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A presença de Skinner em artigos analítico-comportamentais brasileiros (1961 – 1998) [Skinner’s Presence in Brazilian Behavior-Analytic Articles (1961 – 1998)]

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O objetivo deste trabalho foi caracterizar as referências a Skinner em artigos brasileiros, baseados na Análise do Comportamento e publicados entre 1961 e 1998. As fontes de informação foram artigos originais, baseados na Análise do Comportamento, publicados em periódicos nacionais. Dentre os 302 artigos selecionados, o número total de referências encontradas foi 5789 e, destas, 351 eram referências a Skinner (6,1% do total). A maior parte dos artigos analisados não apresentou referências a Skinner e a maioria das obras de Skinner não foi citada durante o período. Pode-se afirmar que houve uma presença constante de Skinner na literatura da área, mas a sua presença se deu por meio de um acesso desigual à sua obra.
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Revista Brasileira de Terapia
Comportamental e Cognitiva
e-ISSN: 1982-3541
2023 © ABPMC.
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adaptar. Deve dar o crédito
apropriado, não pode
usar para ns comerciais.
A01 | 2023, v. 25, pp. 1—15
El propósito de este trabajo fue caracterizar las referencias a Skinner en artículos brasileños,
con base en el análisis del comportamiento y publicados entre 1961 y 1998. Las fuentes de in-
formación fueron artículos originales, basados en el análisis del comportamiento, publicados
en revistas brasileñas. Entre los 302 artículos seleccionados, el número total de referencias
encontradas fue 5789 e, entre ellas, 351 eran referencias a Skinner (6,1% del total). La mayor
parte de los artículos analizados no presentó referencias a Skinner y la mayoría de las obras
de Skinner no fue citada durante el período. Se pude decir que hubo una presencia constante
de Skinner en la literatura del área, pero su presencia se dio a través de un acceso desigual
a su obra.
Palabras clave: análisis bibliométrico; análisis del comportamiento; B. F. Skinner; ciencio-
metría; historia de la psicología.
Resumen
O objetivo deste trabalho foi caracterizar as referências a Skinner em artigos brasileiros, ba-
seados na Análise do Comportamento e publicados entre 1961 e 1998. As fontes de informação
foram artigos originais, baseados na Análise do Comportamento, publicados em periódicos
nacionais. Dentre os 302 artigos selecionados, o número total de referências encontradas
foi 5789 e, destas, 351 eram referências a Skinner (6,1% do total). A maior parte dos artigos
analisados não apresentou referências a Skinner e a maioria das obras de Skinner não foi
citada durante o período. Pode-se armar que houve uma presença constante de Skinner
na literatura da área, mas a sua presença se deu por meio de um acesso desigual à sua obra.
Palavras-chave: análise bibliométrica; Análise do Comportamento; B. F. Skinner; ciento-
metria; comunicação cientíca; história da psicologia.
Resumo
The goal of this study was to extend that analysis to behavior-analytic articles published from
1961 to 1998. The sources of information were original articles based on Behavior Analysis,
published in Brazilian journals. From the 302 articles selected, a total of 5789 references were
found 351 of which were references to Skinner (6,1% of total). Most of the analyzed articles
did not present any reference to Skinner and most of Skinner’s publications were not cited
during that period. It can be said that there’s a frequent presence of Skinner in the literature
but this presence took place through uneven access to his work.
Key words: Behavior Analysis; bibliometric analysis; B. F. Skinner; history of psychology;
scientic communication; scientometrics.
Abstract
1 Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2 Universidade Presbiteriana Mackenzie
Marcos Spector Azoubel
1
, João Manoel Rodrigues Neto
1, 2
, Henrique Fernando Rocha Alves
1
,
Giulia Candido
Bruno1
A presença de Skinner em artigos analítico-comportamentais brasileiros (1961 – 1998)
Skinner’s Presence in Brazilian Behavior-Analytic Articles (1961 – 1998)
La Presencia de Skinner en Artículos de Análisis del Comportamiento Brasileños (1961 – 1998)
Recebido:
1ª Decisão:
Aprovado:
Histórico do Artigo
05/05/2022.
17/05/2023.
27/05/2023.
10.31505/rbtcc.v25i1.1755
DOI
Como citar este documento
Azoubel,M.S., Rodrigues Neto,J.M.,
Alves,H.F.R., & Bruno,J.C(2023).
A presença de Skinner em ar-
tigos analítico-comportamen-
tais brasileiros (1961 – 1998).
Revista Brasileira de Terapia
Comportamental e Cognitiva, 25,
1–15. https://doi.org/10.31505/rbtcc.
v24i1.1755
Editor Responsável
Luiz Freitas
Correspondência
Marcos Spector Azoubel
mazoubel@gmail.com
Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo, Laboratório de
Psicologia Experimental,
Rua Bartira, 387, Perdizes, São Paulo,
SP,
05009-000
Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva 2023, v.25, pp. 1—15
1 Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
2 Universidade Presbiteriana Mackenzie
Marcos Spector Azoubel1, João Manoel Rodrigues Neto1, 2,
Henrique Fernando Rocha Alves1, Giulia Candido Bruno1
A presença de Skinner em artigos
analítico-comportamentais brasileiros (1961 – 1998)
O objetivo deste trabalho foi caracterizar as referências a Skinner em artigos brasileiros, baseados
na Análise do Comportamento e publicados entre 1961 e 1998. As fontes de informação foram
artigos originais, baseados na Análise do Comportamento, publicados em periódicos nacionais.
Dentre os 302 artigos selecionados, o número total de referências encontradas foi 5789 e, destas,
351 eram referências a Skinner (6,1% do total). A maior parte dos artigos analisados não apresentou
referências a Skinner e a maioria das obras de Skinner não foi citada durante o período. Pode-se
armar que houve uma presença constante de Skinner na literatura da área, mas a sua presença
se deu por meio de um acesso desigual à sua obra.
Palavras-chave: análise bibliométrica; Análise do Comportamento; B. F. Skinner; cientometria;
comunicação cientíca; história da psicologia.
