Content uploaded by Samuel De Amaral Macedo
Author content
All content in this area was uploaded by Samuel De Amaral Macedo on Mar 31, 2023
Content may be subject to copyright.
DESDOBRAMENTOS DO TURISMO EM PRAIA GRANDE – SP:
ESPACIALIZAÇÃO DAS VULNERABILIDADES SOCIOAMBIENTAIS
Gabriela Pereira da Silva
Mestranda do Programa de Pós-graduação em Geografia da UNICAMP
gabi.pereirasilva@live.com
Samuel de Amaral Macedo
Mestrando do Programa de Pós-graduação em Geografia da UNICAMP
macedo.samuel@yahoo.com
Ralph Charles
Doutorando do Programa de Pós-graduação em Geografia da UNICAMP
cralph001@yahoo.com
GT 17 – Urbanização, turismo e lazeres
RESUMO:
Os movimentos migratórios promovidos pela atividade portuária é o ponto inicial para
analisar a direção da urbanização em muitos dos municípios que compõem a Região
Metropolitana da Baixada Santista, com a construção das principais rodovias que ligam a
Grande São Paulo ao litoral, a atividade turística elevou a taxa de ocupação da planície
costeira, trazendo novas configurações de paisagem, cultura e organização socioeconômica
das cidades. Neste trabalho, o enfoque de observação é o município de Praia Grande, uma das
nove cidades que compõem a região onde a urbanização e as atividades recreativas que
englobam o contexto de transformações socioespaciais assistidas nos últimos anos, tem
redefinido historicamente a consolidação da população no território. Contudo, considera-se
que o turismo tenha espacializado as vulnerabilidades sociais de maneira evidente, visto que a
infraestrutura urbana priorizou locais de interesse turístico. Portanto o presente trabalho
aborda todas essas variáveis afim de pensar a conjuntura das cidades costeiras e turísticas
brasileiras, trazendo como exemplo a cidade de Praia Grande.
Palavras-chave: Zonas costeiras; Vulnerabilidade Socioambiental; Turismo.
INTRODUÇÃO
O processo de urbanização das áreas costeiras, em grande medida estão ligadas as
atividades econômicas voltadas ao turismo, por serem o destino de pessoas em busca de lazer
e melhor qualidade de vida. Estas zonas estão entre as mais povoadas do planeja, apesar da
intensa suscetibilidade e fragilidade ambiental na qual se apresenta, possui cerca de 4 bilhões
de habitantes, segundo Suguio (2003), para o IBGE (2018) a faixa de 200 km que compreende
o litoral brasileiro, possui cerca de 58% da população total do Brasil. No contexto de Praia
Grande desde a sua emancipação político-administrativa, o município de Praia Grande
apresenta características de cidade dormitório, acompanhando o crescimento econômico
marcado pela atividade portuária na cidade de Santos, sede da Região Metropolitana da
Baixada Santista.
Os primeiros núcleos urbanos do município foram construídos devido à demanda
imobiliária imposta pelo fluxo migratório externo, observado fortemente logo após a
construção da rodovia Anchieta Imigrantes e Padre Manoel da Nóbrega as quais
possibilitaram a entrada de paulistanos principalmente, sobretudo turistas de veraneio.
Observa-se que a promoção de atividades (de)esportivas, culturais e turísticas do ponto de
vista do planejamento territorial de Praia Grande, obedeceu uma lógica atrelada à valoração
da terra, distribuição de produtos e serviços intrametropolitana para além do fator de
atratividade turística.
O processo de metropolização da Baixada Santista influenciou significativamente o
processo de urbanização dos municípios que a compõem (São Vicente, Praia Grande,
Mongaguá, Peruíbe, Guarujá, Bertioga, Cubatão e Santos), começando por Santos com a
construção do porto em 1892, através da Companhia Docas de Santos (CDS), fundada em
1890 e os primeiros 260 metros de cais foram o principal polo de exportação e importação do
estado de São Paulo.
