JORGE GAVRONSKI
FUNDAMENTOS DE
MINERAÇÃO
SEGURANÇA EM
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Departamento de Engenharia de Minas
Jorge Gavronski
FUNDAMENTOS DE
SEGURANÇA EM
MINERAÇÃO
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Porto Alegre
2022
Esta obra é licenciada sob Atribuição CC BY 4.0, sendo permitida a reprodução parcial ou total desde que
mencionada a fonte.
Esta obra foi elaborada para ns ensino/aprendizagem.
Editoração:
Cientíka - Assessoria para pesquisadores
10.29327/5176037
Fundamentos de segurança em mineração. [recurso eletrônico] /
Jorge Gavronski. Porto Alegre, 2023
129 p. : il., color. ; 11.215 kb.
E-book.
ISBN 978-65-5973-212-8.
DOI 10.29327/5176037
1. Engenharia de Minas. 2. Segurança do trabalho. I. Título. II.
Departamento de Engenharia de Minas
CDU 622
G283 Gavronski, Jorge
Catalogação na Publicação: Amanda de Abreu Gularte, CRB 10/2500
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)
À minha esposa e companheira Heidy e
aos meus lhos Lucas e Pedro
SUMÁRIO
1 MINERAÇÃO E A SOCIEDADE ........................................................... 9
1.1 Atividade de Mineração .................................................................................................................................................................. 9
1.2 Melhoria nas técnicas ....................................................................................................................................................................... 10
1.3 Perigos representados por pequenas minerações .............................................................................................................10
1.4 Fases do projeto mineiro ................................................................................................................................................................ 10
1.5 Riscos da etapa de encerramento .............................................................................................................................................11
1.6 Imagem da Mineração .................................................................................................................................................................... 12
1.7 A Mineração é Perigosa .................................................................................................................................................................. 12
1.8 A importância da mineração para a sociedade ................................................................................................................... 13
1.9 Mineração não é uma atividade do passado .......................................................................................................................14
1.10 Reciclagem ............................................................................................................................................................................................ 15
1.11 Atividade Garimpeira ........................................................................................................................................................................16
1.11.1 Recomendações para as áreas de garimpo existentes .................................................................................................... 17
1.11.2 Cooperativa de garimpeiros do Médio Alto Uruguai .......................................................................................................18
1.12 Impactos sociais dos projetos de mineração ........................................................................................................................19
1.12.1 Deslocamento e realocação humana ....................................................................................................................................... 19
1.12.2 Disputa pelo uso da água .............................................................................................................................................................. 20
1.13 Necessidade de equilibrar a preservação do meio ambiente com o desenvolvimento social e econômico
21
2.1 Riscos Físicos ........................................................................................................................................................................................ 25
2.1.1 Ruídos ......................................................................................................................................................................................................25
2 RISCOS AMBIENTAIS NO AMBIENTE DE MINERAÇÃO .............25
2.1.1.1 Medida física do som .......................................................................................................................................................................26
2.1.1.2 Escalas para medida de pressão, potência e intensidade das ondas sonoras - Lineares. Decibel na medida
física do som ........................................................................................................................................................................................27
2.1.2 Vibrações ............................................................................................................................................................................................... 29
2.1.3 Radiações ...............................................................................................................................................................................................29
2.1.3.1 Radiações ionizantes ........................................................................................................................................................................ 31
2.1.3.2 Radiação não ionizante ................................................................................................................................................................... 32
2.1.4 Temperaturas extremas ................................................................................................................................................................... 33
2.1.5 Pressões anormais ............................................................................................................................................................................. 35
2.1.6 Umidade .................................................................................................................................................................................................36
2.1.7 Riscos Ergonômicos .......................................................................................................................................................................... 36
2.2 Agentes Químicos ............................................................................................................................................................................. 40
2.3 Riscos Biológicos ................................................................................................................................................................................ 42
2.4 Riscos Acidentes ................................................................................................................................................................................. 43
2.4.1 Condição insegura ............................................................................................................................................................................44
2.4.2 Atos Inseguros ..................................................................................................................................................................................... 44
2.4.3 Consequências do Acidente ......................................................................................................................................................... 45
2.4.4 Comunicação de Acidentes .......................................................................................................................................................... 45
2.5 Exposição conjunta de agentes ambientais .......................................................................................................................... 46
3 IMPACTOS AMBIENTAIS DOS PROJETOS DE MINERAÇÃO ..... 51
3.1 Fase de implantação da mina ......................................................................................................................................................52
3.2 Desenvolvimento da mina .............................................................................................................................................................53
3.3 Extração do minério (lavra) ............................................................................................................................................................53
3.4 Mineração aluvial ou de depósito de placer ......................................................................................................................... 53
3.5 Mineração subterrânea ................................................................................................................................................................... 53
3.6 Beneciamento ...................................................................................................................................................................................54
3.7 Reprocessamento em minas e rejeitos antigos ................................................................................................................... 54
3.8 Resíduosdosprocessosdebeneciamento .........................................................................................................................54
3.9 Pilhas de Lixiviação ............................................................................................................................................................................ 54
3.10 Barragem de Rejeitos .......................................................................................................................................................................55
3.11 Opções para descarte de rejeitos ............................................................................................................................................... 55
3.12 Prática comum antes das normas ambientais .....................................................................................................................56
3.13 Impactos nos recursos hídricos ...................................................................................................................................................56
3.14 O potencial de drenagem ácida é uma questão fundamental? ..................................................................................56
3.15 Impactos dos projetos de mineração na qualidade do solo .........................................................................................57
3.16 Erosão é um grande problema ...................................................................................................................................................57
3.17 Erosãodosoloeresíduosdemineraçãoemáguassuperciais..................................................................................57
4.1 Deniçõesimportantes(acidente/eventoindesejável;risco,perigo,fontederisco) .........................................59
4 TEORIAS E CONCEITOS BÁSICOS: GESTÃO DE RISCOS ............. 59
4.2 Expressão do Risco ............................................................................................................................................................................61
4.3 Condições de segurança de um processo ............................................................................................................................. 62
4.4 Modelagem cartesiana de avaliação do risco ...................................................................................................................... 64
4.5 Noção de cadeia de acontecimentos (Atos inseguros e Condições inseguras) ...................................................66
4.6 Modelos Sistêmicos .......................................................................................................................................................................... 67
4.7 Pirâmide de Bird ................................................................................................................................................................................. 68
4.8 Aplicaçao das teoria de Bird na mineração ........................................................................................................................... 69
5 SEGURANÇA DE SISTEMAS VISÃO DE PROCESSO; HISTÓRICO;
NORMAS ISO; CERTIFICAÇÃO; CICLO PDCA ..................................... 71
5.1 HistóricodaaplicaçãodeConabilidadeemSistemas .................................................................................................... 72
5.2 Considerações sobre as Metodologias de segurança desenvolvidas a partir da Teoria de Sistemas e apli-
cação na Mineração .........................................................................................................................................................................74
5.3 Sistema de normatização ISO ...................................................................................................................................................... 75
5.3.1 OHSAS 18001 ........................................................................................................................................................................................76
5.3.2 Normas ISO .......................................................................................................................................................................................... 76
5.3.3 Norma de Saúde e Segurança Ocupacional ISO 45001 .................................................................................................. 77
5.4 Processo de Melhoria Contínua – Ciclo PDCA ..................................................................................................................... 77
5.5 Compliance ..........................................................................................................................................................................................80
6.1 Processo de Gestão dos riscos na visão da ABNT NBR ISO 31.000............................................................................83
6
VISÃO INTERNACIONAL DA GESTÃO DE RISCOS, ESPECIALMENTE
NAS EMPRESAS DE MINERAÇÃO ..........................................................
83
6.2 ALARP ......................................................................................................................................................................................................86
6.3 Métodos qualitativos x métodos quantitativos ou semiquantitativos ....................................................................... 87
6.4 CerticaçãopeloSistemaISOnocontextomineiro ......................................................................................................... 88
7 TEORIA DAS BARREIRAS .................................................................... 90
7.1 Hierarquia das Medidas de Controle (HMC) ......................................................................................................................... 93
8
METODOLOGIAS DE AVALIAÇÃO DO RISCO E AVALIAÇÃO
QUALITATIVA DOS RISCOS ......................................................................
96
8.1 Análise qualitativa – Digrama de Ishikawa .............................................................................................................................99
9
MÉTODOS QUANTITATIVOS DE AVALIAÇÃO DOS RISCOS ......
103
9.1 Conabilidade ...................................................................................................................................................................................... 104
9.2 Aplicação de probabilidade e estatística para determinar a sobrevivência do sistema. ...................................105
9.3 Equações de Weibull ........................................................................................................................................................................ 106
9.4 Tipos de falhas esperadas em um Sistema ou produto ..................................................................................................107
9.5 Modelos .................................................................................................................................................................................................108
9.6 ConabilidadesdeSistemas ........................................................................................................................................................ 109
9.7 Redundância .........................................................................................................................................................................................109
9.8 Processo da decisão em situação de risco .............................................................................................................................110
9.9 RegraseDeniçõesdaálgebraBooleana ..............................................................................................................................111
9.9.1 Operação lógica - E (AND) ............................................................................................................................................................111
9.9.2 Operação lógica – Ou (OR) ...........................................................................................................................................................111
9.9.3 Exemplos de aplicação: ................................................................................................................................................................... 112
9.10 Árvore de Decisões ........................................................................................................................................................................... 114
9.10.1 Etapas para o traçado da árvore de decisão ........................................................................................................................115
9.10.2 Árvores de decisão – Vantagens e desvantagens .............................................................................................................117
10 METODOLOGIA SEMIQUANTITATIVA PARA GESTÃO DO RISCO -
MATRIZ DE RISCO ..................................................................................... 119
10.1 Como criar uma matriz de Risco ................................................................................................................................................ 120
10.2 Determinação do nível do risco (Risk rating) ........................................................................................................................120
10.3 Implantação e utilização da matriz de risco na organização ........................................................................................122
11
METODOLOGIA BOWTIE ...................................................................
125
PREFÁCIO
A mineração é uma atividade fundamental para a sociedade, mas também tem sido alvo de desconança de-
vido aos impactos negativos e acidentes ocorridos ao longo dos anos. É importante garantir que seja realizada de
forma responsável, com menos impactos e garantindo a segurança dos trabalhadores.
A gestão dos riscos nas empresas de mineração se tornou mais complexa e exige a incorporação de novas
técnicas e habilidades, especialmente relacionadas às relações sociais, questões ambientais e segurança do traba-
lho.
A realização da mineração de forma mais segura e sustentável é, no entanto, um desao considerável! Trata-
se de uma atividade complexa, que envolve muitos fatores, tem suas peculiaridades, com problemas especícos
que envolvem técnicas e alguma subjetividade. A atividade depende de jazidas, recursos não renováveis com vida
útil limitada e localizados onde a natureza os colocou, e não necessariamente em locais convenientes.
Os gerentes são responsáveis por gerenciar todos os aspectos da operação, incluindo a segurança dos traba-
lhadores, a qualidade do produto nal, o cumprimento de regulamentações e a maximização dos resultados. Eles
são frequentemente confrontados com decisões não rotineiras e precisam tomar decisões sob pressão em situa-
ções de risco. Além disso, a mineração pode ter impacto signicativo no meio ambiente e na comunidade local que
precisam ser consideradas nas decisões.
O uso de tecnologias modernas é uma ferramenta poderosa para facilitar a conformidade com práticas am-
bientais responsáveis e aumentar a segurança, mas também há muitos exemplos de impactos negativos causados
pela falta de conformidade com as melhores técnicas que continuam acontecendo.
O autor, com mais de 40 anos de vida prossional nas empresas de mineração e de professor na Escola de
Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, usou sua experiência e extensa pesquisa bibliográca
para escrever sobre o assunto.
O livro "Fundamentos de Segurança em Mineração" aborda os principais aspectos da segurança na indústria
da mineração e tem como objetivo fornecer informações e orientações para os atuais e futuros gestores sobre
como gerenciar os riscos. Ele é organizado em onze capítulos e visa contribuir para a melhoria do ambiente de
trabalho na mineração, oferecendo condições mais seguras e saudáveis para as pessoas.
CAPÍTULO 1
1.1 ATIVIDADE DE MINERAÇÃO
A mineração é uma atividade necessária para a obtenção da maioria dos materiais que a sociedade necessita
e que não podem ser cultivados por processos agrícolas ou criados em laboratórios ou fábricas.
A mineração consiste nos processos de pesquisa, exploração, extração e beneciamento de minerais, normal-
mente na crosta da terra, que podem se apresentar em estados sólido, líquido ou gasoso.
Um depósito mineral necessita de capital para ser desenvolvido e ser transformado num empreendimento
mineiro ou numa mina. A implantação necessita de grandes volumes de recursos e longo tempo de maturação
para entrar em fase de produção dependendo do porte, localização e condições da jazida ou do depósito mineral.
A atividade tem como condicionante a viabilidade econômica do investimento, que envolve uma análise do
potencial de lucro do empreendimento proposto.
A viabilidade econômica depende, entre outros fatores, das concentrações dos minerais e das quantidades
que eles estão presentes na jazida. O preço de mercado do mineral, depende, principalmente frequência em que
ocorre na crosta terrestre, e da demanda.
O projeto viável de mineração é aquele que dá lucro depois vender os produtos por um preço que pague os
custos do capital de produção, comercialização e impostos.
A mineração apresenta ainda a peculiaridades da jazida se constituir em um recurso não renovável, com vida
útil limitada. Depois que o minério é extraído deve ocorrer o encerramento das atividades e a restauração do site,
cujos custos também devem ser considerados na viabilidade econômica do empreendimento mineiro.
Os fatores de maior impacto na viabilidade do empreendimento de mineração são o porte, a complexidade
das operações e a localização das instalações. Normalmente são posicionados junto da jazida, mas em algumas
situações podem ser mais distantes ou próximos dos locais de consumo ou de transformação do produto.
Outros fatores de grande relevância que impactam na viabilidade e que devem ser considerados são:
• Método de lavra (Céu aberto ou subterrâneo)
• Recuperação da reserva (depende do método de lavra).
• Processo de beneciamento
• Necessidade de infraestrutura e distância dos centros urbanos (energia, transporte, habitações entre
outros).
• Exigências contratuais do mercado.
• Vida útil das instalações e equipamentos.
• Vida útil do empreendimento como um todo: Prazos de implantação, desenvolvimento dos acessos
ao minério. Número de anos de produção.
• Competência e capacidade (técnica nanceira) da empresa para produzir e comercializar a um custo
lucrativo.
• Custos de descomissionamento do site no encerramento das atividades: A área tem que ser reabilita-
da e disponibilizada para outra utilização da sociedade.
• Legislação - Restrições ambientais, relativas à segurança de trabalhadores e comunidades próximas.
As operações mineiras geralmente criam um impacto ambiental negativo, tanto durante a atividade de mine-
ração quanto após o fechamento da mina.
MINERAÇÃO E A SOCIEDADE
10
Fundamentos de segurança em Mineração
A maioria dos países tem implantado leis de controle para diminuir o impacto. Entretanto, o papel despropor-
cional da mineração na geração de negócios para comunidades muitas vezes rurais, remotas ou economicamente
deprimidas induzem muitas situações de não atendimento da regulamentação na totalidade ou parcialmente.
A segurança dos trabalhadores é uma preocupação antiga sobre o setor da mineração. A história registra
muitos acidentes e doenças do trabalho. A mineração mal regulamentada, especialmente em economias em de-
senvolvimento, frequentemente contribui para violações locais de direitos humanos
1.2 MELHORIA NAS TÉCNICAS
Ao longo do tempo, as empresas de mineração têm operado em um ambiente de volatilidade, inuenciado
por fatores como: globalização dos mercados, aumento da utuação das taxas de câmbio, mudanças tecnológicas,
dentre outros.
Esse conjunto de elementos somados às incertezas das informações geológicas, expõe o empreendimento
de mineração à elevados riscos.
O setor se caracteriza também pela grande diferença que existe entre as empresas mineração de grande,
médio e pequeno porte. Fator que deve ser considerada no estabelecimento de políticas de controle para o setor.
Existem empresas idôneas e sérias que operam comprometidas com padrões éticos de “Compliance” sociais
e ambientais, mas deve ser lembrado que as riquezas minerais historicamente atraem especuladores, sonhadores,
trapaceiros etc.
O incremento, das melhores técnicas de mineração e prospecção somados a controles da sociedade materia-
lizadas em legislações tendem a levar a uma situação mais racional e sustentável.
Nas últimas décadas houve uma evolução muito grande nas tecnologias de mineração e os impactos da ativi-
dade podem ser abrandados com técnicas, mundialmente dominadas, que permitem atender padrões adequados
de segurança e qualidade ambiental. Por outro lado, a mineração representa grandes desaos: - As jazidas apre-
sentam restrições locacionais, não estão onde se quer, e sim onde a natureza as formou, fato que gera conitos em
relação ao uso e ocupação do território.
Para a alocação de capital num projeto devem ser realizadas rigorosas avaliações de viabilidade econômica.
Existem parâmetros mundialmente estabelecidos. Verica-se um esforço contínuo, crescente dos executivos para
aprimorar as técnicas e procedimentos para diminuir os riscos.
1.3 PERIGOS REPRESENTADOS POR PEQUENAS
MINERAÇÕES
As pequenas minerações são atualmente as que apresentam maior número de fatalidades e ferimentos gra-
ves nos seus trabalhadores.
Também exigem atenção especial, os empregados terceirizados ou temporários trabalhando nas minas com
jornadas exaustivas, menos treinados com maior propensão a acidentes de trabalho.
De acordo com o Plano Nacional de Mineração, feito pelo Ministério de Minas e Energia, existem um milhão
e cem mil pessoas trabalhando na mineração no Brasil, desse total apenas 200 mil são contratados diretos da mi-
neração. O restante são funcionários como vigilantes, técnicos, trabalhadores do transporte, logística etc. O caso
que melhor ilustra esse dado é o [da barragem] de Fundão, em Mariana (MG), em que dos 14 trabalhadores que
morreram no rompimento, 13 eram terceirizados. Em algumas minas, o número de terceirizados chega a 80%.
1.4 FASES DO PROJETO MINEIRO
O ciclo de vida de um projeto de mineração é dividido em quatro fases principais.
• A primeira fase de exploração que se estende por um período de 7 a 10 anos, engloba a pesquisa
11
Mineração e a Sociedade
para caracterização, quanticação dos materiais a serem extraídos e viabilidade econômica.
• A segunda fase de desenvolvimento que se estende por 5 a 10 anos, inicia com o planejamento das
várias fases que se seguem exploração e com as ações necessárias para colocar o depósito em produção
comercial.
• A terceira fase de operação dependendo do porte da jazida normalmente engloba um período de 2 a
20 anos. Existem também projetos que se estendem por maior tempo, até centenários. Essa fase com-
preende principalmente a fase de produção comercial e marca o início da lucratividade. As equipes da
mina assumem o controle de todas as operações de mineração.
• A quarta fase de descomissionamento ou encerramento (Closure) e pós-fechamento (pós-closure). Os
princípios das ações de fechamento mundialmente aceitos devem promover a estabilidade física e quími-
ca do site. Deve ainda adequar o sie para uma nova utilização.
Normalmente é uma etapa longa, se estende por 2 a 10 anos. Envolve a desmontagem e realocação de ins-
talações e equipamentos. A fase nal inclui o fechamento denitivo do site fechamento de poços, estruturas de
acessos e a reabilitação das terras usadas.
Envolve ainda o monitoramento e intervenções nas estruturas e nas áreas que foram reabilitadas.
1.5 RISCOS DA ETAPA DE ENCERRAMENTO
A vida útil da mina é limitada à reserva lavrável, mas fatores econômicos, sociais e ambientais podem tornar
a vida útil da mina mais curta do que o esperado.
O fechamento da mina está associado a impactos adversos no site e no seu entorno, como desemprego, per-
da de serviços comunitários e poluição que ameaçam atingir os objetivos de desenvolvimento sustentável.
Portanto, a gestão do risco de fechamento de mina é necessária para reduzir os efeitos negativos.
A gura 1.1 mostra os tempos envolvidos em um projeto mineiro comparando as curvas de risco e a variação
do valor do negócio com o passar do tempo.
Chama a atenção o elevado risco inicial do negócio ou risco empresarial que vai reduzindo conforme as eta-
pas do projeto. De forma diferente a curva de valor do negócio aumenta até um patamar de plenitude da operação
e depois vai caindo na proporção do esgotamento das reservas minerais.
Chama atenção também a elevação dos riscos na fase nal, coincidente com o encerramento das atividades.
São riscos diversos que o empreendedor deve considerar relativo ao fechamento da mina (novas legislações, cus-
tos ambientais, sociais, indenizações etc.).
FIGURA 1.1 Comparação de valor e risco do projeto mineiro.
Fonte: O'Connor e Spearing, 2017
12
Fundamentos de segurança em Mineração
1.6 IMAGEM DA MINERAÇÃO
A mineração apesar da importância para a manutenção do nível de vida e avanços das sociedades modernas
não tem boa imagem perante as populações. A noção de que as mineradoras enriquecem às custas da sociedade é
bastante difundida, ao mesmo tempo em que sua contribuição econômico-social é questionada. "Esse movimento
cresce a despeito de as empresas do setor investirem somas signicativas em políticas voltadas à preservação do
meio ambiente e ao desenvolvimento de comunidades locais." (DELLOITE, 2015, p. 4)
A sociedade precisa dos bens minerais que são as bases, das indústrias energética, metalúrgica, química, da
construção civil e de alta tecnologia. Pode-se dizer que a sociedade quer os bens produzidos, mas não gosta da
mineração.
Do ponto de vista histórico, o sentimento negativo deve-se aos impactos no meio ambiente e a história de
acidentes, conitos sociais e doenças provocados pela atividade mineira ao longo dos tempos. São fatos relaciona-
dos a falta de controle social e falta de soluções tecnológicas adequadas, que resultaram em elevadas penalizações
para os trabalhadores e comunidades em diversas regiões/países.
FIGURA 1.2 Desenho de um aluno de uma escola em Carajás/Pará expressando a sua percepção sobre a mineração.
Fonte: Costa, 2010
"A sociedade está cobrando de organizações de todos os portes um posicionamento claro sobre questões
que vão muito além de seus produtos ou serviços." (DELLOITE, 2015, p. 4) Tão importante quanto ter um produto
ou serviço de qualidade é garantir que a sua origem e produção respeitem os valores da sociedade.
Os lucros continuarão sendo fundamentais. No entanto, o retorno nanceiro dependerá cada vez mais da
atenção das mineradoras, a temas importantes como atuação ética, redução de litígios, melhoria de imagem e con-
vivência harmônica com as comunidades locais. As empresas que não souberem se adaptar a esses novos tempos
colocam a própria sobrevivência em risco. (DELLOITE, 2015)
1.7 A MINERAÇÃO É PERIGOSA
A mineração é conhecida por ser perigosa, devido ao seu complexo ambiente de trabalho. A instalação mi-
neira tem características que diferem bastante de outras indústrias.
Por exemplo, na indústria do automóvel a linha de produção moderna é projetada de forma similar em di-
ferentes países. Mesmo indústrias consideradas de alto risco como em uma renaria de petróleo, a conguração
espacial do processo é similar em diferentes instalações e o ambiente de produção é estável no tempo da vida útil
da planta industrial. Essa condição permite conhecer, avaliar e adotar as medidas preventivas de forma mais pa-
dronizadas e estáveis no tempo. Todo o processo vai ocorrer durante um espaço de tempo denido pelo projeto,
13
Mineração e a Sociedade
no mesmo lugar. A experiência ruim pode ser alterada com medidas de correção dos problemas; e a experiência
boa, pode ser mais facilmente copiada e padronizada de uma planta para outra.
Na atividade de mineração o ambiente de trabalho está em constante mutação, vai se construindo e se trans-
formando durante o tempo de operação. A mina vai se modicando espacialmente com o passar do tempo, na
medida que as escavações vão ocorrendo. As frentes de trabalho vão se alterando e as distâncias de transporte
aumentam com aberturas de novas galerias, estradas e construção de outras instalações induzidas pelo aprofun-
damento da mina.
O ambiente de mineração é único para cada jazida. A geometria da jazida, sua posição espacial e as condições
locais variam de uma mina para outra. Mesmo as instalações de beneciamento são diferentes, pois a composição
do minério é variável e necessita equipamentos com arranjos e especicidades para cada situação.
Existem vários tipos de riscos, que mudam de frequência e gravidade dependendo da fase do projeto. Todas
essas características da mineração a tornam mais perigosa, pois é mais difícil prever todos os riscos e controles.
A gestão de um projeto de mineração não é uma questão simples, os equipamentos e meios empregados
durante todas as fases do projeto contêm fontes de perigo e fatores incertos; relacionados ao uso de equipamen-
tos de exploração (perfuração profunda, escavação, explosivos etc.).
As áreas que requerem maior atenção para a redução de fatalidades incluem o transporte motorizado, con-
trole de desabamentos e trabalhos nas proximidades de equipamentos/máquinas. As atividades com maior ocor-
rência de lesões incluem manuseio de materiais, manutenção e reparos, trabalhos de construção, escoramento do
teto e outras tarefas especícas, como trabalhar junto de correias transportadoras.
A lista de problemas persistentes relacionados à saúde do trabalho inclui também doenças pulmonares
(pneumoconiose, silicose), perda auditiva e distúrbios musculoesqueléticos (problemas lombares entre outros).
1.8 A IMPORTÂNCIA DA MINERAÇÃO PARA A
SOCIEDADE
A mineração é uma atividade alavancadora que propicia novas fronteiras econômicas e geográcas, que reduz
as disparidades regionais, capaz de criar polos de grande capacitação tecnológica e de infraestrutura. Aeroportos,
portos, corredores de transporte, usinas, hospitais, escolas e ocinas podem ser implantados com recursos das mi-
neradoras. Estudos feitos pela Secretaria Nacional de Geologia, Mineração e Transformação Mineral, do Ministério
de Minas e Energia (INFORMAÇÕES..., 2015), mostram que o efeito multiplicador de empregos na cadeia produtiva
do setor mineral é de 1:13, ou seja, para cada posto de trabalho na mineração são criadas 13 outras vagas (em-
pregos indiretos induzidos). A cadeia produtiva envolve produção de insumos e equipamentos para as próprias
atividades de mineração, transporte, processamento, transformação mineral, metalurgia nos casos dos metais e
comercialização do produto.
Os países onde a mineração é desenvolvida e tem importância signicativa na economia como, Canadá,
Austrália, Estados Unidos são exemplos onde a indústria da mineração, detém conhecimento e experiências con-
cretas de êxito em conciliar a conservação ambiental com desenvolvimento econômico.
14
Fundamentos de segurança em Mineração
FIGURA 1.3 Geração de empregos na cadeia produtiva da mineração.
Fonte: Informações sobre a economia mineral brasileira, 2015, p. 11.
1.9 MINERAÇÃO NÃO É UMA ATIVIDADE DO
PASSADO
As populações, para suprir as necessidades de melhoria das condições de vida, e afastamento da pobreza ne-
cessitam de energia e de matéria primas que são insumos gerados pela mineração. Mesmo as energias renováveis,
ditas mais futuristas, necessitam de metais para a construção dos parques de geração e linhas de transmissão. Os
modernos equipamentos de comunicação, de tecnologia da medicina moderna necessitam quantidades crescen-
tes de metais
As tecnologias de produção de energia de baixo carbono devem aumentar substancialmente até 2050, es-
pecialmente solar fotovoltaica (PV), eólica e geotérmica. Todas compartilham uma característica comum: uso mais
intensivo de minerais em comparação com a geração de eletricidade baseada em combustíveis fósseis.
As projeções do relatório desenvolvido pela equipe “Climate-Smart Mining da Prática Global de Energia e
Extração do Banco Mundial” publicado em 2020 “Minerals for Climate Action: The Mineral Intensity of the Clean
Energy Transition” (HUND et al., 2020) informam que conforme o Acordo de Paris: “Independentemente de qual
caminho de tecnologia de baixo carbono é selecionado para manter a variação de temperatura global do plane-
ta entre 1.50C- 20C ou abaixo, levará a aumentos signicativos na demanda por minerais”. Informa também que
qualquer potencial escassez no fornecimento de minerais poderia impactar a velocidade e escala em que certas
tecnologias podem ser implantadas globalmente.
Por exemplo, cerca de 3.000 painéis solares são necessários para 1 megawatt (MW) de capacidade de energia
solar fotovoltaica. Esse parâmetro signica que um projeto de energia solar fotovoltaica de 200 MW necessita uma
área equivalente a 550 campos de futebol americano (ECKHOUSE; MATHIS; MURTAUGH, 2021).
Diferentes tecnologias de energia requerem diferentes tipos de minerais, seja para construir suas estruturas
ou armações, ou como componentes da tecnologia usada para gerar eletricidade, como as células fotovoltaicas,
ímãs ou motores em turbinas eólicas. Portanto, o caminho da tecnologia que emerge da energia limpa transição
irá moldar os tipos de minerais que irão experimentar os maiores aumentos na demanda.
Minerais como cobre, cromo e molibdênio, são usados em uma ampla variedade de energia limpa com tec-
nologias de geração e armazenamento. Para o cobre, a maior parcela da demanda vem de energia solar fotovoltai-
ca e eólica, mas a demanda pode estar subestimada uma vez que não inclui a infraestrutura de transmissão neces-
sária para conectar essas novas tecnologias às redes de eletricidade. Aumentos na demanda de até quase 500 por
cento são estimados para certos minerais, especialmente aqueles previstos para implementação das tecnologias
de armazenamento, como lítio, grate e cobalto (ECKHOUSE; MATHIS; MURTAUGH, 2021).
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Mineração e a Sociedade
FIGURA 1.4 Projeção de demanda anual de minerais necessários para a implementação das novas tecnologias de baixo carbono
(comparação anos 2050 e 2018).
