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DOI 10.20396/etd.v25i00.8667374
© ETD – Educação Temática Digital | Campinas, SP | v.25 | e023048 | p. 1-19 | 2023
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ARTIGO
CURADORIA DE CONTEÚDO PARA EAD:
PERCEPÇÕES DE PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS,
BIBLIOTECÁRIOS, AVALIADORES DO MEC E GESTORES
CONTENT CURATION FOR DISTANCE EDUCATION:
PERCEPTIONS OF PROFESSORS,
LIBRARIANS, MEC EVALUATORS AND MANAGERS
CURACIÓN DE CONTENIDO PARA EDUCACIÓN A DISTANCIA:
PERCEPCIONES DE DOCENTES UNIVERSITARIOS,
BIBLIOTECARIOS, EXAMINADORES DEL MEC Y GESTORES
Daiana Garibaldi da Rocha1, Luis Manoel Borges Gouveia2
RESUMO
A curadoria de conteúdo para a Educação a Distância (EAD) tornou-se, nos últimos anos, uma atividade
frequente para professores, demandando o acompanhamento de gestores e profissionais da Educação. Por meio
de um diálogo interdisciplinar entre as áreas da Ciência da Informação e da Educação, esta pesquisa apresenta
a percepção de cinco stakeholders que atuam no ensino superior brasileiro privado em relação ao processo de
curar conteúdo para a EAD: professores universitários, bibliotecários, avaliadores do Ministério da Educação,
gestores de instituições de ensino superior (IES) e gestores de EdTech. O caminho metodológico escolhido foi
uma pesquisa descritiva com abordagem quantitativa do tipo survey, totalizando 449 participantes. As 29
perguntas realizadas foram alocadas em seis blocos: introdutório, curadoria, pedagógico, tecnologia, qualidade
e final. De forma geral, os resultados mostram como mais importantes os blocos de qualidade, com 45% de
indicações, e o pedagógico, com 30%. Apesar de ser entendida como uma nova oportunidade profissional de
atuação docente, a curadoria precisa ser melhor explorada na área educacional. Suas características, processos
e ferramentas não são de conhecimento comum das equipes das IES, tampouco os indicadores de qualidade
que devem compor o processo de curar conteúdo. Destaca-se, assim, a urgência da construção de manuais,
modelos ou guias que auxiliem curadores de conteúdo para EAD na realização do processo, observando as
características das diferentes modalidades de ensino e, principalmente, detalhando etapas, a fim de
instrumentalizar os profissionais da área educacional.
PALAVRAS-CHAVE: Ciência da informação. Curadoria de conteúdo. Educação a distância. Ensino superior.
1 Doutora em Ciência da Informação - Universidade Fernando Pessoa. Lisboa, Portugal. Gerente Acadêmica e
de Conteúdo EAD do Grupo A Educação - SAGAH , Brasil. Porto Alegre, RS. E-mail: daiana1502@terra.com.br
2 Doutor em Ciências da Computação - Universidade de Lancaster. Lancaster, Reino Unido. Professor
Catedrático - Universidade Fernando Pessoa (UFP). Lisboa, Portugal. E-mail: lmbg@ufp.edu.pt
Submetido em: 25/10/2021 - Aceito em: 08/10/2022 - Publicado em: 03/10/2023
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ARTIGO
ABSTRACT
In recent years, content curation for distance education has become a frequent activity for teachers as well as
for education managers and professionals. Within the field of information science, intersecting to the area of
education, this article presents the perception of five stakeholders who work in Brazilian higher education in
relation to the process of curing content for distance education: university professors, librarians, evaluators from
the Ministry of Education, institutional managers of higher education (HEI) and EdTech managers. The
methodology chosen is a descriptive survey with a quantitative approach of the survey type, totalling 449
participants. The 29 questions asked were divided into six blocks: introductory, curated, pedagogical,
technology, quality and final. The results show that, as the most important the quality block, with 45% of
indications, and the pedagogical, with 30%. Despite being understood as a new professional opportunity for
teaching, curation needs to be better explored in the educational area. Its characteristics, processes and tools
are not common knowledge of the HEI teams, nor are the quality indicators that should make up the process of
curing content. Thus, the urgency manuals, models or guides that help curators of content for distance learning
in the process is highlighted, observing the characteristics of the different teaching modalities and, mainly,
detailing stages, in order to equip the professionals of educational area.
KEYWORDS: Information science. Content curation. Distance education. Higher education.
RESUMEN
La curación de contenido para la educación a distancia (EaD) se ha convertido, los últimos años, en una actividad
que se realiza a menudo por docentes, exigiendo el control de calidad de gestores y profesionales de Educación.
Mediante un diálogo multidisciplinario entre el área de la Ciencia de la Información y el área de la Educación,
por la presente investigación se postula la percepción de cinco stakeholders relacionada con el proceso de curar
contenido para EaD: docentes universitarios, bibliotecarios, examinadores del Ministerio de Educación de Brasil,
gestores de instituciones de educación superior y gestores de EdTech. La estrategia metodológica ha
comprendido una investigación descriptiva, con enfoque cuantitativo por encuesta survey, totalizando 449
participantes. Las 29 preguntas realizadas han sido organizadas en seis bloques: introducción, curación,
pedagógico, tecnología, control de calidad y final. Por lo general, los resultados han demostrado como los
bloques más importantes el de calidad, con un 45% de indicaciones, y el pedagógico, con un 30%. A pesar de ser
entendida como una nueva oportunidad profesional de actuación docente, se debe mejor explorar la curación
de contenido en el área de la Educación. Sus características, procesos y herramientas no forman parte del
conocimiento común de los equipos de las instituciones de educación superior, tampoco son conocidos los
indicadores de calidad del proceso de curar contenido. Por lo tanto, se destaca la urgencia de la construcción de
manuales, modelos o guías que ayuden a los curadores de contenido para EaD en la realización del proceso,
observándose las características de las diferentes modalidades de enseñanza y, sobre todo, detallándose las
etapas, a fin de instrumentar los profesionales de la Educación.
