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Morte, espanto e metafísica em Schopenhauer

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Abstract

No capítulo 17 do Tomo II De O mundo como vontade e representação, intitulado Sobre a necessidade metafísica da humanidade, Schopenhauer retoma uma ideia aristotélica segundo a qual apenas o humano se espanta com a sua existência e é devido ao espanto que nasce a filosofia. E arremata essa ideia dizendo que esse espanto seria intensificado na “consciência em face da morte, ao lado da finitude de toda a existência” (W II, 2015, p. 195), o que evidenciaria uma “necessidade metafísica” que permitiria sustentar que o ser humano é um “animal metafísico”. A partir dessa ideia geral, os objetivos da comunicação são: 1º. Apresentar a compreensão schopenhaueriana de metafísica como o “conhecimento que vai além da possibilidade da experiência” e sua relação com o papel que a consciência da morte desempenha na explicação do mundo que reconhece a insuficiência das explicações meramente físicas, materialistas ou científicas; 2º. Mostrar a especificidade das compreensões filosóficas e religiosas da necessidade metafísica do ser humano: enquanto a religião fornece uma explicação alegórica, não apresentando as razões que sustentam as suas afirmações, por sua vez a filosofia apenas se contenta com explicações cujas razões sejam claramente apresentadas e passíveis de refutação; 3º. Estabelecer um paralelo entre a compreensão schopenhaueriana da morte, expressa no capítulo 8, do Tomo II de Parerga e Paralipomena, intitulado Sobre a doutrina da indestrutibilidade de nosso ser verdadeiro pela morte, e a compreensão expressa por Tolstói em A morte de Ivan Ilitch, dando estaque para o “reconhecimento” do personagem ao final do livro: como indivíduos, terminamos com a morte, mas tendo em vista que o individual não constitui nossa verdadeira essência, então, após a morte, seremos “nada” e “tudo’”.
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Filosofia, Vida e Morte
Marcos Balieiro, Mariana Dias Pinheiro Santos, Rodrigo Matos da Silva
Gonçalves, Renata Dias Ribeiro, Mariana Lins Costa, Allan Wolney Mesquita
Santos e Camila Moura de Carvalho (Org.)
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Capa: Mariana Dias Pinheiro Santos
Edição e diagramação: Mariana Dias Pinheiro Santos
Revisão: Rodrigo Matos da Silva Gonçalves, Mariana Dias Pinheiro Santos, e Marcos Balieiro.
Organização: Marcos Balieiro, Mariana Dias Pinheiro Santos, Rodrigo Matos da Silva Gonçalves, Renata
Dias Ribeiro, Mariana Lins Costa, Allan Wolney Mesquita Santos e Camila Moura de Carvalho.
Conselho Editorial Prometheus Filosofia Revista: Dr. Aldo Dinucci, Brasil (UFS) (editor chefe), Dr.
Marcos Antonio da Silva (UNIVASF) (editor chefe), Dra. Rachel Gazolla (Faculdade de Filosofia São
Bento/ SP), Dra. Juliana Aggio (UFBA), Dra. Irley Franco (PUC/RJ), Dra. Gislene Vale dos Santos
(UFBA), Dra. Taynam Bueno (UFAL), Dra. Mariana Condé (Pedro II/RJ), Dr. Marcos Silva (UFPE), Dr.
Evaldo Becker (UFS), Dr. Marcos Balieiro (UFS), Dr. Arthur Eduardo Grupillo Chagas (UFS), Dr.
Christian Lindberg Lopes do Nascimento (UFS).
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Sumário
Apresentação ............................................................................................................................................................ 6
Metafísica como expressão do sentimento vital Allan Wolney Mesquita Santos .................................................. 7
Com quantas vidas se faz um Estado?: Uma investigação sobre a construção do Estado hobbesiano Camila Moura
de Carvalho ............................................................................................................................................................ 15
Como morre um filósofo? O caso David Hume Marcos Balieiro ........................................................................ 26
Um ensaio hobbesiano sobre a imaginação e a loucura Mariana Dias Pinheiro Santos ....................................... 36
Reflexão sobre o sacrifício Mariana Lins Costa .................................................................................................. 47
O sentido de genocídio e suas tecnologias estruturantes do racismo no Brasil Renata Dias Ribeiro e Débora Barreto
Costa Lima ............................................................................................................................................................ 59
A morte nos lábios: Musônio Rufo desafiando a morte contra Nero em Gyaros Aldo Lopes Dinucci e Vanessa
Cordeiro ................................................................................................................................................................. 71
A infinitude da vida na poética das ruínas na estética de Umberto Eco Alexandre José Arantes......................... 80
Pode a morte ser um mal? André Luiz Lima Cardoso ......................................................................................... 89
Vida e morte para além do antropocentrismo: uma visão do excesso Bárbara de Barros Fonseca .................... 103
O parentesco entre Hypnos e Thanatos na Apologia de Sócrates e algumas inovações platônicas acerca da morte
Bianca Vilhena C. Pereira .................................................................................................................................... 116
O exercício de meditação sobre a morte no ensaio Que filosofar é aprender a morrer de Montaigne Bruno Alonso
............................................................................................................................................................................. 131
Morte, espanto e metafísica em Schopenhauer Camila Gomes Weber .............................................................. 147
Nietzsche e a finitude em O Nascimento da Tragédia Cléberton Luiz Gomes Barboza .................................... 157
A concepção de ser para a morte de Heidegger a partir do filme “O Sétimo Selo” de Ingmar Bergman Daniel Peres
Santos ................................................................................................................................................................... 172
Uma exposição sobre a morte em Emil M. Cioran Diego Andrade Nascimento ............................................... 192
