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A AVALIAÇÃO VISUAL NO RECONHECIMENTO DE CENTROS DE ATENDIMENTO AO TURISTA

Authors:
  • Southern University of Science and Technology - SUSTech
A AVALIAÇÃO VISUAL NO RECONHECIMENTO DE
CENTROS DE ATENDIMENTO AO TURISTA
VISUAL ASSESSMENT IN THE RECOGNITION OF
TOURIST SERVICE CENTERS
FERRER, Nicole (1)
BARROS, Samaryna Estevam de (2)
SOARES, Marcelo M. (3)
COSTA FILHO, Lourival (4)
(1) Universidade Federal de Pernambuco, Doutoranda em Design
e-mail: nicole.ferrer@ufpe.br
(2) Universidade Federal de Pernambuco, Mestranda em Design
e-mail: samaryna.estevam@ufpe.br
(3) Universidade Federal de Pernambuco, Doutor em Ergonomia
e-mail: marcelo.soares@ufpe.br
(4) Universidade Federal de Pernambuco, Doutor em Desenvolvimento Urbano
e-mail: lourival.costa@ufpe.br
RESUMO
Apesar do rico patrimônio construído e natural, o potencial turístico do Brasil é limitado por deficiências
em segurança, infraestrutura e mão de obra. Por isso a importância de um sistema de apoio aos turistas
para contrapor possíveis sensações de insegurança e falta de orientação em local desconhecido. Assim,
associando conhecimentos da estética ambiental à ergonomia do ambiente construído, este trabalho
objetiva avaliar a qualidade visual percebida na identificação de Centros de Atendimento ao Turista no
espaço urbano. Os resultados empíricos obtidos apontam que a coerência e a complexidade influenciam
no reconhecimento desses locais no espaço urbano.
Palavras-chave: centro de atendimento ao turista; espaço urbano; qualidade visual percebida;
estética ambiental, ergonomia do ambiente construído.
ABSTRACT
Despite the rich built and natural environments, Brazil's tourism potential is limited by deficiencies in
safety, infrastructure, and manpower. Hence the importance of a support system for tourists to counter
possible feelings of insecurity and lack of guidance in an unknown location. Thus, associating knowledge
of environmental aesthetics to the ergonomics of the built environment, this work aims to assess the
perceived visual quality for the identification of Tourist Service Centers in the urban space. Empirical
results showed that coherence and complexity influence the recognition of these places in urban space.
Keywords: tourist service center; urban space; perceived visual quality; environment aesthetic;
built environment ergonomics.
INTRODUÇÃO
Um dos setores que mais sofreram com a pandemia de coronavírus no Brasil foi o
turismo. Após dois anos de paralisação, o ano de 2021 viu uma retomada das viagens pelos
brasileiros, graças ao avanço da vacinação e dos protocolos sanitários. De acordo com o
próprio Governo do Brasil (2022, online), os resultados medidos pelo IBGE Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística apontam que as 12 unidades da Federação pesquisadas
apresentaram, no final de 2021, um aumento de 21,1% no índice de atividades turísticas. Isso
confirma que o setor, de fato, está voltando à ativa.
De acordo com esta pesquisa, os locais que se destacaram foram: Bahia (47,3%),
Pernambuco (40,9%), Rio Grande do Sul (39,0%), Minas Gerais (31,6%), Rio de Janeiro
(16,9%) e São Paulo (11,9%). Pernambuco ficou em segundo lugar, no ranking de atividades
turísticas, pelo fato de oferecer praias paradisíacas, natureza, roteiros culturais e culinária típica
regional. O estado tem muita cultura popular, tanto na música quanto na dança, como, por
exemplo: o frevo, o maracatu, o forró, o caboclinho e o coco. Na arte e no artesanato vale
destacar: cestaria, trançados, bordados, rendas, cerâmica, couro, tecelagem, madeira, metal e
tapeçaria. Na culinária, cada região do estado tem suas diferentes comidas típicas.
Além da rica história do estado, desde a época do descobrimento do Brasil e de sua
colonização, o território tem uma diversidade de atividades turísticas excepcionais. Existem
trilhas na caatinga do sertão, como no Vale do Catimbau (sítio arqueológico pré-histórico),
passeios por praias, cidades, museus, igrejas antigas, prédios históricos e centros culturais.