Fonte: Hund et al., 2020, p.73.
1.10 RECICLAGEM
Conforme foi discutido no tópico anterior a demanda por minerais será crescente. Alguns céticos ou ativistas
das questões ambientais falam em reciclagem como alternativa para suprir as necessidades da sociedade.
Mesmo considerando as oportunidades de reciclagem e reconhecendo a necessidade dessa prática para a
qualidade ambiental do planeta, ela é absolutamente insuciente para suprir as necessidades crescentes das po-
pulações.
Não há disponibilidade de matéria prima suciente para atender as necessidades.
As taxas de reciclagem variam muito entre os minerais devido ao custo e questões técnicas. Alguns minerais
recicláveis podem não ser adequados para a produção de certas tecnologias de energia, que podem exigir um grau
muito alto de pureza de um mineral especíco para sua aplicação. Além disso, a intensidade energética de alguns
processos de reciclagem pode representar uma barreira.
Apresentamos a seguir as projeções de reciclagem informadas no relatório publicado em 2020 pelo Banco
Mundial (HUND et al., 2020)
Alumínio - Entre 42 e 70 por cento é reciclado no nal de sua vida útil. Alguns países têm a indústria bem
desenvolvida em reciclagem e alcançam taxas de até 90 por cento. Ainda assim, a o conteúdo reciclado de novos
produtos de alumínio foi estimado entre 34 e 36 por cento. Isso ocorre porque a disponibilidade de sucata sim-
plesmente não é suciente para atender à crescente demanda.
Aço (minério de ferro) - As taxas de reciclagem de aço são especialmente altas, com cerca de 85 por cento
reciclado ao nal de sua vida útil. As taxas variam entre os produtos, 95 por cento do aço dos automóveis é recicla-
do, em comparação com 70 por cento de embalagens de aço. As taxas de reciclagem, no entanto, podem não ser
um bom indicador para medir a demanda. Apesar de 85 por cento do aço ser reciclado, cerca de um terço do aço
vem da produção primária, já que a maioria de aço está preso em estruturas duráveis de longo prazo.
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Fundamentos de segurança em Mineração
1.11 ATIVIDADE GARIMPEIRA
A atividade garimpeira é muitas vezes confundida com a mineração regular com projetos licenciados, por
empresa que opera, pagando impostos e principalmente cumprindo a legislação. Essa situação colabora para con-
fundir as pessoas e prejudica a imagem da mineração perante a sociedade.
O código de mineração no Brasil, “Decreto-Lei 227/27”, no artigo 70, dene o garimpo como: “O trabalho
individual de quem utilize instrumentos rudimentares, aparelhos manuais ou máquinas simples e portáteis, na ex-
tração de pedras preciosas, semipreciosas e minerais metálicos ou não metálicos, valiosos, em depósitos de alu-
vião ou aluvião, nos álveos de cursos d’água ou nas margens reservadas, bem como nos depósitos secundários
ou chapadas, vertentes e altos de morros, depósitos esses genericamente denominados garimpos”. (BRASIL, 1967)
A atividade garimpeira pode ser realizada no solo, subsolo e nas margens ou nos fundos dos rios. Considera
a atividade realizada pelo trabalhador “garimpeiro” que atua na atividade de extração de minerais nobres (Ouro,
prata e pedras preciosas).
Trabalho é realizado, na maioria das vezes, de forma independente e ilegal, apesar de ser normalizada pelo
Governo Federal.
A atividade persiste, apesar da massiva ilegalidade e dos grandes impactos ambientais e à saúde do traba-
lhador. Predomina a atividade manual, rudimentar e com pouca sosticação. Geralmente utiliza recursos baratos,
custo de mão de obra baixo.
Se constitui num grande problema social pelo número de pessoas envolvidas.
Muitos trabalhadores acabam com doenças do trabalho como: Problemas respiratórios, neurológicos, intoxi-
cações causadas pelos componentes químicos - manuseados diariamente. Além disso o garimpeiro tem exposição
diária a variações climáticas sem proteção adequada.
FIGURA 1.5 Garimpeiros minerando ouro, Província de Manica/Moçambique, 2017
Foto: Autor, 2017.
A prática do garimpo, de forma geral, tem importantes consequências ambientais. Quando acontece de for-
ma ilícita e em áreas demarcadas e de preservação, o impacto é sentido com maior potência pelos indígenas e
comunidades ribeirinhas que dependem dos recursos naturais. (CAETANO, 2018).
O uso do mercúrio para separar o ouro da areia contamina os rios, e, consequentemente, os peixes. "Além
disso, a extração de minérios provoca desmatamento para acessar o subsolo, e assoreamento dos rios, causando
distúrbios ambientais como o aumento de mosquitos transmissores de doenças." (CAETANO, 2018).
Como exemplo do problema a gura abaixo nos rios da Amazonia, mostra a atividade de garimpo com balsas
minerando ouro.
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Mineração e a Sociedade
FIGURA 1.6 Balsas minerando nos rios da Amazônia
Foto: REUTERS/Bruno Kelly.
A atividade e o problema são exemplicados na Vila da Ressaca, que ca localizada em um lugar chamado
Volta Grande do rio Xingu e se trata de uma comunidade de garimpeiros. Há muitos anos era um lugar onde podia
ser encontrado uma grande quantidade de ouro, atualmente, não mais (VILA..., 2015). Já teve uma população bem
maior do que a existente agora - cerca de 6 mil habitantes garimpeiros na extração de ouro. "Atualmente, moram
cerca de somente 200 famílias, num total de 800 pessoas." (VILA..., 2015). O local é constituído por seis garimpos:
Curimã, Ouro Verde, Grota Seca, Morro dos Araras, Galo e Itatá. A atividade de garimpo é mostrada nas guras
abaixo:
FIGURA 1.7 Atividades de garimpo no rio Xingu/Amazônia
Fonte: Vila da Ressaca, 2015
1.11.1 Recomendações para as áreas de garimpo existentes
Os impactos ambientais causados pela atividade garimpeira podem ser signicativos e colocam em risco a
saúde dos garimpeiros e de pessoas de comunidades próximas.
O garimpo pelo número de pessoas envolvidas é um problema social e não pode ser combatido como sim-
ples caso de polícia. Deve haver maior presença do Estado para mitigar os problemas:
Trata-se de uma atividade muito impactante para o trabalhador, para as comunidades que pode esconder
atividades ilícitas.
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Fundamentos de segurança em Mineração
Deve haver ações e incentivos para a redução dos impactos socioeconômicos na área de inuência das áreas
de garimpo, através de gestão do relacionamento com as partes interessadas. Promoção de garantias a participa-
ção das partes impactadas pelo projeto, no âmbito do processo de licenciamento ambiental.
Os governos devem desenvolver e aplicar métodos de monitoramento para o controle da lavra clandestina e
garimpos por meio de sistemas de satélites e scalização aérea.
Deve ser incentivada ações de regularização para controle e cumprimento das normas junto a Agência
Nacional de Mineração e órgãos ambientais (IBAMA e outros de abrangência estadual e local).
Ações visando ao reforço da política de gestão ambiental e sustentabilidade dos empreendimentos minei-
ros, voltado para a melhoria contínua da prevenção e mitigação de impactos ambientais, incluindo controle da
qualidade do ar, gestão do uso e descarte de água, uso de substâncias perigosas, emissões de gases do efeito
estufa e gestão da biodiversidade.
Criação de fundos, a partir da explotação de bens minerais para viabilizar ações de educação, capacitação e
treinamento para os trabalhadores e lideranças das comunidades.
Existem exemplos bem-sucedidos que permitiram praticar essas ações como a citada a seguir:
1.11.2 Cooperativa de garimpeiros do Médio Alto Uruguai
No Rio Grande do Sul, na região Noroeste do RS, a Associação dos Garimpeiros do Médio Alto Uruguai foi
fundada em 21/06/1990 por trabalhadores e pequenos proprietários. O objetivo primeiro foi evitar que algumas
poucas empresas dominassem o setor e dos direitos de lavra na região.
Essa associação foi o embrião cooperativa Coogamai que se tornou a primeira cooperativa de garimpeiros do
Brasil e já tem mais de vinte anos de atividade.
A cooperativa atua em oito municípios – Ametista do Sul – sede da Cooperativa, Planalto, Frederico Westphalen,
Rodeio Bonito, Cristal do Sul, Trindade do Sul, Gramado dos Loureiros e Iraí, com a área permissionada de quinze
mil e trezentos hectares – 153.000 km².
A missão da cooperativa conforme declarado no seu site: “A organização da atividade garimpeira, em sua
área de abrangência, tornando legal o setor e possibilitando ao associado a continuidade do seu trabalho, respei-
tando as normas ambientais e de saúde e segurança”
A cooperativa tem mais de 1.500 associados e possui um quadro de cinco funcionários, além de uma direto-
ria. A cooperativa mantém contrato com duas empresas de prestação de serviços, sendo uma de consultaria am-
biental e outra na área de segurança de trabalho. (LORINI et al., 2017).
Em uma área de 15.313 hectares, são 500 garimpos cadastrados na cooperativa (200 em atividade), a maioria
(75%) concentrados nos municípios de Ametista do Sul e Planalto.
Os garimpos mineram e comercializam cerca de 500 toneladas por mês de geodos de ametista. Além da ame-
tista são extraídos também: ágata, calcita, zeolita, gipsita e quartzo.
A cooperativa transfere ao associado o direito de exploração da lavra garimpeira na área de abrangência,
possibilitando a legalidade do seu trabalho.
A cooperativa também acompanha o cumprimento das exigências dos órgãos scalizadores tais como:
Ministério do Trabalho e Emprego – no âmbito das relações garimpeiro/proprietário do solo e na segurança do
trabalho; Agência Nacional de Mineração/ANM com a Permissao de Lavra Garimpeira/PLG; Ministério da Defesa -
manuseio e comercialização de explosivos; Ministério da Previdência Social - direitos previdenciários e nos órgãos
ambientais federal e estadual.
Entre as conquistas da atuação da cooperativa estão:
• A redução signicativa de acidentes fatais nos garimpos, mediante as ações de prevenção e melhorias
nas condições de trabalho dos garimpeiros; (LORINI et al., 2017).
• Recuperação de áreas degradadas, com o aproveitamento dos rejeitos com a fabricação de tijolos
ecológicos, a utilização no encascalhamento de estradas. (LORINI et al., 2017).
• Obtenção das licenças ambientais – Licença de Operação das áreas de Permissão de Lavra Garimpeira
19
Mineração e a Sociedade
junto à FEPAM – órgão ambiental do Estado do Rio Grande do Sul; (LORINI et al., 2017).
• Criação do Fundo de Saúde do Garimpeiro e a construção do Centro de Diagnóstico de Saúde do
Trabalhador Garimpeiro, possibilitando o controle da qualidade de vida, conforme preconiza a NR7, do
Ministério do Trabalho e Emprego.
• Obtenção do CR – Certicado de Registro, junto ao Exército Brasileiro, para aquisição e manuseio de
explosivos.
• Qualicação do quadro técnico da cooperativa, com a contratação de prossionais – tais como
Engenheiro de Minas, Bióloga, Engenheiro e Técnico de Segurança do Trabalho, Engenheira Química e
Agrônoma.
• Criação de um Centro de Saúde do Garimpeiro, onde são realizados exames e consultas especí-
cas para os trabalhadores. (“Cooperativas de mineração: Conheça esse tipo de cooperativa”) O centro é
mantido por um Fundo de Saúde do Garimpeiro composto pelos proprietários de garimpo. (LORINI et al.,
2017).
1.12 IMPACTOS SOCIAIS DOS PROJETOS DE MI-
NERAÇÃO
Os projetos de mineração são controversos e complexos. Podem representar desenvolvimento e criar riqueza
para as regiões, mas também grandes distúrbios.
A melhoria da infraestrutura atrai colonos e os efeitos da migração podem se estender além dos arredores de
uma mina. Podem afetar diversos segmentos sociais com alterações das tradições culturais.
O uxo de pessoas prejudica a conservação de ecossistemas e paisagens, eleva as pressões sobre a terra e a
distribuição de benefícios. Também o aumento repentino das populações resulta em pressões sobre a água e ou-
tros recursos, além de mais problemas de saneamento e disposição de resíduos.
Os projetos de mineração induzem a criação de empregos, estradas, escolas e aumentam a demanda por
bens e serviços em áreas pobres e remotas, mas em muitas situações do passado, os custos e benefícios não foram
distribuídos com equidade.
Nos países menos desenvolvidos na economia e com instituições menos democráticas, a capacidade das po-
pulações para interferir nos projetos em curso é reduzida. As diferenças de poder podem causar uma sensação de
desamparo quando as situações de mudança são induzidas por empresas, grandes e poderosas.
As comunidades se sentem particularmente vulneráveis quando os impactos ambientais causados pela mine-
ração (na poluição do solo, do ar e da água) afetam os meios de subsistência e o apoio da população local. Podem
oferecer risco não apenas a sobrevivência física, pela perda de rendimentos, como também pelas ameaças a saúde
e para a identidade cultural das populações locais.
Nos casos mais intensos, se as comunidades locais sentem que os seus interesses não são adequadamente
considerados, pode resultar em tensão social e conitos violentos.
Muitas vezes o Estudo de Impacto Ambiental/EIA e o Relatório de Impacto Ambiental/RIMA podem subesti-
mar o impacto de projetos de mineração na população local.
Os mecanismos de avaliação e tomadas de decisão do EIA RIMA de novos projetos, deve permitir uma par-
ticipação efetiva das populações locais para que os seus direitos individuais e coletivos fundamentais sejam res-
peitados. Deve incluir o direito de manter as suas condições de sustento, um ambiente saudável e garantir uma
compensação justa em caso de perdas.
1.12.1 Deslocamento e realocação humana
Deslocamento de comunidades assentadas pode ser a causa de conitos, caso de ressentimentos relaciona-
20
Fundamentos de segurança em Mineração
dos à projetos de mineração em larga escala. O reassentamento involuntário pode ser particularmente devastador
para as comunidades indígenas com fortes raízes culturais e espirituais em suas terras.
Em muitas áreas de mineração, as comunidades perdem suas terras e consequentemente seus meios de sub-
sistência, interrompendo as instituições comunitárias e as relações de poder. É possível que comunidades inteiras
sejam forçadas a mudar para assentamentos construídos para esse m. Eles também podem permanecer perto da
mina, onde podem estar sujeitos a contaminação.
1.12.2 Disputa pelo uso da água
Um exemplo que cabe mencionar é a mineração de cobre no Chile que representa cerca de 30% da ativida-
de econômica do país andino. "Sua capacidade de gerar riqueza para o país é enorme e oscila de acordo com os
preços internacionais do cobre." (FERRO, 2016).
No deserto de Atacama, região extremamente árida, concentra grandes reservas de minerais metálicos e não
metálicos.
Nessa região, durante o século XIX e início do século XX, a exploração do nitrato signicou o surgimento de
muitas cidades ao redor dos reservatórios, destruição da vegetação (combustível utilizado) e secagem de múltiplas
fontes de água. A substituição dos sais naturais por químicos, implicou no abandono de todas estas paisagens e a
consequência foi a formação de cidades fantasmas que permaneceram abandonadas até hoje.
A região do Atacama concentra algumas das reservas mais importantes do mundo de cobre, ouro, prata, mo-
libdênio e lítio, que têm atraído grandes quantidades de investimentos econômicos nacionais e estrangeiros. De
acordo com o U.S. Geological Survey, o Chile possui 30% das reservas mundiais de cobre.
Um grande problema para a viabilização de novos projetos é a disponibilidade de água.
A região de Antofagasta gasta mais de 8.000 l / s de água subterrânea extraída do planalto em atividades de
mineração. As regiões de Tarapacá e Atacama, planaltos de altitude, também são as principais regiões minerado-
ras, enquanto a água retirada do restante de seus territórios pode, principalmente neste último caso, ser utilizada
na agricultura, serviços e turismo.
A maior fonte de água vem do degelo nos meses de verão dos Andes, entretanto é visível a redução da quan-
tidade de neve acumulada nos altos dos Andes (Mudança climática).
Há demandas de novos projetos de mineração e a sociedade chilena deve reetir sobre o deve fazer a cur-
to e longo prazo em relação à sobrevivência de ecossistemas únicos, como os pântanos do altiplano andino que
margeiam o deserto do Atacama.
Também devem tomar decisões sobre assentamentos e territórios historicamente ocupados por comunida-
des indígenas e rurais nessas paisagens.
O Código de Águas existente está sendo objeto de grande discussão visando alcançar mecanismos e proce-
dimentos que considerem explicitamente a equidade e a justiça social na distribuição de recursos para avaliar os
custos e benefícios ambientais e sociais decorrentes de sua utilização.
A discussão deve necessariamente girar em torno da sustentabilidade ambiental e deve considerar não ape-
nas os benefícios econômicos associados à atividade de mineração, mas também uma avaliação socioambiental de
quem serão os beneciários e perdedores da nova situação.
Avaliações ambientais estratégicas devem ser aplicadas nas situações complexas semelhantes às observadas
no Deserto de Atacama.
Um exemplo, na região, é a Divisão Chuquicamata da estatal Chilena CODELCO. Essa mina (cobre e ouro) que
já foi considerada a maior do mundo no gênero, está situada na junto a região árida do deserto de Atacama. A cava
da mina tem 4,5 km de comprimento, 3,5 km de largura e 900 metros de profundidade.
Em 2018, a mina produziu 320.744 toneladas de cobre com a alocação de 5.494 trabalhadores (31/12/2018).
A reserva da mina a céu aberto está exaurida e uma nova mina subterrânea vai dar continuidade na produção, mi-
nerando agora uma parte mais profunda da jazida. O número de empregados está sendo reduzido para cerca de
1000 trabalhadores no prazo de um ano.
21
Mineração e a Sociedade
Além disso, o depósito de bota fora está soterrando a vila mineira. Desde 2003 todos os moradores da Vila
de Chuquicamata estão sendo transferidos para a vizinha Calama, distante cerca de 10 quilômetros. Os custos da
operação, estimados em mais de 200 milhões de dólares, são bancados pela estatal
A mina de Chuquicamata e uma demonstração prática do fechamento da mina à céu aberto e transferência
das atividades para mineração subterrânea. Embora se diferencie pelo grande porte, pode ser considerada como
situação típica de muitas minas metálicas quando as jazidas à céu aberto são exauridas.
FIGURA 1.8 Soterramento da Vila de Chuquicamata pelas pilhas de Bota fora da cava de Mineração.
Fonte: Autor, 2019.
O impacto social, do caso de Chuquicamata, está sendo gerido e pode ser minimizado pela empresa esta-
tal “CODELCO”, uma grande organização controlada pelo Governo Federal, que detém outras grandes operações
mineiras na região e grandes reservas de cobre, metal cuja demanda global deve permanecer aquecida ainda por
muitas décadas.
Esse exemplo mostra que mesmo regiões tradicionais e com projetos consolidados de mineração passam por
grandes transformações pois as jazidas são um recurso nito e que vão estar exauridas no tempo.
A paralização por exaustão da jazida ou de viabilidade econômica, provoca desemprego de trabalhadores
em regiões distantes sem outros meios de sustento, por empresas que não tem condições de continuidade e que
foram constituídas para a nalidade de operação uma única mina é uma situação que tem sido vista em muitos
outros lugares.
Como dar suporte as populações que se estabeleceram no local, em função da própria mineração é uma
questão importante e que deve ser muito bem planejada e uma preocupação da sociedade e de todas as instân-
cias de governo.
1.13 NECESSIDADE DE EQUILIBRAR A PRESER-
VAÇÃO DO MEIO AMBIENTE COM O DE-
SENVOLVIMENTO SOCIAL E ECONÔMICO
A centralidade dos conitos mineiros deriva diretamente do seu posicionamento estratégico na economia
mundial, situado na encruzilhada das indústrias energética, metalúrgica, química, da construção civil e de alta tec-
22
Fundamentos de segurança em Mineração
nologia, por um lado, e dos seus fatores de localização com elevados impactos ambientais sobre o território. Na
ótica de organizações com visão embaçadas e conceitos civilizatórios ultrapassados, os conitos ambientais são re-
duzidos à dimensão de simples conitos intermodais: o problema, anal, reside nessas comunidades que habitam
"no local errado". A solução pode ser encontrada com o princípio da harmonia de interesses com mecanismos de
indenização para a resolução de conitos de interesses. A resolução destes conitos sobre os usos dos territórios
por via judicial, por livre acordo entre as partes ou por via administrativa (atuando o Estado como mediador ou
facilitador) constitui a via mais frequente de resolução que, no entanto, pode deixar de fora os custos inerentes às
alterações ambientais irreversíveis. (GUIMARÃES; CEBADA, 2016)
A Imagem negativa da mineração deve car no passado, precisa mudar, precisa se modernizar com controles
mais efetivos. A “Globalização” mudou a forma como os negócios são feitos. A expansão da mineração é estimula-
da pela concorrência globalizada dos mercados mundiais. As empresas operam cadeias de abastecimento cada vez
mais complexas. Existe um aumento na expectativa de clientes e outras partes interessadas e mais informação - a
sociedade tem hoje uma voz mais forte do que nunca. (ABNT, 20015).
Projetos de mineração normalmente necessitam, grande volume de recursos e longo tempo de matura-
ção. Os investidores têm aversão ao risco e querem os melhores retornos para o capital. Procuram “World Class
Deposits”. Jazidas que podem operar pelas características geológicas e de mercado de forma rentável, indepen-
dente de legislações ou de protecionismos scais especícos de um determinado país.
Considerando a tendência de controles sociais, legislação cada vez mais restritivas e preocupação com a
imagem, os investidores para reduzir os riscos, tendem a buscar projetos e operações ambientalmente sustentá-
veis, éticos e seguros para os trabalhadores e para as comunidades próximas, em conformidade com padrões de
‘compliance” internacionais. Procuram locais com estabilidade política, econômica, e com legislações compatíveis
e similares dos países mais desenvolvidos.
A operação de mineração deve ser entendida como um Sistema que requer, acima de tudo, novas aborda-
gens sistêmicas e sistemáticas que sejam capazes de resolver continuamente os problemas encontrados.
Além disso, há necessidade de preocupação com algumas realidades emergentes nas próximas décadas que
podem piorar as condições ao invés de melhorar:
Os mercados globalizados buscam viabilizar projetos de mineração em corpos de minérios em maiores pro-
fundidades, jazidas com menores teores e descontínuas, com baixos custos de extração e de processamento, que
resultam em menos remuneração e empregos (relativamente ao que ocorria no passado). À medida que a tecno-
logia avança e as operações são automatizadas ou realizadas remotamente, a necessidade de mão de obra local
reduz drasticamente. (DELLOITE, 2015).
Portanto, para continuar e avançar num ambiente de melhoria contínua, a indústria da mineração deve buscar
novos métodos de mineração e novas tecnologias. Organizar e gerenciar o trabalho de forma mais ecaz. Deve
buscar inovações para a solução de problemas mais persistentes. Deve exigir mais recursos de saúde e segurança
em equipamentos de mineração para garantir melhores práticas na realização do trabalho.
Os aspectos de saúde, segurança e meio ambiente devem estar incorporados em todas as fases da atividade
de mineração (projeto, implantação, operação e fechamento).
A aplicação de técnicas de gerenciamento de risco ecaz observando as legislações, com segurança e ética
perante seus trabalhadores e comunidades tornou-se um requisito na indústria de mineração.
"Considerando que muitas licenças sociais e operacionais têm como contrapartida a criação de postos de
trabalho para as comunidades locais, as mineradoras precisarão repactuar seu valor para a sociedade." (DELLOITE,
2015). Deverão demonstrar que a mineração pode ser realizada de forma sustentável, mesmo sendo considerada
de alto impacto ambiental e social. A arrecadação de tributos sobre a atividade mineral deve ser usada para inves-
timentos que proporcionem melhoria da qualidade de vida dos moradores das regiões produtoras, assim como
das gerações futuras. Isso pode ser feito por meio de investimentos em infraestrutura e gastos sociais, como saúde
e educação.
Devemos utilizar as lições aprendidas do passado para melhor compreender as consequências sociais, eco-
23
Mineração e a Sociedade
nómicas e ambientais para viabilizar uma mineração sustentável e socialmente aceita pela sociedade nas próximas
décadas do século XXI.
Referências:
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qualidade — Requisitos. Rio de Janeiro: ABNT, 2015.
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CAPÍTULO 2
A expressão “Riscos ambientais do trabalho” foi utilizada, em um primeiro momento, na Portaria n.º 3.214 de
08 de junho de 1978, do extinto Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
“Consideram-se riscos ambientais os agentes físicos, químicos e biológicos existentes nos ambientes de tra-
balho que, em função de sua natureza, concentração ou intensidade e tempo de exposição, são capazes de causar
danos à saúde do trabalhador.” (BRASIL, 2022a)
Existem ainda riscos que fogem da denição da NR09, estes são os riscos ergonômicos e o risco de acidentes.
Assim, para ns didáticos, consideramos riscos ambientais de trabalho, aqueles que podem causar danos à
saúde do prossional: Riscos físicos, químicos ou biológicos, riscos de acidentes e riscos ergonômicos.
Os fatores que inuenciam na agressividade do agente ambiental no trabalhador são a “natureza do agente”,
a “concentração”, a “intensidade” o “tempo de exposição” e a sensibilidade individual de cada um.
FIGURA 2.1 Fatores que inuenciam na agressividade do agente ambiental no trabalhador
Fonte: Disponível em: https://slideplayer.com.br/slide/5618143/ Acesso em: 15 dez. 2022.
2.1 RISCOS FÍSICOS
São denidos como “Riscos Físicos” as diversas formas de energia a que possam estar expostos os trabalha-
dores, tais como: ruído, vibrações, pressões anormais, temperaturas extremas, radiações ionizantes, radiações não
ionizantes, bem como o infrassom e o ultrassom..
2.1.1 Ruídos
Ruídos que podem atingir níveis excessivos pode a curto, médio e longo prazo provocar prejuízos à saúde.
A intensidade dos danos vão depender do tempo de exposição, do nível sonoro e da sensibilidade individual
de cada idivíduo.
As alterações danosas poderão manifestar-se imediatamente ou gradualmente.
Quanto maior o nível de ruído, menor deverá ser o tempo de exposição.
RISCOS AMBIENTAIS NO
AMBIENTE DE MINERAÇÃO
26
Fundamentos de segurança em Mineração
Os ruído podem ser classicados em : Contínuo, intermitante ou de impacto.
FIGURA 2.2 Ruído – Vibração Sonora (Contínuo, intermitente e de impacto)
Fonte: Composição realizada pelo autor, com imagens disponíveis em: https://raquellima16.wordpress.com/2011/01/29/tipos-
-de-som-ruido-fala-musica-e-silencio/, https://profes.com.br/felipes.rocha/blog/o-som-e-o-vacuo e https://pt.slideshare.net/
pipaandrade/riscos-fsicos-16241029 . Acesso em: 15 dez 2022
O ruído dependendo das condições, pode atingir o aparelho auditivo causando a perda temporária ou de-
nitiva da audição. O efeito pode ser imediato, gradual acumulativo (não reversível).
Normalmente as pessoas com mais idade tem pior audição. Isso acontece pois o nervo auditivo vai sendo
afetado pelo modo de vida de cada indíviduo. Não é uma situação determinante pois depende de condições indi-
viduais genética, dos tipos de experiências e vivências de cada um ao longo da vida.
O ruído age diretamente sobre o sistema nervoso do indivíduo. Pode provocar fadiga nervosa, alterações
mentais (de memória, irritabilidade, diculdade em coordenar idéias). Pode provocar hipertensão, modicação do
ritmo cardíaco, modicação do calibre dos vasos sanguíneos, modicação do ritmo respiratório, perterturbações
gastrointestinais, diminuição da visão noturna, e ainda diculdade na percepção de cores.
FIGURA 2.3 Tipos de ruído atingindo o aparelho auditivo
Fonte: Disponível em: https://conceito.de/ruido-ambiental Acesso em: 15 dez. 2022
2.1.1.1 Medida física do som
O som é uma oscilação na pressão do ar (ou de outro meio elástico) capaz de ser percebida pelo ouvido
humano. Os seguintes parâmetros são importantes para denir as propriedades das variáveis físicas relativas as
oscilações de pressão:
• Frequência (F) - Número de oscilações por unidade de tempo; unidade de medida: hertz - ciclos/se-
gundo.
27
Riscos ambientais noambiente de mineração
• Pressão (P) - Expressa em pascal ou newtons/m2.
• Potência (W) - Energia emitida pela fonte sonora por unidade de tempo; unidades de medida - jou-
les/s ou Watts.
• Intensidade sonora (I) - Denida como potência por unidade de área; unidade watt/m2.
2.1.1.2 Escalas para medida de pressão, potência e intensidade das on-
das sonoras - Lineares. Decibel na medida física do som
A intensidade dos sons captados pelo ouvido humano cobrem uma ampla faixa de variação. Exemplos:
Murmúrio irradia uma potência de 0.000 000 001 watt; grito comum cerca de 0.001 watt; orquestra sinfônica 10
watts; avião a jato na decolagem - 100 000 watts.
A escala logarítmica, como o **decibel** é mais adequada para medida dessas grandezas físicas.
Histórico da unidade DECIBEL
Alexander Graham Bell, inventor telefone (1847 – 1922), vericou que o sinal enviado por um par de os entre
uma cidade e outra, sofria uma grande atenuação (diminuição na amplitude do sinal). Se as perdas não fossem
corrigidas por meio de amplicadores, o sinal não chegaria inteligível na outra ponta da transmissão.
Graham Bell descobriu que a variação de som percebido pelo ouvido humano não acompanha uma escala
linear. Exemplo: Se dobrar a amplitude de um sinal (duplicar tensão elétrica), o ouvido não percebe como sendo o
dobro da pressão sonora recebida, ou o dobro do volume.
