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JURACI DORÉA, UM OLHAR SOBRE A TERRA
Marialda Pinho.
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EBA/UFBA
marialda.22@gmail.com
RESUMO: O presente artigo tem como objetivo principal, trazer uma abordagem sobre o trabalho
do artista plástico baiano Juraci Dórea, denominado Projeto Terra. Realizado nos anos de 1980,
esse projeto trouxe uma nova concepção nas artes plásticas baianas utilizando a linguagem
conceitual para a sua concepção; desse modo, pretende-se refletir acerca do objetivo primordial
desse artista que ultrapassou os limites de suas fronteiras para expor ao público o sentido conceitual,
regionalista e nacionalista de suas obras.
PALAVRAS-CHAVE: Artes Plásticas; Arte conceitual; Nacionalismo; Regionalismo;
Modernismo;
JURACI DORÉA, A LOOK AT THE EARTH
ABSTRACT: The main objective is to bring an overview about the plastic artist baiano Juraci
Dórea, denominated Projeto Terra. Carried out in the 1980s, this project brings a new conception
in the Bahian plastic arts using a conceptual language for their conception. Thereby, is intended to
reflect the main goal about this artist that overtake the limits of his borders to expose to the public
the conceptual sense and regionalist and nationalist from his works.
KEYWORDS: Plastic Arts; Conceptual Arts; Nationalism; Regionalism; Modernism.
1
Especialista em Docência do Ensino Superior ABEC/ Fundação Visconde de Cairú, Bacharel em Artes Plásticas
EBA/UFBA, Arte Educadora e Musicista. Docente da disciplina Arte Educação e PPP1 (Prática de Pesquisa
Peqagógica) - Faculdade Viconde de Cairu, curso de Pedagogia.
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INTRODUÇÃO
A arte conceitual é definida como um movimento artístico do século XX que defende a
superioridade das ideias veiculadas pela obra de arte, utilizando o meio para o fazer artístico.
Segundo a pesquisadora Cristina Freire: [...] “A arte Conceitual dirige-se para além de formas,
materiais ou técnicas. É, sobretudo, uma crítica desafiadora ao objeto da arte tradicional.”(FREIRE,
2006, p.10) Sendo assim, a arte conceitual se contrapõe ao tradicional estabelecendo uma nova
linguagem na concepção do fazer artístico.
Essa nova linguagem na concepção artística teve início em meados da década de 60,
podemos considerar que parcialmente em reação ao formalismo, sendo depois sistematizada pelo
crítico nova-iorquino Clement Greenberg, influente crítico de arte dos Estados Unidos ligado ao
modernismo. Contudo, já as obras do artista francês Marcel Duchamp (figura 1), nas primeiras
décadas do século vinte, já tinham prenunciado o movimento conceitualista, ao propor vários
exemplos de trabalhos que se tornariam o protótipo das obras conceituais, como os ready meadys.
Esse termo criado pelo próprio artista definia os objetos artísticos, sem critérios estéticos, mas, com
sentido crítico.
Figura 1: Marcel Duchamp.
Com o avançar das décadas, a arte conceitual começa a recorrer frequentemente ao uso de
fotografias, instalações e performances. Alguns artistas tentam desta forma, mostrar a sua recusa em
produzir objetos de luxo - função geralmente ligada à ideia tradicional de arte - como os que
podemos ver em museus. Ela nada mais é do que uma das inúmeras formas de expressão artísticas
possíveis para o desenvolvimento de um trabalho pelo artista plástico. Na década de 60, através das
ideias veiculadas pelo grupo Fluxos
2
, a arte conceitual torna-se um fenômeno mundial. O
movimento estendeu-se, aproximadamente, de 1967 a 1978.
A Arte Conceitual surge no Brasil, como um campo de expressão artística muito pouco
compreendida. Segundo a pesquisadora Cristina Freire: [...] “Isto se deve a muitos artistas,
jornalistas desinformados e críticos de arte que a tratam como se esta fosse a única forma de Arte
Contemporânea.”(FREIRE, 2006, p.12) No Brasil, Artistas como Arthur Barrio, Baravelli, Carlos
Fajardo, Cildo Meirelles, José Rezende, Mira Schendel, Tunga e Waltércio Caldas começam a
2
O Grupo Fluxus foi criado em 1961, em Wiesbaden, na Alemanha, durante o Festival Internacional de Música, sob a
liderança de George Maciunas. Era integrado por artistas de várias partes do mundo. Foi um movimento que marcou as
artes das décadas de 1960 e 1970, opondo-se aos valores burgueses, às galerias e ao individualismo.