Ao longo da história, diversos autores indicaram um possível declínio
da inuência do behaviorismo e da obra de Skinner sobre a Psicologia e
as ciências sociais (Thyer, 1991). De maneira mais extremada, a morte do
behaviorismo já foi diversas vezes anunciada (Skinner, 1990). Por exemplo,
foram identicadas armações indicando que as críticas de Chomsky às
propostas de Skinner (cf. Azoubel & Saconatto, 2020) e o desenvolvimento
do cognitivismo (cf. Hobbs & Chiesa, 2011) teriam ocasionado o m do
behaviorismo.
Segundo Thyer (1991), a principal maneira de avaliar a inuência de
um autor sobre determinada área de produção de conhecimento é por meio
da análise da frequência de citações aos seus trabalhos em publicações de
tal área. As análises de citação estão incluídas na área da bibliometria, res-
ponsável por estudos quantitativos (por vezes, acompanhados de análises
qualitativas) que analisam dados da literatura cientíca para compreender
sua comunicação, sua política e sua estrutura (Donthuetal.,2021).
A partir disso, Thyer (1991) analisou a frequência anual de citações a
Skinner, no período entre 1966 e 1989, por meio de dados obtidos no Índice
de Citação em Ciências Sociais (Social Sciences Citation Index – SSCI), para
avaliar o impacto de Skinner sobre a Psicologia e as ciências sociais. Como
resultado, foi possível vericar uma alta e estável frequência de citações
a Skinner ao longo dos anos, totalizando 11.185 citações. Ainda que as
análises tenham se baseado apenas nos números absolutos de citações, sem
dados que permitissem avaliar a frequência relativa de citações a Skinner
frente a outros autores, demonstrou-se a contínua inuência exercida pelo
autor.
Análises de citações também permitem avaliar o impacto de determi-
nadas obras sobre a literatura. Dymondetal.(2006), Fox e VanStelle(2010)
e McPhersonetal.(1984), cujos trabalhos são descritos a seguir, analisaram
o impacto de uma obra especíca de Skinner o livro Verbal Vehavior,
publicado em 1957 – sobre a literatura.
2RBTCC 25 (2023)
McPhersonetal.(1984) consultaram nove bases de dados, de áreas
diversas, para identicar relatos de pesquisas que citaram Skinner (1957),
entre 1957 e 1984, e vericaram que havia frequência crescente de ci-
tações no decorrer do período, totalizando 836 citações; que existia um
predomínio de citações em trabalhos da psicologia, em comparação com
outras disciplinas; e que em apenas 31 dos estudos avaliados algum dos
operantes verbais apareceu como variável dependente ou independente.
Dando continuidade ao estudo de McPherson et al. (1982),
Dymondetal.(2006) buscaram em duas fontes de informação (a base
de dados Web of Knowledge e o periódico The Analysis of Verbal Behavior)
por trabalhos que tivessem citado Skinner (1957) ou que mencionassem
qualquer dos operantes verbais propostos nesta obra no período entre 1984
e 2005. Foram encontrados 1.093 trabalhos que citaram Skinner (1957)
e 44 trabalhos que não citaram este livro, mas mencionaram ao menos
um dos operantes verbais. Vericou-se um padrão estável de citações no
período e um predomínio de estudos não empíricos, em comparação com
estudos observacionais ou experimentais, além disso, apenas 69 estudos
tiveram algum dos operantes verbais como variáveis dependentes ou
independentes.
Fox e VanStelle (2010) também tiveram como objetivo avaliar o
impacto de Skinner (1957), mais especicamente sobre a literatura a
respeito de Gestão Comportamental de Organizações (Organizational
Behavior Management – OBM). Buscou-se por citações a Skinner (1957)
em quatro periódicos que são meios importantes de divulgação de artigos
sobre OBM (Journal of Organizational Behavior Management, Performance
Improvement Quarterly, Journal of Applied Behavior Analysis, e Journal of
Applied Psychology). Adicionalmente, foram realizadas buscas por artigos
a respeito de OBM no periódico The Analysis of Verbal Behavior, principal
periódico para veiculação de estudos sobre comportamento verbal. Foram
encontrados 18 artigos adequados aos critérios de seleção. Dentre eles, oito
artigos empíricos, nenhum deles tendo utilizado qualquer dos operantes
verbais como variáveis dependentes ou independentes, e 10 foram classi-
cados como não empíricos. Segundo os autores, os dados evidenciaram
o impacto reduzido de Skinner (1957) na área da OBM, possivelmente
indicando uma falta de tratamento ao comportamento verbal nos estudos
da área.
Em conjunto, esses estudos revelam uma frequência constante de
citações a Skinner (1957), com predomínio de estudos não empíricos
(Dymondetal.,2006; Fox & VanStelle, 2010; McPhersonetal.,1984); uma
baixa frequência, mas crescente, de estudos empíricos sobre comportamen-
to verbal (Dymondetal.,2006) e um aparente impacto limitado sobre a área
da OBM (Fox & VanStelle, 2010). Assim, por um lado, os estudos indicam a
necessidade da ampliação de estudos a respeito de comportamento verbal;
por outro, conrmam que as propostas de Skinner continuam impactando
a Psicologia, a despeito dos diversos anúncios da morte de tais propostas.
3RBTCC 25 (2023)
No Brasil, a Análise do Comportamento emerge em meados do séc.
XX, marcada pela presença do professor Fred Keller como catalisador
desta área ao vir dos Estados Unidos para ministrar a disciplina de
Psicologia Experimental na Universidade de São Paulo (USP) em 1961
(Cruz 2006; Micheletto et. al., 2010). Desde então, a presença da Análise
do Comportamento no país foi marcada por uma expansão e uma ins-
titucionalização, evidenciadas pela criação de associações, pelas tradu-
ções de obras importantes, pela criação de programas de pós-graduação
com orientação em Análise do Comportamento, pelo crescimento no
número de publicações de analistas do comportamento, entre outros
(Michelettoetal.,2010). Além disso, o aumento da pesquisa historiográ-
ca sobre a Análise do Comportamento a partir dos anos 1980, dentro
e fora do Brasil, também atesta a importância e a consolidação da área
(Morriset.al.,1990; Cruz,2006), considerando-se não apenas o desenvol-
vimento interno à comunidade, mas também a interação entre o contexto
social e o contexto cientíco que produzem a evolução da ciência.
