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259Estud. mensaje period. 29(2) 2023: 259-272
ESTUDIOS
Estudios sobre el Mensaje Periodístico
ISSN-e: 1988-2696
https://dx.doi.org/10.5209/esmp.85827
Fact-checks: liquidez de um género. Estudo de um caso português em contexto
pandémico
Clara Almeida Santos1, Ana Teresa Peixinho2, Felisbela Lopes3 y Rita Araújo4
Recibido: 24 de enero de 2023 / Aceptado: 4 de mayo de 2023
Resumo. Este estudo propõe a abordagem da verificação de factos como processo da prática jornalística (fact-checking) e como género
discursivo (fact-check) partilhado por diferentes campos da comunicação, do jornalismo à comunicação estratégica. A pandemia de
COVID-19 reforçou a necessidade de destrinçar entre informação falsa e informação fidedigna. Analisam-se 205 fact-checks sobre
vacinas do Polígrafo, recolhidos da página de Facebook desta agência de fact-checking. Conclui-se que: i) 79,5% das publicações
analisadas partem de informações divulgadas nas redes sociais online; ii) 82% da informação verificada é falsa ou contém algum tipo
de imprecisão; iii) os casos verificados como verdadeiros são, na sua maioria, informação que se pretende veicular esclarecer dúvidas
sobre a vacinação; iv) a maior parte das verificações são feitas a partir de fontes oficiais (31,1%), seguindo-se as fontes especializadas
(21,6%); v) os fact-checks podem ser entendidos como um cibergénero jornalístico, também apropriado pela comunicação estratégica.
Palavras-chave: fact-checking; géneros do discurso; vacinação; comunicação estratégica
[es] Fact-checks: la liquidez de un género. Un Estudo de caso portugués en un contexto pandémico
Resumen. Este estudio propone abordar la verificación de los hechos como un proceso de la práctica periodística (fact-checking) y
como un género discursivo (fact-check) compartido por distintos campos de la comunicación, desde el periodismo hasta la comunicación
estratégica. La pandemia de COVID-19 ha reforzado la necesidad de distinguir entre información falsa y fiable. Se analizan 205 fact-
checks de hechos sobre vacunas realizadas por Polígrafo, recogidas de la página de Facebook de esta agencia de fact-checking.
Concluimos que: i) el 79,5% de las publicaciones analizadas se basan en informaciones divulgadas en redes sociales online; ii) el 82%
de las informaciones verificadas son falsas o contienen algún tipo de inexactitud; iii) los casos verificados como verdaderos son, en su
mayoría, informaciones que pretenden aclarar dudas sobre la vacunación; iv) la mayoría de las verificaciones se realizan a partir de
fuentes oficiales (31,1%), seguidas de fuentes especializadas (21,6%); v) los fact-checks pueden ser entendidos como un cibergénero
periodístico, también apropiado por la comunicación estratégica.
Palabras-clave: Fact-checking; géneros; vacunación; comunicación estratégica
[en] Fact-checks: the liquidity of a genre. A Portuguese case-study in a pandemic context
Abstract. This study proposes to approach fact-checking as a process of journalistic practice and as a discursive genre (fact-check)
shared by different fields of communication, from journalism to strategic communication. The COVID-19 pandemic has reinforced the
need to distinguish between false and reliable information. From the analysis of 205 fact-checks about vaccines published by Polígrafo,
collected from the Facebook page of this fact-checking agency, we conclude that: i) 79.5% of the analyzed publications are based on
information released in online social networks; ii) 82% of the verified information is false or contains some kind of inaccuracy; iii) the
cases verified as true are, in their majority, information that intends to clarify doubts about vaccination; iv) most of the verifications
derive from official sources (31.1%), followed by specialized sources (21.6%); v) fact-checks can be understood as a journalistic cyber-
genre, appropriated by strategic communication.
Keywords: fact-checking; genres; vaccination; strategic communication
Sumário. 1. Fact-Checking e prática jornalística 2. Os Géneros do Discurso: quadro teórico 3. Autonomização do fact-checking como
género discursivo 4. Estudo de Caso 5. Conclusões 6. Referências bibliográficas
Cómo citar: Almeida-Santos, C., Peixinho, A.T., Lopes, F., & Araújo, R. (2023). Fact-checks: la liquidez de un género. Un estudio de caso
portugués en un contexto pandémico. Estudios sobre el Mensaje Periodístico 29 (2), 259-272. https://dx.doi.org/10.5209/esmp.85827
1 Universidade de Coimbra (Portugal)
E-mail: clara.santos@uc.pt
2 Universidade de Coimbra (Portugal)
E-mail: ana-cristo@fl.uc.pt
3 Universidade do Minho (Portugal)
E-mail: felisbela@ics.uminho.pt
4 Universidade do Minho (Portugal)
E-mail: ritaaraujo@ics.uminho.pt
FOLIO
NO bOrrar
260 Almeida-Santos, C., Peixinho, A.T., Lopes, F., & Araújo, R. Estud. mensaje period. 29(2) 2023: 259-272
1. Fact-Checking e prática jornalística
O fact-checking vem juntar-se a uma plêiade de géne-
ros – uns novos, outros reciclados (Santos & Peixi-
nho, 2016) – que caracterizam a produção jornalística
contemporânea. Desde a construção e autonomização
do campo profissional, o fact-checking é uma prática
associada ao jornalismo, decorrente dos ideais de ri-
gor, verdade, factualidade e imparcialidade. A verifi-
cação dos factos foi, pois, durante mais de um século,
um valor inestimável, fundador das credibilidade e
autoridade profissionais. O primeiro artigo do Códi-
go Deontológico dos Jornalistas Portugueses, atuali-
zado em 2017, é explícito quanto à necessária factua-
lidade, à exatidão e à verificação como pilares da
normatividade profissional:
O jornalista deve relatar os factos com rigor e
exatidão e interpretá-los com honestidade. Os factos
devem ser comprovados, ouvindo as partes com inte-
resses atendíveis no caso. A distinção entre notícia e
opinião deve ficar bem clara aos olhos do público5.
Numa perspetiva histórica, o paradigma do jornalis-
mo assenta sobretudo no ideal de objetividade que
muitos autores consideram a dimensão primordial do
modelo profissional (Mesquita, 2000; Carlson, 2012;
Charon & Bonville, 2012; Vos & Moore, 2020), com
5 Cf. Código Deontológico dos Jornalistas publicado em https://jornaliss-
tas.eu/novo-codigo-deontologico/ (consultado a 26 de outubro de 2022).
consequências ao nível da construção identitária dos
profissionais, da sua autorrepresentação, mas também
ao nível de rotinas de produção noticiosa: os critérios de
agenda mento e de noticiabilidade (Whal-Jorgensen &
Hanitzch, 2009); as práticas de jornalismo em diferentes
suportes e plataformas (Deuze, 2012); a relação com
fontes na era da convergência digital (Berkowitz, 2009).
Apesar de a verificação ser matriz da prática jor-
nalística, é no início do século XX, em 1938, que
surge pela primeira vez a referência a fact-checkers
como ‘profissão’ independente, nos EUA, num texto
de promoção da revista Time.