Muitos foram os trabalhos na área da Geografia Humana e Física que consideraram a
dinâmica de funcionamento da Região Metropolitana da Baixada Santista entre os anos de
2000 e 2010, Rodrigues (1999), Young (2000) Calis (et. al. 2002), Fernandez (2007), Souza
(2010) entre outros, com base nos dados do censo demográfico do IBGE para esses períodos,
muitas dessas referências, foram analisadas no presente trabalho, para que se pudesse elencar
os fatores que mais influenciaram na distribuição socioespacial de Praia Grande.
Dentre as atividades econômicas enquanto força motriz das transformações
socioespaciais, a atividade turística resultou em uma perda de identidade caiçara, no primeiro
momento, o sentimento de hostilidade por parte
de população residente para com os “turistas
de um dia” termo utilizado pela população residente para com os turistas de veraneio, e
recentemente a reelaboração do plano diretor municipal direcionado para a tentativa de
recuperação da cultura caiçara e sentimento de pertencimento dos munícipes para com a
cidade.
Portanto, o presente trabalho, busca analisar como os impactos da atividade turística
proporcionou limites de segregação socioespacial. Analisar a dinâmica urbana buscando
compreender a sua relação com as vulnerabilidades sociais, levando em conta suas
fragilidades ambientais e vulnerabilidades sociais impressas pelos movimentos migratórios da
década de 1960 a 2000, e de importantes investimentos imobiliários deste período até o
presente.
MATERIAIS E MÉTODOS
A Geoecologia das Paisagens (RODRIGUES et al., 2004) oferece uma abordagem
metodológica interessante para o das variáveis, sobretudo ao nortear os procedimentos
operacionais de maneira integradora, onde todos os elementos que compõem a paisagem
desde as esferas temporais (cultural, histórica, política, econômica, ambiental) até
propriamente a relação de uso e ocupação da terra são correlacionados e sistematizados,
resultando na concepção de geoecologia. A sequência de procedimentos envolvem a fase de
organização, onde se estabelecem os objetivos da análise, as problemáticas centrais e as
hipóteses da pesquisa, na segunda fase é realizado o levantamento bibliográfico e
cartográfico, a fase de inventário de levantamento bibliográfico, in
A elaboração dos mapas de Vulnerabilidade Social e Demografia foi realizada através
do software ArcGis 10.8 desktop, por meio das ferramentas Clip, para recorte da área de
estudo, e inserção de dados numéricos na tabela de atributos para espacialização dos índices
de vulnerabilidade social do IVS para o ano de 2010.
O mapa de Vulnerabilidade Social foi elaborado pela autora como um dos resultados
da dissertação de mestrado em fase de qualificação, onde, através do software ArcGis 10.8
desktop, para esse trabalho foi considerando apenas os resultados do IVS de 2010. O processo
de elaboração perpassou pela organização dos dados em tabela em Excel e posteriormente
foram inseridos na tabela de atributos do shapefile disponibilizado pelo IPEA, em sua base de
dados online e gratuito.
O mapa da densidade demográfica exigiu atenção com relação a escala gráfica da
representação, pois o dado em Shapefile do IBGE não informa a escala de detalhamento da
malha setorial, não se tem um número específico para identifica-la com exatidão para o
município de Praia Grande. Cada Setor Censitário é uma unidade espacial estabelecida para
fins de controle cadastral e de coleta de informações, usada pelo Instituto de Geografia e
Estatística para realizar pesquisas a partir de critérios que envolvem o número de domicílios à
adequação da área do agente censitário ou recenseador.
Além disso as variáveis encontradas nos dados cartográficos oferecidos pela
plataforma Geociências do IBGE abrangem as variáveis de identificação geográfica (Grande
Região, Unidade da Federação, Mesorregião, Microrregião, Região Metropolitana ou RIDE,
Município, Distrito, Subdistrito, Bairro, Setor e Situação do Setor), distribuídas em planilhas
por Unidade da Federação, totalizando 154 variáveis, envolvendo domicílios caracterizados
em Particular permanente ocupado, com e sem entrevista realizada, particular permanente de
uso ocasional, particular permanente vago, particular improvisado ocupado, coletivo – com e
sem morador, ou seja, contempla todas as situações de moradia urbana e rural (IBGE, 2011).