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desenvolver trabalhos nessa forma de expressão. No final da década de 60 a conjuntura política
repressiva que se instalara em nosso País desarticulou os grupos de artistas conceituais que foram
expulsos dos salões, bienais, e galerias.
A década de 70 se caracteriza pela expansão da Arte Conceitual, através de meios artísticos,
operando com novos meios tecnológicos com outra modalidade espacial e fragmentada de trabalho
denominada - instalação. Nessa época, novas tecnologias se associam à operação conceitual do
artista, como arte e computador. As características da Arte Conceitual nos anos 70 são a reflexão, a
razão e a substituição da vida pela arte. Ela está associada ao clima de uma arte que se relaciona
com o público de forma bem diferente, em comparação com a arte da década anterior. Nesta época,
surgem no Brasil vários grupos envolvidos com arte conceitual, ou, sobretudo arte como processo
experimental, dirigida por conceitos
3
. Com relação a esse fato, a pesquisadora Cristina Freire
afirma:
No Brasil, como no Leste Europeu e América Latina, a Arte Conceitual se
desenvolve com clara intenção política. A natureza dos meios artísticos e a
possibilidade de fácil reprodutibilidade e a sua rede quase oculta de distribuição
permitiram em nosso país a expressão de uma arte fortemente crítica ao regime
militar, o que não seria possível com os meios convencionais da pintura e da
escultura. (FREIRE, 2006, p.16)
O Conceito nacionalista e regionalista em nossa arte ficou evidente no que diz
respeito ao trabalho do artista plástico baiano Juraci Dórea, que durante os primeiros anos da década
de 80 desenvolveu o projeto Terra. Buscando uma nova linguagem na representação escultórica,
compartilhando o seu trabalho com a fonte natural de sua inspiração o sertão e os sertanejos.
“Achei bom, graças a Deus. Tô perto de morrê, mas vi coisa bunita im meu rancho.”
(Edwirges Cardoso
4
, 76 anos - in memoriam)
Na raiz do Sertão...
Juraci Dórea (figura 2) nasceu em 15 de outubro de 1944 no Estado da Bahia em Feira de
Santana, nas proximidades do bairro da Pedra do descanso que, naquela época servia de rota para os
tropeiros. Sua infância e adolescência foram contagiadas pela cultura sertaneja, em meio aos
vaqueiros, as boiadas e feiras livres. Em 1968 ele gradua-se em arquitetura pela Universidade
Federal da Bahia. Sua primeira exposição aconteceu em 1962, na Biblioteca Municipal Arnold
Silva, em Feira de Santana BA.
3
Estes grupos não se constituem como escolas de formação, mas como centros de artesanato conceitual, dos quais se
destacam o grupo do On-Off, em São Paulo, o Espaço N.O (Nervo Óptico), em Porto Alegre, em 1976, e o Núcleo de
Arte Contemporânea, em João Pessoa, em 1978.
4
Moradora de uma casa onde Juracy Dórea pintou um mural, na região de Monte Santo, próximo ao povoado do saco
fundo. A casa de taipa e adobe recebeu o mural do artista aos olhos curiosos do povo que passava e observava.
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Figura 2: Juraci Dó.
Em meados dos anos 70 ele produziu ilustrações e capas de livros e revistas mantendo um
dialogo fértil com um grupo de artistas de Salvador, composto por: Chico Liberato, Sante
Scaldaferri, César Romero, Juarez Paraiso e Ruben Valentin. Esse grupo discutia questões relativas
à arte brasileira. Nessas discussões eles tentavam mostrar que fora do eixo Rio/São Paulo o
Nordeste também apresentava uma produção interessante e importante para a cultura brasileira e
que essa produção deveria de fato ser divulgada para outras regiões do Brasil.
