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NEA UFSCar e a Pedagogia do Caminhar: aportes metodológicos para a formação de agentes populares de agroecologia

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Abstract and Figures

Há inegável potencialidade da agroecologia como forma de produção agrícola e reprodução social camponesa, de caráter contra-hegemônico, pautada em valores comunitários e solidários. Partindo do pressuposto de que o método da educação popular pode ser combinado coma prática agroecológica, o presente trabalho tem por objetivo oferecer um aporte metodológico para a formação de agentes populares de agroecologia, desenvolvido através de uma experiência de extensão universitária realizada pelo Núcleo de Estudos em Agroecologia e Produção Orgânica (NEA) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Campus São Carlos. Metodologicamente, o artigo é fruto de uma pesquisa qualitativa aplicada, com observação participante e pesquisa-ação. Para cumprir o objetivo proposto, o tema é
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NEA UFSCAR E A PEDAGOGIA DO CAMINHAR: APORTES
METODOLÓGICOS PARA A FORMAÇÃO DE AGENTES POPULARES DE
AGROECOLOGIA
NEA UFSCAR AND THE PEDAGOGY OF WALKING: METHODOLOGICAL
CONTRIBUTIONS TO THE TRAINING OF POPULAR AGENTS OF
AGROECOLOGY
NEA UFSCAR Y LA PEDAGOGÍA DEL CAMINAR: APORTES
METODOLÓGICOS PARA LA FORMACIÓN DE AGENTES POPULARES DE
AGROECOLOGÍA
Joelson Gonçalves de CARVALHO1
Eduardo Rezende PEREIRA2
Resumo: Há inegável potencialidade da agroecologia como forma de produção agrícola
e reprodução social camponesa, de caráter contra-hegemônico, pautada em valores
comunitários e solidários. Partindo do pressuposto de que o método da educação
popular pode ser combinado coma prática agroecológica, o presente trabalho tem por
objetivo oferecer um aporte metodológico para a formação de agentes populares de
agroecologia, desenvolvido através de uma experiência de extensão universitária
realizada pelo Núcleo de Estudos em Agroecologia e Produção Orgânica (NEA) da
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Campus São Carlos.
Metodologicamente, o artigo é fruto de uma pesquisa qualitativa aplicada, com
observação participante e pesquisa-ação. Para cumprir o objetivo proposto, o tema é
1 Docente da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), do Programa de Pós-Graduação em Agroecologia e
Desenvolvimento Rural (PPGADR/UFSCar) e do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Territorial e Meio
Ambiente (PPGDTMA/UNIARA). São Carlos, São Paulo, Brasil. Email: joelson@ufscar.br ORCID: https://orcid.org/0000-
0003-4894-1400
2 Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política (PPGCP) do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas
(IFCH), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Campinas, São Paulo, Brasil. Email:
rezende.eduardo@outlook.com ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5793-251X
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abordado a partir da sua associação com a educação popular enquanto práxis que
fortalece o caráter antissistêmico da agroecologia. As conclusões indicam que a
metodologia desenvolvida para superar as dificuldades de uma formação remota
direcionada a um público expressivo e bastante heterogêneo foi exitosa e conseguiu,
por intermédio das ações práticas desenvolvidas, impactar positivamente os territórios
nos quais foram realizadas. Ademais, os aportes metodológicos desenvolvidos pela
equipe responsável, em especial a pedagogia do caminhar, m capacidade de
replicação, total ou parcial, em localidades distintas, em benefício da agroecologia.
Palavras-chave: Educação popular; Extensão universitária; Agroecologia; Extensão
rural
INTRODUÇÃO
A agroecologia tem se expandido enquanto forma de produção agrícola e
bandeira articuladora de uma nova forma de organização socioprodutiva de base
camponesa. Tem, também, se destacado crescentemente entre os movimentos
sociais do campo e da cidade, dada a sua potencialidade antissistêmica, através
de práticas ecologicamente sustentáveis e comprometidas com as gerações
atuais e futuras, assim como por suas relações sociais e de trabalho, mais
humanizadas, pautadas em valores comunitários e solidários. Neste sentido, no
âmbito acadêmico, se destacam produções científicas que buscam tanto
descrever essas práticas de produção e relações de trabalho, como legitimar
cientificamente a sua importância e viabilidade técnica, política, social e
econômica. Não obstante, o interesse pelo tema é crescente também no campo
interdisciplinar, dadas as inequívocas interrelações entre a agroecológica com a
saúde e a educação (CARVALHO; BORSATTO; SANTOS, 2022).
Dito isso e com base na experiência do curso de formação de agentes
populares de agroecologia, vinculado ao projeto de extensão Terra,
Agroecologia e Universidade: articulando saberes, trocando experiências e
construindo conhecimentos, realizado pelo Núcleo de Estudos em Agroecologia
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e Produção Orgânica (NEA) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar),
por meio de parcerias promovidas entre discentes e docentes pesquisadores do
tema com movimentos populares e organizações sociais, este artigo tem como
objetivo apresentar os aportes metodológicos desenvolvidos para a formação,
em larga escala, de agentes populares de agroecologia. Acreditamos que o
projeto político pedagógico elaborado para o curso pode, com as suas devidas
críticas e adaptações, a depender dos desafios e especificidades dos diferentes
contextos, servir à elaboração de outras iniciativas que visam a educação
popular, de modo geral, e a formação agroecológica, em específico.
No que diz respeito aos procedimentos metodológicos para o
desenvolvimento deste estudo, se deram mediante uma pesquisa qualitativa de
natureza aplicada. O campo da pesquisa se constituiu do acompanhamento de
todas as atividades do curso de extensão em questão, em especial nos meses
de abril a outubro de 2021. Cabe ressaltar que um dos autores foi o coordenador
do projeto, e o outro tutor responsável pelo acompanhamento do tempo-
comunidade dos cursistas.
Para cumprir o objetivo proposto, além desta introdução e das
considerações finais, o artigo está estruturado em outras duas seções.
Primeiramente, uma breve caracterização sobre a agroecologia e sua relação
com a educação popular. Em seguida, se apresenta a experiência do curso em
questão, anunciando suas concepções político-pedagógicas, metodologias e
resultados.
