Pouco mais de cem anos após sua publicação original, o ensaio benjaminiano “Para a crítica da violência” tem sido lido e relido com interesse renovado pela academia. Apontado como um dos textos dos mais complexos e também mais incontornáveis para a discussão dos nexos e refrações entre poder e violência nas sociedades capitalistas avançadas, mereceu de Jacques Derrida, Giorgio Agamben e Judith Butler reflexões instigantes e atualizadas pelos dilemas contemporâneos. Inflamados pela recente ascensão de tendências protofascistas em todo o mundo, tais estudos nos levam a recolocar em questão algumas das inquietações que motivaram sua escrita no contexto da então incipiente República de Weimar: o que é violência? É possível o exercício de um poder instituído e mantido sem o recurso à violência? Do ponto de vista da ética e da política, há uma violência inevitável ou aceitável? Como combater a violência estatal ou sistêmica sem perpetuá-la? A não violência pode ser efetiva como potência política? Este artigo pretende indicar alguns desdobramentos das questões maiores tratadas por Walter Benjamin em três momentos principais de sua obra: Origem do drama barroco alemão (1916-1925), “Para a crítica da violência” (1921) e as teses “Sobre o conceito de história” (1940). À luz de uma leitura global e descolonial da imbricação apontada por Benjamin entre cultura e barbárie no âmago mesmo da marcha triunfal dos vencedores, a noção de verdadeiro Estado de exceção será acionada para delimitar algo como uma “violência revolucionária” encarregada de dinamitar o continuum do progresso em nome da emergência de uma nova era histórica.