Os anos de 1973 a 1975 são marcados pelos temas sertanejos: boiadas, vaqueiros, carros de
boi, paisagens de Feira de Santana, festas de Santana (padroeira da cidade). Nesse período ele cria
a série Estandartes de Jacuípe, utilizando o couro e armações de madeira, dessa fase o próprio
artista relata:
Nesta fase, eu começo a trabalhar a partir dos símbolos, é como se eu retornasse
aquela simbologia da cidade e tentasse resgatar isso no universo rural – o símbolo
das celas dos vaqueiros e de sua indumentária. Eu tento fazer isso em forma de
estandarte, como se fossem bandeiras, elementos representativos da cultura
sertaneja, mas de uma forma bem simbólica. Saio um pouco da forma da tela, do
suporte tradicional. Desenvolvo esse trabalho nos anos 70 paralelamente às
pinturas. (DÒREA, 2004)
Figura 3
Figura 4
Figura 5
Estandartes de Jacuípe – 1970
A simbologia se transforma no elemento mais significativo do seu trabalho; uma simbologia
associada a sua admiração pela sua terra e pelos movimentos culturais nela inseridos. A Sua ligação
com o sertão não transitava apenas no plano de uma simples representação, mas, exaltava a sua
paixão e afinidade pelo seu próprio espaço geográfico e as suas tradições culturais, essas
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características vieram proporcionar um salto significativo em sua carreia contribuindo para a
história das artes plásticas na Bahia.
Figuras 06 e 07 – Mural da Casa de Edvirgens - pequeno povoado a 40 Km de Monte Santo
25/11/1984)
É através de sua obra que Juraci Dórea expressa a sua ligação mais íntima com o sertão.
Durante os anos de 1980 ele fez uma série de exposições pelo interior da Bahia. A principal meta
desse projeto era fazer uma arte sem referências urbanas e mostrá-las no próprio ambiente que a
inspirou, o sertão. Com esse projeto o próprio artista rompe com as tradições artísticas de alguns
artistas regionais que mesmo criando, atrelados a sua cultura, suas obras sempre acabavam expostas
em museus e galerias. Para o critico de arte Frederico Morais havia uma relação muito íntima de
Juracy com o seu universo regional, nesse sentido sua analise estética se amplia:
[...] "quer nos seus aspectos estéticos, formais ou semiológicos, começaram a
mostrar-se, sem sombra de dúvida, ainda na década de quarenta, quando ele,
menino ainda, foi iniciado nos mistérios e segredos do universo sertanejo, pelas
mãos de vaqueiros, cantadores, violeiros, tropeiros e outros personagens desse
mundo de magia e misticismo, com os quais conviveu em Feira de Santana. Ao
expor seus quadros em feiras livres, alpendres, abrigando-os em varais à sombra de
“frondosos umbuzeiros, quais insólitos outdoors entre cabos, bois magros e
xiquesxiques”, ou pintando seus murais em velhos muros de adobe ou taipa em
algum rincão perdido do sertão, Juraci está realizando, à sua maneira, a arte
pública” [...] (MORAIS, 1985, p.03).
Com essa prática, podemos afirmar categoricamente o conceito regionalista desse artista que
se desvincula dos padrões da arte contemporânea até então, não associada a museus e galerias, mas
se encontrando com o povo. O Projeto chamou a atenção dos críticos, justamente por mudar o
circuito tradicional da obra de arte, tirava-a dos locais previstos e previsíveis. Criava uma inter-
relação entre o povo colocando-os frente a frente com a sua própria cultura. Os locais escolhidos
para a execução do projeto foram: Feira de Santana, Monte Santo, Canudos e o Raso da Catarina.
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Figura 08 e 09 – Exposição – Mercado se Santa Rosa - pequeno povoado a 40 Km de Monte Santo
10/02/1985.
Projeto Terra
Ao participar, de um concurso instituído pela Fundação Cultural do Estado da Bahia, Juraci
Dórea encaminhou um projeto que dava seguimento a ideia da veiculação de sua obra inter-
relacionando com o público, a proposta foi intitulada: Projeto Terra. Esse projeto colocava em
evidência certas questões da arte contemporânea e optava por uma mudança radical no que diz
respeito ao processo de veiculação das obras: elas não seriam mostradas em museus ou galerias de
arte, mas no próprio espaço do sertão.
Em 1981, ele deu início e materializou o Projeto Terra, um dos projetos mais significativos
de arte conceitual realizado em nosso Estado; o sertão é a referência para o seu trabalho justificado
pelo pesquisador Ney Todero:
[...] é o ponto máximo de referência em todos os sentidos transformando-se em
algo multireferencial, local de nascimento e de moradia, de retirada do sustento
familiar, e, especialmente, de alimento cênico para o seu trabalho. É o lugar no
qual o olhar do autor se aprofunda, brilha, ri, chora e vê nele motivos estéticos.