AGROECOLOGIA E FORMAÇÃO POPULAR COMO ALTERNATIVAS À
INSEGURANÇA ALIMENTAR E AO AGRONEGÓCIO
A produção de alimentos em escala ampliada, sem agrotóxicos, com
políticas públicas direcionadas a este fim e que tenham preocupação com a
diversidade produtiva e a preservação do meio ambiente é uma demanda
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crescente da sociedade contemporânea, em termos gerais, e dos sujeitos e
movimentos sociais do campo e da cidade que, direta ou indiretamente, orbitam
em torno da defesa da soberania e segurança alimentar e nutricional.
Para Maluf (2009), a questão alimentar está no centro da problemática
econômica e social de qualquer país, justamente pelo fato da alimentação ser
um direito, tanto no que tange o acesso à quantidade e qualidade suficientes,
como do respeito às circunstâncias ambientais, sociais e culturais durante o
processo produtivo. Vistas desse modo, a soberania e a segurança alimentar se
distanciam, sobremaneira, daquilo que o agronegócio oferta como saída
econômica e social (MALUF, 2009).
Segundo o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto
da Pandemia da Covid-19, desenvolvido pela Rede Brasileira de Pesquisa em
Soberania e Segurança Alimentar (REDE PENSSAN, 2021), a insegurança
alimentar brasileira, em seus diversos estratos, ampliou de 36,7% dos domicílios,
em 2018, para 55,2% em 2020. A piora nos indicadores da insegurança alimentar
no país ilustra o quão distante o país está de uma política de soberania alimentar,
entendida como o respeito ao direito de todos, de modo autônomo, de definir as
estratégias de produção, distribuição e consumo de alimentos de maneira
sustentável e diversificada, a fim de superar o dilema da fome e da subnutrição.
Observando o caso brasileiro, cabe lembrar que a modernização da
agricultura pela qual passou o país, de forma mais intensa a partir da década de
1960, com grande investimento internacional, foi determinante para a
transformação na base técnica do processo produtivo agrícola. Assistiu-se a um
processo de industrialização da agricultura, marcada pela utilização de máquinas
pesadas, insumos e adubação química no bojo daquilo que ficou conhecido
como revolução verde (GRAZIANO DA SILVA, 1993). Esse fenômeno acabou
servindo para a consolidação dos grandes complexos agroindustriais, incapazes
de amenizar a pobreza rural e as desigualdades socioeconômicas no rural
brasileiro. Este é o alicerce sobre o qual se assentou o agronegócio,
compreendido como resultado da associação entre o grande capital
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agroindustrial, o capital financeiro internacional e a grande propriedade fundiária
(CARVALHO, 2015).
Conforme apontado por Carvalho, Molina e Cunha (2021), o agronegócio
domina as formas de produção agropecuária e subordina o trabalho e a terra a
meros fatores de produção por seu poder econômico e extraeconômico,
restringindo, assim, as possibilidades de uma produção agrícola agroecológica,
dado o caráter contra-hegemônico desta última que, por suas próprias
características, valoriza o trabalho coletivo e vê no campo, para além de um fator
de produção, um lugar de novas relações de produção e sociabilidade.
A defesa da agroecologia tem se destacado na agenda pública dadas as
crescentes denúncias de organizações sociais, movimentos populares e
instituições públicas e privadas de que são inequívocos os impactos negativos
do agronegócio sobre o meio ambiente e a saúde (BOMBARDI, 2017). Frente a
isso, nos anos mais recentes, assiste-se a defesa de um modelo de
desenvolvimento rural para além do economicismo e do produtivismo, pautado
em uma práxis na qual a produção se associe à preservação e ao cuidado da
vida humana, da natureza, das economias locais e regionais e, ainda, da
valorização da cultura camponesa.
Soma-se a isso, o fato de a agroecologia fomentar e agregar, segundo
Borsatto (2022), conhecimentos científicos e populares para uma agricultura
menos dependente de insumos industriais e mobilizar sujeitos e movimentos
para transformações do sistema socioeconômico, notadamente no que se refere
a circulação e consumo de alimentos. Desse modo, “a agroecologia indica
caminhos para a constituição de sistemas alimentares nos quais as corporações
perdem força e os agricultores e consumidores ganham centralidade
(BORSATTO, 2022, p. 54).
Aqui reside a potência da agroecologia que, dentre outras vantagens, se
constitui em um processo social de mudanças. Seus impactos não apenas se
dão na dimensão econômica, produtiva e ambiental, mas também no âmbito dos
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valores, do comportamento e da cultura das comunidades rurais praticantes
(CAPORAL; COSTABEBER, 2015). Entendida desta forma, a definição dada por
Gliessman(2018) é extremamente pertinente:
Agroecologia é a integração de pesquisa, educação, ação e mudança
que traz sustentabilidade a todas as partes do sistema alimentar:
ecológica, econômica e social. É transdisciplinar na medida em que
valoriza todas as formas de conhecimentos e experiências na
mudança do sistema alimentar. É participativa na medida em que
requer o envolvimento de todas as partes interessadas, desde o
campo até a mesa e todos os demais intermediários. E é orientada
para a ação porque confronta as estruturas de poder econômico e
político do sistema alimentar industrial atual com estruturas sociais
alternativas e ação política. A abordagem é baseada no pensamento
ecológico, onde é necessária uma compreensão holística e sistêmica
da sustentabilidade do sistema alimentar (GLIESSMAN, 2018, p. 599).
Observando as práticas agroecológicas desenvolvidas em diversos
pontos do mundo, Avila Romero et al. (2018) salientam que as comunidades
rurais que vivenciam essa experiência passam a reconhecer e valorizar o seu
poder político e a importância de suas técnicas agrícolas tradicionais na
produção rural e na reprodução social camponesa. Assim, a agroecologia se
encontra em um particular processo de crescente reposicionamento e
fortalecimento de uma relação dialógica pautada na troca de saberes - oriundos
de cientistas, técnicos, camponeses, indígenas e, dentre outros, de ativistas e
militantes de movimentos populares -, materializando-se em ação social efetiva
(AVILA ROMERO et al., 2018).