Com base na importância da pesquisa bibliométrica para compreender
o papel do impacto de autores sobre uma área do conhecimento e conside-
rando especicamente o papel da literatura skinneriana na construção da
Análise do Comportamento no Brasil, Azoubel e Micheletto(2020) analisaram
as referências a Skinner em artigos baseados na Análise do Comportamento,
publicados nos periódicos analítico-comportamentais brasileiros dispo-
níveis digitalmente (i.e., Revista Brasileira de Terapia Comportamental e
Cognitiva, Revista Brasileira de Análise do Comportamento e Perspectivas
em Análise do Comportamento), entre 1999 e 2019. Os autores identica-
ram 1.577 referências a Skinner em 728 artigos publicados no período, o
que representou 7,1% do total das referências identicadas. No período
inicial, em que apenas a Revista Brasileira de Terapia Comportamental
e Cognitiva era publicada (1999-2004), houve uma maior proporção de
referências a Skinner em relação ao total. As obras mais citadas no período
foram, respectivamente, Ciência e Comportamento Humano (255 citações),
Comportamento Verbal (185 citações) e Sobre o Behaviorismo (156 cita-
ções) e somaram 40,0% de todas as citações a Skinner. Adicionalmente,
vericou-se que apenas 46,5% das publicações de Skinner foram citadas
ao menos uma vez no período e que 31,6% dos artigos analisados não fez
qualquer citação a Skinner.
Os dados de Azoubel e Micheletto (2020) convergem com achados an-
teriores (Dymondetal.,2006; McPhersonetal.,1984), na medida em que
também houve uma presença constante de citações a Skinner na literatura
analítico-comportamental brasileira. O fato de ter havido uma proporção
maior de citações a Skinner no começo do período analisado pode sugerir
uma leve tendência de redução na proporção de citações a Skinner com
o passar dos anos, possivelmente devido à obliteração (i.e., apresentação
de propostas sem citação por conta de o conteúdo ter se tornado conhe-
cimento comum na disciplina) e/ à citação de trabalhos que sistematizam
a obra de Skinner (e.g., Sério e Andery, 2002) ou que apresentam dados
4RBTCC 25 (2023)
e propostas mais recentes, que podem ter passado a ser citados em lugar
dos trabalhos de Skinner. O fato de as citações a Skinner representarem
7,1% do total e de 31,6% dos artigos não fazer qualquer citação a Skinner
parece indicativo de que, de maneira geral, os membros da comunidade
não sustentam “que Skinner disse tudo o que precisa ser dito” (de Rose,
1999, p. 74), como em uma “doutrina” skinneriana. Por m, a vericação
de que menos de metade das obras de Skinner foram citadas e de que 40%
dessas citações se referiram a apenas três obras pode sugerir um acesso
desigual a sua obra no período analisado.
Uma nova pesquisa, que replique os procedimentos de análise de
citações de Azoubel e Micheletto (2020) para analisar artigos analítico-
-comportamentais anteriores ao período de 1999 a 2019, pode auxiliar no
esclarecimento de como a frequência de citações a Skinner e a proporção
de tais citações em relação ao total se altera ao longo dos anos, bem como
quais obras de Skinner exerceram maior e menor impacto em diferentes
períodos da literatura analítico-comportamental brasileira. Assim, as dis-
cussões levantadas por Azoubel e Micheletto poderão ser ampliadas.
O objetivo deste trabalho foi caracterizar as referências a Skinner em
artigos brasileiros, baseados na Análise do Comportamento e publicados
entre 1961 e 1998. Esse período compreende o intervalo entre a introdução
da Análise do Comportamento no Brasil e o ano que antecedeu a primeira
publicação da Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva,
em 1999 (Michelettoetal.,2010). Com base no processo de expansão e ins-
titucionalização da Análise do Comportamento evidenciado, informações
sobre a presença de Skinner no período mencionado podem auxiliar na
compreensão das condições em que a comunidade analítico-comporta-
mental no Brasil se estabeleceu e da inuência da produção de Skinner
em seus empreendimentos cientícos.
Método
Fontes de Informação
As fontes de informação foram artigos baseados na Análise do
Comportamento – indicados no Banco de Dados de Artigos em Análise do
Comportamento no Brasil 1961-2007 (BAAC/Br) – publicados entre 1961 e
1998. O BAAC/Br foi construído por César e Micheletto (2008) e utilizado
como fonte de informações por algumas pesquisas sobre a disseminação
de conhecimento em Análise do Comportamento no Brasil (e.g., César,
2002; Michelettoetal.,2010).
O BAAC/Br contém artigos publicados nos periódicos considerados
como principais veículos de comunicação da Análise do Comportamento
no período: Modicação do Comportamento, Cadernos de Análise do
Comportamento, Psicologia, Psicologia: Teoria e Pesquisa, Temas em
Psicologia, Psicologia USP e Ciência e Cultura. Para identicação de artigos
analítico-comportamentais, César e Micheletto (2008) leram os títulos, as
palavras-chave e as referências dos artigos, em busca de expressões que
5RBTCC 25 (2023)
zessem referência a conceitos técnicos da área; os nomes dos autores dos
artigos, examinando se os nomes estavam listados em uma lista de autores
da área. Após a seleção de artigos analítico-comportamentais brasileiros,
foram coletadas informações bibliográcas de cada artigo (e.g., título do
periódico em que foi publicado, título do artigo, nomes e liações dos
autores etc.). Adicionalmente, cada artigo foi classicado conforme o tipo
de trabalho: estudos básicos foram pesquisas empíricas que analisaram
processos comportamentais básicos; estudos aplicados foram pesquisas
que visaram lidar com uma demanda social e atuou sobre comportamen-
tos-alvo socialmente relevantes; estudos teóricos foram aqueles estudos
que não empíricos e que analisaram aspectos históricos, epistemológicos
e conceituais da Análise do Comportamento e do behaviorismo radical (cf.
César, 2002; Michelettoetal.,2010).
Todos os artigos publicados entre 1961 e 1998, indicados no BAAC/Br,
foram acessados. Alguns periódicos foram acessados diretamente por meio
de seus endereços eletrônicos: Ciência e Cultura (http://memoria.bn.br/
docreader/DocReader.aspx?bib=003069); Psicologia: Teoria e Pesquisa
(https://periodicos.unb.br/index.php/revistaptp/issue/archive); Temas
em Psicologia (http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_issues&pi-
d=1413-389X&lng=pt&nrm=iso); Psicologia USP (https://www.revistas.usp.
br/psicousp/ issue/archive/). Os periódicos Modicação do Comportamento,
Cadernos de Análise do Comportamento e Psicologia foram acessados por
meio de acervo disponível em bibliotecas, por não estarem disponíveis
digitalmente.