(TODERO, 2004, p.59).
Nos finais do ano de 1983, O Projeto Terra recebeu uma bolsa de trabalho concedida pelo
Instituto Nacional de Artes Plásticas, órgão da Funarte, através do Concurso Ivan Serpa, que foi
realizado naquele ano com o objetivo de apoiar a produção de artistas plásticos contemporâneos.
Com essa bolsa, o Projeto ampliou sua área de atuação, alcançando novos municípios do sertão
baiano.
Além dos murais e exposições em feiras livres, o Projeto Terra também realizou o
assentamento de esculturas em couro cru e madeira que funcionavam como uma espécie de totens
ou marcos solitários, de grande impacto visual.
Composta por obras tridimensionais, em couro curtido e madeira, essas obras eram
inspiradas numa cena muito comum na caatinga, inclusive até os dias de hoje: os couros de boi
esticados sobre varas e deixados ao sol para secar. A proposta foi uma das seis vencedoras do
concurso e, em junho de 1982, Juraci começou a construção da primeira escultura. O local
escolhido foi um velho pasto da Tapera, fazenda localizada a poucos quilômetros de Feira de
Santana.
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Figuras10 e 11 – artista em processo de montagem de sua obra.
Durante a exposição, Juraci fotografava documentando as reações do público que
involuntariamente se transformava em uma extensão do seu trabalho. O crítico de arte Frederico
Morais relata:
[...] observa que se trata "de um material fascinante, de grande valor sociológico e
antropológico, na medida em que revela o conceito que as populações rurais têm da
arte. Buniteza para um, ispera ou tocaia de tema para outro, apenas um ofício, entre
muitos, para a maioria, um objeto de início assustador, ou um novo começo".
(MORAIS, 1987, p.14)
A reação do público era registrada e analisada pelo artista que em catarse considerava o
grande complemento do seu trabalho. Não haveria uma obra sem a participação do público, que
muitas vezes em cada região onde ocorriam as montagens das esculturas, reagiam distintamente,
proporcionando ao artista uma série de inspirações para novas produções.
Feira de Santana é o ponto de partida para o assentamento das primeiras esculturas. Surgida
a partir de um ponto de pouso de boiadeiros e tropeiros que iam e vinham do sertão para a capital, a
cidade cresceu à sombra de sua feira livre e da feira de gado que ainda hoje, semanalmente, reúne
moradores dos mais diversos pontos do sertão da Bahia.
Figura 12 – Escultura do Campo do Gado – Feira de
Santana – 01/10/1984
Figura 13 – Escultura de Canudos – Margem do Rio
Vaza Barris - 13/10/984
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[...] Não seria totalmente absurdo falar-se de uma arte conceitual ou processual
sertaneja, e também de uma arte ecológica (Earth ou land-art) e de arte “povera”,
na medida em que ele emprega materiais “pobres”, que ele busca uma
“identificação cultural e paisagística com a região” [...] (MORAIS, 1985, p. 04).
Comungando com a análise estética acima, a relação com a arte povera
5
é bastante evidente
no trabalho e Juraci Dórea; nos moldes citados acima, sofre uma interferência do tempo e do
público que muitas vezes sem compreender muito bem o que estava acontecendo, se aproximava da
obra no intuito de tocá-la e até mesmo desmontá-la. O trabalho de Juraci Dórea vai além da
província cultural para se propor como arte sertaneja e rural, principalmente na objetividade da
relação com a população local, recuperando o seu papel unificador, a arte posta a serviço do
homem.
Figura 14 - Escultura de Tune, Tapera, entre Feira de
Santana e São Gonçalo, Bahia, 20 de abril de 1988.
Figura 15 - Escultura do raso da Catarina, área da
reserva ecológica, entre os municípios de Jeremoabo
e Paulo Afonso – 16/11/1984
Essa relação intrínseca registrada em fotos como podemos observar na figura 12, reflete a
relação íntima do artista com as suas raízes regionais e mais ainda, a aproximação do publico
motivados pela curiosidade de desvendar a sua obra. Em algumas situações as crianças brincavam
com o seu trabalho interagindo em um jogo lúdico e simbólico proporcionando ao artista uma
satisfação catártica, motivando-o a expandir o seu projeto nas regiões mais extremas do sertão
baiano.