É fato que não se pode considerar a agroecologia como um movimento
social sem as devidas mediações, dada a significativa heterogeneidade dos
sujeitos envolvidos na construção e na defesa de uma agricultura não-
hegemônica. Recuperando a argumentação de Wezel et al. (2009), as diversas
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formas e conteúdos com que são apresentadas a defesa de um modelo de
desenvolvimento e agricultura sustentáveis, em diversos países, tendem a
dificultar a visibilização de um movimento agroecológico. Todavia, essa
realidade não impede que, em certos contextos, a agroecologia seja expressa
pela tríade movimento, ciência e prática.
Nesta perspectiva, Rosset et al. (2021), ao analisarem as práticas
pedagógicas implementadas em espaços educativos voltados à agroecologia e
em escolas e universidades ligadas direta ou indiretamente aos movimentos
populares camponeses, apontam que tais experiências pedagógicas geram a
formação de sujeitos sócio-históricos e políticos. Para os autores, a agroecologia
deve ser entendida “como uma ferramenta fundamental para a resistência
camponesa, a construção da soberania alimentar e como uma nova forma de
relação entre os seres humanos e a natureza” (ROSSET et al., 2021, p. 542).
O curso de Formação de Agentes Populares de Agroecologia,
desenvolvido pelo NEA-UFSCar, como uma dentre outras experiências
educativas realizadas com e para os movimentos e sujeitos que lutam por terra,
soberania alimentar e transformação social, se pautou na concepção
epistemológica e nos marcos teóricos apresentados acima. Associou-se a
agroecologia ao referencial teórico da educação popular, que parte do
alinhamento entre o conhecimento teórico e a ação concreta na construção de
processos transformadores, envolvendo, assim, de maneira proativa, diversos
sujeitos sociais no momento de elaboração do curso. Ofertado o curso, a equipe
que o constituiu teve como ponto de partida que os cursistas, com seus saberes
próprios, em diálogo com as especificidades técnicas do conhecimento
acadêmico, poderiam se tornar agentes multiplicadores de uma nova perspectiva
de extensão rural.
A coordenação pedagógica do curso teve como expectativa que os
acúmulos de experiências de cada cursista tenderiam a potencializar as
habilidades de conhecimento, análise e interpretação direcionadas às questões
de interesse político, social e cultural,e isso, por seu turno, contribuiria para a
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materialização de um ambiente no qual as capacidades críticas de caráter
teórico, conceitual, metodológico e instrumental pudessem se manifestar
plenamente. Essa expectativa foi trabalhada com toda a equipe, de modo a gerar
um ambiente no qual o rigor próprio da Universidade e da produção acadêmica
pudesse ser intercalado com os valores simbólicos inerentes à agroecologia.
Importante destacar que os princípios metodológicos norteadores do
curso se pautaram na transversalidade entre as diferentes etapas e ações, de
forma que todas pudessem se fortalecer através da concatenação vertical e
horizontal dos conteúdos e, também, da horizontalização dos processos de
ensino, pesquisa e extensão. A diversidade das trajetórias das pessoas
participantes, associada à metodologia proposta, permitiu o fortalecimento da
indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, por um lado, e, por outro,
de potencializar ações pautadas na relação produção, comercialização e
consumo. Cabe apontar, antes de se apresentar as etapas nas quais o curso se
dividiu, que o cerne da metodologia utilizada está nos métodos participativos de
construção do conhecimento agroecológico, principalmente no que tange à troca
de conhecimentos camponês a camponês e, em razão disto, o protagonismo
destes sujeitos sociais foi priorizado em todas as fases do curso, dividindo igual
espaço com docentes e pessoas técnicas e especialistas nas diversas temáticas
e assuntos abordados.
O CURSO DE AGENTES POPULARES DE AGROECOLOGIA:
METODOLOGIA E RESULTADOS
Inicialmente, o curso de formação de agentes populares de agroecologia,
materializado pelo projeto de extensão Terra, Agroecologia e Universidade foi
elaborado para atender a aproximadamente 50 camponeses e camponesas em
territórios próximos ao campus-sede da UFSCar, localizado em São Carlos, no
interior paulista, além de pessoas técnicas em assistência rural e estudantes de
graduação e pós-graduação. Todavia, o surpreendente interesse nesta iniciativa,
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ilustrado nas mais de 2,2 mil inscrições, motivou a coordenação pedagógica do
curso e a equipe do NEA-UFSCar a modificar a estrutura técnica e operacional
do trabalho, buscando atender a todas as pessoas inscritas.
Das mais de 2,2 mil inscrições, cerca de 29% eram de pessoas vinculadas
a universidades públicas e privadas; 20% eram militantes de movimentos
populares; 15% eram agentes de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER)
e as demais pessoas estavam em um rol que compreendiam agricultores
familiares tradicionais, assentados de reforma agrária, acampados em luta pela
terra e membros de comunidades tradicionais, além de ativistas de
Organizações Não-Governamentais(ONGs). Dos inscritos, 59% eram mulheres,
e havia notável abrangência territorial, com participantes de todos os estados
brasileiros, além do Distrito Federal, destacando-se o elevado número de
pessoas em São Paulo, com 455; Bahia, com 157; e Minas Gerais, com 135.
Como adiantado, a equipe no NEA-UFSCar decidiu atender toda a
demanda, aceitando as inscrições de todas as pessoas que tivessem condições
infraestruturais e dedicação de tempo para realizar o curso. Desta forma, o curso
se realizou com mais de 1,5 mil inscrições. Importante dizer que, ao buscar
oferecer um conteúdo diferenciado, priorizando a formação de caráter popular
de agentes que pudessem atuar como multiplicadores em suas comunidades,
desenvolvendo ações na defesa e promoção da agroecologia, o curso se
alicerçou nos seguintes objetivos específicos: (1) aprofundar a compreensão das
categorias básicas de um modelo de desenvolvimento rural baseado na
transição agroecológica e na agricultura familiar; (2) fortalecer o processo de
formação de agricultores e agricultoras, produtores e produtoras, estudantes e
agentes de ATER para se tornarem multiplicadores e multiplicadoras junto às
comunidades rurais; e (3) aportar subsídios teórico-práticos na implementação
de unidades de referência nas unidades produtivas familiares por meio da
construção coletiva e baseada nas técnicas agroecológicas.
