘aquecimento’ guiado por perguntas mais gerais como: quando
você começou a trabalhar aqui? ou fale um pouco sobre sua trajetória profissional. É
interessante abordar o assunto de pesquisa iniciando por um campo conhecido do respondente,
e no decorrer da entrevista intercalar as fases “informativas” com aquelas em que a pessoa
entrevistada se coloque a falar de si.
Em relação ao registro, as entrevistas devem ser gravadas. A gravação permite que
sejam captadas integralmente todas as palavras - com a possibilidade de escutar em repetição -
e fornece um volume muito maior de informações (Beaud and Weber 2007). Frisa-se que é
sempre necessário solicitar autorização para gravar.
“O tópico guia é parte vital do processo de pesquisa e necessita atenção detalhada. Por detrás
de uma conversação aparentemente natural e quase casual encontrada na entrevista bem-
sucedida, está um entrevistador muito bem preparado. Se forem feitas perguntas inadequadas,
então não apenas foi desperdiçado o tempo do entrevistado, mas também o do entrevistador”
(Gaskell 2002, p.66).
Em relação à seleção das pessoas entrevistadas, deve-se ter em mente que o propósito
da pesquisa qualitativa “não é contar opiniões ou pessoas, mas ao contrário, explorar o espectro
de opiniões, as diferentes representações sobre o assunto em questão'' (Gaskell 2002, p. 68).
Nesse sentido, deve-se buscar cobrir toda a gama de pontos de vista, o que demandará levar
em consideração como o meio social pode ser segmentado em relação ao tema. Ainda, quanto
ao número de entrevistas, considerar: (i) o ponto de saturação, quando novas informações já
não mais aparecem nas entrevistas; (ii) o tamanho do corpus que será analisado, pois a
transcrição de uma entrevista pode ter até 15 páginas, e o tratamento e análise desse material
exigirá tempo e dedicação.
Por fim, em relação aos tipos, as entrevistas podem ser:
- Estruturadas: entrevista guiada por roteiro estruturado que se assemelha a um questionário,
com uma lista de perguntas com ordem determinada.
- Não-estruturadas: entrevista guiada por uma lista de pontos a serem discutidos, a interação é
conduzida como uma conversa sobre determinado tema, onde os tópicos são tidos como
referência.
- Semiestruturadas: combina perguntas estruturadas com tópicos de conversação.
- Narrativas: aplicada principalmente no contexto da pesquisa biográfica, na qual a coleta de
dados é feita pela narrativa do curso de determinado evento relatada pelo(a) entrevistado(a).
- Episódicas: parte da consideração de que as experiências do(a)s entrevistado(a)s estejam
armazenadas e sejam relatadas de forma organizada e próxima da realidade. O interesse é em
momentos específicos da vida do(a) entrevistado(a) (Flick 2009), o qual é “insistentemente
solicitado a repetir a apresentação de narrativas de situações ou série de situações” (Moura and
Rocha 2017, p. 168).
5. Análise de Dados: análise de conteúdo e de discurso
Existem diferentes tipos de análise que podem ser empregadas na interpretação dos
dados de pesquisa, nesse tópico abordaremos dois tipos frequentemente utilizados no âmbito
da perspectiva qualitativa: a análise de conteúdo e a análise de discurso. De acordo com
Gonçalves (2016) as análises de discurso e de conteúdo podem ser compreendidas como duas
modalidades de interpretação de textos e que, portanto, a escolha por uma ou outra está
relacionada aos propósitos de quem está realizando a pesquisa, do campo de pesquisa e, por
isso, tal escolha afetará a delimitação das técnicas de pesquisa.
Em termos de definição conceitual, a principal diferença entre as duas modalidades de
interpretação de dados está na forma como cada uma delas conceitua o seu objeto de análise.
Enquanto na análise de conteúdo os dados representam informações quantificáveis como
tradução de um assunto, para a análise de discurso os dados ilustram não só o conteúdo, mas
os sentidos dados a eles (Gonçalves 2016).
Conforme veremos a seguir, a análise de conteúdo e a análise de discurso possuem uma
definição própria, trabalham com textos como dados (documentos, discursos, relatórios, entre
outros tipos) e cada uma oferece uma conduta de análise específica a ser assumida pela pessoa
pesquisadora. Os processos empregados nas condutas de análises, por sua vez, também passam
por adaptações de acordo com as referências escolhidas. Essas adaptações acabam por
constituir diferentes tipos de estilos de análise de conteúdo e de discurso.
Com base nessa introdução, nos próximos tópicos, apresentaremos as duas modalidades
de interpretação de texto (de conteúdo e de discurso) e abordaremos em profundidade um estilo
específico de cada uma delas (a análise de conteúdo clássica e análise crítica de discurso)
examinando suas definições, preceitos e conduta de análise.
5.1 Análise de conteúdo
As origens das definições sobre análise de conteúdo possuem grandes traços da
perspectiva positivista, desde sua primeira definição fornecida por Berelson (1954, p. 489), em
que a delineia como “uma técnica de pesquisa para a descrição objetiva, sistemática e
quantitativa do conteúdo manifesto da comunicação”. Com essa definição, a análise de
conteúdo foi, por muito tempo, interpretada como uma forma de garantir a quantificação de
informações extraídas de qualquer tipo de texto.