PALABRAS CLAVE: Ciencia de la Información. Curación de contenido. Educación a distancia. Educación Superior.
***
1 INTRODUÇÃO
A Ciência da Informação (CI)3 tem um lugar significativo no campo científico desde o
século XIX. Diferentes autores contribuíram em diversos períodos históricos para sua
construção, de forma que, para Silva e Ribeiro (2008, p. 57), “[...] a CI desempenha o papel e
a função de uma metaciência que requer uma contribuição de variadas disciplinas. Tal
contribuição é vista já não apenas numa perspectiva de mera interdisciplinaridade, mas sim
3 Ciência da Informação será indicada pela sigla CI em trechos posteriores do artigo.
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de uma multidisciplinaridade”. Por isso, é comum que pesquisadores dessa área dialoguem
com a Comunicação, a Computação e as ciências humanas e cognitivas de modo geral. Neste
artigo4, a partir de metodologias dessa área, são analisadas questões relacionadas ao
processo de curadoria de conteúdo para a EAD5 que dialogam com aspectos pedagógicos e
tecnológicos.
Essa contextualização é importante, pois, em virtude de sua multidisciplinaridade, a CI
se aproxima significativamente da curadoria de conteúdo para EAD, haja vista que se
interessa pela influência da tecnologia nos contextos social, educacional, econômico e
cultural. A modalidade EAD surgiu para atender a necessidades da sociedade da informação;
a curadoria de conteúdo para EAD, por sua vez, tornou-se um fenômeno no campo da CI no
século XXI, quando o ensino superior passa por transformações importantes, incluindo a
inserção definitiva das tecnologias no processo de aprendizagem, a implantação de
metodologias ativas na didática de sala de aula e o crescimento em escala da EAD (que
ultrapassa as matrículas da modalidade presencial), impulsionadas no último ano pela
pandemia de Covid-19. E, na medida em que as diferentes modalidades de ensino se cruzam,
o papel dos profissionais da área da Educação também é modificado.
Essas mudanças no ensino superior ajudaram a tornar a curadoria de conteúdo para
EAD imprescindível para a garantia da qualidade do conteúdo entregue em todo o território
brasileiro por essa modalidade de ensino, que atinge mais de 1,5 milhão de alunos
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA, 2018). Diante dessa problemática, a
investigação envolve a curadoria de conteúdo para a EAD, pois constatamos que nem sempre
os conteúdos utilizados nesse contexto são selecionados de maneira eficaz, uma vez que são
adaptados de outras modalidades de ensino e que não existe um modelo de referência para
a realização desse processo. Nesse contexto, o objetivo deste artigo é compreender a
percepção de cinco stakeholders6 que atuam em cenários de instituições de ensino superior
acerca do processo de curadoria. O que entendem sobre o próprio conceito de “curadoria”?
Quem consideram ser os responsáveis pela curadoria e que características consideram
necessárias a um curador de conteúdo para a EAD? Quais são os critérios e instrumentos para
realizar uma curadoria de conteúdo na sua totalidade?
Para a construção deste estudo, com base no referencial teórico delineado abaixo, foi
aplicado o instrumento questionário visando a amostra quantitativa. Participaram 449
4 A pesquisa foi autorizada pelo Comitê de Ética da instituição de ensino em que foi produzida e pela Plataforma
Brasil em maio de 2020.
5 Educação a Distância será indicada pela sigla EAD em trechos posteriores do artigo.
6 Nomenclatura atribuída aos profissionais envolvidos no processo de curadoria visados pela pesquisa, também
identificados como grupo de interesse ou público-alvo.
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respondentes, distribuídos em cinco perfis: professores universitários, bibliotecários,
avaliadores do Ministério da Educação (MEC)7, gestores de instituições de ensino superior
(IES)8 e gestores de EdTech9.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
No século XX, por efeitos da globalização, a concepção de que vivemos em uma
“sociedade da informação e do conhecimento” ganhou destaque na academia, e as
características desse novo funcionamento social impulsionaram mudanças no campo
educacional. A EAD cresceu significativamente com as Tecnologias da Informação e da
Comunicação (TIC)10, transbordando e traduzindo a aprendizagem de maneira nunca vista
antes. Os efeitos tecnológicos, as trocas de informações e a dinamicidade das complexas
redes de comunicação já abordadas e contextualizadas por Castells (2003) não só trouxeram
uma nova geração de alunos, mas também desacomodaram gerações de professores e
gestores educacionais, que precisaram se reinventar frente aos novos desafios advindos da
tecnologia.
A curadoria, que tem origens sólidas e antigas na história das Artes e da Museologia,
encara as mudanças impostas pela sociedade da informação e do conhecimento e se adapta
ao formato digital. Em um “mundo de excessos”, expressão utilizada por Bhaskar (2020), o
papel da curadoria torna-se imprescindível no âmbito educacional. O aluno, que é
protagonista da sua aprendizagem, tem acesso praticamente infinito à informação.
Professores, gestores e outros profissionais da Educação precisam constantemente aprimorar
habilidades e competências de modo a curar conteúdo para EAD de modo integral,
considerando diferentes dimensões e formas de aprender. Isso inclui, segundo Abbott (2018),
um conjunto de atividades que fazem parte do gerenciamento de dados, do planejamento à
criação, passando pela digitalização (para materiais analógicos) ou pela criação (para
materiais já gerados em meio eletrônico), garantindo disponibilidade e constante atualização
da informação/conteúdo, o que se torna o grande desafio educacional contemporâneo.