Como é que uma prática matricial da profissão,
um dever do jornalista, passa a ser, na terceira década
do século XXI, um assunto novo? Na sociedade de
informação, na sociedade em rede e, sobretudo, com
o advento da pós-verdade nos media, a verificação de
factos no jornalismo está na ordem do dia. De acordo
com Laurent Bigot, o ressurgimento do fact-ckecking
ganha os contornos de estratégia de recuperação de
uma credibilidade em queda:
(...) dans des rédactions où des crises s’accumulent,
d’ordres structurel, conjoncturel et éditorial, et où cha-
cune lutte pour survivre face à une hyper-concurrence,
les moyens qui devraient permettre d’accomplir serei-
Figura 1. Excerto de Collier’s, 1938
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nement une telle mission ne sont que très rarement ré-
unis. Voilà pourquoi il est intéressant de constater, aux
États-Unis, puis en France, l’apparition du fact-
checking, dont l’un des objets, à l’évidence, consiste à
rendre aux médias une partie du crédit perdu aux yeux
de la population (Bigot, 2017, p. 33).
Também para Graves (2016), o fact-checking tem
sido incrementado como forma de melhorar a reputa-
ção do jornalismo nos últimos anos e, segundo Ama-
zeen, “fact-checking is spreading around the world at
a time when there has been a deterioration in journa-
listic practices, public disempowerment, evolving
technology, and socio-political strife” (2019, p. 555).
A democratização da comunicação, facilitada pela
internet, conduz à disseminação de desordens informati-
vas (Figueira & Santos, 2019; Wardle & Derakhshan,
2017) que colocam em causa os alicerces da própria de-
mocracia na era digital (Harding, 2017; Graves, 2016). A
proliferação de fenómenos relacionados com um tempo
dito de “pós-verdade”, bem como a consciencialização
sobre fenómenos de desordens informativas e a necessi-
dade de as combater colocam o fact-cheking na ribalta6.
O conceito de pós-verdade é aqui utilizado na sua
aceção simples de um conjunto de circunstâncias em
que as emoções e as crenças contribuem mais para a
formação de opinião do que os factos objetivos (de
acordo com a definição dos Oxford Dictionaries, que
consagraram a expressão como “palavra do ano” em
2016). Estamos conscientes da polémica em torno da
utilização do termo que pressupõe, por um lado, uma
ideia de “verdade” num tempo pretérito e, por outro,
a pouca relevância das emoções e crenças na constru-
ção da opinião em períodos anteriores7. A utilização
do marco da pós-verdade neste trabalho prende-se
com a amplificação do fenómeno trazido pelas redes
sociais online e pela inaudita escala e amplitude dos
conteúdos gerados pelos utilizadores, que coloca no-
vos desafios aos jornalistas e media, e tem conse-
quências para a aquisição de conhecimento e forma-
ção da opinião. De acordo com Wardle & Derakhshan:
people are then likely to take as credible whatever con-
tent is endorsed by their social networks, and which
corresponds with their hearts – but leaves out engage-
ment with their heads. We can already see the negative
impacts of this on public beliefs about health, science,
intercultural understanding and the status of authentic
expertise (Wardle & Derakhshan, 2017, p. 9).
Neste contexto de maior consciência da necessi-
dade de verificação sistemática de factos, em 2016, o
6 Graves (2016) faz remontar a origem do fact-checking político à dé-
cada de 80 do século XX, mas afirma que a sua codificação e padro-
nização se materializou já no século XXI. De acordo com M. Ama-
zeen, “since 2003 and the emergence of FactCheck.org in the United
States, fact-checking has expanded both domestically and internatio-
nally. As of February 2018, the Duke Reporter’s Lab identified nearly
150 active initiatives around the world” (Amazeen, 2019, p. 541).
7 Não sendo este o espaço para esta discussão, remetemos, para várias
perspetivas sobre o tema, para Lippmann, 1922; D’Ancona, 2017;
Baggini, 2017; McIntyre, 2018; Ferraris, 2019; Ferrari et al, 2023.
Poynter Institute criou a International Fact Checking
Network (IFCN) que, por sua vez, estabeleceu um
conjunto de princípios reguladores da atividade (Oli-
veira, 2020).
Portugal não é alheio a este fenómeno. O Obser-
vador possui uma secção de fact-checking8, integra o
projeto FactCheckEU9 e tem um programa de fact-
-checking em parceria com a TVI, televisão privada,
chamado “A Hora da Verdade”. Também o diário
Público, na sua versão online, tem uma secção intitu-
lada Prova dos Factos10, que é uma plataforma de
fact-checking. A agência Lusa criou o site combate-
fakenews.lusa.com dedicado a fact-checking.
Alguns autores (Graves, 2016; Bignot, 2017; Car-
doso & Baldi, 2020; Amazeen, 2019) têm refletido
sobre esta prática, apresentando estudos empíricos
que atestam a sua importância no ecossistema mediá-
tico hodierno: quer como recurso de verificação do
discurso de líderes políticos num contexto de pós-
-verdade; quer sobre o aumento significativo do fact-
-checking desde 2015; quer ainda sobre a sua emer-
gência num contexto de liquidez, de crise das
mediações, de velocidade de disseminação da infor-
mação e de crise do jornalismo. De acordo com ma-
peamento recente realizado pelo Duke Reporters
Lab, desde 2015, tem-se assistido a um aumento assi-
nalável de projetos de fact-checking, com particular
incidência no ano de 2019 (Stencel et al, 2022):
Gráco 1. Número de Fact Checks (Stencel et al,
2022, p. 7)
Este trabalho pretende testar duas hipóteses:
1. a verificação de factos não se limita a fazer
parte do processo de produção jornalística,
mas originou um novo género discursivo;
8 https://observador.pt/seccao/observador/fact-check/ (consultado em
2 de dezembro de 2022).
9 Este consórcio reúne 19 órgãos de comunicação de 13 países euro-
peus.
10 https://www.publico.pt/prova-dos-factos (consultado em 2 de de-
zembro de 2022).
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2. este novo género discursivo parece afirmar-se
em práticas comunicacionais da sociedade da
informação11 não exclusivas do jornalismo,
sendo apropriado, por exemplo, pela comuni-
cação estratégica.
Organiza-se este estudo em dois momentos: i)
uma reflexão teórica sobre géneros discursivos e gé-
neros jornalísticos; ii) um estudo de caso sobre o pa-
pel da plataforma portuguesa de fact-checking Polí-
grafo durante a campanha de vacinação contra a
Covid-19, em 2021.
2. Os Géneros do Discurso: quadro teórico
Importa, no estudo aqui proposto, uma delimitação
conceptual prévia, já que tal é determinante para o
rigor das hipóteses apresentadas e da análise que a
acompanha. Há, sobretudo, dois conceitos que devem
ser estabilizados: o de género discursivo e o de verda-
de. Este último é mais difícil de definir e conduziria a
uma reflexão filosófica que transcende o âmbito
deste artigo. Em todo o caso, num contexto de pós-
-verdade e de relativismo, é importante recuperar o
topos da factualidade determinante na configuração
do paradigma jornalístico desde a sua formação12.