No entanto, com o progressivo emprego da modalidade e com a virada paradigmática
sobre as funções da análise qualitativa de dados, outras considerações foram surgindo e
incrementando a definição, como a de Richardson (1999, p. 223) que avança nos processos de
emprego da análise, descrevendo-a como uma “um conjunto de instrumentos metodológicos
cada dia mais aperfeiçoados que se aplicam a discursos diversos”. Assim, a análise de conteúdo
deixou de servir apenas como uma forma de contagem da presença, ausência ou repetição de
termos gramaticais em textos e passou a se estruturar como uma modalidade de análise, com
procedimentos próprios e baseados em definições.
Símbolo dessa virada argumentativa sobre a análise de conteúdo é a definição de Bardin
(2011), que demarca a modalidade como um “conjunto de técnicas de análise das
comunicações”. Todo tipo de comunicação que representa a troca de significados entre uma
pessoa emissora e outra pessoa receptora pode ser objeto da análise de conteúdo: os dados
coletados em entrevistas, as informações de um texto, os anúncios em revistas e jornais, entre
outros dados.
De acordo com Ander-Egg (1982), o propósito consolidado da análise de conteúdo
deriva dos primeiros postulados de Berelson (1984), ainda que passível de adaptação de acordo
com a escolha teórica ou dos estilos resultantes dela. Portanto, os desenhos de pesquisa que se
utilizam da análise de conteúdo podem buscar por (i) respostas de problemas relacionados às
características do conteúdo; (ii) relacionados à produção ou causa do conteúdo ou (iii) aos
efeitos do conteúdo. De acordo com Ander-Egg (1982, p. 6), as principais narrativas
consideradas nas análises de conteúdo dividem-se em três preceitos:
1. Narrativa da análise das características do conteúdo, que serve para: a)
descrever tendências no conteúdo da comunicação; b) reduzir diferenças
internacionais no conteúdo da comunicação; c) comparar níveis de
comunicação; d) construir e aplicar meios de comunicação ordinários; e) ajudar
a outras operações de investigação; f) expor técnicas de propaganda; g)
materiais de comunicação; h) estudos de estilos de comunicação; entre outras.
2. Narrativa da análise da produção ou causa do conteúdo: a) identificar intenções
e outras características dos atores; b) determinar o estado psicológico de pessoas
e grupos; c) detectar a existência de propaganda; entre outras.
3. Narrativa de análise dos efeitos do conteúdo: a) examinar atitudes, interesses e
valores dos grupos ou atores; b) revelar focos de atenção; c) descrever as
respostas atitudinais e de conduta dos atores diante das comunicações; entre
outras.
Assim sendo, a análise de conteúdo é uma modalidade de análise de comunicações em
diferentes tipos de dados (May 2004), que integra um conjunto de técnicas, e que pode assumir
estilos diferentes. Os diferentes tipos de dados são vastos, incluindo todo universo de produtos
em imagem, texto e som. As técnicas, por sua vez, possuem diferentes formas e podem ser
adaptadas a um campo muito vasto - as comunicações. Os estilos, conforme abordado na
introdução desse tópico, são o resultado das adaptações decorrentes das referências escolhidas.
Alguns estilos de análise de conteúdo são: a análise de codificação teórica, análise de
codificação temática, a análise qualitativa do conteúdo, a análise global de conteúdo, análise
de conteúdo clássica, entre outros (Bauer 2002a; Gonçalves 2016). Nesse tópico,
aprofundaremos na definição, nos preceitos e na conduta de análise a conteúdo “clássica”
(Bauer 2002a). De acordo com Bauer (2002a, 191), uma das principais potencialidades da
análise de conteúdo clássica (ACC) é a de “mediar [a] improdutiva discussão sobre virtudes e
métodos”, já que ela pode ser uma técnica híbrida que auxilia tanto na produção de quantidades
informativas, quanto de informações qualitativas sobre os conteúdos.
Em linhas gerais, o objetivo da ACC segue o da modalidade de análise de conteúdo, no
entanto, de forma mais específica, objetiva utilizar o texto como foco de análise para relacioná-
lo ao contexto social de forma categorizada (Bauer 2002a). Neste estilo, a análise pode estar
centrada em analisar a influência de um público na conformação de um conteúdo (foco na
fonte) ou analisar os efeitos de um conteúdo em um determinado público (foco no público).
Independente da escolha do foco, este imprescindivelmente será analisado em relação ao
contexto social no qual está inserido.
Portanto, as análises de conteúdo com foco na fonte, estão voltadas a examinar as fontes
(textos, tributos textuais, registros de eventos, regras e normas, entretenimentos, conflitos,
conversação e arguição) com a pretensão de construir, por exemplo, indicadores de
cosmovisões, atitudes, opiniões, preconceitos, estereótipos etc. e, ainda, compará-los entre
comunidades ou outros grupos. Um exemplo de análise de conteúdo com foco na fonte pode
ser aquela que, com base em capas de revistas e jornais, chamadas em websites, busca
compreender como determinado assunto ou temática é conformado por um imaginário daquele
contexto social no qual ele foi construído e é divulgado. Com isso, compreendemos que as
características do público influenciaram na construção da fonte (conteúdo). Assim, se o
objetivo da pesquisa é examinar como mulheres que assumem cargos de representação política
são retratadas em imagens e textos de jornais e revistas, em comparação a homens que assumem
os mesmos cargos, nos centraremos em identificar características do contexto social que podem
explicar essa diferenciação de conteúdo.
