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O contraste lateral-rótico do português europeu e do chinês mandarim:
análise comparativa e estudos de PLE
汉语普通话以及欧洲葡萄牙语中的边音
-R
音对立:对比分析以及葡萄牙
语作为外语习得研究
Chao ZHOU
Resumo
A confusão entre a consoante lateral /l/ e a rótica simples /ɾ/ constitui uma das características mais percetíveis no
português falado por aprendentes chineses. A investigação acerca da origem desta dificuldade parte naturalmente
de uma comparação entre os inventários segmentais das duas línguas. O presente capítulo pretende fornecer uma
revisão sistemática da fonética e da fonologia do contraste Lateral-Rótico no português europeu e no chinês
mandarim. Para além disso, vários tipos de análise comparativa no contexto da aquisição fonológica são discutidos
à luz dos resultados experimentais de estudos recentes que exploraram este tópico.
Palavras-chave: português europeu, chinês mandarim, consoante líquida, aquisição fonológica de L2
摘要
区分葡萄牙语中的齿龈边音/l/与齿龈闪音/ɾ/是中国学生所面临的最棘手的问题之一。鉴于此类二语语音
习得研究通常始于对比分析学习者母语同目标语的语音系统,本章节系统介绍了边音同 R音在欧洲葡萄
牙语以及汉语普通话中的语音、音系特点;同时,根据最新实验研究结果讨论了多种适用于外语语音习
得研究的对比分析方法。
关键词
:欧洲葡萄牙语,汉语普通话,流音,二语语音习得
1 Introdução.
A intensificação das relações económicas, políticas e culturais entre a China e os países
lusófonos tem incentivado, de uma forma sem precedentes, a procura da aprendizagem do
português por alunos chineses. A fim de obter uma competência comunicativa adequada, é
indispensável dominar as diversas componentes gramaticais do português; destes o fonético-
fonológico é o que provavelmente coloca os maiores desafios aos aprendentes chineses, que
poderão reter um “sotaque” não nativo mesmo após vários anos de aprendizagem.
Uma das caraterísticas mais percetíveis no português articulado pelos aprendentes
chineses são as trocas associadas às consoantes líquidas, nomeadamente /l/ e /ɾ/ (Batalha, 1995;
Martins, 2008; Zhou, 2017; Lin, 2018; Vale, 2020; Zhou & Hamann, 2020; Zhou, 2021). A
investigação desta dificuldade enfrentada pelos alunos chineses, que contribui não apenas para
uma compreensão mais profunda do processo da aquisição da língua não materna em geral,
mas também para o desenvolvimento dos materiais pedagógicos para o ensino do português a
falantes não nativos (e.g. Zhou & Castelo, 2018), parte naturalmente de uma comparação entre
os inventários segmentais das duas línguas. O presente capítulo pretende, em primeiro lugar,
fornecer uma descrição sistemática da fonética e da fonologia do contraste Lateral-Rótico no
português europeu (PE) e no chinês mandarim.
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De seguida, apresentam-se vários tipos da análise comparativa no contexto da aquisição
fonológica de língua não materna (Bohn, 2017), que têm como objetivo identificar a eventual
interação entre a língua alvo e a língua materna dos aprendentes, nomeadamente a influência
interlinguística, que é considerada um dos fatores mais determinantes na aquisição de um
sistema sonoro não nativo. Estas análises comparativas serão discutidas à luz dos dados
experimentais sobre a aquisição do contraste /l/ - /ɾ/ do PE por aprendentes chineses, sugerindo-
se assim caminhos para futuros estudos que visem explorar a aquisição do sistema fonético-
fonológico do português por estes aprendentes.
2. Consoantes líquidas
Esta seção apresenta a classe natural das consoantes líquidas, tendo o objetivo de
contextualizar a discussão das propriedades do contraste lateral-rótico no PE e no chinês
mandarim.
Contrariamente às consoantes oclusivas (e.g. [b, p, d, t]) e fricativas (e.g. [z, s, v, f]), cuja
produção envolve uma obstrução total nas cavidades supraglotais, as consoantes líquidas, em
conjunto com as nasais (e.g. [m, n] ), as vogais (e.g. [i, u]) e as semivogais ([j, w]), são
classificadas como segmentos soantes, característica relacionada com a passagem do ar pelo
trato vocal e a existência de vozeamento espontâneo (Ladefoged & Maddienson, 1996). Porém,
as líquidas ainda se distinguem das (semi)vogais pela existência da oclusão na sua articulação
e das nasais pela ausência da passagem do ar pela cavidade nasal.
