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Museologia de memórias traumáticas: a experiência brasileira e as memórias da ditadura

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Abstract

A preservação das memórias traumáticas da ditadura civil-militar no Brasil (1964-1985) tem suas primeiras ações ainda durante o período repressivo, com mobilizações de preservação de documentos, como o projeto Brasil Nunca Mais. Mas foi na democracia que as iniciativas de memorialização e patrimonialização ocuparam as vias públicas e foram paulatinamente sendo ressignificadas. Nesse processo, observa-se uma demanda crescente da contribuição da Museologia brasileira em benefício da ampliação do uso do passado dessas memórias traumáticas no presente. Sob esse prisma, a partir da análise da produção do conhecimento acadêmico brasileiro elaborado no campo da Museologia e de áreas congêneres, entre os anos 2014 e 2020, e de um mapeamento dos sítios de Memória e Consciência no Brasil dedicados à Ditadura, propõe-se a discussão sobre uma nova vertente de estudos museológicos: a Museologia de memórias traumáticas.
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Museologia de memórias traumáticas: a experiência brasileira e as
memórias da ditadura
Museology of traumatic memories: the Brazilian experience and
memories of the dictatorship
Enviado em: 03-05-2023
Aceito em: 21-06-2023
Ana Paula Brito1
Letícia Julião2
Resumo
A preservação das memórias traumáticas da ditadura civil-militar no Brasil
(1964-1985) tem suas primeiras ações ainda durante o período repressivo, com
mobilizações de preservação de documentos, como o projeto Brasil Nunca
Mais. Mas foi na democracia que as iniciativas de memorialização e
patrimonialização ocuparam as vias públicas e foram paulatinamente sendo
ressignificadas. Nesse processo, observa-se uma demanda crescente da
contribuição da Museologia brasileira em benefício da ampliação do uso do
passado dessas memórias traumáticas no presente. Sob esse prisma, a partir
da análise da produção do conhecimento acadêmico brasileiro elaborado no
campo da Museologia e de áreas congêneres, entre os anos 2014 e 2020, e de
um mapeamento dos sítios de Memória e Consciência no Brasil dedicados à
Ditadura, propõe-se a discussão sobre uma nova vertente de estudos
museológicos: a Museologia de memórias traumáticas.
Palavras-chave: museologia de memórias traumáticas; ditadura; sítio de
memória e consciência
Abstract
The preservation of the traumatic memories of the dictatorship in Brazil had its
first actions during the repressive period, with mobilizations for the preservation
of documents, such as the Brasil Nunca Mais project. But it was in democracy
1 Coordenadora da Rede Brasileira de Pesquisadores de Sítios de Memória e Consciência
(REBRAPESC) e assessora do Memorial das Ligas e Lutas Camponesas. Doutora em História,
Mestra em Museologia. Mestra em Memória Social e Patrimônio Cultural e licenciada em
História.E-mail: britoanapaulaa@gmail.com
2 Professora da UFMG atuando no curso de graduação de Museologia/Escola de Ciência da
Informação e nos Programas de Pós-Graduação em Ciência da Informação/UFMG,
Promestre/UFMG e Museologia e Patrimônio/UFRGS. Doutora em História. Mestra em Ciência
Política. Bacharel e licenciada em História. E-mail: juliao.leticia@gmail.com
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thatmemorialization and patrimonialization initiatives occupied the public space
and were gradually being re-signified. In this process, there is a growing
demand for the contribution of Brazilian Museology to the benefit of expanding
the use of the past of these traumatic memories in the present. From this
perspective, based on the analysis of the production of Brazilian academic
knowledge developed in the field of Museology andsimilar areas, between 2014
and 2020, and a mapping of Memory and Conscience sites in Brazil dedicated
to the Dictatorship, it is proposed to discussion about a new strand of
museological studies: the museology of traumatic memories.
Keywords: museology of traumatic memories; dictatorship; site of memory and
consciousness
Introdução
O passado brasileiro está repleto de experiências de violência que
nutrem memórias socialmente traumáticas. Basta lembrar as invasões
coloniais, os massacres aos povos originários e a escravização que durou mais
de três séculos. A prática dessas incontáveis violências se reconfigura, ganha
novos contornos, e sobrevive do período colonial até a contemporaneidade.
O Brasil ainda sustenta a imagem, reconhecida mundialmente, de um
país de gente feliz e animada, que sempre um “jeitinho” para resolver
situações de conflito. As disputas, os momentos críticos e os crimes cometidos
contra grupos sociais historicamente marginalizados não figuram na pauta
principal dos debates públicos no país ou, pelo menos, muito pouco tempo
têm saído do silêncio. Falar sobre traumas do passado brasileiro e de suas
sequelas no presente ainda perdura como uma espécie de assunto interditado
ou ignorado para a maioria da população.
Dentre os traumas da história mais recente, sem dúvida, estão aqueles
relacionados à ditadura civil-militar (1964-1985). São correntes nos estudos
sobre a transição democrática brasileira análises que apontam as limitações
com que o Brasil enfrentou seu passado de crimes de lesa-humanidade,
sobretudo se comparado com as nações vizinhas, como Argentina e Chile, que
conseguiram punir criminososimediatamente após a retomada da democracia.
A Lei de Anistia, resultado de uma conciliação na redemocratização brasileira,
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assegurou impunidade dos crimes, funcionando como um mecanismo de
manipulação da memória, de esquecimento e silêncio institucionalizado
(BRITO, 2019). A responsabilidade penal dos crimes de lesa-humanidade é um
tema muito investigado por especialistas da área jurídica, tais como Inês
Soares e Lúcia Bastos, que entendem que esse enfrentamento e processo de
responsabilização é “[...] essencial para atenuar o sentimento de injustiça e
pode contribuir para cicatrizar as feridas e para consolidar a democracia e a
cultura de respeito aos direitos humanos” (SOARES; BASTOS, 2010, p. 296).
O silêncio institucionalizado, imposto à população brasileira mediado
pela Lei de Anistia, conduziu a nação a um processo de manipulação do
esquecimento coletivo sobre esse trauma. Nesse contexto de discussão, o
autor Seligmann-Silva (2006) discute a relação entre dever de memória e dever
de justiça, pontuando que não é cabível pedir à nação que esqueça os crimes
cometidos nos chamados “anos de chumbo”. A questão ganha maior
notoriedade pública a partir do final da década de 1990, e o estabelecimento de
políticas públicas de memória e verdade tem paulatinamente derrocado o
silêncio institucionalizado. Mas a nódoa da impunidade (CUNHA, 2010)
permanece e segue preocupando os especialistas que investigam sobre
democracia e Direitos Humanos no Brasil.