Na segunda forma de fazer análise de conteúdo, o foco pode estar no público e o texto
é compreendido como “meio de apelo” àquele público. Por isso o conteúdo é entendido como
o texto (ou outro artefato) que influencia os preconceitos, opiniões, atitudes e estereótipos das
pessoas, eles deixam de refletir características da criação (como quando o foco é a fonte) e
passa a assumir uma performance de “força sedutora” (Bauer 2002a). Um exemplo de análise
de conteúdo que tem como foco o público são aquelas análises de propagandas, comerciais e
demais peças publicitárias que aumentam ou diminuem a adesão de um público a determinado
produto ou serviço. Nesse sentido, a fonte (conteúdo) é peça chave para explicar as
características ou comportamentos de um público.
Para o emprego da ACC, independente da temática investigada, a conduta da análise é
baseada em procedimentos pré-definidos e organizados em duas dimensões: sintática e
semântica. Na dimensão sintática, são realizados os procedimentos que objetivam compreender
como algo é dito ou escrito, em por isso, podem variar entre: analisar a frequência das palavras
e sua ordenação, os vocabulários, os tipos de palavras e as características gramaticais e
estilísticas. Na dimensão semântica são realizados os procedimentos que buscam compreender
os sentidos conotativos em um texto, ou seja, “o que é dito em um texto?”, podendo organizar
buscas por palavras, sentenças e unidades de texto, classificando-as como exemplos de temas
e avaliações. Essas duas dimensões de procedimentos sob um corpus de texto possibilita a
construção de possíveis inferências e conjecturas de pesquisa e elas estão presentes na conduta
de pesquisa que segue pelo menos quatro etapas.
Na primeira etapa de execução da ACC são delineadas as considerações teóricas e os
textos que constituem o corpus de pesquisa. Na segunda etapa é realizada a definição das
unidades de texto que serão utilizadas, possibilitando o delineamento de uma amostragem. Em
terceiro lugar são delimitadas as categorias utilizadas como referência da codificação do
conteúdo. Na última etapa, são explorados os resultados da codificação do conteúdo, tomando
como pressuposto a coerência entre objetivos de pesquisa e os preceitos da ACC, a
transparência da conduta de análise, a fidedignidade e a validação (Bauer 2002a, p. 193).
A análise de conteúdo é, portanto, uma modalidade de recompilação de informações
que nos permite estudar o conteúdo de uma comunicação, classificando suas diferentes partes,
conforme as categorias estabelecidas previamente pela pessoa que está realizando a pesquisa,
em combinação com a teoria escolhida (Bauer 2002b). Os estilos são baseados em preceitos
semelhantes à análise de conteúdo clássica. Ainda, independente do estilo empregado, a
conduta de análise segue os procedimentos pré-definidos em cada estilo.
5.2 Análise de discurso
A análise de discurso surgiu no final da década de 60 com o intuito de superar análise
de materiais documentais centradas no conteudismo (Gonçalves 2016). A definição inicial de
análise de discurso informa que ela é envolvida pelo sentido, e não exclusivamente pelo
conteúdo. Mais do que isso, considera-se que o sentido, por sua vez, não é uma mera tradução
de informações, mas uma produção social (Gonçalves 2016).
O pressuposto da análise de discurso é que o plano discursivo está em constante relação
com o campo social, isso significa que os conteúdos encontrados nos materiais não expressam
apenas informações sobre temáticas específicas, mas os valores, as impressões, interesses e
preocupações dos atores envolvidos. Por isso, as análises de discurso extrapolam o exame da
estrutura formal de palavras, investindo na organização dessa estrutura e na contextualização
das interações que a produzem.
Conforme relata Bauer (2002b), nos últimos anos houve um crescimento extraordinário
de pesquisas que se utilizam da análise de discurso para a produção de seus resultados, Tal
crescimento pode se justificar por duas vias: como uma “manifestação da virada linguística que
ocorreu nas ciências humanas e sociais” e pela característica metodológica da análise de
discurso (Gonçalves 2016, p. 245).
Em decorrência do acúmulo de resultados científicos que se utilizaram a análise de
discurso, é possível distinguir duas tendências do seu uso em pesquisa social. Uma das
tendências é influenciada pela tradição de estudos comprometidos com a ideia semiológica de
que o sentido dos trechos dos textos não derivam necessariamente da relação entre significante
e significado, mas do sistema de oposição no qual este está inserido, ou seja, dos valores,
interesses e ideias que performam naquele contexto de significados. Nesses trabalhos se
assume, portanto, que o que está escrito gramaticalmente, não necessariamente é descrito pelo
sentido atribuído àquilo, mas ao contexto no qual ele foi produzido. Assim são os estudos que
trabalham com a relação entre linguagem e política, por exemplo, aqueles que buscam produzir
informações sobre os interesses em disputa na definição de agendas de políticas, dinâmicas de
votação de legislações, relações de mídia e política, entre outras temáticas.
Outra tendência de análises é aquela que incorpora a tradução da etnometodologia e de
análise de conversação, as quais pouco validam a narrativa isolada, ou os trechos discursivos, mas
evidenciam a pretensão por trás das escolhas das palavras utilizadas em um discurso, ou seja,
naquilo que a narração pretende conseguir. Nessa linha são produzidos os trabalhos que versam
sobre os valores que influenciam a tomada de decisões, por exemplo.
Como podemos perceber, diferentemente da análise de conteúdo que tem por objetivo
reduzir e simplificar o conteúdo de um texto, na análise de discurso, o conteúdo se torna ainda
mais complexo, aumentando, consequentemente, a quantidade de informações (Gonçalves
2016). Na análise de discurso a pretensão é de que os resultados encontrados na pesquisa
possam extrapolar a categorização do conteúdo e a organização dos elementos gramaticais.