A morte nas imagens e a elaboração do luto nos ensaios fotográficos de André Penteado Diego Benevides
Nogueira e Marcelo Dídimo ................................................................................................................................. 204
5
Um artista da fome e o Mito de Sísifo: Possível Interseccionalidade entre as obras Érico Augusto Barreto Monteiro
e Priscila Navas .................................................................................................................................................... 220
Algumas considerações nietzschianas sobre vida e morte Felipe dos Santos Faria ........................................... 232
Vida e morte na constituição do pensamento freudiano: das vivências de dor e perda à proposição do dualismo
pulsional Gabriel Crespo Soares Elias ............................................................................................................... 242
Morte como autocompreensão do humano na antropologia filosófica de Eugen Fink José Fernandes Weber... 256
Ser-para-a-morte como Ser-para-a-vida em Heidegger: Contribuições para uma realidade pandêmica José
Reinaldo F. Martins Filho..................................................................................................................................... 265
Vida e Morte no Eterno Retorno nietzschiano Laurici V Gomes....................................................................... 274
A sombra da Morte (em uma perspectiva peirceana) Lethícia Pinheiro Angelim .............................................. 286
Cemitérios oitocentistas: a experiência romântica na vivência da morte Marcelina das Graças de Almeida ..... 297
Ser-para-a-morte, cemitérios e o sentido do habitar Margarete de Medeiros Aduque e Reneé Stiv Costa de Oliveira
............................................................................................................................................................................. 311
Melancolia, afirmação e negação da Vontade de vida: uma interpretação do filme de Lars von Trier a partir da
filosofia de Schopenhauer Matheus Silva Freitas .............................................................................................. 321
Os pharmakoí para o bem viver Mauro J. S, dos Reis Araujo ........................................................................... 331
Walden: cultivando feijões e filosofando Paulo Junior Batista Lauxen ............................................................. 345
O conceito de filosofia como preparação para a morte no diálogo Fédon de Platão Rafaella Silveira Sucupira da
Costa .................................................................................................................................................................... 359
A Necropolítica como Política de Morte dos Corpos Negros no Contexto Neoliberal Rogério Luís da Rocha Seixas
............................................................................................................................................................................. 370
O espectro “necro” da biopolítica: do biopoder à tanatopolítica Sergio Fernando Maciel Corrêa ..................... 379
El fenómeno de la muerte como indicativo de vida y creación en Ortega y Gasset Sergio González Araneda .. 391
A imortalidade em Górgias Thatiane Santos Meneses ....................................................................................... 402
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Apresentação
O livro que o leitor tem em mãos é resultado de contribuições dos palestrantes da primeira edição
do Congresso Nacional Filosofia, Vida e Morte, ocorrida no período de 31 de agosto a 04 de setembro
2020. O evento, que se estendeu ao longo de uma semana, constituiu-se em um espaço bastante inclusivo,
no qual se discutiram temas que, ainda que nem sempre recebam tanta atenção, sempre tiveram sua
relevância reafirmada ao longo da história da filosofia: como se sabe, a determinação da melhor forma de
vida e, consequentemente, das formas adequadas de se preparar para a morte, tem se mostrado um
problema essencial para diferentes tradições filosóficas.
Isso fica bastante evidente quando observamos que a preocupação com esse tema orientou não somente
a filosofia de Sócrates e a de pensadores do período helenístico, mas também as filosofias que assimilaram
o helenismo, seja de matriz judaica ou cristã seja de matriz islâmica, como se pode verificar pela presença
da noção de filosofia como modo de vida em Agostinho e Averróis, dentre outros. Já na modernidade, não
são poucos os autores que, a exemplo de Hume ou Diderot, dedicam parte considerável de seus esforços
a mostrar que a filosofia, quando bem realizada, pode interferir de maneira frutífera no mundo da vida,
não estando restrita, portanto, ao âmbito meramente especulativo. Pensadores contemporâneos, é claro,
também observaram a necessidade de tratar das maneiras como a filosofia poderia contribuir para orientar
nossas concepções sobre a vida prática e sobre a morte. Como se sabe, isso ocorreu por vias tão distintas
quanto o existencialismo de Kierkegaard, as reflexões de Hannah Arendt, as discussões de filósofos
analíticos acerca de problemas como a consciência e a possibilidade da existência de um Deus e,
recentemente, as considerações de Achille Mbembe sobre a necropolítica.
Como poderão atestar todos aqueles que participaram da primeira edição do Filosofia, Vida e
Morte, o evento se caracterizou tanto pela qualidade das apresentações quanto pelo clima bastante caloroso
com que os trabalhos foram conduzidos. Esse é um aspecto que vale a pena ressaltar, não apenas pelo fato
de o Congresso (e, também, este livro) ter ocorrido em meio a uma pandemia que teve efeitos devastadores,
particularmente em terras brasileiras: o trato caloroso entre os participantes foi essencial para que fossem
empreendidos, de maneira respeitosa, mas brutalmente honesta, debates sobre temas que, como se sabe,
podem ser bastante perturbadores. Esperamos, então, que este livro seja visto não apenas como um
apanhado de bons textos sobre temas que guardam certa afinidade temática, ou apenas como anais de um
evento acadêmico, mas também, como um gesto de agradecimento afetuoso a todos os palestrantes e, é
claro, a todos os que prestigiaram as discussões que tivemos naquela semana de 2020.