O professor vive em um cenário de transformação: da modalidade presencial, passa
para a semipresencial e, em pouco tempo, necessita se adaptar à EAD 100% on-line. Segundo
Garcia e Czeszak (2019, p. 102), “[...] incorporando o espírito curador, esse professor torna-
se autor, coautor e propositor de atividades que mesclem diferentes recursos, focando
7 Ministério da Educação será indicada pela sigla MEC em trechos posteriores do artigo.
8 Instituições de ensino superior serão indicadas pela sigla IES em trechos posteriores do artigo.
9 Abreviação de education technology (tecnologia educacional): soluções educacionais que conectam tecnologia
à profissionais da Educação.
10 Tecnologias da Informação e Comunicação serão indicadas pela sigla TIC em trechos posteriores do artigo.
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produtos e processos adequados para o que se quer atingir em termos educacionais e de
aprendizagem”. Estudos como os de Bassani, Wilbert e Magnus (2017) e Lopes, Sommer e
Schmidt (2014) buscam contextualizar e apresentar os desafios de docentes que já atuam
com curadoria de conteúdo e procuram atender aos requisitos mínimos da seleção de
conteúdo. Segundo os autores, a avaliação do conteúdo não pode ocorrer com base em
requisitos técnicos apenas; é preciso considerar todo o processo na sua essência crítica.
Evidentemente, para ter critérios é necessário não só ter conhecimento técnico, mas também
conhecer o público-alvo, seus requisitos de aprendizagem, além de recursos e instrumentos
que possam auxiliar a composição do conhecimento de modo integral. Essas competências,
embora necessárias para uma boa curadoria educacional, dependem “[...] das visões que a
escola e os professores têm sobre seus alunos e mesmo sobre os diferenciais profissionais
que levam as pessoas a aprender” (GARCIA; CZESZAK, 2019, p. 19).
Esse movimento da sociedade da informação e do conhecimento interfere também
na forma de gestão, pois o desafio se estende para aqueles que precisam gerir equipes
educacionais e adquirir competências para oferecer ferramentas que apoiem o trabalho de
curadoria de suas equipes multidisciplinares. Segundo Aleixo, Fernandes, Costa e Ribeiro
(2020, p. 57), “[...] existe a necessidade de um mediador que entenda essas questões e tenha
desenvolvido competências acadêmicas e profissionais”, profissional que os autores
denominam de “gestor” e “curador” da informação. Além disso, é fundamental que esse
profissional entenda de “métodos de controle de qualidade que podem ser úteis para
fornecer aos professores novos no ensino com a tecnologia, ou se debatendo com o seu uso,
modelos de boas práticas para seguirem” (BATES, 2017, p. 437).
Yang (2010, p. 364, tradução nossa) também aponta a responsabilidade dos
coordenadores de curso em relação ao planejamento, dizendo que, “para garantir a qualidade
da educação online, os administradores devem exercer funções ativas no planejamento e
gerenciamento de programas online”. Indo mais além (e sendo mais objetivos), Filatro e Cairo
(2015, p. 173) sustentam que “no planejamento da gestão da qualidade, precisamos
transformar esses atributos desejados em indicadores e métricas verificáveis”.
Portanto, para que os efeitos da curadoria – segundo Bhaskar (2020, p. 21), “[...]
refinar, simplificar, explicar e contextualizar” – também apresentem resultados no campo
educacional, docentes, gestores e profissionais da educação precisam compreender a
essência da curadoria de conteúdo para EAD e se instrumentalizar, respeitando as
características da modalidade de ensino com que trabalham e, principalmente, o perfil dos
alunos. Para confirmar isso, e outros comportamentos, os procedimentos metodológicos a
seguir nos guiam para encontrar algumas respostas para tais problemáticas.
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3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Considerando as características digitais deste estudo, todo o levantamento foi
realizado com recursos tecnológicos on-line, que caracterizam o local da curadoria digital. A
abordagem adotada foi a quantitativo-descritiva, que, de acordo com Marconi e Lakatos
(2018, p. 76), “consiste em investigações de pesquisa empírica, cuja principal finalidade é o
delineamento ou análise das características de fatos ou fenômenos, a avaliação de
programas, ou o isolamento de variáveis principais ou chave”.
Segundo Mattar (2017, p. 295), “[...] normalmente é impossível analisar a totalidade
de uma população, conjunto ou coleção de dados. Portanto, somos obrigados a utilizar uma
amostra ou um subconjunto desses dados”. Por isso, para esta investigação, foi selecionada
uma fração da população que corresponde a uma amostra de 449 stakeholders, divididos em
três grupos. O primeiro é formado por quem pratica a curadoria nas IES – os professores
universitários –, para entender se eles se reconhecem como curadores e quais são suas
competências, habilidades e dificuldades para exercer tal função. O segundo inclui
profissionais que apoiam e instrumentalizam a curadoria digital – gestores de IES, gestores de
EdTech e bibliotecários –, de modo a conhecer seus maiores desafios para conduzir a
curadoria digital nas IES. No terceiro grupo, por fim, estão os avaliadores do MEC, que
analisam as IES com base em um instrumento de avaliação predeterminado (INEP, 2017), de
quem se busca compreender quais são suas percepções avaliativas ao identificar se a IES
realiza ou não a curadoria digital de conteúdo na sua totalidade nas diferentes modalidades
de ensino.
Para a coleta de dados sobre as diferentes percepções dos stakeholders em relação às
características e definições da curadoria digital de conteúdo, foi aplicado um questionário.