Assim, o emprego desse tipo de análise está centrado na produção de informações que
expressam os interesses em disputa em determinado contexto, os valores paradigmáticos
empregados em diferentes contextos e por diferentes atores, entre outras tantas possibilidades
congruentes aos estilos de análise de discurso empregados.
Diferentes preceitos podem influenciar os estilos de análise de discurso, mas existe um
pressuposto comum compartilhado por todos: os textos são compreendidos por estruturas não
neutras que servem como referência tanto para uma análise linguística quanto para a
interpretação de determinada realidade social. O que todos os estilos têm em comum é que
interpretam os dados como artefatos produzidos socialmente, e não como uma tradução da
realidade social.
Em um estudo de 2005, Martin Bauer (Bauer 2005) realizou uma contagem de pelo
menos 57 variedades de estilos de análise de discurso. Ou seja, existem estilos diferentes, com
enfoques variados, a partir de diversas tradições teóricas, alguns deles são: a análise crítica de
discurso, análise de conversação, análise de discurso, análise de gênero, análise narrativa e de
hermenêutica (Gonçalves 2016). Esses estilos partilham a ideia de que a linguagem reflete e
descreve a importância do discurso na vida social (Gill 2002, p. 244). Um estilo específico
desenvolvido por Rosalind Gill (2005), que aprofunda esse preceito, é a análise crítica de
discurso, que enfatiza os imperativos cognitivos e normativos acionados em torno das narrativas
discursivas. Tomaremos, então, o estilo de análise crítica de discurso como referência neste
subtópico.
Assim como nos diferentes estilos de análise de discurso, o objeto de pesquisa está
atrelado diretamente à produção de discursos sobre ele. Portanto, o principal dado para o
emprego da análise crítica de discurso é o discurso em si. Pode parecer intuitivo, mas para
realizar a análise de discurso é preciso, antes de qualquer investimento, avaliar a disponibilidade
das fontes de dados. No Brasil, temos bancos de dados de transcrições de datilografias de todos os
eventos no âmbito parlamentar desde a Assembleia Geral Constituinte, esses documentos são
transcrições dos áudios e gravações das ocasiões e servem como fonte de diferentes tipos de
análises. No entanto, quando o desenho de pesquisa é conformado pelo uso de dados primários,
como a realização de entrevistas, grupos focais e observação participante, é necessário que o
registro em gravação de áudio ou vídeo seja transcrito para ser utilizado. A fidedignidade é
importante nos momentos de transcrição, assim como os silêncios, as rejeições de respostas, entre
outros instrumentos da linguagem silenciosa. Dessa forma, a análise de discursos pode ser
realizada em diversos tipos de fontes: desde escritas até as oralizadas em áudio ou vídeo, em
atas, datilografia, transcrições de entrevistas, de grupos focais, de audiências etc.
Para Gill (2005, p. 250) a análise crítica de discurso segue a conduta de análise baseada
em temas centrais: “é muito mais fácil discutir os temas centrais da análise de discurso do que
explicar como concretamente fazer para analisar textos”. Nesse sentido, a lista de temas
centrais para a análise de discurso é a seguinte:
a) perguntas condutoras da investigação: embora a análise de discurso seja crítica à
centralização que os textos e a quantificação destes podem sofrer em análises de
conteúdo, o texto ainda é o principal objeto de pesquisa da análise de discurso. Por isso,
a análise deve ser guiada por perguntas diferentes daquilo que está descrito no conteúdo
do texto, perguntas diferentes “das convencionais perguntas sociocientíficas”.
Podemos tomar como referência o exemplo dado por Gill (2005, p. 251) sobre a escolha
das perguntas condutoras:
Em uma discussão entre vegetarianos, por exemplo, o analista de discurso não
procuraria descobrir por que as pessoas implicadas deixaram de comer carne
e peixe, mas ao invés disso, estaria interessado em analisar como a decisão de
se tornar vegetariano é legitimada pelos porta vozes, ou como eles respondem
críticas potenciais, ou como eles formam autoidentidade positiva.
b) A leitura cética: fazer análise de discurso implica questionar nossos próprios pressupostos
e as maneiras como nós habitualmente damos sentido às coisas. Isso significa que muitas
vezes a pesquisa é passível de influência das mensagens passadas pelos textos, e, também,
pelo sentido que é atribuído a elas. Desse modo, nos momentos em que constatações,
inferências ou pontos de destaque são percebidos nos discursos, alguns pontos de
questionamento podem auxiliar na recondução da análise: "Por que eu estou lendo isso
dessa maneira?", "Que características do texto produzem essa leitura?", "Como ele está
organizado para se tornar persuasivo? e assim por diante” (Gill 2002, p. 253).
c) Codificação: a leitura e a releitura são práticas rotineiras para pessoas pesquisadoras e
analistas de discurso. Para que um artefato seja codificado é necessária a familiaridade com
o conteúdo colocado em discurso. Ao mesmo tempo, a excessiva familiaridade também
pode impulsionar a naturalização do discurso, fazendo com que informações importantes
não sejam percebidas.