O conceito de género discursivo, que começa por
ser estabilizado no âmbito da teoria da literatura (Sil-
va, 1994), carreia duas marcas relevantes para a tese
que aqui se defende: por um lado, i) a sua historicida-
de (Bakhtine, 1984; Todorov, 2018), que dita que os
géneros do discurso são entidades flutuantes, que
evoluem e se moldam aos contextos e às práticas
discursivas, numa espécie de relação dialética com o
tempo, o espaço, a formação discursiva e a evolução
tecnológica dos dispositivos de mediação; por outro
lado, ii) a sua inexistência enquanto categoria pura, já
que o género é uma categoria teórica abstraída da
prática textual, um arquétipo, fundamental na gestão
das expectativas da comunicação e no desenho de
quadros de leitura (Silva, 2012).
Partindo do princípio de que historicidade e ar-
quétipo são marcas dos géneros, independentemente
11 O relatório do OberCom de novembro de 2020 aponta já nesta dire-
ção: “no contexto atual do jornalismo de fact-checking e sobretudo
em virtude da crise pandémica, os géneros jornalísticos são cada vez
menos mutuamente exclusivos, misturando-se temas de política e
saúde” (Cardoso e Baldi, 2020, p. 5). Laurent Bignot (2017) defende
que o fact-checking é um novo género jornalístico. Para o efeito, se-
gue um conjunto de critérios de construção e delimitação dos géneros
do Jornalismo, demonstrando, através de análise empírica da impren-
sa francesa, que o fact-checking cumpre os requisitos temáticos, co-
municacionais, estilísticos, discursivos, pragmáticos etc. usados para
delimitar e explicitar outros géneros jornalísticos (Bignot, 2017).
12 Marie-Laure Ryan sugere uma abordagem aos géneros discursivos,
cruzando-os com os conceitos de media e de verdade. Em trabalho
recente (Ryan, 2021), propõe que se clarifique o tipo de relação que
media e géneros estabelecem com os novos produtos comunicacio-
nais: se o medium pode ser entendido como um conjunto de recursos
– definidos pela tecnologia do dispositivo de mediação e pela sua
substância semiótica –, o género tem uma essência normativa e res-
tritiva.
do campo discursivo13, facilmente se aceita que, em
qualquer formação discursiva14, os géneros são enti-
dades dinâmicas que evoluem, se transformam e se
reinventam. A discussão teórica sobre géneros dis-
cursivos, acelerada na década de 70 do século XX,
sobretudo pela afirmação da pragmática e da linguís-
tica sistémico-funcional (Halliday, 2004), é longa e
não isenta de contradições, nomeadamente termino-
lógicas e conceptuais (Melo & Assis, 2016)15. Em
todo o caso, assume-se, neste estudo, que um género
de discurso tem um forte enraizamento social e histó-
rico - que determina os seus critérios de constituição
- e emana das práticas discursivas, assentando em
critérios sociocomunicativos não exclusivamente
linguísticos. Por outro lado, o género tem uma di-
mensão modelar e reguladora16, já que é um “disposi-
tivo de estabilização de parâmetros para diferentes
planos de organização textual” (Silva, 2012). Os gé-
neros são definidos, pois, pela teoria da literatura -
área disciplinar, recorde-se, em que o conceito se
consolida e adquire operatividade teórica (Melo &
Assis, 2016) - como uma “categoria substantiva, re-
presentando entidades historicamente localizadas,
quase sempre dotadas de características formais va-
riavelmente impositivas e relacionáveis com essa sua
dimensão histórica” (Reis, 1995, p. 246).
De acordo com estudos seminais em genologia17
do jornalismo (Martinez Albertos, 1974), a reflexão
sobre géneros do discurso jornalístico não pode se-
parar-se da reflexão que, neste âmbito, foi desenca-
deada pela teoria da literatura e pelos estudos de
pragmática linguística. Estudar o campo discursivo
do jornalismo implica, além do mais, ter em conside-
ração que a questão dos géneros jornalísticos se de-
clina em três esferas distintas, embora interdepen-
dentes: i) a da práxis profissional, observável de
13 De acordo com Lia Seixas, Bakhtin foi o responsável pela adaptação
da teoria genológica a práticas discursivas fora do âmbito da literatu-
ra: “Seu conceito de dialogismo, ao colocar o berço dos gêneros na
esfera prosaica da linguagem, seduziu todos aqueles que queriam
trabalhar com o discurso cotidiano, precisavam compreender a esfera
do reconhecimento, ou ainda, analisar o hibridismo e a pluralidade.
Os mais diversos gêneros da comunicação cotidiana, além da comu-
nicação cultural organizada, ganham o estatuto de gêneros da lingua-
gem, tipos que merecem ser analisados” (Seixas, 2009, p. 41).
14 Usa-se o conceito de formação discursiva de M. Foucault, problema-
tizado A Arqueologia do Saber (1969): qualquer ato discursivo deri-
va de sistemas enunciativos próprios fundamentados em fatores de
natureza sociocultural e psicológica a que dá o nome de formações
discursivas (Foucault, 1969: 152-154). A formação discursiva cor-
responde ao “conjunto de enunciados identificáveis por seguirem um
mesmo sistema de regras, historicamente determinadas” (Charau-
deau & Maingueneau, 2004, p. 241).
15 Por indeterminação conceptual, entende-se a sobreposição e, por
vezes, difícil definição, de conceitos como os de modo discursivo,
género, formato ou tipo.
16 Reconhece-se, assim, como válida a definição proposta por Paulo
Nunes da Silva: “um género discursivo não constitui um texto ou um
conjunto de textos, mas um conceito que corresponde a uma classe
de textos abstraída, neste caso, a partir de diversos critérios” (Silva,
2012, p. 81).
17 Termo sugerido por Paul van Tieghem e retomado na Teoria da Lite-
ratura de R. Welleck e A. Warren na década de 60 do século XX
(Welleck e Warren, 1962, p. 293).
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forma explícita em livros de estilo de diferentes ór-
gãos de comunicação social, e que aponta para a di-
mensão normativa e prescritiva dos géneros discur-
sivos18; ii) a da reflexão teórica, que tem início em
meados do século XX (Martinez Albertos, 1974), e
que recentemente tem sido recuperada em virtude
das profundas alterações das práticas comunicacio-
nais em contexto digital (Bigot, 2017; Granado &
Silva, 2021; Ryan, 2021; Santos & Peixinho, 2016 e
2017; Seixas, 2009; Shepherd & Watters, 1998); e
iii) a esfera do ensino do jornalismo que carreia as
duas dimensões anteriores (Rodríguez Betancourt,
2004; Santos & Peixinho, 2017).
Esta tripla dimensão dos géneros jornalísticos
permite compreender como a construção do campo
profissional implicou, desde a sua autonomização, a
construção de códigos de construção textual e discur-
siva, estruturantes para a prática profissional e para a
fidelização de uma comunidade de públicos: assim
foi com a fronteira entre opinião e informação, com a
construção da notícia, com o surgimento de novos
géneros ou a reciclagem de antigos, adaptados a no-
vos media e novas linguagens (Seixas, 2009). Ao
contrário da reflexão inicial sobre géneros discursi-
vos empreendida no âmbito da teoria da literatura, a
teoria dos géneros jornalísticos acentua a sua dimen-
são comunicacional e mediática, pondo a tónica na
instância da receção (McQuail, 2003; Temer, 2009),
que Melo & Assis resumem deste modo:
the genres should be considered as instrumental
artifacts that help the media industry to produce con-
sistent and effective content, in line with the audience
expectations. They consist, in other words, in a
“communicability strategy”, a kind of pact between
those who produce and those who receive what the
media broadcasts (Melo & Assis, 2016, p. 43).