Também há uma multiplicidade de climas: quente e tropical; frio e serrano; quente e seco, com
temperaturas que vão desde as mais altas, como em Petrolina, no Sertão, que já atingiu mais
de 40°C, até as mais baixas, como no município de Triunfo, no Sertão do Pajeú, com mínima
que já registrou 6,8°C.
No entanto, como apontado por matéria publicada pela BBC News Brasil
(MILHORANCE, 2017, online), “o Brasil tem os patrimônios naturais e a biodiversidade mais
ricos do planeta, mas seu potencial turístico é limitado por deficiências em segurança,
infraestrutura, mão de obra e outros fatores”. Nesse mesmo contexto, assim como todo o país,
o estado de Pernambuco tem vários aspectos que o tornam um destino turístico muito
procurado, principalmente por suas praias. Apesar disso, suas virtudes não superam os
problemas existentes. Segundo matéria do jornal Diário de Pernambuco (WANDERLEY, 2022,
online), o turismo no estado ainda enfrenta entraves para crescer longe da capital, e isso ocorre
mais por falta de estrutura e divulgação do que de atrativos.
De acordo com o Plano Estratégico de Turismo de Pernambuco (GOVERNO DO
ESTADO DE PERNAMBUCO, 2008, online), foi realizado um levantamento dos principais
problemas para o turismo no estado. Nesta pesquisa foram apontadas questões como: falta de
exposição na mídia e inexistente imagem turística de fato consolidada do estado e de muitos
dos seus destinos; violência em algumas cidades; desestruturação de ações planejadas e
implantadas; falta de organização do trade turístico e de organismos municipais; poluição,
saneamento básico deficiente e disposição de lixo; disposição da infraestrutura básica no
estado (sinalização, informação e acessibilidade), são entraves para o turismo pernambucano.
Dessa forma, a falta de infraestrutura e organização informacional é a principal razão
pela qual se faz tão necessário um sistema de apoio para os turistas. Visto que, ao viajar, as
pessoas estão geralmente em um local desconhecido, muitas vezes visitando pela primeira vez,
e precisam de referências para contrapor possíveis sensações de insegurança e falta de
orientação naquele espaço urbano novo.
Nesse contexto, os Centros de Atendimento ao Turista (CAT), também chamados de
Postos de Informações Turísticas (PIT) ou Centros de Informação ao Turista (CIT), são
fundamentais. Ressalta-se que esta pesquisa considerou a nomenclatura CAT como principal a
ser utilizada para se referir a esses locais, que são espaços criados a fim de orientar, informar e
apoiar os turistas, podendo ainda intermediar diversos serviços turísticos. Simultaneamente, os
CAT permitem que os turistas tenham uma maneira de registrar elogios, queixas e sugestões
sobre o destino da viagem.
O Governo do estado de Pernambuco (2015) estabelece critérios de elegibilidade e
elaboração de projetos de centros de informações turísticas que devem seguir um padrão de
qualidade, devendo considerar algumas orientações para a elaboração de projetos e construção
dos CAT. Esses critérios determinam que os CAT estejam localizados em locais estratégicos
dos municípios; que tenham infraestrutura física que transmita segurança e que possa
despertar atenção dos visitantes; que tenham um terminal multimídia em local aberto contendo
informações turísticas, para que os turistas possam consultá-las 24 horas.
Além disso, devem disponibilizar, aos seus usuários, materiais impresso ou digital com
informações sobre os atrativos turísticos, além de dispor de profissionais qualificados e
capacitados em turismo. A identificação dos CAT deve ser em português e inglês, em destaque.
Ainda de acordo com os critérios estabelecidos pelo governo do estado, é imprescindível que
contenha o pictograma i de Informações Turísticas, respeitando o padrão internacional
recomendado pelo Guia Brasileiro de Sinalização Turística da EMBRATUR - Agência Brasileira
de Promoção Internacional do Turismo.
Quatro funções básicas dos CAT, identificadas por Moscardo (1998; 1999) e Pearce
(1991), são: marketing e acesso, promovendo uma área e seus produtos, fornecendo
informações, envolvendo vendas, sugestões de onde ficar, do que fazer e como chegar;
aprimoramento e informação, visando aumentar a qualidade da estadia do visitante e
fornecendo informações mais profundas; controle e filtragem, a fim de tentar reduzir os gastos
desnecessários dos turistas e ajudar a informar o que eles não querem ver; substituição, que
sugere locais que não sejam indicados para que o turista visite.