A Comissão Organizadora
Aracaju, 10 de novembro de 2021
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Morte, espanto e metafísica em Schopenhauer
Camila Gomes Weber
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Resumo: No capítulo 17 do Tomo II De O mundo como vontade e representação, intitulado Sobre a
necessidade metafísica da humanidade, Schopenhauer retoma uma ideia aristotélica segundo a qual
apenas o humano se espanta com a sua existência e é devido ao espanto que nasce a filosofia. E arremata
essa ideia dizendo que esse espanto seria intensificado na “consciência em face da morte, ao lado da
finitude de toda a existência” (WII, 2015, p. 195), o que evidenciaria uma “necessidade metafísica” que
permitiria sustentar que o ser humano é um “animal metafísico”. A partir dessa ideia geral, os objetivos
da comunicação são: 1º. Apresentar a compreensão schopenhaueriana de metafísica como o
“conhecimento que vai além da possibilidade da experiência” e sua relação com o papel que a consciência
da morte desempenha na explicação do mundo que reconhece a insuficiência das explicações meramente
físicas, materialistas ou científicas; 2º. Mostrar a especificidade das compreensões filosóficas e religiosas
da necessidade metafísica do ser humano: enquanto a religião fornece uma explicação alegórica, não
apresentando as razões que sustentam as suas afirmações, a filosofia, por sua vez, apenas se contenta com
explicações cujas razões sejam claramente apresentadas e passíveis de refutação; 3º. Estabelecer um
paralelo entre a compreensão schopenhaueriana da morte, expressa no capítulo 8, do Tomo II de Parerga
e Paralipomena, intitulado Sobre a doutrina da indestrutibilidade de nosso ser verdadeiro pela morte, e
a compreensão expressa por Tolstoi em A morte de Ivan Ilitch, dando destaque para o “reconhecimento”
do personagem ao final do livro: como indivíduos, terminamos com a morte, mas tendo em vista que o
individual não constitui nossa verdadeira essência, então, após a morte, seremos “nada” e “tudo’”.
Palavras-chave: Schopenhauer, morte, espanto, filosofia, religião.
Death, amazement and metaphysics in Schopenhauer
Abstract: In Chapter 17 of Volume II Of The World as Will and Representation, entitled On the
Metaphysical Need of Humanity, Schopenhauer takes up an Aristotelian idea according to which only the
human is astonished by his existence and it is because of the astonishment that philosophy is born. And
he ends this idea by saying that this amazement would be intensified in the "consciousness in the face of
death, alongside the finitude of all existence" (WII, 2015, p. 195), which would highlight a "metaphysical
need" that would allow us to maintain that the human being is a "metaphysical animal". From this general
idea, the objectives of communication are: 1. To present the Schopenhauerian understanding of
metaphysics as the "knowledge that goes beyond the possibility of experience" and its relation to the role
that the consciousness of death plays in the explanation of the world that recognizes the insufficiency of
merely physical, materialistic or scientific explanations; 2º. To show the specificity of philosophical and
religious understandings of the human being's metaphysical need: while religion provides an allegorical
explanation, not presenting the reasons that support its affirmations, philosophy is only content with
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Mestranda em Filosofia na área de Conhecimento e Subjetividade pela Universidade Estadual de Londrina, sob orientação
do professor doutor Aguinaldo Pavão. Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, CAPES. E-
mail para contato: camilagweber@gmail.com
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explanations whose reasons are clearly presented and refutable; 3º. To draw a parallel between the
Schopenhauerian understanding of death, expressed in chapter 8, of Volume II of Parerga and
Paralipomena, entitled On the doctrine of the indestructibility of our true being through death, and the
understanding expressed by Tolstoi in The Death of Ivan Ilitch, giving ground for the "recognition" of the
character at the end of the book: as individuals we end up with death, but considering that the individual
does not constitute our true essence, then, after death, we will be "nothing" and "everything".
Keywords: Schopenhauer, death, amazement, philosophy, religion.
1 INTRODUÇÃO
As obras de Schopenhauer utilizadas como referência central para o texto são: o capítulo 17 do
Tomo II de O mundo como vontade e representação, intitulado “Sobre a necessidade metafísica do ser
humano” (Editora UNESP, tradução de Jair Barbosa); e também o capítulo 8, do Tomo II de Parerga e
Paralipomena, intitulado Sobre a doutrina da indestrutibilidade de nosso ser verdadeiro pela morte e o
capítulo 15 da mesma obra, intitulado “Sobre a religião”, publicado em português no volume Sobre a
Ética, traduzido por Flammarion Cadeira Ramos. Neste último texto, apresentado em sua primeira parte
como um diálogo entre Demófilo e Filateto, Schopenhauer aprofunda a oposição entre religião e filosofia
apresentada no primeiro, tendo em vista, tanto a especificidade de cada uma, quanto a irreconciliável
oposição entre ambas, decorrente do modo como respondem ao problema metafísico sobre o sentido da
existência, do mundo.