Avaliação de Elegibilidade
Foram excluídos resumos de apresentações em congresso e republica-
ções de trabalhos, incluindo traduções de trabalhos publicados em outras
línguas. Dessa maneira, foram incluídos apenas estudos originais publi-
cados em periódicos nacionais.
O BAAC/Br indicava 330 publicações entre os anos de 1961 e 1998.
Após aplicação dos critérios de elegibilidade, foram excluídos 28 trabalhos,
sendo 22 resumos de apresentações de congresso e seis republicações.
Assim, restaram 302 artigos para a análise, sendo 64 classicados como
aplicados, 73 como básicos e 165 como teóricos.
Procedimento de Análise
Após a vericação dos critérios de elegibilidade, a lista de Referências
de cada artigo foi acessada e foram contabilizados, por meio de contagem
manual, o número total de referências (incluindo as referências a Skinner)
e de referências a Skinner. Além disso, cada referência foi identicada com
base na lista de publicações de Skinner elaborada por Anderyetal.(2004).
Referências a traduções e republicações a obras do autor foram contabili-
zadas conforme a referência da obra original. Apenas uma referência não
pôde ser identicada, devido à apresentação incompleta de sua referência,
mas contabilizada, pois apresentava a autoria de Skinner.
6RBTCC 25 (2023)
Cálculo de Concordância entre Observadores
Um segundo pesquisador analisou 66 trabalhos (20,0% em relação
ao total), selecionados aleatoriamente. Tal pesquisador teve acesso aos
critérios de elegibilidade e aos procedimentos de análise, conforme des-
critos nesta seção. Considerou-se que houve uma concordância quando o
pesquisador principal e o segundo observador concordaram em relação
a cada variável de análise. Quando houve divergência entre as análises,
contabilizou-se uma discordância e manteve-se a classicação inicial.
Para o cálculo de concordância para cada variável de análise, dividiu-se
o número de concordâncias pela soma de concordâncias e discordâncias e
multiplicou-se o resultado por 100. O índice médio de concordância durante
a análise da elegibilidade foi de 93,5%. O índice médio de concordância
durante a aplicação dos procedimentos de análise foi de 89,2%.
Resultados 
Dentre os 302 artigos selecionados, publicados entre os anos de 1961
e 1998, o número total de referências encontradas foi 5.789. O número de
referências a Skinner foi 351, o que representa 6,1% do total. Entre 1961 e
1975 o número de publicações anual foi baixo, como pode ser identicado
na Figura 1. A partir de 1976, as citações a Skinner por ano passaram a
ocorrer em maior frequência e, de modo geral, Skinner foi citado de forma
constante durante o período analisado. Destacam-se os anos de 1976, 1981,
1982, 1993 e 1997, em que as citações ao autor passaram de 20. Dentre
todos os anos citados, o ano com maior número de referências a Skinner
foi 1993, que totalizou 49 referências ao autor.
0,0%
5,0%
10,0%
15,0%
20,0%
25,0%
30,0%
35,0%
40,0%
45,0%
50,0%
0
50
100
150
200
250
300
350
400
1961
1962
1963
1964
1965
1966
1967
1968
1969
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
Proporção de referências a Skinner (%)
Número acumulado de referências a Skinner
Ano
Total de referências a Skinner
Porcentagem de referências a
Skinner
Figura 1. Ao Longo dos Anos, Número Acumulado de Referências a Skinner e
Proporção, em Porcentagem, de Referências a Skinner em Relação ao Total.
Nota. Não foram contabilizadas as proporções de referências a Skinner nos
anos em que não foram identicados trabalhos com seção de Referências.
7RBTCC 25 (2023)
A análise da Figura 1 permite vericar que a proporção das citações
a Skinner em relação ao total de referências se manteve, na maior parte
dos anos, entre 0,0% e 15,0%, com exceção dos anos de 1993, 1994 e 1989,
que apresentaram, respectivamente, 17,2%, 20,0% e 29,6% de referências
a Skinner dentre todas as referências nas publicações. Nos anos de 1961,
1963, 1964, 1965, 1966, 1967, 1970 e 1972 não houve qualquer referência
nos trabalhos identicados. Dessa forma, não foi possível calcular a pro-
porção de referências a Skinner nesses anos.
Dentre todos os artigos analisados, pode ser observado na Tabela 1 que
142 (47,1%) deles apresentaram ao menos uma referência a Skinner, 125
(41,4%) não apresentaram qualquer referência ao autor, mas apresentaram
referências a outros autores, e 35 (11,6%) não apresentaram qualquer
referência a Skinner ou a outros autores. Dessa maneira, é possível notar
que a maior parte dos artigos analisados não apresentou referências a
Skinner e que 59 (19,5%) deles o citaram apenas uma vez.
Tabela 1
Frequência de Artigos por Número de Referências a Skinner e
Proporção deste Número em Relação ao Total de Artigos Analisados
(n=302).
Nº de referências a
Skinner
Frequência de arti-
gos de artigos
Proporção em rela-
ção ao total (%)
0   125   41,4%  
1   59   19,5%  
2   35   11,6%  
3   22   7,3%  
4   7   2,3%  
5   9   3,0%  
6   3   1,0%  
7   2   0,7%  
8   1   0,3%  
9   2   0,7%  
10 ou mais   2   0,7%  
Não apresenta qualquer
referência a Skinner ou a
outros trabalhos   35   11,6% 
Foram identicados 17 trabalhos de Skinner que apareceram cinco
ou mais vezes nas referências dos artigos analisados, apresentados na
Tabela 2. O livro Ciência e Comportamento Humano (1953) foi a publicação
mais referenciada de Skinner no período, seguido por Comportamento
Verbal (1957) e Behavior of Organisms (1938). Juntos, os 17 trabalhos mais
citados representam 73,5% do total de referências a Skinner, enquanto os
5 primeiros representam 47,8% do total de referências ao autor.