No contexto de enfrentamento ao tema, observa-se que os estudos
sobre as memórias traumáticas da ditadura brasileira alcançaram relevo a partir
de meados da década de 1990. Foi nesse período que o tema ganhou
notoriedade pública, em razão da descoberta e da abertura da Vala
Clandestina de Perus, em um cemitério municipal da cidade de São Paulo,
onde, entre os restos mortais, foram identificados desaparecidos políticos da
ditadura. Desde então, o Brasil estabeleceu diversas políticas públicas em
atendimento à agenda de memória e verdade. Entre as comissões de maior
alcance nacional, destacam-se a Comissão Especial sobre Mortos e
Desaparecidos Políticos (1995), a Comissão da Anistia (2002) e a Comissão
Nacional da Verdade (2014).
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Diversas outras comissões foram criadas nos estados, municípios e em
entidades como universidades e associações. Grupos que atuam com direitos
humanos também vêm se organizando desde a transição para o regime
democrático para saber mais sobre o período ditatorial, buscando, sobretudo,
ações concretas para estabelecimento de verdade e justiça, usando a memória
como instrumento de esclarecimentos. Entre os incontáveis grupos
organizados, cabe destacar o grupo Tortura Nunca Mais e as associações de
ex-presos políticos e familiares de vítimas.
Na Academia, além da produção de teses, dissertações, artigos e
livros, vários grupos de pesquisa, redes de pesquisadores e núcleos de
estudos vêm se dedicando ao tema, nas mais variadas disciplinas. Entre eles,
cabe destacar o portal do Arquivo Nacional Memórias Reveladas – e a Rede
Brasileira de Pesquisadores de Sítios de Memória e Consciência3, que integra
uma rede global acadêmica dedicada a memórias de passados traumáticos.
É possível afirmar que o Brasil avançou nas pesquisas e reflexões
sobre memórias traumáticas da ditadura e em iniciativas de reparação. Livros,
documentários, indenizações financeiras e morais, filmes, exposições, criação
de monumentos, museus, estabelecimento de clínicas de assistência
psicológica sinalizam um salto significativo em matéria de políticas públicas de
memória, empreendidas durante governos progressistas, a partir das últimas
décadas.
Tal processo não se dá, no entanto, sem reveses. Durante o governo
de Jair Bolsonaro (2019-2022), assistiu-se a um retrocesso, sem precedentes,
em relação às políticas públicas de memória. Dentre os diversos entraves, são
emblemáticas ações como a suspensão das obras do Memorial da Anistia em
Belo Horizonte, em Minas Gerais; o destombamento da Casa da Morte de
Petrópolis, no Rio de Janeiro; ou adescontinuidade das ações do Prêmio
Memórias Reveladas. Mas, a despeito da gestão negacionista de Jair
Bolsonaro, as pesquisas no âmbito acadêmico, juntamente com esforços de
grupos de Direitos Humanos, garantiram minimamente a continuidade do
3 Saiba mais em: https://www.rebrapesc.com.br/. Acesso em 30/04/2023.
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processo de enfrentamento das memórias traumáticas. Não foi diferente com o
campo da Museologia. A análise da produção acadêmica, oriunda dos cursos
de graduação e pós-graduação de Museologia e de áreas congêneres, somada
ao mapeamento dos Sítios de Memória e Consciência estabelecidos no país,
permite refletir, como se verá adiante, sobre a pertinência de se falar de uma
Museologia de Memórias Traumáticas4.
A Museologia no Brasil e as memórias traumáticas da ditadura
Para se conhecer a produção sobre o tema no campo da Museologia,
estabeleceu-se como recorte temporal o período de 2014 ano de conclusão
do Relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV), instalada em 2011 a
2022. Considerou-se, por conseguinte, que possivelmente os trabalhos da
CNV, assim como as recomendações do seu relatório final, sobretudo, em
relação à preservação da memória, tenham estimulado pesquisas e ações,
muitas das quais pautadas na Museologia.
Para delinear a produção do campo da Museologia nesse período,
foram feitas buscas em programas de pós-graduação strictu sensu em
Museologia; revistas acadêmicas da Museologia; anais de eventos da
Museologia; anais de eventos nacionais de áreas congêneres (História,
Antropologia e Ciências Sociais); e no repositório da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior-CAPES. É possível afirmar que
a produção acadêmica ainda é tímida do ponto de vista quantitativo.
Foramidentificados 23 trabalhos, dos quais foram abordados 225, tendo em
vista a possibilidade de acesso à produção. Foram examinadas 4 teses de
doutorado, 3 dissertações de mestrado, 11 artigos e 04 ensaios/relatos de
experiências.
4 O artigo é, em parte, fruto de pesquisa realizada e apresentada na dissertação de mestrado
intitulada “Museologia de memórias traumáticas: a produção acadêmica da Museologia
brasileira sobre a ditadura (2014-2020)” defendida no Programa de Mestrado em Museologia e
Patrimônio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Disponível em:
https://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/255231. Acesso em 12/04/2023.
5 Após as referências bibliográficas deste artigo, será possível identificar a lista das referências
dos trabalhos analisados, divididos pelos blocos de repositórios em que foram buscados.
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Por meio de uma abordagem dos metadados das referências
bibliográficas é possível identificar a recorrência a autores da Museologia e dos
campos da Memória, Patrimônio e da Justiça de Transição. Em um balanço,
pode-se afirmar que os trabalhos dialogam ainda pouco com categorias e
conceitos da Museologia. Somente quatro dos trabalhos analisados fazem
referências aos estudos museológicos, cabendo mencionar a predominância de
autoria feminina. Em geral, os pressupostos da Nova Museologia são
apresentados como uma espécie de chave que abre as portas da discussão de
memórias traumáticas, no território investigativo da Museologia, em diálogo
com outras disciplinas.
As conexões entre a Museologia e os estudos de justiça de transição
são ainda frágeis. Embora sejam evocados com frequência conceitos da
Justiça de Transição, são poucos os trabalhos que se apoiam em autores da
área. Vale lembrar que uma elevada produção com enfoque nas questões
do campo do Direito sobre o tema da ditadura. Além de incontáveis artigos,
livros e revistas, o periódico “Revista Anistia, política e justiça de transição”,
publicado pela Comissão de Anistia, do Governo Federal, possui um robusto
compilado de análises de especialistas sobre justiça de transição, que abordam
o caso brasileiro.