As consoantes líquidas ainda se podem subdividir em laterais e róticas. No caso das
consoantes laterais, que se distribuem amplamente nas línguas naturais, a sua definição baseia-
se efetivamente no modo de articulação: o fluxo do ar passa por ambos os lados (ou apenas um
lado) da oclusão formada na cavidade oral. Quanto ao seu ponto de articulação, nomeadamente,
o local em que se forma a oclusão, pode variar-se entre a zona dental/alveolar (e.g. chinês
mandarim: lǎo [law] tom: 3 “velho”), palatal (e.g. português: muralha [muˈɾaʎɐ]) e velar (e.g.
coreano: dalguji [tɐʟɡud
(ʑi] “carroça”).
As róticas, presentes em cerca de 76% das línguas no mundo, referem-se de forma geral
aos sons representados pela letra <r> na escrita. Porém, ao contrário do que acontece com as
laterais, ainda são controversos os critérios fonético-fonológicos segundo os quais as róticas se
agrupam numa classe natural.
As tentativas de encontrar o único parâmetro articulatório que carateriza as róticas em
diferentes línguas têm-se mostrado elusivas (Lindau, 1985; Ladefoged & Maddieson, 1996;
Wiese, 2011), devido ao elevado grau de variabilidade das consoantes desta classe, em termos
3
do ponto (e.g., alveolar no espanhol, pós-alveolar em inglês, uvular em francês e glotal no
português brasileiro) e do modo de articulação (e.g., inglês: aproximante [ɹ]+; espanhol: vibrante
múltipla [r]; francês: fricativa [ʁ]). Embora alguns estudos tenham identificado uns parâmetros
acústicos que são potencialmente correlatos percetivos da classe rótica, e.g. as frequências e
trajetórias dos dois primeiros formantes, F1 e F2 (Engstrand et al., 2007; Heselwood, 2009;
Howson, 2018a; 2018b; Howson & Monahan, 2019), um maior inventário das róticas
interlinguísticas terá de ser analisado antes de se chegar a esta conclusão.
A inexistência da invariância fonética leva muitos linguistas a postular que a razão pela
qual as róticas são agrupadas é puramente fonológica (Sebregts, 2014; Chabot, 2019, Natvig,
2020). Com base no modelo de Family Resemblance (Lindau, 1985), Sebregts (2014) integrou
a dimensão diacrónica, defendendo que as róticas são unidas pela sua história comum. Chabot
(2019) dissociou ainda mais a dimensão fonética na sua proposta e advogou que as róticas
formam uma classe natural à luz das suas propriedades fonológicas, i.e., o estatuto como soante,
a distribuição (e.g., segundo membro em Ataque ramificado) e a estabilidade diacrónica. De
forma comparável, na abordagem representacional por Natvig (2020), as róticas pertencem à
mesma classe consonantal, uma vez que são todas soantes não especificadas no nível
subjacente
1
e as realizações no nível de superfície sujeitam-se à sua relação com os outros
segmentos líquidos no inventário e às suas propriedades fonológicas numa língua.
3. /l/ - /ɾ/ no PE
3.1 Lateral
O PE inclui duas laterais no seu inventário fonológico, a alveolar /l/ e a palatal /ʎ/. Sendo a
lateral alveolar o foco deste estudo, as propriedades de /ʎ/ não serão discutidas com pormenor.
Os leitores interessados devem consultar Martins et al. (2010) e Teixeira et al. (2012) para a
dimensão fonética, e Mateus & Andrade (2000), Wetzels (2000) e Veloso (2019) para uma
análise fonológica de /ʎ/.
Segundo a abordagem impressionista, a lateral alveolar do PE tem duas manifestações
alofónicas no nível de superfície: a realização canónica [l] em ataque (ramificado e não
1
Existem pelo menos dois níveis representacionais no domínio fonológico: uma forma subjacente que corresponde à
informação fonológica armazenada no léxico e uma forma de superfície composta pelas estruturas fonológicas hierarquizadas.
4
ramificado) e a velarizada [ɫ] em coda
2
(Mateus & Andrade, 2000). Os exemplos encontram-
se em (1).
(1) Ataque não ramificado
lima [ˈlimɐ] bolacha [buˈlaʃɐ]
Ataque ramificado
plano [ˈplɐnu] ciclismo [siˈkliʒmu]
Coda
saldo [ˈsaɫdu] anel [ɐˈnɛɫ]
Do ponto de vista da acústica
3
, a diferença entre [l] e [ɫ] situa-se na distância entre frequências
F1 e F2; especificamente, os valores de F1 e F2 aproximam-se mais em [ɫ] do que em [l]
(Lehiste, 1964). Ou seja, a variante velarizada [ɫ] possui o valor de F2 mais baixo que [l]. No
que diz respeito à articulação, [ɫ] diferencia-se de [l] pela sua retração mais aumentada do corpo
e/ou raiz da língua e pelo abaixamento do pré-dorso da língua (Browman & Goldstein, 1995).