2 DO ESPANTO
Em meio às peripécias cômicas de João Grilo e Chicó, em O auto da compadecida, de Ariano
Suassuna, um momento em que surge, como que num ponto de suspensão da comicidade, uma
passagem com um tom altamente solene, grave, metafísico diríamos, em que Chicó, famoso pelas suas
mentiras, sempre arrematadas com um “não sei, só sei que foi assim”, põe-se a filosofar, como dizemos
corriqueiramente. Diz ele:
João! João! Morreu! Ai meu Deus, morreu pobre de João Grilo! Tão amarelo, tão safado
e morrer assim! Que é que eu faço no mundo sem o João? João! João! Não tem mais jeito,
João Grilo morreu. Acabou-se o Grilo mais inteligente do mundo. Cumpriu sua sentença
e encontrou-te com o único mal irremediável, aquilo que é a marca de nosso estranho
destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num
rebanho de condenados, porque tudo o que é vivo morre. Que posso fazer agora?
(SUASSUNA, 2018, p. 127)
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Se para morrer basta estar vivo, estar vivo, contudo, ainda não é suficiente para compreender o
que seja isso de viver, tampouco de morrer. De início diríamos que, na melhor das hipóteses, o fenômeno
da morte evidencia uma opacidade na qual, junto ao reconhecimento da impossibilidade de uma definição
formal (“fato sem explicação”, nas palavras de Chicó), transborda a afecção de quem, ou sabe que morrerá
em breve, ou recebeu a notícia da morte de alguém que ama. Frente à morte, o que perdemos em
compreensão explicativa-formal ganhamos em afecções, a tal ponto de “nos perdermos” em tais afecções.
Um exemplo de incontestável grandeza desta disjunção, que é, por um lado, não poder compreender e
explicar, e por outro, ser tomado por sensações, sentimentos e afecções, é apresentado por Tolstói no início
do capítulo VI de A morte de Ivan Ilitch, em que o narrador magistralmente diz:
Ivan Ilitch via que estava morrendo, e o desespero não o largava mais. Sabia, no fundo da
alma, que estava morrendo, mas não só não se acostumara a isto, como simplesmente não
o compreendia, não podia de modo algum compreendê-lo. O exemplo do silogismo que
ele aprendera na Lógica de Kiesewetter: Caio é um homem, os homens são mortais, logo
Caio é mortal, parecera-lhe, durante toda a sua vida, correto somente em relação a Caio,
mas de modo algum em relação a ele. Tratava-se de Caio-homem, um homem em geral,
e neste caso era absolutamente justo; mas ele não era Caio, não era um homem em geral,
sempre fora um ser completa e absolutamente distinto dos demais; ele era Vânia, com
mamãe, com papai, com Mítia e Volódia, com os brinquedos, o cocheiro, a babá, depois
com Kátienka, com todas as alegrias, tristezas e entusiasmos da infância, da juventude, da
mocidade. Existiu porventura para Caio aquele cheiro da pequena bola de couro listrada,
de que Vânia gostara tanto?! Porventura Caio beijava daquela maneira a mão da mãe,
acaso farfalhou para ele, daquela maneira, a seda das dobras do vestido da mãe? Fizera
um dia tanto estardalhaço na Faculdade de Direito, por causa de uns pirojki? Estivera Caio
assim apaixonado? E era capaz de conduzir assim uma sessão de tribunal? E Caio é
realmente mortal, e está certo que ele morra, mas quanto a mim, Vânia, Ivan Ilitch, com
todos os meus sentimentos e ideias, aí o caso é bem outro. E não pode ser que eu tenha de
morrer. Seria demasiadamente terrível. Era assim que ele sentia. ‘Se eu tivesse que morrer,
que nem Caio, bem que eu o saberia, a minha voz interior haveria de dizê-lo, mas nada
disso ocorreu em mim; tanto eu como todos os meus amigos compreendemos que isso é
bem diferente do que sucedeu a Caio. E eis o que acontece agora! dizia em seu íntimo.
Não pode ser. Não pode ser, mas é. O que então? Como compreender isso?’
(TOLSTÓI, 2006. P, 49 e 50)
Parece natural que, não apenas o exemplo formal da morte de Caio expresso no silogismo (Caio-
Homem, homem em geral), mas a própria morte de Caio, do indivíduo Caio (caso se tratasse disso), não
me diga nada, porque é um exemplo formal, mero exercício do raciocínio, portanto, não me afeta, ou
porque Caio, enquanto indivíduo, não me diz nada, pois eu sequer sabia de sua existência antes da notícia
do seu “passamento”, portanto, também não me afeta. Contudo, se o caso é o da minha morte ou também
da morte de quem amo, ou outrem cuja morte por algum motivo me toca, então, tudo se transforma, e o
mundo se converte num opaco tecido que impede a clara visão compreensiva.
150
O reconhecimento da morte, ou como queria Schopenhauer, a consciência da morte, instaura o
ponto de tensionamento mais agudo e radical da existência, aquele no qual “o mundo e a existência são
um problema, do qual até mesmo o indivíduo mais tosco e limitado em alguns instantes lúcidos, torna-se
vividamente consciente” (W II, 2015, p. 208). Assim, a morte é o ponto de tensionamento mais radical de
irrupção da consciência justamente porque leva a perceber que o mundo não é um estado de coisas
objetivo, que a permanência no espaço e no tempo é meramente ilusória, sendo a impermanência e a
transitoriedade as marcas distintivas de tudo aquilo que adentrou ao âmbito da individuação. A instauração
da consciência da morte é um raio iluminador, quase sempre passageiro, a partir da qual surge uma lucidez
fugaz que leva cada qual a reconhecer que o sentido do mundo é da ordem do problemático. Estando
inscrita na natureza humana (a consciência da morte), ela não está disponível apenas aos filósofos, sendo
então, assunto de toda a humanidade, até dos mais “toscos e limitados”, como Schopenhauer ressalta no
seu estilo pouco polido, mas nem por isso menos certeiro. É justamente essa partilha universal do espanto
frente à morte “que mantém em movimento o relógio que nunca para da metafísica” (W II, 2015, p. 208).