8RBTCC 25 (2023)
Tabela 2
Títulos e Anos de Publicação do Original e da Tradução em Português
Brasileiro, Quando Houve, dos Trabalhos com Cinco ou Mais Citações;
Número de Ocorrências de Cada Trabalho nas Referências dos Trabalhos
Analisados; Proporção que essas Ocorrências Representam em Relação
ao Total de Referências a Skinner.
Título original (ano original)/título em portu-
guês, caso haja tradução (ano da primeira tradu-
ção ao português brasileiro)
N. de
ocorrên-
cias
Proporção
em relação
ao total
(%)
Science and Human Behavior (1953)/Ciência e
Comportamento Humano (1967)   43   12,3%  
Verbal Behavior (1957)/O Comportamento Verbal
(1978)   41   11,7%  
The Behavior of Organisms (1938)   36   10,3%  
About Behaviorism (1974)/Sobre o Behaviorismo
(1982)   27   7,7%  
Contingencies of Reinforcement (1969)/Contingências
do Reforço (1975)    21   6,9%  
Behaviorism at Fifty (1963)/Cinquentenário do
Comportamentalismo (1975)   12   3,4%  
Schedules of Reinforcement (1957)   10   2,8%  
Are Theories of Learning Necessary? (1950)/Teorias
de Aprendizagem são Necessárias? (2012)   9   2,6%  
The Generic Nature of the Concepts of Stimulus and
Response (1935)   8   2,3%  
Selection by Consequences (1981)/ Seleção por
Consequências (2007)    8   2,3%  
Recent Issues in the Analysis of Behavior (1989)/
Questões Recentes na Análise Comportamental (1991)   8   2,3%  
Beyond Freedom and Dignity (1971)/O Mito da
Liberdade (1972)   7   2,0%  
The Concept of the Reex in the Description of
Behavior (1930)   6   1,7%  
The Operational Analysis of Psychological Terms
(1945)/A Análise Operacional de Termos Psicológicos
(1968)  
6   1,7%  
The Technology of Teaching (1968)/Tecnologia do
Ensino (1972)    6   1,7%  
Two Types of Conditioned Reex and a Pseudo Type
(1935)   5   1,4%  
Can Psychology be a Science of Mind? (1990)   5   1,4%  
Total 258 73,5%
9RBTCC 25 (2023)
Cabe ainda indicar que, dentre as 293 obras publicadas por Skinner
até 1998, identicadas por Anderyetal.(2004), 74 (25,3%) foram cita-
das e 219 (74,7%) não foram citadas nos artigos aqui analisados. Outro
dado relevante é a identicação das publicações de Skinner mais citadas
para cada tipo de trabalho analisado: nos trabalhos teóricos, as obras de
Skinner mais citadas foram Ciência e Comportamento Humano (33 cita-
ções), Comportamento Verbal (32 citações) e Behavior of Organisms (24
citações); nas pesquisas básicas, foram Behavior of Organisms (10 citações),
Comportamento Verbal (sete citações) e Schedules of Reinforcement (quatro
citações); nas pesquisas aplicadas, foram  o Ciência e Comportamento
Humano (oito citações), o Contingências do Reforço (quatro citações) e o
“Cinquentenario do Comportamentalismo” (três citações).
Ao nal do período, as quatro obras mais citadas foram Ciência e
Comportamento Humano, Comportamento Verbal, Behavior of Organisms
e Sobre o Behaviorismo (Tabela 2). Porém, ao longo dos anos, algumas
dessas obras se alternaram como as mais frequentemente citadas, dado que
pode ser observado na Figura 2. Até 1993, Behavior of Organisms foi a obra
mais citada, mas, a partir de 1985 há uma estagnação das citações à obra
em contraste com a progressão de Ciência e Comportamento Humano e
Comportamento Verbal. Assim, Ciência e Comportamento Humano torna-se
a obra mais citada a partir 1994 até o m do período analisado e, em 1996,
a frequência de citações a Comportamento Verbal se torna a segunda maior,
deixando The Behavior of Organisms como a terceira obra mais citada ao
nal do período. Destaca-se que a obra Sobre o Behaviorismo foi a quarta
obra mais citada durante todo o período, porém, apresenta um expressivo
crescimento a partir de 1992.
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
1961
1962
1963
1964
1965
1966
1967
1968
1969
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
Número acumulado de referências
Ano
About Behaviorism
Behavior of Organisms
Science and Human Behavior
Verbal Behavior
Figura 2. Ao longo dos Anos, Número Acumulado de Referências ao Ciência
e Comportamento Humano, ao Comportamento Verbal, ao Behavior of
Organisms e ao Sobre o Behaviorismo.
Ao observar a proporção de referências a Skinner em relação ao total,
de acordo com os diferentes tipos de estudo, é possível identicar (Figura 3)
10RBTCC 25 (2023)
que, em trabalhos classicados como teóricos, 7,9% do total de referências
era a publicações de Skinner. Isso representou mais do que o dobro da
proporção de publicações de Skinner nas referências dos trabalhos básicos
(3,1%) e aplicados (3,7%).
0,0%
1,0%
2,0%
3,0%
4,0%
5,0%
6,0%
7,0%
8,0%
9,0%
Aplicado Básico Teórico Geral
Proporção de referências a Skinner (%)
Tipo de estudo
Figura 3. Proporção de Referências a Skinner em Relação ao Total, em
Porcentagem, de Acordo com Tipos de Estudo.
Discussão
De forma semelhante ao que foi vericado em pesquisas anteriores
(Azoubel & Micheletto, 2020; Dymondetal.,2006; Fox & VanStelle, 2010;
McPhersonetal.,1984), os dados encontrados aqui indicam uma presença
constante de Skinner na literatura da Análise do Comportamento. Nesta
pesquisa, identicou-se uma frequência relativamente estável de citações
a Skinner na literatura analítico-comportamental brasileira, especialmente
a partir de 1975.
O crescimento da frequência de citações a Skinner a partir da metade
da década de 1970 acompanha o crescimento das publicações nesse perío-
do (Michelettoetal.,2010). Tal crescimento sucedeu o início dos primeiros
mestrados com ênfase em Análise do Comportamento na USP, em 1971, e
na UnB, em 1974.