A manifestação categórica entre [l] e [ɫ] no PE tem sido questionada pelos estudos de
natureza fonética que demonstram que a velarização de /l/ em PE ocorre independentemente
do constituinte silábico e da posição na palavra (Andrade, 1999; Marques, 2010; Martins et al.,
2010; Oliveira et al., 2011). No estudo conduzido por Andrade (1999), foram analisadas
acusticamente as produções da lateral alveolar por sete falantes lisboetas e os resultados do
estudo indicam que, apesar da variação introduzida por cada indivíduo, /l/ apresenta em ataque
silábico um valor de F2 bastante baixo, o que é considerado um indicador da velarização que
2
A sílaba é uma estrutura interna composta por constituintes hierarquicamente organizados. Dos vários modelos de
representação da estrutura interna da sílaba propostos ao longo da história da fonologia, os mais utilizados têm sido o modelo
de moras, construído com base no conceito de peso silábico (Hyman, 1985), e o modelo de ataque-rima (Selkirk, 1982). Este
último tem sido adotado para análise do PE (Mateus & d’Andrade, 2000) e do chinês mandarim (Duammu, 2007; Lin 2007).
O Núcleo, dominado pela Rima e obrigatoriamente preenchido por segmento, pode ser simples, quando constituído por uma
única vogal, ou ramificado, quando constituído por um ditongo. O Ataque pode ser não ramificado, quando é preenchido por
uma consoante ou quando se encontra vazio, e ramificado, quando preenchido por duas consoantes. Nem todas as
combinatórias de consoantes são possíveis no domínio de um Ataque. Em Ataque ramificado do PE, é possível encontrar
sequências de obstruintes + líquidas, tendo as líquidas os formatos /l/ ou /ɾ/. A Coda, constituinte não obrigatório, é o
constituinte com mais restrições segmentais e pode, unicamente, ser preenchido por /s/, /l/ e /ɾ/, associados a variantes
alofónicas [ʃ, ʒ], [ɫ], [ɾ], respetivamente (Mateus et. al 2005).
3
Consultem Ladefoged & Maddienson (1996) e Boersma (2013) para uma introdução à fonética acústica. No caso específico
das propriedades acústicas dos sons em português, vejam Mateus et al. (2005) para a variedade europeia e Cristófaro-Silva et
al. (2019) para a variedade brasileira.
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apenas se manifesta na posição de Coda de acordo com a análise fonológica (Mateus &
Andrade 2000). Depois de terem comparado os resultados de Andrade (1999) com os
parâmetros acústicos das laterais em outras línguas (e.g. alemão, catalão, francês, italiano,
inglês, russo), Recasens & Espinosa (2005) chegaram à conclusão de que /l/ no PE é realizada
com o mesmo grau de velarização em Ataque (do início da palavra) e em Coda (no final da
palavra). Marques (2010) expandiu nos estudos anteriores, aumentando a amostra para 16
sujeitos (naturais da cidade de Aveiro), e, ainda assim, não encontrou evidência consistente da
alteração alofónica de /l/ do PE, uma vez que a sua realização fonética em Ataque não se
diferencia daquela em coda em termos de F2, mais uma vez confirmando que /l/ do PE é
velarizada independentemente da posição silábica.
Martins et al. (2010) examinou a velarização da lateral alveolar do PE numa perspetiva
articulatória. Em particular, eles visualizaram o gesto articulatório na produção de /l/ em várias
posições (Ataque no início da palavra, Ataque no meio da palavra e Coda) por 7 falantes nativos,
através da Imagem por Ressonância Magnética (MRI). Os seus resultados mostraram que as
caraterísticas de uma lateral velarizada, tais como canais laterais curtos e pouco contacto
alveolar, podem aparecer quer em Ataque quer Coda; na articulação de /l/ também se nota a
diferença individual: alguns falantes mantêm dois alofones enquanto os outros não. Para se ter
uma imagem completa, Oliveira et al. (2011) juntou os dados acústicos e os articulatórios (MRI)
para avaliar as propriedades de /l/ em contextos silábicos diferentes. As imagens de MRI
revelaram que são comparáveis as configurações do corpo da língua entre Ataque e Coda,
nomeadamente o estreitamento da cavidade oral na região velar e/ou faríngea, devido à
elevação (velarização) do corpo da língua. Esta evidência articulatória, consistente com os
dados acústicos obtidos sobre a ocorrência de F2 baixos em todas as posições examinadas
(Ataque no início da palavra: M=955.7 Hz, Ataque no meio da palavra: M=1012.3 Hz, Coda
final: 869.3 Hz), corrobora estudos anteriores na evidência de /l/ do PE ser velarizada em todas
as posições silábicas.
Embora o valor de F2 baixo tenha sido utilizado como o indicador fiável na literatura, há
outros parâmetros acústicos que podem também contribuir para a perceção da velarização, por
exemplo, o valor de F3 e a transição de formantes (Ladefoged & Maddieson, 1996).
