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I
16 a 20 de julho de 2023
Universidade de Coimbra
Livro de Resumos
Coordenadores da Edição:
F. C. Lopes, P. A. Dinis, L. V. Duarte, P. P. Cunha
Edição: Departamento de Ciências da Terra da Faculdade de Ciências e Tecnologia da
Universidade de Coimbra
Autores: Vários
Capa e contracapa: F. C. Lopes
Imagem de capa: Formação do Pulo do Lobo. Faixa Piritosa Ibérica
Imagem de contracapa: Protomilonito de Lagoa. Maciço de Morais
Conceção gráfica e paginação: F. C. Lopes
Data de publicação: julho de 2023
Tipo de suporte: Eletrónico
I.S.B.N.: 978-989-98914-8-7
Os trabalhos contidos no presente volume devem ser citados da seguinte maneira:
Autor, N. (2023) “Título do Resumo”. In Lopes, F. C., Dinis, P. A., Duarte, L. V. e Cunha, P. P. (Coords.).
XI Congresso Nacional de Geologia: Geociências e Desafios Globais. Livro de Resumos. Coimbra, 16-
20 julho de 2023, Departamento de Ciências da Terra da Universidade de Coimbra (eds.). Págs. ISBN:
978-989-98914-8-7
III
Prefácio
Quando o XI Congresso Nacional de Geologia (XI CNG) começou a ser desenhado, há cerca de 6 anos,
tomámos a opção de dar destaque aos grandes desafios globais da atualidade, tendo presente os
objetivos do Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 2030. Estávamos longe de prever os eventos
dramáticos e as grandes transformações que iriam marcar os anos que se seguiram. O mundo
mudou, mas os temas sob foco de então mantêm total atualidade.
O programa científico do XI CNG foi sendo construído com a certeza do papel que as geociências
terão de desempenhar no tratamento de múltiplas questões cruciais para o desenvolvimento da
humanidade. Podemos destacar tudo quanto tem a ver com a disponibilidade de matérias primas,
com o conhecimento da história da Terra, incluindo a variabilidade climática e a evolução da vida no
planeta, com os riscos naturais, que sabemos acrescidos quando se nota forte pressão sobre
sistemas naturais muito dinâmicos, com a disponibilidade de água de qualidade, com as fontes de
energia, mais ou menos convencionais, e os esforços para o aprisionamento de gases associados ao
consumo de combustíveis fósseis, com a qualidade ambiental e o entendimento do fatores, naturais
e antrópicos, responsáveis pela sua degradação, com a educação e transmissão a todos de
conhecimentos fundamentados.
Para o presente volume, intitulado “XI Congresso Nacional de Geologia: Geociências e Desafios
Globais. Livro de Resumos”, recebemos, sob a forma de resumos alargados de 2 páginas, perto de
400 contribuições científicas. Os trabalhos apresentados agora estão distribuídos por 20 sessões
científicas temáticas, abarcando todas as áreas de especialização relevantes no domínio das
geociências, tanto ao nível da ciência fundamental como aplicada. Cada uma das várias sessões foi
coordenada por 3 investigadores, escolhidos por apresentarem reconhecida atividade nos respetivos
domínios temáticos específicos, e que se encontram associados a diferentes instituições que
produzem conhecimento técnico-científico em geociências. Procurou-se assegurar, nesta seleção, um
valorizado pluralismo, com tudo o que isso pode representar em termos de diferentes visões,
preocupações regionais ou relações de proximidade. Todos os trabalhos passaram por um processo
de revisão conduzido pelos coordenadores das várias sessões e envolvendo outros especialistas que
integram a Comissão Científica do XI CNG. Tentámos garantir que, preservado o cunho pessoal dos
autores, todas as contribuições atingiam os níveis de qualidade que devem acompanhar publicações
emanadas de reuniões científicas da natureza dos congressos nacionais de geologia.
Surgem aqui apresentados os resultados da investigação desenvolvida em todo o território nacional,
do continente às ilhas, incluindo parte das suas áreas imersas. Encontram-se ainda trabalhos focados
em objetos geológicos de áreas mediterrânicas além-fronteiras, de territórios da Comunidade de
Países de Língua Portuguesa e muito mais além, como se poderá ver ao desfolhar estas páginas.