Outro ponto a ser observado são os termos recorrentes nos títulos,
palavras-chaves e resumos dos 22 estudos analisados. Com o auxílio do
programa Nvivo6, foi possível extrair os termos com maior recorrência, a saber:
memória/memórias, museu, espaços, ditadura. Esses são termos que autores
brasileiros têm utilizado com mais frequência para abordar as memórias
traumáticas. Dentre os trabalhos analisados, muitos constituem estudos de
casos; em geral, é o estudo da memória que os conecta a um horizonte comum
de análise, e por postularem o tensionamento próprio da pluralidade dessas
memórias, observa-se o destaque do termo no plural entre as palavras mais
repetidas (BRITO, 2023).
6 Software de análise de dados qualitativos.
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Das categorias eleitas para examinar os estudos, fato museal aparece
apenas em cinco trabalhos, não sendo um conceito estruturante das análises.
Os trabalhos utilizaram o conceito para justificar seu desenvolvimento no
campo da Museologia, ressaltando que o objeto de suas respectivas pesquisas
estava enquadrado na relação entre a sociedade e o seu patrimônio em um
cenário institucionalizado. Já a ideia de reparação social é encontrada em onze
estudos, mas quase sempre sem uma discussão mais densa de seu
entendimento no campo da Justiça de Transição. Nessa categoria de análise, a
perspectiva da memória é identificada como ferramenta social para que nunca
mais outros crimes, como os ocorridos na ditadura, voltem a acontecer. A
categoria sítio de memória e consciência (SMC), por sua vez, é recorrente nos
estudos; o termo aparece em seis trabalhos, dos 22 analisados, demonstrando
que esta é uma categoria que possui uma discussão emergente. Em particular,
foi possível perceber que em torno de SMC vêm se delineando discussões
teóricas articuladas a outros conceitos, igualmente importantes para o campo
museológico.
O conceito de Sítio de Memória e Consciência-SMC
Na região latino-americana, a ideia de Sítio de Memória vem
sendo discutida mais tempo e com maior profusão do que no Brasil.
No contexto da atuação da Red Latinoamericana de Sítios de Memoria e
Consciencia, da Coalition Sites of Conscience7, das organizações de
vítimas à Academia, o termo vem sendo operado para se referir a
instituições que lidam com memórias de passados traumáticos. Ainda
que incipiente, o termo vem adquirindo relevância mais recente em
pesquisas realizadas em instituições brasileiras, como identificado nos
seis trabalhos mencionados no tópico anterior. É importante ressaltar
que, além de SMC, outros termos são empregados pelos estudospara
designar espaços dedicados a memórias traumáticas, como se vê na figura 1.
7 Saiba mais em: https://www.sitesofconscience.org/. Acesso em 13/04/2023.
Revista
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Figura 1
: Nomeações de instituições que trabalham com memórias traumáticas da ditadura,
identificados nos 22 estudos analisados na obra de BRITO, 2023.
Importa observar que, independentemente do termo eleito nos estudos,
eles são utilizados no sentido de demonst
dupla perspectiva, a viabilização de trabalhos de luto, mas, também, e
sobretudo, ferramentas para trabalhos de lutas sociais, vinculadas a um dever
de memória/reparação e para promoção de uma consciência social. Em algu
dos estudos que empregam SMC, o termo aparece vinculado a processos de
musealização in situ.
Essaé uma das modalidades que confere musealidade ao
patrimônio, sem extraí
-
chamados museus de sítio, ecomuseus
e outras nomenclaturas. Importante destacar, no entanto,
queconvencionalmente a ideia de SMC tanto pode se referir a processos de
musealização in situ
quanto a qualquer outro espaço, mesmo que não situado
em territ
abordá-
las. O valor primeiro dessas instituições de memória é valorizar o
respeito aos direitos humanos; em geral, esse é o mobilizador de tais
reivindicações e iniciativas e seu objetivo fin
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: Nomeações de instituições que trabalham com memórias traumáticas da ditadura,
identificados nos 22 estudos analisados na obra de BRITO, 2023.
Importa observar que, independentemente do termo eleito nos estudos,
eles o utilizados no sentido de demonst
rar que as instituições possuem uma
dupla perspectiva, a viabilização de trabalhos de luto, mas, também, e
sobretudo, ferramentas para trabalhos de lutas sociais, vinculadas a um dever
de memória/reparação e para promoção de uma consciência social. Em algu
dos estudos que empregam SMC, o termo aparece vinculado a processos de
Essaé uma das modalidades que confere musealidade ao
-
lo de seu contexto original e que se vincula aos
chamados museus de sítio, ecomuseus
, território de memória, tio de memória
e outras nomenclaturas. Importante destacar, no entanto,
queconvencionalmente a ideia de SMC tanto pode se referir a processos de
quanto a qualquer outro espaço, mesmo que não situado
ório que seja foco de memórias traumáticas, mas que se dedique a
las. O valor primeiro dessas instituições de memória é valorizar o
respeito aos direitos humanos; em geral, esse é o mobilizador de tais
reivindicações e iniciativas e seu objetivo fin
al.
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: Nomeações de instituições que trabalham com memórias traumáticas da ditadura,
Importa observar que, independentemente do termo eleito nos estudos,
rar que as instituições possuem uma
dupla perspectiva, a viabilização de trabalhos de luto, mas, também, e
sobretudo, ferramentas para trabalhos de lutas sociais, vinculadas a um dever
de memória/reparação e para promoção de uma consciência social. Em algu
ns
dos estudos que empregam SMC, o termo aparece vinculado a processos de
Essaé uma das modalidades que confere musealidade ao
lo de seu contexto original e que se vincula aos
, território de memória, sítio de memória
e outras nomenclaturas. Importante destacar, no entanto,
queconvencionalmente a ideia de SMC tanto pode se referir a processos de
quanto a qualquer outro espaço, mesmo que o situado
ório que seja foco de memórias traumáticas, mas que se dedique a
las. O valor primeiro dessas instituições de memória é valorizar o
respeito aos direitos humanos; em geral, esse é o mobilizador de tais
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Um sítio de memória tem em sua essência um elemento propulsor dos
direitos humanos no presente. É uma instituição cultural dedicada à ativação da
memória de passados traumáticos, para a educação e o respeito aos direitos
humanos. Reduzir esse entendimento a uma instituição cultural estabelecida
em um lugar que foi palco de repressão durante regimes ditatoriais é
domesticar uma instituição que passa a ter uma função pouco flexível e
dinâmica (BRITO, 2019).
