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Medievalista
Revista
ISSN 1646
Apresentação de Tese
A oligarquia camarária de Lisboa (1325
Tese de Doutoramento em História
de Letras da Universidade de Lisboa, 2009. Orientação de Maria
Helena da Cruz Coelho e co
Autor(es):
Enquadramento Institucional
Hum
anas, Universidade Nova de Lisboa
Contacto
Fonte:
Disponível em:
ISSN: 1646
A oligarquia camarária
Tese de Doutoramento em História Medieval, apresentada à
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2009. Orientação
de Maria Helena da Cruz Coelho e co
Alberto Martins
presente dissertação insere
objectivo o esclarecimento das dinâmicas sociais presentes na Lisboa
medieval através do estudo sociológico das elites institucionais que a
compõem. Num momento em que esta perspec
insistência nas elites eclesiásticas alicerçadas na cidade e no seu espaço diocesano,
impunha-
se perceber as contribuições da respectiva elite camarária para a construção da
referida sociedade política.
A cronologia escol
a instituição camarária de diversos períodos considerados como chave na dinâmica
F I C H A T É C N I C A
Apresentaç
ão de Tese
Medievalista
online ano 5 ● número 7
●
www2.fcsh.unl.pt/iem/medievalista
ISSN 1646
-740X
Apresentação de Tese
:
A oligarquia camarária de Lisboa (1325
Tese de Doutoramento em História
de Letras da Universidade de Lisboa, 2009. Orientação de Maria
Helena da Cruz Coelho e co
-
orientação de Armando Alberto Martins
Autor(es):
Mário Farelo
Enquadramento Institucional
:
IEM, Faculdade de Ciências Sociais e
anas, Universidade Nova de Lisboa
Contacto
:
mario.farelo@netcabo.pt
Fonte:
Medievalista [Em linha]. Nº7, (
Dezembro
Disponível em:
http://www2.fcsh.unl.pt/iem/medievalista/
ISSN: 1646
-740X
A oligarquia camarária
de Lisboa (1325
Tese de Doutoramento em História Medieval, apresentada à
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2009. Orientação
de Maria Helena da Cruz Coelho e co
Alberto Martins
presente dissertação insere
-
se numa corrente historiográfica que tem como
objectivo o esclarecimento das dinâmicas sociais presentes na Lisboa
medieval através do estudo sociológico das elites institucionais que a
compõem. Num momento em que esta perspec
insistência nas elites eclesiásticas alicerçadas na cidade e no seu espaço diocesano,
se perceber as contribuições da respectiva elite camarária para a construção da
referida sociedade política.
A cronologia escol
hida para o trabalho teve o propósito de perspectivar os efeitos sobre
a instituição camarária de diversos períodos considerados como chave na dinâmica
ão de Tese
● Mário Farelo
●
2009 © IEM -
Instituto de Estudos Medievais
www2.fcsh.unl.pt/iem/medievalista
online ano 5 ●
número
A oligarquia camarária de Lisboa (1325
-1433).
Tese de Doutoramento em História
Medieval, apresentada à Faculdade
de Letras da Universidade de Lisboa, 2009. Orientação de Maria
orientação de Armando Alberto Martins
IEM, Faculdade de Ciências Sociais e
anas, Universidade Nova de Lisboa
mario.farelo@netcabo.pt
Dezembro
2009). Di
rec. José Mattoso. Lisboa: IEM.
http://www2.fcsh.unl.pt/iem/medievalista/
de Lisboa (1325
-1433).
Tese de Doutoramento em História Medieval, apresentada à
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2009. Orientação
de Maria Helena da Cruz Coelho e co
-
orientação de Armando
se numa corrente historiográfica que tem como
objectivo o esclarecimento das dinâmicas sociais presentes na Lisboa
medieval através do estudo sociológico das elites institucionais que a
compõem. Num momento em que esta perspec
tiva de análise incide com grande
insistência nas elites eclesiásticas alicerçadas na cidade e no seu espaço diocesano,
se perceber as contribuições da respectiva elite camarária para a construção da
hida para o trabalho teve o propósito de perspectivar os efeitos sobre
a instituição camarária de diversos períodos considerados como chave na dinâmica
Instituto de Estudos Medievais
1
número
7 ● 2009
Medieval, apresentada à Faculdade
de Letras da Universidade de Lisboa, 2009. Orientação de Maria
orientação de Armando Alberto Martins
IEM, Faculdade de Ciências Sociais e
rec. José Mattoso. Lisboa: IEM.