Procedimentos operacionais: Trabalho de campo
O objetivo central do trabalho de campo foi obter imagens recentes das paisagens que
configuram a organização socioespacial do município de Praia Grande com o apoio técnico da
Guarda Ambiental do município, sobretudo do atual cenário no qual demonstra
geograficamente a distribuição da população residente e da população veranista, bem como as
áreas potencialmente expansíveis e de interesse social. As imagens aéreas foram obtidas
através de RPA (Remotely Piloted Aircraft), da marca DJI modelo Mavic 2 Interprises Zoom
a uma altura de 120 m de acordo com o limite determinado pela Agência Nacional de Aviação
Civil (ANAC) na qual regulamenta o uso de drones no Brasil.
ATIVIDADES TURÍSTICAS E CULTURAIS NO ÂMBITO DO DESENVOLVIMENTO
ECONÔMICO
Fernandez (2007) realizou um estudo para identificar alguns impactos decorrentes da
atividade turística no município a qual levou e ainda hoje leva a um possível contexto de
hostilidade no relacionamento entre turista e morador local. O turismo na década de 1960 e
1970 em Praia Grande teve como característica o turismo de um dia, ou seja, marcado por um
deslocamento rápido e da mesma forma a permanência do turista se dava apenas pelo desejo
de banhar-se ao mar, no entanto a recepção desta população, que ultrapassava o número de
40.000 usuários, era delimitada por uma área de aproximadamente 5000 m², chamada de
Terminal turístico. A respeito da política de segregação social e espacial materializada nos
terminais turísticos de Praia Grande, segundo Rodrigues (1999 apud FERNANDEZ, 2007) foi
uma tentativa frustrada de separar os visitantes do restante da população residente, além de
ofertar ao “turista de um dia” áreas desprovidas de valores cênicos consideráveis e não
valorizados pelo mercado imobiliário (RODRIGUES, 1999, p. 115).
Atualmente os Terminais Turísticos foram transformados em colônias de férias,
localizada no limite entre o bairro Vila Mirim e Ocian, com novas infraestruturas prediais e
ofertas de produtos e serviços que atendem não só ao veranista, mas também os moradores
locais. Em 2022, Praia Grande assiste ao desenvolvimento econômico principalmente na orla
marítima, onde a revitalização do calçadão, dos quiosques e da segurança pública são
encontradas em toda a sua extensão. Isso comprova-se pelos trabalhos de campo realizados
em 2021 e 2021 sob o apoio da Guarda Ambiental, dados obtidos pela Secretaria de
Habitação, plataforma digital oficial da prefeitura e principalmente, através do conhecimento
empírico da autora entre os anos 2001 e 2022.
Outra análise importante para avaliação do cenário de expansão urbana imposto pelo
turismo e a especulação imobiliária na cidade foi realizado por Silva (2019) em que se
constrói perfis de vulnerabilidade dos domicílios em três bairros (Ribeirópolis, Santa Marina
e Antártica) e além disso, relaciona esses perfis aos riscos e perigos que as mudanças
climáticas podem ocasionar.
A conclusão deste estudo indica um modelo de exclusão social que apresenta
domicílios atendidos pelos serviços básicos de saúde, saneamento e infraestrutura urbana, por
isso, é notável, ao observar as imagens aéreas, posteriormente apresentadas neste trabalho,
obtidas através de RPA (Remotely Piloted Aircraft), a estrutura das moradias e arruamentos
precários nos bairros afastados da orla marítima. É evidente a fronteira socioeconômica
promovida pelo turismo de veraneio e a seleção dos espaços de lazer, cultura e esporte como
forma de atrair investimentos imobiliários, apesar disso, observa-se o esforço administrativo
em minimizar essas vulnerabilidades através de cadastramento de famílias em programas de
habitação, regularização fundiária e novos empreendimentos públicos ligados a educação,
saúde, esporte e lazer.
A reurbanização da orla marítima foi um marco da administração pública do prefeito
Alberto Pereira Mourão, entre os anos 1993 a 1996, em que elaborou-se um plano para
reurbanização da faixa marítima afim de atrair mais investimentos privados para revitalização
do município, com isso as reformas, trouxeram aos o sentimento de valorização da cidade e a
criação de uma identidade (CALIS; SILVA; SIQUEIRA, 2002, p. 76).