Esse procedimento técnico é considerado um levantamento do tipo survey, que “[...] ocorre
quando envolve a interrogação direta das pessoas cujo comportamento desejamos conhecer
através de algum tipo de questionário” (PRODANOV; FREITAS, 2013, p. 57). Para formulá-lo,
foram consideradas as orientações de Marconi e Lakatos (2018, p. 95): “[...] a elaboração de
um questionário requer a observância de normas precisas, a fim de aumentar sua eficácia e
validade. Em sua organização, devem-se levar em conta os tipos, a ordem, os grupos e a
formulação das perguntas”. Com base nisso, esse instrumento foi composto pelos seis blocos
a seguir: Introdutório; Curadoria; Pedagógico; Tecnologia; Qualidade; Final.
As 29 questões do questionário final foram baseadas em perguntas tanto de respostas
únicas quanto de respostas múltiplas, além de incluir a matriz de associação de atributos, a
escala Likert de 5 e 7 pontos de concordância e um teste das dimensões por meio de um
exercício de MaxDiff (máxima diferenciação entre atributos) para priorizar as dimensões na
curadoria de conteúdo para EAD.
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Antes da aplicação oficial, o questionário passou por uma testagem, visando ao
melhor aproveitamento e à certificação de que sua estrutura estava adequada e
interpretável, já que, como explicam Marconi e Lakatos (2018, p. 95), o pré-teste pode
evidenciar “[...] inconsistência ou complexidade das questões; ambiguidade ou linguagem
inacessível; perguntas supérfluas ou que causem embaraço ao informante; se as questões
obedecem a determinada ordem ou se são muito numerosas etc.”. Depois que os ajustes
evidenciados pela testagem foram realizados, o questionário oficial foi aplicado de maneira
on-line, durante 22 dias11.
A análise estatística envolveu medidas de estatística descritiva (frequências absolutas
e relativas, médias e respectivos desvios-padrão) e estatística inferencial. O nível de
significância para rejeitar a hipótese nula foi fixado em (α) ≤ 0.05, e foi utilizado o teste Z para
diferença de proporções. Além disso, a análise estatística foi efetuada com apoio do software
Statistical Package for Social Sciences (SPSS), versão 23.0, para Windows e Microsoft Excel
2016.
4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
O questionário foi realizado entre 9 e 30 de julho de 2020 e atingiu as cinco regiões
brasileiras, com amostra mais significativa nas Regiões Sul (50%), Sudeste (31%) e Nordeste
(14%). O número de respondentes foi de 16 avaliadores do MEC, 33 bibliotecários, 10 gestores
de EdTech e/ou empresas de soluções educacionais, 43 gestores de IES e 347 professores
universitários. A apresentação e a análise dos principais resultados obtidos foram divididas
em seis blocos, conforme a estrutura do questionário: introdutório, curadoria, pedagógico,
tecnologia, qualidade e final.
4.1 Bloco introdutório
O bloco introdutório, além de apresentar os dados sociodemográficos da pesquisa,
serviu para filtrar e limpar a base de respondentes conforme o público-alvo. Portanto, excluiu-
se da base de resultados quem não se identificou como atuante na área da Educação no
momento da pesquisa (essa parcela foi correspondente a apenas 3% da amostra obtida).
A predominância de respondentes do gênero feminino se destacou em quase todos
os perfis, exceto no de gestor de EdTech, em que houve um nivelamento de 50% entre os
gêneros. Em relação à faixa etária, prevaleceram respondentes de 31 a 40 anos de idade,
seguidos dos de 41 a 50 anos. A faixa etária predominante dos avaliadores do MEC foi de 51
11 Tal instrumento foi analisado previamente pelo Comitê de Ética da Universidade Fernando Pessoa e pela
Plataforma Brasil, que emitiram parecer favorável diante do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
apresentado aos participantes da pesquisa.
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a 60 anos, o que indica um perfil mais experiente exigido pelo ministério para tal atividade.
Quanto ao tempo de atuação profissional dos stakeholders, a maioria tinha mais de
20 anos de experiência, com exceção dos gestores de IES, que tinham de 6 a 10 anos, e os
professores universitários, entre 2 e 5 anos. Seu grau de instrução prevalente foi o de
mestrado (51%), seguido de doutorado (34%). Obtiveram-se, também, respostas de
especialistas (13%) e graduados (2%).
Por fim, o bloco introdutório também tratou da área de especialização dos
stakeholders. A área da Educação foi predominante em quase todos os perfis, com exceção
dos professores universitários, que eram, em sua maioria, das áreas de Ciências Sociais,
Negócios e Direito.
4.2 Bloco curadoria
A primeira pergunta desse bloco indagou se os stakeholders sabiam o que é curadoria
de conteúdo; 58% responderam que sim e 42% responderam que não. Na questão seguinte,
foram fornecidas respostas múltiplas com o fim de coletar dados sobre a percepção dos
respondentes acerca desse conceito. O Gráfico 1 mostra as respostas apresentadas.
Gráfico 1. Características do conceito de curadoria de conteúdo
Fonte: elaborado pelos autores.
31%
6% 6%
56%
39%
3%
27% 30%
60%
0%
20% 20%
26%
16% 19%
33%
30%
20% 18%
29%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
Selecionar materiais e
conteúdos de qualidade
Adaptar materiais e
conteúdos originais e
propor melhorias
Organizar e facilitar o
material didático para o
aluno
Ter critérios técnicos para
selecionar o melhor
conteúdo
Avaliador MEC Bibliotecário Gestor EdTech Gestor IES Professor
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As duas respostas com maior número de respondentes estão relacionadas a
características que envolvem a seleção de conteúdo com qualidade e criteriosidade. Do total
de seleções, 30% se concentraram na alternativa “Selecionar materiais e conteúdos de
qualidade” e 29% na alternativa “Ter critérios técnicos para selecionar o melhor conteúdo”.