Dada a sua dimensão social e o seu alcance fun-
cional, os géneros jornalísticos são, pois, barómetros
essenciais para se compreender a evolução da prática
profissional e a história do próprio jornalismo:
los géneros reejan la evolución del propio periodis-
mo: los géneros nacen, mueren, amplían sus fronte-
ras… al ritmo de las demandas sociales y de los objeti-
vos que se marca la profesión periodística (...) Los
cambios en el sistema de los géneros periodísticos (...)
son el eco de los cambios de las funciones que la socie-
dad exige al periodismo y éstas reejan los cambios en
18 O Livro de Estilo do jornal português Público tem uma secção inti-
tulada “Critérios, Géneros e Técnicas”, na qual se começa por defi-
nir: “Tal como não existe objetividade em estado puro, não existem
nos textos jornalísticos fronteiras absolutas entre informação, inter-
pretação e opinião. De qualquer modo, há três níveis essenciais na
construção das peças: a apresentação dos factos, que podem ser a
divulgação da opinião de terceiros — a informação; o relacionamen-
to desses factos entre si — a interpretação; e o juízo de valor sobre
esses factos — a opinião” (Público, 2005: 46). Quer isto dizer, não
explicitando nunca a questão dos géneros, baseia-se a tipologia tex-
tual em critérios de objetividade / subjetividade discursiva. Já o livro
de estilo da Agência Lusa (agência de notícias portuguesa explica
como escrever notícias, sínteses, flashes, entrevistas, perfis e repor-
tagens (Lusa, 2012).
los estilos de vida y en los intereses de los ciudadanos
(Francisco Sánchez & López Pan,1998, pp. 17-18).
O aparecimento de novos géneros pode ser lido
como um forte indício de novas formas de jornalismo
(Salaverría e Cores, 2009) e a sua consolidação é
sempre uma resposta a necessidades públicas (Melo
& Assis, 2016). Desde o advento do jornalismo onli-
ne, têm ocorrido transformações significativas no
quadro dos géneros jornalísticos, sobretudo decor-
rentes dos avanços tecnológicos dos dispositivos de
mediação e da alteração das práticas comunicacionais
com forte impacto na construção da textualidade. Na
atual configuração do sistema mediático, o estudo
dos géneros do discurso tem conhecido, pois, nos úl-
timos vinte anos novos desenvolvimentos, sob o sig-
no da fluidez e da miscigenação (Bigot, 2017; Grana-
do & Silva, 2021; Santos & Peixinho, 2017; Seixas,
2009; Ryan, 2021). Em trabalhos anteriores, proble-
matizou-se a relação entre géneros jornalísticos e
media, mostrando como o discurso jornalístico recu-
perou e reciclou antigas práticas discursivas, como as
newsletters (Santos & Peixinho, 2016), e apostou em
novos géneros, como os explicadores (Santos & Pei-
xinho, 2017). Estes trabalhos mostram como o jorna-
lismo contemporâneo não se compagina com defini-
ções estanques, sendo antes meio de cultura para os
fenómenos de hibridização, que exigem a construção
de tipologias abertas e dinâmicas.
Admitindo que a configuração de um género de
discurso decorre das práticas discursivas em contexto,
importa, pois, focar a atenção na dimensão pragmáti-
ca de género, uma vez que o objeto de estudo desta
investigação - os fact-checks - é um fenómeno relati-
vamente recente. De acordo com Denis McQuail
(2003), os géneros do discurso mediático são funda-
mentalmente categorias delimitadas pelo seu conteú-
do, apresentando algumas características, como: i)
uma dimensão coletiva - determinante para a comuni-
cação, dado o seu papel como chave de produção e
leitura; ii) uma função específica, decorrente das suas
marcas formais e conteudísticas; iii) um repertório
temático; iv) e uma estabilização cultural que permita
a sua consolidação. Além destes aspetos, retomam-se,
também, os vetores constitutivos de um género dis-
cursivo, propostos por Silva (2012): tipo de conteúdo,
organização interna dos textos, aspetos formais, esta-
tuto socioprofissional dos autores, atos ilocutórios
concretizados e efeitos perlocutórios pretendidos.
3. Autonomização do fact-checking como género
discursivo
Partindo da conceptualização estabilizada no ponto
anterior, pretende-se propor, neste estudo, que os fac-
t-checks se vêm afirmando nos últimos anos, num
contexto de pós-verdade, de fluidez e de desinforma-
ção, não só como recurso profissional basilar do Jor-
nalismo, mas como uma prática discursiva comum a
diversos campos: da comunicação de ciência, à comu-
264 Almeida-Santos, C., Peixinho, A.T., Lopes, F., & Araújo, R. Estud. mensaje period. 29(2) 2023: 259-272
nicação organizacional e estratégica19. Tratar-se-á,
portanto, de um novo ‘género líquido’, que emerge no
campo jornalístico, mas não se restringe a ele, sendo
apropriado por campos socioprofissionais diversos.
Liquidez e hibridização são, de facto, conceitos
incontornáveis para o estudo, teorização e compreen-
são do jornalismo como prática discursiva hoje. Num
contexto de pós-verdade, em que a velocidade da dis-
seminação de desinformações de vária ordem se faz
através da rede digital, em que o excesso de informa-
ção é, paradoxalmente, um obstáculo ao conhecimen-
to, a verificação de factos surge como um recurso quer
de jornalistas, quer de organizações que pretendem, de
alguma forma, combater a desinformação e a incerte-
za. Ora porque se pretende promover literacias em di-
ferentes domínios, como sucede na comunicação em
saúde, ora porque é importante fazer a diferença num
ecossistema mediático em que o jornalismo precisa de
recuperar a credibilidade e a utilidade, reforçando a
confiança nas marcas. Ou seja, o fact-checking será
não apenas uma prática profissional incontornável - a
verificação dos factos e o confronto de fontes são prin-
cípios basilares da profissão -, mas um novo género
partilhado com outros campos discursivos.
O fact-checking no século XXI é, pois, multidi-
mensional: i) designa a verificação de factos enquan-
to prática profissional originária que visa sobretudo
as fontes; ii) refere-se à integração de equipas de
fact-checkers (que incluem especialistas em diversas
áreas) nas redações que verificam o trabalho dos jor-
nalistas; iii) tem uma dimensão externa que visa veri-
ficar informação potencialmente falsa cuja dissemi-
nação é amplificada pelas redes sociais online e pode
traduzir-se em fact-checks.
Comparando com os géneros jornalísticos consa-
grados20, os fact-checks são o único que, até do ponto
de vista da formação do conceito, remete para uma di-
mensão acional. O fact-checking, expresso pelo gerún-
dio do verbo ‘to check’, aponta para uma prática conti-
nuada. Em qualquer uma das dimensões, ‘facto’ retoma
a matriz e o paradigma do jornalismo enquanto prática
profissional e discursiva assente na construção de nar-
rativas factuais, remetendo para um dos mitos constitu-
tivos do jornalismo: dar a ler factos e não textos.
