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REIS, Mário (2020): Imagens fantasmagóricas, silhuetas elusivas: as figuras humanas na arte do Paleolítico Superior da região do Côa

Authors:
  • Fundação Côa Parque

Abstract

RESUMO A representação da figura humana é rara na arte paleolítica europeia, e a região do Côa não é excepção, embora desde o início se conheçam antropomorfos paleolíticos na sua arte de ar livre. Inicialmente restringidos a dois sítios, a sua quantidade e dispersão territorial expandiu-se consideravelmente nos últimos anos, com os continuados trabalhos de prospecção, registo de rochas decoradas e revisão das já conhecidas, ascendendo actualmente a quase meia centena, pesem embora as dúvidas na classificação de várias entre elas. Este texto apresenta o conjunto completo destas figuras inventariadas na arte do Côa, dividindo-as nos seus principais grupos cronológicos e tipológicos, e reflectindo sucintamente sobre a sua possível continuação para a fase cultural subsequente ao Paleolítico Superior. Palavras-chave: Arte rupestre, Figuras antropomórficas, Paleolítico Superior, Epipaleolítico, Região do Côa. ABSTRACT The representation of the human figure is rare in European Paleolithic art, and the Côa region is no exception, although Paleolithic anthropomorphs have been known in its open-air art since the beginning. At first restricted to two sites, their quantity and territorial dispersion has considerably expanded in recent years, with the continued work of survey, review and registration of decorated rocks, and currently amount to almost half a hundred, despite the doubts concerning the classification of several among them. This text presents the complete set of these figures in the Côa art, divided in their main chronological and typological groups, and briefly reflecting on their possible continuation for the cultural phase subsequent to the Upper Paleolithic. Keywords: Rock art, Anthropomorphic gures, Upper Paleolithic, Epipaleolithic, Côa Region.
2020 – Estado da Questão
Coordenação editorial: José Morais Arnaud, César Neves e Andrea Martins
Design gráfico: Flatland Design
AA P – ISBN: 978-972-9451-89-8
CITCEM – ISBN: 978-989-8970-25-1
Associação dos Arqueólogos Portugueses e CITCEM
Lisboa, 2020
O conteúdo dos artigos é da inteira responsabilidade dos autores. Sendo assim a As sociação dos
Arqueólogos Portugueses declina qualquer responsabilidade por eventuais equívocos ou questões
de ordem ética e legal.
Desenho de capa:
Planta do castro de Monte Mozinho (Museu Municipal de Penafiel).
Apoio:
Índice
15 Prefácio
José Morais Arnaud
1. Historiografia e Teoria
17 Território, comunidade, memória e emoção: a contribuição da história da arqueologia
(algumas primeiras e breves reflexões)
Ana Cristina Martins
25 Como descolonizar a arqueologia portuguesa?
Rui Gomes Coelho
41 Arqueologia e Modernidade: uma revisitação pessoal e breve de alguns aspetos da obra
homónima de Julian Thomas de 2004
Vítor Oliveira Jorge
57 Dados para a História das Mulheres na Arqueologia portuguesa, dos finais do século XIX
aos inícios do século XX: números, nomes e tabelas
Filipa Dimas / Mariana Diniz
73 Retractos da arqueologia portuguesa na imprensa: (in)visibilidades no feminino
Catarina Costeira / Elsa Luís
85 Arqueologia e Arqueólogos no Norte de Portugal
Jacinta Bugalhão
101 Vieira Guimarães (1864-1939) e a arqueologia em Tomar: uma abordagem sobre
o território e as gentes
João Amendoeira Peixoto / Ana Cristina Martins
115 Os memoráveis? A arqueologia algarvia na imprensa nacional e regional na presente
centúria (2001-2019): características, visões do(s) passado(s) e a arqueologia
enquanto marca
Frederico Agosto / João Silva
129 A Evolução da Arqueologia Urbana e a Valorização Patrimonial no Barlavento Algarvio:
Os casos de Portimão e Silves
Artur Mateus / Diogo Varandas / Rafael Boavida
2. Gestão, Valorização e Salvaguarda do Património
145 O Caderno Reivindicativo e as condições de trabalho em Arqueologia
Miguel Rocha / Liliana Matias Carvalho / Regis Barbosa / Mauro Correia / Sara Simões / Jacinta
Bugalhão / Sara Brito / Liliana Veríssimo Carvalho / Richard Peace / Pedro Peça / Cézer Santos
155 Os Estudos de Impacte Patrimonial como elemento para uma estratégia sustentável
de minimização de impactes no âmbito de reconversões agrícolas
Tiago do Pereiro
165 Salvaguarda de Património arqueológico em operações florestais: gestão e sensibilização
Filipa Bragança / Gertrudes Zambujo / Sandra Lourenço / Belém Paiva / Carlos Banha / Frederico Tatá
Regala / Helena Moura / Jacinta Bugalhão / João Marques / José Correia / Pedro Faria / Samuel Melro
179 Os valores do Património: uma investigação sobre os Sítios Pré-históricos de Arte
Rupestre do Vale do Rio Côa e de Siega Verde
José Paulo Francisco
189 Conjugando recursos arqueológicos e naturais para potenciar as visitas ao Geoparque
Litoral de Viana do Castelo (Noroeste de Portugal)
Hugo A. Sampaio / Ana M.S . Bettencourt / Susana Marinho / Ricardo Carvalhido
203 Áreas de Potencial Arqueológico na Região do Médio Tejo: Modelo Espacial Preditivo
Rita Ferreira Anastácio / Ana Filipa Martins / Luiz Oosterbeek
223 Património Arqueológico e Gestão Territorial: O contributo da Arqueologia para
a revisão do PDM de Avis
Ana Cristina Ribeiro
237 A coleção arqueológica do extinto Museu Municipal do Porto – Origens, Percursos
e Estudos
Sónia Couto
251 Valpaços – uma nova carta arqueológica
Pedro Pereira / Maria de Fátima Casares Machado
263 Arqueologia na Cidade de Peniche
Adriano Constantino / Luís Rendeiro
273 Arqueologia Urbana: a cidade de Lagos como caso de Estudo
Cátia Neto
285 Estratégias de promoção do património cultural subaquático nos Açores. O caso
da ilha do Faial
José Luís Neto / José Bettencourt / Luís Borges / Pedro Parreira
297 Carta Arqueológica da Cidade Velha: Uma primeira abordagem
Jaylson Monteiro / Nireide Tavares / Sara da Veiga / Claudino Ramos / Edson Brito /
Carlos Carvalho / Francisco Moreira / Adalberto Tavares
311 Antropologia Virtual: novas metodologias para a análise morfológica e funcional
Ricardo Miguel Godinho / Célia Gonçalves
3. Didáctica da Arqueologia
327 Como os projetos de Arqueologia podem contribuir para uma comunidade
culturalmente mais consciente
Alexandra Figueiredo / Claúdio Monteiro / Adolfo Silveira / Ricardo Lopes
337 Educação Patrimonial – Um cidadão esclarecido é um cidadão ativo!
Ana Paula Almeida
351 A aproximação da Arqueologia à sala de aula: um caso de estudo no 3º ciclo
do Ensino Básico
Luís Serrão Gil
363 Arqueologia 3.0 – Pensar e comunicar a Arqueologia para um futuro sustentável
Mónica Rolo
377 Conversa de Arqueólogos” – Divulgar a Arqueologia em tempos de Pandemia
Diogo Teixeira Dias
389 Escola Profissional de Arqueologia: desafios e oportunidades
Susana Nunes / Dulcineia P into / Júlia Silva / Ana Mascarenhas
399 Os Museus de Arqueologia e os Jovens: a oferta educativa para o público adolescente
Beatriz Correia Barata / Leonor Medeiros
411 O museu universitário como mediador entre a ciência e a sociedade: o exemplo
da secção de arqueologia no Museu de História Natural e da Ciência da Universidade
do Porto (MHNC-UP)
Rita Gaspar
421 Museu de Lanifícios: Real Fábrica de Panos. Atividades no âmbito da Arqueologia
Beatriz Correia Barata / Rita Salvado
427 Arqueologia Pública e o caso da localidade da Mata (Torres Novas)
Cláudia Manso / Ana Rit a Ferreira / Cristiana Ferreira / Vanessa Cardoso Antunes
431 Do sítio arqueológico ao museu: um percurso (também) didático
Lídia Fernandes
447 Estão todos convidados para a Festa! E para dançar também… O projecto do Serviço
Educativo do Museu Arqueológico do Carmo na 5ª Edição da Festa da Arqueologia
Rita P ires dos Santos
459 O “Clã de Carenque”, um projeto didático de arqueologia
Eduardo Gonzalez Rocha
469 Mediação cultural: peixe que puxa carroça nas Ruínas Romanas de Troia
Inês Vaz Pinto / Ana Patrícia Magalhães / Patrícia Brum / Filipa Santos
481 Didática Arqueológica, experiências do Projeto Mértola Vila Museu
Maria de Fátima Palma / Clara Rodrigues / Susana Gómez / Lígia R afael
4. Arte Rupestre
497 Os inventários de arte rupestre em Portugal
Mila Simões de Abreu
513 O projeto FIRST-ART – conservação, documentação e gestão das primeiras manifestações
de arte rupestre no Sudoeste da Península Ibérica: as grutas do Escoural e Maltravieso
Sara Garcês / Hipólito Collado / José Julio García Arranz / Luiz Oosterbeek / António Carlos Silva /
Pierluigi Rosina / Hugo Gomes / Anabela Borralheiro Pereira / George Nash / Esmeralda Gomes /
Nelson Almeida / Carlos Carpetudo
523 Trabalhos de documentação de arte paleolítica realizados no âmbito do projeto
PalæoCôa
André Tomás Santos / António Fernando Barbosa / Luís Luís / Marcelo Silvestre / Thierry Aubry
537 Imagens fantasmagóricas, silhuetas elusivas: as figuras humanas na arte do Paleolítico
Superior da região do Côa
Mário Reis
551 Os motivos zoomórficos representados nas placas de tear de Vila Nova de São Pedro
(Azambuja, Portugal)