É possível que a produção acadêmica no campo da Museologia tenha
se ocupado prioritariamente com a designação dessa tipologia de museu em
decorrência das experiências museais que ganharam curso nos últimos anos.
Não se pode ponderar a respeito da existência de uma possível Museologia de
Memórias Traumáticas, sem compreender o cenário brasileiro de musealização
de referências dessas memórias. Se é certo que as reflexões teóricas, no
âmbito acadêmico, podem contribuir para qualificar a prática profissional
nesses museus, não importa se conceituados como SMC, Memorial ou Lugar
de Memória, é indiscutível também que o esforço de teorização seja fomentado
por essas vivências de planejamento, implantação e funcionamento desses
espaços. Ainda que sejam poucas as instituições no Brasil que se enquadram
na tipologia de SMC, algumas experiências merecem ser analisadas.
Os Sítios de Memória e Consciência sobre a ditadura estabelecidos no
Brasil
Em 1999, o Brasil criou seu primeiro memorial dedicado às memórias
da ditadura civil-militar, o Memorial da Resistência de São Paulo (MRSP). Vinte
e um anos depois, o país que dispõe de 27 unidades federativas possui apenas
cinco instituições museológicas com funcionamento regular, dedicadas ao
tema, as quais são: Memorial da Resistência de São Paulo, Memorial da
Democracia da Paraíba, Memorial das Ligas e Lutas Camponesas de Sapé
(MLLC), também na Paraíba, Memorial da Resistência de Fortaleza (MRSF), e
Memorial da Democracia de Pernambuco.
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O MRSP funciona nas dependências de um antigo cárcere da ditadura
na cidade de São Paulo, administrado por uma Organização Social, com
recursos do Governo do Estado. o MLLC foi criado em 2006 nas
dependências da casa onde morou o líder camponês João Pedro Teixeira, líder
das Ligas Camponesas assassinado durante a ditadura, na cidade de Sapé, no
estado da Paraíba. o MRSF foi criado em 2013 no imóvel onde funcionou
um antigo cárcere da ditadura, na cidade de Fortaleza, e é administrado pela
Secretaria Municipal de Cultura. Os mais recentes memoriais, da Democracia,
nos estados da Paraíba e Pernambuco, são ambos administrados por governos
estaduais e instalados em lugares sem nenhuma relação com episódios de
repressão ou resistência durante a ditadura. Estas instituições possuem
funcionamento regular, ou seja, abrem as portas para atividades semanais8; há
ainda locais que estão em processo de construção e que não funcionam de
forma regular.
O Memorial da Resistência de São Paulo recebeu primeiramente, em
2002, o nome de Memorial da Liberdade. Trata-se da primeira musealização in
situ sobre a ditadura no Brasil no prédio onde, entre 1940 e 1983, funcionou a
Delegacia de Ordem Política e Social (DOPS) de São Paulo. Originalmente, o
prédio, de 1914, abrigou o Armazém Central e os escritórios técnicos da
Estrada de Ferro Sorocabana. Símbolo da arquitetura ferroviária paulista, em
1999, foi tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico,
Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (CONDEPHAAT)9.
8 Cabe registrar que o Memorial da Resistência de Fortaleza está temporariamente com seu
funcionamento interrompido, devido a obras no prédio.
9 Para saber mais sobre o processo de constituição do MRSP, sugere-se consulta aos
trabalhos dos pesquisadores Carlos Beltrão do Valle (2012), Deborah Neves (2014) e Ana
Paula Brito (2019), que discutem elementos importantes quanto à patrimonialização do edifício,
conferindo destaque às ações de preservação das memórias da ditadura no local, analisando
as diversas disputas ocorridas no âmbito da ocupação que seria feita ao prédio. Ver: VALLE,
Carlos Beltrão do. A patrimonialização e a musealização de lugares de memória da ditadura de
1964 o Memorial da Resistência de São Paulo; 2012. Dissertação (Mestrado em Memória
Social) – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro; e, NEVES, Deborah Regina Leal.
A persistência do passado: patrimônio e memoriais da ditadura em São Paulo e Buenos Aires.
2014. Dissertação (Mestrado em História Social) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014.
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A ocupação cultural no local começou em 1999, com a realização da
peça “Lembrar é resistir”10, encenada nas dependências do edifício durante um
ano. A musealização posterior é resultado da reivindicação de grupos da
sociedade organizada, que interpelaram o Estado para a preservação da
memória da ditadura no local. No processo de requalificação de Memorial da
Liberdade para Memorial da Resistência, foram contratados dois ex-presos
políticos que atuaram como consultores no processo de elaboração da nova
exposição. Com uma aposta mais na resistência do que na repressão, o
Memorial, instalado no rreo do edifício, apresenta uma expografia que
reproduz algumas das celas em que os presos políticos ficaram detidos durante
a ditadura.
À exceção do Memorial da Resistência de São Paulo, as demais
instituições museológicas dedicadas às memórias traumáticas da ditadura, com
funcionamento regular, estão localizadas em estados do Nordeste. Em 2006,
por iniciativa de assentados e camponeses da comunidade rural de Barra de
Antes, da cidade de Sapé, na Paraíba, foi criado o Memorial das Ligas e Lutas
Camponesas, como resultado de um processo de preservação da memória dos
mártires da luta pela terra, assassinados no âmbito das Ligas e Lutas
Camponesas, na década de 1960. Por ocasião da celebração dos 40 anos do
assassinato do líder camponês João Pedro Teixeira,11 morto em 02 de abril de
1962, camponesas/es, integrantes da Comissão Pastoral da Terra (CPT), do
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), de movimentos pelos direitos
humanos e outros movimentos sociais organizaram uma marcha do local do
seu assassinato até a casa onde vivia com a família.
A partir dessa manifestação, várias outras ações de memorialização
foram paulatinamente conformando a base do futuro memorial, como a coleta
de testemunhos, a reunião de documentos e a produção de cartilhas e livros. A
10 Autoria de Analy Alvarez e Izaias Almada, 1999.
11 João Pedro Teixeira (1918-1962) foi alçado à condição de herói nacional, tendo seu nome
inscrito no Livro dos Heróis e Heroínas, que se encontra depositado no Panteão da Liberdade e
da Democracia Tancredo Neves, em Brasília-DF, conforme determinação legal (Lei 13.598,
de 2012).