Destacaram-se, também, a prevalência de opinião dos avaliadores do MEC (56%) em relação
a “Ter critérios técnicos para selecionar o conteúdo” e a dos gestores de EdTech (60%) em
relação a “Selecionar materiais e conteúdos de qualidade”.
Esses dados indicam o quão tardiamente o conceito passou a ser aplicado na área da
Educação. Os primeiros estudos educacionais sobre a curadoria de conteúdo surgiram em
meados do ano de 2014, passando a ganhar maior relevância apenas a partir do crescimento
da EAD. No entanto, tornar o conceito transversal à toda a área da Educação torna-se cada
vez mais urgente para que docentes e gestores possam se identificar como atores do
processo. Afinal, a curadoria, segundo Bhaskar (2020, p. 90), “tende a ser uma propriedade
emergente das organizações. A maioria das empresas não tem curadores. Elas não dão a suas
atividades o nome de curadoria. Apesar disso, fazem curadoria. A curadoria é algo inerente à
atividade”.
Quanto à identificação do responsável por realizar a curadoria de conteúdo EAD, há
uma visão unânime de que ela cabe aos professores. Ainda assim, é interessante destacar que
20% dos avaliadores do MEC a identificaram como responsabilidade dos gestores de IES e
32% dos bibliotecários se reconheceram responsáveis por tal atividade.
Também foram formuladas questões sobre identificação de plágio, já que a verificação
de conteúdo autoral é uma etapa muito importante da curadoria. Os stakeholders foram
questionados sobre ferramentas que apoiam nesse processo e apresentados a 10
alternativas. As 5 ferramentas mais conhecidas pelos respondentes foram: CopySpider,
Google, SafeAssign, Plagius e Plagium. A ferramenta CopySpider teve um destaque de 33%
entre os professores (os stakeholders mais indicados como responsáveis pela curadoria). O
Google também apresentou percentuais significativos de indicação por todos os stakeholders,
embora não seja uma ferramenta profissional de identificação de plágio, ao contrário das
demais alternativas.
Questionados sobre qual seria o principal valor da curadoria de conteúdo EAD, um
percentual bastante expressivo (72%) dos stakeholders indicou a alternativa que reforçava o
mapeamento e a categorização de conteúdos programáticos versus o perfil do aluno. Já em
relação às principais características de um profissional de curadoria de conteúdo, para 25%
do total de respostas, o mais importante é conhecer o aluno/público-alvo. Em segundo lugar
(24%), ter visão sistêmica, e em terceiro (16%), ter experiência em criação de conteúdo. Da
mesma forma, como já identificado na apresentação dos dados individuais por stakeholder,
o resultado geral também demonstrou que o grau de formação do curador é a característica
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menos importante, com apenas 2% de indicação.
4.3 Bloco pedagógico
A primeira pergunta do bloco pedagógico indagava os stakeholders sobre os critérios
de seleção de conteúdo mais relevantes. Os resultados podem ser vistos no Gráfico 2.
Gráfico 2. Critérios de seleção de conteúdo mais relevantes
Fonte: elaborado pelos autores.
O critério de seleção de conteúdo mais importante, indicado pela maioria dos
stakeholders, foi a adequação aos objetivos estabelecidos para o ensino e a aprendizagem,
destacando-se como principais respondentes os avaliadores do MEC (63%) e os gestores de
IES (60%). Já os gestores de EdTech ficaram divididos entre as quatro alternativas.
Como já mencionado, existem hoje no mercado instrumentos e métodos para a
avaliação de conteúdo e objetos de aprendizagem que, baseados em pesquisas acadêmicas
que apresentam critérios/indicadores de qualidade, podem contribuir com a curadoria de
conteúdo. Uma das questões do bloco pedagógico indagava se os participantes conheciam
esses instrumentos/métodos, e 75% deles afirmaram que não. Dentre aqueles selecionados
como conhecidos, destacaram-se os materiais do Núcleo de Tecnologia Digital Aplicada à
Educação, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, indicado por 44% dos avaliadores
do MEC, e a Herramienta para la Evaluación de Objetos Didácticos de Aprendizaje
Reutilizables (método HEODAR), indicada por 20% dos gestores de EdTech. No entanto, 79%
dos professores, considerados os principais responsáveis pela curadoria de conteúdo, não
conhecem nenhum dos instrumentos.
63%
13% 13% 13%
48%
15%
0%
36%
20%
30%
20%
30%
60%
23%
5%
12%
48%
22%
6%
24%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
Adequação aos objetivos
estabelecidos para ensino e
aprendizagem
Natureza do conteúdo
ensinado e tipo de
aprendizagem efetivada
Objetos de aprendizagem
utilizados
Características dos alunos
(faixa etária, nível de
desenvolvimento mental,
grau de interesse, etc.)
Avaliador MEC Bibliotecário Gestor EdTech Gestor IES Professor
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Em outra das questões desse bloco, os stakeholders deveriam assinalar o quanto
concordavam com as nove afirmações apresentadas a respeito das características necessárias
para que a curadoria de conteúdo para EAD fosse realizada integralmente. Em suma, ao cruzar
as principais características de comum acordo e entender os pontos de sinergia nos resultados
das afirmações apresentadas, produziu-se o cenário do Gráfico 3.
Gráfico 3. Características da curadoria de conteúdo EAD
Fonte: elaborado pelos autores.
As três afirmações com maior índice de concordância (média de 95%) tratam sobre
aspectos pedagógicos com enfoque na aprendizagem e no documento norteador
institucional, denominado Projeto Pedagógico do Curso (PPC). Em relação à afirmação que
foca na carreira, uma parcela considerável de 89% de stakeholders concordaram que a
curadoria é uma nova oportunidade de atuação docente. As quatro afirmações voltadas para
legislação e qualidade das modalidades de ensino EAD ou híbrida apresentam concordância
próxima dos 61%, exceto a que menciona ser mais fácil realizar a curadoria na modalidade
híbrida, que apresentou apenas 27% de concordância entre os stakeholders.