Para representar a amplicação ou a atenuação, Graham Bell utilizou uma escala logaritma. Ele criou uma
unidade de medida para esta atenuação que denominou originalmente de TU (transmission unit).
Em 1929, após morte de Graham Bell, Engenheiros do Bell Telephone Laboratory resolveram homenagear seu
fundador, dando o nome de Bel (símbolo B) a esta unidade de medida. Depois com a prática perceberam que a
unidade (1 Bel) era muito grande.
As relações resultavam em valores muito elevados e era mais prático dividir a unidade Bel em dez (um déci-
mo de Bel = Decibel, símbolo dB).
Por denição do Bell Labs:
1 Bel = Atenuação sinal de áudio em uma milha (1,61 km) de cabo telefônico
FIGURA 2.4 Atenuação de um sinal de áudio em uma linha de telenone na distância de 1 milha (usado para denir a unidade Bell)
Fonte: Cunha, 2016.
28
Fundamentos de segurança em Mineração
FIGURA 2.5 Percepção dos níveis de ruído pelo ouvido humano.
Fonte: Disponível em: https://www.solerpalau.com/es-es/hojas-tecnicas-el-ruido-los-decibelios/ . Acesso em: 15 dez. 2022
Limite de tolerância para ruído contínuo ou intermitente
A Norma Regulamentadora15, regula as sobre operações e atividades insalubres. A norma, no Anexo 1 da
NR15 apresenta a tabela “Limites de Tolerância para ruído contínuo ou intermitente”. A tabela relaciona o limite de
tempo de exposição ao ruído que causará dano à saúde do trabalhador na jornada diária de trabalho.
A tabela é usada como parâmetro para avaliação pericial das condições ambientais de trabalho. Chamamos a
atenção que para um regime de trabalho de 8 horas diárias, usual para jornadas semanais de 40 horas, o nível de
ruído máximo permitido é 85 dB.
TABELA 2.1 Limites de Tolerância para ruído contínuo ou intermitente
Nível de ruído
dB (A)
Máxima exposição diária permis-
sível
85 8 horas
86 7 horas
87 6 horas
88 5 horas
89 4 horas e 30 minutos
90 4 horas
91 3 horas e 30 minutos
92 3 horas
93 2 horas e 40 minutos
94 2 horas e 40 minutos
95 2 horas
96 1 hora e 45 minutos
98 1 hora e 15 minutos
100 1 hora
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Riscos ambientais noambiente de mineração
102 45 minutos
104 35 minutos
105 30 minutos
106 25 minutos
108 20 minutos
110 15 minutos
112 10 minutos
114 8 minutos
115 7 minutos
Fonte: Brasil, 2022b.
2.1.2 Vibrações
As máquinas e equipamentos que produzem vibrações podem ser nocivas ao indivíduo. Pode-se citar como
exemplo os equipamentos, tipo perfuratrizes, que são facilmente encontrados em áreas de trabalhos da constru-
ção civil ou mineração.
As vibrações podem podem ser tranmitidas ao operador no corpo inteiro ou em partes localizadas.
Vibrações no corpo inteiro – São lesões que ocorrem com os operadores de grandes máquinas, como os
motoristas de caminhões, ônibus e tratores. As consequências podem se lesões na coluna vertebral; dores lomba-
res.
Vibrações localizadas – São lesões localizadas em determinadas partes do corpo do operador. As conse-
quências são alterações neuro vasculares nas mãos, problemas nas articulações das mãos e braços; osteoporose
(perda de substância óssea).
Para evitar ou diminuir as consequências das vibrações é recomendado o revezamento dos trabalhadores
expostos aos riscos buscando assim menor tempo de exposição.
Deve ser dada especial atenção ao problema das vibrações optando por equipamentos ou processos que
reduzam a exposição dos trabalhadores especialmente nas etapas de projeto e especicação da compra dos equi-
pamentos.
2.1.3 Radiações
Segundo a denição do Conselho Nacional de Energia Nuclear (CNEN), radiação são ondas eletromagnéticas
resultado da aceleração de partículas carregadas que se propagam ao mesmo tempo, sob forma de onda e energia
com velocidade elevada.
As ondas de radiação eletromagnética (REM) são uma junção de campo magnético com campo elétrico que
se propaga no vácuo transportando energia. A luz é um exemplo de radiação eletromagnética. Não requer ne-
nhum meio e pode viajar através do vácuo.
Pode ser descrita como um deslocamento pulsante e repetidos no espaço de energia, desacoplados das car-
gas elétricas que o induziram. As pusações podem ser entendidas como a propagação de uma onda transversal,
cujas oscilações são perpendiculares à direção do movimento da onda.
De acordo com as formulações desenvolvidas por James C. Maxwell em 1865, uma partícula carregada ele-
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Fundamentos de segurança em Mineração
tricamente gera um campo elétrico em torno de si e o movimento dessa partícula gera, por sua vez, um campo
magnético. Ambos os campos, elétrico e magnético, atuam vibrando ortogonalmente entre si e possuem as mes-
mas amplitudes, isso é, alcançam os seus máximos ao mesmo tempo. As variações do campo são causadas pelas
vibrações da partícula. Quando essa partícula é acelerada, as perturbações entre os dois campos se propagam re-
petitivamente no vácuo em uma direção ortogonal à direção dos campos elétricos e magnéticos.
Segundo o modelo ondulatório, a REM pode ser apresentada como uma forma de onda senoidal e harmô-
nica.
A Figura 2.6, representa o deslocamento da onda, conforme uma função senoidal, no sentido positivo do
eixo dos X.
FIGURA 2.6 Representação do deslocamento do campo elétrico.
Fonte: Figura disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Eletromagnetismo#/media/Ficheiro:Circular.Polarization.Circularly.Pola-
rized.Light_Right.Handed.Animation.305x190.255Colors.gif. Acesso em: 15 dez. 2022
.
FIGURA 2.7 Onda eletromagnetica representada como função senoidal
Fonte: Figura disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Radia%C3%A7%C3%A3o_eletromagn%C3%A9tica#/media/Fichei-
ro:Onda_Harm%C3%B4nica.png. Acesso em: 15 dez. 2022
O valor máximo do campo eletro magnético “E” representa a amplitude e o comprimento de onda, repre-
sentada pela letra grega Lambda “λ”, é a distância entre dois pontos máximos ou mínimos consecutivos do campo
eletromagnético. O tempo que a onda demora para percorrer um comprimento de onda designa-se por “T”. O
inverso do período é a frequência “ƒ”, que indica o número de comprimentos de onda (pulsos), por unidade de
tempo.
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Riscos ambientais noambiente de mineração
No sistema SI a unidade da frequência é o hertz “Hz” (ciclos/segundo).
No caso de uma onda eletromagnética no vácuo, a velocidade de propagação é a velocidade da luz repre-
sentada por “C”.
Dessa forma considerando:
• Distância entre dois pontos de máximo ou mínimo = λ
• Velocidade de deslocamento (luz) = C
• t = tempo (segundos)
• Tempo para percorrer a distância entre dois máximos ou mínimos = T
• Frequência = (pulsações por unidade de tempo)
Deverá observar a relação:
λ = Ct;
O comprimento da radiação eletromagnética depende de quanto tempo a partícula é acelerada, e a frequ-
ência ν da radiação depende da freqüência de vibração da partícula. Eventualmente carga elétrica e magnética, ao
interagirem podem produzir variados efeitos sobre matéria. Existem vários tipos de ondas eletromagnéticas e o
seu comportamento e absorção pelo organismos quando toca a matéria vai depender do comprimento da onda
e da frequência.
FIGURA 2.8 Expectro das ondas eletro magnéticas e Utilização.
Fonte: Adaptado de Peixoto e Ferreira, 2013
As radiações podem ser classicadas em dois grupos principais: Ionizantes e não ionizantes.
2.1.3.1 Radiações ionizantes
As partículas carregadas eletricamente são consideradas ionizantes quando possuem uma energia suciente
para ionizar átomos que estão em sua trajetória. A radiação ionizante pode arrancar elétrons de um átomo se tiver
energia maior que a da ligação deles ao núcleo.
Considerando o espectro de onda eletromagnética, normalmente somente os raios X e gama são radiações
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Fundamentos de segurança em Mineração
ionizantes, ou seja, têm energia suciente para ionizar átomos. Em algumas situações as partículas alfa e Beta tam-
bém tem energia com poder de ionização.
Além de ser reconhecidamente cancerígena, a radiação ionizante pode causar queimaduras na pele e dentro
do corpo, dependendo da quantidade e intensidade da dose. Pode causar mutações genéticas em óvulos, esper-
matozóides, na gestação e nos sistemas reprodutores masculino e feminino, além de danos irreversíveis às células.
Os trabalhadores que são frequentemente expostos a esse tipo de radiação podem ter o seu organismo ou dos
seus descendentes afetados.
Quando aplicada em pequenas doses, controladas por conhecimento técnico adequado, a radiação ionizante
é ecaz no diagnóstico e tratamento de doenças.
Podemos encontrar trabalhadores com exposição a esse tipo de radiação nos operadores de equipamentos
de raios-X usados em clínicas médicas e odontológicas; laboratórios de diferentes especialidades; serviços de se-
gurança e alfandegários em portos e aeroportos entre outros. Nas áreas de pesquisa mineral e mineração podem
ser encontrados em modernos equipamentos de prospecção geofísica, sensoreamento remoto e também em
equipamentos e sensores industriais de controle.
2.1.3.2 Radiação não ionizante
As radiações não ionizantes são insucientes para ionizar átomos ou moléculas porém podem quebrar liga-
ções químicas e moléculas.
Possuem energia inferior a 10 ou 12 eV. A radiação não ionizante possui comprimento de onda maior que 100
nm (ou ainda, com frequências menores que 3x1015Hz).
Observação:
• Unidade SI a carga elétrica de um próton é 1.60 x 10-19 coulombs. A unidade de energia de uma par-
tícula física é o elétron volt. Símbolo (eV)
• Por denição, um elétron-volt é a energia ganha por um elétron que atravessa uma diferença de po-
tencial de um volt, no vácuo.
• Unidade SI, nanómetro é uma unidade de medida de comprimento do sistema métrico, correspon-
dente a 1×10−9 metro. Tem como símbolo nm.
O espectro da radiação não ionizante pode ser subdividido em três grandes categorias, historicamente cha-
mados de: óptico, radiofrequência e elétrico.
Óptico - A energia é associada à luz, comprimentos de onda da luz visível (400 nm a 700 nm) ou suas radia-
ções vizinhas (infravermelho e ultravioleta). A radiação ultravioleta é considerada não ionizante por não possuir
energia suciente para arrancar elétrons dos principais átomos que constituem o corpo humano e por ser muito
pequena a sua penetração. O infravermelho (radiação infravermelha), possui comprimento de onda de 700 nm a 1
mm. O infravermelho próximo (700 nm a 1400 nm) atravessa o cristalino do olho e chega até a retina.
Radiofrequência - Inclui frequências abaixo e acima das tradicionais ondas de rádio, compreendendo tipica-
mente as frequências entre 10 kHz até 300 GHz. As frequências na faixa entre 300 MHz até 300 GHz são conhecidas
como micro-ondas.
Elétrico - A energia é usualmente transmitida por os ou cabos com uma frequência de 50 e 60 Hz. O espec-
tro elétrico cobre a maioria dos equipamentos eletroeletrônicos e tradicionalmente tem seu limite superior como
sendo 20 kHz. Ondas nessas frequências podem irradiar e propagar-se no espaço da mesma forma que as ondas
eletromagnéticas de frequência mais altas.
Radiações não ionizantes no ambiente de trabalho
Trabalhadores com exposição `radiação não ionizante ou radiação infravermelha na operação em fornos; sol-
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Riscos ambientais noambiente de mineração
da oxiacetilênica; radiação ultravioleta gerada por operações em solda elétrica, ou ainda raios laser, micro-ondas,
etc. São atividades muito facilmente encontradas nos setores de montagem e manutenção de diferentes indústrias,
ocinas, em canteiros da construção civil e também nas instalações de apôio à mineração.
Exposições a radiação não ionizantes podem ser encontradas nas atividades ao ar livre, com exposição ao sol.
Típico no caso das operações unitárias da mineração à céu aberto
Os efeitos indesejáveis da radiação ultravioleta ocorrem principalmente na pele e nos olhos (perturbações
visuais, conjuntivites, cataratas). Os efeitos nos trabalhadores à exposição, sem proteção adequada, são queimadu-
ras, lesões na pele, cancerígena para a pele, causa depressão imunológica, fotoenvelhecimento.
2.1.4 Temperaturas extremas
A temperatura interna do corpo é determinada pelo balanço entre o calor produzido internamente e o calor
ganho ou perdido para o ambiente externo. A energia interna é produzida pelo organismo através da transfor-
mação química dos alimentos ingeridos. A transferência de calor com o meio é função das condições externas, e
podem ocorrer por convecção, radiação, condução e evaporação.
Conforme a temperatura do sangue e a sinais dos receptores cutâneos, o centro termorregulador, localizado
no cérebro/hipotálamo, envia sinais de resposta às condições ambientais térmicas ao qual o indivíduo está subme-
tido (temperatura, umidade relativa, velocidade do ar e intensidade de radiação solar).
A temperatura do sangue se deve ao calor da energia liberada pelas células quando estas absorvem o ali-
mento (um processo que requer um suprimento constante de alimento e oxigênio). No caso de exposição ao calor
ambiental excessivo, o organismo produz mais calor e utiliza esses mecanismos de regulação para perder mais ca-
lor e manter constantea sua temperatura. O excesso é eliminado, sendo normal que o corpo perca constantemente
calor através dos pulmões e da pele.
As manifestações sológicas da transferência do calor, ocorre pelo uxo regular do sangue atavés de vasodi-
latação e vaso constrição, aumento ou diminuição da taxa respiratória, aumento da sudorese, variação das condi-
ções da alimentação e alterações comportamentais.
Quando, adequadamente vestido o homem pode suportar variações de temperatura entre -50 até 100°C.
Porém, o organismo não suporta uma variação de temperatura na parte central do corpo acima de 4°C sem que
haja consequências da capacidade física e mental. A manutenção de temperatura é essencial para garantir a vida
e a capacidade de trabalho.
A temperatura do corpo não é igual em todo o organismo. Uma temperatura média próxima dos 37ºC é man-
tida no cérebro, no coração e nos órgãos abdominais, chamada de temperatura de núcleo.
A temperatura de núcleo do corpo, ajustada pelo sistema termorregulador, não é constante
e depende da taxa de metabolismo. Em atividades físicas severas, com alta taxa de metabolismo, essa tem-
peratura pode ser elevada até 39,5ºC.
Exposição ao frio
O frio é um dos agentes físicos capaz de causar estresse ao organismo humano, diculta a concentração men-
tal, e provoca distrações.” As pessoas passam a tomar decisões mais arriscadas e isso pode diminuir a qualidade do
trabalho e aumentar o risco de acidentes. Enregelamento de membros é uma lesão comum causada pela exposição
ao frio intenso ou contato com objetos extremamente frios. Ocorre quando a temperatura do tecido cai abaixo de
0°C. Os vasos sanguíneos podem car lesados gravemente e de maneira irrecuperável, e a circulação sanguínea
pode se interromper no tecido afetado. Nos casos mais leves, o sintoma é uma inamação da pele (bolhas), segui-
da por uma dor leve. A pele enregelada é suscetível à infecção, podendo chegar à gangrena.
Uma grande diversidade de ocupações pode levar a exposições ocupacionais ao frio, tais como trabalho a céu
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Fundamentos de segurança em Mineração
aberto em regiões frias, mineração, trabalho em câmaras frias ou navios frigoricados, pesca, mergulho e muitas
outras ocupações prossionais.
Exposição ao calor intenso
Esgotamento por calor ocorre quando a perda contínua de uidos, através da transpiração, não é compensa-
da pela ingestão de líquidos e sais.
Os riscos aumentam com a umidade elevada, que diminui o efeito refrescante da sudorese, e com o esforço
físico prolongado, que aumenta a quantidade de calor produzido pelos músculos.
A exposição prolongada ao calor excessivo pode causar um aumento da irritabilidade, fraqueza, depressão,
ansiedade e incapacidade para concentrar-se. Os casos mais graves, podem ocorrer alterações físicas tais como
desidratação, erupção (vesículas roxas na área afetada da pele) e câimbras (espasmos e dor nos músculos do ab-
dômen e das extremidades).
Altas temperaturas podem provocar:
1. Desidratação
2. Erupção da pele
3. Câimbras
4. Fadiga física
5. Distúrbios psiconeuróticos
6. Problemas cardiocirculatórios
7. Insolação.
Prossões que expõem os trabalhadores à intensa radiação solar, têm taxas de incidência de câncer de pele
mais elevadas do que a população em geral ou trabalhadores de outras prossões.
Podem ser encontrados nas área de trabalho em situações de temperaturas extremas: Agricultores, trabalha-
dores da construção civil e mineração a céu aberto, pescadores e marinheiros, cozinheiros, padeiros, fundidores de
metais, fabricantes de vidros, mineiros, entre outros.
São exemplos de atividades com exposição à temperaturas extremas:
• Trabalhos ao ar livre em situações de elevadas ou baixas temperaturas (neve ou sol).
• Bombeiros em atividade de combate à incêndios.
• Trabalhadores em atividades em câmaras frigorícas.
• Mineração subterrânea quando a ventilação do ambiente não está convenientemente controlada.
FIGURA 2.9 Situações de trabalho sob condição de temperaturas extremas (o ou calor)
Fonte: Imagens disponíveis em: https://br.freepik.com/fotos-gratis/homem-solitario-caminhando-nas-montanhas-em-uma-
-gaiola-coberta-de-neve-durante-o-dia_14890484.htm#query=mining%20siberia&position=19&from_view=search&track=ais e
https://br.freepik.com/fotos-gratis/caminhao-basculante-na-mina-de-poco_29506167.htm#query=mining%20on%20hot%20
sun&position=2&from_view=search&track=ais. Acesso em: 15 dez. 2022
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Riscos ambientais noambiente de mineração
2.1.5 Pressões anormais
Trabalhadores expostos a pressões ambientais acima ou abaixo das pressões normais.
Baixas pressões:
Abaixo da pressão atmosférica normal, ocorrem com trabalhadores que realizam tarefas em
grandes altitudes.
Altas pressões:
são as que se situam acima da pressão atmosférica normal, como no caso dos“Caixões pneu-
máticos”. São compartimentos estanques instalados nos fundos dos mares, rios, e represas onde é injetado ar
comprimido que expulsa a água do interior do caixão, possibilitando o trabalho. Esse tipo de tecnologia é usado
na construção de pontes e barragens, abertura de poços de minas para a contenção de entrada de água na frente
de trabalho.
A doença descompressiva de origem ocupacional pode acometer uma ampla gama de trabalhadores que
trabalham em ambientes hiperbáricos: mergulhadores, trabalhadores da construção civil de túneis, fundações, ex-
ploração submarina de petróleo, atividades de mineração, aviação civil e militar, entre outras.
Os trabalhadores quando operam nessas condiçõe estão sujeitos a uma atividade de alto risco com legisla-
ção especíca (BRASIL, 2022b) que regula as atividades. O tempo de exposição e de retorno, equipamentos entre
outros.
A exposição a pressões anormais, pode causar a ruptura do tímpano quando o aumento de pressão for brus-
co e a liberação de nitrogênio nos tecidos e vasos sangüíneos e morte.
Nos casos agudos de doença descompressiva, o tratamento é a terapia de recompressão, acompanhada por
100% de oxigênio, prescrita de acordo com tabelas de descompressão. O transporte do paciente para a câmara de
recompressão deve ser imediato com medidas de suporte acrescentados.
Outra doença ocupacional freqüente, relacionada a doença descompressiva ou de exposições repetidas a
ambientes hiperbáricos, é a Osteonecrose ou “Mal dos Caixões”. Tipo especial de necrose óssea causada pela
oclusão de pequenas artérias e capilares ósseos, seguida de infarto na área envolvida, e por bolhas de nitrogênio
formadas durante o processo de descompressão. Essa doença aumenta em populações de trabalhadores sujeitos a
condições em que não se observam estritamente as tabelas de descompressão, constituindo-se a descompressão
inadequada a principal causa da doença (BRASIL, 2022b). Parece haver uma correlação entre a ocorrência da doen-
ça e o número de episódios de descompressão sofridos pelo trabalhador, a freqüência da exposição, a magnitude
da pressão e a freqüência de acidentes descompressivos relatados.
A maior parte dos casos são assintomáticos e identicados por meio de exame radiológico em indivíduos ex-
postos. Pode surgir gradual ou repentinamente, após um levantamento de peso. Nas lesões do fêmur, a dor pode
ser referida na virilha, irradiando-se para a superfície anterior da coxa. Desenvolve-se lentamente, tornando-se
cada vez mais intensa.
A prevenção da osteonecrose no mal dos caixões relacionada ao trabalho baseia-se na vigilância dos proces-
sos de atividades que envolvem exposição a pressões hiperbáricas, destacando-se mergulhadores, trabalhadores
da construção civil de túneis, fundações, exploração submarina de petróleo, atividades de mineração, aviação civil
e militar.
Os procedimentos de prevenção têm como referência o cumprimento das prescrições contidas no Anexo n.º
6 da NR 15 (Portaria/MTb n.º 3.214/1978), que trata dos trabalhos sob condições hiperbáricas.
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Fundamentos de segurança em Mineração
FIGURA 2.10 Trabalhos em câmaras com pressão elevada para evitar a entrada de água.
Fonte: Peixoto e Ferreira, 2013
2.1.6 Umidade
Se refere a atividades ou operações executadas em locais alagados ou encharcadas, com umidades excessi-
vas.
Efeitos da exposição do trabalhador à umidade pode acarretar doenças do aparelho respiratório, quedas,
doenças de pele, doenças circulatórias, entre outras.
Para o controle da exposição do trabalhador, as medidas de proteção coletiva (como o estudo de modica-
ções no processo do trabalho, colocação de estrados de madeira, ralos para escoamento).
Medidas de proteção individual (como o fornecimento do EPI - luvas de borracha, botas, avental para traba-
lhadores em galvanoplastia, cozinha, limpeza etc).
2.1.7 Riscos Ergonômicos
Se refere a quaisquer fatores que possam interferir nas carcterísticas psicosiológicas do trabalhador, causan-
do desconforto ou afetando sua saúde.
Podemos citar: Esforço físico intenso, levantamento e transport de peso, postura inadequada, controle rígido
de produtividade, repetitividade, stress, monotonia e jornada prolongada.
Elevado número de doenças ocupacionais e acidentes trabalhistas é decorrente da ausência de medidas er-
gonômicas adequadas, de jornadas muito longas de trabalho.
Execução de atividades muito monótonas ou repetitivas e execução do trabalho em uma posição inadequada
e até situações de alto nível de estresse mental.
A aplicação dos princípios ergonômicos no ambiente do trabalho pode propiciar uma interação adequada e
confortável do ser humano com os objetos que maneja e com o ambiente onde trabalha que resultam em melho-
rar a produtividade. Possibilitam também reduzir os custos laborais que se manifestam através de absenteísmo,
rotatividade, conitos e pela falta de interesse para o trabalho.
Pequenas mudanças no design ergonômico de equipamentos, nas estações trabalho ou nas tarefas de traba-
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Riscos ambientais noambiente de mineração
lho podem trazer melhorias signicativas.
Os trabalhadores que possam ser afetados por quaisquer mudanças ergonômicas no ambiente de trabalho
devem se envolvidos nas discussões. Sua contribuição pode ser muito útil para determinar as mudanças necessá-
rias e adequadas.
A ergonomia pode contribuir para solucionar um grande número de problemas sociais. Principalmente aque-
les relacionados com a segurança e com a saúde do trabalho, pode contribuir também para a prevenção de erros
e de melhoria do desempenho.
Os principais objetivos da ergonomia são: Satisfação e conforto; garantia de que a prática laboral e o uso do
equipamento/produto não causem problemas à saúde do usuário. Isso pode ser feito de forma técnica através
da análise da interação entre operador e produto/equipamento. Atuação nas atividade e nos ambientes laborais.
O trabalho engloba o contexto organizacional, psicossocial e político de um sistema de trabalho ou de uma
organização. Devem ser estudados os acidentes ocorridos e suas causas. Devem ser estudados os erros humanos
e o inadequado relacionamento entre o trabalhador e suas tarefas.
Os acidentes e doenças do trabalho podem ser reduzidos se forem consideradas as capacidades e limitações
humanas durante o projeto de trabalho e seu ambiente, incluindo equipamentos e tecnologias. Elevado número
de doenças ocupacionais e acidentes trabalhistas é decorrente da ausência de medidas ergonômicas adequadas.
Esforço físico intenso, levantamento e transporte manual de peso, exigência de postura inadequada, controle
rígido de produtividade, imposição de ritmos excessivos, jornadas de trabalho prolongadas, monotonia e repetiti-
vidade, além de outras situações causadoras de stress físico e/ou psíquico.
Ergonomia de concepção
Ocorre quando a contribuição ergonômica se faz durante o projeto do produto, da máquina, do ambiente ou
do sistema. É a melhor situação, pois as alternativas poderão ser amplamente examinadas.
Exige maior conhecimento e experiência, porque as decisões são tomadas com base em situações hipotéti-
cas, ainda sem uma existência real.
O nível de decisões pode ser melhorado, buscando-se informações em situações semelhantes que já existam
ou construindo-se modelos tridimensionais de postos de trabalho.
As situações de trabalho podem ser simuladas a custos relativamente baixos e modernamente, podem ser
simuladas no computador, com uso de modelos virtuais.
Ergonomia de Correção
A ergonomia de correção é aplicada em situações reais, já existentes, para resolver problemas que se ree-
tem na segurança, quantidade e qualidade da produção, resultando em fadiga excessiva, doenças do trabalhador.
Muitas vezes, a solução adotada não é completamente satisfatória, pois ela pode exigir custo elevado de im-
plantação. Em alguns casos, certas melhorias, como mudanças de posturas, colocação de dispositivos de seguran-
ça e aumento da iluminação podem ser feitas com relativa facilidade enquanto, em outros casos, como as reduções
de carga mental ou de ruído, tornam-se difíceis.
Ergonomia de Concientização
Procura capacitar os trabalhadores para a identicação e correção dos problemas do dia a dia ou emergen-
ciais. Muitas vezes, os problemas ergonômicos não são solucionados, nas fases de concepção e de correção.
Novos problemas poderão surgir devido à própria dinâmica do processo produtivo.
Podem ocorrer, desgastes naturais das máquinas e equipamentos, modicações introduzidas pelos serviços
38
Fundamentos de segurança em Mineração
de manutenção, alteração dos produtos e da programação da produção, introdução de novos equipamentos,
substituição de trabalhadores e assim por diante.
Os imprevistos podem surgir e os trabalhadores devem estar preparados para enfrentá-los. É importante
conscientizar o trabalhador , através de cursos de treinamento e frequentes reciclagens.
A conscientização dos trabalhadores nem sempre é feita em termos individuais e deve ser feita coletivamente,
quando o problema afetar um grupo.
Ergonomia de participação
Procura envolver o próprio usuário na solução de problemas ergonômicos. Pode ser o trabalhador, no caso
de um posto de trabalho, ou o consumidor, no caso de produtos de consumo.
Tem como base, a crença de que usuário possui conhecimento prático, cujos detalhes podem passar des-
percebidos ao analista ou projetista. Enquanto a ergonomia de conscientização procura apenas manter os traba-
lhadores informados, a de participação envolve aquele de forma mais ativa, na busca da solução para o problema.
Conforme a Agência Internacional de Energia IEA (2000), os domínios de especialização da ergonomia são:
Ergonomia física
- Está relacionada com as características da anatomia humana, antropometria, siologia
e biomecânica em sua relação a atividade física. Postura, manuseio de cargas, movimentos repetitivos, distúrbios
músculo-esqueléticos, projeto de posto de trabalho, segurança e saúde do trabalhador. Os tópicos relevantes in-
cluem o estudo da postura no trabalho, manuseio de materiais, movimentos repetitivos, distúrbios músculo esque-
léticos relacionados ao trabalho, projeto de posto de trabalho, segurança e saúde.
Ergonomia cognitiva
- Refere-se aos processos mentais, tais como percepção, memória, raciocínio e respos-
ta motora conforme afetem as interações entre seres humanos e outros elementos de um sistema.
Os tópicos relevantes incluem o estudo da carga mental de trabalho, tomada de decisão, desempenho espe-
cializado, interação entre homem e computador, estresse e treinamento conforme esses se relacionem a projetos
envolvendo seres humanos e sistemas.Carga mental, tomada de decisões, interação homem-máquina, estresse e
treinamento.
Ergonomia organizacional
- Projeto de trabalho, programação de trabalho em grupo, projeto participati-
vo, trabalho cooperativo, cultura organizacional, organizações e gestão da qualidade. Se refere à otimização dos
sistemas sociotécnicos, incluindo suas estruturas organizacionais, políticas e de processos. Os tópicos relevantes
incluem comunicações, gerenciamento de recursos dos coletivos de trabalho, projeto de trabalho, organização
temporal do trabalho, trabalho em grupo, projeto participativo, novos paradigmas do trabalho, trabalho coopera-
tivo e cultura organizacional.
Análise Ergonômica do Trabalho (AET)
– Práticas da ergonomia de concepção, de correção, de conscienti-
zação e de participação que são abordados na NR17 que visa a estabelecer parâmetros que permitam a adaptação
das condições de trabalho às características psicosiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um má-
ximo de conforto, segurança e desempenho eciente. As condições de trabalho citadas na NR 17 (1990) incluem
aspectos relacionados ao levantamento, transporte e descarga de materiais, ao mobiliário, aos equipamentos e às
condições ambientais do posto de trabalho e à própria organização do trabalho.