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casa onde havia morado a família Teixeira12 foi reconhecida como patrimônio e
tombada em 2010, sendo desapropriada e cedida, em regime de comodato, ao
Memorial. Ali foi instalado um museu de sítio, em 2012, administrado por
camponeses. Além de duas salas destinadas a exposições temporárias, o
Memorial dispõe de uma exposição de longa duração que apresenta um vídeo
e painéis com recortes de jornais e fotografias das Ligas Camponesas e de
mártires da luta pela terra, que referenciam as memórias de muitas gerações
de luta pela terra, de resistência pela agroecologia, de ações de valorização da
educação formal e popular no campo, e de promoção e defesa da vida
saudável como direito humano fundamental.
Figura 02: Casa onde morou a família Teixeira e abriga a exposição de longa duração e
exposições temporárias. Foto: Ana Paula Brito.
Também como resultado da reivindicação de organizações da
sociedade civil, como Comitê Memória Verdade e Justiça do Ceará, Coletivo
Aparecidos Políticos, Levante Popular da Juventude e a Associação 64/68
Anistia, foi criado em 2013 o Memorial da Resistência de Fortaleza, nas
dependências da antiga sede da Polícia Federal, onde funcionou um cárcere
12 O núcleo familiar dos Teixeira foi devastado após a morte do líder camponês, devido à
perseguição sofrida pela viúva, Elizabeth Teixeira, pelos latifundiários da região. Os irmãos
foram separados e Elizabeth precisou viver na clandestinidade, com apenas um de seus onze
filhos. O caso é retratado no filme “Cabra Marcado para morrer”, de Eduardo Coutinho, 1984.
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durante a ditadura.13 Seu espaço físico exíguo, com cerca de 30m², conforma
quatro ambientes: entrada, solitária e duas celas, além de corredores, também
utilizados para a exposição.
A exposição de longa duração, “Arquivo das sombras”, reúne
documentos, fotografias e recursos expográficos, além de explorar
prospecções parietais que exibem vestígios materiais do edifício. registros
preservados no interior das celas e, no exterior de uma delas, foi instalado um
painel colorido com fotos de mortos e desaparecidos. Esse painel serve
também de base para intervenções do público, que podem fazer inscrições no
vidro instalado sob as fotografias.
Atualmente, a instituição, de acordo com um de seus colaboradores,
está com processo de ampliação do seu espaço museal, que passará a contar
com aproximadamente 100m², com a abertura de mais celas, inclusão de
novas salas expositivas e construção de um ambiente externo. O
funcionamento/atendimento é vinculado a demandas externas.
Figura 03: Detalhes de parte da frente e do verso do folder institucional do Memorial da
Resistência de Fortaleza (MRF). Fonte: Acervo institucional do MRF.
13 SOUZA, Ingrid Silva. Lembrar é resistir: Memorial da Resistência em Fortaleza e as lutas
pela memória sobre a Ditadura Militar (2012-2013). Monografia do curso de graduação em
História. Centro de Humanidades da Universidade Estadual do Ceará, 2017.
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O Memorial da Democracia da Paraíba foi criado em 2012 pelo mesmo
decreto14 que instituiu a Comissão Estadual da Verdade e da Preservação da
Memória do Estado da Paraíba (CEVM/PB). Após a finalização do trabalho da
CEV/PB e publicação do seu relatório em 2017, o Memorial realizou algumas
atividades virtuais com parceiros, dentre os quais a Rede Brasileira de
Pesquisadores de Sítios de Memória e Consciência. Mas, somente no ano de
2020 lhe foi destinada uma sala para exposição e acolhimento de
pesquisadores. Localizada no segundo andar da Fundação Casa José Américo
(FCJA), a sala foi aberta ao público em outubro de 2022 com a exposição
temporária “Vozes, Vetos e Votos”, que reúne painéis e objetos que contam a
história do processo de luta pelo voto no Brasil, com maior ênfase, no estado
da Paraíba.
Figura 04: Exposição Vozes, votos e vetos, no Memorial da Democracia da Paraíba. Foto: Ana
Paula Brito.
Um projeto de curadoria da exposição de longa duração15 foi elaborado
em fevereiro de 2021 e aprovado pela Comissão de Implantação do
Memorial.16 Tendo em vista o espaço expositivo reduzido, adotou-se a
14 Decreto no 34.426, de 31/09/2012, assinado pelo governador Ricardo Vieira Coutinho.
15 Curadoria da exposição feita por Ana Paula Brito, pesquisa histórica por Suelen Andrade e
pesquisa iconográfica por Fernanda Rocha, apresentada em reunião realizada com a
Comissão em 23/02/2021. A principal fonte documental da exposição é o resultado do trabalho
desenvolvido pela CEVM/PB, coordenado pelos professores Paulo Giovani e Lúcia Guerra.
16 Na entrega do Relatório Final da CEVPM-PB à sociedade paraibana, o governador do
estado publicou o Decreto Governamental 2.947/2017, nomeou uma comissão para a
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estratégia de revisar e atualizar, a cada ano, parte da exposição, sobretudo os
módulos relacionados à diversidade dos grupos que resistiram à ditadura no
Brasil. O Memorial não dispõe de autonomia administrativa e nem de uma
equipe técnica, funcionando dentro da Gerência Executiva de Documentação e
Arquivo da FCJA.
No mesmo ano de abertura ao público do Memorial da Democracia da
Paraíba, 2022, foi inaugurado também o Memorial da Democracia de
Pernambuco Fernando Vasconcelos Coelho, em decorrência de reivindicação
antiga de grupos de vítimas e organizações de direitos humanos de
Pernambuco. Localizado no bairro de Casa Amarela, o memorial foi instalado
em um imóvel histórico, no Sítio Trindade, tombado pelo Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), em 1974, e cedido pela Prefeitura do
Recife, para uso por 30 anos17. No local, além da casa, um sítio
arqueológico, conhecido como “Forte Real do Bom Jesus”18, que exibe
vestígios arqueológicos do período da invasão holandesa.
Figura 05: Sala de entrada do Memorial da Democracia de Pernambuco. Foto: Ana Paula Brito
instalação do referido Memorial, formada por Lúcia de Fátima Guerra Ferreira, Waldir Porfírio
da Silva, Shara Rachel Silva Dutra de Medeiros e Lidiana Carvalho Cavalcanti.
17 Informação veiculada nos meios de comunicação oficial da Prefeitura de Recife. Disponível
em: https://www2.recife.pe.gov.br/noticias/29/12/2022/recife-ganha-memorial-da-democracia-
de-pernambuco. Acesso em 15/04/2023.
18 Saiba mais sobre o sítio arqueológico em:
http://www.recife.pe.gov.br/2010/05/14/achados_arqueologicos_sao_objetos_de_exposicao_no
_sitio_trindade_171847.php. Acesso em 14/04/2023.