Em síntese, com este livro de resumos acreditamos conseguir espelhar boa parte da diversidade
temática e geográfica do trabalho desenvolvido pela comunidade científica portuguesa ou com
ligação ao país, mantendo padrões de qualidade e tendo presente a contribuição fundamental que as
geociências terão para o tratamento de problemas com pertinência social neste planeta em que
habitamos.
Pedro Dinis
71
SESSÃO CIENTÍFICA 3 (SC_3)
(Paleontologia)
Conveners: Pedro Callapez; Paulo Legoinha
Resumos do XI CNG 2023, Coimbra, 16-20 de julho de 2023
139
Novas espécies fósseis e a paleobiodiversidade de Portugal: uma
análise preliminar da Portuguese Fossil Database
New fossil species and paleobiodiversity of Portugal: a preliminary analysis of the
“Portuguese Fossil Database”
R. da Silva (1,2), P. Fialho (3), B. Costa (3), S. Patrocínio (2,4), A. Burigo (2,4) e P. Andrade (2,4)
(1) Instituto de Ciências da Terra, Pólo de Évora, Évora, Portugal. roberto.silva@uevora.pt
(2) Universidade de Évora, Évora, Portugal.
(3) GeoBioTec, Monte da Caparica, Portugal.
(4) Universidade Nova de Lisboa, Monte da Caparica, Portugal.
Summary: The “Portuguese Fossil Database” is a project which aims to compensate for an existing gap in
the availability and analysis of the Portuguese paleontological data as a whole. The present abstract
shows the preliminary data related with taxonomic diversity, which was acquired after almost two years
of work and the analysis of more than 500 peer-reviewed scientific publications. The reader will also find
the general statistics about the data gathered so far in the scope of the project, as well as information
about new species found in Portugal and the most frequent authorships related to these new taxa.
Key words: database, fossils of Portugal, revision, literature, fossil sites
Palavras-chave: base de dados, fósseis de Portugal, revisão, literatura, jazidas
Em 1849, D. Sharpe publicava o primeiro género
nomeado com base num fóssil português, o
Tylostoma. No entanto, o estudo da vasta diversidade
de ocorrências fósseis em Portugal ter-se-á iniciado
décadas antes, como demonstra a referência de Louis
Bourguet (1742) sobre material fóssil descoberto no
nosso território. Contando com mais de 250 anos de
história, a Paleontologia portuguesa é marcada por
dezenas de milhares de ocorrências fósseis um pouco
por todo o país (continente e arquipélagos),
identificadas e estudadas em centenas de
publicações.
Fruto da proliferação nacional e internacional de
estudos paleontológicos, a dispersão deste amplo
espólio científico, que se desdobra em publicações,
coleções e jazidas identificadas, tornou-se numa
problemática para a comunidade científica,
traduzindo-se no difícil acesso à informação publicada
e sua análise como um todo. No entanto, o conceito
das bases de dados online surge como uma possível
solução.
O projeto em que o presente trabalho se insere,
designado de Portuguese Fossil Database, procura
resolver o problema da dispersão de informação
sobre a diversidade fóssil portuguesa. Pretende-se
não só compilar toda a informação sobre fósseis
portugueses disponível em publicações científicas
e/ou sujeitas a peer-review, mas também organizar,
analisar e disponibilizar grandes volumes de dados
para a comunidade científica e o público em geral. Os
dados recolhidos são ainda sujeitos a harmonização,
recorrendo para isso a bases de dados internacionais
(e.g. Mindat, GBIF, The Paleobiology Database,
WoRMS, etc.).
Até ao momento, analisaram-se mais de 500
publicações científicas, correspondendo a um registo
superior a 15000 ocorrências fósseis, das quais
apenas 8000 têm coordenadas geográficas associadas
(Fig. 1).
Fig. 1. Mapeamento das ocorrências fósseis registadas para
Portugal continental, com base nas coordenadas geográficas
disponibilizadas nas publicações originais e por aproximação.