Enfrentando o desafio colocado pelos trabalhos anteriores, Rodrigues et al. (2019) optaram por
obter vários parâmetros acústicos (e.g. o valor de F1, F2, F3 e o declive da transição de F2)
pertinentes à perceção da velarização da consoante lateral. Os seus dados mostram que o F2 de
/l/ do PE é mesmo baixo de forma consistente em posições silábicas diferentes; contudo, o
6
valor de F3 é significativamente mais alto em Coda do que em Ataque. Este resultado não
apenas justifica a existência da alteração alofónica de /l/ do PE, mas também realça a
importância de considerar vários parâmetros acústicos na análise fonético-fonológica.
3.2 Rótica
Nos estudos impressionistas, a consoante rótica /ɾ/ é considerada uma vibrante alveolar simples
e a sua articulação envolve um toque muito rápido da coroa da língua nos alvéolos dentários
superiores (Mateus & Andrade, 2000; Mateus et al., 2005).
A evidência acústica, contudo, sugere que a realização fonética de /ɾ/ do PE pode variar
em função da consoante adjacente e da posição prosódica que ocupa (Jesus & Shadle, 2005;
Silva, 2014). Silva (2014), na sua tese de Mestrado, estudou as caraterísticas acústicas da
vibrante simples do PE, em várias posições: Ataque não ramificado, Ataque ramificado e Coda.
A sua análise acústica das produções por nove informantes nativos do PE, com idades
compreendias entre os 19 e os 27 anos, mostra que, apesar de a vibrante simples (ou tap) ser
mais dominante em todos os contextos examinados, a realização fonética de /ɾ/ pode
assemelhar-se à consoante seguinte na posição de coda medial; especificamente, quando a
rótica precede uma oclusiva (e.g., /kaɾ.ta/), observa-se muitas vezes uma constrição,
acompanhada por um elemento vocóide, na sua produção; caso /ɾ/ seja seguida por uma
fricativa (e.g., /gaɾ.fu/), /ɾ/ também manifesta fricção (Silva, 2014).
Para além dos constituintes silábicos, a realização fonética de /ɾ/ também é influenciada
pela posição mais alta na hierarquia prosódica; especificamente, em final de palavra, /ɾ/ é
produzida, muitas vezes, como uma fricativa não vozeada (Jesus & Shadle, 2005) e até omitida,
se a palavra seguinte é iniciada por uma consoante
4
(Mateus & Rodrigues, 2003; Rodrigues,
2003; Rodrigues & Hora, 2016). A taxa do apagamento de /ɾ/ final é ainda condicionada pelo
tipo de consoante à sua direita: vibrante 76.9%, oclusiva e fricativa vozeada 57.4%, oclusiva e
fricativa não vozeadas 53.8%, nasal 53%, lateral 44%. Curiosamente, também se atesta em
Mateus & Rodrigues (2003) que a omissão de /ɾ/ final ocorre mais vezes nos Verbos (33.5%)
do que nos Não-Verbos (25.8%).
4
Se a vibrante simples precede uma vogal ou uma pausa, a frequência da sua omissão é relativamente baixa, 14.1% e 11.1%
respetivamente.
7
É importante notar que na realização fonética de /ɾ/ do PE também se mostram variações
dialetais. Por exemplo, no dialeto algarvio, as variantes fonéticas mais frequentes de /ɾ/ são
fricativa alveolar (35%) e aproximante (25%), enquanto na variante canónica a vibrante
simples ocorre apenas 2% nos dados recolhidos por Rodrigues (2015). Veloso (2015), por outro
lado, atesta que, na cidade do Porto, cada vez mais os jovens com formação no ensino superior
produzem /ɾ/ como uma flap retroflexa [ɽ] ou uma aproximante [ɻ], muito semelhante à rótica
do inglês.
Quanto à distribuição, a vibrante simples pode ocupar todas as posições prosódicas, exceto
a posição inicial da palavra, onde apenas ocorre a rótica uvular, tal como ilustrado em (2).
(2) Ataque não ramificado
cara [ˈkaɾɐ] muralha [muˈɾaʎɐ]
Ataque ramificado
gralha [ˈgɾaʎɐ] estrada [ʃˈtɾadɐ]
Coda
barco [ˈbaɾku] mar [ˈmaɾ]
No início da palavra
rato [ˈ ʁatu] borracha [buˈ ʁaʃɐ]
A debate sobre o estatuto fonológico das róticas [ɾ] e [ʁ] do PE tem sido recorrente na literatura.