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A exposição reúne importantes e variados tipos de documentos,
provenientes de acervos, como o da Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ).
Três obras de arte integram a exposição, duas do lado externo e uma na sala
de entrada. A sala de entrada, nomeada19 de “Alma pernambucana”, exibe
fotografias e nomes de pessoas ilustres do estado, tais como Paulo Freire,
Gilberto Freire, Dona Biu e outras mulheres. Na sala dedicada às “Lutas contra
a escravidão e pela liberdade”, um conjunto de fotografias de personagens é
apresentado com a legenda “Retratos de mulheres e homens afro-
pernanbucanos que participaram das lutas abolicionistas, alguns dos quais,
integravam o Clube Capim (fim do séc. XIX)”. Era de se esperar que fosse
também feita a identificação devida desses personagens, com dados inclusive
existentes na FUNDAJ, a exemplo da fotografia de Sebastião Grande de
Arruda, abolicionista do Recife, e não uma legenda geral para essas
personalidades históricas, cujas atuações foram historicamente silenciadas na
história.
Figura 06: Fotografia de Sebastião Grande de Arruda. Fonte: Acervo FUNDAJ.
É importante mencionar que todas essas instituições, com exceção do
Memorial da Resistência de São Paulo, funcionam em condições precárias,
com pessoal e recursos insuficientes. Muitas não dispõem de pessoal
19 Nomeações feitas pelo projeto de curadoria em setembro de 2022. O catálogo da curadoria
foi entregue na solenidade de abertura do Memorial, em dezembro de 2022.
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especializado e contam com o trabalho de colaboradores. Apesar de terem o
apoio do Poder Público para serem criadas, isso não ocorre para a sua
manutenção e o desenvolvimento museológico.
É preciso mencionar outras iniciativas, cujos processos de
musealização estão em curso ou foram suspensos. casos também de
funcionamento irregular de instituições que foram abertas ao público. Como
os memoriais abordados acima, são iniciativas que respondem a reivindicações
de grupos da sociedade civil, que atuam articulados, na maioria das vezes,
com órgãos públicos. Em decorrência de conjunturas políticas regionais ou
mesmo nacionais, sofrem descompassos e descontinuidades em seus
processos de constituição e permanência.
Estão neste rol o Memorial da Luta pela Justiça, inaugurado com a
exposição temporária “Vozes da Defesa”, instalado nas dependências da
antiga Auditoria Militar da cidade de São Paulo, em prédio tombado pelo
Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e
Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp). O Memorial dos Direitos
Humanos do Rio de Janeiro é um projeto que segue em disputa para ser
instalado no antigo cárcere da ditadura na cidade do Rio de Janeiro. De um
lado, a Polícia Militar do Estado do Rio Janeiro quer construir o Museu da
Polícia, do outro, organizações de direitos humanos, como o Grupo Tortura
Nunca Mais, entre outros, lutam pela criação do Memorial.
Outra iniciativa é o Memorial dos Direitos Humanos de Minas Gerais, a
ser instalado no prédio tombado nas esferas estadual e municipal do antigo
DOPS/MG, em Belo Horizonte. O projeto encontra-se em desenvolvimento, no
âmbito do Governo do Estado de Minas Gerais, e conta com a parceria da
Universidade Federal de Minas Gerais. Projeto também em andamento, o do
Centro de Memória Frei Tito de AlencarLima, deverá ser instalado na casa,
tombada e desapropriada, onde morou o dominicano, em Fortaleza, no Ceará.
O projeto conta com investimentos de recursos públicos, além dos esforços de
grupos da sociedade civil.
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outros casos, que envolvem disputas, com avanços e retrocessos,
como o do imóvel onde funcionou um centro clandestino, o antigo DOI-Codi de
São Paulo, conhecido entre os agentes da repressão como “Casa da vovó”.20
Uma comissão interinstitucional, coordenada pelo CONDEPHAAT, vem
desenvolvendo um projeto21 de ocupação museológica no local. Em Porto
Alegre, o antigo Centro Clandestino de Repressão, conhecido como Dopinho
entre os ex-presos políticos, é um caso que ganhou notoriedade. O imóvel, que
passou por um processo de tombamento pelo IPHAN não concluído e
arquivado22, é reivindicado para ser transformado no Memorial Ico Lisboa, por
coletivos de ex-presos políticos, familiares de vítimas e militantes de Direitos
Humanos.
Finalmente, não se pode deixar de mencionar o centro clandestino que
ficou conhecido como a Casa da Morte de Petrópolis, no Rio de Janeiro. A
descoberta de seu uso durante a ditadura teve grande repercussão nacional
durante as investigações feitas pela CNV, quando a única sobrevivente viva à
época, Inês Etienne Romeu, compartilhou relatos decisivos para a sua
identificação. O imóvel foi tombado como patrimônio histórico pelo órgão de
preservação municipal, desapropriado, destombado e segue sendo
reivindicado para ser criado no local um centro de memória.
Todas essas experiências, bem-sucedidas ou não, têm interpelado a
Museologia brasileira. Têm demandado construir abordagens muito
específicas, porque estão em jogo memórias enquadradas em campo de forças
de intensas disputas; porque estão em jogo passados violentos e traumáticos
que implicam construir uma ética condizente com a comunicação pública de
sofrimentos.
20 GODOY, Marcelo. A casa da vovó: uma biografia do DOI-Codi (1969-1991). São Paulo.
Editora Alameda, 2014. p. 19.
21 Saiba mais sobre essa iniciativa e disputa em: NEVES, Deborah. DOI-CODI A Experiencia
de preservação de um patrimônio sensível. Revista Contenciosa. Argentina, 2018.
22 Saiba mais sobre esse processo de tombamento e a disputa de musealização em:
CUSTÓDIO, Jacqueline. Dopinho, entre evocar e apagar: as disputas de memória relativas ao
DOPS/RS. (Dissertação de mestrado). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2022.
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Sobre a pertinência de uma Museologia de Memórias Traumáticas
Ainda que haja muito a avançar em termos de estudos e de
experiências de memorialização, patrimonialização e musealização do passado
da ditadura, observa-se que a Museologia vem se ocupando de forma
crescente do tema, assinalando um cenário promissor em âmbito nacional. É
possível afirmar, portanto, haver uma nascente museologia de memórias
traumáticas no Brasil. Linhas de pesquisa, artigos científicos, produção de
teses e dissertações, sempre na transversalidade de campos de conhecimento,
atestam essa tendência, assim como projetos de musealização implantados ou
em andamento. Todas essas reflexões e iniciativas acumuladas concorrem
para consolidar a perspectiva museal de memórias traumáticas, referentes não
apenas ao período da ditadura civil-militar, mas a tantos outros passados
marcados por violências e crimes de lesa-humanidade.