Pedagogicamente, o curso foi organizado para ter 80 horas de atividade
divididas em três etapas distribuídas nos seis meses de duração. A primeira
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etapa compreendeu o chamado tempo-escola, com 40 horas distribuídas em dez
encontros síncronos e assíncronos voltados para o aprendizado teórico em
formato remoto. Na sequência, no chamado tempo-comunidade, as pessoas
participantes do curso realizaram atividades práticas e teóricas em suas
localidades, efetuando projetos individuais ou coletivos, e participando
remotamente dos encontros de monitoria com a coordenação pedagógica do
curso e com tutores voluntários, totalizando 32 horas de atividades. Por fim, nas
oficinas pedagógicas, com 8 horas, foram realizadas intervenções
agroecológicas presenciais em territórios próximos ao campus-sede da UFSCar.
Essas oficinas foram gravadas e os recursos audiovisuais foram disponibilizados
a todas as pessoas inscritas. A divisão do curso com os respectivos objetivos
pode ser visualizada no Quadro 1.
Quadro 1 Divisão do curso de formação de agentes populares de agroecologia
Etapas
Carga horária
Objetivos
1. Tempo-escola
40 horas
Fornecimento de aportes teóricos
2. Tempo-
comunidade
32 horas
Realização de atividades práticas
voltadas à agroecologia nos
territórios
3. Oficinas
pedagógicas
8 horas
Fonte: Elaboração própria (2023)
As etapas do curso, o diálogo nos encontros de monitoria e o processo de
elaboração e desenvolvimento de projetos inspirados em intervenções
agroecológicas foram realizados a partir da concepção da educação popular. Os
conteúdos teóricos apresentados no tempo-escola podem ser observados no
Quadro 2.
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Quadro 2 Temas abordados nos encontros do tempo-escola e objetivos específicos
Caráter
Temas
Objetivos específicos
1 Síncrono
Conjuntura agrária nacional e
internacional e apresentação do
curso
(1) Caracterizar o contexto
nacional e internacional e os
desafios ligados à questão
agrária, em geral, e à
agroecologia, em específico;
(2) Dar boas-vindas aos
cursistas, apresentando as
ferramentas digitais, formas de
diálogo online e a metodologia
utilizada no curso.
2 Assíncrono
Natureza do desenvolvimento
do capitalismo na agricultura
(1) Historizar a relação do
capitalismo com a agricultura.
3 Síncrono Fundamentos e princípios da
agroecologia
(1) Apresentar a agroecologia
como alternativa de produção
e reprodução social.
4 Assíncrono Gênero e agroecologia
(1) Relacionar a agroecologia
com o feminismo, enquanto
valores e práticas comuns de
superação de diferenças e
opressões.
5 Síncrono
Manejo e técnicas de
agrofloresta
(1) Retomar os desafios da
prática agroecológica no atual
contexto;
(2) Apontar as possibilidades
de geração de emprego e
renda relacionadas à prática
agroecológica;
(3) Oferecer subsídios para a
prática agroecológica.
6 Assíncrono
Cadeias curtas de
comercialização e compras
públicas para a agricultura
familiar
7 Síncrono
ATER e a transição
agroecológica
Assíncrono
Agroecologia e educação
9 Síncrono
Soberania alimentar,
agroecologia e enfrentamento
da fome: desafios para os
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agentes populares de
agroecologia
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Assíncrono Encerramento (I)
(1) Apresentação dos
resultados dos projetos que
foram elaborados e
desenvolvidos durante o curso.
Síncrono Encerramento (II)
(1) Encerramento do curso,
apresentando os desafios e as
potencialidades da educação
popular.
Fonte: Elaboração própria (2023)
O tempo-comunidade foi concebido como um processo educativo que
conseguiria articular tanto os conhecimentos adquiridos no tempo-escola
atrelados aos conhecimentos anteriores dos cursistas, quanto as suas
capacidades de trabalho e mobilização de recursos para possíveis e necessárias
transformações no território em que residem, trabalham ou convivem
socialmente. Nesta etapa do curso, foi elaborada uma metodologia própria, que
recebeu o nome de pedagogia do caminhar. O mérito dessa metodologia é,
justamente, o reconhecimento do próprio percurso de aprendizado da
intervenção agroecológica.
Levando em consideração as restrições de distanciamento social
impostas pela pandemia da Covid-19, e buscando atender um público
heterogêneo inscrito no curso, as atividades do tempo-comunidade foram
estruturadas em cinco áreas temáticas, facilitando o acompanhamento dos
projetos por parte damonitoria do curso. O Quadro 3apresenta essas áreas
temáticas, com suas respectivas justificativas.
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Quadro 3 Áreas temáticas dos pré-projetos no tempo-comunidade
Áreas temáticas
Justificativa do projeto
Rede
agroecológica de
consumo
consciente e
economia
solidária
O projeto poderia refletir sobre as condições de viabilização de
uma rede de consumo de produtos agroecológicos, fortalecendo
iniciativas autogestionárias e cooperativas típicas da economia
solidária. Também seria possível mapear outras possibilidades
que tivessem como foco o fortalecimento ou na criação de redes
ligadas à agroecologia e produção orgânica de alimentos a
depender das especificidades territoriais.
Agricultura
urbana e
periurbana
O projeto poderia envolver o planejamento e a criação de hortas
agroflorestais urbanas, hortas urbanas agroecológicas, bancos
de sementes, compostagem, aproveitamento de resíduos
recicláveis e podas de árvores, dentre outras iniciativas, levando
em conta o envolvimento coletivo e comunitário e os princípios
da soberania alimentar.
Soberania
alimentar e
solidariedade na
pandemia
O projeto poderia concretizar ou contribuir com iniciativas
comunitárias como bibliotecas e cozinhas, distribuição de cestas
de alimentos, criação de bancos populares de alimentos,
confecção e distribuição de máscaras e kits de materiais de
higiene, tendo em vista o combate à pandemia da Covid-19,
dentre outras dimensões possíveis na relação campo-cidade
que tivessem foco na solidariedade e na soberania alimentar.
Ademais, poderia abordar processos de formação e capacitação
de combate à insegurança alimentar, como agentes populares
de alimento, e à disseminação do vírus da Covid-19, como
agentes populares de saúde.