Por fim, concordamos com as palavras de Bates (2017) quando ele reforça que,
independentemente da modalidade de ensino, os seguintes recursos sempre devem ser
considerados: tempo do professor, equipe de apoio, tecnologia disponível, experiência do
corpo docente em ensino híbrido ou 100% EAD e orçamento disponível. Como os dados
mostraram, são aspectos muito importantes também para a curadoria de conteúdo EAD.
97%
96%
94%
89%
75%
63%
62%
60%
27%
0% 20% 40% 60% 80% 100%
Conteúdos programáticos devem atender aos objetivos de
aprendizagem
Objetivos de aprendizagem devem ser bem-definidos para a
curadoria
Ao fazer a curadoria, deve-se conhecer o PPC
Curadoria é uma nova oportunidade de atuação docente
Conteúdos curados garantem a qualidade da IES
Fica visível quando a IES faz curadoria especializada para
EAD ou para modalidade híbrida
A curadoria para EAD deve ser diferente da curadoria para
modalidade híbrida
Quanto melhor a curadoria, maiores as notas das IES nos itens
1.5 e 1.18 do instrumento avaliativo
É mais fácil realizar curadoria na modalidade híbrida do que
na 100% EAD
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4.4 Bloco tecnologia
A pergunta que abria o bloco tecnologia buscava entender como a tecnologia poderia
contribuir para a curadoria de conteúdo e como os stakeholders compreendiam e
identificavam essas contribuições. Nessa pergunta, eles foram solicitados a selecionar todas
as alternativas que se aplicassem. O Gráfico 4 apresenta as respostas recebidas de acordo
com cada perfil.
Gráfico 4. Como a tecnologia pode contribuir para a curadoria de conteúdo
Fonte: elaborado pelos autores.
Do total de 449 respondentes, 345 indicaram a usabilidade de interação; 303
marcaram a acessibilidade; 298, o design do ambiente virtual de aprendizagem; e 248, o
design dos objetos de aprendizagem. A opção de reusabilidade, por sua vez, se mostrou
menos importante, tendo sido apontada por apenas 127 respondentes. Entre aqueles que
selecionaram as quatro primeiras alternativas, 23% são avaliadores do MEC. Já entre os
bibliotecários, 24% destacaram a usabilidade e interação, e o mesmo percentual indicou a
acessibilidade. Para 27% dos gestores de EdTech, por sua vez, a tecnologia pode contribuir
para a curadoria de conteúdo, sobretudo, por meio do design dos objetos de aprendizagem
e da usabilidade e interação. Com um resultado aproximado, a opção de usabilidade e
interação foi apontada por 28% dos gestores de IES e 26% dos professores.
A usabilidade é “o fator que assegura que os produtos sejam fáceis de usar, eficientes
e agradáveis, da perspectiva do usuário” (Preece, Rogers, & Sharp, 2013, p. 35). Ela deve estar
em consonância com a acessibilidade. O curador de conteúdo, nesse sentido, precisa
compreender minimamente a aplicação desses conceitos no conteúdo da EAD para garantir
que eles sejam atendidos. Verificar se os vídeos têm legenda, se o material disponibiliza
23% 23% 23% 23%
6%
19%
22%
24% 24%
10%
27%
12%
27%
19%
15%
20%
17%
28%
23%
12%
18%
23%
26%
23%
9%
0%
10%
20%
30%
40%
Design dos objetos de
aprendizagem
Design do ambiente
virtual de
aprendizagem
Usabilidade e
interação
Acessibilidade Reusabilidade
Avaliador MEC Bibliotecário Gestor EdTech Gestor IES Professor
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tradução para Língua Brasileira de Sinais (Libras) e se está preparado para a adaptação a
softwares de leitura para cegos são alguns dos requisitos básicos a serem observados pelo
curador antes da seleção do conteúdo.
Em relação aos conhecimentos tecnológicos fundamentais para a curadoria, as duas
alternativas com maior número de seleções foram bibliotecas virtuais (372 respondentes) e
ferramentas de sistemas autorais (317 respondentes). Para os stakeholders avaliadores do
MEC e gestores de EdTech, a opção de ferramentas de sistemas autorais foi a que mais se
destacou, diferentemente dos bibliotecários, gestores de IES e professores, que apontaram,
em sua maioria, as bibliotecas virtuais.
Já no que tange aos recursos tecnológicos mais importantes para a curadoria, os
participantes podiam selecionar apenas uma de três alternativas: objetos de aprendizagem,
ambiente virtual de aprendizagem ou definição da trilha de aprendizagem a ser seguida. Com
exceção dos bibliotecários, que priorizaram o ambiente virtual de aprendizagem, a maioria
dos demais stakeholders (totalizando 208 respondentes) apontou como mais relevante a
definição da trilha de aprendizagem a ser seguida. Como segunda opção, com 153 indicações,
evidenciou-se o ambiente virtual de aprendizagem.
Buscou-se entender, além disso, como os objetos de aprendizagem auxiliam na
curadoria. Com 225 respondentes, a opção que se destacou entre quase todos os
stakeholders, exceto os gestores de Edtech, foi a garantia de uma aprendizagem interativa e
prazerosa. Um número menor de respondentes (145) optou pela apresentação diversificada
do conteúdo.