Sustentam o argumento de uma museologia de memórias traumáticas
algumas especificidades implicadas nesses processos de musealização. Sob o
prisma das exposições, é notável o desafio que se impõe a esse tipo de
trabalho museológico de comunicar conteúdos sensíveis para diferentes
públicos. limites humanos que precisam ser respeitados e muitos museus
têm utilizado recursos que sinalizam estes conteúdos ou mesmo recomendam
faixas etárias. É claro que a emoção é uma grande aliada para gerar empatia,
mas sua ativação precisa ser conduzida com precaução. É tentador o uso de
estratégias, dentre as quais as chamadas exposições imersivas, que evocam
ou fomentam um clima de tensão, medo ou terror sentimentos comumente
associados a esse tipo de memória. Mas convém avaliar o risco da
“disneyficação” de traumas musealizados. É preciso estar atento aos limites
éticos da exibição da dor, das torturas, das violências, dos traumas. O discurso
da expografia pode e deve trazer emoção, mas sem prejuízo do seu
compromisso com a construção de uma consciência histórica e cidadã.
De outra parte, as curadorias de exposições de memórias
traumáticas são desafiadas a acolher os conflitos de memória e as
manipulações dos esquecimentos públicos. Soma-se a isso a importância de
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compreender o lugar dos testemunhos e enfrentar o perigo das narrativas
únicas. Segundo o alerta de Ricard Vinyes (2009), pesquisadores devem agir
com cautela ao se depararem com o chamado “estatuto da vítima”, evitando
processos de heroicização. O cruzamento de fontes é indispensável e as
controvérsias oferecem mais chances de ressignificações de fatos históricos.
Listas de nomes e fotografias são recorrentes nesse tipo de exposição,
mas o recurso demanda cuidados, como autorizações das vítimas e/ou de seus
familiares, sob pena de se violar privacidades, infligir constrangimentos. O
oposto também deve ser observado, ou seja, o risco de esquecimentos,
apresentando uma lista incompleta, com omissão de pessoas.
Importa destacar também que a museologia de memórias traumáticas se
inscreve no quadro de pressupostos da decolonialidade. Tratar de memórias de
um passado de violências, de crimes de lesa-humanidade, de histórias
periféricas e contestadassignifica, tanto do ponto de vista do museu quanto da
museologia, conceber a multiversidade de corpos de conhecimento, estéticas,
visões e narrativas, de modo a operar uma mudança de centralidade, que logra
abandonar o lastro da colonialidade (PORTO, 2016). Nessa direção, é possível
reconhecer uma estratégia determinante dessa virada do lugar de enunciação,
que tem se tornado recorrente em sítios de memória e consciência, que é a
curadoria compartilhada ou colaborativa. Consultas públicas, diálogos ou
mesmo a atuação direta com atores sociais importantes na preservação dessas
memórias têm assegurado a esses museus trazer para o primeiro plano
perspectivas e conhecimentos de protagonistas de lutas e resistências.
Outras peculiaridades merecem menção quando se trata da
musealização de memórias traumáticas. Embora não seja debatido, sabe-se
que o trabalho com esse tipo de memória afeta pesquisadores, curadores,
educadores, entre outros profissionais que lidam cotidianamente com histórias
de violências. Também não se pode esquecer que, como em qualquer discurso
expositivo, o neutralidade possível no trabalho com esse tema. A
valorização dos Direitos Humanos e a defesa da dignidade da pessoa humana
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não comporta que o museu se desincumba de sua função social e negocie sua
narrativa institucional.
Finalmente, ressalta-se o quanto a museologia de memórias traumáticas
é movida pela missão do “Nunca mais”. Bastante difundido em toda a região
latino-americana, o emblema faz alusão às memórias traumáticas dos regimes
ditatoriais que assolaram o continente entre as décadas de 1960 a 1980. No
caso brasileiro, sobretudo nas últimas duas décadas, a memória tem sido
reivindicada por organizações da sociedade civil e por agentes públicos como
elemento a ser preservado para que novos crimes como os da ditadura não
voltem a ocorrer. O mesmo ocorre com pesquisadores acadêmicos, como
mostra Brito (2023), que aponta um percentual significativo de investigadores
que apresentam a memória como ferramenta social para assegurar o “nunca
mais”. O “NeverAgain”, “Nunca más” ou “Nunca Mais” é uma aposta na
memória como catalisadora de um movimento que impeça a repetição de
situações semelhantes aos acontecimentos do passado.
No entanto, é importante analisar a pertinência e os limites dessa
perspectiva de uma memória salvadora, como advertem Ricard Vinyes e
Elizabeth Jelin (2021). Será que a preservação da memória poderá, de fato,
salvar uma sociedade de investidas autoritárias? Se não é papel da memória
dar garantias contra reincidências de violações de direitos humanos, qual a
função das políticas de memórias? O que poderão as instituições de memória
diante de um cenário de crescimento, em todo mundo, da extrema direita? O
que pode a memorização do período da ditadura civil-militar diante da
experiência recente de um governo, no Brasil, que sistematicamente violou
direitos humanos e desprezou os valores democráticos? Seria possível evitar
as tentativas de golpes, como a do dia 08 de janeiro de 2023?
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Figura 07: Atentado à Democracia e depredação dos prédios dos três poderes, em Brasília.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil.
Caberá à Museologia e às áreas afins avançar nesse debate. Mas a
imagem acima pode contribuir com uma reflexão sobre a importância de não
negligenciar a existência dos conflitos e disputas da memória no espaço
público. Entendemos que a memória pode ser uma importante aliada para que
a sociedade atue na defesa e no fortalecimento da democracia, bem como na
promoção dos direitos humanos no país.
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reopassadoeopresenteamemoriamilitarsobregolpede1964naspaginasdaRevista
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SAUER, Sérgio e SARAIVA, Regina Coelly Fernades. (Re)construção da
memória de repressão e resistências camponesas: reflexões sobre a Comissão
Camponesa da Verdade. 39º Encontro Anual da Associação Nacional de
Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais, 2015. Disponível em:
Acesso em 22/06/2023.