Práticas
agroecológicas
O projeto estaria circunscrito às diversas ações orientadas e
adaptadas aos agroecossistemas já implementados ou não.
Eram diversas as possibilidades de atuação, incluindo práticas
de adubação, compostagem, controle de pragas, manejo
agroecológico de animais, agroflorestas, tecnologias sociais,
dentre outras.
Assistência
técnica e
extensão rural
Os projetos poderiam ser direcionados a agricultores e
agricultoras familiares, militantes de movimentos sociais e
ativistas de organizações envolvidas direta ou indiretamente
com a agroecologia com vistas à avançar tecnicamente com a
transição agroecológica, com a implantação de Sistemas
Agroflorestais (SAFs) ou com certificações participativas.
Também se enquadrariam práticas de ATER relacionadas
diretamente com as políticas públicas e os programas de
segurança e soberania alimentar e agroecologia, em âmbito
municipal, estadual ou federal.
Fonte: Elaboração própria (2023)
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As oficinas pedagógicas foram realizadas para finalizar as atividades de
intervenções concretas. Os cursistas poderiam reali-las ou acompanhá-las
presencial ou assincronamente. Destacamos, aqui, o incentivo à realização de
experiências práticas, por meio de projetos individuais ou coletivos, no campo ou
cidade, voltadas à defesa e promoção da agroecologia.
Cumpre ressaltar que o curso de agentes populares de agroecologia é um
produto de um projeto maior que propiciou a criação do NEA-UFSCar e que
orienta as execuções compromissadas de ações transversais e territorialmente
localizadas próximas ao campus de São Carlos desta universidade. Assim, as
oficinas pedagógicas ocorreram em áreas urbanas, periurbanas e rurais nas
regiões centro-leste e norte do estado de São Paulo. Como não houve
imobilização de capital fixo nas oficinas pedagógicas, não foi considerado, para
fins de escolha das áreas, a natureza ou a situação jurídica destas localidades,
mas a própria capacidade e o compromisso prévio de desenvolvimento das
oficinas junto à comunidade local. As oficinas, dadas as especificidades das
áreas selecionadas, se direcionaram à implantação de canteiros agroflorestais
ou manejo de animais e agrofloresta.
Para cumprir a carga horária desta etapa, os cursistas poderiam participar
da elaboração e da execução das oficinas, nos casos de residirem em locais
próximos onde elas foram oferecidas, ou as assistirem, após o tratamento digital
do material e a sua disponibilização em ambiente virtual. Muitos tiveram condição
de desenvolver oficinas pedagógicas semelhantes em suas comunidades,
registrando as mesmas como parte de seus projetos, ampliando, assim, o
portfólio do curso. Ressaltamos que todos foram orientados sobre os protocolos
sanitários para a execução das atividades.
Para atingir os objetivos do curso, bem como materializar os conteúdos
teóricos em ações agroecológicas efetivas e acompanhar o processo de
desenvolvimento das centenas de projetos realizados, foi necessário o
estabelecimento de um rigoroso cronograma e, sobretudo, um fluxo contínuo de
informações e monitoramento.
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Conforme já apontado, o processo de elaboração, maturação e
desenvolvimento dos projetos do curso de formação de agentes populares de
agroecologia, durante o tempo-comunidade, se amparou metodologicamente na
denominada pedagogia do caminhar. Ela foi inspirada em um célebre texto do
escritor uruguaio Eduardo Galeano (1992) intitulado Direito ao delírio, no qual o
autor, se valendo da fala do cineasta argentino Fernando Birri, constrói um
poema relacionando a utopia ao caminhar3.
A pedagogia do caminhar foi estruturada em quatro passos, a saber: 1) A
utopia; 2) O caminho; 3) A caminhada e, 4) A chegada e as novas utopias. Após
serem percorridos, estes passos cumprem, de maneira didática, as fases de
planejamento e execução dos projetos indicados pelos cursistas como modelos
possíveis de serem realizados e, sobretudo, replicados em outras iniciativas.
No primeiro passo, a utopia, os cursistas deveriam definir a área temática
em que gostaria de desenvolver o seu projeto, e iniciar a elaboração do mesmo,
levando em consideração a adoção de medidas sanitárias adequadas para
prevenção aos riscos de contágio da Covid-19, dentre outras questões
envolvendo a sua realidade concreta, como a falta de acesso ao poder público e
aos locais onde seriam desenvolvidas ações, falta de recursos financeiros e
materiais, ausência de equipe de apoio, dentre outras muitas situações. Assim,
esperava-se que os envolvidos pensassem quais objetivos pretendiam alcançar
com o seu projeto, descrevendo suas justificativas, fossem elas individuais,
coletivas, econômicas ou políticas. Nesse momento, todos teriam cerca de um
mês para elaborar o projeto, contando com reuniões de monitoria com tutores e
diálogos com outros cursistas.
A apresentação dos objetivos e da justificativa do projeto poderia se dar
com um breve texto submetido em um formulário online. Os tutores tiveram
acesso às respostas e puderam retornar aos cursistas com comentários e ajudas
3A fala de Fernando Birri, citada por Galeano (1992, p. 35) é:A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos,
ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais
alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar”. O texto completo está no
livro “Espelhos: uma história quase universal”, publicado em Porto Alegre pela Editora L&PM, em 1992.
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específicas, buscando o aprimoramento dos projetos. As questões mais gerais
ou recorrentes eram utilizadas como exemplos durante os encontros coletivos.
No segundo passo, o caminho, os cursistas, já com a escolha da área
temática e com a elaboração dos objetivos e justificativa do projeto, teriam um
mês para definir a forma como dariam materialidade às suas ideias. Em termos
práticos, esta etapa envolvia a descrição dos procedimentos metodológicos para
o desenvolvimento do projeto, ou seja, um planejamento de cada tarefa que
deveria ser realizada. Os diálogos que foram feitos nas reuniões de monitoria
durante o segundo passo foram ainda mais importantes, uma vez que os
cursistas, junto aos tutores, poderiam contribuir com suas experiências para as
possibilidades de ações de outros colegas com menor acúmulo em determinada
área.