Tese de Doutoramento em História Medieval, apresentada à
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2009. Orientação
orientação de Armando
se numa corrente historiográfica que tem como
objectivo o esclarecimento das dinâmicas sociais presentes na Lisboa
medieval através do estudo sociológico das elites institucionais que a
tiva de análise incide com grande
insistência nas elites eclesiásticas alicerçadas na cidade e no seu espaço diocesano,
se perceber as contribuições da respectiva elite camarária para a construção da
hida para o trabalho teve o propósito de perspectivar os efeitos sobre
a instituição camarária de diversos períodos considerados como chave na dinâmica
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municipal portuguesa desde início do reinado de D. Afonso IV (1325) ao fim do de D.
João I (1433), como sejam as várias inovações do funcionamento urbano
(institucionalização dos vereadores e corregedores, aparecimento dos paços concelhios,
entre outros) verificadas no reinado afonsino e a nova conjuntura propiciada pela
dinastia joanina, cujos efeitos sobre a sociologia da elite municipal permaneciam ainda
mal conhecidos. De igual modo, a cronologia abrangente permitiu sistematizar as
contribuições historiográficas anteriores e perceber se a aparente pujança política da
instituição, que Armindo de Sousa detectou aquando das Cortes de Coimbra de 1385,
seria um evento conjuntural ou marcaria o escopo das relações entre o Município e a
nova dinastia de Avis.
A prossecução deste desiderato obrigou, num primeiro tempo, a conhecer o
funcionamento da instituição e a avaliar a importância da obtenção de um cargo
camarário. Privilegiou-se assim uma dicotomia baseada nas atribuições e dos poderes de
cada um dos oficiais actuantes na Câmara, o que levou a constituir uma divisão dos
ofícios em cargos rotativos e não-rotativos. Aos primeiros correspondiam aqueles que
seriam eleitos/escolhidos por um termo determinado, geralmente com mandatos anuais
(eleitos no mês de Abril). Caberiam nesta categoria os alvazis/juízes, o procurador
concelhio, os vereadores, o tesoureiro. Seriam estes os cargos mais importantes em
virtude da sua função deliberativa e aqueles que, de facto, usufruiriam do poder no seio
da Câmara. Aos segundos correspondiam cargos desempenhados com funcionários que
asseguravam os serviços disponibilizados pela instituição e que asseguravam a sua
manutenção. Fazia parte deste lote de oficiais meramente executivos, casos dos
provedores dos hospitais de que o Concelho assegurava a gestão, os sacadores, os
mestres-de-obras, porteiros e pregoeiros, entre outros.
Esta perspectiva de análise funcional revelou-se menos redundante do que se poderia
esperar à primeira vista, apesar da sua grande tradição na olisipografia e dos importantes
estudos a ela dedicados por Marcello Caetano, Maria Teresa Campos Rodrigues e, mais
recentemente, Miguel Gomes Martins. Para esta «inovação» no tratamento de alguns
cargos – como os vereadores e os regedores – foi operativo um regresso aos arquivos.
Esta atitude impunha-se, tendo em conta que este trabalho não se podia basear nas actas
de vereação que geralmente caucionam os estudos monográficos efectuados até ao
momento sobre as sociologias presentes nas câmaras medievais portuguesas. Entre
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outros aspectos, a ênfase colocada no trabalho heurístico e na procura de informações
sobre o oficialato camarário permitiu fazer recuar a existência do paço do concelho ao
ano de 1322. Este elemento é importante, pois vem deitar por terra a relação de
causalidade geralmente admitida entre a proliferação dos vereadores e a origem do paço
concelhio (leia-se o local de reunião das assembleias restritas protagonizados por esses
novos oficiais camarários). Igualmente sujeita agora a caução é a origem desses mesmos
vereadores, cujos dados recolhidos remetem com certeza para o início do reinado de D.