O ítem 17.1.2 da NR 17 destaca que “para avaliar a adaptação das condições de trabalho cabe ao empregador
realizar a AET, devendo ela abordar, no mínimo, as condições de trabalho, conforme estabelecido nesta Norma
Regulamentadora”.
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Riscos ambientais noambiente de mineração
Ergonomia na mineração
Os mineiros atuam em ambientes inadequados, que aumenta o risco de acidentes de trabalho e de doenças
ocupacionais.
A ausência de medidas ergonômicas pode ser considerada como parte importante dos problemas de aciden-
tes e doenças ocupacionais na mineração. A incorporação dos princípios ergonômicos irá trazer uma contribuição
na melhoria do ambiente e das condições de segurança e saúde do trabalhador das minas.
Uma empresa de mineração é dividida em vários setores, com diferenças grandes entre as atividades reali-
zadas. Em algumas minerações menos desenvolvidas, convivem com tarefas ou processos onde o sistema muscu-
loesquelético é o mais exigido podendo chegar, em alguns setores, a 90% das causas de afastamentos. 70% dos
afastamentos vem de lesões do sistema músculo esquelético, as dores lombares são campeãs”. Fatos que evidencia
que fundamentos da ergonomia é facilitador, para atingir os objetivos da organização e melhorias necessárias no
ambiente de trabalho.
Uma das soluções para o problema é a adoção de programas de incentivo para o uso consciente dos equi-
pamentos de segurança (EPI) e acompanhamento mais próximo possível das condições de saúde e bem-estar dos
trabalhadores.
Para reduzir os afastamentos vem de lesões do sistema músculo esquelético, as medidas preventivas sempre
são as mais sugeridas. As medidas emergenciais sempre são mais caras e tem menor resultado. É necessário in-
tervir com informação e conscientização do colaborador quanto a sua tarefa, seu ambiente de trabalho e atitudes
de bem estar.
O treinamento para a utilização das máquinas e para os movimentos que envolvem o trabalho é uma boa
medida preventiva”.
Evolução dos equipamentos reduzem o esforço físicos e posturais.
Podemos citar como exemplo: Uma das principais causas dos acidentes em minas subterrâneas - desmoro-
namento de blocos de rocha (chocos).
Operação de “abatimento de chocos”, constitui uma das atividades mais árduas e perigosas em mineração
de subsolo.
A retirada mecânica de chocos: geralmente oferece ao trabalhador maior proteção. O operador remove a ro-
cha solta, enquanto ca posicionado em cabine de proteção e a maior distância que na retirada manual.
Em 2002, cerca de 25% das minas brasileiras já usavam scaler (perfuratriz adaptada para o batimento meca-
nizado de chocos).
FIGURA 2.11 Operação de abatimento de “Choco” – Manual e evolução com equipamento “scaler”
Fonte: Imagem à esquerda: Faria, 2008. Imagem à direita: NMV GROUP, 2021
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Fundamentos de segurança em Mineração
2.2 AGENTES QUÍMICOS
FIGURA 2.12 Agentes químicos no ambiente do trabalho : poeiras, fumos, gases , substâncias e compostos químicos
Fonte: Imagem à esquerda disponível em https://pt.slideshare.net/avio_avlis/sade-e-segurana-no-trabalho-sociologia-20122, e
imagem à direita disponível em: https://metalurgicosdeminas.com.br/excesso-de-trabalho-pode-resultar-em-doencas-irreversi-
veis/. Acesso em: 15 dez. 2022
São as substâncias, compostos ou produtos que possam ter contato ou ser absorvidos pelo organismo.
O contato com produtos químicos pode ocorrer por absorção pela via respiratória através da inalação direta
ou indiretamente de produtos químicos, nas formas de poeiras, fumos, névoas, neblinas, gases ou vapores, ou que,
pela natureza da atividade de exposição, possam ter contato ou ser absorvidos pelo organismo por ingestão ou
através da pele (tegumentar).
Observação: Tegumento reveste toda a superfície corpórea. Corresponde à pele e seus anexos e ao tecido
subcutâneo.
A presença de substâncias agressivas no ambiente de trabalho constitui um risco para a saúde do trabalha-
dor. Não signica que o mesmo venha a contrair uma doença prossional, pois sua ocorrência depende fundamen-
talmente da concentração do contaminante; tempo de exposição; características físico-químicas do contaminante
e da susceptibilidade pessoal.
Conforme publicações do Ministério da Saúde do Brasil, as pneumopatias relacionadas etiológicamente à
inalação de poeiras em ambientes de trabalho são genericamente designadas como pneumoconioses (do grego,
conion = poeira). São excluídas dessa denominação as alterações neoplásicas, as reações de vias aéreas, como
asma e a bronquite, e o ensema. Para ns práticos, no entanto, o termo pneumoconiose será utilizado neste pro-
tocolo para designar genericamente todas as doenças pulmonares causadas por inalação de poeiras independente
do processo envolvido.
As ocupações que expõem trabalhadores ao risco de inalação de poeiras causadoras de pneumoconiose es-
tão relacionadas a diversos ramos de atividades, como mineração e transformação de minerais em geral, metalur-
gia, cerâmica, vidros, construção civil (fabricação de materiais construtivos e operações de construção), agricultura
e indústria da madeira (poeiras orgânicas), entre outros.
Exemplo frequente de poeiras nas áreas de mineração:
• Sílica, muito comum nas áreas de britagem na produção de brita
• Manganês, gerada durante atividades de extração, moagem ou transporte desse minério. O manga-
nês é o agente químico que se apresenta na forma de poeira.
• Carvão. A pneumoconiose dos trabalhadores do carvão (ou dos mineiros) é uma doença prossional
causada pela inalação de poeiras de carvão mineral, caracterizada pela deposição destas poeiras nos al-
véolos pulmonares e pela reação do tecido do orgão, provocada por sua presença.
Observação: O carvão mineral é considerado pela legislação para a determinação de salubridade do ambiente
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Riscos ambientais noambiente de mineração
como um agente químico. Dessa forma, apenas a sua presença ou o contato físico já determinam uma condição
de insalubridade do ambiente. A avaliação de salubridade como poeira mineral necessita o dado quantitativo de
concentração no ambiente. Essa questão tem sido objeto de muitas discussões e pendências em processos na área
da justiça do trabalho, relativo a direitos trabalhistas e previdenciários por parte dos trabalhadores, empresas de
mineração e do INPS.
O risco de ocorrência de pneumoconiose ainda é um problema mundial, embora as condições de trabalho
e precariedade do controle ambiental e individual da exposição, possam levar a um risco maior nas minerações
menos desenvolvidas ou em países com legislações mais brandas com sindicatos e scalização governamental
menos atuantes..
Citamos como exemplo a ocorrência de silicose no ramo de pedreiras (exploração de granito e fabricação
de pedra britada); na indústria naval (operações de jateamento com areia). Para todas as pneumoconioses existe
indicação obrigatória de afastamento da exposição que a causou (BRASIL, 2006).
FIGURA 2.13 Pneumoconioses, poeiras causadoras e doenças
Fonte: Adaptado de Brasil, 2006
O controle da exposição dos trabalhadores pode reduzir a incidência de doenças ocupacionais aos agentes
químicos do ambiente do trabalho.
Citamos algumas medidas que visam à eliminação da exposição ou à redução a níveis de concentração dos
agentes químicos:
• Enclausuramento de processos e isolamento de setores de trabalho.
• Procedimentos rigorosos de limpeza dos locais de trabalho. Limpeza a úmido das superfícies do am-
biente (bancadas, paredes, solo) ou por sucção, para retirada de partículas antes ou durante as atividades.
• Uso de sistemas de ventilação exaustora e monitoramento adequado e sistemático das concentra-
ções de fumos, névoas e poeiras no ar ambiente de trabalho.
42
Fundamentos de segurança em Mineração
FIGURA 2.14 Controle: ventilação local exaustora de processo
Fonte: Peixoto e Ferreira, 2013
Adequações na organização das atividades ou processos que reduzam a exposição, em termos do nú-
mero e tempo de exposição dos trabalhadores.
Nas atividades de mineração, devem ser adotadas técnicas de perfuração a úmido para diminuir concentração
de poeiras no ar ambiente e o uso de máscaras protetoras respiratórias. Se os níveis forem acima dos aceitáveis,
será ainda necessário o empregos de ventilação forçada que permita diluir os contaminantes à padrões adequados
Fornecimento, pelo empregador, de equipamentos de proteção individual, de forma complementar às medi-
das de proteção coletiva. As máscaras protetoras respiratórias devem ser utilizadas como medida temporária, em
emergências. Quando as medidas de proteção coletiva forem insucientes, estas deverão ser cuidadosamente indi-
cadas para alguns setores ou funções. Os trabalhadores devem ser treinados apropriadamente para sua utilização.
As máscaras devem ser de qualidade e adequadas às exposições, com ltros químicos ou de poeiras, especícos
para cada substância manipulada ou para grupos de substâncias passíveis de serem retidas pelo mesmo ltro. Os
ltros devem ser rigorosamente trocados conforme as recomendações do fabricante. A Instrução Normativa/MTb
n.º 1/1994 estabelece regulamento técnico sobre o uso de equipamentos para proteção respiratória.
2.3 RISCOS BIOLÓGICOS
No processo de trabalho existem vários riscos que os trabalhadores estão submetidos sendo que alguns ris-
cos ocupacionais se apresentam de forma invisível.
A Biossegurança é parte integrante da Segurança e da Higiene do Trabalho. São considerados riscos bioló-
gicos: vírus, bactérias, parasitas, protozoários, fungos e bacilos. Os riscos biológicos ocorrem por meio de micro-
organismos que, em contato com o homem, podem provocar inúmeras doenças. A exposição ocupacional em
trabalhadores é relativamente comum e dá-se, principalmente, em acidentes de trabalho (agricultura, construção
civil, mineração, saneamento e coleta de lixo) ou em acidentes de trajeto. O risco de contaminação por material
biológico é inerente a qualquer categoria exposta a ele, porém, varia de acordo com as atividades desenvolvidas
pelos trabalhadores. As exposições ocupacionais a material biológico entre os trabalhadores de saúde, envolvendo
objetos perfurocortantes são elevadas.
Entre as inúmeras doenças prossionais provocadas por microorganismos incluem-se: tuberculose, brucelo-
se, malária, febre amarela.
Um exemplo risco de contaminação biológica é o tétano, doença de noticação compulsória e investigação
obrigatória no território nacional. A presença de tecido necrosado, pus ou corpos estranhos facilita a reprodução
43
Riscos ambientais noambiente de mineração
local do bacilo, que não é invasivo e age a distância por sua toxina.
Entre as medidas clássicas de prevenção e controle estão: VACINAÇÃO: a manutenção de níveis adequados
de cobertura vacinal dos trabalhadores. Todos os trabalhadores inseridos em atividades de maior risco, tais como
agricultores e operários da construção civil, trabalhadores em saneamento e coleta de lixo e mineração devem ser
vacinados.
A malária relacionada ao trabalho tem sido descrita em trabalhadores que exercem atividades em mineração,
construção de barragens ou rodovias, em extração de petróleo e outras atividades que obrigam à presença dos
trabalhadores em zonas endêmicas.
Para que sas doenças possam ser consideradas doenças prossionais, é preciso que haja exposição do traba-
lhador ao microorganismo.
São necessárias medidas preventivas para que as condições de higiene e segurança nos diversos setores de
trabalho sejam adequadas.
2.4 RISCOS ACIDENTES
Os acidentes podem ocorrer em todos os lugares onde vivemos. Pode ser entendido com acontecimento não
previsto ou programado e que não é possível precisar quando vai acontecer.
Qualquer evento que leve ou contribua para qualquer desvio adverso do plano é considerado um aci-
dente, no sentido geral da palavra.
Acontecimento que envolve amplo expectro de situações, está ligado a uma perspectiva de perda. Neste
sentido, um acidente é um evento que não se espera ou não se pretende que ocorra e que causa algum tipo de
perda.
Muitos prossionais preferem usar "incidente" em vez de "acidente" referente a lesões corporais, doenças,
morte de pessoas, danos à propriedade, equipamentos e materiais, bem como custo de reposição tempo, pro-
dução e vendas. As perdas podem incluir aumento do custo de seguro, indenizações ou compensação de traba-
lhadores, limpeza do local do acidente, serviços jurídicos e médicos, reabilitação mais ampla da fábrica e danos à
imagem pública, entre outros.
No que diz respeito ao acidente do trabalho, também há diferentes visões e conceitos, citamos pela relevân-
cia: Legal e prevencionaista.
Conceito LEGAL – ACIDENTE DO TRABALHO é o evento que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço de
empresa ou de empregador doméstico ou pelo exercício do trabalho provocando lesão corporal ou perturbação
funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.
Denido no artigo 19 da Lei n. 8.213/1991 (BRASIL, 1991).
O conceito é fundamentado na Ciência do Direito e, portanto, de maior relevância na solução de QUESTÕES
JURÍDICAS TRABALHISTAS e/ou PREVIDENCIÁRIAS.
Para a classicação legal do “Acidente de Trabalho”, é indispensável que o evento possua relação causal com
o trabalho e que resulte em lesão corporal ou perturbação funcional. Signica que deve ter como consequência
morte, perda ou a redução, permanente ou temporária, da capacidade produtiva do trabalhador.
Conceito PREVENCIONISTA – Ocorrência não programada, inesperada ou não, que interrompe ou interfere
no processo normal de uma atividade, ocasionando perda de tempo útil e/ou lesões nos trabalhadores ou danos
materiais.
Conceito centrado nos Aspectos Técnico-Preventivos da Segurança e Saúde no Trabalho, com o objetivo de
prevenir a ocorrência do acidente, missão principal da Ciência Prevenção.
Na visão prevencionista o conceito “acidente” é mais abrangente, não é preciso que ocorrar uma lesão no
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Fundamentos de segurança em Mineração
trabalhador para ser considerado, basta basta que o evento propicie qualquer uma dessas possibilidades: Perda de
tempo útil e/ou danos materiais e/ou lesão corporal ou perturbação funcional no trabalhador.
Conforme a concepção moderna do acidente considera-se um entendimento distorcido ou parcial - analisar
as causas somente pelo enfoque legal que é o método tradicional de avaliação - através de inspecções e inquéritos
obrigatórios.
Conforme o U.S. Department of Labor Occupational Safety and Health Administration (Equivalente ao Ministério
do Trabalho nos USA), as causas dos acidentes são geralmente múltiplas. A investigação de um acidente bem con-
duzida normalmente encontram como fatores causadores: Atos inseguros e condição inseguras. Cada efeito tem
pelo menos uma causa condicional e uma causa acional.
Assim sendo, todo evento tipicado no Conceito Legal de Acidente de Trabalho também se enquadra no
Conceito Prevencionista; porém, o contrário não é verdadeiro.
Dessa forma é recomendável que os esforços prevencionistas que se façam necessários para evitar efeitos
danosos para o trabalhador sejam concentrados, no meio ambiente do trabalho, nas hipóteses ou situações que
possa congurar acidente do trabalho, em termos prevencionistas.
2.4.1 Condição insegura
É responsabilidade do empregador a eliminação ou correção das condições inseguras existentes no
ambiente do trabalho.
Consiste em irregularidades ou deciências existentes no ambiente de trabalho que constituem riscos para
a integridade física do trabalhador e para a sua saúde, bem como para os bens materiais da empresa. Trata-se de
conceito equivalente nas consequências e responsabilidades a “Processo inseguro” que são deciências, defeitos,
irregularidades técnicas nas instalações físicas, máquinas ou equipamentos que podem ocasionar acidentes de
trabalho.
As situações que pode contribuir para a ocorrência do acidente do trabalho podem ser: Arranjo físico ina-
dequado, máquinas e equipamentos sem proteção, ferramentas inadequadas ou defeituosas, iluminação inade-
quada, eletricidade, probabilidade de incêndio ou explosão, armazenamento inadequado, animais peçonhentos,
falta de limpeza e ordem no ambiente de trabalho, escada sem corrimão, piso escorregadio, entre outras situações.
2.4.2 Atos Inseguros
Consistem em atitudes, atos, ações ou comportamento do trabalhador, contrários as normas de segurança
e que colocam em risco a sua saúde e/ou integridade física, ou de outros colegas de trabalho. Trata-se de ação,
consciente ou não, realizado pelo trabalhador ou empresa, capaz de provocar dano ao trabalhador, a seus compa-
nheiros ou a máquinas, materiais e equipamentos.
Exemplos de ações ou atitudes consideradas com ato inseguro: Recusa de uso ou utilização inadequada dos
equipamentos de segurança e de proteção individual (EPI); emprego impróprio de ferramentas ou de equipamen-
tos defeituosos; ajuste, lubricação e limpeza de máquinas em movimento; permanência junto a pontos críticos
das máquinas ou locais perigosos (ex: sob cargas suspensas). Operação de máquinas por pessoas inabilitadas ou
em velocidades excessivas. Uso de roupas inadequadas para o tipo de trabalho. Ato de fumar em locais onde há
perigo de fogo.
A falha humana, por falta de atenção, é inerente a natureza humana e classicada com o ato inseguro.
Os atos inseguros, muitas vezes podem ser causadas pela tendência natural do ser humano de adotar alter-
nativas que exigam menor esforço. Esse caso pode ser incentivado ou potencializado por um ambiente indiferente
em empresas com cultura antiquada, que raramente pune violações ou reconhece desempenhos seguros.
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Riscos ambientais noambiente de mineração
Dessa forma, os atos inseguros podem ocorrer por imprudência, imperícia ou negligência. São exemplos, en-
tre outros, fazer uma tarefa de trabalho esquecendo-se de cumprir o passo anterior; abrir duas válvulas que nunca
poderiam estar abertas simultaneamente; acionar tecla ou botão errado; não perceber uma mensagem ou infor-
mação; errar cálculos que são feitos de forma automática; falta de cuidado.
Podem ser fatores indutores da falha humana:
• Ausência de aptidões físicas ou cognitivas (falta de capacidade para algumas tarefas).
• A falta de treinamento, excesso e a pressão de trabalho (sobrecarga de informações ou tarefas).
• Fatores ergonômicos, tais como posição inadequada do corpo também podem contribuir para a falha
humana. Instrumento de leitura inadequado para a situação; comandos confusos.
• Relativo a pessoa do indivíduo que pode vir a provocar acidentes: Fatores pessoais, como perda tem-
porária de aptidão física ou mental devido a problemas emocionais ou nanceiros; falta de motivação,
valores diferentes, instabilidade emocional.
• Erros na comunicação, em situações críticas.
Também são comuns encontrar explicações ou justicativas nas investigações dos atos inseguros: pressa, tei-
mosia, curiosidade, improvisação, autoconança, desmotivação.
2.4.3 Consequências do Acidente
As consequências e prejuízos do acidente do trabalho atingem o trabalhador, a empresa e a comunidade em
geral.
O trabalhador (vítima), pelo sofrimento físico congurado na dor, lesão incapacitante (parcial ou total, per-
manente ou temporária) ou até a própria morte. Nos reexos psicológicos negativos decorrentes de eventuais
sequelas acidentárias, inclusive podendo gerar distúrbios familiares. Redução salarial decorrente da percepção de
benefícios previdenciários.
A empresa, pelo pagamento salarial aos trabalhadores acidentados durante os 15 primeiros dias seguintes
ao do acidente e outras indenizações e compensações previstas na legislação. Nos reexos negativos no ambiente
de trabalho onde ocorreu o acidente (queda de produtividade). Pelos danos ou avarias nos equipamentos, máqui-
nas ou ferramentas utilizados pelo trabalhador vitimado. Pela paralisação ou interdição de uma máquina, equipa-
mento ou do local de produção como um todo. Pelos reexos negativos na imagem da empresa. Pelo processo
legal, multas e indenizações que a empresa deve arcar. Pela perda de valor da empresa conforme a situação.
A comunidade/ Governo: Pagamento de despesas médico-hospitalares no tratamento do acidentado.
Pagamento, através do INSS, de benefícios previdenciários ao trabalhador acidentado ou seus dependentes (auxí-
lio-doença, auxílio-acidente, aposentadoria por invalidez e pensão por morte). Despesas com a reabilitação pros-
sional do trabalhador acidentado, inclusive com o fornecimento de próteses, conforme o caso.
2.4.4 Comunicação de Acidentes
A comunicação de acidentes é uma obrigação legal. A vítima, ou quem possa fazer isso por ele, deve comu-
nicar o acidente logo após a ocorrência do acidente.
A empresa deve fazer a comunicação à Previdência Social até o 1º (primeiro) dia útil seguinte ao da ocorrên-
cia. No caso, de morte, a comunicação deve ser de imediato à autoridade competente.
Se não zer a comunicação do acidente no prazo legal, a empresa é penalizada com uma multa variável,
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Fundamentos de segurança em Mineração
entre o limite mínimo e o limite máximo do salário-de-contribuição. Sucessivamente aumentada nas reincidências,
aplicada e cobrada pela Previdência Social. Os sindicatos e entidades representativos de classe poderão acompa-
nhar a cobrança, pela Previdência Social, das multas previstas pela não comunicação do acidente do trabalho por
parte da empresa.
Registro - Comunicação de Acidente de Trabalho - CAT
A formalização legal ocorre com o preenchimento de formulário especíco - Comunicação de Acidente do
Trabalho (CAT), no site do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS),
No caso que a empresa não cumpra com esta obrigação, podem registrar a CAT: O próprio trabalhador; de-
pendentes do(a) empregado(a), entidades sindicais, médico que atendeu o acidentado e outras entidades públicas.
FIGURA 2.15 Formulário do INSS para comunicação do acidente do Trabalho - CAT (Versão antiga em papel)
Fonte: Documento disponível em: https://www.gov.br/pt-br/servicos/registrar-comunicacao-de-acidente-de-trabalho-cat.
2.5 EXPOSIÇÃO CONJUNTA DE AGENTES AM-
BIENTAIS
Os trabalhadores da mineração podem ser expostos, comumente, e de forma continuada, à combinação de
agentes de riscos em atividades de desmonte de rocha, operação de perfurarizes manuais, equipamentos pesados.
São trabalhos em situações desconfortáveis e exaustivas, com exposição à temperaturas extremas, elevado
ruído, vibrações, umidade. Situações de risco por detonação de explosivos, trânsito de equipamentos pesados em
área restrita e baixa condição de visibilidade entre outras situações.
Essas situações de trabalho sob condições de clima extremo, somada a exposição continuada de agentes am-
bientais, em sistemas com turnos de revesamento contínuos, podem ser encontrados nas operações unitárias da
mineração à céu aberto ou subsolo.
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Riscos ambientais noambiente de mineração
FIGURA 2.16 Exposição a um conjunto de agentes de riscos ambientais
Fonte: Composição criada pelo autor com imagens disponíveis em: https://medcenterrs.com.br/noticia/51/silicose-pode-ser-evi-
tada, https://medium.com/@silvandre97/acidentes-de-trabalho-e-agentes-agressores-a-sa%C3%BAde-bf831accfb97 e https://
www.researchgate.net/gure/Figura-1-Geracao-de-ultralancamento-poeiras-e-gases-apos-detonacao_g2_343377193
Em uma operação de lavra subterrânea o trabalho é frequentemente condicionado pelo ambiente a exposi-
ção simultânea:
• Gases tóxicos e poeiras.
• Calor e umidade.
• Iluminação inadequada.
• Ruído e vibração excessivos.
• Atmosferas decientes em oxigênio.
FIGURA 2.17 Ambiente de trabalho subterrâneo
Fonte: Torres e Gama, 2005
Além das condições de insalubridade ambiental existem também a situação de exposição continuada aos
perigos da área de trabalho da mina:
• Desmoronamentos (queda de blocos: do teto, da face de trabalho das laterais.
• Acidentes pela circulação de equipamentos de pesados em ambientes restritos
• Eletricidade.
• Explosivos.
• Explosões de gases e poeira;
• Inundações de água e gás;
• Incêndio na mina
A exposição prolongada a esse conjunto de situações (associação de agentes) levam a situações de estresses
48
Fundamentos de segurança em Mineração
que excedem a tolerância humana que podem levar a uma situação denominda ‘Estresse Ambiental”.
Além disso, é comum que a força de trabalho nas minas sejam uma mistura de funcionários locais e expa-
triados. Frequentemente a mineração está em países ou regiões com infraestrutura mal desenvolvida em áreas
em afastados, que obriga o trabalhador passar longo tempo distanciado da sua família, vivendo em alojamentos.
Locais remotos, sem conforto, distanciamento familiar, somados a exposição combinada dos agentes am-
bientais prejudicam a saúde dos trabalhadores e trazem estresses psicológicos que podem se manifestar na forma
de sentimentos de insatisfação, desconforto, redução de produtividade, freqüência maior de casos (individuais) de
alcoolismo e consumo de drogas, diminuição no estado de alerta e a acidentes.
Hoje, as operações de mineração são complexas e altamente sosticadas tecnicamente. Os mineiros devem
interagir com esses sistemas complexos, inclusive com equipamentos de alta tecnologia em espaços connados.
Há também uma carga cognitiva extremamente complexa colocada sobre os mineiros no desempenho de
suas funções.
Freqüentemente, é difícil manter a consciência de sequências complicadas de operação de equipamentos,
bem como exercer vigilância sobre mudanças nas condições do local de trabalho. Interações entre mineradores,
máquinas e requisitos para manter os locais de trabalho seguros e saudáveis.
FIGURA 2.18 Ambiente de Mina subterrânea (Principais perigos)
Fonte: SME, 1992, tradução nossa.
Engenharia dos fatores humanos na mineração
As organizações devem reconhecer a importância dos recursos humanos e não devem subestimar as situa-
ções de exposições combinadas de agentes de risco e de stress ambiental nos seus trabalhadores. A engenhosi-
dade e a criatividade possibilitam a organização atingir os seus objetivos sociais e econômicos. Assim, proteger
os recursos humanos dos estresses do ambiente de trabalho é importante sob o ponto de vista humanitário mas
também para o sucesso da própria empresa. O ativo mais valioso de qualquer organização é os seus recursos hu-
manos.
Embora o papel principal da engenharia seja evitar condições inseguras, ela deve reduzir a oportunidade de
erros e atos inseguros por usuários por meio de projetos que reitam as limitações e capacidades humanas. Não
pode se limitar a simplesmente prevenir condições inseguras. A engenharia também desempenha um papel vital
na prevenção de atos inseguros.
Os projetos e a organização do trabalho por parte dos responsáveis pelas minas deve reconhecer as capaci-
dades e limitações das pessoas. Muitas decisões de processos ou design afetam o que as pessoas fazem e o de-
sempenho delas.
Os trabalhadores tem capacidade diversas em função de diferentes: constituição física, idades, experiências,
conhecimentos e habilidades.
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Riscos ambientais noambiente de mineração
As organizações mais desenvolvidas buscam enfrentar essas realidades com a aplicação sistemática de infor-
mações sobre características humanas, expectativas, habilidades e comportamentos para o projeto de máquinas,
instalações, procedimentos e ambientes mineiros.
Há uma grande massa de dados desenvolvidos fora do setor da mineração, que podem usados para a solução
de problemas encontrados nas minas.
Durante as últimas décadas, a aplicação da fatores humanos para problemas de engenharia de mineração
tem possibilitado avanços na eciência operacional e também na saúde e segurança dos mineiros.
Hoje é reconhecido, que as minas mais ecientes são também as mais seguras. Essas organizações apresen-
tam melhorias contínuas na saúde e segurança dos mineiros, bem como ganhos em produtividade e redução de
custos.
Identicação dos Riscos ambientais
Os riscos e situações que devem ser enfrentadas para tornar as minas mais seguras e com melhores condições
para os trabalhadores podem ser sintetizados e observados de forma didática e abrangente na gura 2.19 – Riscos
ambientais que deve ser de observância obrigatória por todas as empresas brasileiras. O conteúdo regulamenta e
fornece orientações sobre procedimentos obrigatórios relacionados à segurança e saúde do trabalhador.
A tabela faz parte das Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho e emprego no Brasil. Na NR09
– Programa de Riscos ambientais e também está relacionada e articulada com a NR 15 - Atividades e Operações
Insalubres.
Os valores dispostos na NR15 correspondem aos limites de tolerância também chamados de limites de ex-
posição e a NR09 identica os riscos físicos, químicos e biológicos existentes no ambiente de trabalho. A NR 15
determina ainda como se dará a caracterização da insalubridade nos casos de exposição a esses riscos, se por meio
de avaliação qualitativa ou quantitativa.
As normas são citadas no Capítulo V, Título II, da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e são periodica-
mente revisadas pelo Ministério do Trabalho e Previdência Social.
Qualquer avaliação de condição de área de trabalho incluindo mineração deve partir de vericação da pre-
sença dos riscos ambientais descritos na tabela
FIGURA 2.19 Riscos Ambientais
Fonte: Brasil, 2022a.
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Fundamentos de segurança em Mineração
Referências:
ALGRANTI, E. et al. Pneumoconiose de mineiros de carvão: dados epidemiológicos de minas da bacia
carbonífera brasileira. Jornal de Pneumologia, v. 21, n. 1, p. 9-12, 1995.
BRASIL. Presidência da República. Lei 8.213 de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios
da Previdência Social e dá outras providências. Brasília, 1991. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/l8213cons.htm. Acesso em: 15 dez. 2022.
BRASIL, Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora no 09 (NR 09). Atividades e ope-
rações insalubres. Brasília: Ministério do Trabalho e Emprego, 2022a. Disponível em: https://www.gov.br/
trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especicos/secretaria-de-trabalho/inspecao/seguran-
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Acesso em: 27 out. 2022.
BRASIL, Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora no 15 (NR 15). Brasília: Ministério
do Trabalho e Emprego, 2022b. Disponível em: https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composi-
cao/orgaos-especicos/secretaria-de-trabalho/inspecao/seguranca-e-saude-no-trabalho/normas-regula-
mentadoras/nr-15-atualizada-2022.pdf. Acesso em: 28 out. 2022.