Alguns investigadores propõem que no PE apenas existe um segmento rótico no nível
subjacente, que é a vibrante simples /ɾ/; a rótica uvular no início da palavra é derivada através
de um processo de reforço (/ɾ/ → [ʁ]), desencadeado pela periferia esquerda da palavra
prosódica
5
(Mateus & Andrade, 2000; Vigário, 2003; 2021). Porém, a rótica uvular [ʁ] e a
alveolar [ɾ] formam um par mínimo em ataque simples na posição intervocálica, e.g. ca[ʁ]o
<carro> vs. ca[ɾ]o <caro>. Isto implica que uma diferença entre [ʁ] e [ɾ] terá de ser codificada
no nível subjacente, de modo que dois itens lexicais distintos se possam produzir. A fim de dar
5
De acordo com a análise que assume apenas uma rótica subjacente, a mesma regra aplica-se quando /ɾ/ segue uma outra
consoante no meio da palavra, e.g. hon[ʁ]a, Is[ʁ]ael.
8
conta deste contraste na posição intervocálica sem assumir duas róticas subjacentes distintas,
Mateus & Andrade (2000) postulam que a rótica uvular na posição intervocálica corresponde
a uma rótica geminada heterossilábica /ɾ.ɾ/. Além de manter o inventário o mais económico
possível, o argumento principal a favor desta análise baseia-se na regra da atribuição do acento
lexical em português, segundo a qual a penúltima sílaba pesada (que contém uma coda ou
ditongo) tem de ser acentuada. No PE, as palavras com [ʁ] na última sílaba fonética (e.g.
<catarro>) nunca recebem acento lexical na antepenúltima sílaba (e.g., [kɐ'taʁu], *['kɐtaʁu]).
Mateus & Andrade (2000) atribui esta restrição na atribuição do acento lexical ao facto de [ʁ]
corresponder uma geminada /ɾ.ɾ/ no nível subjacente e de a primeira /ɾ/ em coda tornar a
penúltima sílaba pesada /ca.taɾ.ɾo/.
Assim, a derivação de /ɾ.ɾ/ para [ʁ] uniformiza-se com o processo descrito em rodapé 5: a
segunda rótica, que segue uma outra consoante (neste caso, também uma rótica), passa a ser
[ʁ], e depois, a primeira rótica em coda é apagada. Recentemente, com base nas palavras
emprestadas do inglês, Vigário (2021) apresenta nova evidência para a ideia de que o inventário
do PE legitima apenas uma rótica subjacente. Como mostram os exemplos em (3), a adaptação
da consoante rótica do inglês [ɻ] obedece às restrições fonotáticas do português, o que leva
Vigário (2021) a assumir que [ʁ] e [ɾ] do português, apesar da divergência fonética, partilham
a mesma representação subjacente.
(3) Adaptação de [ɻ] do inglês
Início da palavra
[ʁ]oaming [ʁ]ally-paper [ʁ]ent-a-car
Outras posições
ove[ɾ]dose rally-pape[ɾ] rent-a-ca[ɾ]
Por outro lado, Bonet & Mascaró (1997) defendem que existem no PE
6
duas róticas no nível
subjacente, /ʀ/ (realizado como [ʁ]) e /ɾ/). Na sua proposta, /ʀ/ é a rótica default, não marcada
no léxico, uma vez que esta pode ocupar Ataque não ramificado quer no início da palavra, quer
no meio da palavra, em contraste a /ɾ/, que apenas ocorre na posição não inicial. A distribuição
6
A proposta de Bonet & Mascaró (1997) também se estende às róticas no espanhol e no catalão.
9
não restringida da /ʀ/ é atribuída ao Princípio de Sonoridade (Clements 1990), segundo o qual
a sonoridade dos segmentos numa sílaba aumenta a partir do Ataque até ao núcleo e diminui
desde o núcleo até a coda. Em comparação com /ɾ/, /ʀ/ constitui um candidato mais favorável
em Ataque não ramificado, dado que a sonoridade da /ʀ/ é mais baixa do que que /ɾ/
7
.
Consequentemente, em comparação à sequência /ɾV/, /ʀV/ implica maior aumento de
sonoridade desde Ataque ao Núcleo de sílaba. Conforme o Princípio de Sonoridade, assim que
a rótica não estiver marcada, é realizada como [ʁ] na posição intervocálica, enquanto a rótica
marcada é produzida como [ɾ]. A sonoridade também pode dar conta da ocorrência única da /ɾ/
em Ataque ramificado e em Coda. No caso de Ataque ramificado, /ʀ/ é proibida, por causa da
diferença insuficiente em termos de sonoridade entre os dois elementos em Ataque ramificado.
No PE, o primeiro segmento em Ataque Ramificado pode ser uma oclusiva ou uma fricativa,
ambas com sonoridade semelhante à de /ʀ/ (rodapé 7). Na posição de Coda, /ɾ/ é mais preferida
pela sonoridade, uma vez que /Vɾ/ leva a uma descida mais gradual do Núcleo à Coda do que
/Vʀ/.