Andrea Martins / César Neves / José M. Arnaud / Mariana Diniz
571 Arte Rupestre do Monte de Góios (Lanhelas, Caminha). Síntese dos resultados dos
trabalhos efectuados em 2007-2009
Mário Varela Gomes
599 Gravuras rupestres de barquiformes no Monte de S. Romão, Guimarães, Noroeste
de Portugal
Daniela Cardoso
613 Círculos segmentados gravados na Bacia do Rio Lima (Noroeste de Portugal):
contributos para o seu estudo
Diogo Marinho / Ana M.S. Bettencourt / Hugo Aluai Sampaio
631 Equídeos gravados no curso inferior do Rio Mouro, Monção (NW Portugal).
Análise preliminar
Coutinho, L.M. / Bettencourt, A.M.S / Sampaio, Hugo A.S
645 Paletas na Arte Rupestre do Noroeste de Portugal. Inventário preliminar
Bruna Sousa Afonso / Ana M. S. Bettencourt / Hugo A. Sampaio
5. Pré-História
661 O projeto Miño/Minho: balanço de quatro anos de trabalhos arqueológicos
Sérgio Monteiro-Rodrigues / João Pedro Cunha-Ribeiro / Eduardo Méndez-Quintas / Carlos Ferreira /
Pedro Xavier / José Meireles / Alberto Gomes / Manuel Santonja / Alfredo Pérez-González
677 A ocupação paleolítica da margem esquerda do Baixo Minho: a indústria lítica do sítio
de Pedreiras 2 (Monção, Portugal) e a sua integração no contexto regional
Carlos Ferreira / João Pedro Cunha-Ribeiro / Sérgio Monteiro-Rodrigues / Eduardo Méndez-Quinta s /
Pedro Xavier / José Meireles / Alberto Gomes / Manuel Santonja / Alfredo Pérez-González
693 O sítio acheulense do Plistocénico médio da Gruta da Aroeira
Joan Daura / Montserrat Sanz / Filipa Rodrigues / Pedro Souto / João Zilhão
703 As sociedades neandertais no Barlavento algarvio: modelos preditivos com recurso
aos SIG
Daniela Maio
715 A utilização de quartzo durante o Paleolítico Superior no território dos vales dos rios
Vouga e Côa
Cristina Gameiro / Thierry Aubry / Bárbara Costa / Sérgio Gomes / Luís Luís / Carmen Manzano /
André Tomás Santos
733 Uma perspetiva diacrónica da ocupação do concheiro do Cabeço da Amoreira (Muge,
Portugal) a partir da tecnologia lítica
Joana Belmiro / João Cascalheira / Célia Gonçalves
745 Novos dados sobre a Pré-história Antiga no concelho de Palmela. A intervenção
arqueológica no sítio do Poceirão I
Michelle Teixeira Santos
757 Problemas em torno de Datas Absolutas Pré-Históricas no Norte do Alentejo
Jorge de Oliveira
771 Povoamento pré-histórico nas áreas montanhosas do NO de Portugal: o Abrigo 1
de Vale de Cerdeira
Pedro Xavier / José Meireles / Carlos Alves
783 Apreciação do povoamento do Neolítico Inicial na Baixa Bacia do Douro. A Lavra I
(Serra da Aboboreira) como caso de estudo
Maria de Jesus Sanches
797 O Processo de Neolitização na Plataforma do Mondego: os dados do Sector C do Outeiro
dos Castelos de Beijós (Carregal do Sal)
João Carlos de Senna-Martinez / José Manuel Quintã Ventura / Andreia Carvalho / Cíntia Maurício
823 Novos trabalhos na Lapa da Bugalheira (Almonda, Torres Novas)
Filipa Rodrigues / Pedro Souto / Artur Ferreira / Alexandre Varanda / Luís Gomes / Helena Gomes /
João Zilhão
837 A pedra polida e afeiçoada do sítio do Neolítico médio da Moita do Ourives
(Benavente, Portugal)
César Neves
857 Casal do Outeiro (Encarnação, Mafra): novos contributos para o conhecimento
do povoamento do Neolítico final na Península de Lisboa.
Cátia Delicado / Carlos Maneira e Costa / Marta Miranda / Ana Catarina Sousa
873 Stresse infantil, morbilidade e mortalidade no sítio arqueológico do Neolítico Final/
Calcolítico (4º e 3º milénio a.C.) do Monte do Carrascal 2 (Ferreira do Alentejo, Beja)
Liliana Matias de Carvalho / Sofia N. Wasterlain
885 Come together: O Conjunto Megalítico das Motas (Monção, Viana do Castelo) e as
expressões Campaniformes do Alto Minho
Ana Catarina Basílio / Rui Ramos
899 Trabalhos arqueológicos no sítio Calcolítico da Pedreira do Poio
Carla Magalhães / João Muralha / Mário Reis / António Batarda Fernandes
913 O sítio arqueológico de Castanheiro do Vento. Da arquitectura do sítio à arquitectura
de um território
João Muralha Cardoso
925 Estudo zooarqueológico das faunas do Calcolítico final de Vila Nova de São Pedro
(Azambuja, Portugal): Campanhas de 2017 e 2018
Cleia Detry / Ana Catarina Francisco / Mariana Diniz / Andrea Martins / César Neves /
José Morais Arnaud
943 As faunas depositadas no Museu Arqueológico do Carmo provenientes de Vila Nova
de São Pedro (Azambuja): as campanhas de 1937 a 1967
Ana Catarina Francisco / Cleia Detr y / César Neves / Andrea Martins / Mariana Diniz /
José Morais Arnaud
959 Análise funcional de material lítico em sílex do castro de Vila Nova de S. Pedro
(Azambuja, Portugal): uma primeira abordagem
Rafael Lima
971 O recinto da Folha do Ouro 1 (Serpa) no contexto dos recintos de fossos calcolíticos
alentejanos
António Carlos Valera / Tiago do Pereiro / Pedro Valério / António M. Monge Soares
6. Proto-História
987 Produção de sal marinho na Idade do Bronze do noroeste Português. Alguns dados
para uma reflexão
Ana M. S. Bettencourt / Sara Luz / Nuno Oliveira / Pedro P. Simões / Maria Isabel C . Alves /
Emílio Abad-Vidal
1001 A estátua-menir do Pedrão ou de São Bartolomeu do Mar (Esposende, noroeste de Portugal)
no contexto arqueológico da fachada costeira de entre os rios Neiva e Cávado
Ana M. S. Bettencourt / Manuel Santos-Estévez / Pedro Pimenta Simões / Luís Gonçalves
1015 O Castro do Muro (Vandoma/Baltar, Paredes) – notas para uma biografia de ocupação
da Idade do Bronze à Idade Média
Maria Antónia D. Silva / Ana M. S. Bettencourt / António Manuel S. P. Silva / Natália Félix
1031 Do Bronze Final à Idade Média – continuidades e hiatos na ocupação de Povoados
em Oliveira de Azeméis
João Tiago Tavares / Adriaan de Man
1041 As faunas do final da Idade do Bronze no Sul de Portugal: leituras desde o Outeiro
do Circo (Beja)
Nelson J. Almeida / Íris Dias / Cleia Detry / Eduardo Porfírio / Miguel Serra
1055 A Espada do Monte das Oliveiras (Serpa) – uma arma do Bronze Pleno do Sudoeste
Rui M. G. Monge Soares / Pedro Valério / Mariana Nabais / António M. Monge Soares
1065 São Julião da Branca (Albergaria-a-Velha) - Investigação e valorização de um povoado
do Bronze Final
António Manuel S. P. Silva / Paulo A. P. Lemos / Sara Almeida e Silva / Edite Martins de Sá
1083 Do castro de S. João ao Mosteiro de Santa Clara: notícia de uma intervenção arqueológica,
em Vila do Conde
Rui Pinheiro
1095 O castro de Ovil (Espinho), um quarto de século de investigação – resultados e questões
em aberto
Jorge Fernando Salvador / António Manuel S. P. Silva
1111 O Castro de Salreu (Estarreja), um povoado proto-histórico no litoral do Entre Douro
e Vouga
Sara Almeida e Silva / António Manuel S. P. Silva / Paulo A. P. Lemos / Edite Martins de Sá
1127 Castro de Nossa Senhora das Necessidades (Sernancelhe): uma primeira análise artefactual
Telma Susana O. Ribeiro
1141 A cividade de Bagunte. O estado atual da investigação
Pedro Brochado de Almeida
1153 Zoomorfos na cerâmica da Idade do Ferro no NW Peninsular: inventário, cronologias
e significado
Nuno Oliveira / Cristina Seoane
1163 Vasos gregos em Portugal: diferentes maneiras de contar a história do intercâmbio
cultural na Idade do Ferro
Daniela Ferreira
1175 Os exotica da necrópole da Idade do Ferro do Olival do Senhor dos Mártires (Alcácer
do Sal) no seu contexto regional
Francisco B. Gomes
7. Antiguidade Clássica e Tardia
1191 O uso de madeira como combustível no sítio da Quinta de Crestelos (Baixo Sabor):
da Idade do Ferro à Romanização
Filipe Vaz / João Tereso / Sérgio Simões Pereira / José Sastre / Javier Larrazabal Galarza /