5
Arte povera ou arte pobre é um movimento artístico que se desenvolveu originalmente na segunda metade da década
de 1960 na Itália. Os seus adeptos utilizam materiais de pintura (ou outras expressões plásticas) não convencionais,
como por exemplo: areia, madeira, sacos, jornais, cordas, terra e trapos) com o intuito de "empobrecer" a obra de arte,
reduzindo os seus artifícios e eliminar as barreiras entre a Arte e o quotidiano das sociedades.
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Figura 16 – Escultura em São Gonçalo - 1992
Em 1988, o Projeto Terra foi escolhido para representar o Brasil, juntamente com os
trabalhos do paulista José Resende, na 43° Bienal de Veneza. Participou ainda da 19 Bienal
Internacional de São Paulo e da 3 Bienal de Havana e da mostra Pintura e Escultura do Nordeste
do Brasil, em Lisboa. O Projeto Terra fez nome no sertão baiano, virou prosa nas violas e versos
nos cordéis, ultrapassou as barreiras do preconceito e da falta de apoio e fez acontecer revertendo o
sistema de circulação da obra de arte. Para homenagear o artista, a cidade de Feira de Santana
mantem um monumento oficial, em uma das praças mais importantes da cidade.
Figura 17 - Monumento “Caminhos de Feira de Santana - 1991.
O artista hoje é professor e chefe de departamento da UEFS (Universidade Estadual de Feira
de Santana), coordena diversos projetos e ainda da continuidade ao Projeto Terra.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Juraci Dórea, com o Projeto Terra, inovou a linguagem das artes plásticas na Bahia e no
nordeste nos anos 80 e 90. Esse projeto nasceu em pleno período da ditadura militar quando a arte e
a cultura estavam sob os olhos atentos da censura. Esse artista, através da linguagem de seu próprio
projeto, se enveredou para um nacionalismo e um regionalismo puramente conceitual, rompendo os
paradigmas da arte vigente da época.
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Completamente inovador em nosso Estado, ele rompeu os laços com as galerias e partiu para
uma exibição plástica direta com a sua origem regional se encontrando com o homem do campo.
Esse público, muitas vezes desprovido de uma educação básica de qualidade, muitos até nunca
haviam frequentado uma escola, e dificilmente teriam a oportunidade de conhecer as manifestações
de uma linguagem artística, um público carente de elevação intelectual, mas, com um olhar atento
movido pela sua sensibilidade sertaneja de observar e interagir.
Essa atitude inverteu o mecanismo tradicional da circulação de uma obra de arte vigente
dentro das grandes cidades, criando um itinerário novo e a sua arte nesse sentido, se transformou
em comunhão e despontou para uma relação direita com o público. Nessa relação prevaleceu o
verdadeiro sentido da arte pela arte.
REFERÊNCIAS
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ALMANDRADE. Do Moderno ao Contemporâneo. Revista da Bahia, Salvador, p. 17, abr. 2005.
AYALA, Walmir. Dicionário Brasileiro de artistas plásticos – Brasília, Instituto Nacional do Livro
– 1977.
BRITO, Reynivaldo. + 100 artistas plásticos da Bahia, Salvador - prova do artista – 2001.
DÓREA, Juraci. Projeto Terra: Canção n°07/ Fotos Juraci Dórea e texto de vários autores. – 1985.
COELHO, Ceres Pisani Santos. Artes Plásticas. Movimento Moderno na Bahia. Salvador:
Universidade Federal da Bahia, 1973 (Tese para concurso de professor assistente Do Departamento
I da Escola de Belas Artes).
FREIRE, Cristina. Arte Conceitual. Rio de Janeiro, Jorge Zahar. Ed. 2006
MORAIS, Frederico. A Arte Popular e Sertaneja de Juraci Dórea. Ed. Semiótica Visual, 1987.
TODERO, Luiz Ney. De Canudos a Veneza: o projeto terra do artista plástico Juraci Dórea. 2003.
186 f. Dissertação (Mestrado em Artes Visuais) – Escola de Belas Artes, Universidade Federal da
Bahia, Salvador.
DÓREA, Juraci. Projeto Terra: Breve Notícia – Disponível em:
http://www1.uefs.br/nes/juracidorea/publicacoes/projetoterra_brevenoticia.pdf