No terceiro passo, a caminhada, todos deveriam demonstrar as ações que
desenvolveram para materializar seus objetivos propostos no início do tempo-
comunidade, ou seja, deveriam executar o projeto elaborado, aprimorado e
submetido nas etapas anteriores. O encontro de monitoria durante o mês do
terceiro passo serviu para que os cursistas apresentassem as dificuldades
encontradas em seus trajetos, partindo da compreensão de que cada obstáculo
na consecução dos projetos fazia parte da própria realidade, e a busca por sua
superação era um exercício pedagógico para a aprendizagem coletiva. Neste
momento, além das formas de comunicação com a tutoria, notadamente por
textos escritos, os cursistas poderiam se valer de registros audiovisuais. Isso foi
muito importante porque alguns tinham poucos anos de escolarização formal e
alguma dificuldade com a língua padrão.
No quarto passo, a chegada e as novas utopias, além de dar continuidade
à realização dos projetos e contar com a monitoria, os cursistas deveriam
apresentar uma síntese de seus resultados, fosse com registros audiovisuais ou
por escrito. Como se depreende do título dado ao quarto passo, a metodologia
desenvolvida não compreende os resultados como um processo acabado, isto
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porque a utopia está no horizonte. Assim, a chegada é, na realidade, provisória
e marcada, invariavelmente, por novas utopias, caminhos e caminhadas.
Em síntese, os dois primeiros passos consistiram na fase de elaboração
do projeto e os dois últimos na concretização dos mesmos. O Quadro 4 busca
resumir os quatro passos explicitados anteriormente.
Quadro 4 Síntese da pedagogia do caminhar
Primeiro passo: A utopia
I.
Escolha da área temática para desenvolvimento do projeto.
II.
Escrita dos objetivos e da justificativa.
Envio do desenvolvimento do projeto pelo formulário online e retorno
da monitoria.
Participação nas reuniões de monitoria.
Segundo passo: O caminho
III.
Descrição dos procedimentos metodológicos.
Envio do desenvolvimento do projeto pelo formulário online e retorno
da monitoria.
Participação nas reuniões de monitoria.
Terceiro passo: A caminhada
IV.
Realização dos projetos.
Envio dos resultados do projeto pelo formulário online e retorno da
monitoria.
Participação nas reuniões de monitoria.
Quarto passo: A chegada e as novas utopias
V.
Continuidade da realização dos projetos.
Socialização dos resultados do projeto.
Continuidade de tutoria para os projetos.
Fonte: Elaboração própria (2023)
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A Figura 1 apresenta a metodologia utilizada no curso de formação,
apontando os pressupostos teóricos que embasaram a sua formulação, bem
como as suas três etapas e os quatro passos para realização dos projetos.
Destacamos que, embora a pedagogia do caminhar se materialize no curso
quando na feitura do projeto, isto é, durante o tempo-comunidade e a oficinas
pedagógicas, na elaboração da primeira etapa (tempo-escola) a noção de práxis
esteve presente, inclusive para se organizar a ordem dos conteúdos e os
encontros síncronos e assíncronos.
Figura 1 Esquema metodológico do curso de formação de agentes populares de
agroecologia
Fonte: Elaboração Própria (2023)
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Todos os passos foram acompanhados por tutores voluntários com
diferentes níveis de formação e oriundos de universidades, instituições parceiras
do projeto e movimentos populares, com apoio de uma equipe técnica e da
coordenação pedagógica. O diálogo mais geral entre os envolvidos no curso foi
realizado por meio da plataforma Google Classroom, por e-mail e por grupos de
WhatsApp específicos de cada área temática. O retorno, após cada um dos
passos da terceira etapa, se deu com formulários online, nos quais os cursistas
se identificavam e respondiam as questões específicas a cada um dos diferentes
momentos da elaboração e concretização de seus projetos, podendo anexar, a
depender da situação, registros para observação e comentários da monitoria. No
Quadro 5, encontram-se as formas de comunicação entre os envolvidos no
curso.
Quadro 5 Meios e estratégias de comunicação utilizadas no curso
Modalidade
Objetivos
Plataforma
GoogleClassroom
Comunicação direta entre cursistas e tutores, com
apoio da equipe técnica e coordenação pedagógica,
para informações diversas acerca do curso, e para
tirar dúvidas a respeito das etapas, de modo geral, e
dos passos dos projetos, em específico.
E-mail
Grupo de WhatsApp das
áreas temáticas do curso
Comunicação entre os próprios cursistas sobre os
projetos, a temática inserida e temas diversos, com
presença dos tutores e tutoras e coordenação
pedagógica para informações diversas acerca do
curso.
Formulários online
Forma de acompanhamento dos quatro passos do
projeto, com a resposta dos cursistas e o envio de
arquivos respectivos às suas reflexões e ações,
contando com a devolução dos tutores com
impressões gerais e apontamentos para o
desenvolvimento do projeto.
Reuniões de monitoria das
áreas temáticas
Espaço para informações gerais sobre o curso e,
sobretudo, de diálogo entre os cursistas e os
tutoresacerca dos projetos em desenvolvimento.
Fonte: Elaboração própria (2023)
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Dada a experiência com outros cursos de extensão e a pandemia, que
além de diversas dificuldades relacionadas ao trabalho remoto e à conexão,
também trouxe sobrecarga de tarefas no ambiente doméstico, já era esperado
algum nível de evasão. Neste sentido, o curso se estruturou para também ser
útil ao público geral, interessado na totalidade ou apenas em parte dos
conteúdos que por ele foram gerados. Assim, no Quadro 6, os números de
visualizações dos conteúdos do tempo-escola, que, mesmo que seja circunscrito
a apenas uma das três partes do curso, consegue ilustrar o interesse do público
em geral sobre o tema4.