Afonso IV, senão mesmo para o final do reinado de seu pai.
Refira-se que a investigação heurística desenvolvida para o efeito centrou-se nos
documentos conservados no Arquivo Histórico da Câmara Municipal de Lisboa e nos
fundos documentais das instituições eclesiais seculares e regulares da cidade e da
diocese (colegiadas, mosteiros, convento). Cabe aqui igualmente referir a importância
dos arquivos particulares para o esclarecimento biográfico e genealógico de famílias
que tiveram relação com a Câmara, nomeadamente do fundo da Casa dos Viscondes de
Vila Nova de Cerveira, presentemente em depósito no Arquivo Nacional da Torre do
Tombo, e cuja autorização de consulta cumpre agradecer ao Eng. Luís Vasconcelos e
Sousa.
Por outro lado, a exaustividade heurística que procurámos imprimir a este trabalho foi
uma premissa necessária para a análise sociológica que pretendíamos efectuar sobre a
oligarquia em estudo. Esta segunda perspectiva de estudo – restrita desta feita aos
detentores de cargos rotativos no seio da Câmara – encontra-se sustentada por uma
prosopografia de 311 oficiais correspondendo a uma representatividade média de 40 %.
Condensada sobre forma de fichas prosopográficas, a informação aí recenseada e
analisada tornou-se uma metafonte que pretendeu funcionar simultaneamente como um
apoio documental às asserções desenvolvidas ao longo do texto e um repositório para
futuras investigações de cariz biográfico sobre gentes de Lisboa no período considerado.
Neste particular, seja-nos lícito chamar a atenção para o facto de algumas destas fichas
carrearem novos dados biográficos de figuras tão proeminentes e tão estudadas quanto o
célebre Álvaro Pais ou o chanceler régio Lourenço Eanes Fogaça.
A análise da referida «metafonte» permitiu constatar alguns traços sociológicos
marcantes da oligarquia que povoou os cargos camarários no período em estudo. Não
tendo como justificar que o seu recrutamento camarário fosse orientado por
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considerandos maioritariamente de natureza plutocrática, é certo que o mesmo pautava-
se por uma dicotomia entre fidalgos e cidadãos. Nesse aspecto, deve-se sublinhar que a
fidalguia presente no concelho não pertencia à alta nobreza de Corte, mas sim a uma
nobreza de segunda linha constituída por membros de algumas famílias com
pergaminhos na cidade e com uma efectiva introdução na Corte régia. Tais vectores de
inserção tornam estes últimos em actores importantes nas sociedades políticas locais,
como concluiu recentemente Luís Filipe Oliveira ao referenciar a sua presença em
postos de comando das Ordens militares de Santiago e de Avis no decurso da primeira
metade do século XIV.
Esta última constatação é igualmente válida para alguns dos cavaleiros-vilãos
identificados no Concelho. Radicados na cidade ou na sua área de influência (cerca de
cem quilómetros), estes corporizam a (r)evolução sócio-funcional de um grupo que
passa de uma posição cimeira, num contexto de uma sociedade organizada em função
do contexto militarizado proporcionado pela Reconquista, a uma situação em que o
grupo dos milites tem de rivalizar com outros grupos de poder emergentes no seio da
urbe.
Numa cidade marcada pela actividade comercial de pequeno e de largo trato, não é
surpresa que sejam os mercadores aqueles que mais contribuíam para preencher as
vagas reservadas aos cidadãos aquando das nomeações para os cargos camarários.
Trata-se de uma preeminência numérica que se alargou inclusivamente a um patamar
simbólico, já que estes são os únicos oligarcas (antes da entrada estatutária dos mesteres
e da presença de letrados) que se registavam na documentação camarária com o epíteto
da sua função. A sua singularidade estendia-se ainda à menor ligação que este grupo
parece ostentar à Coroa face a outros grupos presentes nas equipas governativas do
município.