Susana Cosme / José António Pereira / Israel Espi
1207 Cultivos de Época Romana no Baixo Sabor: continuidade em tempos de mudança?
João Pedro Tereso / Sérgio Simões Pereira / Filipe Santos / Luís Seabra / Filipe Vaz
1221 A casa romana na Hispânia: aplicação dos modelos itálicos nas províncias ibéricas
Fernanda Magalhães / Diego Machado / Manuela Martins
1235 As pinturas murais romanas da Rua General Sousa Machado, n.º 51, Chaves
José Carvalho
1243 Trás do Castelo (Vale de Mir, Pegarinhos, Alijó) – Uma exploração agrícola romana
do Douro
Tony Silvino / Pedro Pereira
1255 A sequência de ocupação no quadrante sudeste de Bracara Augusta: as transformações
de uma unidade doméstica
Lara Fernandes / Manuela Martins
1263 Os Mosaicos com decoração geométrica e geométrico-vegetalista dos sítios arqueológicos
da área do Conuentus Bracaraugustanus. Novas abordagens quanto à conservação,
restauro, decoração e datação
Maria de Fátima Abraços / Licínia Wrench
1277 Casa Romana” do Castro de São Domingos (Cristelos, Lousada): Escavação, Estudo
e Musealização
Paulo André de P. Lemos
1291 A arqueobotânica no Castro de Guifões (Matosinhos, Noroeste de Portugal): O primeiro
estudo carpológico
Luís Seabra / Andreia Arezes / Catarina Magalhães / José Varela / João Pedro Tereso
1305 Um Horreum Augustano na Foz do Douro (Monte do Castelo de Gaia, Vila Nova de Gaia)
Rui Ramos
1311 Ponderais romanos na Lusitânia: padrões, formas, materiais e contextos de utilização
Diego Barrios Rodríguez
1323 Um almofariz centro-itálico na foz do Mondego
Marco Penajoia
1335 Estruturas romanas de Carnide – Lisboa
Luísa Batalha / Mário Monteiro / Guilherme Cardoso
1347 O contexto funerário do sector da “necrópole NO” da Rua das Portas de S. Antão (Lisboa):
o espaço, os artefactos, os indivíduos e a sua interconectividade na interpretação do passado
Sílvia Loja, José Carlos Quaresma, Nelson Cabaço, Marina Lourenço, Sílvia Casimiro,
Rodrigo Banha da Silva, Francisca Alves-Cardoso
1361 Povoamento em época Romana na Amadora – resultados de um projeto pluridisciplinar
Gisela Encarnação / Vanessa Dias
1371 A Arquitectura Residencial em Mirobriga (Santiago do Cacém): contributo a partir
de um estudo de caso
Filipe Sousa / Catarina Felício
1385 O fim do ciclo. Saneamento e gestão de resíduos nos edifícios termais de Mirobriga
(Santiago do Cacém)
Catarina Felício / Filipe Sousa
1399 Balsa, Topografia e Urbanismo de uma Cidade Portuária
Vítor Silva Dias / João Pedro Bernardes / Celso Candeias / Cristina Tété Garcia
1413 No Largo das Mouras Velhas em Faro (2017): novas evidências da necrópole norte
de Ossonoba e da sua ocupação medieval
Ricardo Costeira da Silva / Paulo Botelho / Fernando Santos / Liliana Nunes
1429 Instrumentos de pesca recuperados numa fábrica de salga em Ossonoba (Faro)
Inês Rasteiro / Ricardo Costeira da Silva / Paulo Botelho
1439 A Necrópole Romana do Eirô, Duas Igrejas (Penafiel): intervenção arqueológica de 2016
Laura Sousa / Teresa Soeiro
1457 Ritual, descarte ou afetividade? A presença de Canis lupus familiaris na Necrópole
Noroeste de Olisipo (Lisboa)
Beatriz Calapez Santos / Sofia Simões Pereira / Rodrigo Banha da Silva / Sílvia Casimiro /
Cleia Detry / Francisca Alves Cardoso
1467 Dinâmicas económicas em Bracara na Antiguidade Tardia
Diego Machado / Manuela Martins / Fernanda Magalhães / Natália Botica
1479 Cerâmicas e Vidros da Antiguidade Tardia do Edifício sob a Igreja do Bom Jesus
(Vila Nova de Gaia)
Joaquim Filipe Ramos
1493 Novos contributos para a topografia histórica de Mértola no período romano e na
Antiguidade Tardia
Virgílio Lopes
8. Época Medieval
1511 Cerâmicas islâmicas no Garb setentrional “português”: algumas evidências e incógnitas
Constança dos Santos / Helena Catarino / Susana Gómez / Maria José Gonçalves / Isabel Inácio /
Gonçalo Lopes / Jacinta Bugalhão / Sandra Cavaco / Jaquelina Covaneiro / Isabel Cristina Fernandes /
Ana Sofia Gomes
1525 Contributo para o conhecimento da cosmética islâmica, em Silves, durante a Idade Média
Rosa Varela Gomes
1537 Yábura e o seu território – uma análise histórico-arqueológica de Évora entre os séculos VIII-XII
José Rui Santos
1547 A encosta sul do Castelo de Palmela – resultados preliminares da escavação arqueológica
Luís Filipe Pereira / Michelle Teixeira Santos
1559 A igreja de São Lourenço (Mouraria, Lisboa): um conjunto de silos e de cerâmica medieval
islâmica
Andreia Filipa Moreira Rodrigues
1571 O registo material de movimentações populacionais no Médio Tejo, durante os séculos
XII-XIII. Dois casos de “sunken featured buildings”, nos concelhos de Cartaxo e Torres Novas
Marco Liberato / Helena Santos / Nuno Santos
1585 O nordeste transmontano nos alvores da Idade média. Notas para reflexão
Ana Maria da Cost a Oliveira
1601 Sepulturas escavadas na rocha do Norte de Portugal e do Vale do Douro: primeiros
resultados do Projecto SER-NPVD
Mário Jorge Barroca / César Guedes / Andreia Arezes / Ana Maria Oliveira
1619 Portucalem Castrum Novum” entre o Mediterrâneo e o Atlântico: o estudo dos materiais
cerâmicos alto-medievais do arqueossítio da rua de D. Hugo, nº. 5 (Porto)
João Luís Veloso
1627 A Alta Idade Média na fronteira de Lafões: notas preliminares sobre a Arqueologia
no Concelho de Vouzela
Manuel Luís Real / Catarina Tente
1641 Um conjunto cerâmico medieval fora de portas: um breve testemunho aveirense
Susana Temudo
1651 Os Lóios do Porto: uma perspetiva integrada no panorama funerário da Baixa Idade Média
à Época Moderna em meios urbanos em Portugal
Ana Lema Seabra
1659 O Caminho Português Interior de Santiago como eixo viário na Idade Média
Pedro Azevedo
1665 Morfologia Urbana: Um exercício em torno do Castelo de Ourém
André Donas-Botto / Jaqueline Pereira
1677 Intervenção arqueológica na Rua Marquês de Pombal/Largo do Espírito Santo
(Bucelas, Loures)
Florbela Estêvão / Nathalie Antunes-Ferreira / Dário Ramos Neves / Inês Lisboa
1691 O Cemitério Medieval do Poço do Borratém e a espacialidade funerária na cidade de Lisboa
Inês Belém / Vanessa Filipe / Vasco Noronha Vieira / Sónia Ferro / Rodrigo Banha da Silva
1705 Um Espaço Funerário Conventual do séc. XV em Lisboa: o caso do Convento de São
Domingos da Cidade
Sérgio Pedroso / Sílvia Casimiro / Rodrigo Banha da Silva / Francisca Alves Cardoso
9. Época Moderna e Contemporânea
1721 Arqueologia Moderna em Portugal: algumas reflexões críticas em torno da quantificação
de conjuntos cerâmicos e suas inferências históricas e antropológicas
Rodrigo Banha da Silva / André Bargão / Sara da Cruz Ferreira
1733 Faianças de dois contextos entre os finais do século XVI e XVIII do Palácio dos Condes
de Penafiel, Lisboa
Martim Lopes / Tomás Mesquita
1747 Um perfil de consumo do século XVIII na foz do Tejo: O caso do Mercado da Ribeira, Lisboa
Sara da Cruz Ferreira / Rodrigo Banha da Silva / André Bargão
1761 Os Cachimbos dos Séculos XVII e XVIII do Palácio Mesquitela e Convento dos Inglesinhos
(Lisboa)
Inês Simão / Marina Pinto / João Pimenta / Sara da Cruz Ferreira / André Bargão / Rodrigo Banha da Silva
1775 «Tomar os fumos da erua que chamão em Portugal erua sancta». Estudo de Cachimbos
provenientes da Rua do Terreiro do Trigo, Lisboa
Miguel Martins de Sousa / José Pedro Henriques / Vanessa Galiza Filipe
1787 Cachimbos de Barro Caulínitico da Sé da Cidade Velha (República de Cabo Verde)
Rodrigo Banha da Silva / João P imenta / Clementino Amaro
1801 Algumas considerações sobre espólio não cerâmico recuperado no Largo de Jesus (Lisboa)
Carlos Boavida
1815 Adereços de vidro, dos séculos XVI-XVIII, procedentes do antigo Convento de Santana
de Lisboa (anéis, braceletes e contas)
Joana Gonçalves / Rosa Varela Gomes / Mário Varela Gomes
1837 Da ostentação, luxo e poder à simplicidade do uso quotidiano: arqueologia e simbologia
de joias e adornos da Idade Moderna Portuguesa
Jéssica Iglésias
1849 Os amuletos em Portugal – dos objetos às superstições: o coral vermelho
Alexandra Vieira
1865 Cerâmicas de Vila Franca de Xira nos séculos XV e XVI
Eva Pires
1879 «Não passa por teu o que me pertence». Marcas de individualização associadas a faianças
do Convento de Nossa Senhora de Aracoeli, Alcácer do Sal
Catarina Parreira / Íris Fragoso / Miguel Martins de Sousa
1891 Cerâmica de Leiria: alguns focos de produção
Jaqueline Pereira / André Donas-Botto
1901 Os Fornos na Rua da Biquinha, em Óbidos
Hugo Silva / Filipe Oliveira
1909 A casa de Pêro Fernandes, contador dos contos de D. Manuel I: o sítio arqueológico da Silha
do Alferes, Seixal (século XVI)
Mariana Nunes Ferreira
1921 O Alto da Vigia (Sintra) e a vigilância e defesa da costa
Alexandre Gonçalves / Sandra Santos
1937 O contexto da torre sineira da Igreja de Santa Maria de Loures
Paulo Calaveira / Martim Lopes
1949 A Necrópole do Hospital Militar do Castelo de São Jorge e as práticas funerárias na Lisboa
de Época Moderna
Susana Henriques / Liliana Matias de Carvalho / Ana Amarante / Sofia N. Wasterlain
1963 SAND – Sarilhos Grandes Entre dois Mundos: o adro da Igreja e a Paleobiologia dos ossos
humanos recuperados
Paula Alves Pereira / Roger Lee Jesus / Bruno M. Magalhães
1975 Expansão urbana da vila de Cascais no século XVII e XVIII: a intervenção arqueológica
na Rua da Vitória nº 15 a 17
Tiago Pereira / Vanessa Filipe
1987 Novos dados para o conhecimento do Urbanismo de Faro em época Moderna
Ana Rosa
1995 Um exemplo de Arqueologia Urbana em Alcoutim: o Antigo Edifício dos CTT
Marco Fernandes / Marta Dias / Alexandra Gradim / Virgílio Lopes / Susana Gómez Martínez
2007 Palácio dos Ferrazes (Rua das Flores/Rua da Vitória, Porto): a cocheira de Domingos
Oliveira Maia
Francisco Raimundo
2021 As muitas vidas de um edifício urbano: História, Arqueologia e Antropologia no antigo
Recreatório Paroquial de Penafiel
Helena Bernardo / Jorge Sampaio / Marta Borges
2035 O convento de Nossa Senhora da Esperança de Ponta Delgada: o contributo da arqueologia
para o conhecimento de um monumento identitário
João Gonçalves Araújo / N’Zinga Oliveira
2047 Arqueologia na ilha do Corvo… em busca da capela de Nossa Senhora do Rosário
Tânia Manuel Casimiro / José Luís Neto / Luís Borges / Pedro Parreira
2059 Perdidos à vista da Costa. Trabalhos arqueológicos subaquáticos na Barra do Tejo
Jorge Freire / José Bettencourt / Augusto Salgado
2071 Arqueologia marítima em Cabo Verde: enquadramento e primeiros resultados do
projecto CONCHA
José Bettencourt / Adilson Dias / Carlos Lima / Christelle Chouzenoux / Cristóvão Fonseca /
Dúnia Pereira / Gonçalo Lopes / Inês Coelho / Jaylson Monteiro / José Lima / Maria Eugénia Alves /
Patrícia Carvalho / Tiago Silva
2085 Trabalhos arqueológicos na Cidade Velha (Ribeira Grande de Santiago, Cabo Verde):
reflexões sobre um projecto de investigação e divulgação patrimonial
André Teixeira / Jaylson Monteiro / Mariana Mateus / Nireide Tavares / Cristovão Fonseca /
Gonçalo C. Lopes / Joana Bento Torres / Dúnia Pereira / André Bargão / Aurélie Mayer / Bruno Zélie /
Carlos Lima / Christelle Chouzenoux / Inês Henriques / Inês Pinto Coelho / José Lima /
Patrícia Carvalho / Tiago Silva
2103 A antiga fortificação de Quelba / Khor Kalba (E.A.U.). Resultados de quatro campanhas
de escavações, problemáticas e perspectivas futuras
Rui Carita / Rosa Varela Gomes / Mário Varela Gomes / Kamyar Kamyad
2123 Colónias para homens novos: arqueologia da colonização agrária fascista no noroeste ibérico
Xurxo Ayán Vila / José Mª. Señorán Martín
537 Arqueologia em Portugal / 2020 – Estado da Questão
imagens fantasmagóricas, silhuetas
elusivas: as figuras humanas
na arte do paleolítico superior
da região do côa
Mário Reis1
RESUMO
A representação da figura humana é rara na arte paleolítica europeia, e a região do Côa não é excepção, em-
bora desde o início se conheçam antropomorfos paleolíticos na sua arte de ar livre. Inicialmente restringidos
a dois sítios, a sua quantidade e dispersão territorial expandiu-se consideravelmente nos últimos anos, com
os continuados trabalhos de prospecção, registo de rochas decoradas e revisão das já conhecidas, ascendendo
actualmente a quase meia centena, pesem embora as dúvidas na classificação de várias entre elas. Este texto
apresenta o conjunto completo destas figuras inventariadas na arte do Côa, dividindo-as nos seus principais
grupos cronológicos e tipológicos, e reflectindo sucintamente sobre a sua possível continuação para a fase cul-
tural subsequente ao Paleolítico Superior.