Ilustrativamente, no estudo de Rosa (2018), cujo propósito foi investigar os imperativos
cognitivos e normativos mobilizados na definição da agenda da Política Nacional de
Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva de 2008, as inferências
produzidas sobre a perspectiva dos atores sobre as capacidades de aprendizagem dos
estudantes com deficiência foram encontradas nos discursos mobilizados nos momentos
nos quais as formas de acesso à escolarização eram pautados. Sendo assim, para
compreender os valores dos atores, foi necessário codificar os discursos relacionados a um
tema pertencente à discussão, mas não diretamente declarado como “concepção de
deficiência e ideia sobre pessoas com deficiência”, conforme o trecho a seguir:
Subjacentes às ações propostas quanto aos serviços e ao acesso, estão diferentes
concepções acerca da deficiência. Embora na segunda Reunião da Subcomissão dos
Negros, Populações Indígenas, Pessoas Deficientes e Minorias da Assembleia
Constituinte (1987) tenha havido uma breve discussão sobre a melhor terminologia
para designar as pessoas com deficiência, nas reuniões subsequentes os termos
“excepcionais”, “inválidos”, “incapazes”, “retardados”, “mongoloides”, entre outros,
continuavam a ser utilizados (Rosa 2018, p. 49).
Dessa forma, a codificação não é apenas o ato de tornar o texto um cluster de códigos a
serem interpretados, mas sim, interpretar os códigos já existentes no discurso analisado.
d) Analisando o discurso: a análise do discurso deve ter como fundamento o rigor e o fator
contextual. De acordo com Gill (2002), qualquer outro estilo de análise pode ser passível
de descartes de sua variabilidade, recortes e reformulações de focos a depender do que está
sendo coletado em dados. No entanto, o mesmo não ocorre com a análise de discurso, que
deve ser fielmente rigorosa àquilo que os dados estão oferecendo, pois não há espaço para
silenciamentos e enquadramentos na análise. Por esse motivo, o esquema utilizado na
interpretação dos dados é que deve ser robusto e maduro, “não é incomum trabalhar com
um esquema analítico por vários dias, apenas para mudá-lo, ou descartá-lo, porque a
evidência linguística não se ajusta adequadamente” (Gill 2002, p. 255). Na mesma linha, o
fator contextual impera na análise dos discursos justamente por garantir que as alterações
no sistema analítico e a sensibilidade “àquilo que não é dito - aos silêncios” (Gill 2002, p.
255) possa se manifestar na análise. O reconhecimento dos contextos políticos e culturais,
tendências e padrões, principais temáticas e objeções aos quais os textos discursivos se
referem, é fator primordial da análise e pode ser explorado uma vez que a pessoa
pesquisadora foca nas possíveis soluções de problemas empregadas nos discursos.
Os temas centrais para realização de análise de discurso sistematizados por Gill (2005)
consolidam uma conduta de análise que pode ser assumida nas pesquisas qualitativas. Em linhas
gerais, o estilo de análise crítica de discurso apresenta uma conduta preocupada em garantir a
coerência dos discursos. Para Gil (2005), analistas de discursos são capazes de contextualizar
socialmente um emaranhado de informações disponíveis e relacioná-las aos problemas e às
soluções discursivamente expostas.
Considerações finais
Este capítulo apresentou uma abordagem introdutória e não exaustiva de alguns dos
principais métodos qualitativos de pesquisa. A primeira seção apresentou problematizações a
respeito do significado da pesquisa qualitativa, identificando suas vantagens frente a outras
opções metodológicas. Fundamental nesta abordagem é o desenho de pesquisa e seus principais
elementos, como a especificação do problema de pesquisa, as necessárias delimitações, a
seleção e a escolha e aplicação do método a partir das técnicas de pesquisa disponíveis. A
fundamentação teórica é um aspecto que não pode ser negligenciado na condução da pesquisa
qualitativa. Neste sentido, alguns exemplos teóricos foram apresentados com o objetivo de
exemplificação.
A segunda seção tratou do estudo de caso, uma das principais formas de investigação
no âmbito da pesquisa qualitativa. Foram abordadas suas fases e justificativas.
A terceira seção expôs, de forma aprofundada, importantes instrumentos de obtenção
de dados: os questionários e as entrevistas. No caso dos questionários, foram apresentadas
sugestões para formulação de questões e as vantagens e desvantagens de cada tipo. Para a
subseção tratando das entrevistas foram identificados os principais tipos e estratégias, de forma
abrangente.
Por fim, a quarta seção tratou de duas formas de análise de dados: de conteúdo e de
discurso. As duas são modalidades de interpretação de textos que oferecem duas condutas
distintas de tratamento para os dados. A escolha entre uma e outra depende dos objetivos da
pesquisa.
Assim, tem-se com este capítulo uma introdução à pesquisa qualitativa que é ao mesmo
tempo abrangente e detalhada, fornecendo uma referência aos procedimentos metodológicos a
serem empregados nas investigações.
REFERÊNCIAS
Aguiar, Rafael Barbosa de and Luciana Leite Lima. 2020. “Economia Criativa e
Desenvolvimento: Uma Análise Do Desenho Da Política Pública de São José Dos
Campos (SP).” Revista de Ciências Humanas 54:1–20.
Aguiar, Rafael Barbosa de, Luciana Leite Lima, and Lizandro Lui. 2022. “Políticas
Municipais de Economia Criativa: Desenho e Promoção de Desenvolvimento.”
Brazilian Creative Industries Journal 2(2):246–77.
Ander-Egg, Ernesto. 1982. Técnicas de Investigación Social. Buenos Aires: Humanitas.
Bardin, Lawrence. 2011. Análise de Conteúdo. São Paulo: Edições 70.