BRASIL. Pneumoconioses. Brasília: Ministério da Saúde, 2006.
CARMO, Lívia Ismália Carneiro. Efeitos do ruído ambiental no organismo humano e suas manifestações
auditivas. Trabalho de Conclusão do Curso (Especialização em Audiologia Clínica) - Centro de Especialização
em Fonoaudiologia Clínica (CEFAC). Goiânia. 1999.
COUTO, H. A. Temperaturas Extremas. Fisiologia do Trabalho Aplicada. Editora Ibérica, Minas Gerais, Belo
Horizonte, 1978.
CUNHA, Alessandro. O que é Decibel? In: EMBARCADOS - SUA FONTE DE INFORMAÇÕES SOBRE
SISTEMAS EMBARCADOS. 27 jan. 2016. Disponível em: https://embarcados.com.br/o-que-e-decibel/.
Acesso em: 28 out. 2022.
FARIA, Mário Parreiras. Fatores intervenientes na segurança do trabalho de abatimento mecanizado
de rochas instáveis em uma mina subterrânea de ouro. Dissertação (Mestrado em Saúde Pública) -
Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte. 2008
NMV GROUP. Tecnologia BTI Breaker. 2021. Disponível em: https://www.nmvgroup.se/en/produkt/bre-
aker-technology-bti/. Acesso em: 15 dez. 2022
PEIXOTO, Neverton Hofstadler; FERREIRA, Leandro Silveira. Higiene ocupacional III. Santa Maria:
Universidade Federal de Santa Maria, Colégio Técnico Industrial de Santa Maria ; Rede e-Tec Brasil, 2013.
SME Mining Engineering Handbook. Littleton: Society for Mining, Metallurgy and Exploration, 1992
TORRES, Vidal Felix Navarro; GAMA, Carlos Dinis da. Engenharia Ambiental subterrânea e aplicações. Rio
de Janeiro: CETEM/CYTED, 2005. E-book. Disponível em: http://mineralis.cetem.gov.br/handle/cetem/677.
Acesso em: 17 out. 2022.
CAPÍTULO 3
As atividades de mineração podem causar impactos diretos nos recursos culturais como resultado de cons-
truções e instalações de mineração.
Além disso, impactos indiretos podem ser causados por erosão do solo, pela maior movimentação, facilitação
de acesso. Podem afetar lugares sagrados, ativos históricos e locais de interesse cultural.
Entre os possíveis impactos estão:
• Destruição completa de um recurso se estiver em áreas sujeitas a escavações ou distúrbios na super-
fície terrestre.
• Degradação ou destruição de locais de valor cultural dentro ou fora do local das operações como re-
sultado de mudanças nos padrões hidrológicos ou na topograa, devido ao movimento da terra (remo-
ção, erosão, sedimentação).
• Remoção sem autorização de artefatos de interesse cultural ou histórico.
• Vandalismo como resultado do aumento de pessoas em lugares anteriormente inacessíveis.
• Impactos visuais causados pela limpeza da vegetação, grandes escavações, poeira e presença de má-
quinas e veículos pesados.
• Os problemas de saúde pública relacionados às atividades de mineração são:
• Poluição das águas superciais e subterrâneas com metais, elementos, microrganismos provenientes
de drenos e resíduos nos acampamentos e residências de trabalhadores.
• Poluição do ar devido à exposição a altas concentrações de dióxido de enxofre, material particulado,
metais pesados, incluindo chumbo, mercúrio e cádmio. Poluição do solo devido a precipitação de ele-
mentos tóxicos suspensos nas emissões atmosféricas.
O ciclo de vida de um projeto mineral pode ser dividido em fases ou etapas que representam pontos de to-
mada de decisão quanto à aprovação do projeto para a próxima fase, retorno para melhor denição, ou cancela-
mento.
As fases do projeto mineiro compreendem:
• Concepção do projeto.
• Exploração mineral de jazida.
• Desenvolvimento da mina.
• Fase de operação
• Fechamento com a reabilitação ambiental da área.
A fase exploratória - projeto de mineração compreende: Limpeza de grandes áreas de vegetação para permi-
tir a entrada de veículos pesado montagem de plataformas de perfuração etc.
Muitos países exigem avaliação de impacto ambiental especíco para a fase exploratória pois podem ser pro-
fundos. As fases posteriores podem ou não continuar.
Essa fase inclui inspeções, estudos de campo, perfurações de teste e outras análises exploratórias.
IMPACTOS AMBIENTAIS DOS
PROJETOS DE MINERAÇÃO
52
Fundamentos de segurança em Mineração
3.1 FASE DE IMPLANTAÇÃO DA MINA
Se a fase de exploração mostrar que existe um depósito mineral de tamanho e tamanho sucientes o “Projeto”
pode começar com o desenvolvimento da mina.
A implantação pode começar quando a empresa construir as estradas de acesso e preparar o local de traba-
lho para abrigar as equipes e os equipamentos.
Fazem parte dessa etapa a construção de vias de acesso que podem ter impactos consideráveis no meio am-
biente, especialmente se atravessar áreas ecologicamente sensíveis ou comunidades indígenas.
O “Estudo de Impacto Ambiental” (EIA) do projeto mineiro deve incluir a avaliação completa impactos am-
bientais e sociais das estradas, caso esteja localizada em uma área remota e não desenvolvida.
O EIA deve avaliar separadamente os impactos relacionados à preparação e limpeza da terra.
As guras 3.1 e 3.2 abaixo mostram estruturas normalmente construídas nos sites de mineração, necessárias
para as atividades mineiras.
FIGURA 3.1 Estruturas comuns construídas no site de mineração
Fonte: Adaptado de imagem disponível em https://www.noticiasdemineracao.com/w-images/e92c666c-a9c9-4579-8c-
71-3b102282ef03/2/CTFvale-1680x600.jpg. Acesso em 15 dez. 2022.
Fonte: Adaptado de imagem disponível em https://www.businessnews.com.au/article/New-mines-to-deliver-1m-ounces. Acesso
em: 15 dez. 2022
53
Impactos ambientais dos projetos de Mineração
3.2 DESENVOLVIMENTO DA MINA
Os depósitos, em grande maioria são cobertos por camada de solo ou rochas estéril que deve ser removida
para acessar o minério. O método de remover a cobertura do material (solo e rocha) acima do depósito diferem
conforme a geologia, forma, tamanho, profundidade e forma do corpo de minério.
Antes de remover o estéril, é necessário derrubar as árvores e limpar ou queimar a vegetação no local com o
uso de máquinas pesadas – (escavadeiras e caminhões). Geralmente envolve a remoção de áreas com vegetação
nativa, fato que impacta o meio ambiente de biomas especícos como orestas tropicais, mata atlântica, entre
outros.
3.3 EXTRAÇÃO DO MINÉRIO (LAVRA)
Depois de removido o material estéril a extração de minério começa com equipamentos especializados e má-
quinas pesadas, de mineração. Os caminhões transportam o minério para as instalações de processamento pelas
estradas e as operações unitárias na mineração à céu aberto geram um conjunto de impactos ambientais.
Exemplo são as “Emissões fugitivas” de poeira, que devem ser avaliados separadamente no EIA.
A cava da mina à céu aberto, geralmente envolve uma escavação que excede a profundidade do aquífero e
as águas subterrâneas devem ser bombeadas para permitir a mineração.
A cava geralmente forma um grande e profundo lago no nal das operações de mineração, após cessar o
bombeamento das águas.
3.4 MINERAÇÃO ALUVIAL OU DE DEPÓSITO DE
PLACER
Representam a mineração de minerais valiosos depositados com sedimentos no leito de um uxo de água
ou em uma zona de inundação. Para minerar esse tipo de depósito são usadas escavadeiras, dragas ou bombas
hidráulicas para remover ouro de sedimentos ou da areia aluvial de um rio e em áreas de inundação.
Como a mineração de placer geralmente ocorre no leito de uma corrente de águas superciais, é um tipo de
mineração ambientalmente potencialmente perigosa. Libera grandes quantidades de sedimentos e pode impactar
as águas superciais por muitos quilômetros do local da mina.
3.5 MINERAÇÃO SUBTERRÂNEA
Esse tipo de mineração remove quantidade menores de material para obter acesso ao depósito de minério.
O acesso ao depósito de minério é feito através de túnel ou poço. Galerias ou poços verticais levam a uma
rede horizontal de galerias que têm acesso direto ao minério.
Dependendo do método ou estratégia de lavra usado, o minério é removido e são criadas cavidades subter-
râneas (blocos) que podem permanecer ou não vazios dependendo das condições das rochas. A cavidade pode ser
preenchida com um agregado de cimento e rochas residuais.
A lavra subterrânea, embora seja um meio menos destrutivo de acessar o depósito de minério, geralmente é
mais cara e traz riscos de segurança maiores para os trabalhadores do que a mineração de superfície.
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Fundamentos de segurança em Mineração
3.6 BENEFICIAMENTO
Diferem consideravelmente nos métodos propostos para a extração e concentração do minério O tipo e o
método de beneciamento vai depender do minério e dos contaminantes e das especicações do mercado para o
produto que vai ser concentrado e comercializado.
A maioria dos projetos de mineração gera uma enorme quantidade de material estéril.
Exemplo: Extração de algumas centenas de milhões de toneladas de minério metálico, poderá gerar mais de
um bilhão de toneladas de material estéril.
Mesmo nos depósitos minerais considerados com alto teor de metais geram grandes quantidades de resídu-
os. Exemplos: o teor de cobre em um depósito de boa qualidade pode conter apenas 0,25% do metal; o teor de
ouro em um depósito de boa qualidade pode conter apenas alguns centésimos de uma porcentagem.
Os volumes de resíduos às vezes têm níveis signicativos de substâncias tóxicas e são geralmente deposi-
tados próximo a cava da mina. Podem ser empilhados na superfície ou usados como material de enchimento na
mina subterrânea.
EIA de um projeto de mineração deve avaliar cuidadosamente as opções de gerenciamento e os impactos
associados ao descarte de material estéril.
3.7 REPROCESSAMENTO EM MINAS E REJEI-
TOS ANTIGOS
Ocorre com a extração mineral de depósitos de resíduos (geralmente rejeitos) de minas antigas paralisa-
das. O minério foi processado em outros tempos com técnicas defasadas, ou ainda por situações de mercado.
Representam a obtenção de minério valioso através do uso de métodos mais modernos e ecientes de benecia-
mento.
Pode ser vantajoso pois representa uma mineração com apenas o custo de reprocessamento de depósitos de
resíduos de mineração abandonados.
3.8 RESÍDUOS DOS PROCESSOS DE BENEFICIA-
MENTO
Incluem resíduos de rochas → resíduos de lixiviados (no caso de operações de ouro, prata, cobre etc.).
Os processos de lixiviação1 com cianeto - geralmente usados para a recuperação de ouro, prata e cobre de-
vem ser tratados separadamente devido aos impactos que gera no meio ambiente e na segurança pública.
Após a lixiviação, o minério namente moído é depositado em uma pilha ou tanque de rejeitos.
3.9 PILHAS DE LIXIVIAÇÃO
São constituídas por minério namente moído depositado em uma grande pilha ou reservatório (chamado
pilha de lixiviação).
Deve ser depositado sobre uma membrana impermeável. Uma solução contendo cianeto é irrigada sobre o
1 Lixiviação é a extração ou solubilização dos constituintes químicos de uma rocha, mineral, solo, depósito sedimentar entre
outros, pela ação de um uido percolante.
55
Impactos ambientais dos projetos de Mineração
tanque ou a pilha de material. Solução de cianeto dissolve os metais valiosos.
A solução “drenada" com conteúdo de metal é coletada na base da célula por um sistema de tubulações.
3.10 BARRAGEM DE REJEITOS
Embora nem sempre seja a opção ambientalmente preferida, muitas empresas de mineração descartam re-
jeitos misturados com água (para formar uma espécie de lama ou pasta) e passam a descartá-la atrás de uma
barragem alta em um reservatório de rejeitos úmidos. Como o mineral é geralmente extraído na forma de lama, o
resíduo resultante contém grandes quantidades de água.
Algumas vezes podem ser formados por concentrações que podem ameaçar a vida selvagem, como rejeitos
de cianeto – Mineração ouro. Essas lagoas secam em climas áridos ou podem liberar água em climas úmidos.
São necessários métodos de gerenciamento especícos para o fechamento desses depósitos de resíduos (re-
duzir as ameaças ambientais que podem surgir com o fechamento da mina).
Podem conter metais tóxicos (como cádmio, chumbo e arsênico).
Se um projeto de mineração envolver a extração de alguns milhões de toneladas de minério metálico, o pro-
jeto de mineração gerará uma quantidade semelhante de rejeitos.
Os rejeitos podem conter substâncias tóxicas em grandes quantidades em níveis perigosos tais como:
Arsênico, chumbo, cádmio, cromo, níquel e cianeto (se o cianeto for usado no processo de lixiviação).
Em alguns projetos de mineração, o minério com ouro é triturado e, se necessário, é submetido ao calor e
oxidado em torrefadores ou autoclaves para remover enxofre e materiais contendo carbono que afetam a recupe-
ração do ouro.
O mercúrio presente evapora, especialmente em torrefadoras (uma das maiores fontes de emissão de mercú-
rio). Após a torrefação ou a autoclave - mineral é misturado com água e reage com uma solução de lixiviação com
cianeto. Nesse caso, o mercúrio e o ouro se dissolvem e os sólidos são ltrados. A solução puricada é enviada para
um processo de eletrólise, onde o ouro é recuperado.
No processo, o mercúrio pode ser recuperado e armazenado, entretanto, se não for retido pelo equipamento
de controle de emissões atmosféricas, o mercúrio pode ser liberado na atmosfera e afetar o meio ambiente e a
saúde pública.
A volatilização do mercúrio das instalações de lixiviação e rejeitos foi recentemente identicada como uma
fonte substancial de liberação de mercúrio na atmosfera.
Essa situação deve ser especialmente considerada na avaliação do EIA.
Em geral, o mercúrio presente no minério de ouro pode ser liberado: No arranjo nal dos ltros para o con-
trole de poluentes atmosféricos; nos rejeitos ou pilhas de lixiviação ou ainda no ouro (como uma impureza).
A viabilidade Ambiental do processo vai depender da forma de descarte do material tóxico gerado.
3.11 OPÇÕES PARA DESCARTE DE REJEITOS
Disposição de rejeitos subaquáticos.
No passado essa sistemática foi usada quando a mina estava próxima do meio marinho ou, em raras ocasiões,
lagos de água doce. Essas opções tiveram um resultado ambiental muito ruim nas poucas ocasiões em que foram
escolhidas.
A Corporação Financeira Internacional (IFC, 2012) explica: a disposição em corpos de águas superciais (rios,
lagos e lagoas) ou em águas marinhas rasas não é considerada uma boa prática da indústria em nível internacional.
Os metais são particularmente problemáticos, pois não são destruídos pelo meio ambiente. Se instalam no fundo
e persistem em leitos de rios, córregos, por longos períodos, constituindo uma fonte de contaminação a longo
prazo. Afetam os insetos aquáticos que ali vivem e os peixes que se alimentam deles.
56
Fundamentos de segurança em Mineração
3.12 PRÁTICA COMUM ANTES DAS NORMAS
AMBIENTAIS
Muitas empresas de mineração, por conveniência, simplesmente descarregavam rejeitos nos locais mais pró-
ximos, incluindo rios e córregos próximos.
Algumas das piores consequências ambientais foram associadas à descarga aberta de rejeitos. São práticas
quase universalmente abandonada hoje em atividades reguladas de mineração, mas que persiste em atividades
garimpeiras.
3.13 IMPACTOS NOS RECURSOS HÍDRICOS
Talvez seja o impacto mais signicativo de um projeto de mineração o efeito na qualidade dos recursos hí-
dricos na área do projeto.
As principais questões que devem ser consideradas:
Se as águas superciais e subterrâneas permanecerão aptas para o consumo humano.
Se a qualidade das águas superciais na área do projeto continuará sendo adequada para manter as espécies
aquáticas nativas e a vida selvagem terrestre.
3.14 O POTENCIAL DE DRENAGEM ÁCIDA É
UMA QUESTÃO FUNDAMENTAL?
A resposta a essa questão vai determinar se a concepção para um projeto de mineração é ambiental-
mente aceitável.
A drenagem ácida e a lixiviação de poluentes são a fonte mais importante de impactos na qualidade da água
relacionados à mineração.
A drenagem ácida tem o potencial de causar devastação, com impactos a longo prazo sobre rios, córregos e
vida aquática.
Materiais escavados e expostos ao oxigênio e à água pode formar ácido se o ferro e os materiais sulfurosos
forem abundantes (especialmente a pirita). Também se houver uma quantidade insuciente de material que neu-
tralize a formação de ácido.
Metais como ouro, prata e molibdênio são frequentemente encontrados na rocha na forma de metais sul-
furosos. Quando os sulfetos na rocha são escavados e expostos à água e ao ar durante o processo de mineração
– Formam o ácido sulfúrico.
A água ácida pode dissolver também outros metais perigosos nas rochas próximas.
Se não for controlada, a drenagem ácida pode uir para rios, córregos ou inltrar-se nas águas subterrâneas.
A drenagem ácida pode ser liberada potencialmente de qualquer parte da mina onde os sulfetos são expos-
tos ao ar e à água, incluindo pilhas de material estéril, lixões ou resíduos de rochas, rejeitos, poço aberto, túneis
subterrâneos e pilhas de lixiviação.
Muitos rios afetados pela drenagem ácida de minas têm um valor de pH igual ou inferior a 4 - semelhante
a uma bateria ácida. É improvável que plantas, animais e peixes possam sobreviver em rios com essas condições.
57
Impactos ambientais dos projetos de Mineração
A drenagem ácida dissolve metais tóxicos, como cobre, alumínio, cádmio, arsênico, chumbo e mercúrio, en-
contrados nas rochas circundantes. Podem formar uma camada de lama laranja-avermelhada que cobre o leito de
rios ou córrego que mesmo em pequenas quantidades, podem ser tóxicos para humanos e animais.
Arrastados pela água, os metais podem percorrer longas distâncias, contaminando os córregos e as águas
subterrâneas.
Os efeitos na vida aquática podem variar desde a morte imediata dos peixes até efeitos menos letais, que
afetam o crescimento, comportamento ou capacidade reprodutiva.
3.15 IMPACTOS DOS PROJETOS DE MINERAÇÃO
NA QUALIDADE DO SOLO
Áreas envolvidas em projetos de mineração podem contaminar grandes extensões de solo. As atividades
agrícolas próximas aos projetos de mineração podem ser especialmente afetadas.
De acordo com um estudo encomendado pela União Europeia: “As operações diárias de mineração podem
modicar a paisagem circundante, removendo materiais anteriormente não perturbados.
A erosão causada pela exposição do solo, extração mineral, rejeitos e materiais nos encontrados nas pilhas
de resíduos pode resultar em aumento da carga de sedimentos nas águas superciais e na drenagem. Além disso,
disseminações de materiais tóxicos e a sedimentação de poeiras contaminadas podem causar contaminação do
solo.
Os Riscos ao meio ambiente e à saúde humana relacionados aos solos podem ser organizados em duas ca-
tegorias:
• Solos contaminados por partículas contaminantes transportadas pelo vento.
• Solos contaminados por deposição de compostos químicos e resíduos.
Partículas de poeira fugitivas causam sérios problemas ambientais em algumas minas.
A toxicidade inerente ao pó depende da proximidade dos receptores no ambiente e do tipo de mineral ex-
traído.
As partículas de poeira transportadas pelo vento que geram mais riscos são aquelas com teor de arsênico,
chumbo e radionuclídeos.
Os solos contaminados por derramamentos de compostos químicos e resíduos nas minas “podem ser fontes
de risco” quando utilizados como enchimentos, em jardins ornamentais nas instalações da mina ou como suple-
mentos ao solo.”
3.16 EROSÃO É UM GRANDE PROBLEMA
Devido à grande extensão de terra movimentada pelas operações de mineração geram grande quantidade
de materiais escavados expostos nos locais de operação.
O controle da erosão deve ser considerado desde o início das operações, cumprindo as medidas de reabili-
tação.
A erosão pode causar grandes quantidades de sedimentos (carregados com contaminantes químicos) em
corpos d'água próximos, especialmente durante tempestades severas e períodos em que a neve derrete.
3.17 EROSÃO DO SOLO E RESÍDUOS DE MINE-
58
Fundamentos de segurança em Mineração
RAÇÃO EM ÁGUAS SUPERFICIAIS
O escoamento supercial com sedimentos geralmente causa uma corrente laminar e é coletado em canais,
valas ou sarjetas ou outros meios que os conduzam. Estes sedimentos podem estar presentes em águas super-
ciais ou depositados em zonas de inundação ou vales. Os processos de erosão e sedimentação causam o acúmulo
de camadas espessas de partículas e sedimentos minerais nos que provocam nas regiões inundadas: Alteração do
habitat aquático; perda da capacidade de armazenamento em águas superciais (soterramento).
Os principais fatores que inuenciam a erosão são:
• Volume e a velocidade do escoamento da mina.
• Capacidade de inltração da chuva no solo.
• Quantidade de cobertura vegetal.
• Depende da extensão da encosta.
• Das estruturas operacionais para o controle da erosão.
As principais fontes de erosão/sedimentos nos locais de mineração São:
• Áreas de cavas abertas
• Pilhas de lixiviação e de depósitos de resíduos
• Detritos ou rochas de resíduos
• Depósitos de material estéril
• Depósitos e barragens de rejeitos
• Estradas de acesso e transporte de materiais
• Depósitos minerais
• Áreas de manutenção de equipamentos e veículos
• Áreas de exploração
• Áreas de reabilitação.
Como consideração importante devemos ainda considerar à severidade das mudanças climáticas globais,
qualquer estudo de EIA de um projeto com potencial de alterar o orçamento de carbono deve incluir uma avaliação
dos impactos do projeto nesse aspecto especíco.
Referências:
GUÍA metodológica para evaluación de la estabilidad física de instalaciones mineras remanentes. Santiago,
Chile: Pontifícia Universidad Católica de Valparaiso – PUCV, 2018.
NELSON, M. G. Site Environmental Considerations. In: SME Society of Mining Engineering. Englewood:
Society of Mining Engineering, 2011.
HODG, A. Mining and Sustainability. In: SME Society of Mining Engineering. Englewood: Society of Mining
Engineering, 2011.
BOTVIN, J. A. Sustainable Management of Mining Operations. Littleton, CO: SME 2009.
IFC Performance Standards on Environmental and Social Sustainability. Washington, DC: International
Finance Corporation, 2012.
CAPÍTULO 4
4.1 DEFINIÇÕES IMPORTANTES (ACIDENTE/
EVENTO INDESEJÁVEL; RISCO, PERIGO,
FONTE DE RISCO)
Toda organização, grande, médio ou de pequeno porte, sofre a inuência de fatores internos e externos que
criam incertezas, que são responsáveis por determinar a capacidade de atingir seus objetivos.
A gestão do risco pode ser conceituada como a ciência que gera estratégias para prever, aliviar e/ou neutra-
lizar os impactos negativos de eventos que não estão sob controle de gestores e acionistas.
A Norma britânica, aceita internacionalmente,“OCCUPATIONAL HEALTH AND SAFETY ADMINISTRATION
STANDARD 18001 (OHSAS 18001:2007)” se ocupa do assunto e fornece uma estrutura para o gerenciamento e-
caz, incluindo aspectos de gerenciamento de risco, e de conformidade legal.
Para que se possa adotar um sistema efetivo de gestão de riscos é importante entender e diferenciar os con-
ceitos denidos na norma inglesa: de acidente, incidente, perigo e risco.
Acidente: É um evento não desejado, inesperado que causa danos pessoais, materiais e nanceiros e que
acontece de modo não intencional (MASTROENI, 2005).
Incidente: Evento (s) relacionado (s) ao trabalho em que uma lesão ou doença (independentemente da gra-
vidade) ou fatalidade ocorreu, ou poderia ter ocorrido.
Um acidente é um incidente que deu origem a lesões, problemas de saúde ou morte.
Um incidente onde nenhum ferimento, doença ou morte ocorre também pode ser referido como um "quase
acidente" ou “ocorrência perigosa”.
As expressões Perigo e Risco são freqüentemente usados como se fossem sinônimos, porém não signicam
a mesma coisa.
Perigo: Fonte ou situação com potencial para provocar danos de lesão, doença, dano à propriedade, dano ao
meio ambiente do local de trabalho, ou uma combinação destes. Conforme a norma inglesa OHSAS 18001:2007, é
uma questão de fundo inerente a uma situação, atividade local, circunstância e não pode ser controlado.
Risco: Representa a chance de alguma coisa dar errado ou causar impacto nos objetivos. Denido ou calcu-
lado em termos de consequências e probabilidades.
Se houvesse um derramamento de água em uma sala, a água representaria um perigo de uma pessoa escor-
regar, caso passasse pelo local. Se o acesso a essa área fosse impedido por uma barreira física, o perigo permane-
ceria, embora o risco fosse minimizado.
Nessa situação o risco indica uma probabilidade de danos, ou seja o potencial de ocorrência de consequên-
TEORIAS E CONCEITOS BÁSICOS:
GESTÃO DE RISCOS
60
Fundamentos de segurança em Mineração
cias indesejáveis.
Ainda para facilitar a compreensão da diferença entre “Perigo e Risco” citamos os seguintes exemplos:
• Renaria de petróleo tem um perigo de fundo pois opera substâncias explosivas e inamáveis.
• Um apartamento em andar elevado, existe o perigo inerente da altura.
• Um depósito de líquidos combustíveis representa uma condição de fundo de perigo por conter líqui-
dos inamáveis ou explosivos.
Nos exemplos citados, podemos dizer que: para a ocorrência de um evento inesperado ou acidente, vai de-
pender das medidas de proteção adotada em cada local ou situação.
Explicando melhor, usando o exemplo da renaria de petróleo ou do depósito de combustíveis: O perigo de
incêndio ou explosão na renaria vai continuar sempre existindo, mas o risco do dano à pessoas ou material pode
ser controlado (potencializado, prevenido ou mitigado) em função de medidas de segurança adotadas no local.
Da mesma forma, o perigo de queda por estar em um prédio alto sempre vai existir mas o dano nas pesso-
as pode ser evitado com barreiras de proteção, paredes e etc. O risco de queda pode ser controlado na devida
proporção dos controles adotados. Uma criança pequena, no vigésimo andar, de um condomínio pode brincar na
sacada, por exemplo. As paredes, janelas, grades ou redes de proteção permitem ela estar em segurança mesmo
em altura elevada.
Resumindo:
• Perigo é a condição de fundo ou a essência da situação (nunca deixa de existir)
• Risco expressa o grau de exposição a esta fonte de perigo.
• O risco pode ser controlado.
Risco é o efeito de um acontecimento ou de uma série de acontecimentos. Ele é avaliado a partir da proba-
bilidade deste efeito ocorrer e do impacto que ele poderia causar.
Para facilitar a compreensão do conceitos apresentamos um exemplo na gura 4.1. O perigo se congura na
situação de fundo inerente a um depósito de material combustível ou inamável. Existe o risco do evento inespe-
rado ou acidente causado por explosão ou incêndio. A probabilidade de acontecer o acidente vai depender das
proteções existentes no locl, tipo: Organização, isolamento, distanciamento de outras instalações, treinamento e
protocolos de uso do local entre outros.
FIGURA 4.1 Depósito de materiais combustíveis
Fonte: Adaptado pelo autor
A gura 4.2 procura esclarecer de forma didática: O animal, no caso o leão representa o perigo. A arma e a
jaula representam os elementos de controle (defesas/barreiras) para o ataque do leão (acidente) não acontecer. Na
situação da gura 4.1 verica-se também que as defesas ou barreiras podem ter ecácias diferentes e congurar
alto ou baixo risco conforme a situação.
61
Teorias e Conceitos básicos: Gestão de Riscos
FIGURA 4.2 Representação de Perigo e níveis de exposição (alto e baixo Risco).
Fonte: Adaptado pelo autor com imagens livres de CoolClips.com
4.2 EXPRESSÃO DO RISCO
Para vericar o potencial de risco existente num local, operação ou situação devem ser analisados cenários ou
eventos possíveis: Uma maneira direta é fazer e tentar responder as questões abaixo:
O que poderia acontecer?
Quão ruim será se ele acontecer?
Dessa forma o risco deve ser descrito fazendo-se referência aos eventos potenciais ou às possíveis consequ-
ências, ou uma combinação destes e deve ser classicado quanto à sua importância a partir da combinação da se-
veridade das possíveis consequências e da probabilidade ou chance de que essas consequências venham ocorrer.
Verica-se assim que o risco pode ser expresso com duas dimensões:
• Ponto de vista quantitativo - Designa a probabilidade de ocorrência.
• Ponto de vista qualitativo - Indica o grau do perigo criado pela disfunção (magnitude das consequ-
ências).
A gura 5.3 mostrando as possíveis situações de uma pessoa atravessando um obstáculo (valo) ajuda a en-
tender as dimensões de probabilidade e consequência, que devem ser consideradas na decisão sobre prosseguir
ou parar uma ação, ou ainda prosseguir adotando medidas de controle.
• Quadro 1 - (Valo muito largo mas raso); A probabilidade de queda é alta mas a consequência baixa.
• Quadro 2 – (Valo muito largo, profundo e com fogo) aprobabilidade também é alta mas a consequ-
ência de queda é muito grave.
• Quadros 3 e 4, a probabilidde de queda é pequena pela pequena largura do obstáculo (Valo) entre-
tanto, no quadro 4 a consequência da queda representa um dano maior.
FIGURA 4.3 Risco Probabilidade X consequência – Travessia de um obstáculo (valo).