Quadro 6 Acesso ao conteúdo do tempo-escola do curso
Encontro
Formato
Acesso de
cursistas5
Acesso
geral6
1
Síncrono
1.900
6.091
2
Assíncrono
1.550
-
3
Síncrono
1.060
4.590
4
Assíncrono
1.162
-
5
Síncrono
1.210
3.736
6
Assíncrono
1.160
-
7
Síncrono
1.074
2.654
8
Assíncrono
1.032
-
9
Síncrono
997
2.321
10 (I)
Assíncrono
Não contabilizado
-
10 (II)
Síncrono
Não contabilizado
928
Fonte: elaboração própria (2023)
4 Em tempo: a lista de presença era exclusiva às pessoas matriculadas e as visualizações contabilizam o interesse geral
no material. Os encontros assíncronos foram direcionados apenas às pessoas inscritas e envolvidas no curso. Tais
conteúdos, segundo a equipe técnica, ainda serão adaptados e disponibilizados ao público geral, ampliando ainda mais
o alcance do projeto.
5 Levantamento realizado em agosto de 2021.
6 Levantamento realizado em julho de 2023.
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Importante destacar o considerável número de acessos dos conteúdos
audiovisuais das oficinas disponibilizadas para o acesso geral, e não apenas
para cursistas. Segundo dados de julho de 2023, a primeira parte da oficina
pedagógica I, sobre canteiros agroflorestais, postada em agosto de 2021, já tinha
recebido, 2.124visualizações e a segunda parte, postada em setembro de 2021,
976 visualizações. A oficina pedagógica II, dedicada ao manejo agroflorestal,
postada em outubro de 2021, contava com 323. Já as oficinas III e IV, postadas
também em outubro de 2021 e dedicadas, respectivamente, à implementação
de agrofloresta e as hortas agroecológicas, disponíveis em um vídeo único,
contavam com 246 visualizações.
Os dados quantitativos indicam apenas parcialmente os resultados
obtidos pelo curso. O acompanhamento de painéis de debates e, desta forma, o
acesso a novos conhecimentos e conceitos teóricos, o processo de reflexão,
elaboração e materialização dos projetos, o diálogo entre pares e o
acompanhamento de tutores, permitiram aos cursistas serem parte de um novo
processo educativo voltado à agroecologia, assim como de um processo
educativo de novo tipo, que atrela os conceitos e práticas da agroecologia à
educação popular.
Assim, mais do que a formação, no sentido educativo do termo, de novos
sujeitos, também foi possível perceber a transformação, no sentido sociopolítico,
da realidade na qual cada um estava inserido territorialmente, seja no âmbito da
moradia, da comunidade ou do trabalho. Os projetos ligados às diferentes áreas
temáticas, feitos de forma individual, coletiva ou comunitária, visando, ou não, a
geração de trabalho e renda, foram pautados nos princípios da agroecologia.
Isto, sem dúvidas, contribuiu na formação de agentes defensores, promotores e
praticantes da agroecologia, no campo e nas cidades.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Mais do que a divisão do processo educativo em etapas, a materialização
da pedagogia do caminhar, tendo como passos a utopia, o caminho, o caminhar,
a chegada e as novas utopias, na experiência aqui descrita, é um convite para
se repensar novas formas de construção e socialização do conhecimento
humano acumulado e socialmente engajado. O mérito do curso, além do número
expressivo de envolvidos, está na sua metodologia que, enquanto uma
experiência extensionista, colocou a universidade em diálogo com a
comunidade, oferecendo aportes mediados para o atendimento de demandas,
em um contexto em que tanto as universidades como a sociedade padeciam de
crises econômica, política, ambiental e sanitária sobrepostas, geridas por um
governo incapaz e antissocial que, conforme os dados da Organização das
Nações Unidas (ONU), devolveu o Brasil ao mapa da fome.
As ações desenvolvidas durante o curso de formação de agentes
populares de agroecologia possibilitaram aos participantes deste processo
desenvolver intervenções extensionistas, seja no território rural ou urbano, não
apenas como técnicos, mas, em especial, como promotores da agroecologia,
seja como prática, ciência ou movimento.
O projeto aqui analisado foi concebido por docentes e discentes em
parceria e contínuo diálogo, com movimentos populares, notadamente o
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), e organizações sociais,
tendo se constituído em uma experiência que pode ser replicada por diferentes
organizações, total ou parcialmente, mediante a promoção de debates e painéis
teóricos, da realização de diferentes projetos inseridos no tema, do fornecimento
de oficinas práticas ou mesmo da combinação de todas essas ações que,
conectadas em diferentes etapas, e com a possibilidade de um monitoramento
sistemático e diálogo entre as partes envolvidas, possam fornecer um rico
instrumental teórico e prático voltado à promoção e defesa da agroecologia.
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Foi defendido, ao longo de todo o processo, descrito neste artigo, que a
agroecologia é uma forma de produção e reprodução social contra-hegemônica
que, além de possível e necessária, pode envolver amplos setores da sociedade
civil e poder público.Quando associada à educação popular, a agroecologia
concebe os sujeitos como portadores de concepções e conhecimentos que
podem ser valorizados junto ao conhecimento científico e acadêmico, sobretudo
visando a transformação da realidade, tornando-se alternativa antissistêmica à
produção agrícola, à reprodução social camponesa e ao consumo consciente e
solidário, com impactos positivos sobre as cadeias curtas de comercialização e
aos mercados locais.
CARVALHO, J. G.; PEREIRA, E. R. Nea UFSCAR and the pedagogy of walking:
methodological contributions to the training of popular Agents of Agroecology. ORG &
DEMO (Marília), v. 24, Fluxo Contínuo, e023005.
Abstract: There is undeniable potential for agroecology as a form of agricultural
production and peasant social reproduction, characterized by its counter-hegemonic
nature and based on communal and solidarity values. Assuming that the popular
education method can be combined with agroecological practice, this paper aims to
provide a methodological contribution to the training of popular agents of agroecology,
developed through a university extension experience conducted by the Center for
Agroecology and Organic Production Studies (NEA) at the Federal University of São
Carlos (UFSCar), São Carlos campus. Methodologically, the article is the result of an
applied qualitative research, with participant observation and action research. To fulfill
the proposed objective, the theme is approached in association with popular education
as a praxis that strengthens the anti-systemic nature of agroecology. The conclusions
indicate that the methodology developed to overcome the difficulties of remote training
directed at a significant and heterogeneous audience was successful and managed to
positively impact the territories where it was carried out through the implemented
practical actions. Furthermore, the methodological contributions developed by the
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responsible team, particularly the pedagogy of walking, have the capacity for replication,
either in whole or in part, in different locations, for the benefit of agroecology.