Palavras-chave: Arte rupestre, Figuras antropomórficas, Paleolítico Superior, Epipaleolítico, Região do Côa.
ABSTRACT
The representation of the human figure is rare in European Paleolithic art, and the Côa region is no exception,
although Paleolithic anthropomorphs have been known in its open-air art since the beginning. At first re-
stricted to two sites, their quantity and territorial dispersion has considerably expanded in recent years, with
the continued work of survey, review and registration of decorated rocks, and currently amount to almost half
a hundred, despite the doubts concerning the classification of several among them. This text presents the com-
plete set of these figures in the Côa art, divided in their main chronological and typological groups, and briefly
reflecting on their possible continuation for the cultural phase subsequent to the Upper Paleolithic.
Keywords: Rock art, Anthropomorphic figures, Upper Paleolithic, Epipaleolithic, Côa Region.
1. Fundação Côa P arque / Centro de Estudos em Arqueologia, Artes e Ciências do Patr imónio da Universidade de Coimbra (CEAACP);
marioreissoares@sapo.pt
1. INTRODUÇÃO
Apesar da sua raridade, as representações antropo-
mórficas paleolíticas fazem parte do imaginário as-
sociado à arte do Côa, pois desde a revelação deste
complexo de arte rupestre ao mundo em finais de
1994 que a existência de uma destas figuras foi desde
logo conhecida e amplamente divulgada na comu-
nicação social e nos meios científicos. Para mais, não
se tratava de um motivo qualquer, e o “Homem de
Piscos”, como ficou designado na gíria, continua
a ser uma das mais impressionantes figuras da arte
paleolítica do Côa. A sua descoberta ocorreu em No-
vembro de 1994 por intermédio dos técnicos ao ser-
viço do “Projecto Arqueológico do Côa” (Rebanda,
1995, ficha 17), escassos dias antes do desencadear da
imensa polémica científica e mediática do Côa. Du-
rante anos manteve-se como a única figura do seu
género dentro do imenso corpus figurativo da arte
do Côa que ia sendo estudado e revelado. A partir de
1999, as f ulcrais escavações arqueológicas no terraço
fluvial do Fariseu permitiram o início da identifica-
ção de algumas raras figuras humanas na abundante
arte móvel exumada neste sítio, algumas reveladas
de imediato, outras aguardando por estudos mais
detalhados do conjunto das peças, recentemente
DOI: https://doi.org/10.21747/978-989-8970-25-1/arqa42
538
publicadas em pleno (Santos & alii, 2018). No mes-
mo sítio, o ano 2000 assiste à inventariação de várias
novas rochas decorada s, com o estudo das rochas 4 e
8 a permitir identificar novas figuras humanas, des-
de logo a partir de 2002 na rocha 8, mas só mais tarde
na rocha 4, com um palimpsesto de figuras incisas
de dificílima decifração e onde só o levantamento
completo em 2010 permitiu a identificação de duas
novas figuras humanas. Antes disso, e num retorno
ao vizinho sítio da Ribeira de Piscos, o ano de 1999
assistiu à descoberta da rocha 24, que estava qua-
se toda oculta por sedimentos e cuja escavação em
2000 e 2003 (Luís, 2009), permitiu o acesso a todos
os seus muitos painéis decorados, permitindo a ple-
na revelação de uma das mais extraordinárias rochas
com arte rupestre do complexo do Côa, e também
da sua abundante colecção de antropomorfos paleo-
líticos, cerca de uma vintena. Este era, aproximada-
mente, o quadro do conhecimento destas figuras na
altura da su a primeira publicação conjunta em 2009,
em que quase todas as figuras atrás mencionadas são
referidas (Baptista, 2009, pp. 66, 90-107), faltando
apenas as figuras da rocha 4 do Fariseu e algumas da
arte móvel deste mesmo sítio.
Este quadro permitia uma constatação, que era a cir-
cunscrição das figuras humanas paleolíticas a uma
zona restrita dentro do vale do Côa, definida pelos
sítios vizinhos da Ribeira de Piscos e Fariseu. Essa
restrição mantém-se válida para as figuras de um
determinado tipo (o Tipo I, maioritariamente Mag-
dalenense, e referido a seguir), as quais ainda hoje
são conhecidas unicamente nesta área. Mas já não
é válida para outros tipos de figuras, genericamen-
te assignáveis aos momentos finais do Paleolítico
Superior, numa fase que designarei neste trabalho
como Tardiglaciar (abrangendo os dois ou três mi-
lénios correspondentes ao final do período glaciar
e o princípio do Holoceno). Estas têm vindo pau-
latinamente a ser identificadas, em quantidades re-
duzidas mas numa ampla área territorial dentro do
complexo do Côa, que se estende ao longo deste rio
e avança para dentro do Douro. A sua identificação
decorre desde logo dos trabalhos de prospecção de
arte rupestre que tem decorrido continuadamente
desde o início até aos dias de hoje, e dos consequen-
tes trabalhos de estudo e registo das novas rochas
que vão sendo descobertas, e da sempre importante
revisão daquelas já conhecidas , que permite a act ua-
lização de conhecimentos e correcção de impressões
iniciais, nem sempre acertadas, pela imensa dificul-
dade em interpretar à vista desarmada a difícil arte
do Côa. Para além da figura da rocha 17 da Penascosa,
cedo identificada mas atribuída a cronologias mais
recentes, e à qual só agora proponho uma cronologia
paleolítica Tardiglaciar (ver abaixo), as restantes têm
sido identificadas sobretudo por mim próprio desde
2005, ano em que a prospecção realizada na Foz do
Côa permitiu a primeira referência, ainda hesitante,
a figuras humanas paleolíticas externas ao referido
duo de sítios (Baptista & Reis, 2008, pp. 84-85). Al-
gumas outras serão mencionadas de passagem em
publicações posteriores de inventário geral da arte
do Côa (Reis, 2012; 2013; 2014), e uma outra , no sítio
do Vale Escuro, foi primeiramente atribuída ao Pa-
leolítico Superior numa publicação recente (Santos
& alii, 2018, pp. 59, 94), havendo ainda outras que
se mantêm inéditas. Neste momento, entre figuras
confirmadas, prováveis ou incertas, as representa-
ções humanas paleolíticas na região do Côa ascen-
dem a quase meia centena, número que poderá fu-
turamente subir com mais trabalhos de prospecção
e estudo das rochas decoradas da região.
Neste trabalho apresento um inventário total das
figuras humanas paleolíticas actualmente conheci-
do (Figura 1), com imagens da maioria (Figuras 2, 3
e 4). Todas foram executadas por gravação, exclusi-
vamente pela técnica da incisão, com excepção das
pouco evidentes figuras pintadas das peças 85 e 86
da arte móvel do Fariseu. Como se verá a seguir, po-
dem separar-se em três tipos principais, e a sua cro-
nologia divide-se entre o Magdalenense e o Tardigla-
ciar. Mas neste trabalho abordo também, de forma
sumária, um outro conjunto de figuras, que chegam
às três dezenas, integralmente realizadas por pintu-
ra e cujo inventário também está presente na Figura
1. São estilisticamente relacionáveis com um dos ti-
pos principais das figuras paleolíticas, que abrange
a maioria das figuras humanas Tardiglaciares, mas
a sua cronologia e assignação cultural está ainda em
aberto. Presentemente, coloco-as no Epipaleolítico,
como parte da expressão artística comummente de-
signada como arte Subnaturalista, de que são exem-
plos partes importantes da arte Levantina ou da arte
do Tejo. No entanto, há questões que se levantam
sobre a sua correcta classificação cultural e cronoló-
gica, que abordarei de forma muito sucinta no final
deste texto, mas que são um dos temas principais da
investigação sobre arte rupestre pré-histórica, neste
momento e no futuro próximo, na região do Côa e
na Península Ibérica.
539 Arqueologia em Portugal / 2020 – Estado da Questão
Contextualizando quantitativamente as 48 figuras
humanas inventariadas no todo da arte paleolíti-
ca do Côa, distribuídas por apenas 15 registos (14
rochas mais a arte móvel do Fariseu) em nove dos
61 sítios (com 602 registos) com arte paleolítica,
constata -se a sua raridade neste complexo, sendo
apenas cerca de 1,1% das figuras paleolíticas inventa-
riadas (num universo superior a 4300), confirman-
do a norma europeia da escassez na representação
deste tipo de figuras.