Ou seja, em algum momento da vida, todo e qualquer indivíduo, do mais inepto ao mais erudito, terá
percepção de si próprio, defrontar-secom o reconhecimento da finitude, da mortalidade e se assustará
com isso. Surgirá o espanto, o grande pasmo por se reconhecer como um existente que necessariamente
terá que deixar de ser.
Ao afirmar que: “Nenhum ser, excetuando-se o humano, espanta-se com a própria existência”
(W II, 2015, p. 195), Schopenhauer identifica o traço diferencial do ser humano como sendo, não o da
racionalidade, mas o do se espantar frente à morte. Ou seja, o ponto alto de toda a aflição do espanto de
si, do espanto de existir, é perceber no âmago do seu tormento, que está face a face com a morte, tendo
consciência da sua finitude. É a partir desta reflexão que identifica o espanto como aquilo que flui
propriamente do mais íntimo do ser humano, que Schopenhauer identifica a NECESSIDADE de uma
metafísica no ser humano, o que o leva a definir o humano como o “animal metaphysicum” (W II, 2015,
p. 195).
3 DA METAFÍSICA
A busca por respostas ao enigma da existência atesta uma intrínseca disposição de
questionamento. Embora o espanto seja potencializado frente à consciência da morte, contudo, ele também
pode emergir a partir de tudo o que é, para nós, corriqueiro e habitual em nossa existência, que é marcada
pelo medo, pela penúria e pela dor. Se nossa existência não fosse marcada pelo sofrimento ou pela dor,
151
talvez jamais chegássemos a filosofar, pois, a pressão resultante da necessidade não se abateria sobre nós.
Contudo, como o traço característico da nossa existência é a incompletude e a falta, forma-se uma união
indissociável entre a grande questão metafísica, a questão metafísica extrema (que é a MORTE) e questões
com uma densidade metafísica menos abrangente, embora cruciais e lancinantes, como o sofrimento,
pobreza e angústia, a ponto de Schopenhauer vinculá-las numa passagem em que afirma: “os indivíduos
dançam de mãos dadas com a morte entre o medo, a penúria e a dor. Por isso, perguntam incansavelmente
o que acontece com eles e o que pode significar toda essa farsa tragicômica, e invocam o céu esperando
uma resposta” (P II, 2012, p. 236).
Eis que somos, então, aqueles que querem saber o porquê. Não nos é suficiente reconhecer o que
há, e isso simplesmente porque, o que há, o mundo, a existência, passa-se em meio ao sofrimento, e o fim
dessa “farsa tragicômica” chamada vida é a morte. Um breve levantamento dos adjetivos com os quais
Schopenhauer define a vida e o mundo pode ser bastante instrutivo para mostrar a razão pela qual é tão
importante frisar o vínculo entre a consciência da morte e a compressão schopenhaueriana da vida. Eis
uma pequena amostra do que pode ser encontrado em Parerga e no Tomo segundo de O Mundo,
principalmente, mas também no Tomo primeiro, embora em menor medida:
existência enquanto flagelo (2012, p. 149); Mundo como “lugar de penitência” e
“instituição penal” (Idem, p. 156); “[...] nossa vida como um episódio inutilmente
perturbador da ditosa paz do nada” (Idem, Ibidem); O mundo como “inferno” e os homens
como “[...] por um lado as almas atormentadas, por outro, os demônios” (Idem, p. 157);
[...] o grave pecado do mundo que ocasiona o múltiplo e grandioso sofrimento do mundo
(Idem, p. 159); os outros humanos como “[...] companheiros de infortúnio” (idem, p. 162);
A vida como “engodo constante” (2015, p. 683); A “[..] vida como um negócio que não
cobre os custos do investimento” (Idem, p. 684); Nossa condição como “[...] um estado
que seria melhor que não fosse” (Idem, p. 689); Existência como uma dívida contraída na
procriação e cujo transcurso serve apenas para pagar os juros, sendo a morte o pagamento
final do capital investido (Idem, p. 692). Todas estas passagens outras, embora o
ensinamento fundamental não varie expressam a ideia geral segundo a qual a existência
“[...] é um castigo e uma expiação” (Idem, Ibidem), pois, se “Um homem, ao fim de sua
vida, se fosse igualmente sincero e clarividente, talvez jamais a desejasse de novo, porém,
antes, preferiria a total não-existência” (2005, p. 417). Culpa, castigo, expiação e
sofrimento: tal vocabulário situa o problema do sentido metafísico do mundo, não mais
no âmbito físico, e sim, moral (WEBER, 2018, pp. 108-109).
Se perguntamos incansavelmente pelo sentido do que nos acontece, mas também pelo sentido de
um aparecer que está fadado a desaparecer é porque esta é a questão das questões, o que nos permitiria
sustentar, fazendo coro a Schopenhauer que:
Se há uma coisa digna de ser desejada no mundo, tão desejável que até mesmo a turba
tosca e grosseira em seus instantes de clareza e consciência iria valorizar mais que prata
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e ouro; essa coisa é um raio de luz que caia sobre a obscuridade do nosso existir e nos dê
um clareamento sobre esta enigmática existência, na qual nada é claro senão a miséria e
vaidade. (WII, 2015, p. 199).