Bauer, Martin W. 2002a. “Análise de Conteúdo Clássica: Uma Revisão.” Pp. 189–217 in
Pesquisa Qualitativa com Texto, Imagem e Som: Um manual prático2, edited by M. W.
Bauer and G. Gaskell. Petrópolis: Editora Vozes.
Bauer, Martin W. 2002b. “Enfoques Analíticos Para Texto, Imagem e Som.” Pp. 189–217 in
Pesquisa Qualitativa com Texto, Imagem e Som: Um manual prático, edited by M. W.
Bauer and G. Gaskell. Petrópolis: Vozes.
Bauer, Martin W. 2005. “Análise de Conteúdo Clássica: Uma Revisão.” Pp. 189–2002 in
Pesquisa Qualitativa com Texto, Imagem e Som: Um manual prático, edited by M. W.
Bauer and G. Gaskell. Petrópolis: Vozes.
Bauer, Martin W. and George Gaskell, eds. 2002. Pesquisa Qualitativa Com Texto, Imagem e
Som: Um Manual Prático. 2nd ed. Petrópolis: Vozes.
Beaud, Stéphane and Florence Weber. 2007. Guia Para a Pesquisa de Campo: Produzir e
Analisar Dados Etnográficos. 7th ed. Petrópolis: Vozes.
Berelson, Bernard. 1954. Content Analysis in Communication Research. Glencoe: The Free
Press.
Cardano, Mario. 2017. Manual de Pesquisa Qualitativa. Petrópolis: Vozes.
Cellard, André. 2014. “A Análise Documental.” Pp. 295–316 in A pesquisa qualitativa:
enfoques epistemológicos e metodológicos, edited by J. Poupart, J.-P. Deslauriers, L.-H.
Groulx, A. Laperriére, R. Mayer, and Á. P. Pires. Petrópolis: Editora Vozes.
Cesar, Ana Maria Roux Valentini Coelho. 2005. Método Do Estudo de Caso (Case Studies)
Ou Método Do Caso (Teaching Cases)? Uma Análise Dos Dois Métodos No Ensino e
Pesquisa Em Administração. Vol. 1.
Chizzotti, Antonio. 2006. A Pesquisa Qualitativa Em Ciências Humanas e Sociais.
Petrópolis: Vozes.
Conselho Nacional de Saúde. 2012. RESOLUÇÃO No 466, DE 12 DE DEZEMBRO DE 2012.
Brasília.
Creswell, John W. and Johanna Creswell Báez. 2016. 30 Essential Skills for the Qualitative
Researcher. Los Angeles: Sage Publications.
Eisenhardt, Kathleen M. and Melissa E. Graebner. 2007. “Theory Building From Cases:
Opportunities And Challenges.” Academy of Management Journal 50(1):25–32.
Flick, Uwe. 2009. “Desenho Da Pesquisa Qualitativa.” in Desenho da pesquisa qualitativa.
Porto Alegre: Artmed.
Garcia, Sandro Ruduit. 2019. “Vida Sociopolítica Em Mercados Culturais Na Cidade de
Porto Alegre.” Sociedade e Estado 34(1):23–47.
Gaskell, George. 2002. “Entrevistas Individuais e Grupais.” Pp. 64–89 in Pesquisa
Qualitativa com Texto, Imagem e Som: um manual prático, edited by M. W. Bauer and
G. Gaskell. Petrópolis: Editora Vozes.
Gil, Antonio Carlos. 1989. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. São Paulo: Atlas.
Gill, Rosalind. 2002. “Análise de Discurso.” Pp. 244–72 in Pesquisa Qualitativa com Texto,
Imagem e Som: Um manual prático, edited by M. W. Bauer and G. Gaskell. Petrópolis:
Vozes.
Goldenberg, Mirian. 2011. A Arte de Pesquisar: Como Fazer Pesquisa Qualitativa Em
Ciências Sociais. Rio de Janeiro: Editora Record.
Gonçalves, Anderson Tiago Peixoto. 2016. “Análise de Conteúdo, Análise Do Discurso e
Análise de Conversação: Estudo Preliminar Sobre Diferenças Conceituais e Teórico-
Metodológicas.” Administração: Ensino e Pesquisa 17(2):275–300.
Grønmo, Sigmund. 2019. Social Research Methods: Qualitative, Quantitative and Mixed
Methods Approaches. 2nd ed. Los Angeles: Sage Publications.
Guetterman, Timothy C. and Michael D. Fetters. 2018. “Two Methodological Approaches to
the Integration of Mixed Methods and Case Study Designs: A Systematic Review.”
American Behavioral Scientist 62(7):900–918.
Hancock, Dawson R. and Bob Algozzine. 2006. Doing Case Study Research: A Practical
Guide for Beginning Researchers. Nova Iorque: Teachers College Press/Columbia
University.
Lima, Luciana Leite, Karina Pietro Biasi Ruiz, and Mariana Willmersdorf Steffen. 2020.
“Dinâmicas Setoriais: Dinâmicas Relacionais No Contexto Da Agência Econômica No
Setor Cultural Da Música.” Pp. 100–125 in Música: estudos setoriais, edited by A. M.
Cunha, L. Peruffo, C. Cauzzi, and G. Möller. Porto Alegre: Editora da UFRGS.
Liu, Feng and Sally Maitlis. 2014. “Emotional Dynamics and Strategizing Processes: A
Study of Strategic Conversations in Top Team Meetings.” Journal of Management
Studies 51(2):202–34.