É importante referir que, questões cronológicas à
parte, nem todas as figuras aqui inventariadas têm
igual grau de confiança na sua classificação como
representações humanas. A maioria das considera-
das Magdalenenses têm um aspecto humano indu-
bitável mas, do abundante conjunto da rocha 24 de
Piscos, cinco levantam dúvidas na sua classificação:
uma no painel 4 (Figura 2, nº 8), duas no painel 7 (Fi-
gura 2, nº 13 e 1 4), outra no painel 13 (Figura 2, nº 16),
e também a do painel 23. No Alto da Cotovia, uma
das figuras da rocha 3 merece também algumas dú-
vidas (Figura 3, nº 3), o mesmo acontecendo com a
da rocha 1 da Vermelhosa embora, em ambos os ca-
sos, me pareça crível a sua classificação. Na rocha 148
da Foz do Côa, a semelhança estilística das figuras
inventariadas com o universo das figuras “FF S” (ver
a seguir) é indubitável, mas a falta de detalhes ana-
tómicos explícitos permite dúvidas legítimas. Na
arte móvel do Fariseu, as figuras das peças 1 (Bap-
tista, 2009, p. 66; Santos & alii, 2018, pp. 11, 83) e 4
(Baptista, 2009, p. 104; Santos & alii, 2018, pp. 14,
83) têm um aspecto humano claro, mas a da peça 48
(Santos & alii, 2018, pp. 30-31, 89) não é evidente,
com um conjunto de inúmeros traços com um for-
mato apenas genericamente reconhecível como hu-
mano. É de classificação tipológica difícil, embora
com mais parecenças com as do Tipo II, e poderia
também tratar-se de um signo, ou de um conjunto
de signos. Quanto às figuras pintadas das peças 85
e 86 (Santos & alii, 2018, pp. 4 4-45, 93), têm um
formato humano claro, mas o seu estado de conser-
vação e extremo apagamento levanta algumas dú-
vidas quanto à sua identificação, e seria essencial o
aparecimento de mais exemplares semelhantes que
permitissem comparações fiáveis.
2. REVISÃO DE ALGUMAS FIGURAS
PUBLICADAS
É importante apresentar uma revisão de um grupo
de figuras relevantes para este texto. Três foram pu-
blicadas como antropomorfos paleolíticos, opinião
que presentemente não partilho. Outra foi referida
como pós-paleolítica, mas havendo agora razões
para recuar essa cronologia aos momentos finais do
Paleolítico Superior.
Dois exemplos surgem na rocha 1 do sítio da Verme-
lhosa, já sobre o Douro (Figura 4, nº 1). Nos primei-
ros trabalhos aqui realizados foi anunciada a possível
existência de três figuras antropomórficas femininas
paleolíticas, sendo apresentados esboços de duas
delas (Abreu & alii, 1998; Arcá, 1996). Este anúncio
passou largamente despercebido, sendo referente a
uma das rochas mais complexas da arte do Côa, com
dezenas de figuras e milhares de traços, formando
um dos densos palimpsestos presente em variadas
rochas da região, de muito difícil apreciação. Ain-
da não desenhada, fiz um inventário da sua icono-
grafia a partir de 2015, quando realizei um registo
completo e com centenas de fotografias de todas as
suas gravuras. Consegui identificar um dos motivos
atrás mencionados, interpretado como uma figura
feminina em perfil. Na realidade, não é um antro-
pomorfo, sendo bastante maior do que o interpre-
tado, prolongando-se acentuadamente para cima e
para baixo, formando um longo meandro ondulado.
Quanto à segunda figura, não consegui encontrar a
sua correspondente no intrincado emaranhado de
traços e motivos daquela superfície. Mas, à luz do
conhecimento obtido sobre a arte paleolítica do Côa,
não é difícil olhar para a imagem publicada e afirmar
que não se trata de uma figura humana, nem mes-
mo híbrida, mas simplesmente uma representação
zoomórfica, num estilo perfeitamente reconhecível
nas representações animais da fase Tardiglaciar do
Paleolítico Superior do Côa. Quanto à terceira figu-
ra, na falta de uma imagem publicada e de uma in-
dicação precisa da sua localização na superfície, não
foi possível a sua identificação, mas é improvável
que se trate da possível e nova figura humana que eu
próprio identifiquei nesta rocha, e que não tem nada
que sugira ser feminina (ver Figura 3, nº 12).
Outro caso de revisão classificativa ocorre com a
única figura da rocha 18 da Quinta da Barca (Figura
4, nº 2). Feita num traço picotado largo, profundo
e muito facilmente visível, foi sugerido que se tra-
540
taria de uma figura híbrida paleolítica, de provável
cronologia no período Gravetto/Solutrense (Bap-
tista, 2009, p. 90; Baptista, Santos & Correia 2006).
Uma opinião semelhante é reiterada recentemente,
incluindo na cronologia, salientando o seu aspecto
zoomórfico, mas referindo igualmente o seu pos-
sível lado humanoide (Santos, 2017, Vol. II, pp. 39-
-40). No entanto, creio que se pode colocar outra
hipótese interpretativa, a nível tipológico e cro-
nológico. Estilisticamente, tem semelhanças com
representações zoomórficas da Pré -história pós-
-paleolítica, com vários exemplos na região do Côa.
Com o corpo longo e estreito, patas e cabeça curtas,
esta última com pequenos cornos, as maiores se-
melhanças são com a figura da rocha 3 da Canada do
Inferno (Baptista & Gomes, 1997, pp. 221 -222, 268):
representações zoomórficas pouco naturalistas,
cuja identificação da espécie é difícil ou impossível,
e numa semelhança que se estende às características
do traço picotado, mais solto e disperso do que é a
norma das figuras paleolíticas mais antigas. Reafir-
mando uma hipótese anteriormente expressa (Reis,
2012, pp. 34 -35), a figura não é um híbrido paleolíti-
co, mas sim um animal indeterminado da arte Sub-
naturalista do Epipaleolítico.
Por fim, a original figura da rocha 17 da Penascosa
(Figura 3, nº 5). De apreciáveis dimensões e com
um grande falo erecto, colocada imediatamente por
detrás de um animal paleolítico no que se encarou
como uma possível cena de bestialismo encenada
com uma figura muito mais antiga, foi cedo publi-
cada como de cronologia pós-paleolítica, eventual-
mente neolítica, integrando-a no universo da Arte
Esquemática (Baptista, 1999, pp. 112-113). Mesmo
sem entrar em considerações estilísticas tão especí-
ficas, a sua atribuição a uma cronologia plenamen-
te holocénica (no sentido cronológico e cultural)
mantém-se em textos recentes (por exemplo, San-
tos, 2017, Vol. II, p. 93), e incluindo por mim próprio
(Reis, 2012, p. 35), mas onde já relevo um aspecto
importante: a semelhança estilística entre esta figu-
ra e alguns dos antropomorfos pintados da Faia.
Há algum tempo, no entanto, que revi a minha opi-
nião sobre esta figura, tendo passado a incluí -la no
universo cronológico do Tardiglaciar. Esta nova opi-
nião baseia -se na comparação com várias novas des-
cobertas na região do Côa, que referirei no capítulo
4, com a óbvia conclusão de que as características
estilísticas deste conjunto de figuras são semelhan-
tes, inseridas em contextos que apontam para os
momentos finais do Paleolítico Superior. Baseia -se
também na comparação com figuras conhecidas e
datadas no exterior, de que o conhecido “Brujo” da
Cueva Palomera de Ojo Guareña, em Burgos, Espa-
nha, será o melhor exemplo (Corchón & alii, 1996).
E, finalmente, baseia -se na análise da figura no seu
contexto imediato: a superfície onde foi gravada e as
restantes figuras que a acompanham. A comparação
relevante não é com a figura zoomórfica que lhe sur-
ge à frente e que inspirou a ideia da cena de bestialis-
mo (a qual, embora possível, me parece improvável,
sendo talvez apenas uma coincidência posicional).
Pelo traço muito mais patinado e, sobretudo, pelo
seu estilo muito cuidado e naturalista, é evidente
que é uma figura muito mais antiga, seguramen-
te Magdalenense, e que não pode ser emparelhada
cronologicamente com esta. A comparação pode ser
feita com outra figura que aparece imediatamen-
te à direita da sua mão, e que passou despercebida
porque no desenho que foi feito e posteriormente
publicado (Santos, 2017, Vol. II, p. 94) não foi cor-
rectamente levantada: aparece como um mero feixe
de traços mas, na realidade, é um pequeno cervídeo
(ou caprino) estriado, cujo estilo remete indubita-
velmente para o Paleolítico Tardiglaciar (ver Figura
4, nº 3). O aspecto relevante não está tanto na pro-
ximidade entre ambas as figuras, mas sim nas ca-
racterísticas do traço gravado. As linhas da gravura
correspondem a uma espécie de “incisão raspada”,
muito diferente do traço da figura Magdalenense,
mas comum ao caprino e ao antropomorfo, e apa-
recendo em outros conjuntos de traços na rocha.
A semelhança sugere a sua contemporaneidade, tal-
vez até a mesma autoria e, juntando com as outras
comparações acima referidas, sugere com clareza a
pertença da figura humana aos momentos finais do
Paleolítico Superior. É bem possível que seja já ho-
locénica, dado que o Tardiglaciar se prolonga para
tempos pós -glaciares, mas a sua pertença cultural
vincula -se ainda ao Paleolítico Superior.
3. A FIGURA HUMANA NO MAGDALE NEN SE:
RIBEIRA DE PISCOS E FARISEU
As primeira s figuras humanas paleolíticas claramen-
te identificadas na região (Baptista, 2009, pp. 90-
-107), para além de se circunscreverem a apenas dois
sítios numa zona muito restrita do Côa, formam um
conjunto estilisticamente bastante homogéneo, do
qual não parece haver grandes dúvidas na sua atri-
541 Arqueologia em Portugal / 2020 – E stado da Questão
buição cronológica e cultural ao Magdalenense, seja
por comparações com outras figuras europeias, seja
pela sua contextualização local, nomeadamente nas
próprias rochas onde surgem. É certo que em duas
das quatro rochas onde estas figuras foram iden-
tificadas aparecem pontualmente algumas (raras)
figuras da fase Tardiglaciar do Paleolítico Superior,
mas parecendo assegurada a sua ausência das ro-
chas 2 da Ribeira de Piscos e 4 do Fariseu. Ou seja,
estes motivos mais tardios não fornecem uma apta
contextualização às figuras humanas das quatro ro-
chas. Pelo contrário, todas as quatro, sem excepção,
apresentam em abundância um conjunto variado de
figuras de clara cronologia Magdalenense, caracteri-
zada pelo elevado naturalismo e detalhe das figuras
zoomórficas, muita s das quais se associam, de forma
mais ou menos directa, a algumas das figuras antro-
pomórficas, como na rocha 8 do Fariseu ou nalguns
casos da rocha 2 4 de Piscos.