Por fim, com o último questionamento do bloco tecnologia, pretendeu-se entender
como os stakeholders acham que o ambiente virtual de aprendizagem auxilia na curadoria de
conteúdo, com a possibilidade de seleção de uma entre duas alternativas: ordenação e
organização do conteúdo ou definição clara da metodologia a ser utilizada. Vale reforçar,
afinal, que “a EAD pode ser mais um recurso de acesso ao aprendizado permanente.
Ambientes Virtuais de Aprendizagem podem ser planejados para incorporar recursos de
acessibilidade, ampliando a inclusão educacional” (Santos, Oliveira, Herrera, & Silva, 2020,
pp. 16-17). No total, 358 stakeholders concordaram que o ambiente virtual de aprendizagem
auxilia na curadoria em virtude da ordenação e da organização do conteúdo.
4.5 Bloco qualidade
Os dados obtidos nesse bloco nos fazem refletir sobre como a questão mercadológica
se institucionalizou nas IES e observar que as práticas educacionais, principalmente as
adotadas na EAD pelo corpo docente, estão em transformação constante. A curadoria de
conteúdo ainda parece ser encarada como concorrente da produção de conteúdo, quando,
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idealmente, são duas atividades complementares. Juntas, com respeito mútuo às suas etapas,
elas contribuem significativamente para a qualidade da oferta de conteúdo para a EAD.
Afinal, a qualidade está interligada, segundo Filatro e Cairo (2015, p. 137), com a
“adoção de procedimentos padronizados, a adesão a padrões internacionais, a
disponibilização de manuais e a qualificação das pessoas envolvidas”. Ou seja, fazem parte de
uma avaliação de qualidade a adoção de conteúdos criados com embasamento, voltados ao
atendimento dos requisitos vigentes na área, que esperam da curadoria educacional o
apontado por Bhargava (2009): a seleção daquilo que importa, dando-lhe sentido e
agregando-lhe valor.
Uma das perguntas do bloco qualidade teve como foco o LORI (Learning Object Review
Instrument), modelo de referência de qualidade para objetos de aprendizagem que já existe
no mercado e foi objeto de pesquisas acadêmicas diversas. O instrumento apresenta nove
variáveis: qualidade do conteúdo, adequação dos alinhamentos com os objetivos de
aprendizagem, usabilidade, acessibilidade, design da apresentação, motivação, feedback e
adaptabilidade, reusabilidade e conformidade com os padrões.
A qualidade do conteúdo foi a variável mais selecionada pelos stakeholders,
totalizando 361 indicações. Avaliadores do MEC e gestores de Edtech consideraram,
primeiramente, a qualidade do conteúdo e, depois, a adequação dos objetivos e o design da
apresentação. Bibliotecários também optaram, em primeiro lugar, pela qualidade do
conteúdo, seguida da usabilidade e da acessibilidade. Da mesma forma, para os professores,
a qualidade do conteúdo foi indicada essencial, mas ficaram em segundo lugar a adequação
dos objetivos e a usabilidade. Já os gestores de IES indicaram a adequação dos objetivos como
a principal variável e, depois, a qualidade do conteúdo e a usabilidade.
Seguindo no bloco qualidade, os participantes encontravam uma questão sobre os
critérios gerais de controle de qualidade voltados para a curadoria de conteúdo, com a opção
de selecionar apenas uma das seguintes alternativas: utilização de taxonomias para descrever
o conteúdo que reflitam as necessidades educacionais dos alunos; qualificação dos autores
do conteúdo; tempo de atualização do conteúdo; e não se aplica/não sei. O critério de
utilização de taxonomias obteve 51% de concordância entre os stakeholders. No entanto, é
importante salientar que a qualificação dos autores, além de ser o segundo com maior
relevância entre os respondentes, obteve percentual considerável entre os avaliadores do
MEC (40%) e professores (39%). Já o tempo de atualização do conteúdo, assim como as
respostas de quem considerou os critérios não aplicáveis ou de quem não soube responder,
totalizaram apenas 8% da amostra.
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Por fim, foram apresentados sete atributos (plano de atualização do conteúdo;
acessibilidade; equipe multidisciplinar; banco de objetos de aprendizagem; professores
autores renomados e qualificados; ambiente virtual de aprendizagem próprio; banco de
questões ENADE) importantes para a garantia de que a curadoria de conteúdo para EAD
atenda aos requisitos do instrumento de avaliação do MEC (INEP, 2017) estipulados nos
indicadores (1.5) conteúdos programáticos, (1.18) material didático e (4.6) sistema de
controle de produção e distribuição de material didático. Os quatro atributos que se
sobressaíram, com percentuais iguais ou acima de 90% de concordância entre os stakeholders
referentes ao grau de importância, foram: plano de atualização do conteúdo, acessibilidade,
equipe multidisciplinar e banco de objetos de aprendizagem. Segundo Chagas (2018, p. 102),
“a atualização muitas vezes está interligada ao processo inicial da cura, pois ao realizar uma
curadoria temos que definir quais conteúdos irão fazer parte e quais serão descartados”. Com
efeito, os instrumentos do MEC (Inep, 2017a, 2017b) preveem como requisito para uma boa
avaliação a atualização permanente do material didático, assim como sua acessibilidade, o
que imputa ao professor curador de conteúdo a responsabilidade de selecionar o que existe
de mais relevante, atualizado e acessível para o aluno. Os atributos com menor percentual,
porém ainda com nível de concordância acima de 60%, foram: banco de questões ENADE,
ambiente virtual de aprendizagem próprio e professores autores renomados e qualificados.
4.6 Bloco final
O bloco final apresenta os resultados comparativos entre as quatro dimensões
advindas dos blocos de perguntas: curadoria, pedagógica, tecnológica e qualidade. Os
resultados registraram 45% das seleções na dimensão qualidade, 30% na pedagógica, 21% na
curadoria e 4% na tecnológica.