Seria possível esperar uma redução na proporção de citações a Skinner
com o passar dos anos, devido à publicação de trabalhos que sistematizam
sua obra, à incorporação de seus conceitos ao senso comum da área e à
publicação de dados de pesquisa e de discussões mais recentes (Azoubel &
Micheletto, 2020; Thyer, 1991). Porém, foi possível vericar que a propor-
ção de referências a Skinner em relação ao total encontrada aqui (6,1%), no
intervalo entre 1961 e 1998, foi menor do que a encontrada por Azoubel
e Micheletto (7,1%), no intervalo entre 1999 e 2019.
A comparação entre as porcentagens de trabalhos que citaram ou
não citaram Skinner também indica que a presença de Skinner foi menos
ampla no período entre 1961 e 1998, em comparação ao período posterior.
Anal, Azoubel e Micheletto (2020) identicaram que 31,6% dos artigos não
citaram Skinner, mas apresentaram seção de Referências, e que 2,6% dos
trabalhos não apresentaram seção de Referências. No presente trabalho,
11RBTCC 25 (2023)
41,4% dos trabalhos não apresentaram citações a Skinner e 11,6% não
apresentaram seção de Referências. Assim, vericou-se uma menor fre-
quência de trabalhos que citaram Skinner entre 1961 e 1998 do que entre
1999 e 2019.
Azoubel e Micheletto (2020) haviam identicado um acesso desigual à
obra de Skinner entre 1999 e 2019: as suas 10 obras mais citadas concentra-
ram 62,1% do total de referências ao autor e apenas 46,8% das suas obras
foram citadas. Na presente pesquisa, foi identicada uma concentração
ainda maior das referências ao autor, visto que as 10 obras mais citadas
de Skinner, no período entre 1961 e 1998, concentraram 61,3% do total de
suas referências (Tabela 2) e que apenas 25,3% de suas obras foram citadas. 
Diversos fatores podem ter contribuído para o acesso mais amplo à
obra do autor no período entre 1999 e 2019 (Azoubel & Micheletto, 2020).
Por exemplo, o acesso facilitado a obras estrangeiras após a abertura po-
lítica do Brasil, ao m da ditadura militar, e o advento da internet podem
ter sido variáveis críticas.
É possível ainda que o golpe militar de 1964 tenha sido fator importante
para que as obras de Skinner tardassem a impactar fortemente as referên-
cias das publicações brasileiras de outra maneira. Em 1964, estava em curso
o planejamento para a criação de um curso inovador de Psicologia, na UnB,
baseado em princípios analítico-comportamentais (Michelettoetal.,2010).
De acordo com Guilhardi (2012), fazia parte desses planos a tradução e a
discussão aprofundada das obras de Skinner. Porém, esse plano foi adiado:
O estudo das obras de Skinner fazia parte do avanço da formação da
equipe de Brasília. João Claudio Todorov, com a supervisão de Rodolpho
Azzi, procedia a tradução do Ciência e Comportamento Humano, que
circulava na forma de apostila mimeografada. Não houve tempo de
aprofundar as leituras e discussões de Skinner. Pelo menos para aqueles
que caram no Brasil. se apresenta a primeira importante lacuna
no desenvolvimento da plena formação dos analistas comportamentais
brasileiros. Pouco do trabalho de Skinner foi estudado; pouco se sabia
sobre suas obras para ser ensinado. A formação dos nossos alunos se
restringia, em geral, a textos de princípios (Keller-Schoenfeld, Charles
Ferster, Mellinson, Mallot-Whaley e Catania) e aos exercícios de labora-
tório. . . . Nossa formação foi mutilada. O grande excluído foi Skinner.
(Guilhardi, 2012, p. 7)
Por conta disso, o acesso a Skinner teria se dado de maneira vagaro-
sa e atrasada (Guilhardi, 2012). Essas podem ser variáveis que ajudam a
explicar a baixa frequência de citações a Skinner na década de 1960 e a
menor proporção de referências a Skinner no período inicial da Análise
do Comportamento no Brasil.
Ciência e Comportamento Humano foi a obra de Skinner mais fre-
quentemente citada nos artigos analítico-comportamentais brasileiros
analisados aqui (Tabela 2), de forma semelhante ao que ocorreu em
Azoubel e Micheletto (2020). Isso indica que a tendência de citar mais
12RBTCC 25 (2023)
recorrentemente o Ciência e Comportamento Humano no Brasil não é
especíca de anos mais recentes.
É provável que o ano de publicação de cada obra tenha inuenciado
o momento em que ela foi mais ou menos citada (Figura 2). Anal, The
Behavior of Organisms foi o primeiro livro de Skinner a ser publicado e
foi o mais frequentemente citado até o ano de 1993. Por sua vez, Sobre o
Behaviorismo foi a obra mais recentemente publicada e passou a ser mais
frequentemente citada ao nal de da década de 1980.
Ao longo do período entre 1961 e 1998 foram publicadas 191 obras de
Skinner (Anderyetal.,2004). Isso indica um cuidado ao analisar o impacto
de sua obra, visto que ela estava em construção. Especialmente durante o
período inicial da Análise do Comportamento no Brasil, a maior parte de
sua obra ainda não havia sido publicada, não estava acessível ao público
brasileiro e, à medida em que sua obra foi sendo expandida, deve ter sido
necessário algum tempo entre a publicação de cada obra do autor nos EUA
e o seu acesso no Brasil.
Talvez os dados apresentados na Figura 3 indiquem que a obra de
Skinner tenha exercido uma menor inuência direta sobre os artigos das
áreas básica e aplicada, possivelmente devido ao fato de as pesquisas
dessas áreas citarem mais frequentemente estudos experimentais e/ou
mais recentes. A análise da obra de Skinner permite vericar que suas
publicações experimentais praticamente cessam após a década de 1950
(Anderyetal.,2004), o que pode corroborar essa hipótese. É possível que
uma análise mais ampla das referências desses estudos, não limitada às
obras de Skinner, permita a compreensão mais adequada dessa questão.
Na literatura estrangeira, uma baixa frequência de estudos empíricos
sobre comportamento verbal foi identicada (Dymondetal.,2006; Fox &
VanStelle, 2010; McPhersonetal.,1984), vericada por meio da análise de
citações ao Comportamento Verbal (Skinner, 1957). Na presente pesqui-
sa, Comportamento Verbal foi a segunda obra mais citada nas pesquisas
básicas, de forma que pode ser interessante examinar se esses trabalhos
tiveram algum dos operantes verbais como variável experimental.