A análise de Bonet & Mascaró (1997) corrobora os dados da aquisição fonológica. Vários
estudos sobre a aquisição do PE como língua materna demonstram que, antes de atingirem a
produção conforme o alvo, as crianças portuguesas processam [ɾ] e [ʁ] como dois segmentos
distintos. Nomeadamente, eles substituem /ɾ/ frequentemente por uma lateral [+ soante], mas
produzem oclusivas [-sonante] para o alvo /ʀ/ (Costa, 2010; Amorim, 2014; Amorim & Veloso,
2018; Pereira et al., 2020). Estes dados da aquisição sugerem que a representação fonológica
para [ɾ] e a para [ʁ] são construídas separadamente.
A fim de revelar como [ɾ] e [ʁ] são representados no nível subjacente, Zhou & Jesus
(2021) desenharam um jogo de língua transformacional em que falantes nativos do PE foram
instruídos a nomear objetos representados por imagens e a adicionar um prefixo acentuado
[ˈpa], sempre que um objeto aparece em preto-e-branco. Esta alteração morfológica inventada
tinha como objetivo eliminar a periferia esquerda de palavra prosódica, que desencadeia a regra
de reforço (/ɾ/ → [ʁ]) na análise que assume uma rótica subjacente (Mateus & Andrade, 2000;
Vigário, 2003; 2021). Caso a análise da única rótica subjacente fosse correta, a prefixação
levaria à alteração da rótica que ocupa a posição inicial, e.g. [ʁ]osa ~ pá[ɾ]osa, uma vez que o
contexto em que ocorre a regra de reforço (/ɾ/ → [ʁ]) é eliminado e a rótica subjacente /ɾ/
deveria realizar-se de forma fiel. Ao contrário, a produção de pá[ʁ]osa forneceria evidência a
7
A escala de sonoridade assumida em Bonet & Mascaró (1997): oclusivas, fricativas e /ʀ/ < nasais < laterais < glides, /ɾ/ <
vogais.
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favor da análise de Bonet & Mascaró (1997), segundo os quais a representação de [ʁ] não é /ɾ/.
Os resultados de Zhou & Jesus (2021) mostram que os falantes nativos do PE não produzem a
alteração morfológica, indicando que no PE existem duas consoantes róticas subjacentes.
4. /l/ - /ɻ/ no chinês mandarim
4.1 Lateral
Semelhante ao PE, o inventário do Mandarim também contém uma lateral /l/, com ponto de
articulação localizado na zona ápico-alveolar (Dow, 1972). Porém, /l/ do Mandarim, diferente
da sua correspondência do PE, ocupa apenas Ataque não ramificado
8
, tal como se mostra em
(4).
(4) Ataque não ramificado
là [la] (tom: 4) ‘picante’ lǎo [law] (tone: 3) ‘velho’
4.2 Rótica
Em comparação com a lateral, a distribuição da rótica do Mandarim é relativamente mais ampla,
podendo ser licenciada em Ataque não ramificado e em Coda, (5).
(5) Ataque não ramificado
肉ròu [ɻow] (tom: 4) ‘carne’ 人rén [ɻen] (tom: 2) ‘pessoa’
Coda
儿ér [əɻ] (tom: 2) ‘filho’ 二 èr [əɻ] (tom: 4) ‘dois’
Investigações acústicas indicam que a realização fonética desta rótica varia entre aproximante
e fricativa na posição de Ataque não ramificado (Liao & Shi, 1987; Zhu, 2007; Wang, 2013;
8
Ataque Ramificado não é uma estrutura silábica legítima no Mandarim (Duamu, 2007, Lin, 2007).
11
Xing, 2019), enquanto em Coda é sempre produzida como uma aproximante, muito parecida
com a rótica do inglês (Liao & Shi, 1987; Jiang et al., 2019).
Liao & Shi (1987) analisaram acusticamente a produção da rótica por dois falantes de
Pequim e os resultados evidenciam que a rótica do mandarim manifesta estruturas de formantes
bem claras e contém pouca fricção. Esta observação foi também apoiada por Zhu (2007),
embora Zhu acrescente que a fricção se torna ligeiramente mais evidente quando se situa na
monossílaba tónica. Num estudo acústico com 4 falantes de mandarim, Wang (2013) atestou
que as variantes possíveis da rótica desta língua são aproximante e fricativa (vozeada ou não
vozeada) e que a sua realização fonética é ainda condicionada pelo contexto em que ocorre.
Por exemplo, a rótica do mandarim tem tendência a manifestar fricção quando precede as
vogais [i], [u], [e] e na sílaba com tom 4. Xing (2019) combinou medidas acústicas e
articulatórias (ultrassom) na sua investigação sobre as propriedades fonéticas da rótica do
mandarim em Ataque não ramificado. Os dados de 16 falantes nativos de mandarim revelam
que a aproximante retroflexa e a fricativa pós-alveolar são ambas variantes fonéticas possíveis
da rótica do mandarim e que a sua implementação fonética é sujeita à diferença individual e à
vogal seguinte. Em relação ao contexto vocálico, a rótica parece ser mais retroflexa quando
precede [au]. Porém, Chen & Mok (2021) encontraram evidências contraditórias no seu estudo
acústico-articulatório: por um lado, os contextos segmentais não parecem um factor que
influencia a implementação fonética da rótica; por outro lado, os dados acústicos mostram que
o F3 da rótica do Mandarim é mais alto que o do inglês, indicando um menor grau de
retroflexão. Chen & Mok (2021) ainda argumentam que a rótica do Mandarim deve ser
analisada como aproximante, em vez de fricativa, devido à presença opcional da fricção na sua
realização fonética.