SILVA, João Batista Teófilo. A invenção do passado e a construção do
presente: imprensa e memória no longo fim da ditadura civil-militar (1974-
1985). Anais do XXVII Simpósio Nacional de História Lugares dos
historiadores: velhos e novos desafios, 2015. Disponível em:
http://www.snh2015.anpuh.org/resources/anais/39/1427744261_ARQUIVO_Ain
vencaodopassadoeaconstrucaodopresenteTRABALHOCOMPLETOANPUH201
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WASSERMAN, Claudia. O passado que não passa: a sombra das ditaduras na
Europa do Sul e na América Latina. Revista da ANPUH, v.34, 67, 2014.
Disponível em:
https://www.scielo.br/j/rbh/a/hYhMkXjXLJHmxmnf4cGjk8x/?lang=pt. Acesso em
22/06/2023.
Artigos e Teses encontrados no repositório da CAPES
HOFFMAN, Felipe Eleuterio. Museus e Memórias da Repressão e da
Resistência no Brasil: um Estudo Sobre Documentos, Justiça de Transição e os
Espaços de Rememoração. (Tese de doutorado). Programa de Pós-
graduação em Ciências da Informação. Universidade Federal de Minas
Gerais, 2020. Disponível em: https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/45240.
Acesso em 22/06/2023.
JORDÃO, Fabricia Cabral de Lira. As atuações e contribuições institucionais de
artistas e intelectuais no campo das artes visuais durante o período da
redemocratização brasileira (1974-1989). (Tese de doutorado). Programa de
Pós-graduação em Artes Visuais. Universidade de São Paulo, 2018.
Revista Memória em Rede, Pelotas, v.15, n.29, Jul/Dez/2023 – ISSN-2177-4129
https://periodicos.ufpel.edu.br/index.php/Memoria 31
Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27160/tde-
22102018-185518/pt-br.php. Acesso em 22/06/2023.
MACHADO E SILVA, Marina Busson, TOURINHO, Andréa de Oliveira. Lugares
de Memória Difícil: Iniciativas de Preservação na Cidade de São Paulo.
Revista Arq.urb, número 25 | maio - agosto de 2019. Disponível em:
https://revistaarqurb.com.br/arqurb/article/view/17. Acesso em 22/06/2023.
SANTOS, Adriana Cecilia Gianvecchio. Presença na ausência: amnésias
políticas e resistências poéticas na memória da ditadura civil-militar brasileira
(1964-1981). (Tese de Doutorado). Programa de Pós-graduação em
Arquitetura e Urbanismo.
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Article
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Neste texto proponho que devemos entender os museus como uma instituição ativa na vida das nossas comunidades, e defendo que a descolonização do conhecimento é um engajamento simultaneamente acadêmico e de cidadania participativa para o qual os museus estão particularmente aptos. Para explicitar este argumento faço uso de uma etnografia do Museu de Antropologia da Universidade da Columbia Britânica em Vancouver, no Canadá, em articulação com as noções de etnografia das ausências e etnografia das emergências, inspiradas pelo trabalho de Boaventura de Sousa Santos. Termino ilustrando o meu argumento com a proposta de uma instalação etnográfica para o Museu Théo Brandão, em Maceió, sobre a Lei da Mordaça, como meta-comentário museológico e estratégia pragmática de oposição ao golpe contra a democracia, em curso no Brasil.
Article
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Tradução do capítulo "Memorial Museums", contido no livro "Exhibiting Atrocity: Memorial Museums and the Politics of Past Violence", de autoria de Amy Sodaro
Thesis
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O presente trabalho visa analisar, em perspectiva comparada, de que forma alguns edifícios simbólicos da ditadura civil militar de São Paulo e de Buenos Aires foram declarados patrimônio cultural de suas sociedades, como prática de reparação ou de reconhecimento de valores subjetivos intrínsecos àqueles lugares. Para tanto, foram estudadas as atuações do Condephaat e da Comisión para la Preservación del Patrimonio Histórico Cultural (CPPHC) na preservação dos prédios da Maria Antônia e do Presídio Tiradentes, no Brasil e do Club Atletico e do Olimpo, na Argentina. Em análise destacada, foram estudados os processos de tombamento do Antigo DOPS pelo Condephaat e da ESMA pela CNMMyLH, que tiveram suas reformas mais recentes examinadas em profundidade. Essa abordagem permitiu identificar se as reformas seguiram critérios técnicos preconizados em Cartas Patrimoniais, além de identificar como impactaram na conversão desses em memoriais que remetem a uma memória sobre a ditadura (a memória de pessoas diretamente atingidas pela violência dos órgãos de repressão), e, portanto, em sítios de consciência.
Article
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O DOI-CODI, em São Paulo (Brasil) foi um órgão de repressão que funcionou entre 1969 e 1983 e tinha como principal objetivo a perseguição a opositores da Ditadura Civil-Militar (1964-1985). Em 2010, um grupo de entidades de defesa dos Direitos Humanos solicitou a preservação dos prédios como patrimônio cultural do estado de São Paulo. O artigo tem como objetivo discutir o processo que levou à preservação do conjunto de edifícios, abordando os métodos de pesquisa, as discussões teóricas e os conflitos presentes neste caso emblemático.
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No contexto das transformações internacionais provocadas pelos movimentos de Contracultura que repercutiram no campo da Museologia e reverberaram no Brasil, provocando, no antigo Curso de Museus-MHN, uma série de reformas conceituais que reavaliaram as tradicionais concepções de Museologia, a proposta deste artigo é fazer um recorte sobre a politização dos alunos na transição das décadas de 1960 e 1970. Para tanto, será feita uma narrativa recuperando a história e a memória de uma crise suscitada entre a direção do Curso e o Diretório Acadêmico, em 1968, que culminou com a expulsão de duas estudantes acusadas de subversão.
Anais do 34º Encontro Anual da Anpocs, de 25 a 29 de outubro de
  • Paulo Ribeiro Cunha
  • Da
CUNHA, Paulo Ribeiro da. Militares e a Anistia no Brasil: um dueto desarmônico. Anais do 34º Encontro Anual da Anpocs, de 25 a 29 de outubro de 2010, em Caxambu/MG.ISSN 2177-3092.
entre evocar e apagar: as disputas de memória relativas ao DOPS/RS. Dissertação de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Museologia e Patrimônio
  • Jacqueline Custódio
  • Dopinho
CUSTÓDIO, Jacqueline. Dopinho, entre evocar e apagar: as disputas de memória relativas ao DOPS/RS. Dissertação de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Museologia e Patrimônio.Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2022.
A casa da vovó: uma biografia do DOI-Codi
  • Marcelo Godoy
GODOY, Marcelo. A casa da vovó: uma biografia do DOI-Codi (1969-1991).