De maneira geral, a proporção de referências a Skinner em relação ao
total e a frequência de artigos sem citações ao autor talvez sugiram que a
sua obra não venha sendo utilizada como fonte única de conhecimento,
de maneira dogmática (cf. de Rose, 1999). Porém, uma análise quantitati-
va como a realizada aqui permite vericar quais obras têm impactado a
literatura, mas não esclarece se as citações são substantivas ou periféricas
e convergentes ou divergentes (Critcheldetal.,2000). Assim, uma pes-
quisa que analisasse qualitativamente os trechos em que Skinner é citado
no corpo dos artigos, identicado quais foram as posições a respeito de
Skinner, permitiria avaliar mais claramente essa questão.
Como o BAAC/Br (César & Micheletto, 2008) conta com classicações de
tipos de pesquisa, foi possível esboçar algumas análises iniciais a respeito
do impacto relativo de Skinner nas áreas da Análise do Comportamento.
Porém, César e Micheletto (2008) agruparam sob o rótulo de “pesquisa
13RBTCC 25 (2023)
teórica” quaisquer trabalhos não empíricos, incluindo estudos que revi-
saram criticamente questões a respeito de pesquisas básicas e aplicadas.
Assim, podem ser relevantes estudos que veriquem mais precisamente
as referências em estudos que discutiram questões teórico-conceituais,
aplicadas e básicas. Uma possibilidade é analisar periódicos especícos
dessas áreas (e.g., Behavior and Philosophy para pesquisas teórico-conceitu-
ais, Journal of Applied Behavior Analysis para pesquisas aplicadas e Journal
of the Experimental Analysis of Behavior para as pesquisas básicas).
A presente pesquisa se limitou a analisar os estudos publicados em
sete periódicos nacionais, que compuseram o BAAC/Br (César & Micheletto,
2008). Como devem existir diversos outros artigos analítico-comportamen-
tais brasileiros publicados no período, recomenda-se que novos estudos
estendam os procedimentos empregados aqui para outros periódicos.
Considerações Finais
A caracterização das referências a Skinner em artigos analítico-compor-
tamentais brasileiros, publicados entre 1961 e 1998, permitiu identicar:
que houve uma frequência relativamente estável de citações ao autor a
partir da metade da década de 1970; que suas 10 publicações mais fre-
quentemente citadas concentraram 61,3% do total de referências a sua
obra; que apenas 25,3% de suas obras foram citadas; que citações a sua
obra representaram 6,1% do total de referências contabilizadas; que 47,0%
dos artigos apresentaram ao menos uma referência ao autor; que as obras
mais recorrentemente citadas foram Ciência e Comportamento Humano,
Comportamento Verbal, Behavior of Organisms e Sobre o Behaviorismo.
Pode-se armar que houve uma presença constante de Skinner na litera-
tura da área, mas a sua presença se deu por meio de um acesso desigual
a sua obra, assim como aconteceu nos artigos publicados em periódicos
analítico-comportamentais brasileiros disponíveis digitalmente (Azoubel
& Micheletto, 2020).
Tais informações permitiram uma articulação com os dados de Azoubel
e Micheletto (2020), ampliando os conhecimentos a respeito da presença de
Skinner na literatura da Análise do Comportamento no Brasil. Para seguir
ampliando a compreensão sobre o tema, foram sugeridos alguns novos
estudos, tais como: (1) pesquisar as referências a outros autores; (2) ana-
lisar qualitativamente os trechos em que Skinner é citado nos artigos; (3)
examinar as referências de periódicos especializados em tipos de pesquisa
e áreas de atuação especícas; (4) replicar os procedimentos empregados
aqui para outros periódicos, teses e dissertações e livros e capítulos de livro.
Referências
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Article
A identificação de desigualdades, estereótipos e vieses de gênero tem sido objeto de investigação de diferentes pesquisas na Análise do Comportamento. Considerando que as traduções para o português de livros de B. F. Skinner, o principal proponente dessa teoria, são utilizados como referência para a formação de analistas do comportamento no Brasil, o objetivo desta pesquisa foi avaliar as menções de Skinner às mulheres, a fim de verificar a presença de vieses e estereótipos de gênero. Para tanto foi realizado um estudo teórico cujas fontes foram sete livros de Skinner traduzidos para o português. Foram identificados e categorizados 130 trechos dos livros que faziam menção ao termo mulher e correlatos. Os resultados foram agrupados em (1) declarações que apresentavam vieses de gênero, as quais corresponderam a 51,1% do total; (2) menções antitéticas a estereótipos sexistas sobre mulheres, equivalendo a 6,9% dos trechos; e (3) trechos que não apresentavam vieses de gênero, perfazendo 42,0% do material selecionado. Embora não tenhamos condições de perscrutar as variáveis que controlaram o comportamento verbal de Skinner ao mencionar as mulheres, é possível discutir as implicações de tais menções, uma vez que o uso de estereótipos de gênero pode contribuir com a manutenção de concepções essencialistas sobre a mulher.
Article
Full-text available
A obra de Skinner tem sido alvo de diversas investigações históricas, inclusive análises de citações a seus trabalhos. Tais estudos permitem avaliar o impacto de determinadas obras na literatura. O objetivo desta pesquisa foi caracterizar as referências a Skinner em artigos baseados na análise do comportamento, publicados nos três periódicos analítico-comportamentais brasileiros disponíveis digitalmente. Para isso, foram analisadas todas as publicações originais, baseadas na análise do comportamento, presentes nos periódicos analítico-comportamentais brasileiros, publicadas até 2019. Foram analisadas as Referências de 728 artigos e, nelas, foram identificadas 22.090 referências, sendo 1.577 (7,1%) referências a Skinner. A maioria dos trabalhos realizou nenhuma ou apenas uma citação a Skinner e a maioria das publicações de Skinner não foi citada nos artigos analisados. Esses dados indicam a necessidade de esforços para ampliar o acesso a diferentes obras de Skinner, de forma a favorecer uma compreensão mais completa de sua teoria.