Ainda sobre a comparação entre as dimensões, optou-se por fazer a abertura por
stakeholder para compreender como essa classificação foi realizada por cada perfil. Para os
avaliadores do MEC, a dimensão mais importante é a pedagógica, seguida da qualidade,
depois a curadoria e, por fim, a tecnológica. Já os bibliotecários consideram como mais
importante, em primeiro lugar, a dimensão curadoria, em segundo lugar, a pedagógica, em
terceiro lugar, a qualidade e, em quarto lugar, a tecnológica. Os gestores de EdTech, gestores
de IES e professores, por sua vez, concordam entre si, considerando a dimensão da qualidade
a mais importante e colocando as dimensões pedagógica, curadoria e tecnológica em
segundo, terceiro e quarto lugar, respectivamente.
Embora a qualidade seja a dimensão mais importante na visão dos stakeholders
participantes do questionário, entendemos que essa dimensão é uma consequência, o
resultado do trabalho realizado nas dimensões anteriores, o que significa que se as etapas
das dimensões de curadoria, pedagógica e tecnológica forem cumpridas, a qualidade acaba
representando apenas a conferência do processo de curadoria completo realizado.
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Bates (2017, p. 433) define a qualidade com enfoque sobre a aprendizagem
digital como “métodos de ensino que, com êxito, ajudam os alunos a desenvolver os
conhecimentos e as habilidades de que necessitam em uma era digital”. Compreender a
aplicabilidade desse conceito de gestão da qualidade no meio educacional não só
profissionaliza cada vez mais a oferta de cursos diversos como contribui para que gestores
educacionais possam relacionar conhecimentos técnicos e pedagógicos a métodos de
controle da qualidade, identificando assim possíveis melhorias de processos acadêmicos, tais
como a produção de conteúdo, a secretaria acadêmica, o planejamento docente e a própria
curadoria de conteúdo.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo deste estudo foi compreender a percepção de cinco stakeholders que
atuam no ensino superior privado brasileiro sobre a curadoria de conteúdo para EAD. A
análise dos dados do questionário, especialmente aqueles provenientes dos blocos curadoria,
pedagógico, tecnológico e qualidade, contribuíram para um melhor entendimento da
circulação desse conceito entre os profissionais da Educação e da realização do processo de
curadoria para EAD em diferentes IES.
O bloco curadoria evidenciou a relevância da curadoria, sua amplitude e a importância
da verificação dos indicadores de qualidade para que o processo possa gerar bons resultados
para a área educacional. Além disso, apontou a necessidade de que a curadoria de conteúdo
seja mais abordada no campo educacional, em especial na EAD, buscando diminuir os
percentuais de stakeholders que desconhecem a atividade, seu valor, suas características e
ferramentas (como, por exemplo, aquelas utilizadas para a identificação de plágio). Tornar o
conceito transversal à área da Educação é, portanto, cada vez mais necessário para que
docentes e gestores possam se identificar como atores desse processo.
O bloco pedagógico demonstrou o quanto é importante que os profissionais da
educação reconheçam a curadoria como uma nova oportunidade de atuação docente e que
os curadores conheçam o perfil do aluno e os objetivos de aprendizagem. Além disso, os
participantes consideraram que há maneiras diferentes de realizar curadoria, a depender da
modalidade a que ela se destina (EAD ou híbrida) – o que não implica, no entanto, que uma
seja mais fácil que a outra. Observou-se, também, que os stakeholders não conhecem
instrumentos de avaliação e seleção de conteúdos e objetos de aprendizagem já disponíveis
no mercado, o que evidencia uma necessidade educacional a ser melhor explorada em
pesquisas futuras.
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Já em relação ao bloco tecnológico, os stakeholders indicaram reconhecer
características, conhecimentos e recursos tecnológicos importantes para a curadoria de
conteúdo para EAD, reforçando conexões relevantes da tecnologia com a pedagogia. As
análises deste artigo apontam muito mais para a existência de demandas em relação a
recursos e ferramentas que facilitem a curadoria (gratuitas ou pagas) do que a algum tipo de
formação para o aprofundamento de conceitos e metodologias.
Por fim, a análise do bloco qualidade trouxe à tona uma preocupação com a baixa
apropriação dos indicadores de qualidade que devem compor o processo de curar conteúdo
pelos stakeholders. Para Bhaskar (2020, p. 89), “o valor que você acrescenta não tem só a ver
com somar. Tem a ver com excluir o que não é importante nem valioso”. E para excluir,
também se requerem as habilidades de triar, avaliar e organizar o conteúdo. A maior
referência da qualidade do conteúdo foi atrelada à formação e à experiência do profissional
que o construiu; pouca ênfase se deu a critérios que estejam relacionados com as dimensões
exploradas nas questões. A atualização do conteúdo, indicador imprescindível para a
curadoria, também não foi considerada essencial, ainda que no instrumento de avaliação do
MEC (INEP, 2017) o plano de atualização do conteúdo seja elencado como prioritário. Foram
identificadas fragilidades no entendimento sobre qualidade e sua relação com a curadoria de
conteúdo, pois as respostas não apresentam de maneira concisa e coerente um
direcionamento dos stakeholders em relação à ordem e à relevância de indicadores de
qualidade que possam trazer eficiência e eficácia para a curadoria de EAD.
Com base no referencial teórico e nos resultados apresentados, este estudo contribui,
assim, com indicadores que podem impulsionar trabalhos futuros na construção de manuais,
modelos e guias que auxiliem os diferentes stakeholders em todas as etapas da curadoria de
conteúdo para EAD, priorizando as distintas características das modalidades de ensino e,
principalmente, detalhando como atingir um número máximo de critérios de qualidade nesse
processo.
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