A dimensão do lúdico na (re)produção do seu espaço urbano envolveu e ainda envolve
escalas diferentes de tempo, conjunturas políticas e econômicas as quais definiram
primeiramente locais específicos de atuação, como por exemplo o Passeio Ciclístico de Praia
Grande que celebra a emancipação político-administrativa da cidade, realizado primeiramente
nos bairros Boqueirão e Canto do Forte, sendo estes, os locais em que apresentam a maior
concentração de renda ligada a atividades como turismo e serviços, além de estarem
associadas a valoração da terra e precificação dos espaços naturais com custos mais altos em
termos de valor da terra e segurança pública.
Em edições recentes o evento foi realizado em outros bairros, como Vila Caiçara e
Vila Mirim, marcando a 4º edição, em 2020, na 5ª edição o passeio foi realizado na ciclovia
da orla da praia, iniciada na Vila Caiçara com retorno na Vila Mirim pela rua Gilberto Fouad
Beck e a edição atual foi realizada no dia 26 de junho com saída e retorno no bairro Vila
Caiçara, totalizando 9 km de trajeto
A realização desse evento em espaços fora dos centros comerciais demonstra
claramente o envolvimento da população com o território com as atividades promovidas pela
prefeitura e empresas parceiras, como o Grupo A Tribuna. É importante considerar na
geografia o conceito de Não-lugar (MARC AUGÉ, 1994), ou seja, a apreensão de que o
sujeito não se sente parte de determinado lugar, diferente do que ocorreu em Praia Grande nos
últimos 15 anos em que se observou um crescimento na procura por imóveis na cidade,
devendo-se ao planejamento territorial elaborado para absorver os impactos da explosão
demográfica a partir da década de 1990 e de um zoneamento proposto para organizar e
promover ações de interesse turístico visando a receptividade dessa população veranista e
possível residente.
De acordo com a Secretaria de Cultura e Turismo (SECTUR, 2022), para atender às
demandas, são realizados ao longo do ano os seguintes eventos: Encenação da paixão de
Cristo; Encontro anual de carros antigos; Estação verão praia; Estação verão show; Feira de
artesanato itinerante; Feira de troca de livros; Férias no museu; Festa da tainha; Festejos de
Iemanjá; Festival de chorinho; Festival de corais; Festival de violões – homenagem a Antônio
Manzione; Mostra de dança Praia Grande; Mostra de teatro Praia Grande; Natal encantado;
Outubro criança; Praia games; Recital piano das artes; Salão de artes plásticas de Praia
Grande; Semana da cultura caiçara; Sexta musical e Vila junina. Todos esses eventos além de
comportarem a população local, promovem a aproximação com as cidades vizinhas, São
Vicente, Santos, Guarujá e Cubatão, como por exemplo o encontro anual de carros antigos,
que marca o encontro de todos os colecionadores de automóveis da região e do território
nacional.
Outro evento muito importante para a cultura regional é a Semana da cultura caiçara, a
qual engloba todas as esferas da arte caiçara, com grupos musicais, artesanato local, dança e
comidas típicas da história caiçara. A Vila Junina de 2022 trouxe importantes nomes da
música brasileira, como Alceu Valença e Elba Ramalho que estiveram na festejaram a semana
de São João e lotaram as pistas do evento com pessoas de todas as idades. É perceptível,
portanto que a Secretaria de cultura e turismo tem planejado e executado de maneira assertiva
um trabalho voltado para a recuperação da identidade caiçara, outrora substituída pela
comercialização de produtos provenientes de outros materiais que não naturais e de origem
pesqueira e artesanal, para além de uma aproximação da população com as danças e
manifestações musicais caiçaras.
LOCALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONÔMICA DA ÁREA DE ESTUDO
O município de Praia Grande (Figura 1) possui área territorial de 149 km² população
de 325.073 habitantes, com densidade demográfica de 1781,87 hab./km² (IBGE, 2019), está
sob as coordenadas UTM, latitude de 24º 00’ 21’’ S e longitude de 46º 24’ 21’’ W. Localiza-
se na Região Metropolitana da Baixada Santista (RMBS), criada pela Lei Complementar
nº815, de 30 de julho de 1996 (AGEM, 2002), composta por outros nove municípios, São
Vicente, Guarujá, Santos, Bertioga, Cubatão, Mongaguá, Itanhaém e Praia Grande, nos quais
juntos possuem 1,7 milhão habitantes e caracteriza-se por uma região de diversificada
atividade econômica, rede de transportes, comunicação e turismo.