Considerando uma das principais funções dos CAT de promover informações , Gohr,
Santos e Veiga (2009) afirmam que “a informação é um recurso estratégico que influencia
diretamente nas decisões do usuário de turismo e, consequentemente, na qualidade percebida
dos destinos”. Levando isso em consideração, pode-se ressaltar que esses receptivos
influenciam diretamente na qualidade do turismo. Além disso, os Centros de Atendimento ao
Turista têm papel fundamental na permanência e retorno do turista (GOHR; SANTOS; VEIGA,
2009). Dessa forma, garantir que essas instalações sejam altamente reconhecíveis no ambiente
urbano é relevante para a construção de um turismo de qualidade.
CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS
2.1 A informação associada à ergonomia do ambiente construído
Um dos focos da ergonomia moderna é o estudo de sistemas em que aspectos
sensoriais e cognitivos são predominantes, como percepção, processamento de informações e
tomada de decisão. Para tanto, é importante considerar que:
Para ocorrer a transmissão de informação ou comunicação, é necessário haver uma
fonte, um meio e um receptor. A comunicação ocorre quando o receptor recebe e
interpreta corretamente a mensagem que a fonte desejava transmitir. A informação
captada pelo organismo humano é conduzida até o seu sistema nervoso central, onde
ocorre a decisão. Muitas vezes, essa informação é armazenada na memória para as
futuras decisões (IIDA, 2005, p.257).
Assim, a ergonomia do ambiente construído, além de se preocupar com o ambiente e os
objetos, considera o usuário e a tarefa realizada por ele. Segundo Villarouco (2011), os
elementos que compõe o ambiente e que devem ser considerados são aqueles referentes
a: conforto ambiental (lumínico, térmico e acústico), percepção ambiental (aspectos cognitivos),
adequação de materiais (revestimentos e acabamentos), cores e texturas, acessibilidade,
medidas antropométricas (layout, dimensionamento), e sustentabilidade.
Nesse contexto, a ergonomia cognitiva, aplicada ao ambiente construído, verifica os
níveis de carga mental de trabalho durante o processo de tomada de decisão. Dessa forma, ela
preocupa-se com processos mentais vivenciados pelo ser humano, nas situações em que este
interage com o sistema, como percepção, atenção, cognição, controle motor, armazenamento e
recuperação de memória. Os processos cognitivos são instáveis, mas se adaptam ao que deve
ser efetuado nas condições existentes (ABRAHÃO; SILVINO; SARMET, 2005).
Segundo Abrantes (2011), o termo cognição vem do latim “[...] cognitione, que significa a
aquisição de um conhecimento através da percepção ou a forma como o cérebro percebe,
aprende, recorda e pensa sobre toda informação captada através dos cinco sentidos
(ABRANTES, 2011, p.4). Ademais, o termo percepção:
é, portanto, o ponto de partida de toda atividade humana. É a percepção, por exemplo,
que nos fornece toda informação necessária, para nossa orientação em um ambiente,
sendo a visão o sistema de percepção mais desenvolvido. Por isso é importante
conhecer os elementos do ambiente que podem causar os estímulos sensoriais
perceber e receber as informações e provocar respostas à nível do corpo, traduzidas
no comportamento” (ELY, apud MORAES, 2004).
A ergonomia informacional, outro braço da disciplina que também interessa à pesquisa,
estuda o arranjo dos dispositivos de sinalização, informação e comando, com a finalidade de
otimizar as condições de percepção do ser humano, com a finalidade de que este consiga
compreender o seu entorno e garantir a sua segurança. Levando em conta a complexidade do
ambiente urbano, são exigidas ações como receber, processar e agir em função das
informações recebidas pelo usuário. A informação está, dessa forma, inteiramente relacionada à
ergonomia. O fluxo de conhecimento se completa com a assimilação da informação pelo
receptor através de suportes como: linguagem iconográfica e verbal, famílias tipográficas;
avisos e advertências, documentos, manuais de instrução e sistemas de sinalização.