3.1 DA FILOSOFIA E RELIGIÃO
A metafísica é, então, um traço constitutivo do humano, e o ser humano, um animal metafísico.
Mas, afinal, o que Schopenhauer entende por metafísica? Ele o diz: ela é conhecimento que vai mais
além da possibilidade da experiência [...], mais além da natureza” (W II, 2015, p. 200). Contudo, na mesma
passagem ele também afirma que “uma só metafísica não se pode bastar para todos” (W II, 2015, p. 200).
E isso o leva desmembrar a metafísica em dois tipos: Filosofia e Religião. Cada uma delas é ligada a uma
forma específica de tratar do problema, e em cada qual é evidenciada uma capacidade intelectiva
específica.
A primeira, chamada de “interior a si”, a filosofia, é a metafísica que, segundo ele, só é inteligível
a um grupo estreito de pessoas, uma vez que para seu entendimento é exigido “reflexão, formação, esforço
e juízo” (W II, 2015, p. 200) e o próprio desenvolvimento da filosofia supõe uma civilização mais
aprimorada, mais sutil, em que a humanidade já tenha se afastado da dependência da natureza. O ócio e o
tempo necessário para atividades filosóficas não seriam disponibilizados num estágio de civilização
rudimentar. Schopenhauer define essa filosofia como doutrina da persuasão, tendo ela o ônus de apresentar
apenas a verdade, basear-se em argumentos e não contar com nenhuma autoridade externa ou sobrenatural
a chancelar suas demonstrações.
O segundo tipo, denominado de “exterior a si”, é chamado por Schopenhauer de metafísica do
povo, também intitulada de religião, pois ela é fundamentada através de signos e milagres para que assim
possa chegar ao entendimento da maior parte das pessoas que estão fadadas à incapacidade de pensar,
sobrando-lhe a elas apenas a capacidade de crer, vedando-lhes a possibilidade de apreender “as mais
profundas e difíceis verdades sensu próprio” (W II, 2015, p, 202). Por essa razão, ele qualifica a religião
como doutrina de fé, destacando no seu procedimento explicativo a apresentação da verdade apenas sensu
allegorico, ou seja, por alegorias, metáforas, parábolas, pois, caso a verdade aparecesse diante dos olhos
da grande massa sem os enfeites emprestados pela alegoria ela não seria compreendida, ou ainda, não seria
aceita.
Entretanto, para que seus dogmas se tornem acessíveis a essa multidão pouco esclarecida, a
religião tem a necessidade de incorporar certas absurdidades, como elementos fundamentais e não
meramente secundários: “Essa natureza alegórica das religiões isenta-as das demonstrações e em geral dos
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testes [...] em lugar disto exigem fé, isto é, uma livre aceitação de que as coisas são assim porque são
assim” (W II, 2015, p, 203).
Embora a religião tenha essa característica pouco rigorosa quanto à demonstração dos seus
postulados, ela acalenta a necessidade metafísica das pessoas em geral, tendo em vista que ela testemunha
a busca por respostas, como dito no início do texto, que em algum momento todos farão. “A religião é a
maneira de tornar acessível e fazer sentir o elevado significado da vida ao sentimento grosseiro e ao
acanhado entendimento da massa” (P II, 2012, p, 188). Ela exterioriza, mesmo que por natureza alegórica,
seu valor e sua indispensabilidade, dado que seu papel crucial, do ponto de vista do Schopenhauer, é a
elevação do ser acima de si próprio.
Schopenhauer afirma que quando a religião é colocada no âmbito da explicação sensu próprio,
ela se torna digna de revolta. Um exemplo disso é a forma como na doutrina cristã é apresentada a
compreensão da graça e da salvação, de acordo com o qual:
A depravada, e por isso votada à danação eterna, massa da espécie humana, somente
pouquíssimos, e de fato em consequência da eleição da graça e da predestinação, se
acharão justificados e serão abençoados, o restante, porém, encontrará a merecida ruína,
portanto o eterno tormento do inferno (P II, 2012, p. 240).
Ora, tudo isso, então, deveria ter sido previsto pelo deus cristão, que, além de não ter criado um
ser humano melhor, pois deus sendo deus, teria esse poder, ainda lhes preparou uma cilada na qual todos
cairiam. Deus então lançou “do nada à existência uma espécie fraca e sujeita ao pecado para então entregá-
la ao tormento infinito” (P II, 2012, p. 241), este mesmo deus que dá a chance de perdão por toda a culpa
e até amor pelo inimigo, mas não o exercita e ainda diz o contrário, que no fim das coisas, quando tudo se
findar, não mais possibilidade de melhora. Tudo isso, para Schopenhauer, é mera vingança, pois “é
como se o bom deus tivesse criado o mundo para que o diabo o carregasse” (P II, 2012, p. 241).
Isso é o que acontece quando os dogmas são interpretados ao da letra, como sensu próprio,
pois, se são compreendidos com o véu da alegoria, sensu allegorico, então as suas interpretações ainda
são satisfatórias. A esse respeito, é possível concluir que, para evitar tais contradições, o mais sensato seria
que a religião reconhecesse sua natureza alegórica. Restaria saber como os crentes se posicionariam frente
a uma explicação que reconhece ser verdadeira apenas alegoricamente. Quem levaria a religião a sério?