Figura 1: Mapa de localização do município de Praia Grande-SP
Fonte: IBGE (2010), elaborado pela autora (2022).
O plano diretor de 2006 atendeu, entre outras demandas, à necessidade de subdivisão
de todos os bairros afastados da orla marítima, considerado neste trabalho como Zona da
Serra do Mar, tal medida foi estabelecida pela Lei complementar nº473/06, e transformou os
14 bairros em 32, conforme o Quadro 1 (
SEPLAN, 2014).
Quadro 1: Subdivisões dos bairros de Praia Grande – SP.
Fonte: IBGE – CENSO 2010, IBGE – Censo Demográfico 2000 e Resolução nº1, de 15 de janeiro de
2013. Elaboração: SEPLAN, 2014.
Nota-se também que a área urbana, detentora de 100% da ocupação do território
municipal reelaborou a distribuição social de modo em que se observa uma fronteira
econômica e sobretudo relacionada a qualidade ambiental e sanitária, visto que a planície
costeira apresenta fragilidades naturais de reorganização sedimentar, marcadas por
movimentos e processos geomorfológicas, a rede de esgoto atende majoritariamente os
bairros localizados na orla marítima enquanto a precariedade permanece em bairros da faixa
Serra do Mar.
Tabela 1: Densidade demográfica (Habitantes/km²) no município de Praia Grande - SP
Densidade demográfica (Habitantes/km²) no município de Praia Grande - SP
1980
1990
2000
2010
2020
2021
438,52
776,16 1.293,07
1.753,36
2,122.91
2,150.81
Fonte: adaptado da Fundação SEADE (2021).
De acordo com a Fundação Seade, dos anos 1980 a 1990 a densidade demográfica
aumentou significativamente. Os resultados do censo demográfico do IBGE apontam que
Praia Grande destaca-se na RMBS como um dos municípios com maior crescimento
populacional nas últimas décadas, passando de um pouco mais de 19 mil em 1970 para 60 mil
em 1980 e mais de 193 mil em 2000 (Figura 2). Para Young (2000) um pouco mais de 75%
do total se fixou nas áreas próximas da orla marítima onde a população apresenta as melhores
condições em termos de renda.
Figura 2: Mapa da Densidade Demográfica de Praia Grande (SP) IBGE, 2010.
Fonte: IBGE (2010), elaborado pela autora (2022).
A seguir, quadro (Quadro 1) da Densidade demográfica por bairro e o aumento da
população entre 2000 e 2010, além do percentual das áreas urbanizáveis por hectare, com
destaque para Imperador e Andaraguá não ocupados no ano de 2000 ou com ausência de
dados do censo, Xixová e Serra do mar definidos como Zonas de Especial Interesse
Ecológico.
Quadro 1: Densidade demográfica por bairro
Fonte: IBGE – CENSO 2010, IBGE – Censo Demográfico 2000 e Resolução nº1, de 15 de janeiro de
2013. Elaboração: SEPLAN, 2014. Nota: (1) área Urbanizável: corresponde à áreas dos bairros, excluindo-se os
parques, mangues e faixas non aedificandis
e terrenos compreendidos entre os Rios Branco/ Preto e Serra do
Mar. (2) Densidade Demográfica calculada sobre a área urbanizável. (3) Dados inexistentes no Censo 2000.
As expansões urbanas e o processo de gentrificação deram origem a espaços de
vulnerabilidade social, associadas aos riscos à saúde pública, a qualidade ambiental e
primordialmente com interferências ao saneamento básico. Contudo, há uma corrida para
tentar criar condições necessárias para a permanência da população que encontrou em Praia
Grande, a possibilidade de estabelecimento permanente. Em sua dissertação de mestrado,
Souza (2010) analisou o território considerando seus aspectos físicos e antrópicos de modo a
correlaciona-los com a circulação de matéria e energia na planície costeira, e deu aporte
importante para o conhecimento geomorfológico e morfodinâmico de Praia Grande,
concluindo seus estudos com o mapa síntese intitulado Mapa das Unidades Geoambientais.