4. Estudo de caso
Tendo em consideração o duplo objetivo deste estudo
– dar conta da passagem do fact-checking de prática
19 “Também a Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da
Universidade do Porto (FCNAUP), em parceria com a Direção-Ge-
ral de Saúde (DGS), criou uma plataforma de fact-checking com o
intuito de refutar boatos e informações falsas sobre alimentação pe-
las redes sociais. Assim, o site «Pensar Nutrição» (https://pensarnu-
tricao.pt/) foi lançado em setembro de 2019 onde apresenta análises
críticas e classifica a veracidade das notícias verificadas em três ca-
tegorias: verdadeiro, impreciso e falso” (Oliveira, 2020, p. 27).
20 Embora com a noção de que as tipologias de géneros são sempre
abertas e, sobretudo, variáveis em função dos ambientes culturais,
consideram-se géneros consagrados aqueles para os quais remete a
bibliografia seminal sobre o tema (Martínez Albertos, 1974).
e ferramenta jornalística a género discursivo por di-
reito próprio e analisar o modo como se instaura
como um género partilhado por diversas formações
discursivas – propõe-se uma análise do caso portu-
guês da comunicação estratégica de saúde durante a
pandemia de Covid-19, atendendo ao facto de a prin-
cipal fonte de informação sobre a doença ter sido a
Direção-Geral de Saúde (DGS)21.
Esta entidade oficial foi fonte privilegiada na tele-
visão e imprensa (Lopes et al., 2021) e registou um
crescimento de 359% de seguidores na sua página de
Facebook (a rede com maior número de utilizadores
em Portugal) nos dois primeiros anos da pandemia
(de 11 de março de 2020 a 11 de março de 2022), de
acordo com dados recolhidos através do Crowdtan-
gle22. A DGS estabeleceu uma parceria com o Polí-
grafo, que se assume como “um projeto jornalístico
online que tem como principal objetivo apurar a ver-
dade – e não a mentira - no espaço público” (Polígra-
fo, 2022) e como “o primeiro jornal português de
fact-checking”, com o objetivo de “identificar, ava-
liar e classificar a informação que vai sendo publica-
mente partilhada sobre um tema que é já um case
study mundial em matéria de desinformação” (Públi-
co, 2020). A página de Facebook do Polígrafo, no
período em análise, registou um crescimento de
8,5%, de 114983 para 124733 seguidores. Se anali-
sarmos o número de seguidores na semana antes da
parceria com a DGS, verificamos que eram 63544 e
que o valor dez dias após ser decretada a pandemia
(21 de março de 2020) era já de 90255 seguidores.
Selecionou-se um corpus de análise extraído da
página de Facebook do Polígrafo, utilizando como
critério de pesquisa as expressões ‘Covid-19’ e ‘vaci-
na’ e o operador lógico ‘e’, num período de um ano a
partir do primeiro dia da vacinação em toda a União
Europeia (27 de dezembro de 2020) a 28 de dezem-
bro de 2021, num total de 346 publicações. Destas,
depois de análise exploratória, verificou-se que
59,24% dizem respeito à vacinação, pelo que o cor-
pus de análise é constituído por 205 publicações.
A análise mista incidiu sobre aspetos geralmente
considerados na classificação de um género discursi-
vo, assim como sobre as particularidades do contexto
pandémico em que, como se disse, as desordens in-
formativas aumentaram, levando mesmo a Organiza-
ção Mundial de Saúde a falar numa infodemia
(OMS)23.
Numa primeira etapa, analisam-se as seguintes
categorias: 1. os ‘vereditos’, tendo em consideração
21 A questão da confiança nas fontes de informação durante a pandemia
em Portugal é tratada em estudos como o de Gonçalves, Piñeiro-Na-
val e Toniolo (2021) ou Cabrera, Martins e Cunha (2020), concluin-
do que governo e DGS são consideradas como as fontes mais fiáveis.
22 Crowdtangle é uma ferramenta disponibilizada pela Meta que permi-
te seguir, obter informação e analisar o conteúdo público das redes
sociais Facebook, Instagram e Reddit. Fornece automaticamente
dados (seguidores, publicações, engagement) sobre páginas a pedi-
do. A sua utilização por parte de investigadores carece de autorização
prévia por parte da plataforma.
23 Cf. https://www.who.int/health-topics/infodemic#tab=tab_1 (con-
sultado em 2 de dezembro de 2022).
265Almeida-Santos, C., Peixinho, A.T., Lopes, F., & Araújo, R. Estud. mensaje period. 29(2) 2023: 259-272
a escala de avaliação do Polígrafo24; 2. a autoria dos
fact-checks; 3. a distribuição cronológica das publi-
cações; 4. os temas e a sua relação com os vereditos;
5. distribuição cronológica dos temas; 6. a origem da
informação verificada; 7. as fontes utilizadas para a
verificação dos factos; 8. a superestrutura textual,25
que permitirá compreender se existe uma organiza-
ção do texto comum às publicações.
1. Vereditos
Relativamente à verificação de factos, o veredito em
124 casos é de que se trata de informação falsa, 13
casos de “pimenta na língua”, 2 casos de “informação
manipulada”, 6 “imprecisos”, 7 casos “descontextua-
lizados”, 4 casos de “verdade, mas…” e 36 casos
“verdadeiros”. Existem 13 casos sem veredito, pois
constituem artigos com um propósito e uma estrutura
diferentes dos dos fact-checks (Tabela 1).
Tendo em consideração a escala acima citada, os
vereditos da amostra analisada usam as sete classifi-
cações possíveis da escala do Polígrafo, havendo um
predomínio dos vereditos ‘falsos’, com 62%, seguin-
do-se os vereditos ‘verdadeiros’, com 18%, o ‘Pi-
menta na língua’, com 6,5%, o “descontextualizado”,
com 3,5%, o ‘Impreciso’, com 3%. Os vereditos
‘verdadeiro mas...’ e ‘manipulado’ apresentam valo-
res residuais de 2% e 1% respetivamente.
2. Autoria dos fact-checks
Apenas 24 fact-checks (11,7%) não têm indicação de
autoria; os restantes são feitos por uma equipa de 13
pessoas (5 homens e 8 mulheres). Quanto ao perfil
socioprofissional destes autores, apurou-se que, à
24 “Verdadeiro: Quando a declaração analisada é totalmente verda-
deira; Verdadeiro, mas...: Quando a declaração analisada é estrutu-
ralmente verdadeira, mas carece de enquadramento e contextualiza-
ção para que seja totalmente percebida; Impreciso: Quando a
informação contém elementos que distorcem, ainda que de forma
ligeira, a realidade; Descontextualizado: Quando a informação é
retirada do seu contexto real com o objetivo de lhe dar um sentido
sem sustentação factual; Manipulado: Quando a informação - so-
bretudo em formato de imagem - é trabalhada, por exemplo, através
do recurso a ferramentas de edição de imagem, com a finalidade de
a distorcer; Falso: Quando a afirmação é comprovadamente errada;
Pimenta na Língua: É o grau máximo de falsidade. Esta classifica-
ção só é atribuída quando a informação avaliada é escandalosamen-
te falsa ou é uma sátira, publicada num espaço satírico.” https://poo-
ligrafo.sapo.pt/institucional/artigos/o-nosso-metodo (consultado a
20 de outubro de 2022).
25 O conceito de superestrutura foi introduzido nas abordagens à tex-
tualidade por Teun Van Dijk que explica que a superestrutura é a or-
ganização estrutural da informação num texto (Van Dijk, 1998).
exceção de uma autora, todos/as têm Carteira Profis-
sional de Jornalista26.