140
As ocorrências fósseis determinam os registos
individuais da presença de um taxon em estratos
e/ou pontos geográficos distintos, não representando
a quantidade de material encontrado.
Dos taxa registados até ao momento, destacamos, no
presente trabalho, as espécies descritas
primeiramente em Portugal (n. sp.). De referir que, o
presente resumo não tem em conta a validade das
designações taxonómicas, incluindo taxa atualmente
válidos e não válidos.
A partir da análise bibliográfica, foi possível listar até
ao momento 267 n. sp., constituindo-se como 7,9 %
da totalidade de taxa identificados a partir de
material fóssil português.
Por a pesquisa e análise bibliográficas não se focarem
em publicações de um determinado taxon ou período
temporal, o total de n. sp. identificadas regista uma
grande diversidade, ao contrário do que sucede com
a maioria dos trabalhos de revisão bibliográfica. São
exemplos as publicações de Mateus et al. (2022),
Fialho et al. (2021) e Rocha & Kullberg (2004) que,
apesar de serem compêndios de informação
taxonómica e bibliográfica relevantes para a
Paleontologia nacional, por se focarem em grupos
taxonómicos específicos, estes limitam a visão global
da riqueza taxonómica descrita no país. Regista-se
uma maior incidência de novas espécies no Reino
Animalia (222), com um número mais elevado
atribuído às classes Gastropoda (28) e Rhynchonellata
(28). Nos taxa relacionados com o Reino Plantae (48),
destacam-se as classes Magnoliopsida (13) e
Pinopsida (7).
No entanto, a diversidade de nomes registados não
se cinge apenas aos fósseis. Registamos ainda um
elevado número de investigadores que, na qualidade
de primeiro autor, descreveram novas espécies para
a ciência a partir de material fóssil português.
Enumeramos por ordem decrescente os mais
frequentes autores, com indicação do número de
espécies descritas e um taxon exemplo:
[29] P. Choffat: Vascoceras gamai Choffat, 1898;
[24] S. Jonet: Rhinobatus antunesi Jonet, 1968;
[18] C. R. Groot: Patellasporites tavaredensis Groot &
Groot, 1962;
[14] M. T. Antunes: Amphicyon olisiponensis Antunes
& Ginsburg, 1977 (Figura 2);
[12] B. Andrade: Neozeilleria duartei Andrade, 2006;
[12] E. M. Friis: Miranthus elegans Friis, Crane &
Pedersen, 2021;
[9] C. Estravís: Arcius zbyszewskii Estravís, 2000;
[7] D. Sharpe: Tylostoma globosum Sharpe, 1849.
Uma vez que os resultados aqui apresentados são
preliminares, refletindo a análise de cerca de 25% da
bibliografia listada, é expectável que com o
desenvolvimento do trabalho se verifique que a
riqueza paleontológica portuguesa total seja superior.
Fig. 2. Ilustração científica da espécie Amphicyon olisiponensis
Antunes & Ginsburg, 1977, por Pedro Andrade.
Referências:
Bourguet, L. (1742). Traité des pétrifications: avec figures. A Paris: Chez Briasson: de l'imprimerie de Gissey. 465 pp.
Fialho, P., Balbino, A. & Antunes, M.T. (2021). Fossil Chondrichthyes from the Neogene of Portugal: Diversity and
Occurrence. Anuário do Instituto de Geociências, 44, 43395.
Mateus, O., Estraviz-López, D. & Mateus, S. (2022). Type specimens alone have a strong correlation with taxa record
by geological epoch: the case study of the fossil vertebrates named from Portuguese types. Comunicações
Geológicas, 109(1), 57-64.
Rocha, R.E.B.D. & Kullberg, J.C.R. (2004). A Geologia na Toponímia e na História da Cidade de Lisboa. In: IV Jornadas de
Toponímia de Lisboa. Câmara Municipal de Lisboa, 29-50.
Sharpe, D. (1849). On Tylostoma a proposed genus of gasteropodous mollusks. Quarterly Journal of the Geological
Society, 5(1-2), 376-380.