Uma série de políticas públicas foram adotadas por vários períodos
administrativos, promovendo a melhoria das condições de saneamento
básico, despoluição das praias e elevação dos padrões de projeto e
agenciamento de logradouros e ordenamento mais rigoroso de uso e
ocupação do solo, que geraram respostas positivas (SOUZA, 2010, p.35)
O Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA) realizou a construção do
Índice de Vulnerabilidade Social com base nos dados do censo demográfico do IBGE para os
anos de 2000 e 2010, organizando em 3 dimensões, com um conjunto de variáveis obtidas
através de dados fornecidos pelos Censos demográficos do IBGE acerca do desenvolvimento
socioeconômico, condições de vida e infraestrutura urbana, são eles: I – Infraestrutura Urbana
do território (município, região, estado ou Unidade de Desenvolvimento Humano - UDH); II -
Capital Humano; e III – Renda (acesso ao trabalho e a forma de inserção).
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E A ESPACIALIZAÇÃO DAS
VULNERABILIDADES SOCIAIS
A partir da figura a seguir (Figura 3) é possível observar o longo e acentuado processo
de verticalização na faixa da orla marítima, orientado pela cor vermelha e uma
horizontalidade marcada pelo processo de ocupação da população residente na porção mais
próxima ao Parque Piaçabuçu e à Serra do Mar, na parte lateral inferior da imagem, sobretudo
do ponto de vista estrutural das moradias e dos dados apresentados no Quadro 1, da densidade
demográfica por bairros.
Figura 3: Fotografia panorâmica da extensão municipal.
Fonte: autora e Guarda Ambiental de Praia Grande.
Outros aspectos importantes a serem observados nessa figura, são as zonas de interesse
social, ligadas sobretudo aos serviços de transporte, delimitado em roxo na fotografia, com o
terminal Rodoviário do Tude Bastos e os locais de atividade cultural e esportiva, demarcado
em azul, com o Complexo Esportivo e Cultural Leopoldo Estácio Vanderlinde e o Parque da
Cidade, onde acontecem os principais eventos esportivos e apresentações de grupos musicais
a nível Nacional, além de comportar o Orquidário Municipal José Sanches e o Kartódramo
Municipal.
Para melhor visualizar o processo de verticalização do limite de orla marítima, a figura
a seguir, (Figura 4) ilustra o modelo de ocupação do bairro Caiçara, definido pelo
Ordenamento como uma Zona Predominantemente Residencial com Zonas comerciais bem
articuladas para o atendimento ao turista de veraneio.
Figura 4: Bairro Caiçara
Fonte: autora e Guarda Ambiental de Praia Grande
As demais áreas, não demarcados na figura apresentam intensa complexidade e oferta
de produtos e serviços, direcionados para atender as demandas locais e regionais, formulada a
partir do Ordenamento do Uso, da Ocupação e do Parcelamento do Solo, Lei Complementar
nº 499 de 26 de dezembro de 2007, que definiu as Zonas Comerciais (ZC), Zonas Mistas
(ZM), Zonas Predominantemente Residenciais (ZPR) (Figura 5), Zona Exclusivamente
Residencial (ZR), Zona de Especial de Interesse Ecológico (ZEIE) e Zonas de Usos
Diversificados (ZUD), Zona Residencial Especial (ZRE), além disso apresenta as Zonas de
Transição, os Corredores Comerciais e os Corredores de Interesse Turístico.
Figura 5: Bairros lado Serra do Mar
Fonte: autora e Guarda Ambiental de Praia Grande, 2022.
A nítida segregação socioespacial de Praia Grande expressa a grande contradição em
que o desenvolvimento econômico de cidades turísticas brasileiras vivem, no caso este
território assiste a um retorno à identidade cultural através da promoção de eventos artísticos e
inclusão social por meio de atividades desportivas e recreativas ao longo do ano, com a
presença de um público externo regional e também estrangeiro.