A alteração entre a aproximante e a fricativa na implementação fonética leva às diferentes
propostas sobre a representação subjacente da rótica do mandarim. Alguns investigadores
consideram-na uma aproximante (Cao, 1968; Duamu, 2005; Lin, 2007; Hall & Hamann 2010;
Zhu, 2007), enquanto Duanmu (2007) descreve esse segmento em Ataque não ramificado como
/ʐ/, uma fricativa retroflexa, e advoga que não existe uma consoante na rima quando se regista
retroflexão, transcrevendo a retroflexão no final de palavra/morfema como uma vogal rótica,
/ɚ/. As evidências fonéticas que se vêm acumulando ao longo dos anos já tornam mais claro
que a fricção observada na produção da rótica do mandarim é opcional e mais fraca do que
aquela numa consoante fricativa. Estas evidências apontam para o facto de a aproximante ser
a forma canónica da rótica do mandarin. Além disso, Duanmu (2007) admite que assumir a
12
rótica como /ʐ/ introduzirá a única consoante obstruinte ao inventário do mandarim,
inevitavelmente aumentando o número de traços distintivos ativos no sistema fonológico, e.g.
[+vozeamento].
5. Análise comparativa e estudos sobre a aquisição do contraste lateral-rótico do PE por
falantes nativos de mandarim
As revisões nas seções 3 e 4 mostram que o PE e o mandarim diferenciam-se em termos da
distribuição e a realização fonética das líquidas, apesar de ambas as línguas manifestarem o
contraste lateral-rótico. Tal divergência em vários níveis (articulatório, acústico, fonológico)
entre a língua alvo (PE) e a língua materna dos aprendentes (mandarim) coloca um desafio para
investigadores que pretendam conduzir uma análise comparativa para identificar a influência
interlinguística (cross-linguistic influence), um dos fatores mais determinantes na aquisição
fonológica de língua não materna (Major, 2008; Colantoni et al., 2015). Segundo Bohn (2017),
na literatura da aquisição fonológica de língua não materna, há pelo menos três tipos de análise
comparativa a que os investigadores costumam recorrer para prever a influência interlinguística.
Primeiro, comparar os símbolos fonéticos ou fonológicos utilizados para a transcrição dos
segmentos sonoros na língua alvo e na língua materna dos aprendentes. Este método ainda é
adotado com alguma frequência pelos estudos atuais, presumivelmente devido à sua
simplicidade; porém, esta abordagem mais direta e tradicional (Lado, 1957) encerra vários
problemas:
a) É difícil de definir se a comparação deve ser feita no nível fonético ou fonológico; Na
aquisição das líquidas do PE (Zhou, 2017), os falantes nativos de mandarim produzem a lateral
em Ataque como [l], mas como [w] em Coda, indicando a sua sensibilidade à informação
fonética (i.e. a lateral do PE é mais velarizada em Coda do que em Ataque). Contudo, os
aprendentes chineses também têm acesso às propriedades fonológicas, dado que associam a
aproximante da sua língua materna /ɻ/ com a vibrante simples /ɾ/ do PE. Estas duas consoantes
róticas são foneticamente bem distintas, mas pertencem à mesma classe natural no nível
fonológico.
b) Por razões históricas, o mesmo segmento (fonético ou fonológico) pode ser transcrito
em símbolos distintos em línguas diferentes. Por exemplo, Duanmu (2005) transcreve a
aproximante retroflexa do mandarim como [r], mas no PE o mesmo símbolo fonético
13
representa uma vibrante alveolar múltipla (Mateus & Andrade, 2000; Mateus & Andrade,
2005). [r] até é utilizado para vibrante simples do PE por Liu (2018), que examinou a aquisição
deste segmento do português por aprendentes chineses.
c) As transcrições em símbolos fonéticos e fonológicos ainda são demasiadamente
abstratas, portanto não conseguem dar conta de toda a informação contido no input. Para dar
um exemplo, a vibrante simples do PE, tal como descrita nos estudos acústicos, manifesta
várias pistas acústicas que correspondem à oclusão, às estruturas formantes e à duração curta.