Por fim, cabe destacar, no que tange a religião, que Schopenhauer: a) Reconhece a sua importante
tarefa de ser o único meio de “apaziguamento e consolo na vida e na morte” (P II, 2012, p. 188) da grande
massa, acalentando, portanto, o medo e a esperança dos que vivem em constante carência, tendo em vista
154
que ela oferece mentiras confortáveis ao invés de verdades dolorosas; b) Critica-as quando transgridem a
fronteira da explicação alegórica e pretendem sustentar como verdade de fato o que é apenas alegoria;
Contudo, um último aspecto que merece ser destacado muito brevemente aqui, e que diz
respeito a uma certa afinidade de princípio entre a compreensão do mundo, da vida, da morte e do que
seria a vida pós-morte de Schopenhauer e do cristianismo tal qual Schopenhauer o compreende. Em seu
ensaio “Sobre a religião” ele afirma que “A fé conduz a ação [...] justamente para lá onde a verdade sensu
próprio também conduziria” (P II, 2012, p. 203). Também diz que “A religião ensina a buscar a salvação
eterna em vez da temporal” (P II, 2012, p. 223); que para o cristianismo, “O mundo não é mais um fim
em si, mas um meio: o reino da paz eterna se encontra além do mundo e da morte. Renúncia neste e
orientação de toda esperança a um mundo melhor constitui todo o espírito do cristianismo” (P II, 2012, p.
260). E por fim, afirma que “O interesse que desperta um sistema filosófico, ou religioso, tem seu mais
forte ponto de atenção absolutamente no dogma de perduração após a morte” (W II, 2015, p. 196). Embora
fosse necessário explorar todas as diferenças que se seguem às identificações, ainda assim, parece ser
possível sustentar que: a) a denúncia da inconsistência de tudo o que é temporal, em outras palavras, tudo
o que entrou na ordem do espaço e do tempo desaparece; b) a identificação do mundo como meio para a
negação da vontade; c) a prática da renúncia e da ascese enquanto negação da vontade; d) o
reconhecimento de que a morte consiste apenas na dissolução do nosso ser fenomênico, todas estas ideias
consistem em dogmas do cristianismo, mas também configuram componentes centrais da ética
schopenhaueriana, tal como desenvolvidas no livro IV de O mundo.
4 DA MORTE
Nos perguntamos sobre a continuação da vida após a morte. Schopenhauer afirma: “Seja lá o que
for que tu serás depois da morte mesmo que seja nada será tão natural e apropriado como é para ti
agora tua existência orgânica individual; por isso, tu terias no máximo o momento da transição para temer”
(P II, 2012, p. 118). O ser humano é o único ser capaz de perceber o momento de transição entre a vida e
a morte e então espanta-se com a finitude. Embora Schopenhauer sustente o caráter infernal e demoníaco
da vida, ainda assim, tendo em vista que a vontade, que é vontade de viver, é a essência mais íntima do
homem, é natural o temor pelo fim.
Além disso, distingue no humano, o caráter inteligível, o caráter empírico e o adquirido. Tendo
em vista que nosso caráter inteligível é “Um ato extratemporal, indivisível e imutável da vontade” (W II,
2005, p. 375), ele não é afetado com a morte, pois a morte toca apenas o que é fenomênico. Em seu ensaio
155
“Sobre a religião” ele afirma: “A morte pode até pôr um fim em sua vida, mas não em sua existência" (P
II, 2012, p. 121); ou ainda: “Depois de tua morte tu serás aquilo que já eras antes do nascimento” (P II,
2012, p. 118). O título do capítulo 41 do segundo tomo de O mundo é enfático quanto a isso: Sobre a
morte e sua relação com a indestrutibilidade de nosso ser em si. Também o capítulo 10 do segundo tomo
de Parerga, intitulado Sobre a doutrina da indestrutibilidade de nosso ser verdadeiro pela morte, atesta
que, para Schopenhauer, a morte não afeta nosso ser, apenas atinge seu fenômeno.
Ivan Ilitch, nos seus últimos momentos de vida, perde então o medo da morte e vê a luz, pois ele
percebe que, como indivíduos, terminamos com a morte, mas tendo em vista que o individual não constitui
nossa verdadeira essência, então, após a morte, seremos “nada” e “tudo”.
E de repente, percebeu com clareza que aquilo que o atormentara e não o deixava, estava
de repente saindo de uma vez, de ambos os lados, de dez lados, de todos os lados. Eles
dão pena, é preciso fazer com que não sofram. Libertá-los e libertar a si mesmo desses
tormentos. ‘Como é bom e como é simples pensou. E a dor? perguntou em seu
íntimo. Para onde foi? Eh, onde estás, minha dor?’ Prestou atenção. ‘Sim ei-la. Ora, e
então? Que seja a dor.’ ‘E a morte? Onde está?’ Procurou o seu habitual medo da morte e
não o encontrou. Onde ela está? Que morte? Não havia nenhum medo, porque também a
morte não existia. Em lugar da morte, havia luz. Então é isto! disse de repente em voz
alta. Que alegria! (TOLSTÓI, 2006. P, 75 e 76)
Safranski conta em sua biografia “Schopenhauer: os anos mais selvagens da filosofia” que, alguns
dias antes da morte de Schopenhauer, Gwinner, um amigo que lhe fora fazer uma visita, quando se
levantou para ir embora, teria ouvido as seguintes palavras do velho enfermo: “Seria para mim uma benção
chegar ao Nada Absoluto, mas infelizmente, a morte não me abre essa perspectiva. Contudo, seja como
for, gozo ao menos de uma ‘consciência intelectual limpa...’” (SAFRANSKI, 2011. p. 646)
O que seria pior: desaparecer no Nada absoluto; permanecer na eternidade afundado na
indiferenciação resultante da incorporação ao princípio de onde tudo parte; arder para sempre no fogo do
inferno; manter meu ser sem contudo manter a consciência que embora não seja meu ser, ao menos me
traz à lembrança de mim a mim mesmo? Que sortilégios ainda temos que inventar para ao menos tocar,
de um modo um pouco mais certeiro, todas estas questões que nos tiram o sono e nos fazem pensar, hoje
como sempre?