Considerando que a visão é uma importante fonte de informação, por ser capaz de
captar uma grande quantidade de estímulos ao mesmo tempo, é preciso atentar para a
disposição das informações no ambiente construído. Nesse caso, de um modo geral, quanto
mais adequada for a apresentação das informações no ambiente urbano, maior a capacidade
do olho humano percebê-las e assimilá-las. Esse fator torna-se significativo principalmente no
que interessa aos usuários , haja vista que a ergonomia se preocupa com a transmissão e a
recepção de informações.
Sendo o principal ponto de informação presente no espaço urbano turístico, os CAT
podem atuar na formação da imagem e da identidade coletiva de um determinado lugar. Dessa
feita, a qualidade no reconhecimento desses espaços é fundamental para a plena apropriação
dos seus utilizadores e para que se sintam seguros, em um ambiente que, para o turista,
geralmente é novo e desconhecido. De acordo com Lynch (1997, p.15), o espaço público
“característico e legível não oferece apenas segurança, mas também intensifica a profundidade
e intensidade da experiência humana”. Assim, há extrema relevância para se conceber um CAT
que seja identificado, como tal, pelos seu utilizador, o turista, através dos estímulos e interações
que o espaço provoca e proporciona.
2.2 Qualidade Visual Percebida
A qualidade está relacionada com o nível de satisfação que determinado produto bem
ou serviço promove no usuário. Nesse sentido, para que os CAT comuniquem, da melhor
forma, a sua função e o seu serviço, entende-se que além de estar munido de profissionais e
equipamentos de excelência, e seguindo todas as recomendações governamentais, é
necessário que o turista consiga identificá-lo e reconhecê-lo na paisagem urbana. Desse modo,
a percepção e cognição conduzem a avaliação da qualidade visual percebida em Centros de
Atendimento ao Turista, a fim de garantir a identificação e orientação do utilizador.
Lynch (1997) discorre sobre percepção e apresenta a legibilidade e a imaginabilidade
como conceitos para a imagem avaliativa da paisagem urbana. Ele define a legibilidade como
sendo a facilidade com a qual as partes [da cidade] podem ser reconhecidas e organizadas
numa estrutura coerente” (LYNCH, 1997, p. 13). Para tal, o autor sugere como parâmetros de
legibilidade: a cor, a forma, o movimento da luz, o cheiro, a audição, o tato e a cinestesia.
Acerca da imaginabilidade, ele afirma que “uma cidade altamente imaginável (aparente, legível
ou visível), nesse sentido particular, pareceria muito bem formada, distinta, notável; como que
convidaria os olhos e os ouvidos a uma maior atenção e participação” (LYNCH, 1997, p. 20).
para Cullen (1996), a percepção da cidade é um estímulo à leitura da paisagem
urbana pelos transeuntes. Nesse prisma, o turista geralmente faz percursos de carro, ônibus,
entre outros meios de transporte, mas, na maioria das vezes, ele percorre a pé alguns roteiros
turísticos, para experienciar os locais de perto. Assim, a paisagem urbana percebida pelo turista
é serial, como definido por Cullen (1996). O autor define a paisagem urbana em três aspetos
principais: ótica, local e conteúdo. E considera que ótica é a percepção visual do ambiente
urbano, onde a “paisagem urbana surge na maioria das vezes como uma sucessão de
surpresas ou revelações súbitas. É o que se entende por visão serial” (CULLEN, 1996, p. 11).
O caráter visual do ambiente construído tem impacto importante na experiência humana.
Ele pode evocar emoções fortes, como prazer ou medo; atuar como fator estressor ou
restaurador; ou nos levar a fazer inferências sobre lugares e pessoas (NASAR, 1999). Isso
porque respondemos aos objetos que aparecem diante de nós (formas), às inferências
derivadas de indicações visuais (pistas) e às propriedades não visuais de lugares (caráter).
Parte-se, aqui, do princípio que a ergonomia do ambiente construído deve se preocupar
com aspectos estético-psicológicos da interação humano-ambiente, pois, a partir da cognição, é
que o ser humano processa as informações derivadas do seu entorno, a fim de formar uma
imagem mental, atrelada aos sentimentos evocados pelas características dos locais onde estão.