/
Fonte: Machado, 2014
62
Fundamentos de segurança em Mineração
Claramente nas quatro situações apresentadas na gura 4.3, as probabilidades e consequências da queda são
diferentes e portantato a decisão de prosseguir também deve ser diferenciada.
Risco no contexto da mineração: Pode ser denido como uma medida da probabilidade e das consequên-
cias de um perigo associado a uma atividade ou condição de mineração.
Na gura 4.4, o desmoronamento pode ser compreendido como o perigo ou condição de fundo de qualquer
trabalho de escavação subterrâea. O risco, entretanto pode ser mitigado, em intensidade variável, usando medidas
de controle, no caso tirantes.
FIGURA 4.4 Contexto da mineração subterrânea controle do risco de desmoronamento com tirantes
Fonte: Machado, 2014
Outro conceito importante para a gestão de risco é a identicação da fonte de risco.
Fonte de risco – Local, objeto ou situação que, de forma isolada ou combinada, tem o potencial intrínseco
de dar origem a riscos (BRASIL, 2018).
Uma fonte de risco pode ser:
• Uma instalação
• Equipamento
• Material
• Operação
• Aspectos do ambiente e da organização do trabalho
• Ameaças naturais
Chamamos a atenção que a fonte de risco pode ser confundida com uma consequência ou elemento poten-
ciador do evento inesperado, e nesse caso a medida de controle pode não ser corretamente aplicada e não ofere-
cer o controle adequado.
4.3 CONDIÇÕES DE SEGURANÇA DE UM PRO-
CESSO
A segurança inerente contrasta com outros processos em que um perigo é controlado por sistemas de pro-
teção. Como a segurança perfeita não pode ser alcançado, a prática comum é falar sobre projeto inerentemente
mais seguros. Por exemplo, design inerentemente mais seguro - Sistema que evita perigos em vez dos controlar,
reduzindo a quantidade de material perigoso e o número de processos perigosos.
Segurança pode ser denida como "o estado de relativamente livre de danos, perigo, ferimentos ou danos".
Segurança inerente - Um processo/Sistema tem segurança inerente se ele tem um baixo nível de perigo
mesmo se as coisas dão errado.
63
Teorias e Conceitos básicos: Gestão de Riscos
FIGURA 4.5 Segurança de Processos
Fonte: Adaptado de Machado, 2014
A vericação do estado de risco de um processo deve ser avaliado depois dos controles implantados consi-
derando a probabilidade e o impacto do risco residual que permaneceu.
Nesse caso, deve ser avaliado se o risco residual pode ser aceito ou não em determinado contexto. Deve
comparar “o nível de risco residual encontrado no processo de análise” com o nível de riscos que a organização
está disposta a aceitar como tolerável.
Existem processos e situações com diferentes complexidades e diferentes graus de segurança, que requerem
atenção proporcional e intervenção diversas por parte dos responsáveis, para tanto os conceitos descritos a seguir
são necessários para a compreensão:
Como critério para a avaliar os riscos de um determinado projeto os conceitos seguintes devem ser enten-
didos:
• Risco inerente - Risco sem que os controles estejam aplicados.
• Risco corrente ou atual (ou risco residual) é o risco remanescente depois dos controles aplicados.
• Dano Máximo Provável é a perda (plausível) provocada pelo impacto, no pior cenário, por um dado
evento sem que os controles estejam aplicados. Representa o pior cenário que pode ocorrer em um
evento sem que os controles estejam aplicados, ou ainda por falha nos controles que deveriam mitigar o
evento.
O ranqueamento dos riscos considerando o Dano Máximo Provável: Fornece uma maneira de priorizar even-
tos para avaliação de risco mais detalhada (identica os eventos que são potencialmente importantes).
Em qualquer evento é recomendável, sempre analisar as hipóteses do risco residual e do “Dano Máximo
Provável”, para aferir se os controles aplicados são sucientes e adequados .
Para chegar a classicação de risco residual deve levar em consideração – os controles existentes e então ve-
ricar se é aceitável ou necessita de maiores controles.
Cabe destacar a importância da compreensão das situações de RISCO INERENTE & DANO MÁXIMO PROVÁVEL
pois muitos Sistemas de gerenciamento de riscos falham não pela falha na avalição dos riscos, mas por que os con-
troles falharam em operar conforme previsto - Então, o risco residual move até o risco inerente. Nessa situação, o
risco residual se iguala ao risco inerente.
Um modelo dessa situação está apresentado na gura 4.6
64
Fundamentos de segurança em Mineração
FIGURA 4.6 Visualização de movimentação impacto de evento entre “Risco residual” e “Dano máximo provável” em função de falta ou
falha nos controles.
Fonte: Autor
4.4 MODELAGEM CARTESIANA DE AVALIAÇÃO
DO RISCO
Conforme já foi apresentado em tópicos anteriores, o risco tem duas dimensões:
Frequência - Designa a probabilidade de o evento ocorrer dentro de um período de tempo.
Impacto – Indica o grau do perigo criado pela disfunção no caso de se materializar (magnitude das conse-
quências).
Portanto o processo de gerenciamento do risco envolve o conhecimento da periodicidade e do impacto que
apresenta o risco identicado.
Risco = f (probabilidade, perigo)
• Potencial do dano
• Possibilidade matemática do evento inesperado ou acidente ocorrer (probabilidade do perigo se con-
gurar).
Para facilitar a compreensão pode-se representar o risco num sistema de coordenadas. Cada risco pode ser
avaliado pela posição que ocupa no modelo (ponto ou região) conforme a gura 4.7.
É uma forma de traduzir em um número, a combinação da probabilidade de ocorrência de cada risco com a
consequências, caso se materialize.
FIGURA 4.7 Sistema cartesiano – representação do risco (Probabilidade x Impacto)
Fonte: Autor
Como não é possível eliminar todos os riscos ou tratar todos no mesmo tempo deve haver uma classicação
e priorização com base nas magnitudes percebidas nas variáveis frequência e impacto.
As medidas a serem tomadas vão depender de cada situação e da postura da organização frente aos seus
65
Teorias e Conceitos básicos: Gestão de Riscos
riscos.
No exemplo da gura 4.7 os riscos são classicados em:
• Riscos inaceitáveis
• Riscos toleráveis
• Riscos aceitáveis.
Para cada grupo de riscos devem ser adotads as medidas gerenciais equivalentes conforme o exemplo se-
guinte:
• Riscos inaceitáveis – Implantar medidas corretivas imediatamente.
• Riscos toleráveis - Reavaliar de imediato a rotina e controles existentes. Implantar de imediato
melhorias de processo; implementar um plano de emergência; pode ser realizada uma análise de riscos
quantitativa. - Estudar a viabilidade de implementar melhorias.
• Riscos aceitáveis - Manter o processo e os controles existentes.
• BLACK SWAN (Cisne Negro) - Riscos com o potencial para impactos 'extremo‘ ou 'excepcional'. Esse
tipo de risco extremo, depois de identicado deve ser sempre destacado e trabalhado de forma especial
na orgnização
O processo de gerenciamento de riscos de forma padronizada pode ser estabelecido conforme as etapas
descritas a seguir:
1. Denição do Sistema.
2. Identicação dos riscos existentes.
3. Avaliação, conforme critérios de probabilidade e impacto (Podem ser usadas diferentes metodologias).
4. Classicação dos riscos. (Conforme a posição no sistema cartesiano determinado).
5. Vericar a aceitabilidade.
6. Se não for aceitável com os controles existentes revisar o Sistema/processo.
7. Opera ou executa o sistema denido.
Depois, ao longo do tempo ou em etapas pré-denidas, monitora e controla o processo através de inspeções
e auditorias, entre outros.
A gura 4.8 mostra o uxo recomendado para gestão de riscos de um sistema genérico.
FIGURA 4.8 Fluxo para Gestão de Riscos de um sistema genérico
Fonte: Adaptado de SME, 2011.
66
Fundamentos de segurança em Mineração
4.5 NOÇÃO DE CADEIA DE ACONTECIMENTOS
(ATOS INSEGUROS E CONDIÇÕES INSEGU-
RAS)
Muitas pesquisas continuam sendo feitas para estudar as causas dos acidentes.
“Embora as pessoas acreditem em fatalidades “atos de Deus”, geralmente há causas controláveis para aci-
dentes.
“Todo acidente tem uma causa e nenhum acidente acontece por acaso” (HEINRICH, 1931).
Os modelos sequenciais consideram os acidentes como o resultado de uma sequência de eventos discretos
ordenada no tempo. A "causa raiz", inicia uma sequência de eventos consecutivos que levam a um acidente com
relação linear e determinista. Logo, se a causa raiz, for identicada e removida impede o acidente (UNDERWOOD;
WATERSON, 2013).
Nessa concepção o acidente pode se comparado à peças de dominós justapostos. As peças de dominó po-
dem ser comparadas individualmente a Atos Inseguros ou Condições Inseguras que precedem a ocorrência do
acidente.
FIGURA 4.9 Teoria da Sequência dos acontecimentos (Teoria dos dominós)
Fonte: Heinrich, 1950
Atos inseguros: - Ações do trabalhador, alheio as normas de segurança, que colocam em risco a saúde e in-
tegridade física sua e ou de terceiros. Congura uma ação, consciente ou não, capaz de provocar dano a si próprio
e ou a terceiros, a máquinas, materiais ou equipamentos.
Condição insegura - Consiste em irregularidades ou deciências existentes no ambiente de trabalho que
constituem riscos para a integridade física do trabalhador e para a sua saúde, bem como para os bens materiais da
empresa. Essa condição levam a condição de: Processo inseguro - São deciências, defeitos, irregularidades técni-
cas nas instalações físicas, máquinas ou equipamentos que podem ocasionar acidentes de trabalho.
Na visão mais tradicional o “Ato Inseguro” está sempre relacionado à falha humana e, segundo as pesquisas,
são apontados como responsáveis pela grande maioria dos acidentes.
Nessa concepção, os erros representam as atividades mentais ou físicas dos indivíduos que falham em alcan-
çar o objetivo pretendido. Esta categoria representa a causa da maior parte dos acidentes, uma vez que pela sua
natureza os seres humanos cometem erros.
67
Teorias e Conceitos básicos: Gestão de Riscos
Os atos inseguros, muitas vezes podem ser causadas pela tendência natural do ser humano de adotar alter-
nativas que exijam menor esforço e as violações, referem-se à desobediência de regras, regulamentos, normas que
existam na organização visando a segurança ou mesmo procedimento operacional padrão da atividade.
Esse conceito foi corroborado em um estudo do Departamento de Trabalho e Indústria da Pensilvânia em
1960, no qual foram analisados 80.000 acidentes. Atos inseguros e condições inseguras e, na maioria das vezes,
ambos contribuíram com mais de 98% de todos os acidentes (BRAUER,1990).
Alguns estudiosos no assunto, discordam da importância relativa de atos inseguros sobre condições inse-
guras pois entendem que esta noção deriva da interpretação equivocada do aspecto não linear do conjunto de
causas e efeito (OSHA, 2020). Consideram que são concepções muito focadas em fatores pessoais ou psicológi-
cos e que responsabilizam os trabalhadores pelos acidentes do trabalho e não considera que os atos inseguros
podem ser incentivado ou potencializado em empresas com cultura antiquada, que raramente pune violações ou
reconhece desempenhos seguros.
4.6 MODELOS SISTÊMICOS
O modelo sistêmico facilita a análise e entendimento dos diversos fatores que compõe o quadro de um aci-
dente. São diversos componentes compostos por fatores comportamentais, estruturais e culturais que podem es-
tar presentes, não necessariamente em tempo sequencial e que podem contribuir em diferentes intensidades para
o desenlace do acidente.
A investigação é fundamental para entender as causas do evento as causas raízes devem ser buscadas e ana-
lisadas em profundidade para implementar medidas ecientes de prevenção.
A avaliação de um acidente deve incluir questões relativas aos fatores humanos. Deve vericar o preparo do
trabalhador para a tarefa, se foram desenvolvidas estratégias de preparo para o trabalhador. Não se trata apenas
de classicar um trabalhador como apto ou inapto. É necessário vericar as questões que afetam o desempenho
do trabalhador, nas dimensões técnica, física e psicológica.
A evolução deste enfoque em relação a concepção tradicional proporciona uma visão de que os acidentes
são multicausais e não simplesmente uma sucessão linear de irregularidades indesejáveis.
Muitas organizações abrigam as condições latentes, que podem estar presentes por muitos anos antes de se
combinarem com as circunstâncias locais e falhas ativas para o desfecho do acidente.
As falhas latentes são aquelas relacionadas à gestão e cultura da organização, assim como falhas de tecnolo-
gia, pressões internas e psicológicas, entre outras, que são difíceis de serem observadas e que por si só não geram
os acidentes. Entretanto quando se misturam com os atos inseguros dos trabalhadores, tem potencial de romper
as defesas do sistema, e causar o acidente.
Os exemplos incluem projeto inadequado, falhas na supervisão, defeitos de fabricação, falhas de manutenção,
treinamento inadequado e procedimentos impraticáveis.
FIGURA 4.10 Sobreposição de Condição insegura (latente na organização) com o ato inseguro que resulta no acidente.
Fonte: Autor
68
Fundamentos de segurança em Mineração
4.7 PIRÂMIDE DE BIRD
Os estudos de Herbert William Heinrich publicados em 1931 armavam que para cada acidente que provoca
um ferimento grave, há 29 acidentes que causam ferimentos ligeiros e 300 acidentes que não causam lesões.
Com base nessa premissa, Frank Bird Jr. criou a Pirâmide de Bird que aprimorou a relação proposta por
Heinrich (incidente, ferimento leve e acidente de maior gravidade): 300: 29: 1, analisando mais de 90 mil acidentes
na siderúrgica Luckens Steel, entre 1959 e 1966.
A proporção descoberta por Bird depois foi atualizada depois com mais dados para 600:30:10:1(BIRD; LOFTUS,
1976). Para cada 600 incidentes ocorrem 30 acidentes com lesão leve e um com lesão incapacitante.
Bird observou também que além dos acidentes com lesões pessoais, ocorriam também incidentes sem lesão,
mas que causavam perdas e danos à propriedade ou à empresa.
O estudo de Bird foi denominado “Controle de Perdas” e armava que esses ferimentos leves eram precedi-
dos por numerosas práticas e condições inseguras que, não haviam resultado em acidente.
A idéia indicava que os acidentes podiam ser evitados com a prevenção de práticas e condições inseguras,
que ocorriam antes do acidente ou evento de maior gravidade.
A simples coleta e análise de “incidentes” fornece informações valiosas para as estratégias de controle. São
descobertas muitas situações potenciais incentivando os colaboradores em todos os níveis da organização a rela-
tarem situações de potencial risco que poderiam passar desapercebidos. As informações do exame de acidentes
sem perdas, levam a "insights" sobre medidas de prevenção ecazes.
A lógica permite que as organizações podem iniciar ou implementar uma política efetiva de prevenção de
acidentes detectando e estudando acidentes e ocorrências sem perdas no ambiente de trabalho com as seguintes
premissas:
• Reconhecer que qualquer ocorrência não intencional é um acidente (com lesão ou não).
• Incidentes ocorrem com maior freqüência.
• Fornecem uma base maior para as análises e determinação dos fatores causais de acidente e fornece
informações valiosas para as estratégias de controle.
• Entre as pequenas lesões estão inúmeras práticas inseguras e condições inseguras.
• Esforço de ação deve ser dirigido para a base da pirâmide e não apenas para os eventos resultantes
em lesão grave ou incapacitante.
• Ação da organização voltada para antecipação e evitar o acidente
FIGURA 4.11 Pirâmide de Frank / Bird - Técnica para perceber a existência ou a presença do risco
Fonte: Adaptado de SME, 2011
69
Teorias e Conceitos básicos: Gestão de Riscos
4.8 APLICAÇAO DAS TEORIA DE BIRD NA MI-
NERAÇÃO
A atividade de mineração envolvem muitos riscos e abriga lamentável história da acidentes e desastres em
minas.
A busca por novas técnicas para o controle de riscos de mineração deve andar de mãos dadas com transfe-
rência de práticas de sucesso de outras indústrias.
A investigação de um acidente deve envolver aplicação de técnicas de análise pró-ativas para entender o que
ocorreu para a identicação de novos e potenciais riscos existentes no ambiente mineiro.
A identicação dos riscos, deve ser feita de forma estruturada e sistemática, com o envolvimento de pessoas
com a competência necessária.
Normalmente o trabalho inicia com a confecção da lista dos riscos potenciais no ambiente (inventário dos
riscos). Normalmente tem como base a experiência geral, bancos de dados, inspeções e suposições. Técnicas es-
peciais são frequentemente utilizadas, entretanto uma característica comum em todos os métodos é sua base em
um tipo de brainstorming estruturado.
A fase de identicação dos riscos é a etapa mais crucial do processo, pois é difícil evitar ou se proteger contra
ameaças que não foram identicados.
A identicação é tarefa crítica da avaliação.
A percepção de um risco é essencial pois se não for percebido, nenhuma ação é adotada para não ocor-
rer o acidente
FIGURA 4.12 Risco nunca solucionado é o risco não visto (percebido).
Fonte: Imagem disponível em: https://www.twentytwotwentyeight.com/single-post/2018/06/07/yay-cartoons. Acesso em: 18 fev.
2021. Tradução nossa.
Para os prossionais que estão envolvidos na gestão de riscos, o tratamento entre a ocorrência sem perdas
materiais e humanas e uma tragédia deve ser a mesma.
O primeiro requisito para controle dos riscos deve ser: reconhecer qualquer ocorrência com potencial de
perdas como acidente, independentemente de tal acontecimento resultar em ferimentos e perdas materiais ou
não.
Os “incidente” ocorrem com mais frequência e podem fornecer informações valiosas para desenvolver as
estratégias de controle.
Como muitos acidentes têm causas comuns, abordando os incidentes que não causam lesões pode prevenir
acidentes causadores de acidentes.
Exemplos: um desmoronamento na área de mineração que não resultou em ferimentos ou danos materiais
pode ser tão signicativa quanto aquela resultou em ferimentos e perdas. Princípios de incêndio em uma mina de
carvão são mais frequentes que explosões e fornecem uma base muito mais ampla para as análises e determinação
dos fatores causais.
70
Fundamentos de segurança em Mineração
Referências:
BIRD, Frank E.; LOFTUS, Robert G. Loss control management. [S.l.]:[s.n.], 1976
BRASIL. Tribunal de Contas da União. Referencial básico de gestão de riscos. Brasília: TCU, 2018. Disponível
em: https://portal.tcu.gov.br/data/les/21/96/61/6E/05A1F6107AD96FE6F18818A8/Referencial_basico_
gestao_riscos.pdf . Acesso em 15 dez. 2022
BRAUER, R.L. Safety and Health for Engineers. New York: Van Nostrand Reinhold, 1990
FLETCHER, J. A. The Industrial Environment: Total Loss Control. Willowdale, Ontario, Canada: National Prole
Limited, 1972
GREENE, M. R.; TRIESCHMANN, J. S. Risk and Insurance. Racine, WI: Western Publishing Company, 1981
HEINRICH, H. W. Industrial accident prevention : a scientic approach. New York: McGraw-Hill Book
Company, 1931.
MACHADO, Hermano. Curso de segurança em Mina subterrânea. Criciúma: PPGE3M/ANM, 2014.
MASTROENI, M.F. Biossegurança aplicada à laboratórios e serviços de saúde. 2. ed. São Paulo: Atheneu,
2005. OK
OCCUPATIONAL HEALTH AND SAFETY ADMINISTRATION STANDARD. OHSAS 18001:2007. Disponível em:
http://www.producao.ufrgs.br/arquivos/disciplinas/103_ohsas_18001_2007_ing.pdf. Acesso em: 15 dez.
2022
OCCUPATIONAL SAFETY AND HEALTH ADMINISTRATION (OSHA). All about OSHA. Washington, DC: U.S.
Department of Labor, 2020. Disponível em: https://www.osha.gov/sites/default/les/publications/all_about_
OSHA.pdf. Acesso em: 15 dez. 2022
REASON, J. Managing the risks of organisational accidents. Ashgate: Surrey, 1997.
REASON, J. The human contribution, unsafe acts, accidents and heroic recoveries. Ashgate: Surrey, 2008.
SHAPELL, S.; WIEGMANN, D. The Human Factors Analysis and Classication System (HFACS). Federal Aviation
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Washington, DC, 2000.
SLAVUTZKI, L. C. Metodologia para avaliação e classicação de causas de acidentes de trabalho. Dissertação
(Mestrado em Engenharia de Produção) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2010.
UNDERWOOD, P.; WATERSON, P. The human factors analysis and classication system. Loughborough:
Loughborough University, 2013.
71
Segurança de SistemasVisão de processo; Histórico; Normas ISO; Certicação; Ciclo PDCA
CAPÍTULO 5
Na sociedade atual as empresas e organizações estão enfrentando situações e exigências, sem precedentes
quando comparado a outros períodos da história. Essa situação as expõe a uma innidade de riscos, cuja gestão
se torna um elemento-chave para a continuidade de sua existência e crescimento.
A gestão de riscos pode ser denida como a Ciência que gera estratégias para prever, aliviar e/ou neutralizar
os impactos negativos de eventos que não estão sob controle de gestores e acionistas
Todas as atividades, objetos e processos têm certo grau de risco e a preocupação das organizações deve ser:
• Mudar as situações com potencial de geração eventos indesejáveis
• Incorporar sistemas capazes de eliminar as oportunidades de erro.
Uma concepção importante e moderna para esse objetivo é a implementação de processos ou de “Sistemas”
que podem reduzir a exposição das empresas aos riscos do seu ambiente de atuação.
Sistema – É um arranjo de componentes ordenados, interrelacionados e que podem interagir com outros
sistemas, para cumprir uma função num determinado ambiente. Pode também ser denido como um grupo de
componentes que atuam com uma meta comum a partir do recebimento demandas produzindo resultados em um
processo organizado de transformação (O’BRIEN, 2009).
FIGURA 5.1 Sistema : um conjunto de elementos interligados e interdependentes que interagem com objetivos comuns, formando
um todo
Fonte: Adaptado de Gré, 2014.
Sistemas de gerenciamento da segurança (SGS, do inglês safety management systems - SMS) é uma ter-
minologia usada para se referir a Sistemas abrangentes para gerenciar riscos de segurança de uma organização.
É uma metodologia, que analisa o sistema de forma abrangente e não em partes autônomas. Considera o
processo como um todo – Considera à interação de pessoas, máquinas e ambiente.
SEGURANÇA DE SISTEMAS
VISÃO DE PROCESSO; HISTÓRICO;
NORMAS ISO; CERTIFICAÇÃO; CICLO
72
Fundamentos de segurança em Mineração
FIGURA 5.2 Sistema interação entre pessoas, equipamentos e ambiente para uma nalidade (tarefa/objetivo)
Fonte: Autor
A visão de processo e Sistemas possibilita identicar as partes e as relações existentes num processo e por
decorrência os riscos e gargalos presentes. Facilita a análise de qualquer processo e a sua gestão. Fornece um mé-
todo de priorizar eventos que são potencialmente importantes e que necessitam de uma avaliação mais detalhada
sobre os seus riscos.
5.1 HISTÓRICO DA APLICAÇÃO DE CONFIABILI-
DADE EM SISTEMAS
Os conceitos de conabilidade em “Sistemas” adquiriram signicado tecnológico após o término da primei-
ra guerra mundial (estudos para comparar a segurança entre aviões de dois ou quatro motores). No contexto da
época a conabilidade era medida como: acidentes por hora de voo.
Durante a II Guerra Mundial – Um grupo de engenheiros da equipe de von Braun, na Alemanha trabalhando
no desenvolvimento dos mísseis V-1 e V-2 usava a metodologia (BORGES, 2013).
Robert Lusser (19/04/1899 a 19/01/1969) - Engenheiro Alemão (designer e aviador) é lembrado por proje-
tos de aviões durante a segunda guerra, os famosos Messerschmitt e Heinkel. Lusser continuou depois do nal da
guerra os estudos teóricos da conabilidade de sistemas complexos quando propôs a lei da probabilidade de falha
de um produto com componentes em série (MAGALHÃES, 2013).
Conceitos de probabilidade proposto por Lusser:
• A conabilidade de um sistema em série é igual ao produto das séries compostos por muitos compo-
nentes que tendem a apresentar baixa conabilidade.
• O efeito da melhoria de conabilidade dos componentes individualmente sobre o sistema tende a ser
pequeno.
Durante a guerra fria anos 50 e 60 o interesse por conabilidade de sistemas esteve centrado no desenvolvi-
mento de mísseis intercontinentais.
A partir da década de 70 os estudos de conabilidade estiveram centrados na análise dos riscos associados à
construção e operação de usinas nucleares.
Também, os princípios de conabilidade de Sistemas, tiveram grande aplicação no programa espacial dos
Estados Unidos/NASA.
Devido aos riscos envolvidos, os programas espaciais necessitam, até os dias de hoje, produtos de insupe-
rável qualidade e conabilidade.
Precisam:
• Identicar a falha característica de cada unidade e o impacto da falha da unidade no sistema total.
• Aumentar a conabilidade do sistema.
73
Segurança de SistemasVisão de processo; Histórico; Normas ISO; Certicação; Ciclo PDCA
• Fornecer alternativas para permitir funcionamento seguro em face de falhas de unidades individuais.
• Desenvolver procedimentos de emergência para contingências.
Para exemplicar, imagine-se a complexidade e probabilidade de algo dar errado no histórico momento épi-
co da humanidade, viagem à lua nos anos sessenta e setenta do século XX, conforme apresentado na gura 5.3.
Deve-se considerar que um simples celular nos dias de hoje (2022), tem muito mas tecnologia agregada com-
putacional, que a nave espacial da NASA construída nos anos 1960.
Descrição do processo:
• Um grupo de três astronautas lançados através de um foguete na Terra.
• Entrar em órbita da terra.
• Escapar da gravidade da terra e ser atraído e conduzido até a lua pela força da gravidade lunar.
• Entrar em órbita da lua.
• Parte da nave permanece orbitando a lua, com um astronauta a bordo.
• Uma segunda nave desce até o solo lunar e dois astronautas realizam missões na superfície e reco-
lhem amostras de rocha na superfície da lua.
• Depois o módulo luna decola no solo lunar.
• Entra em órbita da lua.
• Encontra e acopla a nave que havia permanecido em órbita.
• Escapam da gravidade da lua e retomam a viagem para a terra movidos pela gravidade.
• Entram na órbita da Terra.
• Realizam a reentrada na atmosfera da terra.
• Descem com paraquedas, em local pré estabelecido, no oceano Pacíco.
• Por m os astronautas e as amostras de rocha lunar foram recolhidas, com segurança, por um navio
da esquadra dos Estados Unidos (porta aviões).
Qualquer falha nessa série de eventos colocaria tudo a perder....!! A vida dos astronautas, com repercusões na
opinião pública e descrédito para as organizações e governos envolvidos.
FIGURA 5.3 Complexidade do programa espacial
Fonte: Composição do autor com imagens divulgadas na imprensa.
74
Fundamentos de segurança em Mineração
5.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE AS METODOLO-
GIAS DE SEGURANÇA DESENVOLVIDAS A
PARTIR DA TEORIA DE SISTEMAS E APLICA-
ÇÃO NA MINERAÇÃO
A aplicação das metodologias com base na teoria de Sistemas deve ser parte central da estratégica de Gestão
de uma empresa. As metodologias são aplicáveis para indústrias em geral e de forma particular aplicável também
à mineração.
FIGURA 5.4 Riscos empresariais de uma organização industrial
Fonte: Autor
A operação de mineração deve ser entendida como um Sistema que requer, acima de tudo, novas aborda-
gens que sejam capazes de resolver continuamente os problemas encontrados.
Os projetos de mineração envolvem muitos riscos e incertezas. As minas são ambientes dinâmicos e as em-
presas de mineração estão expostas a uma série de riscos durante todo o ciclo de vida de seus projetos.
Pesquisadores consideram o setor de mineração uma das indústrias mais incertas e perigosas do mundo.
Embora o setor utilize ferramentas de gestão de risco de maneira adequada, vários projetos de mineração em
grande escala falharam como resultado da negligência ou subestimação dos perigos.
A aplicação ds conceitos de segurança de Sistemas na mineração é importante e indispensável para apri-
morar a qualidade das decisões. O objetivo deve ser: Empresas de mineração mais previsível em resultados nan-
ceiros, segura para seus trabalhadores e menos impactante para o meio ambiente.
Uma empresa de mineração é um sistema com interações complexas entre humanos e vários processos téc-
nicos e meio ambiente.
O projeto de mineração tem longa duração e é constantemente ameaçado por uma série de riscos e incer-
tezas de diferentes natureza: Saúde e segurança ocupacional, meio ambiente, operações unitárias de mineração,
novas legislações, mercado, política, nanças e economia.
A gura 5.5 mostra o ambiente da mineração e os principais riscos associados. Chamamos a atenção, que
além das incertezas econômicas e de mercado comuns no ambiente industrial, estão presentes outras incertezas
peculiares da mineração que são os “riscos geológicos”.
As mudanças no ambiente regulatório dos países, na legislação ambiental e de segurança do trabalho, ten-
dem a impactar de forma crescente os projetos e os empreendimentos mineiros especialmente nas suas etapas de
licenciamento, operação e também no fechamento ou nalização das operações.
75
Segurança de SistemasVisão de processo; Histórico; Normas ISO; Certicação; Ciclo PDCA
FIGURA 5.5 Riscos e incertezas presentes nos projetos de mineração.
Fonte: Autor
5.3 SISTEMA DE NORMATIZAÇÃO ISO
Foco na gestão de riscos do Sistema. O que pode ser melhorado?
A Globalização mudou a forma como os negócios são feitos. As empresas tem cadeias de abastecimento cada
vez mais complexas. O mercado global tende a valorizar ou distinguir, cada vez mais, prudutos ou serviços produ-
zidos com padrões, mundialmente considerados, como éticos e sustentáveis.