Essa complexidade dinâmica dá origem a paisagens com estruturas muito claras do
ponto de vista do planejamento territorial e ambiental, posto que a especulação promove
evidentemente uma espacialização de interesses específicos. Muitos dos reflexos desse
intenso crescimento populacional e especulação imobiliária marcante ainda são visíveis no
território, como por exemplo a entrada de pessoas em áreas de preservação permanente de
maneira irregular e o possível assentamento nesses limites, como é possível observar na
demarcação em verde na figura a seguir (Figura 6).
Figura 6: Bairro Vila Sônia
Fonte: autora e Guarda Ambiental de Praia Grande.
A área apresentada na imagem acima não é um dos destinos do turismo de veraneio,
pois é nesse limite local onde o índice de vulnerabilidade social é classificado como
Média/Alta, ou seja, recebeu tardiamente investimento adequado para a manutenção da
infraestrutura urbana, arruamentos e coleta de esgoto sanitário.
De acordo com os dados do IVS os bairros que apresentaram os índices classificados
de média a alta vulnerabilidade social foram Aviação (Baixa a Média vulnerabilidade), Vila
Sônia (Média e Alta vulnerabilidade), Antártica (Baixa e alta vulnerabilidade), Quietude
(Média vulnerabilidade), Anhanguera (Média vulnerabilidade), Nova Mirim (Baixa e Alta
vulnerabilidade), Santa Marina (Alta vulnerabilidade), Tupiry (Baixa e alta vulnerabilidade),
Ribeirópolis (Alta vulnerabilidade), Esmeralda (Alta vulnerabilidade), Samambaia (Baixa
vulnerabilidade) e Melvi (Média e Alta vulnerabilidade) (Figura 7).
Figura 7: Mapa do Índice de Vulnerabilidade Social de Praia Grande – SP.
Fonte: Adaptado de IPEA (2010) elaborado por SILVA (2022).
Segundo Marandola Jr. (2009) a vulnerabilidade é o elemento chave para a
compreensão de como os diferentes grupos sociais das áreas de expansão urbana têm a
capacidade de enfrentar os riscos e perigos no espaço, portanto é um conceito que permite
fazer a ligação entre o contexto de produção dos riscos com o enfrentamento dos mesmos
pelas populações e lugares específicos.
Para tanto, entende-se que a ausência de infraestrutura adequada e a ineficiência do
poder público em elaborar um planejamento territorial integrado e gerenciá-lo de maneira
adequada, pode intervir na vulnerabilidade da população diante dos desastres e perigos
(MARANDOLA JR, 2009; NUNES 2009). Atualmente as áreas aqui salientadas ao longo do
trabalho, as de maiores taxas de vulnerabilidade social receberam importantes investimentos
em infraestrutura urbana e geração de emprego e renda desde o último Censo Demográfico,
sendo esta a principal fonte de dados estatísticos para a elaboração do IVS produzido pelo
Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA). Ressalta-se portanto que o objetivo
deste trabalho é discutir as causas de alguns problemas urbanos promovidos pelo turismo,
sobretudo em zonas costeiras com intensos fragilidade natural e circulação constante de
matéria e energia, por vezes intensificada pelo meio antrópico.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante dos levantamentos bibliográficos e das leituras da paisagem (fotos e mapas) é
notável que a atividade turística no século XX provocou mudanças importantes na
configuração social da Planície Costeira no estado de São Paulo, sobretudo na Região
Metropolitana da Baixada Santista e que demonstra claramente dois processos fundamentados
pela Geografia Urbana, sendo essas, a Urbanização e a Metropolização do território, no qual
segundo os autores analisados, esses processos criam zonas de intensa segregação social,
caracterizada por perfis de média a alta vulnerabilidade social. A promoção de atividades
desportivas, educacionais, turísticas e de lazer são ações cabíveis de planejamento no sentido
de incluir toda a população, seja veranista ou residente para que não se instale um ambiente de
hostilidade de segregação, onde se dê lugar para o respeito, o sentimento de pertencimento e
hospitalidade ao lugar.