Logo, a imagem ou a forma por si são insuficientes. É a percepção humana e a avaliação
formal que lhe dá significado, ou seja, a qualidade visual percebida (NASAR, 1999, p.118).
Assim, ao se considerar as variáveis formais que integram o espaço, pesquisas da
estética ambiental área que representa a fusão entre a estética empírica e a psicologia
ambiental vêm explorando a resposta estética a diferentes estímulos ambientais. Nessas
pesquisas são identificadas várias características visuais do ambiente construído relacionadas à
preferência e aos significados sociais coerência, complexidade moderada, naturalidade,
manutenção, abertura e estilo. Para esta pesquisa, as variáveis coerência e complexidade
foram selecionadas, devido às suas prováveis influências para a qualidade visual percebida no
reconhecimento de Centros de Atendimento ao Turista.
Em vista disso, a partir do conhecimento da preferência humana por ambientes,
coerência refere-se ao grau em que uma cena se encaixa ou faz sentido, a partir da redução do
contraste, definido como a variação entre os elementos da cena em relação ao fundo (KAPLAN;
KAPLAN, 1989). Outras palavras para coerência podem ser: organização, ordem, adequação,
congruência, legibilidade e clareza. De acordo com Nassar (1999, p.135), as pessoas gostam
de áreas que tenham ordem visual, compatibilidade e coesão, ou seja, níveis altos de
coerência, o que significa baixo contraste. E não gostam de desordem, caos e falta de estilo
uniforme (baixos níveis de coerência e alto contraste).
complexidade se refere à diversidade e riqueza visual da cena, ou seja, a quantidade
e variedade de elementos visíveis (KAPLAN; KAPLAN, 1989). Essa definição representa a
complexidade sem conteúdo negativo, associado à desordem ambiental e outras variáveis que
reduzem a ordem. Nassar (1999) destaca que as pessoas têm preferência por níveis
moderados de complexidade. Sob esse prisma, pouca complexidade torna o ambiente
entediante e monótono; muita o torna estressante e requer altos níveis de carga mental, sendo
o nível moderado o ideal para a agradabilidade e preferência, gerando entusiasmo e excitação.
Nessa perspectiva e considerando a associação dos conhecimentos da estética
ambiental à ergonomia do ambiente construído, a presente pesquisa tem como objetivo discutir
a qualidade visual percebida na identificação de Centros de Atendimento ao Turista no espaço
urbano. Busca-se, por conseguinte, entender em que medida a coerência e a complexidade
influenciam no reconhecimento desses lugares no espaço público, favorecendo assim, a
abordagem sistêmica do ambiente, como preconiza a ergonomia do ambiente construído, em
prol de recomendações que auxiliem a interface humano-ambiente.
METODOLOGIA
A presente pesquisa caracteriza-se por ser uma investigação empírica, de cunho
descritivo-exploratório, sem o emprego de técnicas probabilísticas na definição inicial dos
participantes, e com abordagem de natureza qualitativa. Os procedimentos aqui adotados foram
adaptados da Teoria das Facetas (TF), abordagem metateórica criada e desenvolvida nos anos
1950, por Louis Guttman (COSTA FILHO, 2014). Esses procedimentos dividiram-se em três
fases: coleta de dados, análise das informações e diagnóstico final.
Assim, a fim de estruturar o delineamento da investigação proposta, montou-se uma
sentença semântica que relaciona os elementos teóricos e empíricos tomados para estudo com
seus possíveis resultados (Figura 1). Chamada de Sentença Estruturadora Geral, o modelo
conceitual reúne três variáveis: a população da pesquisa; o conteúdo das variáveis estudadas;
a racionalização do universo de reações ou possibilidade de respostas dos participantes. Isso
possibilita expressar suposições teóricas de tal forma que se pode examinar empiricamente a
sua validade (BILSKY, 2003).
Figura 1 Sentença estruturadora geral para a avaliação da qualidade visual percebida de CAT.
Fonte: Os autores (2022).
Para coletar os dados foi realizada uma pesquisa de opinião com participantes o
identificados
1
, a partir da plataforma online de formulários do Google (software livre). O
questionário foi estruturado segundo o Sistema de Classificações Múltiplas, adaptado por
Canter, Brown e Groat, (1985), procedimento em que os participantes classificam os mesmos
elementos diversas vezes por meio de critérios, neste caso definidos pelos pesquisadores
(classificações dirigidas), a fim de se compreender suas interpretações.