3. Distribuição cronológica das publicações
A distribuição das publicações durante o ano em aná-
lise está representada no Gráfico 1: nos três primeiros
meses do processo de vacinação em Portugal, entre
dezembro de 2020 e março de 2021, são publicados
43,41% dos fact-checks sobre vacinação, sendo o
máximo de publicações atingido no mês de março de
2021, em que se verifica uma média de uma publica-
ção por dia. Nos meses de abril a junho de 2021, há
uma descida e, a partir de novembro de 2021, período
que coincidiu com um aumento do número de casos
de Covid-19 entre a população, o número de publica-
ções aumenta de novo.
Gráco 1. Distribuição das publicações ao longo do ano
4. Temas e sua relação com vereditos
Com base na análise do corpus, foram identificados
nove temas, distribuídos conforme se apresentam na
Tabela 2 e no Gráfico 2. Há quatro temas que se des-
tacam: os efeitos secundários da vacina, com 27,8%,
a produção / processo, com 17,56%, os comporta-
mentos, com 14,14%, e as dúvidas sobre vacinação,
com 12,68%.
O cruzamento dos temas com os resultados da
verificação do Polígrafo, representado na Tabela 3,
permite perceber que 36,29% dos vereditos falsos
dizem respeito a informação sobre efeitos secundá-
rios da vacina (45 publicações), a que se juntam 5
publicações classificadas com ‘Pimenta na Língua’
26 De acordo com pesquisa na página web da Comissão da Carteira:
https://www.ccpj.pt/pt/profissionais-do-sector/ (consultada em 27 de
outubro de 2022).
Tabela 1. Número e Percentagem de Vereditos do Polígrafo
Sem
veredito Verdadeiro Verdadeiro
mas... Impreciso Descontex-
tualizado
Manipu-
lado
Pimenta na
língua Falso Totais
13 36 4 6 7 2 13 124 205
6,5% 18% 2% 3% 3,5% 1% 6,5% 62% 100%
266 Almeida-Santos, C., Peixinho, A.T., Lopes, F., & Araújo, R. Estud. mensaje period. 29(2) 2023: 259-272
(equivalente a 38,46% destes vereditos). O tema pro-
dução / processo aparece em segundo lugar como
sendo aquele que mais vereditos falsos suscitou (em
21 publicações, correspondentes a 16,93% dos vere-
ditos falsos). Relativamente aos temas que mais vere-
ditos verdadeiros suscitaram surgem-nos ‘dúvidas
sobre vacinação’ e ‘efeitos secundários’, com 7 vere-
ditos verdadeiros cada um.
Tabela 3. Relação entre temas e vereditos
Temas Sem
Veredito Verdadeiro Verdadeiro
mas
Descontex-
tualizado Impreciso Manipulado Falso Pimenta
na língua
Comportamentos 1 4 3 0 1 0 15 4
Dúvidas sobre
vacinação 7 7 0 0 0 0 12 0
Efeitos secundários 0 7 0 0 1 0 45 5
Eficácia da vacina 3 1 0 1 0 0 17 1
Normas do processo 0 5 0 0 0 0 6 1
Práticas fraudulentas 0 2 0 0 0 0 5 1
Produção/negócio 0 0 0 1 3 0 2 0
Tabela 2. Distribuição dos temas
Temas Número Percentagem
Comportamentos 29 14,14%
Dúvidas sobre vacinação 26 12,68%
Efeitos secundários 57 27,80%
Eficácia da vacina 23 11,21%
Normas do processo 12 5,85%
Práticas Fraudulentas 8 3,90%
Produção / negócio 6 2,92%
Produção / processo 36 17,56%
Situação vacinal 8 3,90%
Totais 205 100%
Gráco 2. Distribuição de temas
267Almeida-Santos, C., Peixinho, A.T., Lopes, F., & Araújo, R. Estud. mensaje period. 29(2) 2023: 259-272
Temas Sem
Veredito Verdadeiro Verdadeiro
mas
Descontex-
tualizado Impreciso Manipulado Falso Pimenta
na língua
Produção/processo 1 6 5 0 2 21 1
Situação vacinal 1 4 1 0 1 0 1 0
Totais 13 36 4 7 6 2 124 13
5. Distribuição cronológica dos temas
A relação entre os temas e as datas de publicação
também tem interesse na análise e pode ser visualiza-
da no Gráfico 3. Nos primeiros três meses da vacina-
ção, entre dezembro de 2020 e março de 2021, os te-
mas preponderantes foram ‘efeitos secundários’ e
‘normas do processo’; entre abril e dezembro de
2021, houve um aumento dos fact-checks sobre ‘dú-
vidas sobre vacinação’ e ‘comportamentos’; o tema
‘eficácia das vacinas’ desaparece dos fact-checks em
outubro de 2021.
Gráco 3. Distribuição dos temas no período em análise
6. Origem da informação verificada
79,5% das publicações do Polígrafo deste período
(163 fact-checks) partem de informações divulgadas
nas redes sociais online: em 51,7% dos casos, a rede
social não é discriminada, mas, quando o é, o Face-
book é a rede mais usada, com 20% das ocorrências.
Este facto explica-se por duas razões: em primeiro
lugar, e de acordo com o Reuters Digital News Re-
port 2022, em Portugal, o Facebook é a principal rede
para o consumo de notícias (49%); por outro lado,
existe, no período em estudo, uma parceria entre esta
rede e o Polígrafo (informação que é dada no final de
cada verificação). A Tabela 5 discrimina a origem da
informação que é verificada pelo Polígrafo.
Tabela 5. Origem da informação a verificar
Origem N.º %
Redes Sociais 106 51,71
Facebook 41 20,00
Não identificada 20 9,76
Origem N.º %
Twitter 10 4,88
Meios de comunicação Social 7 3,41
Páginas institucionais 6 2,93
Blog 5 2,44
Instagram 5 2,44
Outros 4 1,95
WhatsApp 1 0,49
205 100,00
7. Fontes utilizadas para verificação de factos
A verificação da informação e respetiva explicação
é feita sempre com o recurso a diversos tipos de
fontes. No universo de publicações analisadas, re-
gistaram-se 601 fontes27, valor que significa que,
27 A análise teve em conta a totalidade de publicações, incluindo as re-
petições de fact-checks.
268 Almeida-Santos, C., Peixinho, A.T., Lopes, F., & Araújo, R. Estud. mensaje period. 29(2) 2023: 259-272
em média, recorre-se a 3 fontes por cada fact-check.
A partir da análise das fontes utilizadas, foram defi-
nidas categorias: órgãos de comunicação social
(portugueses e estrangeiros, incluindo agências de
notícias), agências de fact-checking, publicações
científicas, plataformas de dados, especialistas, fon-
tes oficiais (portuguesas28, europeias e de outras
nacionalidades), indústria farmacêutica (dada a es-
pecificidade do tema), redes sociais online e outras
fontes (Tabela 6).