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
HORKHEIMER, Max. “O pensamento de Schopenhauer em relação à ciência e à religião”. In: Cadernos
de filosofia alemã, n. 12, jul.-dez. 2018. pp. 115-128.
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RODRIGUES, Eli Vagner Francisco. Schopenhauer, niilismo e redenção. Campinas, SP: Editora Phi,
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SCHOPENHAUER, Arthur. Aforismos para a sabedoria de vida. Trad. Jair Barboza. São Paulo: Martins
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TOLSTÓI, Liev. A morte de Ivan Illitch. Trad. Boris Schnaiderman. São Paulo: Editora 34, 2006.
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do jovem Nietzsche”. In: Estudos Nietzsche, v. 9, n. 1, 2018. pp. 101-119.
WEBER, José Fernandes; PAVÃO, Aguinaldo; PRADO, Jorge Luis Palicer do; et all (Orgs.). A Tebas de
cem portões: estudos sobre Schopenhauer. São Paulo: Editora Recriar, 2020.
412
A primeira edição do Filosofia, Vida e Morte Congresso Nacional Online, se
constituiu em uma série de debates intensos e rigorosos sobre temas que,
apesar de sua relevância, nem sempre recebem a atenção merecida. Desse
modo, foi bastante natural a decisão de publicar, em formato de e-book,
trabalhos apresentados ao longo do evento. Todos os participantes puderam,
caso desejassem, submeter seus textos para que estivessem no livro. Nesse
sentido, pretendeu-se não apenas que o livro refletisse a qualidade e a
urgência dos temas discutidos no evento, mas, também, sua vocação
democrática e inclusiva.
O resultado desse trabalho, feito com muita competência e carinho, poderá
ser conferido às vésperas da segunda edição evento. O e-book com mais de
trinta textos em que vida e morte são discutidos em contextos tão diversos
quanto o helenismo, os pensamentos de autores modernos como Montaigne,
Hobbes e Hume, filosofias contemporâneas de matriz existencialista, filosofias
políticas contemporâneas e o impacto de temas como vida e morte em alunos
do ensino médio, entre vários outros. Em meio a toda essa variedade, o leitor
encontrará, em comum, um tratamento honesto, rigoroso e sensível dos temas
que permearam toda a primeira edição do evento.
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O artigo explora a alegação de Schopenhauer segundo a qual “toda a nossa existência é algo que seria melhor se não fosse, e que a suprema sabedoria [die größte Weisheit] consiste em negá-la e rejeitá-la”. Após o exame dessa tese, tento mostrar suas possíveis fragilidades. Embora nesse texto eu teça uma breve consideração sobre os Aforismos para a sabedoria de vida, dado que meu objetivo é a discussão sobre a suprema sabedoria e não sobre o sentido imanente de uma sabedoria de vida, deixo de lado a análise e discussão da eudemonologia exposta nos Parerga em benefício de uma mirada nos temas do pessimismo e da negação da vontade, claramente solidários com a ideia da suprema sabedoria apregoada por Schopenhauer na passagem acima citada. Faço isso porque não quero, pelo menos aqui, correr o risco de me desviar do ponto de vista superior, ético-metafísico, da filosofia de Schopenhauer.
Religião e crítica da religião na filosofia de Schopenhauer
  • Flamarion Ramos
  • Caldeira
RAMOS, Flamarion Caldeira. "Religião e crítica da religião na filosofia de Schopenhauer". In: REDYSON, David (Org.). Arthur Schopenhauer no Brasil. João Pessoa: Ideia, 2010. pp. 103-127.
Schopenhauer e os anos mais selvagens da filosofia -uma biografia
  • Rüdiger Safranski
SAFRANSKI, Rüdiger. Schopenhauer e os anos mais selvagens da filosofia -uma biografia. Trad. William Lagos. São Paulo: Geração Editorial, 2011.
Aforismos para a sabedoria de vida. Trad. Jair Barboza
  • Arthur Schopenhauer
SCHOPENHAUER, Arthur. Aforismos para a sabedoria de vida. Trad. Jair Barboza. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
Auto da compadecida"; ilustração Manuel Dantas Suassuna. -39
  • Ariano Suassuna
SUASSUNA, Ariano. "Auto da compadecida"; ilustração Manuel Dantas Suassuna. -39. Ed. -Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2018.
A morte de Ivan Illitch
  • Liev Tolstói
TOLSTÓI, Liev. A morte de Ivan Illitch. Trad. Boris Schnaiderman. São Paulo: Editora 34, 2006.
Mundo enquanto fenômeno estético ou problema moral? A teoria da tragédia do jovem Nietzsche
  • José Weber
  • Fernandes
WEBER, José Fernandes. "Mundo enquanto fenômeno estético ou problema moral? A teoria da tragédia do jovem Nietzsche". In: Estudos Nietzsche, v. 9, n. 1, 2018. pp. 101-119.