Quanto à distribuição, o Fariseu congrega apenas
três figuras: uma na rocha 8, bem evidente e colo-
cada por cima de um caprino (Baptista, 2009, pp.
106-107; Santos, 2017, Vol. II, p. 196). Na rocha 4 as
duas figuras são menos evidentes, mas a análise do
desenho indica bem a sua existência (Santos, 2017,
Vol. II, p. 191). Na Ribeira de Piscos, a rocha 24 tem
20 figuras antropomórficas, uma extraordinária co-
leção no mundo da arte paleolítica e que faz juz à
que é, em todos os aspectos, uma extraordinária ro-
cha decorada (ver Santos, 2017, Vol. II, pp. 121-168).
E claro está, é na rocha 2 que se encontra o famo-
so Homem de Piscos (Baptista, 1999, pp. 122-123,
126-127), que congrega em si o ser a primeira figura
humana identificada na arte rupestre da região (pa-
leolítica e não só) e, dentro do conjunto das de cro-
nologia paleolítica, ser também a de maior dimen-
são (cerca de 50 cm de altura) e a mais expressiva,
com uma clara simbologia de cariz sexual, curiosa-
mente semelhante à da figura da Penascosa.
4. A EXPANSÃO DO TARDIGLACIAR.
DO CÔA AO DOURO
As novas figuras antropomórficas identificadas nos
últimos anos juntam várias características distin-
tas do grupo anterior: são todas mais recentes (com
dúvidas pontuais numa ou outra situação), têm
uma distribuição na região muito ampla e dispersa,
são tipologicamente diferentes das figuras do gru-
po Piscos/Fariseu, mas também apresentam maior
di ver sida de, dividindo-se em dois grandes tipos:
um corresponde às conhecidas silhuetas femininas
designadas habitualmente por “FFS” (Figures Fé-
minines Schématiques) ou figuras femininas “tipo
Gönnersdorf”, e é reduzido, estando limitado a
uma única figura na peça 1 da arte móvel do Fariseu
e a um conjunto de pelo menos sete figuras na rocha
148 da Foz do Côa. Todas as restantes, em número
de quinze, pertencem a um mesmo tipo, pesem em-
bora algumas dúvidas na c aracterização tipológica de
uma ou outra, e distribuem-se por 9 rochas em sete
sítios (Alto da Cotovia, Penascosa, Broeira, Foz do
Côa, Vale de José Esteves, Vermelhosa e Vale Escu-
ro) e por algumas das peças da arte móvel do Fariseu,
embora estes últimos casos sejam precisamente dos
que levantam dúvidas tipológicas. Para além destas
últimas e do exemplar da rocha 17 da Penascosa, qua-
se todas são inéditas, exceptuando a figura da rocha
11 do Vale Escuro (Santos & alii, 2018, pp. 59, 94).
A sua distribuição é vasta, começando no importan-
te sítio do Alto da Cotovia, a mais de 30 quilómetros
de distância da foz do Côa, seguindo-se a Penascosa,
a uma dezena de quilómetros deste ponto geográfi-
co, do qual já se aproximam os restantes exemplares,
na rocha 11 da Broeira e nas rochas 151 e 170 da Foz do
Côa (ainda no Côa), ou nas rochas 4 do Vale de José
Esteves, 1 da Vermelhosa e 11 do Vale Escuro, sobre
o Douro.
A sua contextualização cronológica por associação
a outras figuras tipicamente Tardiglaciares é seme-
lhante à das figuras Magdalenenses do Tipo I, estan-
do presente em quase todas as rochas em que sur-
gem a estas figuras. Para além do caso já analisado
da rocha 17 da Penascosa, existe uma associação a fi-
guras zoomórficas Tardiglaciares também na rocha
11 do Vale Escuro, e uma associação particularmente
forte e evidente nas rochas 151 da Foz do Côa e 1 da
Vermelhosa. Também na rocha 170 da Foz do Côa
essa contextualização é evidente, por razões que se-
rão detalhadas mais abaixo, enquanto que no Alto
da Cotovia a contextualização pode ser estendida
a todo o conjunto das rochas paleolíticas do sítio,
muito homogéneas do ponto de vista estilístico e
onde também pontuam figuras zoomórficas estria-
das Tardiglaciares. Menos evidente é o caso da rocha
11 da Broeira, cujos dois antropomorfos se associam
apenas a signos, e estando a rocha imediatamente
por cima da rocha 1, com motivos tanto Magdale-
nenses como Tardiglaciares. Também pouco clara
é a associação do antropomorfo da rocha 4 do Vale
542
de José Esteves, num sítio onde os motivos Tardi-
glaciares são extraordinariamente abundantes e do-
minantes, mas sendo a rocha 4 precisamente uma
excepção, com raros motivos Tardiglaciares e enor-
me abundância de figuras Magdalenenses. As três
figuras da arte móvel do Fariseu (peças 48, 85 e 86)
têm uma contextualização cronológica evidente,
mas são das mais atípicas dentro do Tipo II. Uma si-
tuação menos evidente ocorre na contextualização
das figuras da rocha 148 da Foz do Côa. Desde logo,
e aceitando a sua inclusão no Tipo III das “FFS”, es-
tas têm uma larga diacronia na arte Paleolítica Eu-
ropeia (cf. Bosinski, 2011), pela que a sua classifica-
ção cronológica por comparação estilística é difícil.
A rocha 148 apresenta numerosas outras figuras pa-
leolíticas, todas Tardiglaciares, mas a zona do sítio
onde se insere é precisamente onde aparece a maior
concentração de rochas com figuras Magdalenenses,
algumas bem perto desta, pelo que, também por
aqui, contextualizar localmente estas figuras seja
tarefa árdua. Parece-me, tendo em conta a realidade
da arte do Côa, que uma cronologia Tardiglaciar é a
mais provável, pela imensa abundância das figuras
desta fase face às anteriores, mas é uma questão que
se mantém aberta.
5. OS TRÊS PRINCIPAIS TIPOS
DE FIGURAS HUMANAS PRESENTES
NA REGIÃO DO CÔA
Olhando para o quadro das figuras humanas actual-
mente inventariadas no Côa, é possível f azer uma se-
paração em três grandes tipos: o Tipo I é o das figuras
humanoides, frequentemente grotescas mas de lai-
vos naturalistas, com ampla variedade e usualmente
datáveis do Magdalenense; o Tipo II é das figuras es-
tilizadas e estereotipadas do Tardiglaciar; o Tipo III,
mais raro, é o das figuras femininas de perfil.
O Tipo I está circunscrito a dois sítios vizinhos no
Côa, a Ribeira de Piscos e o Fariseu, sendo composto
por 25 exemplares (Figura 2). É o tipo de figura mais
abundante, mas presente em apenas quatro rochas,
duas em cada um dos sítios, e ainda na peça 4 da arte
móvel do Fariseu. Tipologicamente, definem -se
sucintamente como figuras de representação sub-
naturalista e não estereotipada, em que o desenho
da forma humana assume algum realismo e pro-
porcionalidade, com as silhuetas da cabeça, corpos
e membros a serem facilmente reconhecíveis, por
vezes com detalhes anatómicos (olhos, orelhas, se-
xos,…), em alguns casos raros até com peças de rou-
pa reconhecíveis. No entanto, não se podem con-
siderar como representações naturalistas de seres
humanos, e uma das suas características essenciais
e unificadoras é o seu aspecto tendencialmente gro-
tesco, por vezes animalesco ou mesmo deformado.
No Côa, o Homem de Piscos é talvez a mais natura-
lista de todas as figur as humanas da região, mas a sua
expressão é grotesca e as proporções corporais têm
notórias incorrecções; uma ou outra das figuras da
rocha 24 da Ribeira de Piscos entram no que se pode
considerar o domínio do fantástico ou monstruoso,
enquanto que outras não passam de silhuetas mal
reconhecíveis como seres humanos ou até reduzidas
a uma forma circular que se presume corresponder
a uma cabeça, como nos painéis 4 e 13. Assim, den-
tro de um ar de família reconhecível, a variedade e
a não conformação estereotípica é outro dos princi-
pais aspectos deste tipo específico de figuras, a que
se junta a sua forte expressividade cénica. Há muitas
figuras humanas europeias associáveis a este tipo,
entre as quais o homem da cena do Poço de Lascaux;
o chamado feiticeiro da gruta de Saint -Cirq; as figu-
ras humanas da gruta de Le Portel ou, num dos ca-
sos que mais evoca as figuras do Côa, a figura híbrida
da gruta de Hornos de La Peña (ver, por exemplo,
Clottes, 2008, pp. 120 -121, 136 -137, 171, 216). Tam-
bém as abundantes figuras da arte móvel de La Mar-
che se poderão integrar neste tipo, neste caso com
exemplares naturalistas, até mesmo retratistas, da
fisionomia humana (Pales & Saint Péreuse, 1976).
O Homem de Piscos, na sua cena sexual onanista, é
a maior e mais conhecida figura humana paleolítica
da arte do Côa, notavelmente expressiva, nomea-
damente na expressão facial grotesca, e anatomica-
mente muito detalhada, sobretudo na cabeça e na
representação do falo. A rocha 24 da Ribeira de Pis-
cos apresenta outras figuras, com grande variedade
de detalhes e contextos “cénicos”. Por exemplo, o
par de figuras dos painéis 2 e 3, uma feminina e outra
masculina colocadas quase lado a lado, numa loca-
lização talvez intencional, ambas com aparente re-
presentação de vestimentas (que poderá eventual-
mente aparecer também numa das figuras da rocha
4 do Fariseu), e que olham de frente para o obser-
vador. Também a olhar de frente estão as peculiares
figuras do painel 4 que se “abraçam fraternalmente”
pelos ombros. Plenamente de perfil encontra-se
uma figura do painel 7, de forma plenamente hu-
mana e em movimento dinâmico, de perna e braço
543 Arqueologia em Portugal / 2020 – Estado da Questão
avançado, e com uma cabeça de formato dilatado e
quase animalesco. De muito difícil percepção mas
absolutamente notável é uma possível representa-
ção de uma mulher grávida no painel 17, segurando
a barriga dilatada com as mãos, infelizmente sem a
cabeça, perdida por fracturação. Evocando o mundo
fantástico ou monstruoso estão a figura do painel 5,
de forma humanoide simples e de cuja face emerge
um auroque, numa extraordinária composição, ou a
muito estranha figura do painel 6, intencionalmente
sem cabeça e mesclando o humano com o grotesco
e monstruoso, e que aparenta estar relacionada com
duas figuras animais anexas, sobreposta a um auro-
que de forma que sugere o acto de “cavalgar”, e com
o braço estendido de forma a que a mão parece se-
gurar um pequeno caprino. A evocação do acto de
cavalgar surge de novo na figura da rocha 8 do Fari-
seu, com uma figura de forma humana simples mas
colocada sobre o dorso de um caprino (na Figura 2,
nº 24, o desenho desta figura foi feito por mim a par-
tir de fotografia e tem pequenas diferenças face ao
publicado, onde a figura animal sugere um misto de
cavalo e caprino).