Tabela 6. Fontes
Tipo de fonte Número de
ocorrências
Órgãos de Comunicação Social 127
Agências de fact-checking 59
Publicações científicas 61
Plataformas de dados 11
Especialistas 58
Indústria farmacêutica 20
Fontes oficiais portuguesas 100
Tipo de fonte Número de
ocorrências
Fontes oficiais europeias 37
Fontes oficiais de outras nacionalidades 50
Redes sociais online 21
Outras 57
Total 601
Para uma leitura mais abrangente, agregaram-se
alguns dados, criando novas categorias, a saber:
– Conhecimento científico (publicações científi-
cas + plataformas de dados + especialistas);
– Protagonistas (Indústria farmacêutica + redes
sociais online + outras, por se ter verificado
que são maioritariamente protagonistas das
histórias que deram origem à verificação dos
factos);
– Fontes oficiais (portuguesas + europeias + ou-
tras nacionalidades).
Chegou-se, assim, à distribuição de fontes por
categoria patente no Gráfico 7.
Gráco 7. Fontes da vericação de factos
8. Superestrutura textual
A maioria das publicações do corpus em análise obe-
dece a uma mesma arquitetura textual, podendo, pois,
inferir-se da análise a existência de uma superestrutu-
ra característica destes fact-checks:
28 Os exemplos mais frequentes são a DGS, SNS, Governo português
(incluindo ministérios), legislação, task force da vacinação, entre
outros.
– um título sempre enunciado na forma de per-
gunta;
– imediatamente abaixo, uma caixa de texto
destacada29 dentro da qual um ícone apresenta
o veredito30, seguido de um parágrafo curto
29 Este destaque é conseguido também através de um grafismo espe-
cial: uma caixa amarela que antecede a explicação e a verificação.
30 Este ícone e o seu significado são facilmente identificáveis, uma vez
que têm cores distintas (o verde para o ‘Verdadeiro’, o verde limão
269Almeida-Santos, C., Peixinho, A.T., Lopes, F., & Araújo, R. Estud. mensaje period. 29(2) 2023: 259-272
em que se explica a origem da informação a
verificar, sob o título “O que está em causa?”
(muitas vezes este parágrafo retoma, através
de citação direta, a informação que se pretende
verificar); note-se que, ao contrário do que su-
cede no jornalismo, em que as informações
falsas ou descontextualizadas são eliminadas,
os fact-checks publicam a informação mesmo
que seja falsa, estruturando os textos em torno
delas;
– quando o texto é assinado, o nome e foto do/a
autor/a surge do lado esquerdo desta caixa,
imediatamente seguido da data da publicação;
– abaixo, situam-se os ícones e respetivas hiper-
ligações das redes sociais da plataforma (Face-
book, Instagram, Twitter, LinkedIn) para parti-
lha dos conteúdos do Polígrafo;
– após este cabeçalho, segue-se o corpo do texto,
no qual se começa por retomar a informação a
verificar e, posteriormente, se explica com
pormenor a sua verificação;
– no final, surge novamente o veredito, nuns ca-
sos usando a escala do Polígrafo, noutros
também a escala de verificação do Facebook
(nos casos em que a verificação resulta de par-
ceria entre estas entidades).
Ao contrário do que sucede com um género dis-
cursivo como a notícia, que concentra no cabeçalho
(títulos e lead) as principais macroproposições do
texto, no caso destes fact-checks do Polígrafo, o títu-
lo e o primeiro parágrafo concentram a informação a
verificar, anunciando logo o veredito, para posterior-
mente desenvolver no corpo do texto - através de hi-
perligações, de videochecks, de explicadores e de ci-
tações de fontes - a fundamentação que o respalda.
No corpus em análise, encontram-se 26 fact-che-
cks que não obedecem a esta superestrutura, apresen-
tando outros formatos: a) 13 video-checkrs; b) 11 ar-
tigos e c) 1 podcast. No caso dos primeiros, trata-se
de vídeos gráficos, em que se destacam as principais
informações; geralmente, são publicados no mesmo
dia depois dos fact-checks correspondentes.
5. Conclusões
Avançando para as conclusões deste trabalho e para
clarificar alguns conceitos, propõe-se a distinção en-
para o ‘Verdade, mas’, o laranja para o ‘falso’, o bordeaux para o
‘pimenta na língua’, etc.)
tre fact-checking e fact-checks. Considera-se como
fact-checking o processo de verificação de dados que
faz parte do processo de construção de uma peça
jornalística, de acordo com as boas práticas da profis-
são. Pode dar origem a um produto de qualquer géne-
ro jornalístico e pode ser realizado pelo(s) autor(es)
desse trabalho ou ser levado a cabo por terceiros
(fact-checkers “externos”, que podem ou não perten-
cer à mesma instituição/empresa). Fact-checker de-
signaria, então, a pessoa que desenvolve o fact-che-
cking e fact-check nomearia o género jornalístico
sobre o qual se debruça este estudo.
Considerando que um dos critérios de delimitação
e autonomização de um género discursivo é a supe-
restrutura textual, o corpus analisado permite definir
uma organização interna constante. Constata-se, pois,
desta superestrutura algumas propriedades: a estrutu-
ra circular, na medida em que nos dois pontos estra-
tégicos do texto – início e final – se reitera o resultado
da verificação da informação; a redundância como
princípio discursivo – patente na repetição de infor-
mação do título no destaque e no corpo do texto, na
reiteração do veredito e ainda na diversidade de hi-
perligações que remetem para fontes de verificação
muito diversificadas31. Esta organização interna dos
fact-checks assenta, sobretudo, numa lógica de circu-
laridade e redundância, reiterando informação correta
e antecipando o veredito a apresentar. Se é sabido que
outros géneros jornalísticos, como a notícia, também
se caracterizam por um registo corrente de lingua-
gem, no caso dos fact-checks analisados esse registo
é mais informal, coloquial e claro.
Em todo o caso, parece claro que o fact-check
externo, como é o caso em análise, tem como princi-
pal objetivo verificar informação que circula nas re-
des sociais online (quase 80% dos fact-checks do
corpus foram suscitados por informações a circular
nas redes), servindo também para valorizar e credibi-
lizar o jornalismo. Em primeiro lugar porque a equipa
da Polígrafo é composta por jornalistas com carteira
profissional, em segundo lugar porque a plataforma
tem um acordo com a SIC Notícias e parte dos seus
conteúdos integram um espaço noticioso televisivo.
O tipo de discurso utilizado é fundamentalmente
explicativo, com diversas marcas de coloquialidade,
apelando constantemente à atenção do usuário / lei-
tor. O efeito pretendido - verificar informação e fun-
31 As 205 publicações recorrem em pleno às potencialidades do hiper-
texto e do multimédia. Todas elas são compostas por texto em lin-
guagem verbal (a dominante), por imagens (gráficas ou fotos de
agência de notícias) e, por vezes, infografia (geralmente importada
de fontes oficiais).
Figura 1. Exemplo de caixa de destaque de uma publicação do corpus
270 Almeida-Santos, C., Peixinho, A.T., Lopes, F., & Araújo, R. Estud. mensaje period. 29(2) 2023: 259-272
damentar - recorre também às dinâmicas hipertex-
tuais e a marcas discursivas usadas no género
jornalístico ‘explicador’ (bastante importante no caso
dos video-checks).