Com respeito aos letrados, estes são visíveis na Câmara sobretudo a partir da década de
1370, fruto muitas das vezes de uma acção régia que visa a colocação na instituição de
oficiais régios – os juízes por el-rei. Refira-se que tanto estes oficiais quanto os letrados
nomeados pelo próprio concelho ostentam geralmente a identificação de «escolares», o
que indicia que a Câmara olisiponense, a instituição municipal da mais importante
cidade do reino no período em estudo, não consegue atrair graduados.
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Esta última observação não é inócua e faz-nos porventura repensar no valor nesse tempo
de um cargo camarário, sobretudo para aqueles que primavam pelo Saber. Certamente
um elemento estrutural no pensamento da época é de que uma presença camarária
constituía uma meta para quem não podia ir mais além e um ponto de passagem para
aqueles com expectativas exequíveis de ascensão. Para estes últimos, esta inserção na
estrutura governativa municipal seria um mal necessário. O verdadeiro objectivo não
passava pela pertença ao grupo dos «melhores da terra», mas sim pelo reconhecimento
como os «melhores do reino» e com uma capacidade de intervenção no Desembargo
central da Monarquia. Certamente para levar a cabo esse desiderato, uma parte da elite
camarária de Lisboa foi lesta em promover os estudos além-Pirinéus da sua prol no
dealbar do século XIV. Trata-se, estamos em crer, de um elemento importante de
história cultural, cujo estudo importa ser prosseguido e perspectivo à luz de outros
burgos do reino.
As ligações entre a instituição camarária e os demais órgãos de poder sediados na
cidade foram abordados sob a perspectiva do antagonismo e da dependência. Na
realidade, transparece da documentação uma reacção do Concelho contra os enclaves
jurisdicionais que se sucedem no espaço urbano (coutos privados) e na área peri-urbana
(coutos episcopais). A conjuntura de dependência surge logicamente do relacionamento
com Coroa, a qual procurámos caracterizar nas suas vertentes jurídicas, administrativa e
económica. A partir dos dados propiciados pela investigação prosopográfica efectuada,
afigurou-se aos nossos olhos a importância também de uma dependência de cariz
sociofuncional, a qual caracterizava-se sobretudo pela entrada de oficiais régios no seio
do concelho. Esta forma de intromissão régia nos assuntos camarários adquiriu foros de
preponderância somente na década 1390. Salvo melhor opinião, cremos que esta
aparente «anomalia» resulta de uma estratégia que procura contrabalançar a perda de
direitos para a Coroa resultantes do largo conjunto de benesses que o Mestre de Avis e
futuro D. João I outorgou ao Município aquando da Crise de 1383-1385.
A dependência sociofuncional que procurámos substantivar no decurso do trabalho
definia-se em função de outras cambiantes, das quais destacamos a inserção na
instituição de oficiais régios com ou sem actuação funcional no Concelho, geralmente
ao nível de oficiais ligados à justiça e à fiscalidade régias praticadas na cidade. Este
facto permite confirmar que o grupo oligárquico da Câmara identificou-se em grande
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parte com o grupo oligárquico que compõe o oficialato régio local. De igual modo
observou-se uma interpenetração entre o oficialato camarário e o oficialato régio
regional e mesmo central, onde Lisboa serviu de pólo de circulação entre oficiais régios
ligados aos julgados pelo rei em Coimbra, em Santarém e em Évora.
Esta «presença» tinha uma justificação funcional que não pode suscitar dúvidas. Mas o
facto de muitos destes oficiais régios com actuação camarária se designarem igualmente
como vassalos régios sugere que esta dependência funcional beneficiava também de
uma componente económica. Não se trata, estamos em crer, de uma questão baseada na
importância do grau de proximidade com o Monarca (até porque os privados régios
estão praticamente ausentes deste estudo), mas sim de um clientelismo onde a inserção
camarária seria uma moeda de troca e um prémio para a lealdade demonstrada.
Em paralelo com a sua função de pólo governativo urbano e dotada de uma jurisdição
própria, a Câmara não parece deixar de funcionar para a Coroa como um eventual
viveiro, local de treino de oficiais régios e meio de retribuição das suas clientelas.