Uma última figura a merecer menção encontra-se
na peça 4 da arte móvel do Fariseu, tipologicamente
apartada dos restantes antropomorfos neste con-
junto. Representa um antropomorfo visto de frente,
com a cabeça redonda e a parte superior do corpo,
tendo-se o resto perdido por fracturação, e tendo
também impactos de picotagem no interior da face,
assim como um conjunto de traços que emanam da
cabeça para o exterior. Desde logo, esta figura chama
a atenção pela questão cronológica. Todas as outras
figuras humanas incluídas no Tipo I podem ser co-
locadas no Magdalenense, pelas razões atrás men-
cionadas. Mas esta peça foi encontrada na U.E. 4 da
escavação do Fariseu, bem datada do Tardiglaciar (cf.
Aubry & Sampaio, 2008), pelo que surge num con-
texto bast ante posterior. No entanto, estilisticamen-
te, é claramente comparável com as figuras Magdale-
nenses do Tipo I. Essa comparação advém da forma
do corpo, de formas humanóides redondeadas. Mas ,
sobretudo, prende-se com o conjunto de traços que
emanam para fora da cabeça. De sentido muito obs-
curo, uma vez que não parece tratar-se de represen-
tação de cabelo, este tracejamento surge em quatro
outras figuras Magdalenenses, todas na Ribeira de
Piscos, com o Homem de Piscos na rocha 2 e mais
três figuras na rocha 2 4, incluindo o par masculino/
feminino atrás mencionado, e a sua presença nalgu-
mas das mais notáveis figuras antropomórficas da
região torna-o um detalhe estilístico muito relevan-
te e, na ausência de dados em contrário, como um
“fóssil director” do Tipo I dentro da região do Côa
(pelo menos). A discrepância cronológica desta figu-
ra face às restantes poderá talvez ser explicada por
duas hipóteses: em primeiro lug ar, uma sobrevivên-
cia para dentro do Tardiglaciar de uma característica
estilística própria do Magdalenense; ou, em alter-
nativa, uma origem Magdalenense daquela peça em
particular, e a sua sobrevivência “funcional” até ao
seu descarte no Tardiglaciar.
O Tipo II é representado por 15 figuras, na região
do Côa. São assinalavelmente distintas das figuras
do Tipo I e muito mais uniformes e estereotipadas
(Figura 3, nº 1 a 13). Caracterizam-se por um forma-
to corporal longo e esguio, os membros também
longos e estreitos, com frequente desproporciona-
lidade. O uso do traço estriado é comum a todas as
figuras da região. Os detalhes anatómicos são pou-
cos, quase sempre toscamente desenhados. A repre-
sentação fálica é frequente, e não há figuras com ca-
racterísticas femininas. As cabeças são geralmente
pouco esboçadas, por vezes inexistentes, raramente
assumindo uma forma arredondada. Os membros
só por vezes são rematados por pés ou mãos, des-
tacando-se estas últimas, geralmente com enormes
dedos. Assim, em termos gerais, caracterizam-se
como figuras estriadas, pouco naturalistas, pouco
variadas, predominando um formato grandemente
estereotipado, com escassa expressividade. A com-
paração mais evidente dentro da arte paleolítica
europeia é com o já mencionado “Brujo” da Cueva
Palomera de Ojo Guareña, num tipo de figuras par-
ticularmente relevante em contexto ibérico.
Olhando para os exemplares representados na Fi-
gura 3, é fácil compreender a inclusão da figura da
rocha 17 da Penascosa neste conjunto. Tem alguma
originalidade própria, nomeadamente por parecer
repetir a cena de onanismo presente na bem mais
antiga figura da rocha 2 da Ribeira de Piscos. A figu-
ra da rocha 170 da Foz do Côa merece uma menção
especial. É o motivo central de um alinhamento de
três, em que os dois laterais correspondem a peixes,
de corpo oval estriado, e tendo uma clara cronologia
Tardiglaciar. A figura central tem também longo cor-
po oval estriado, assim como dois longos apêndices
inferiores interpretáveis como a cauda, semelhantes
às das figuras laterais. No entanto, seja como acres-
cento posterior seja como composição de raiz, a figu-
544
ra apresenta igualmente dois pés, um possível braço
e, sobretudo, uma cabeça redonda, que lhe confere
um aspecto indubitavelmente humano, sem perder
a conexão, seguramente de simbolismo importante,
com as figuras de peixe, podendo assim ser consi-
derada uma figura híbrida. Quanto ao sítio do Alto
da Cotovia, assume grande importância no tocante
às figuras antropomórficas: no denso aglomerado
de cinco rochas paleolíticas inventariadas neste sí-
tio, duas apresentam figuras humanas, e outras duas
têm alguns motivos indeterminados que, pelo for-
mato, poderiam ser também antropomorfos, embo-
ra lhes faltem detalhes anatómicos mais explícitos.
O Tipo III é representado por oito figuras: uma na
peça 1 da arte móvel do Fariseu, e sete num notável
conjunto da rocha 148 da Foz do Côa (Figura 3, nº 14
e 15). Integram um tipo de figuras bem conhecido
da arte paleolítica europeia, o das figuras femininas
em perfil, um grupo muito específico dentro da re-
presentação humana paleolítica (ver Bosinski, 2011).
A imagem de marca destas figuras é a sua silhueta
em perfil com acentuada curvatura nas nádegas,
conferindo-lhes uma tipologia inconfundível, in-
dependentemente da existência de outros detalhes
anatómicos humanos. A figura da peça 1, de minús-
culas dimensões, não é das mais típicas, mas apre-
senta a conhecida silhueta em perfil com a exagerada
curvatura da nádega. O mesmo sucede nas figuras
da rocha 148 da Foz do Côa, que se apresentam em
sequência ordenada por baixo e ao longo de uma
linha em semicírculo emergindo de um caos de li-
nhas à esquerda para um alinhamento de sete figura s
individualizadas, que recordam as possíveis danças
que surgem como interpretação para alguns conjun-
tos semelhantes na Europa paleolítica, sendo rela-
tivamente frequentes os grupos de figuras em ali-
nhamentos (cf. Bosinski 2011). Na falta de detalhes
anatómicos mais explícitos nomeadamente braços
ou seios, é importante recordar que se mantém a
possibilidade de serem simplesmente um grupo de
meandros, mas a hipótese antropomórfica continua
a parecer-me a mais provável.
6. CONCEPTUALIDADES: O TARDIGLACIAR
E O EPIPALEOLÍTICO NA REPRESENTAÇÃO
HUMANA
Apesar do seu estatuto ultraminoritário no conjun-
to das figuras paleolíticas da região do Côa, é clara
a importância simbólica da representação humana,
assim como a sua mais longa diacronia face ao co-
nhecido inicialmente. Mas, para finalizar este tex-
to, falta conectar as figuras gravadas, bem inseridas
dentro de um contexto paleolítico, com as figuras
pintadas, cuja contextualização é, actualmente, me-
nos evidente do que se pensava. Há um ar de família
estilístico muito forte entre um grupo particular de
representações antropomórficas pintadas na região
do Côa, com as mais conhecidas a sit uarem-se no sí-
tio da Faia, a que se juntam outros exemplares mais
recentemente identificados no sítio do Ervideiro
(ver Figura 4, nº 7). Num estado de conservação de-
plorável, é menos certo que se possam juntar a este
conjunto duas figuras do abrigo da Ribeirinha, cuja
inclusão neste inventário é, para já, hipotética. Tam-
bém incerta é a inclusão do conhecido antropomor-
fo de mãos ao alto da rocha 1 da Faia (Baptista, 1999,
p. 160), embora me pareça provável, até pelo seu
afastamento dos cânones mais típicos da Arte Es-
quemática. As restantes figuras seguem, com algu-
mas variantes, um esquema semelhante: corpo alto
e esguio, por vezes inclinado, cabeças apenas esbo-
çadas e pouco detalhadas, por vezes inexistentes,
membros longos, por vezes com o nítido desenho
das mãos. Ou seja, são figuras estilisticamente se-
melhantes às do Tipo II, com a diferença de que são
pintadas, e tendencialmente maiores. Um exemplo
típico é a grande figura da rocha 3 da Faia (Baptista,
1999, p. 158), similar às duas figuras da rocha 5 do
mesmo sítio. E, como já foi referido, são também se-
melhantes à figura pintada da peça 85 do Fariseu (cf.
Santos & alii, 2018, p. 56). E esta semelhança levan-
ta naturalmente algumas questões. Deve-se incluir
este conjunto de figuras dentro da arte paleolítica,
nos seus momentos Tardiglaciares? Se sim, deve
juntar-se-lhes as figuras zoomórficas que lhes são
normalmente associadas dentro do estilo subnatu-
ralista, de que no Côa os exemplos mais conhecidos
são o veado picotado da rocha 1 de Vale de Cabrões
e os bovinos pintados da rocha 1 da Faia (Baptista,
1999, pp. 138-139, 159)? Ou, em alternativa, deve-se
assumir o parentesco estilístico destas figuras, hu-
manas e animais, com as da fase final do Paleolíti-
co Superior (o que parece, de uma ou outra forma,
ser uma evidência actual), mas considerá-las como
pertencentes a uma posterior fase cultural, normal-
mente denominada por Epipaleolítico? Estas ques-
tões, de resposta complexa, são hoje candentes na
investigação da arte rupestre pré-histórica europeia
e peninsular, também importantes nos conjuntos
545 Arqueologia em Portugal / 2020 – Estado da Questão
artísticos do Tejo português e do Levante espanhol,
entre outros. Serão também um dos objectivos pri-
mordiais da investigação recentemente iniciada, no
âmbito do projecto “LandCRAFT – os contextos
socio-culturais da arte da Pré-história Recente no
vale do Côa”, que se espera venha trazer nova infor-
mação a este assunto (Alves, 2020).
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546
Figura 1 – Relação das figur as antropomórficas de cronologia Paleolítica e Epipaleolítica da região do Côa, indicando-se
os sítios e registos de origem e o tipo em que se inserem. Na arte móvel do Fariseu indica-se a número da peça, e na
rocha 24 da Ribeira de Piscos indica-se o número do painel.