Maciel, Marcela Alvares and Simone Luz Ferreira Constante, eds. 2021. Observatório
Cultural: Cartografando a Lei Aldir Blanc No Território Gaúcho. Curitiba: Editora
CRV.
Marshall, Catherine and Gretchen B. Rossman. 2016. Designing Qualitative Research. 6th
ed. Los Angeles: Sage publications.
Martins, Barbara Calçado Lopes, José Ricardo Vitória, Magnus Luiz Emmendoerfer, and
Alexandre Sette Abrantes Fioravante. 2021. “As Mudanças Na Administração Pública e
as Políticas Culturais No Brasil.” in Políticas Públicas de Cultura, edited by J. R.
Vitória and M. L. Emmendoerfer. Salvador: Motres.
May, Tim. 2004. Pesquisa Social: Questões, Métodos e Processos. 3rd ed. Porto Alegre:
Artmed.
Moura, Flávia Almeida and Larissa Larissa Leda Fonseca Rocha. 2017. “Memória e História:
Entrevista Como Procedimento de Pesquisa Em Comunicação.” Revista Comunicação
Midiática 12(2):161–76.
Pires, Álvaro P. 2014. “Amostragem e Pesquisa Qualitativa: Ensaio Teórico e
Metodológico.” Pp. 154–213 in A pesquisa qualitativa: enfoques epistemológicos e
metodológicos, edited by J. Poupart, J.-P. Deslauriers, L.-H. Groulx, A. Laperriére, R.
Mayer, and Á. Pires. Petrópolis: Vozes.
Rezende, Flávio da Cunha. 2011. “Razões Emergentes Para a Validade Dos Estudos de Caso
Na Ciência Política Comparada.” Revista Brasileira de Ciência Política (6):297–337.
Richardson, Roberto Jarry, José Augusto de Souza Peres, José Carlos Vieira Wanderley,
Lindoya Martins Correia, and Maria de Holanda de Melo Peres. 1999. Pesquisa Social:
Métodos e Técnicas. 3rd ed. São Paulo: Editora Atlas.
Rosa, Júlia Gabriele Lima da. 2018. “O Papel Das Ideias Na Definição Da Agenda Da
Política Nacional de Educação Especial Na Perspectiva Da Educação Inclusiva (2008).”
Instituto de Filosofia e Ciência Humanas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Siggelkow, Nicolaj. 2007. “Persuasion With Case Studies.” Academy of Management Journal
50(1):20–24.
Stake, Robert E. 1994. “Case Studies.” Pp. 236–47 in Handbook of qualitative research,
edited by N. K. Denzin and Y. S. Lincoln. Los Angeles: Sage publications.
Voss, Chris, Nikos Tsikriktsis, and Mark Frohlich. 2002. “Case Research in Operations
Management.” International Journal of Operations & Production Management
22(2):195–219.
Yin, Robert K. 2015. Estudo de Caso: Planejamento e Métodos. 5th ed. Porto Alegre:
Bookman.
Yin, Robert K. 2016. Pesquisa Qualitativa Do Início Ao Fim. Porto Alegre: Penso Editora.
Yin, Robert K. 2018. Case Study Research and Applications: Design and Methods. 6th ed.
Los Angeles: Sage Publications.
... No entanto, a pesquisa quantitativa, por si só, pode não capturar a profundidade e a riqueza das experiências individuais. A pesquisa qualitativa, ao contrário, busca explorar as nuances, percepções e contextos subjacentes ao fenômeno estudado (LIMA, 2022 ...
Article
Full-text available
A Educação Ambiental nas escolas é uma ferramenta poderosa para moldar a consciência ambiental dos alunos, contribuindo para a formação de cidadãos comprometidos com a preservação do meio ambiente. Este estudo tem como objetivo analisar os desafios do ensino de Educação Ambiental para os alunos do ensino médio da E.E.E.F.M. João Rodrigues Cardoso no município de Águas Belas, PE. O método de pesquisa utilizado neste estudo é do tipo quali-quantitativa. A partir dos resultados apresentados neste estudo foi possível verificar que os estudantes mesmo com algumas dificuldades enfrentadas tiveram o mínimo de acesso sobre a temática de Educação Ambiental. Foi possível observar a partir dos relatos que os alunos entrevistados sentem a necessidade de debater e vivenciar mais esse tema através de atividades externas e oficinas.
Research
Full-text available
O presente Trabalho de Conclusão de Curso investiga o papel que as ideias e a atuação de três atores – o movimento de pessoas com deficiência, as instituições especializadas e o Ministério da Educação – tiveram na definição da agenda que serviu de base para a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008). A referida Política determinou o acesso de pessoas com deficiência à escola de ensino regular por meio da incorporação de uma perspectiva inclusiva, fato que a configurou como distinta das políticas voltadas à educação especial, implementadas anteriormente. A hipótese inicial pressupunha que os três atores possuíam interesse em comum: a escolarização das pessoas com deficiência. Todavia, apresentavam posicionamentos distintos perante tal objetivo. Hipótese que foi confirmada através da análise de discurso político (PINTO, 2005) dos depoimentos dos atores em três eventos: Assembleia Constituinte (1987), I Conferência Nacional Sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2006) e da 5ª Edição da Revista Inclusão: Revista da Educação Especial (MEC/SEESP, 2008).