Article
Full-text available
Frequentemente, o behaviorismo radical e a análise do comportamento são apresentados na mídia por meio de estereótipos negativos, possivelmente atravancando a difusão de suas propostas aos potenciais beneficiários. Com base nisso, o objetivo deste trabalho é caracterizar as publicações do jornal Folha de S.Paulo sobre behaviorismo radical e análise do comportamento desde a sua fundação em 1921, até 2015. Para tal, 227 parágrafos presentes no jornal que continham os termos Skinner ou behaviorismo foram selecionados para análise. De forma geral, foram encontrados trechos contendo críticas ao behaviorismo radical que expuseram equívocos históricos e conceituais, problematizaram o este campo de estudo, apresentaram algum aspecto correto e/ou apresentaram o termo "behaviorismo" de forma genérica. Foram identificados tópicos especialmente mal compreendidos: a análise do comportamento como legitimadora do controle, ultrapassada pelas teorias cognitivistas, capaz de explicar apenas comportamentos simples ou de animais não-humanos e interessada apenas em comportamentos observáveis. Recomenda-se que behavioristas radicais comuniquem suas propostas com ênfase em seu caráter de denúncia do controle como uma característica inerente às relações comportamentais de uma ciência viva em constante desenvolvimento e de uma abordagem interessada em lidar com quaisquer comportamentos, que aconteçam dentro ou fora da pele.
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General introductory textbooks play a major part in moulding students’ conceptions of psychology. A systematic review has been undertaken of the treatment in 40 texts of the term “cognitive revolution”. These texts commonly claimed that behaviorism dominated psychology in the first half of the twentieth century and during that time cognitive processes went virtually unexplored. They also commonly claimed that behaviourism was subsequently displaced by cognitive psychology and its theoretical claims are of historical interest only. There is clear evidence against both claims. It is argued here that the history of psychology in the twentieth century as presented in introductory textbooks works to the detriment of behaviour analysis and to the disadvantage of those students and professionals who would welcome and use behaviour analysis if they were properly informed.
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In the book Verbal Behavior, Skinner provided a comprehensive, behavioral account of language. While the impact of Skinner's analysis on empirical research has been examined broadly, this review of the literature focused on studies relevant to organizational behavior management (OBM). Both empirical and nonempirical journal articles in OBM were analyzed, along with several influential books in the field. The results of this review indicate that the conceptual framework provided in Verbal Behavior has had virtually no impact on empirical research in OBM and very limited impact on conceptual work. Potential reasons for this lack of influence are discussed, and further research on verbal behavior in organizations is encouraged.
Article
Full-text available
Addresses the question of whether the brain initiates behavior as the mind or self is said to do. This cannot be answered in the body-cum-brain, observed either introspectively or with instruments and methods of psychology. Two sciences that have a bearing on human behavior are discussed. These are physiology and a group of 3 sciences concerned with the variation and selection that determine the condition of the body-cum-brain at any moment: ethology, behavior analysis, and anthropology. Behavior analysis is the youngest of the 3 sciences and the only one to be studied at length in the laboratory. The roles of behaviorism and cognitive psychology in the development of the discipline of psychology are discussed. (PsycINFO Database Record (c) 2012 APA, all rights reserved)
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Bibliometric analysis is a popular and rigorous method for exploring and analyzing large volumes of scientific data. It enables us to unpack the evolutionary nuances of a specific field, while shedding light on the emerging areas in that field. Yet, its application in business research is relatively new, and in many instances, underdeveloped. Accordingly, we endeavor to present an overview of the bibliometric methodology, with a particular focus on its different techniques, while offering step-by-step guidelines that can be relied upon to rigorously perform bibliometric analysis with confidence. To this end, we also shed light on when and how bibliometric analysis should be used vis-à-vis other similar techniques such as meta-analysis and systematic literature reviews. As a whole, this paper should be a useful resource for gaining insights on the available techniques and procedures for carrying out studies using bibliometric analysis. Keywords: Bibliometric analysis; Performance analysis; Science mapping; Citation analysis; Co-citation analysis; Bibliographic coupling; Co-word analysis; Network analysis; Guidelines.
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Pesquisadores e estudiosos da Psicologia geralmente filiam-se a alguma corrente de pensamento, uma "linha" ou "abordagem". Este artigo analisa a influência de grandes pensadores sobre a formação de uma corrente de pensamento e a necessidade, para que esta seja fecunda, de discípulos que tenham graus variados de convergência e divergência com o pensamento do mestre. A influência de Skinner é analisada nestes termos, observando-se que ele tem tido importantes discípulos convergentes e praticamente nenhum discípulo divergente, o que limita a variabilidade do pensamento skinneriano e pode comprometer a fecundidade e a própria sobrevivência desta corrente de pensamento.
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É evidente o crescente interesse de analistas do comportamento pela história da disciplina e, conseqüentemente, pela pesquisa histórica. Nessa perspectiva, este trabalho se propõe a discutir algumas considerações sobre a história da ciência e a historiografia da ciência, com intuito de trazer contribuições dessas disciplinas para a pesquisa histórica em análise do comportamento. Para isso, são apresentadas algumas questões centrais nas discussões e produção sobre a história da ciência e historiografia da ciência, como a querela internalismo X externalismo, o uso de formulações presentistas que recorrem ao conhecimento atual de uma disciplina científica de forma tendenciosa e a definição de fontes históricas. Ao mesmo tempo, recorrer-se-á a exemplos de pesquisas históricas em análise do comportamento e behaviorismo para exemplificar e discutir alguns aspectos críticos que envolvem esse tipo de investigação.
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The influence of Skinner's Verbal Behavior on the generation of verbal behavior research was examined in a citation analysis that counted the citations of the book from January 1957 to August 1983 and described the fields in which the citations occurred. In a subsequent content analysis, citations were classified as directly influenced by the book if they selected at least one of Skinner's classes of verbal behavior for empirical examination. Directly influenced citations were sorted as descriptive, applied, or basic. The total number of citations of the book (836), the increasing annual number of citations, and the range of fields in which the book has been cited are evidence of its broad influence. However, empirical investigations employing at least one of Skinner's classes of verbal behavior are only a small proportion (31/836) of the citations. Of this small proportion an even smaller number constitutes experimental analyses (19/836). The small proportion of empirical studies suggests that Verbal Behavior is primarily cited for reasons other than as source material for research hypotheses in the study of verbal behavior. Some speculations are offered to account for the book's limited influence on research.