Registo Magdalenense Tardiglaciar Epipaleolítico
III III III III III III
R. Piscos 2 1
R. Piscos 24 (2) 1
R. Piscos 24 (3) 3
R. Piscos 24 (4) 3
R. Piscos 24 (5) 1
R. Piscos 24 (6) 1
R. Piscos 24 (7) 4
R. Piscos 24 (12) 1
R. Piscos 24 (13) 2
R. Piscos 24 (17) 1
R. Piscos 24 (21) 1
R. Piscos 24 (23) 1
R. Piscos 24 (28) 1
Fariseu a. m. (1) 1
Fariseu a. m. (4) 1
Fariseu a. m. (48) 1
Fariseu a. m. (85) 1
Fariseu a. m. (86) 1
Fariseu 4 2
Fariseu 8 1
Foz do Côa 148 7
Foz do Côa 151 1
Foz do Côa 170 1
V. J. Esteves 4 1
Penascosa 17 1
Vermelhosa 1 1
Broeira 11 2
Vale Escuro 11 1
Alto da Cotovia 2 2
Alto da Cotovia 3 2
Faia 1 1
Faia 3 1
Faia 5 2
Faia 8 7
Ervideiro 1 5
Ervideiro 2 12
Ribeirinha 1 2
TOTAL 24 1 15 8 30
547 Arqueologia em Portugal / 2020 – Estado da Questão
Figura 2 – Antropomorfos Paleolíticos de Tipo I. 1 – Ribeira de Piscos 2; 2 a 21 – Ribeira de Piscos 2 4 (entre parêntesis indica-se
o número do painel); 22 e 23 – Fariseu 4; 24 – Fariseu 8; 25 – Arte móvel do Fariseu (peça 4). Todos os desenhos são do PAVC/
CNART/Fundação Côa Parque, excepto o nº 2 4, feito pelo autor a partir de fotografia. Todas as figuras foram redu zidas à mes-
ma escala, excepto a nº 25 , aumentada 5 vezes em relação a essa escala.
548
Figura 3 – Antropomorfos Paleolíticos de Tipo II e Tipo III. Tipo II: 1 e 2 – Alto da Cotovia 2; 3 e 4 – Alto da Cotovia 3; 5 –
Penascosa 17; 6 – Arte móvel do Fariseu (peça 48); 7 e 8 – Broeira 11; 9 – Foz do Côa 151; 10 – Foz do Côa 170; 11 – Vale de José
Esteves 4; 12 – Vermelhosa 1; 13 – Vale Escuro 11. Tipo III: 1 4 – Foz do Côa 148; 15 – Arte móvel do Fariseu (peça 1). Figuras 5, 13 e
15: desenhos PAVC/CNART/Fundação Côa Parque; as restantes foram desenhadas pelo autor a partir de fotografia. Todas as fi-
guras foram reduzid as à mesma escala, excepto as nº 3, 1 4 e 15, respectiv amente aumentadas 3 , 2 e 5 vezes em relação a essa escala.
549 Arqueologia em Portugal / 2020 – Estado da Questão
Figura 4 – Em cima, três exemplos de revisão cronológica de figuras: 1 – Vermelhosa 1 (a partir de Arcà, 1996); 2 – Quinta da
Barca 18; 3 – Penascosa 17 (note-se o cervídeo Tardiglaciar à direita da mão do antropomorfo). Em baixo, exemplos diversos de
figuras antropomórficas: 4 – Alto da Cotovia 2 (parte superior); 5 – Ribeira de Piscos 24, painel 3 (detalhe da cabeça, notem-
-se os traços que emanam desta); 6 – Foz do Côa 148 (detalhe da figura na extremidade direita do conjunto); 7 – Ervideiro 2
(figura pintada possivelmente Epipaleolítica, talvez feminina, numa imagem tratada com DStretch). Todas as fotografias são
do autor.
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RESUMO: Desde a sua descoberta que a arte rupestre da região do Côa não tem cessado de aumentar os seus números, que se traduzem neste momento em mais de 80 sítios, com uma quantidade de rochas historiadas que ultrapassa bastante o milhar de registos. Nas primeira e segunda partes deste trabalho apresentamos uma descrição dos sítios dispersos ao longo dos dois eixos principais da distribuição da arte rupestre, os rios Côa e Douro, respectivamente. Nesta terceira e última parte apresentamos o ponto da situação do inventário e as conclusões, com uma resenha sobre o conhecimento obtido sobre cada um dos quatro períodos cronológicos da arte do Côa, e ainda uma adenda com os novos dados do inventário entretanto obtidos. Palavras-chave: Arte Rupestre; Vale do Côa; Prospecção. ABSTRACT: Since its discovery, the rock art of the Côa region has not ceased to increase its numbers, which are reflected at this point in more than 80 sites, with a quantity of engraved rocks that quite exceeds one thousand records. In the first and second parts of this paper we presented a description of the sites scattered along the two main axes of the rock art distribution, the rivers Côa and Douro, respectively. In this third and last part we present an inventory update and the final conclusions, with a review on the knowledge obtained on each of the four chronological periods of the Côa rock art, and also an addendum with the new inventory data obtained in the meantime. Keywords: Rock-art; Côa Valley; Archaeological Survey.
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RESUMO: Desde a sua descoberta, e a partir da sua divulgação pública em finais de 1994, a arte rupestre do vale do Côa não tem cessado de aumentar os seus números, que se traduzem neste momento em quase 80 sítios, com uma quantidade de rochas historiadas que ultrapassa já o milhar de registos. Paralelamente, também a diversidade destes sítios e registos se tem incrementado. Na primeira parte deste artigo apresentamos uma descrição dos sítios da arte do Côa distribuídos ao longo do vale deste rio. Nesta segunda parte apresentaremos a descrição dos restantes sítios deste imenso complexo de arte rupestre, desta vez contemplando os que se distribuem ao longo das margens do Douro, para ambos os lados da embocadura do Côa. Palavras-chave: Arte Rupestre; Vale do Côa; Prospecção. ABSTRACT: Since its discovery, and from its public announcement in late 1994, the rock art of the Côa valley has not ceased to increase its numbers, which are reflected at this point in almost 80 sites, with a quantity of engraved rocks that exceeds one thousand records. In parallel, the diversity of these sites and records has also increased remarkably. In the first part of this paper we presented a description of the Côa rock art sites distributed over the valley of this river. In this second part we present a description of the remaining sites of this huge rock art complex, contemplating now those distributed on the banks of the Douro river, along both sides of the mouth of the Côa. Keywords: Rock-art; Côa Valley; Archaeological Survey.
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RESUMO: Desde a sua descoberta, e a partir da sua divulgação pública em finais de 1994, a arte rupestre do vale do Côa não tem cessado de aumentar os seus números, que se traduzem neste momento em mais de 70 sítios, com uma quantidade de rochas historiadas que ultrapassa já o milhar de registos. Paralelamente, também a diversidade destes sítios e registos se tem incrementado notavelmente. Neste texto apresenta-se uma descrição de cada um dos sítios da arte do Côa, salientando-se as suas características topográficas, o historial da evolução das descobertas e o estado actual da prospecção, a quantidade e a cronologia dos registos inventariados, e as suas características sumárias, salientando as principais rochas e motivos. Palavras-chave: Arte Rupestre; Vale do Côa; Prospecção. ABSTRACT: Since its discovery, and from its public announcement in late 1994, the rock art of the Côa valley has not ceased to increase its numbers, which are reflected at this point in more than 70 sites, with a quantity of engraved rocks that now exceeds one thousand records. In parallel, the diversity of these sites and records has also increased remarkably. This paper presents a description of each site of the Côa rock art, pointing out its topographical features, the history of the evolution of the discoveries and the current state of archaeological survey, the quantity and chronology of the known records and their characteristics, highlighting the main rocks and motifs. Keywords: Rock-art; Côa Valley; Archaeological Survey.
Thesis
The main focus of this thesis concerns the Palaeolithic rock art of the Côa valley and of its territory of raw material procurement, drawing on the hypothesis that rock art reflects the ideology of the communities that created and experienced it. Although we think that it is impossible to define this ideology, we believe that is feasible to identify the type of prevailing ontology (sensu Descola) that underscores it. We show, through a historiographical approach, that Upper Palaeolithic cave art is but one side of a more varied phenomenon where natural light is highly relevant. The study of open-air rock art is therefore highly important in order to better understand European Palaeolithic art as a whole. The definition of the diachronic range and synchronies of a rock art sample is of crucial importance and must be established before any deeper analysis is undertaken. We accomplished that by applying correspondence analysis and cluster analysis to our sample. The result of that work was the identification of four classes of motifs with possible chronological significance, as it was revealed by the study of the rock art stratigraphy of the panels and by a geoarchaeological approach of the sites. The dating of these classes was made by the concurrence of geoarchaeological, archaeological and stylistic arguments. Four phases of artistic production were identified, ranging from Gravettian to Azilian. In the three older phases, we identified, through statistical procedures, the existence of regularities in the tendencies of association between motifs and in the way information is spread in the landscape. These regularities are compatible with a totemic type of ontology. We hypothesised that some of the bigger sites of the Côa valley have functioned in this context as aggregation sites of people of different social affiliations. The transition from a totemic type of ontology to the animistic type reflected in the Mesolithic rock art, was likely due to the changes in the hunting strategies forced by the climatic improvement started in the Late Glacial and finished, after the short break of the Late Dryas, during the Holocene.
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No tempo sem tempo: A arte dos caçadores paleolíticos do Vale do Côa. Com uma perspectiva dos ciclos rupestres pós-glaciares
  • António Baptista
  • Martinho
BAPTISTA, António Martinho (1999) -No tempo sem tempo: A arte dos caçadores paleolíticos do Vale do Côa. Com uma perspectiva dos ciclos rupestres pós-glaciares. Vila Nova de Foz Côa: Parque Arqueológico do Vale do Côa/Centro Nacional de Arte Rupestre.
Edições Afrontamento / Parque Arqueológico do Vale do Côa
  • Vila Nova De Foz Côa
Vila Nova de Foz Côa: Edições Afrontamento / Parque Arqueológico do Vale do Côa.
Arte rupestre e pré-história do Vale do Côa. Trabalhos de 1995-1996
  • Mário Gomes
  • Varela
GOMES, Mário Varela (1997) -Arte Rupestre. In ZILHÃO, João, ed., -Arte rupestre e pré-história do Vale do Côa. Trabalhos de 1995-1996. Lisboa: Ministério da Cultura, p. 213-406.