A tendência é um aumento na expectativa do cliente e de outras partes envolvidas sobre o produto contra-
tado.
A sociedade tem hoje mais informações e voz mais forte do que nunca e está exigindo serviços ou produtos
realizados com segurança, regimes de trabalho aceitáveis e regulados num ótica de direitos humanos e ainda pro-
duzidos de forma ambientalmente sustentável.
A empresa irá atuar de maneira ecaz, quando identicar e gerenciar suas diversas atividades interligadas.
Mapa do processo.
Apresenta o processo produtivo em etapas distintas pode revelar oportunidades de melhorias ao longo do
tempo. Ao documentar um mapa de processos corporativos, uma organização obtém vários benefícios imediatos
como melhorar a comprensão ampla de como a organização opera em um ambiente normal de negócios e enten-
der as oportunidades e os desaos estratégicos.
A construção de um mapa de processos força os líderes a mergulhar nos limites operacionais frequentemente
confusos de uma organização. Pode ser uma tarefa árdua, mas informa como a empresa pode criar valor, e ge-
renciar os seus riscos .
Para potencializar o processo de qualidade da gestão e certicação, surgiu em 1987 a normatozação ISO.
As Normas ISO denominam um conjunto de códigos que compõem um sistema de gestão e que tem um pa-
pel de grande importância no mundo globalizado. As normas ISO manifestam um consenso mundial e, juntamente
a outras normas, formam o chamado Sistema de Gestão Integradas, que inuenciam no cotidiano as organizações.
76
Fundamentos de segurança em Mineração
O sistema internacional criado pela International Organization for Standardization, foi fundada em 1946 na
Suiça em Genebra, tem o propósito de desenvolver normas para utilização em qualquer país. A normas ISO, po-
dem ser adotadas por empresas, de diferentes áreas e qualquer porte. São as mais conhecidas e adotadas pelas
organizações de sucesso.
Outras normas e padrões de reconhecimento internacional se sucederam:
• ISO 45001: 2018. Sistemas de gestão de segurança e saúde ocupacional
• ISO 9001: 2015. É reconhecida como norma de Gestão que deni parâmetros e conceitos de como
produzir e como gerenciar a produção de uma organização.
• ISO 27001: 2013. São requisitos para sistemas de gerenciamento de segurança da informação (ISMS)
• ISO 31000: 2009. São princípios e diretrizes para gerenciamento de riscos (RM).
• OHSAS 1800: 2007. Norma inglesa direcionada para sistema de gestão de segurança e saúde ocu-
pacional (SSO). (Occupational Health and Safety Assessment Series). Da Organização Internacional do
Trabalho (OIT).
Todas as normas tem sido objeto de atualizações periódicas, nos próximos tópicos vamos descrever as prin-
cipais características das mais conhecidas.
5.3.1 OHSAS 18001
Occupational Health and Safety Assessment Series (OHSAS): Norma inglesa, para sistema de gestão de se-
gurança e saúde ocupacional que fornece orientações para implantar e avaliar a situação em relação aos proce-
dimentos de segurança e saúde ocupacional (SSO). A norma OHSAS propõe requisitos mínimos, para analisar os
perigos e riscos da organização.
5.3.2 Normas ISO
O Sistema ISO é um instrumento que propõe uma ampla análise da situação do processo produtivo para aju-
dar o gestor a descobrir e corrigir processos inecientes dentro da organização.
As ISO 9000 (descreve os conceitos fundamentais, princípios e vocabulário de gestão da qualidade) e a ISO
9001 foram atualizadas em 2015 e são basicamente complementares e igualmente importantes.
A ISO 9001, trata o risco como atividade rotineira da organização. Reconhece que as consequências do risco
são diferentes e as consequências de apresentar um produto, não conforme, não é a mesma. Para algumas situa-
ções podem ser menores; para outras, a consequência pode ser fatal, dependendo do contexto.
Os princípios da qualidade nas normas ISO 9000 e ISO 9001 são basicmente:
• Foco no cliente: Atender às necessidades e buscar superar as expectativas para atrair os clientes e
delizá-los.
• Ênfase na liderança: Envolvimento da equipe de liderança no Sistema de Gestão para criar condições
para que as pessoas possam alcançar os objetivos da organização.
• Engajamento das pessoas: Os colaboradores, em todos os níveis da organização, devem ser com-
petentes (em educação, treinamento ou experiência), e estar envolvidas e engajadas, para elevar a capa-
cidade da organização em criar e entregar produtos que atendem e superem as expectativas dos clientes.
• Abordagem de processo: Quando a empresa organiza os seus principais processos de negócio com
visão de conjunto se torna mais eciente facilita a entrega produtos e serviços com a qualidade esperada
pelos clientes.
• Melhoria: As organizações com foco contínuo na melhoria, podem se adequar com mais facilidade
às mudanças do ambiente interno e externo, mantendo ou melhorando os seus níveis de desempenho.
• Decisão com base em evidências: As organizações que tomam decisões com base em dados e in-
77
Segurança de SistemasVisão de processo; Histórico; Normas ISO; Certicação; Ciclo PDCA
formações tendem a ser mais ecazes para alcançar os seus objetivos.
• Gestão de relacionamentos: As organizações que percebem as inuências dos interesses no seu en-
torno, são mais preparadas para enfrentar as ameaças e aproveitar as oportunidades.
A ISO 9001 é uma forma de formalizar a cultura da organização, sobre a qualidade dos bens e serviços pres-
tados. É muito improvável que isso aconteça se os sistemas forem desenvolvidos separadamente para nanças, TI,
saúde e segurança, meio ambiente e comunidade e assim por diante. Os processos precisam estar num sistema
integrado. Essa estrutura é chamada de gerenciamento de risco corporativo.
A certicação ISO não se trata de um processo de certicação somente dos bens ou serviços produzidos, mas
sim da qualidade do processo praticado pela organização na direção de uma produção mais eciente. Funciona
como um instrumento de demonstração de garantia da qualidade de um produto ou serviço que está sendo con-
tratado.
Observação: A ISO 9001 e a ISO 27001 têm conteúdo idêntico em seus capítulos, enquanto a ISO 31000 pos-
sui uma estrutura diferente de recomendações gerais.
5.3.3 Norma de Saúde e Segurança Ocupacional ISO 45001
A ISO 45001 publicada em 2018 é uma norma muito conhecida, adotada em todo o mundo para ajudar or-
ganizações de todos os tamanhos. Constitue em um conjunto de procedimentos para melhorar a segurança do
trabalho nas cadeias de suprimentos globais. Um comitê de especialistas em saúde e segurança ocupacional traba-
lhou para desenvolver um Padrão Internacional a partir da base de dados coletados pela Organização Internacional
do Trabalho (OIT).
Trata-se de uma ferramenta que visa a melhoria do desempenho de empresas em termos de Saúde e
Segurança do Trabalho (SST) e facilita a integração e a certicação das Normas de Sistemas de Gestão, como por
exemplo:
• Sistema de Gestão Integrado (SGI).
• ISO 14001 (Sistema de Gestão do Meio Ambiente).
• ISO 9001 (Sistema de Gestão da Qualidade).
5.4 PROCESSO DE MELHORIA CONTÍNUA – CI-
CLO PDCA
A implementação do ciclo PDCA, tem foco no planejmento estratégico e na gestão de riscos das organiza-
ções. Visa preservar a integridade física de funcionários e comunidades próximas, e pode evitar grandes prejuízos
nanceiros à organização.
A ferramenta de gestão “Ciclo PDCA para a ‘melhoria contínua” está incluído nos princípios de gestão da
Norma ISO 9001 que dene esse conceito como um objetivo permanente da organização.
No setor de mineração existem perigos de acidentes graves, exposição a elementos tóxicos e impactos am-
bientais. Ou seja, além do homem, o ecossistema pode sofrer consequências negativas.
Logo é imprescindível utilizar ferramentas de gestão para mitigar esses riscos.
A implementação de um sistema de gestão integrada de saúde, segurança e meio ambiente, tem se mostra-
do a melhor forma de prevenção. Considera como premissa que o “problema deve ser solucionado, focando na
causa e não nas consequências”.
Expressar ou responder de forma clara: Qual o problema?.... Faz parte da solução.
78
Fundamentos de segurança em Mineração
A idéia não é nova, foi expressa pelo lósofo francês René Descartes, que descreveu a importância da utili-
zação “do método” na condução do pensamento humano.
Segundo Descartes, o melhor caminho para a solução de um problema é a ordem e a clareza com que faze-
mos as nossas reexões. O problema será mais bem compreendido se for dividido em partes menores.
A base do PDCA é justamente o processo cartesiano de solução de problemas.
No anos 20 do século passado (XX), um físico norte-americano chamado Walter Andrew Shewhart, conhecido
na área de controle estatístico de qualidade criou o Ciclo PDCA. Mas, somente nos anos 50 ele foi popularizado
pelo, professor William Edwards Deming, reconhecido pelas melhorias dos processos produtivos nos EUA durante
a Segunda Guerra Mundial e depois no Japão.
A metodologia propõe a implementação das melhorias dos processos através de quatro ações básicas: pla-
nejar (plan), fazer (do), checar (check) e agir (act).
Fases do Ciclo PDCA
Embora a concepção teórica determine quatro fases para o Ciclo PDCA, elas não precisam acontecer linear-
mente. A divisão serve para a facilitar a compreensão do processo de melhoria contínua.
Planejar:
Na etapa do planejamento são determinados os objetivos e as metas. Que problema será resolvido? e
Porque é preciso resolver essa questão?
Devem ser identicados e denidos os indicadores, que mostrarão se o objetivo nal está sendo alcançado.
Os indicadores são um meio de avaliar os resultados. Pode ser uma informação quantitativa ou qualitativa, que
representa a evolução do projeto.
A etapa do planejamento é sempre mais complexa e normalmente exige mais esforços. No entanto, quanto
maior for o número de dados, maior será a necessidade de ferramentas apropriadas para coletar, processar e in-
terpretar as informações.
Fazer:
Após identicar o problema e traçar as metas, o plano de ação é colocado em prática conforme foi planejado,
cuidando para que não haja desvios.
Se não for possível executar o plano, deve voltar à fase anterior e vericar os motivos da falha.
Antes do início, é necessário treinar todos os envolvidos no processo para garantir o comprometimento.
Somente quando a equipe está capacitada ela age de maneira alinhada com foco nos objetivos corretos.
Checar:
A checagem inicia junto com a fase de implementação do plano de ação. Quanto mais cedo os resultados
forem acompanhados, mais rapidamente é possível ver se o planejamento está correto e se os resultados serão
atingidos.
Nessa etapa deve ser feito o monitoramento sistemático de cada atividade para comparar o previsto com o
realizado. Avaliação da metodologia fornece subsídios para ver se a equipe está no caminho certo ou se é preciso
modicar algum processo.
Nessa etapa, é importanta o suporte de uma metodologia estatística para evitar erros, poupar tempo e re-
cursos.
Agir
Quando as metas são atingidas, o plano aplicado deve ser consolidado como padrão.
Se algum objetivo não for alcançado, agir corretivamente sobre as causas do problema. Depois da análise dos
dados providendiar as adequações necessárias, ajustando falhas, inserindo melhorias e fazendo com que o Ciclo
PDCA seja reiniciado.
O Ciclo PDCA não têm um m.
Quando um ciclo é concluído inicia outro, sucessivamente, até encontrar um padrão de qualidade que atenda
às expectativas do cliente e a empresa seja mais eciente em seus processos.
79
Segurança de SistemasVisão de processo; Histórico; Normas ISO; Certicação; Ciclo PDCA
O ciclo PDCA evita erros e padroniza o controle de qualidade. Cada vez que o ciclo é repetido, o próximo
tende a ser mais complexo. O plano e as metas passam a ser mais elevadas e ousadas.
É a base fundamental do “Princípio da melhoria contínua”. Padronização e a busca contínua pela melhoria
Pela facilidade de entendimento e ecácia prática, o Ciclo PDCA historicamente tem demonstrado ótimos
resultados.
A experiência tem demonstrado ainda, que sempre que se melhora um processo, fazendo ele mais ecaz, o
tornamos mais seguro também.
A metodologia PDCA é aplicável a qualquer processo, em diferentes áreas: processos industriais e também
na mineração.
As gura 5.6 representa uma empresa em processo contínuo de melhoria. Desejável e necessário para a con-
tinuidade e desenvolvimento da organização.
FIGURA 5.6 Sistema de Gestão - Melhoria contínua ao longo do tempo denida com pricípio da Norma ISO 9001.
Fonte: Adaptada de imagens disponíveis em: https://pt.slideshare.net/fabiofm/aula-sga-sgq-sgi. Acesso em: 15 dez. 2022.
Fatores fundamentais para a implantação do PDCA
Três fatores no Ciclo PDCA são fundamentais para que as metas sejam alcançadas:
• Conhecimento técnico.
• Liderança atuante.
• Continuidade.
Conhecimento técnico.
O foco nos objetivos da organização é fundamental para a escolha das ferramentas e organização do pro-
cedimento. Necessita conhecimento dos processos e das restrições existentes, fatores especialmente relevantes
numa empresa de mineração onde os processos são muito especícos, com elevados riscos de acidentes e de im-
pactos ambientais.
Há necessidade de uma liderança atuante e involvimento corporativo
A organização precisa de um prossional com liderança atuante capaz de direcionar a organização rumo ao
projeto da melhoria contínua.
O processo necessita especialmente envolvimento e comprometimento dos trabalhadores e dos diferentes
níveis gerenciais da organização.
A própria norma ISO 9001:2015 na sua cláusula 5 explicita: “A alta administração deve demonstrar a liderança
e comprometer-se para garantir que os riscos e as oportunidades que podem afetar a conformidade de um pro-
duto ou serviço sejam determinados e tratados”.
Necessidade de continuidade.
A implantação do PDCA para melhorar a cultura da organização, revisão e a padronização de todos os seus
processos, necessita tempo, muito trabalho, rmeza e continuidade.
A metodologia envolve muitas reuniões, um processo democrático que procura envolver todos os emprega-
dos na discussão e análise dos processos.
Necessita contimuidade, com o envolvimento e comprometimento da alta gestão.
80
Fundamentos de segurança em Mineração
Tem sido comum encontrar exemplos, também na mineração, que depois de um tempo de trabalho e gasto
de recursos, as organizações retornaram ao estágio inicial do processo pela falta de continuidade e falta do apoio
dos gestores.
Os processos de mudança para melhoria contínua costumam sofrer muita resistência de lideranças e de
cheas tradicionais da organização. As pessoas se sentem ameaçadas quando a sua forma de atuar é discutida e
eventualmente modicada. Nessa situação, as resistências das cheas mais tradicionais que se sentem ameaçadas
pelo processo de mudança tendem a reuir aos métodos antigos se houver mudanças gerenciais na empresa e os
novos dirigentes (alta direção), por desconhecimento ou falta de capacidade não disponibilizam tempo e compro-
metimento para suportar o processo de melhoria.
Situação muito comum que é mencionada na literatura.
Esse tipo de organização, resistente a inovações, são denominadas como empresa: ‘Dente de Serra”. Os pro-
cessos de melhoria não são sustentados no tempo. As empresas que evoluem seus processo no tempo de forma
sustentada são denominadas: Empresas tipo Escada. A gura 5.7 esquematizada por Deming, facilita a compreen-
são
FIGURA 5.7 Evolução da qualidade dos processos da organização ao longo do tempo – Melhoria “Tipo Dente de Serra” quando a
melhoria não é sustentada ao longo do tempo e Melhoria “Tipo Escada”quando há evolução nos processos da organiza-
ção – as melhorias são sustentadas no tempo .
Fonte: Imagem disponível em http://oaprendizdaqualidade.blogspot.com/search/label/Gr%C3%A1cos. Acesso em: 15 dez.
2022.
5.5 COMPLIANCE
O conceito “compliance” tem origem no verbo em inglês to comply, signica conformidade com leis e regu-
lamentos e envolve todas as políticas, regras, controles internos e externos da organização.
Um dos objetivos do “compliance” é corrigir e prevenir os desvios que possam trazer conitos judiciais, sendo
comumente atrelado à luta anticorrupção. Porém, também se direciona à questões relacionadas à ética, sustenta-
bilidade, cultura corporativa e outros riscos que possam afetar o desempenho e a reputação da empresa.
Em termos gerais busca reduzir os riscos para os acionista.
Cada vez mais, deve ser ressaltado o perigo que representa para as empresas participar de atos imorais ou
ilegais, ou manter processos operacionais sem os devidos controles que prejudiquem o meio ambiente, causado-
res de acidentes e doenças nos trabalhadores e nas comunidades no seu entorno.
Tanto a empresa como todas as pessoas que nela trabalham, inclusive os fornecedores, precisam observar
rigorosamente a legislação e condicionar todas as ações à princípios éticos de aceitabilidade global, por vezes mais
restritivo que a própria legislação do país onde a empresa atua.
Uma cultura ética da organização inuencia a integridade dos colaboradores e reduz a incidência de compor-
81
Segurança de SistemasVisão de processo; Histórico; Normas ISO; Certicação; Ciclo PDCA
tamentos sem desvios. Previne fraudes e desconformidades, que geram perdas de recursos. Evita riscos de sanções
legais, perdas nanceiras, perda de reputação e desinteresse de investidores.
Dessa forma, a empresa para reduzir os riscos corporativos deve buscar estar em “compliance” ambiental,
trabalhista, nanceiro, de segurança do trabalho, operacional, contábil etc. visando alcançar nível de excelência
independentemente do segmento de atuação e do tamanho da empresa.
O programa de “compliance” deve ser iniciado por um código de conduta que deve ser disseminado pela
organização, que alinha a missão da empresa, e os seus objetivos globais.
O “compliance” vem aumentando cada vez mais a sua relevância nas empresas, principalmente, aquelas que
possuem relações com a administração pública. A tradição de integridade, ética e cumpridora dos compromissos
da organização reete diretamente, na aceitação pela sociedade e nas ações de scalização e licenciamento de
novos negócios pelo poder público. Além disso, ao prevenir riscos das condutas não conformes, diminui o grau
de exposição e responsabilização da Alta Administração em relação a potenciais comportamentos irregulares ou
ilegais de seus colaboradores.
O “compliance” é uma importante maneira melhorar a competitividade, já que a sociedade vai exigir cada vez
mais mais das organizações comportamentos sustentáveis e éticos.
No contexto da mineração, atividade classicada como periculosa de grande impacto ambiental e social nas
comunidades do seu entorno, a aceitação pela sociedade é particularmente importante. Envolve procedimentos
comunitárias e trabalhistas aceitos internacionalmente, ambientalmente sustentáveis e com padrões adequados de
segurança e higiene no trabalho.
Considerando o caso de uma mineradora que pode operar em vários países com pessoas de diferentes cultu-
ras e legislações, assegurar que todos os procedimentos estejam de acordo como padrões da “compliance” é um
grande desao de gestão.
Não é possível denir de forma estática e centralizada normas e procedimentos, para garantir que a empresa
esteja operando de forma padronizada em conformidade com os padrões aceitos pela sociedade. Para alcançar
excelência nas áreas operacionais sob os aspectos ambientais, sociais, segurança e higiene do trabalho as organi-
zações necessitam implantar metodologias de gestão de riscos que padronizem e disseminem a cultura dos con-
troladores em todas as áreas da organização.
Correr ou não um determinado risco? O comportamento e a qualidade das decisões, em diferentes níveis da
hierarquia, vão depender da cultura institucionalizada na organização.
Uma importante diretriz no sentido de uma política de “copliance” é implementar uma gestão de riscos dinâ-
mica de acordo com as alterações que acontecem nos processos internos ou no ambiente do entorno da empresa.
Nesse contexto deve-se lembrar que a mineração, por suas características, é mais dinâmica quando comparada a
outros segmentos da indústria.
Uma organização com minas operando em diferentes países sob o abrigo de diferentes legislações e culturas
deve buscar, de forma continuada, padrões que sejam aceitos internacionalmente, de forma a assegurar valor e
redução dos riscos para os seus acionistas.
Referências:
BORGES, F. M. Na Busca da Cultura Espacial. 2013. Tese (Doutorado Psicologia Clínica) - Pontifícia Universidade
Católica São Paulo, São Paulo, 2013.
GRÉ, L. I. Curso de segurança em Mina subterrânea. Criciúma: PPGE3M/ANM, 2014.
MAGALHÃES, E. R. P. V. Uso da Abordagem Seis Sigma para a Melhoria da Conabilidade em Locomotivas. 2013.
Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Métodos Estatísticos Computacionais) - Universidade Federal de
Juiz de Fora, Juíz de Fora, 2013.
O’BRIEN, J. A. Sistemas de informação e as decisões gerenciais na era da internet. 3. ed. Porto Alegre: Saraiva, 2009.
82
Fundamentos de segurança em Mineração
DEMING, W. Edwards. Out of the Crisis, reissue. MIT press, 2018.
BADRI, A.; NADEAU, S.; GBODOSSOU, A. A mining project is a eld of risks: A systematic and preliminary
portrait of mining risks. International journal of safety and security engineering, v. 2, n. 2, p. 145-166, 2012.
RUPPENTHAL, Janis Elisa. Gerenciamento de riscos. Santa Maria: Universidade Federal de Santa Maria,
Colégio Técnico Industrial de Santa Maria, 2013.
DESCARTES, René. Discurso do metodo: Meditações: Objeções e respostas: As paixões da alma; Cartas. Abril
Cultural, 1973.
83
Visão internacional dagestão de riscos,especialmente nas empresas de mineração
CAPÍTULO 6
Todos fazemos “gestão de risco” constantemente, no cotidiano, quando tomamos as decisões.
Qual a melhor escolha ou decisão? Trata-se de uma questão controversa. Frequentemente importantes tópi-
cos são compreendidos carregados de emoção.
Em uma organização é comum a existência de grupos com diferentes visões ou interesses, que intencional-
mente ou não, induzem situações em uma tentativa de prevalecer sobre o outro grupo.
Para que a compreensão da realidade seja mais correta evitando concepções distorcidas é necessário estabe-
lecer uma metodologia sistêmica que possa alcançar todas as etapas do processo de uma organização. A gestão
de riscos deve ser concebida como vantagem competitiva para gerenciar as questões mais diretas de segurança,
meio ambiente, e também as questões relacionadas a governo, comunidades, legislações e mercados.
Em termos simplicados, a estrategia da organização deve seguir o roteiro apresentado na gura 6.1:
FIGURA 6.1 Estratégia da gestão de riscos nas organizações
Fonte: Adaptado de ISO, 2009
Os processos são essencialmente análogos, porém na prática há uma constante iteração entre as etapas e
entre os dados sempre aplicados de comunicação, consulta, monitoramento e revisão.
6.1 PROCESSO DE GESTÃO DOS RISCOS NA VI-
SÃO DA ABNT NBR ISO 31.000
Apesar da ISO 31000 “Gestão de riscos - Princípios e diretrizes” não ser uma norma para certicação, é a
referência mundial, recomendada, para auxiliar as organizações acolherem os novos regramentos do mundo glo-
balizado.
A Norma ISO 31.000 representa um marco signicativo para entender, controlar a emeaça de forma padro-
nizada. Ela foi elaborada para gerenciar riscos, de forma transparente e sistemática. Através da sua implementação,
VISÃO INTERNACIONAL DA
GESTÃO DE RISCOS,
ESPECIALMENTE NAS EMPRESAS
DE MINERAÇÃO
84
Fundamentos de segurança em Mineração
as organizações podem comparar as suas práticas com um valor de referência reconhecido internacionalmente.
A norma precisa ser formalizada e divulgada na organização para que os seus efeitos ocorram e todos tra-
balhem da mesma forma, para o mesmo objetivo. Em geral, é necessária uma forte base técnica para garantir que
todos os problemas signicativos sejam identicados, avaliados e gerenciados.
As normas ISO podem ter uma abordagem quantitativa, qualitativa ou semiquantitativa e podem ser imple-
mentadas com diferentes níveis de detalhe, dependendo do risco, das informações e dos recursos disponíveis.
As normas ISO de sistemas de gestão (ISO 9001:2015, ISO 14001:2015, ISO 45001:2018, etc.) possibilitam, res-
pectivamente, que os riscos nas áreas especícas da qualidade do processo, Meio Ambiente, Segurança e Saúde
no Trabalho sejam convenientemente tratados.
A Figura 6.2, mostra a formalização em padrão ISO 31000.
FIGURA 6.2 Processo de Gestão do Risco conforme a ISO 31000
Fonte: Adaptado de ISO, 2009
O processo da ISO 31000 para gestão de risco observa as seguintes etapas:
Estabelecimento do contexto
Faz uma análise geral com base nas experiências do setor. Avalia os perigos de forma geral apresentado
pelas atividade. Exemplo do setor de mineração – Descreve os perigos existentes nas minas sem examinar uma
instalação em particular.
Estabelece o contexto em que os riscos serão gerenciados, explicita os objetivos da organização e o horizonte
de tempo.Verica o histórico e a natureza das atividades e o potencial de impactos. Identica as principais partes
interessadas.
Deve entender a atividade que está sendo analisada e considerar a sua importância para o negócio.
A descrição do contexto ajuda a determinar qual a estrutura necessária para identicar e descrever os prin-
cipais eventos de risco.
Identicação do risco
Identicar os riscos de forma sistemática e abrangente.
Uma vez compreendidos os perigos, deve ser identicado os riscos particulares ao local, analisando quando
e por que os eventos podem impactar os objetivos da organização.
A maioria das informações é obtida de operadores experientes e especialistas que, em conjunto devem con-
siderar as atividades que serão realizadas e seus potenciais impactos sobre o empreendimento, na organização,
nos trabalhadores, comunidades e no ambiente mais amplo.
As partes interessadas externas devem ser consultadas quando as situações de risco tiver potencial de con-
sequências para a comunidade. Os pontos de vista das partes interessadas são necessários para denir melhor o
risco.
O objetivo dessa etapa é compreender todos os principais eventos que são relevantes para um projeto, ou
atividade. Denir as relações de causa e efeito e identicar as consequências potenciais (nanceiras, ambientais,
85
Visão internacional dagestão de riscos,especialmente nas empresas de mineração
sociais, econômicas, segurança); e entender a probabilidade de ocorrer. Todas as informações obtidas durante a
identicação de risco é usado na análise de risco subsequente.
Análise do risco:
Analisar o risco para quanticar sua magnitude (ou seja, sua probabilidade de ocorrência e o impacto espe-
rado).
Os riscos são quanticados de acordo com a pré-disposição daquele que está exposto e pode ser denido em
referência às expectativas de cada organização. Portanto um risco pode ser aceitável ou não dependendo do tipo
de investidor, da organização, do mercado onde atua, localização geográca, legislação entre outros.
O risco que pode ser aceito ou não, depende do contexto denido no início da avaliação. Um mesmo evento
pode ser recusado a uma organização mais avessa a danos, do que a outra que pode ser mais destemida numa
determinada condição. Uma organização, por exemplo, torna-se mais sensível a perdas, conforme o percentual do
seu patrimônio que esteja vulnerável.
O Risco é aceitável ou não? Trata-se de matéria controversa que pode variar segundo cada organização.
Como estabelecer limites, padronizar julgamentos?
Avaliação do Risco
Avaliar (classicacar) os riscos é uma tarefa que apresenta diculdades e dúvidas, até mesmo para os espe-
cialistas.
Há uma série de critérios que podem ser utilizados para auxiliar. O processo deve iniciar com o envolvimento
da alta direção para selecionar e implementar uma metodologia adequada.
O procedimento deve comparar “o nível de risco encontrado com o nível de riscos que a organização está
disposta a aceitar como tolerável. Compara as magnitudes e incertezas dos riscos identicados com os critérios
previamente estabelecidos.
Normalmente não é possível dar atenção e remediar todos os riscos, portanto deve haver uma classicação
para avaliação das medidas de contenção.
Considerando critérios de possibilidade e frequência de ocorrer e a magnitude do impacto é possível esta-
belecer uma classicação matricial, como apresentado na gura 6.3: Riscos aceitáveis, toleráveis com medidas de
controle e inaceitáveis.
Cabe ainda destacar que as técnicas matriciais, são as mais frequentemente usadas.
FIGURA 6.3 Componentes do Risco – Probabilidade e Fatalidade
A classicação e a organização dos riscos identicados fornece as orientações para programas de melhorias,
de auditoria das ações de controle. Fornece também orientação para avaliar se há necessidade de ações adicionais.
86
Fundamentos de segurança em Mineração
Tratamento do risco:
Os riscos que presisam de atenção devem ser objeto de tratamento (ações/procedimentos) para evitar ou
reduzir os seus impactos para níveis aceitáveis, conforme o padrão denido na organização.
Na situação de considerar o risco tolerável deve-se estudar a viabilidade de implementar melhorias. Quando
os riscos são considerados aceitáveis pode-se manter a rotina e os controles existentes.
Se o risco identicado não for aceitável – devem ser implantadas medidas corretivas.
A rotina e os controles existentes devem ser alterados e devem ser implementadas, de imediato correções de
processo e ou implementar um plano de emergência.
As alternativas para tratamento ou mitigação do risco são:
• Remoção da fonte risco.
• Alteração da probabilidade de ocorrência (para menor).
• Alteração da consequência (para menos grave).
• Ou combinação entre essas alternativas.
• Melhorar o entendimento da causa e efeito ou da relação dose – resposta.
• Boas práticas e bom senso prossional.
No tópico 7 será apresentada a teoria das barreiras relativa a tratamento ou mitigação do risco.
6.2 ALARP
O termo ALARP é a abreviação para “As Low As Reasonably Practicable”. Decorre da legislação Inglesa, Lei de
Saúde e Segurança no Trabalho de 1974, que exige “Fornecimento e manutenção de instalações e sistemas de tra-
balho que sejam, na medida do possível, seguros e sem riscos à saúde”. Deve levar a condição que os riscos sejam
reduzidos a um nível tão baixo quanto razoavelmente praticável (ALARP).