É importante salientar e trazer à tona o termo vulnerabilidade socioambiental para a
Geografia, pois através dele é possível compreender diversos fenômenos que ocorrem no
espaço muito além de correlacioná-lo com outros termos e assuntos, sendo este um termo
multidisciplinar, tem o potencial para subsidiar amplas perspectivas do problema científico. O
olhar para as áreas de maior vulnerabilidade social do município de Praia Grande, neste
sentido requer estudos mais aprofundados sobre as causas da espacialização observada
atualmente e um replanejamento da Zonas Predominantemente Residenciais.
REFERÊNCIAS
AUGE, Marc. Não-lugares: introdução a uma antropologia da supermodernidade. Campinas,
SP: Papirus, 1994. ISBN: 8530802918.
CALIS, Magna Flora; SILVA, Mônica Solange Rodrigues; SIQUEIRA, Fátima Valéria.
Paisagens da Memória: história de Praia Grande. Praia Grande: Prefeitura Municipal da
Estância balneária de Praia Grande. Secretaria de esportes, Cultura e Turismo. Secretaria de
Educação, 2002.
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Cidades – Praia Grande. Rio de Janeiro,
2010.
______. Censo Demográfico 2010. Rio de Janeiro, 2010.
______. Base de informações do Censo Demográfico 2010: resultados da Sinopse por setor
censitário. Ministério de Planejamento, Orçamento e Gestão. Centro de Documentação e
Disseminação de Informações. Rio de Janeiro, 2011.
______. Atlas escolar: Distribuição da população. Rio de Janeiro, 2018. Disponível em
https://atlasescolar.ibge.gov.br/images/atlas/mapas_brasil/brasil_distribuicao_populacao.pdf.
Acesso em 23 de junho de 2022.
IPEA – INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA; IBGE – INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Relatório econômico. Brasília: Ipea;
IBGE, 2014.
SEADE - FUNDAÇÃO SISTEMA ESTADUAL DE ANÁLISE DE DADOS. Apresenta
informações e dados sobre os municípios paulistas. Disponível em: <
http://www.seade.gov.br/>. Acesso em: 19 jun. 2021.
FERNANDEZ, Leandro Rodrigues Gonzalez. Impactos Sociais da Obra de Reurbanização da
Orla Marítima de Praia Grande. 2000. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em
Turismo) – centro Universitário Ibero-Americano. São Paulo, 2000.
______. O desenvolvimento do turismo em Praia Grande e o relacionamento entre turistas e
moradores locais. IV Seminário da Associação Brasileira de Pesquisa e Pós-Graduação em
Turismo UAM– 27 a 28 de agosto de 2007.
MARANDOLA JR, Eduardo, HOGAN, Daniel J. Para uma conceituação interdisciplinas da
vulnerabilidade. Novas Metrópoles paulistas. População, vulnerabilidade e segregação.
Campinas: Núcleo de Estudos de População-Nepo/Unicamp, 616p. 2006.
______. As Dimensões da Vulnerabilidade. São Paulo em Perspectiva, v. 20, n. 1, p. 33-43,
jan./mar. 2006.
MARANDOLA JR. Eduardo. Tangenciando a vulnerabilidade. In: HOGAN, D. J.;
MARANDOLA
JR, E. (Org.). População e Mudança Climática. Campinas: Núcleo de Estudos de
População /Unicamp, 2009. p. 191-204.
RODRIGUES, Adyr B. Turismo e Espaço: rumo a um conhecimento transdisciplinar. São
Paulo: Hucitec, 1999.
SILVA, Robson Bonifácio. Vulnerabilidade, expansão urbana e perspectivas diante do
cenário das mudanças climáticas em Praia Grande – SP. GEO Temas, Pau dos Ferros. RN,
Brasil. ISSN: 2236-255X, v.09. 2019.
SOUZA, Tissiana de Almeida. Zoneamento geoambiental do município de Praia Grande (SP):
uma contribuição aos estudos sobre a Baixada Santista. Rio Claro, SP. 2010.
YOUNG, A. F. Transformações Socioespaciais da Baixada Santista: identificação das e
vulnerabilidades socioambientais através do uso de geotecnologias. NEPO - Núcleo de
Estudos de População/Unicamp, p.102, 2000.