Keywords: Popular education; University extension; Agroecology; Rural extension.
Resumen: Existe un innegable potencial de la agroecología como forma de producción
agrícola y reproducción social campesina, de carácter contrahegemónico, basada en
valores comunitarios y solidarios. Partiendo del supuesto de que el método de la
educación popular puede combinarse con la práctica agroecológica, este trabajo tiene
como objetivo ofrecer un aporte metodológico para la formación de agentes populares
de agroecología, desarrollado a través de una experiencia de extensión universitaria
llevada a cabo por el Núcleo de Estudios en Agroecología y Producción Orgánica (NEA)
de la Universidad Federal de São Carlos (UFSCar), campus São Carlos.
Metodológicamente, el artículo es el resultado de una investigación cualitativa aplicada,
con observación participante y investigación-acción. Para cumplir con el objetivo
propuesto, el tema se aborda en asociación con la educación popular como praxis que
fortalece el carácter antisistémico de la agroecología. Las conclusiones indican que la
metodología desarrollada para superar las dificultades de una formación a distancia
dirigida a un público significativo y bastante heterogéneo fue exitosa y logró impactar
positivamente los territorios donde se llevó a cabo a través de las acciones prácticas
implementadas. Además, las contribuciones metodológicas desarrolladas por el equipo
responsable, especialmente la pedagogía del caminar, tienen la capacidad de ser
replicadas, ya sea en su totalidad o en parte, en diferentes ubicaciones, en beneficio de
la agroecología.
Palabras clave: Educación popular; Extensión universitaria; Agroecología; Extensión
rural.
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Submetido em: 27/02/2023
Aceito em: 08/06/2023
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La masificación o escalamiento de la agroecología campesina y la construcción de la soberanía alimentaria requieren transformaciones profundas, que solo un sujeto político colectivo, crítico y consciente de sí mismo puede lograr. El movimiento campesino global La Vía Campesina (LVC), en su expresión en América Latina, la Coordinadora Latinoamericana de Organizaciones del Campo (CLOC), emplea la formación política y agroecológica como un dispositivo que facilita la emergencia de un sujeto sociohistórico y político: el campesinado agroecológico, diseñado para la transformación de los sistemas alimentarios en todo el mundo. En este ensayo se examinan las prácticas pedagógicas y filosóficas utilizadas en las escuelas y los procesos de formación agroecológica campesina de LVC y la CLOC, así como la forma en que se conjugan como dispositivo para la mediación territorial y pedagógico-educativa para la reterritorialización agroecológica.
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The agrarian issue in Brazil is marked by the subordination of agriculture to the logic of capital accumulation, with its tendency to concentrate the ownership of land and means of production. Even though in more recent decades the hegemony of agribusiness in the Brazilian countryside has altered the former patterns of capital accumulation, our hypothesis is that economic and extra-economic power of large estate agricultural production is a structural and structuring element of (and in) the Brazilian agrarian issue, more notably for the connections established, peacefully or forcedly, between economy and politics. That said, this paper aims to bring to light the fact that, even if capable of change in its appearance, the large estate agricultural production in Brazil remains essentially an amplified process of capital accumulation, given its capacity-legal or otherwise-of private and concentrated appropriation of land and public funds. Therefore, we demonstrate in our work the shaping up of a trend that even when presented as a badge of modernity is sustained by the economic, political and coercitive force that land ownership gives a certain fraction of the dominating class.
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El presente artículo analiza la relación entre la teoría y la practica agroecológica en diversas iniciativas. A través de los años, desde la primera aparición en el mundo académico del término agroecología, esta se ha convertido en un camino de vida y una herramienta para los campesinos y las comunidades urbanas de agricultores. Esto ha permitido explicar a la agroecología como una ciencia, un movimiento y una práctica. El objetivo del artículo es entender la profundidad de la teoría y práctica en cada una de las propuestas, y cómo la agroecología puede ser una estrategia para construir la justicia y la soberanía alimentaria.
Article
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Agroecology involves various approaches to solve actual challenges of agricultural production. Though agroecology initially dealt primarily with crop production and protection aspects, in recent decades new dimensions such as environmental, social, economic, ethical and development issues are becoming relevant. Today, the term 'agroecology' means either a scientific discipline, agricultural practice, or political or social movement. Here we study the different meanings of agroecology. For that we analyse the historical development of agroecology. We present examples from USA, Brazil, Germany, and France. We study and discuss the evolution of different meanings agroecology. The use of the term agroecology can be traced back to the 1930s. Until the 1960s agroecology referred only as a purely scientific discipline. Then, different branches of agroecology developed. Following environmental movements in the 1960s that went against industrial agriculture, agroecology evolved and fostered agroecological movements in the 1990s. Agroecology as an agricultural practice emerged in the 1980s, and was often intertwined with movements. Further, the scales and dimensions of agroecological investigations changed over the past 80 years from the plot and field scales to the farm and agroecosystem scales. Actually three approaches persist: ( 1) investigations at plot and field scales, ( 2) investigations at the agroecosystem and farm scales, and ( 3) investigations covering the whole food system. These different approaches of agroecological science can be explained by the history of nations. In France, agroecology was mainly understood as a farming practice and to certain extent as a movement, whereas the corresponding scientific discipline was agronomy. In Germany, agroecology has a long tradition as a scientific discipline. In the USA and in Brazil all three interpretations of agroecology occur, albeit with a predominance of agroecology as a science in the USA and a stronger emphasis on movement and agricultural practice in Brazil. These varied meanings of the term agroecology cause confusion among scientists and the public, and we recommend that those who publish using this term be explicit in their interpretation.
Agroecologia e a construção de um sistema alimentar contrahegemônico
  • R S Borsatto
  • J Carvalho
  • R Borsatto
  • L L Santos
BORSATTO, R. S. Agroecologia e a construção de um sistema alimentar contrahegemônico. In: CARVALHO, J. G; BORSATTO, R. S; SANTOS, L. L. (orgs.).
Defining agroecology. Agroecology and Sustainable Food Systems
  • S R Gliessman
GLIESSMAN, S. R. Defining agroecology. Agroecology and Sustainable Food Systems, v. 42, n. 6, p. 599-600, 2018.