O conceito reconhece que nenhuma atividade industrial pode estar totalmente isenta de riscos e tem como
princípio alcançar um equilíbrio entre custos, diculdade, e o tempo da aplicação das medidas de redução de risco
e os seus benefícios reais.
O conceito de ALARP é adotado de forma global como uma boa prática para setores potencialmente de alto
risco que é o caso de indústrias da área nuclear, química, petróleeo e da mineração em geral.
O conceito é frequentemente usado em gerenciamento como uma “ferramenta” para limitar os riscos, con-
forme o objetivo de segurança da organização ou da legislação que a regula.
Classicação dos riscos - ALARP
No processo ALARP, as situações de riscos podem ser classicadas de forma sistemática através de avaliações
qualitativas, quantitativas e/ou em uma das três regiões.
• Riscos inaceitáveis
• Riscos toleráveis
• Riscos aceitáveis
Os riscos avaliados como inaceitáveis precisam receber atenção imediata. Se for necessário a suspensão da
atividade ou do projeto até que sejam aplicados novos controles possa ser congurado na região "Tolerável".
A operação na região Inaceitável tempo só pode ser considerada por um curto período de se não houver al-
ternativas, ainda assim com aprovação de quem de direito (alta direção ou entidade reguladora externa a empresa,
conforme a situação).
O nível de risco toleráveis devem ser analisados e reduzidos a níveis tão baixo quanto razoavelmente praticá-
vel, considerando todas as medidas de redução de risco possíveis.
87
Visão internacional dagestão de riscos,especialmente nas empresas de mineração
A demonstração ALARP é um processo contínuo e complexo.
FIGURA 6.4 Níveis de tolerabilidade de risco no princípio ALARP
Fonte: Adaptado de Clothier, 2013
6.3 MÉTODOS QUALITATIVOS X MÉTODOS
QUANTITATIVOS OU SEMIQUANTITATIVOS
Os métodos de avaliação dos riscos podem ser qualitativos, quantitativos ou semiquantitativos.
A gura 6.5 informa as características básicas das metodologias para avaliação do risco qualitativas ou quan-
titativas. A semiquantitativa considera uma mescla das características das duas primeiras. Nas empresas de mine-
ração – É mais usual uso de métodos qualitativos e semiquantitativos.
FIGURA 6.5 Características dos métodos qualitativos e quantitativos de avaliação dos riscos.
Fonte: Autor
As fronteiras que denem avaliações qualitativas, quantitativas e semiquantitativas não são bem denidas.
As ferramentas de classicação ou avaliação de riscos qualitativas, quantitativas e semiquantitativas mais uti-
lizadas serão abordadas nos capítulos 8, 9 e 10.
88
Fundamentos de segurança em Mineração
6.4 CERTIFICAÇÃO PELO SISTEMA ISO NO
CONTEXTO MINEIRO
Pela larga aplicação e disseminação pelo ambiente industrial, especialmente nas empresas de mineração cabe
o destaque para o "Sistema de Gestão - ISO 9001”.
No Brasil, a a Associação Brasileira de Normas Técnicas ABNT abriga essa metodologia através da NBR ISO
9001 "Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ)”.
A ABNT é o Foro Nacional de Normalização por reconhecimento da sociedade brasileira e membro fundador
da International Organization for Standardization (Organização Internacional de Normalização - ISO).
Durante a exploração, desenvolvimento, produção e fechamento de uma mina , os perigos precisam ser con-
tidos e controlados. Os processos de gerenciamento de risco devem abranger todo o ciclo de vida de uma mina.
As organizações, precisam tomar decisões seguras e equilibradas sobre todos os riscos com os quais têm de
lidar, de forma consistente e conável.
As operações de mineração e processamento mineral afrontam muitos tipos de riscos, e a organização tem
necessidade, cada vez maior, de demonstrar para a sociedade que está fazendo a coisa certa.
FIGURA 6.6 Processo de Gestão do Risco na mineração conforme a ISO 31000.
Fonte: Adaptado de ISO, 2009
As mineradoras buscam de forma crescente a certicação para permitir o acesso da sua produção aos mer-
cados intenacionais. Também as empresas de menor porte que prestam serviços empreiteiras e outras “terceiriza-
das”, necessitam das certicações para poder participar dos processos de contratação, cada vez mais exigentes e
detalhados realizados pelas grandes mineradoras.
Para alcançar a certicação, precisa se submeter a uma auditoria de certicação que deve ser realizada por
organizações certicadoras, reconhecidas pelo IAF (International Accreditation Forum). No Brasil, Instituto Nacional
de Metrologia (Inmetro) representa do IAF.
Referências:
CLOTHIER, R. et al. ALARP and the risk management of civil unmanned aircraft systems. In: Proceedings of
2013 Australian System Safety Conference. Australian Computer Society, 2013. p. 3-13.
INTERNATIONAL ELECTROTECHNICAL COMISSION; INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR
STANDARDIZATION. IEC/ISO 31010: risk management-risk assessment techniques. 2009.
89
Visão internacional dagestão de riscos,especialmente nas empresas de mineração
INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARIZATION (ISO). ISO 31000: risk management – principles
and guidelines. Switzerland: ISO, 2009a
INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARIZATION (ISO). ISO Guide 73: risk management: vocabu-
lary. Switzerland: ISO, 2009b.
MUNIZ, R. C. A análise de risco aplicada na gestão da qualidade em processos produtivos de uma in-
dústria de blocos de concreto. 2017. Tese de Doutorado. Universidade Federal do Rio de Janeiro.
MUTTRAM, R. I. Railway safety's safety risk model. Proceedings of the Institution of Mechanical Engineers.
Journal of Rail and Rapid Transit, v. 216, n. 2, p. 71-79, 2002.
ROSA, A. C. Risco tecnológico em contextos de vulnerabilidade social e ambiental elevados: experiên-
cias na região da renaria Gabriel Passos/Petrobras, região metropolitana de Belo Horizonte, Minas
Gerias (1998-2007). 2018. Dissertação (Mestrado em Engenharia Ambiental) - Universidade Federal de
Ouro Preto, 2008. Disponível em: http://bit.ly/2kWuSUW. Acesso em: 16 dez. 2022
90
Fundamentos de segurança em Mineração
CAPÍTULO 7
Conforme publicações do The National Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH) o controle das
exposições a riscos ocupacionais é o método fundamental de proteção dos trabalhadores através da implemen-
tação de barreiras de segurança. Logo, uma solução eciente é estabelecer barreiras para diversas causas de um
risco identicado que reduzam a probabilidade que venha ocorrer e ou que reduzam os danos causados se ele se
materializar.
As barreiras devem ser entendidas como obstáculos ou diculdades que evitam que um evento ocorra ou,
caso a ocorrência seja inevitável, eliminem ou minimizem o impacto de suas consequências.
Conforme a metodologia da ISO 31000, o risco deve ser tratado através Sistemas representados por barreiras
que não abrangem apenas as medidas físicas de proteção mas também as medidas comportamentais, e ainda as
ações administrativas, como procedimentos, regras de trabalho, etc..
Existem diversas abordagens sobre o tipo ou natureza das barreiras, que em linhas gerais, podem ser classi-
cadas em quatro categorias:
Barreiras físicas ou materiais: Obstruem o transporte de massa, energia ou informação de um ponto a outro,
não requerendo que sejam percebidas ou interpretadas pelos indivíduos. São exemplos, os muros, cercas e portas
contra-fogo.
Barreiras funcionais: A barreira funcional pode ser uma condição ativa (ligado ou desligado). Um exemplo é
uma porta com fechadura. Pode estar bloqueada (ativa) ou aberta em uma condição de barreira inativa.
Barreiras simbólicas: A ecácia requer que o usuário entenda a situação ou o risco e haja do modo previsto.
Exemplos são os semáforos, sinais de trânsito, alarmes, rótulos em embalagens, entre outros.
Barreiras imateriais: Requerem interpretação. A ecácia depende do conhecimento do usuário e das regras de
convivência e trabalho em grupo. São exemplos, legislações, normas, procedimentos de tarefas.
FIGURA 7.1 Metodologia proposta pela ISO 31000 e ABNT para a Gestão de Riscos
Fonte: Adaptado de ABNT, 2018.
TEORIA DAS BARREIRAS
91
Teoria das Barreiras
Teoria das barreiras – Análise de Camadas de Proteção
LOPA - Layers of Protection Analysis
Conhecida também como - Modelo do Queijo Suisso.
Situações que levam a acidentes normalmente não resultam somente de uma causa particular, mas sim devido a
sucessivas falhas que evidenciam a importância da identicação e tratamento do riscos.
Muitas abordagens tem sido propostas para a avaliação de erros nos trabalho e para a causa de acidentes. Na
teoria mais aceita (proposta por James Reason - O Modelo do Queijo Suisso), os erros são vistos mais como con-
sequências do que como causas. As origens são em fatores sistêmicos da organização. Quando ocorre um evento
adverso o importante é entender por que as defesas falharam. Nessa concepção, as barreiras, defesas e salvaguar-
das ocupam uma posição chave para análise do sistema.
Trata-se de uma Metodologia para o exame de risco de um processo, identicação de vulnerabilidades e pla-
nejamento das metas de melhorias.
A abordagem concebe o acidente como resultado de uma cadeia de acontecimentos e busca interromper a
sucessão de eventos pela intervenção de uma barreira. O objetivo é estabelecer bloquêios na cadeia de aconteci-
mentos para que não chegue até a última barreira. A última barreira representa as perdas de recursos humanos e
ou de propriedade.
Para ns de compreensão, podemos imaginar o modelo do “Queijo Suisso”como uma série de paredes for-
mando camadas, posicionadas entre a fonte de risco e o objeto ou elementos a ser protegido.
No modelo, cada barreira, individualmente, está em movimento com se fosse um pano de palco abrindo e
fechando constantemente. Na condição ideal, cada barreira seria intacta e sem falhas. No mundo real, individu-
almente, elas contém falhas ou buracos como num queijo suisso. Os buracos estão continuamente mudando de
localização. A presença do buraco em qualquer "fatia" normalmente não gera um evento indesejável, porém em
algum momento (em função da probabilidade) os buracos podem se alinhar, e o evento indesejado ocorrer.
A teoria das barreiras pode ser visualizado nas guras 7.2.
FIGURA 7.2 Barreiras de proteção
Fonte: Adaptado de Reason, 1997.
92
Fundamentos de segurança em Mineração
Razões das Falhas nas Barreiras
Os buracos nas barreiras ocorrem por falhas ativas e condições latentes.
A gura 7.3 compara um sistema ideal protegidos por várias camadas de barreiras compactas no bloqueio da
materialização dos eventos indesejados com um Sistema real, com falhas em cada barreira, que isoladamente e no
conjunto reduzem, mas não bloqueiam totalmente a possibilidade do evento indesejado.
FIGURA 7.3 Sistemas ideal e real protegidos por camadas de barreiras
Fonte: Adaptado de Reason, 2007.
As falhas ativas são representadas pelos atos inseguros cometidos pelas pessoas que estão em contato dire-
to com o sistema: deslizes, lapsos, perdas, erros e violações de procedimentos. Falhas ativas geralmente têm um
impacto de curta duração sobre as defesas.
As falhas nas barreiras podem estar presentes muito tempo antes do acidente ocorrer e essa condição é
denominada como condições latentes para o sinistro. Estão mais ligadas a cultura da organização, decisões estra-
tégicas de mais longo prazo que criam condições para buracos e fraquezas que podem contribuir para o erro no
local de trabalho como, pressão de tempo, sobrecarga de trabalho, equipamentos inadequados ou , escolha do
método de lavra entre outros.
As condições latentes podem permanecer ocultas no sistema por anos antes que se combinem com as falhas
ativas provocando acidentes.
A soma das inuências organizacionais, de supervisão ou da própria sociedade se constituem em condições
latentes que podem induzir a situação gatilho, caracterizada pela falha da última barreira ou o ato falho. Essa situ-
ação pode ser representada pelo modelo publicado por Shappell e Wiegmamm da gura 7.4 que seria uma forma
de apresentar o Modelo do queijo Suisso.
93
Teoria das Barreiras
FIGURA 7.4 Combinação de falhas latentes e ativas induzindo o acidente
Fonte: Imagem disponível em http://www.producao.ufrgs.br/arquivos/publicacoes/danielascher.pdf. Acesso em 15 dez. 2022.
A abordagem eciente para a investigação de um acidente ou para entender a condição de segurança de
uma situação é analisando de maneira sistêmica as Falhas latentes e ativas da situação. As falhas ativas não podem
ser previstas facilmente, mas as condições latentes podem ser identicadas e corrigidas antes de um evento adver-
so. A compreensão deste fato leva ao gerenciamento proativo ao invés do reativo.
7.1 HIERARQUIA DAS MEDIDAS DE CONTROLE
(HMC)
A ação das barreiras deve ser para remover ou isolar uma fonte risco. As barreiras podem ainda reduzir a
probabilidade de ocorrência, ou consequência para menos grave do evento indesejado ou agir na combinação
dessas alternativas.
As barreiras podem ser de diversas naturezas. A viabilidade do uso e a ecácia para prevenir ou proteger é
diferente, conforme cada situação se apresenta. As barreiras físicas e funcionais são normalmente mais ecazes
do que as barreiras simbólicas e, essas, por sua vez, são normalmente mais ecazes do que as barreiras imateriais
(HOLLNAGEL, 2004).
Nas situações reais, se busca a eliminação ou redução dos riscos com uma série de barreiras combinadas.
Cabe aos técnicos fazerem as escolhas seguindo algumas diretrizes básicas.
A quantidade e melhor combinação vai depender da situação e do evento indesejável que se quer evitar,
entretanto dadas as variadas zonas onde há riscos e perigos em uma linha de produção, mina ou qualquer outro
ambiente laboral, seguir uma hierarquia de controles normalmente leva à implementação de sistemas inerente-
mente mais seguros, onde o risco de doença ou lesão podem ser substancialmente reduzidos. Além disso, a partir
da publicação da ISO 45001, para criar segurança no ambiente de trabalho a Hierarquia das Medidas de Controle
(HMC) se tornou obrigatória para certicações ISO.
94
Fundamentos de segurança em Mineração
Para facilitar a compreensão, apresentamos o modelo “Hierarquia de Controle de Riscos”, proposto pelo
“The National Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH, 2022). A natureza das medidas de controle são
apresentadas, de acordo com a capacidade esperada de mitigação dos riscos, na forma de uma pirâmide inverti-
da. A pirâmide estrutua cincos níveis de medidas de mitigação de risco variando de mais ecaz ao menos ecaz
conforme a gura 7.5.
FIGURA 7.5 Hierarquia das barreiras de proteção
Fonte: NIOSH, 2022, tradução nossa.
Considerações sobre a hierarquia de efetividade ranqueadas pela pirâmide do NIOSH para serem considera-
das nos controles dos riscos são detalhados a seguir:
Eliminação e Substituição
Normalmente são considerados os mais ecazes, por isso indicados no topo da hierarquia de controle. No
entanto, é a tarefa mais difícil de ser realizada por envolver estudo de viabilidade técnica, ecácia e custo.
As “Medidas de Eliminação”, tem como objetivo eliminar a condição de risco a partir da troca de substâncias
ou equipamentos do processo. A eliminação e a substituição, embora sejam métodos mais ecazes na redução de
riscos, também tendem a ser mais difíceis de implementar em um processo existente. Se o processo ainda estiver
em fase de projeto a eliminação e substituição de riscos pode ser barata e mais simples de implementar. Para um
processo existente podem ser necessárias, grandes mudanças em equipamentos e procedimentos para eliminar
ou substituir um risco.
A substituição envolve a remoção de um risco substituindo-o por outro, menos grave em seus danos po-
tenciais. Em processos já estabelecidos ou em ambientes antigos não é fácil realizar a substituição. Por vezes, são
muito caras e ou podem causar também problemas de segurança.
Controles de Engenharia
O objetivo é remover o risco na fonte, antes que ele entre em contato com o trabalhador. Se referem a im-
plementação de mudanças na estrutura do ambiente de trabalho introduzindo barreiras entre a condição de risco
(e a energia envolvida no processo) e o trabalhador. Por exemplo, um sistema de ventilação que remove vapores, e
gases do ambiente de trabalho. Enclausuramento da fonte, dispositivos de proteção, modicação na planta, faixas
de controle de tráfego, cobrir partes perigosas em máquinas, entre outros exemplos.
Normalmente, os controles de engenharia são mais ecazes em relação aos administrativos e de proteção in-
dividual (EPI) para proteger os trabalhadores no local de trabalho. A armação é verdadeira, porque são projetados
para isolar o risco na fonte, antes que ele entre em contato com o trabalhador.
Controles de engenharia bem projetados podem ser altamente ecazes e normalmente a sua ação indepen-
95
Teoria das Barreiras
de das inuências pessoais dos trabalhadores para fornecer alto nível de proteção. O custo inicial dos controles
de engenharia pode ser maior do que o custo dos controles administrativos ou EPI, mas a longo prazo, os custos
operacionais são frequentemente menores e, em alguns casos, podem proporcionar uma economia de custos em
outras áreas do processo (NIOSH, 2022).
Controles Administrativos
Os controles administrativos são normalmente usados em conjunto com processos existentes. Eles visam
mudar o comportamento dos trabalhadores e alterar a forma como o trabalho é realizado através de “Medidas de
Administração”.
Se refere a gestão de riscos através de alertas sobre as condições de trabalho a partir de treinamentos, cons-
cientização, campanhas preventivas e sinalização adequada, elevando o nível de alerta dos colaboradores sobre
os riscos ambientais.
Os controles administrativos visam também limitar a exposição aos risco ajustando as tarefas ou programa-
ções de trabalho de acordo com as normas e legislações.
Controles com EPIs
Equipamento de Proteção Individual (EPI): Grupo de equipamentos, de uso individual, com característica tí-
pica de medida de proteção. A ação de proteção age preferencialmente na consequência do evento indesejado.
O EPI é considerado pouco ecaz para bloquear um risco e costuma ser classicado no último nível na hierarquia
de proteção pois a proteção, vai depender apenas do comportamento do trabalhador. O EPI não deve ser usados
isoladamente para prevenir riscos e proteger os funcionários.
Controles administrativos e programas de EPI devem ser utilizado em complemento a outras medidas de
controle de risco adotados pela organização.
Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). ABNT NBR ISO 31000: gestão de riscos – dire-
trizes. Rio de Janeiro: ABNT, 2018.
FISCHER, D. Um modelo sistêmico de segurança do trabalho. 2005. Tese (Doutorado em em Engenharia
de Produção) - Escola de Engenharia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.
HOLLANGEL, E. Barriers analysis and accident prevention. Barrier Analysis and Hollangel’s Function
Resonance Accident Model. Ashgate: Aldershot, 2004.
LIU, Yiliu. Safety barriers: Research advances and new thoughts on theory, engineering and management.
Journal of Loss Prevention in the Process Industries, v. 67, p. 104260, 2020.
REASON, J. Managing the risks of organisational accidents. Ashgate: Surrey, 1997
THE NATIONAL INSTITUTE FOR OCCUPATIONAL SAFETY AND HEALTH (NIOSH). Center for Diseases Control
and Prevention. Hierarchy of Controls. 2022. Disponível em: https://www.cdc.gov/niosh/topics/hierarchy/
default.html. Acesso em: 15 dez. 2022
VACCARO, G. L. R. Modelagem e análise da conabilidade de sistemas. 1997. Dissertação (Mestrado em
Engenharia) - Escola de Engenharia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.
96
Fundamentos de segurança em Mineração
CAPÍTULO 8
O processo de gerenciamento de riscos nas organizações normalmente é realizado de forma gradual envol-
vendo três níveis:
Avaliação nível 1 – Análise informal de perigos e riscos. Envolve a adoção de medidas imediatas e diretas de
prevenção.
Avaliação nível 2 – Envolve um enfoque qualitativo dos problemas não resolvidos no nível 1. Pode incluir al-
gumas técnicas qualitativas e semiquantitativas de gestão de riscos.
Avaliação nível 3 – Envolve uma avaliação aprofundada dos riscos. Adota metodologias semiquantitativas e
quantitativas com apoio de especialistas.
A gura 8.1 apresenta uma sugestão de estratégia de avaliação dos riscos para uso nas organizações que li-
dam com muitos riscos como no caso de processos industriais, indústria do petróleo, mineração etc.
FIGURA 8.1 Estratégia de avaliação dos riscos.
Fonte: Autor
Existem muitas metodologias que contribuem para a gestão de riscos nas organizações, a tabela 8.2 lista as
técnicas mais encontradas.
METODOLOGIAS DE AVALIAÇÃO
DO RISCO E AVALIAÇÃO
QUALITATIVA DOS RISCOS
97
Metodologias de Avaliação do Risco e avaliaçãoqualitativa dos riscos
TABELA 8.1 Técnicas comuns de identicação dos riscos.
Fonte: Ericson, 2015; Glossop, Loannides, Gould, 2000; Lees, 2012.
As metodologias guardam algumas características, relativa à base de dados, conforme sintetizado na gura
8.3 que devem ser observadas para ns de compreensão e entender as limitações.
As metodologias usadas podem ser:
• Quantitativa – Objetiva. Dene o risco por um valor numérico (num espaço de tempo). Exemplo:
0.0001 ou 1 por 100.000 mortes por ano.
• Qualitativa – Subjetiva (Alto, médio ou baixo risco).
• Semiquantitativa – Combina estimativas objetivas com subjetivas
FIGURA 8.2 Comparação de características entre as Metodologias qualitativas e quantitativas de avaliação de riscos.
Fonte: Autor
Normalmente o processo de gerenciamento de riscos inicia com um inventário.
Os riscos são listados a partir de relatos, inspeções auditorias análise de histórico de situações passadas.
A priorização da mitigação se dá de acordo com o efeito potencial dos danos nos objetivos da organização
ou no trabalhador.
Um exemplo é através da avaliação sobre as possíveis consequências, caso venha a se materializar:
98
Fundamentos de segurança em Mineração
• O que este agente de risco pode causar no ambiente da organização ou no trabalhador? Na orga-
nização: Interrupção permanente ou temporário da operação; penalidades legais, redução de prejuízos
nanceiros etc.
• No trabalhador ou nas pessoas: Desconforto, doença ocupacional ou do trabalho? Incapacidade,
Morte?
Os métodos qualitativos de gestão, são geralmente os mais usados, descrevem ou esquematizam os fatores
de risco e as medidas mitigadoras, mas não atribuem um valor quantitativo a ameaça.
São adequados para avaliações simples e podem ser completados posteriormente com outros métodos.
Na avaliação qualitativa é comum adotar níveis de prioridade para as ações, exemplo:
1 – Medidas não urgentes, que podem esperar.
2 – Medidas com urgência moderada.
3 – Medidas urgentes, que devem ser feitas o quanto antes.
A avaliação qualitativa de riscos tem por base o histórico e dados estatísticos de acidentes. Tem como base a
experiência de colaboradores da própria empresa, de consultores e exemplos de outras organizações.
Como a maioria das técnicas de identicação de riscos são genéricas, elas podem ser usadas para identicar
perigos em qualquer local ou tipo de organização. No entanto, os riscos podem variar de um local de trabalho para
outro, e a experiência é essencial para identicá-los com precisão.
Na bibliograa e em sites da internet podem ser encontradas vários modelos para o inventário dos riscos
todos, entretanto observam uma certa organização.
Normalmente, cada linha deve ser preenchida com um risco identicado e as colunas podem variar conforme
o caso. Normalmente as colunas indicam o risco, a fonte de risco, as legislações afetadas, o grau do risco perce-
bido, o tipo de avaliação que foi realizada, consequências, medidas de prevenção, responsabilidade pela ação e
orçamento para a mitigação etc.
A gura 8.3 é um exemplo de planilha usada para listar os riscos identicados e estabelecer uma avaliação
inicial e que depois com maiores dados pode ser complementada.
FIGURA 8.3 Planilha de inventário de riscos
Fonte: Autor.
99
Metodologias de Avaliação do Risco e avaliaçãoqualitativa dos riscos
• O que este agente de risco pode causar no ambiente da organização ou no trabalhador? Na orga-
nização: Interrupção permanente ou temporário da operação; penalidades legais, redução de prejuízos
nanceiros etc.
• No trabalhador ou nas pessoas: Desconforto, doença ocupacional ou do trabalho? Incapacidade,
Morte?
Os métodos qualitativos de gestão, são geralmente os mais usados, descrevem ou esquematizam os fatores
de risco e as medidas mitigadoras, mas não atribuem um valor quantitativo a ameaça.
São adequados para avaliações simples e podem ser completados posteriormente com outros métodos.
Na avaliação qualitativa é comum adotar níveis de prioridade para as ações, exemplo:
1 – Medidas não urgentes, que podem esperar.
2 – Medidas com urgência moderada.
3 – Medidas urgentes, que devem ser feitas o quanto antes.
A avaliação qualitativa de riscos tem por base o histórico e dados estatísticos de acidentes. Tem como base a
experiência de colaboradores da própria empresa, de consultores e exemplos de outras organizações.
Como a maioria das técnicas de identicação de riscos são genéricas, elas podem ser usadas para identicar
perigos em qualquer local ou tipo de organização. No entanto, os riscos podem variar de um local de trabalho para
outro, e a experiência é essencial para identicá-los com precisão.
Na bibliograa e em sites da internet podem ser encontradas vários modelos para o inventário dos riscos
todos, entretanto observam uma certa organização.
Normalmente, cada linha deve ser preenchida com um risco identicado e as colunas podem variar conforme
o caso. Normalmente as colunas indicam o risco, a fonte de risco, as legislações afetadas, o grau do risco perce-
bido, o tipo de avaliação que foi realizada, consequências, medidas de prevenção, responsabilidade pela ação e
orçamento para a mitigação etc.
A gura 8.3 é um exemplo de planilha usada para listar os riscos identicados e estabelecer uma avaliação
inicial e que depois com maiores dados pode ser complementada.
FIGURA 8.3 Planilha de inventário de riscos
Fonte: Autor.
Nos próximos tópicos vamos apresentar algumas metodologias qualitativas que são muito populares e usa-
das nas organizações para resolver problemas e gestão dos riscos.
8.1 ANÁLISE QUALITATIVA – DIGRAMA DE
ISHIKAWA
Uma metodologia quantitativa muito popular nas organizações que buscam aprimoramento através dos
programas de qualidade é o Diagrama de causa e consequência. Também chamada - Diagrama de Ishikawa ou
Espinha de peixe.
Os diagramas de Ishikawa são úteis como ferramentas sistemáticas para encontrar, as causas de problemas
nos processos de produção. Pode ser usado para encontrar as causas de um acidente por exemplo.
O método facilita não só visualizar o problema, mas também a interpretar as causas que o originaram. Foi
concebido pelo engenheiro japonês Kaoru Ishikawa, um dos desenvolvedores das metodologias da Qualidade.
Em 1943, apresentou o Diagrama de "Causa-e-Efeito", considerada a sua maior contribuição, uma ferramenta
poderosa que pode facilmente ser usada por não-especialistas para analisar e resolver problemas.
O diagrama de Ishikawa parte da hipótese de que para cada problema há um número limitado de causas pri-
márias, secundárias, terciárias, e assim sucessivamente.
Metodologia para a aplicação do diagrama de ISHIKAWA envolve as seguintes etapas:
1 – Denir qual o problema
A chave para um bom encaminhamento é denir bem o problema que precisa ser resolvido. Há a necessida-
de de garantir que se lidando com o problema real – e não com os seus efeitos. Um problema mal denido não é
fácil de compreender e encaminhar a solução. Por exemplo se o disjuntor de uma instalação está frequentemente
desligando. O disjuntor é o efeito e não o problema.
Nesse caso, o encaminhamento deve buscar a causa que provoca o desligamento
Uma técnica é resumir e escrever o problema em sua forma mais simples possível antes de apresentar para
o grupo:
“O problema que estou tentando resolver é: ___________.”
2 – Criar o diagrama e escrever no retângulo à direita o problema que será resolvido.
O diagrama deve ser desenvolvido com uma seta no meio, que apresenta o problema no nal, dentro de um
retângulo. Acima e abaixo formando uma estrutura de espinha de peixe onde são elencados os possíveis itens que
podem ter relação com a situação a ser analisada conforme apresentado na gura 8.4.
FIGURA 8.4 Diagrama de causa e efeito ou diagrama de Ishikawa
Fonte: Autor
100
Fundamentos de segurança em Mineração
Dividir as causas identicadas em categorias, da forma que for mais coerente com o problema analisado e o
contexto da empresa. Nos processos industriais, as causas são normalmente agrupadas em 6 categorias, conheci-
das como 6 Ms: máquina, materiais, mão de obra, meio ambiente, método e medidas.
• Máquina – Considera todas as causas devido a problemas nos equipamentos usados no processo,
como funcionamento incorreto, falha mecânica etc.
• Materiais - Problemas causados devido a matéria-prima ou o material utilizado no processo. Não
conformidade com as exigências e especicações necessárias para ser usado, como tamanho incorreto,
vencido, fora da temperatura etc.
• Mão de obra - Problemas relacionados a atitudes e diculdades com pessoas na execução do proces-
so. Pode ser: pressa, imprudência, falta de qualicação, falta de treinamento, competência etc.
• Meio-ambiente - Analisa o ambiente interno e ambiente externo da organização. Analisa os fatores
que favorecem a ocorrência dos problemas, como poluição, calor, falta de espaço, layout, barulho, reuni-
ões, etc.
• Método – Analisa se a forma de trabalhar inuenciou o problema. Se o planejamento e a execução
foram executados de forma adequada e se as ferramentas certas foram utilizadas.
• Medidas – Verica causas que envolvem as métricas usadas para medir, monitorar e controlar o traba-
lho, como efetividade dos instrumentos de calibração, indicadores, metas e cobranças.