Article
Full-text available
O artigo objetiva analisar os desenhos das políticas públicas de economia criativa de Porto Alegre (RS), São José dos Campos (SP) e Ananindeua (PA) para verificar seu potencial quanto à promoção do desenvolvimento. Para tanto, elaboramos um modelo analítico em dois níveis: (i) categorias descritivas: delimitação de fatores estruturantes, elementos relacionados ao funcionamento da política e sua eficácia, baseados no conceito de capacidade administrativa; (ii) categorias analíticas: perspectiva de desenvolvimento e endogeneidade (participação, normatividade e transparência), verificar se os fatores estruturantes manifestam dimensões promotoras de desenvolvimento, derivadas da teoria do desenvolvimento endógeno. Foi realizada pesquisa exploratória e descritiva, estudo de casos múltiplos e pesquisa documental de fontes primárias e secundárias compreendendo o período de 2003 a 2018. Constatamos que as políticas de economia criativa nos três municípios manifestam fracamente as dimensões envolvidas na promoção de desenvolvimento: mobilizavam uma perspectiva de desenvolvimento restrita à dimensão econômica, a qual se mostra conformada às características endógenas de prevalência de atores estatais na tomada de decisão, regras pouco nítidas quanto à distribuição de poder ou que simplesmente reforçam o status do Estado, ao que não surpreende a transparência ser precária.
Article
Full-text available
Este trabalho apresenta uma análise do desenho da política pública de economia criativa no município de São José dos Campos à luz de uma perspectiva de desenvolvimento. O objetivo foi verificar se havia a promoção do desenvolvimento multidimensional e a endogeneização do conceito em relação ao contexto local. Esta é uma pesquisa exploratória e descritiva, na qual se adotou o estudo de caso e a pesquisa documental, tendo sido realizada uma análise de conteúdo a partir de dados secundários. Como resultado, constatamos que as perspectivas de desenvolvimento que prevalecem no desenho da política são a multidimensional (normas) e unidimensional, focada apenas na dimensão econômica (ações), comprometendo a promoção do desenvolvimento de forma ampla. Além disso, se por um lado encontramos uma pluralidade de atores previstos nas políticas, por outro não identificamos as formas de manifestação dessa heterogeneidade nas decisões, ainda, a ausência de transparência reforça essa dinâmica.
Article
Full-text available
Resumo As possibilidades das tecnologias de informação e comunicação conjugadas com normas e regras do sistema global têm contribuído para a transformação dos mercados culturais, recriando concepções e arranjos entre arte-tecnologia-mercado. O artigo discute centralmente as implicações sociopolíticas dessas transformações nos mercados culturais, enfocando as respostas dos agentes em distintas instâncias de ação política na cidade de Porto Alegre. Os dados resultam da combinação de diferentes fontes de investigação, destacando-se entrevistas com líderes profissionais e com gestores de empreendimentos no mundo da cultura, assim como relatórios e documentos obtidos em diversos sites na Internet. O argumento que orienta a análise é de que as referidas transformações tendem a produzir diferentes tipos de ações sociopolíticas, como as mobilizações de novos coletivos de artistas, de novas associações profissionais e a reformulação de pautas nas já existentes, e a presença em novos e antigos conselhos de políticas públicas.
Article
Full-text available
This paper discusses the theoretical foundations for using case studies in comparative political science. It makes the claim about the continuous demand for using case study research designs. This argument is built upon three major claims for validation of this approach: the equifinality; process-tracing, and the explanation by mechanisms. Based on these assumptions, a new generation of researchers in qualitative political science points out that case study methodology continues to be relevant for: enlarging the connection between theory and evidence; the development of explanations and causal inferences in comparative politics; and, for theory construction.
Book
Now in a Fourth Edition, this how-to guide is an excellent starting point for anyone looking to begin case study research. The authors—all professors teaching graduate students in education and other professions—provide the structure, detail, and guidance needed for beginning researchers to complete a systematic case study. Improvements for this edition include more practical and detailed guidance for conducting a literature review, a more efficient and easy-to-understand reorganization of the case study examples, and updated citations throughout the text. As with previous editions, this succinct handbook emphasizes learning how to do case study research—from the first step of deciding whether a case study is the way to go to the last step of verifying and confirming findings before disseminating them. It shows students how to determine an appropriate research design, conduct informative interviews, record observations, document analyses, delineate ways to confirm case study findings, describe methods for deriving meaning from data, and communicate findings. Book Features: A straightforward introduction to the science of doing case study research. A step-by-step approach that speaks directly to the novice investigator. Many concrete examples illustrate key concepts. Questions, illustrations, and activities to reinforce what has been learned.
Article
http://journals.sagepub.com/doi/full/10.1177/0002764218772641 Case study has a tradition of collecting multiple forms of data—qualitative and quantitative—to gain a more complete understanding of the case. Case study integrates well with mixed methods, which seeks a more complete understanding through the integration of qualitative and quantitative research. We identify and characterize “mixed methods–case study designs” as mixed methods studies with a nested case study and “case study–mixed methods designs” as case studies with nested mixed methods. Based on a review of published research integrating mixed methods and case study designs, we describe key methodological features and discuss four exemplar interdisciplinary studies.
Article
The goal of every author is to write a paper that readers (and reviewers) find convincing. Since writers of papers based on case research do not have recourse to the canonical statement “results are significant at p _ 0.05” that helps assuage readers’ skepticism of empirical papers, researchers using case research often feel they are fighting an uphill battle to persuade their readers. In this short essay, I provide some thoughts guided by my experience of reading, reviewing, and writing papers based on case‐based research over the last decade. These are clearly only the views of this particular writer and thus should be taken with a considerable grain of salt. I am seeking here more to provoke thought than to provide answers.