Os resultados obtidos permitem, pois, confirmar
algumas hipóteses iniciais deste trabalho. Deve, po-
rém, ter-se em consideração que a análise desenvolvi-
da neste estudo se limita a uma plataforma de fact-che-
cking (Polígrafo), pelo que há que ler com as devidas
reservas este tipo de conclusões. Desde logo, esta for-
ma de fazer jornalismo é compatível com a possibili-
dade de se tratar de um género jornalístico, claramente
inscrito na lógica do digital já que a multimedialidade,
multimodalidade e hipertextualidade estão sempre
presentes. Ao permitir, através de hiperligações, o
acesso a documentos oficiais e especializados que
constituem as próprias fontes de verificação factos, o
fact-checker é agente da materialização de um tipo de
gatekeeping próprio do jornalismo contemporâneo
que se materializa como uma curadoria dos fluxos e
das fontes de informação (Vos & Heinderyckx, 2015).
Neste âmbito e para pensarmos o papel de mediação
desempenhado, é de realçar a forte presença de fontes
oficiais entre as mais citadas nos fact-checks analisa-
dos. Por outro lado, verificou-se o recurso assinalável
a outras agências de fact-checking e a outros órgãos de
comunicação social, o que acarreta o risco de perpe-
tuar o círculo vicioso da desordem informativa. Esta
situação pode até retirar legitimidade ao próprio pro-
cesso, já que os fact-checks se expandiram no período
em que se verificou uma amplificação das desordens
informativas, devido às possibilidades de dissemina-
ção trazidas pelas atuais lógicas de consumo dos media
e pelas redes sociais online. Não é despiciendo que
estas sejam a origem de um valor tão significativo das
informações verificadas.
Na plêiade de géneros jornalísticos consagrados,
os fact-checks começam a ter um lugar de pleno di-
reito, trazendo consigo um conjunto de incógnitas
que apenas o tempo permitirá clarificar. Trata-se de
um género que surge na sociedade da informação,
num contexto de crise de legitimidade do jornalismo,
de crise profunda das mediações, em que a informa-
ção e a desinformação competem num mesmo espaço
digital. O fact-checking, no século XXI, funciona
como valorização das marcas jornalísticas que a ele
recorrem, apresentando-se como alternativa ao jorna-
lismo mainstream. Investigação, seleção de fontes,
verificação de factos são competências e atividades
que os jornalistas já possuem e que este novo género
coloca de novo na ordem do dia, permitindo dar res-
posta à disseminação de informação falsa e de desin-
formação.
Ao contrário dos géneros informativos canónicos,
como a notícia ou a reportagem, os critérios constitu-
tivos deste novo género são, contudo, pouco claros.
Mais do que a atualidade ou o valor de noticiabilida-
de, o fact-check decorre da atualidade das redes so-
ciais online e da virilidade das informações. A análise
às 205 peças do corpus confirmam serem estes os
critérios predominantes. Por outro lado, em alguns
dos fact-checks analisados, afirma-se que a verifica-
ção dos factos decorre de pedidos de leitores, “numa
espécie de fact-checking on demand”. Se este proce-
dimento tem a vantagem de reaproximar o jornalismo
dos seus públicos, ele arrasta consigo uma dimensão
problemática que põe em xeque a autonomia profis-
sional no agendamento dos temas.
Construídos para o público, com as estratégias
discursivas e textuais acima descritas, os fact-checks
substituem a interpretação crítica pela hiper-especia-
lização e pelo discurso didático e explicativo. Numa
era em que proliferam no campo mediático outros
discursos desta natureza, que talvez também se pos-
sam constituir como géneros, tais como os explicado-
res, é muito significativo verificar que não se trata de
uma forma de fazer que fique restringida ao campo
discursivo do jornalismo. A liquidez do género esten-
de-o às práticas da comunicação estratégica que,
aliás, já tinha chamado a si outros géneros jornalísti-
cos, como a notícia, com o intuito de conquistar cre-
dibilidade e legitimação. A clara referência à liquidez
que, segundo Zygmunt Bauman (2000), caracteriza-
ria a modernidade, coloca os géneros nesse mesmo
processo de possibilidade de negociação, aquisição e
multiplicidade de identidades.
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Clara Almeida Santos é professora auxiliar no Departamento de Filosofia, Comunicação e Informação da Fa-
culdade de Letras da Universidade de Coimbra e investigadora integrada no CEIS20 – Centro de Estudos In-
terdisciplinares. Doutorada em Ciências da Comunicação, foi vice-reitora da Universidade de Coimbra para a
Cultura, Comunicação, Património e Antigos Estudantes entre 2011 e 2018. Jornalista de formação, trabalhou
no Canal de Notícias de Lisboa e na SIC, onde exerceu funções fundamentalmente na SIC Online como repór-
ter e editora. Foi docente na Escola Superior de Educação de Coimbra e diretora de Comunicação da Interaces-
so. Exerceu também funções de editora da revista “Rua Larga”, da reitoria da Universidade de Coimbra. Tendo
participado em diversos projetos europeus relacionados com o diálogo intercultural e com os media, foi con-
sultora do Conselho da Europa no âmbito da campanha “Speak Out Against Discrimination”. ORCID: https://
orcid.org/0000-0002-9122-387X
Ana Teresa Peixinho (N. 1971, Coimbra) é Professora Associada com nomeação por tempo indeterminado da
Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC). Doutorada em Ciências da Comunicação, é profes-
sora dos três ciclos de estudos de Jornalismo e Comunicação. É investigadora integrada do Centro de Estudos
Interdisciplinares do Século XX (CEIS20), onde coordena com Clara Almeida Santos o grupo de investigação
Comunicação, Jornalismo e Espaço Público. Desenvolve investigação no domínio dos estudos narrativos me-
diáticos e da análise dos media. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4533-7921
Felisbela Lopes. Doutorada em Ciências da Comunicação pela Universidade do Minho em 2005, é Professora
Associada com Agregação do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho. Entre 2009 e 2014, foi
aí Pró-Reitora para a área da Comunicação. Leciona, desde 1994, disciplinas ligadas ao campo do Jornalis-
mo. As suas áreas de investigação são a informação televisiva, com enfoque no serviço público de media; a
comunicação e o jornalismo da saúde; e o jornalismo político, incidindo na cobertura mediática da Presidência
da República Portuguesa. Foi investigadora principal de dois projetos de investigação financiados pela FCT: “A
Doença em Notícia” e “Jornalismo televisivo e cidadania: os desafios da esfera pública na era digital”. É autora
de vários livros, entre os quais se destacam Marcelo, Presidente todos os dias (Porto Editora, 2019); Jornalista:
uma profissão ameaçada (Alêtheia, 2015); Vinte Anos de TV Privada em Portugal (Editora Guerra e Paz,
2012); A TV do Real (Minerva, 2008); A TV das Elites (Campo das Letras, 2007). ORCID: 6212-0D0A-2F4F
Rita Araújo. Doutorada em Ciências da Comunicação pela Universidade do Minho, em 2017, com uma tese
sobre “Dinâmicas de construção do noticiário de saúde: uma análise da imprensa generalista portuguesa” (in-
vestigação financiada com uma bolsa de doutoramento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia). Foi Visi-
ting Scholar no New York City Food Policy Centre, CUNY School of Public Health – Hunter College. No
CECS, foi investigadora do projeto europeu HeaRT – Health Reporting Training Project, financiado pela Co-
missão Europeia, e bolseira de investigação do projeto A Doença em Notícia, financiado pela FCT. Interessa-se
pelas áreas do jornalismo, jornalismo na saúde, comunicação na saúde, e fontes de informação. ORCID: https://
orcid.org/0000-0001-7124-6057