Embora essas pistas não se encontrem na transcrição fonética [ɾ], os estudos experimentais já
demonstram que os aprendentes chineses conseguem captar essas propriedades do input (Liu,
2018; Zhou & Hamann, 2020). Nomeadamente, alguns aprendentes processam a vibrante do
PE como uma soante (pista para estruturas formantes), enquanto os outros também a
categorizam como uma oclusiva (pista para oclusão).
Segundo, comparar as propriedades acústicas e articulatórias entre a língua alvo e a língua
materna dos aprendentes. Caso a comparação entre os símbolos fonéticos ou fonológicos tenda
a ignorar muitas informações fonéticas e fonológicas em línguas envolvidas, uma comparação
baseada nos parâmetros acústicos e articulatórios parece ser uma alternativa mais fiável. Porém,
mantém-se aberta a questão de saber a fiabilidade deste método, uma vez que evidências
contraditórias se encontram na literatura: enquanto uns estudos apresentam evidência positiva
(e.g., Bohn & Flege, 1990; Wu et al., 2014), os outros mostram que as predições de uma
comparação ao nível acústico entre as duas línguas envolvidas não alinham com o
comportamento dos aprendentes (Strange et al. 2004, 2005, 2007). A utilização deste método
ainda gera uma questão mais complexa para estudos da aquisição do português por aprendentes
chineses, devido ao facto de ainda haver poucos estudos da natureza acústica e articulatória
sobre essas duas línguas (e.g. em comparação com a língua inglesa) e de os estudos existentes
normalmente recolherem dados com um número bastante reduzido de falantes, não permitindo
assim obter os parâmetros robustos que eventualmente podem ser generalizados para todos os
falantes desta língua (veja seções 3 e 4).
Terceiro, elicitar a influência interlinguística numa “comparação mais direta” – atestar
diretamente como os sons da língua alvo são processados pela língua materna dos aprendentes.
Este método tem sido operacionalizado através da utilização de tarefas de assimilação
14
percetiva
9
em que, após a audição de um segmento não nativo, os participantes são instruídos
a selecionar o som da sua língua materna mais similar a este segmento não nativo; normalmente
os participantes também terão de indicar o grau de semelhança entre o som não nativo ouvido
e o som nativo numa escala de Likert. Assim, pode estabelecer-se uma relação entre os
segmentos da língua alvo e as categorias da língua materna dos aprendentes, segundo a qual o
grau da influência interlinguística pode ser avaliada (Flege, 1995; Best & Tyler, 2007).
Enquanto a tarefa da assimilação percetiva é um método bem desenvolvido e testado na
literatura, esta pode implicar um número bastante elevado de estímulos caso um pretenda
avaliar a assimilação de categorias sonoras em vários contextos prosódicos. Por exemplo, na
aquisição do contraste lateral-rótico do PE por falantes nativos de mandarim, observaram-se
os efeitos prosódicos complexos: os aprendentes chineses não têm dificuldade com /l/ em
Ataque mas frequentemente vocalizam a lateral em Coda como [w]; quando eles não
conseguem produzir a vibrante alveolar, apenas utilizam [l] em Ataque mas recorrem às
substituições segmentais ([l, t, th, ɻ]) e modificações estruturais (epêntese e apagamento) em
Coda. Se um(a) investigador(a) pretender explorar o papel da influência interlinguística nestes
efeitos prosódicos no português articulado pelos aprendentes chineses, ele(a) terá de examinar
como /l/ e /ɾ/ são assimilados para os sons de mandarim quer em Ataque quer em Coda.
Encarando este desafio, Zhou & Hamann (2020) desenharam uma tarefa de imitação retardada
e administraram-na a falantes nativos do mandarim sem conhecimento nenhum do português
(representando a fonologia do mandarim), investigando assim como a fonologia do mandarim
processa /l/ e /ɾ/ do PE em Ataque e em Coda. Para além disso, Zhou & Hamann (2020)
manipularam o tipo do input apresentado na experiência (input auditivo vs. input auditivo +
ortográfico), o que lhes permitiu testar o efeito da ortografia, que geralmente está disponível
aos aprendentes chineses desde o início, na construção da representação fonológica não nativa.
Os resultados deles replicaram os efeitos prosódicos observados na produção dos aprendentes
chineses (Zhou, 2017; Liu, 2018), sugerindo que a tarefa de imitação retardada pode ser um
método fiável para analisar a influência interlinguística.
Em suma, no contexto da aquisição fonológica de língua não materna, estão disponíveis
vários tipos de análise comparativa, entre os quais uma comparação mais direta via tarefa de
assimilação percetiva ou tarefa de imitação retardada parecem ser mais fiáveis na revelação da
9
Para a implementação da tarefa de assimilação percetiva nos estudos sobre a aquisição do português por aprendentes
chineses, os leitores devem consultar Oliveira (2016) e Oliveira & Rato (2019).
15
influência interlinguística. Esta conclusão é corroborada pelos dados experimentais sobre a
aquisição do contraste do lateral-rótico do PE por aprendentes chineses.
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