A sentença estruturadora levou em consideração a manipulação sistemática de duas
características do ambiente, desdobradas em diferentes níveis: complexidade (X1) mínima, (X2)
moderada e (X3) máxima; contraste (Y1) baixo e (Y2) alto. A partir de mapeamento, semelhante
a uma análise combinatória, criaram-se permutações (X3xY2=6), que resultaram em seis
situações a serem testadas, cada uma vinculada à imagem de um Centro de Atendimento ao
Turista, do estado de Pernambuco, com diferentes qualidades estéticas (Figura 2).
Foram selecionados os seguintes CAT: Olinda (X1Y1 complexidade mínima e
contraste baixo); Praça de Boa Viagem, no Recife (X2Y1 complexidade moderada e contraste
baixo); Porto de Galinhas (X3Y1 complexidade máxima e contraste baixo); Praça do Arsenal,
no Recife (X1Y2 complexidade mínima e contraste alto); Itamaracá (X2Y2 complexidade
1
Este tipo de pesquisa não necessita de registro no sistema CEP/CONEP (Comitê de Ética em Pesquisa).
moderada e contraste alto); e Jardim de Boa Viagem, no Recife (X3Y2 complexidade
máxima e contraste alto).
Figura 2 Seis cenas representando as relações de contraste e complexidade das fachadas de CAT.
Fonte: Google Street View, adaptado pelos autores (2022).
Cada cena compartilha de um racional, que é comum as variáveis relacionadas, que foi
sistematizado em uma Escala Likert de cinco pontos: (1) nada, (2) pouco, (3) mais ou menos,
(4) muito e (5) demais. Assim, foi questionado aos participantes a medida percebida em que as
características de contraste e de complexidade favorecem a identificação de Centros de
Atendimento ao Turista no espaço urbano.
Uma vez realizada a coleta de dados, as respostas foram organizadas no Google
Planilhas (software livre), o que permitiu a visualização e o processamento dos pontos
atribuídos para cada uma das fotos. Foi realizado, para facilitar a interpretação dos dados, um
ranqueamento das cenas conforme a preferência dos participantes.
RESULTADOS
A população considerada para esta pesquisa foi de pessoas acima de 18 anos, contando
com 56 participantes (Figura 3). Desses, a maioria era do gênero feminino (85,7% dos
participantes), com poucas pessoas do gênero masculino (14,3% dos participantes). Entre as
pessoas que responderam, 50% tinham entre 19 e 29 anos; 35,7% tinham entre 30 e 39 anos;
5,4% tinham entre 40 e 49 anos; e 8,9% tinham entre 50 e 59 anos.
Figura 3 Perfil demográfico dos participantes da pesquisa.
Fonte: Os autores (2022).
Uma vez finalizada a coleta de dados, as informações foram condensadas, a fim de se
distribuir as frequências relacionadas com a percepção do participante de reconhecer o CAT no
espaço urbano, nas seis cenas apresentadas (Tabela 1). Em função da Escala Likert de cinco
pontos disponibilizada no questionário, as respostas foram relacionadas com a medida em que
cada cena favorecia essa identificação nesse tipo de ambiente. Por fim, fez-se uma média
ponderada para verificar o peso das respostas, e assim, classificar o nível de identificação
percebido nas cenas utilizadas como elementos de estímulos.
Tabela 1 Organização dos dados coletados sobre a avaliação visual percebida nas nove cenas de CAT.
Fonte: Os autores (2022).
Dessa forma, a partir das informações coletadas, a cena que obteve maior escore foi a
X2Y1 (Figura 4), destacada em laranja na Tabela 1. Isso significa que a cena com maior
reconhecimento percebido pelos participantes foi o CAT Recife, da Praça de Boa Viagem, com
complexidade moderada e contraste baixo. Essa escolha corrobora com o que foi sugerido na
literatura revisada, de que a preferência se dá por níveis de complexidade médio e de contraste
baixo, ou seja, maior coerência. Percebe-se, ainda, que esse modelo de configuração facilita à
percepção do CAT (figura 4 à esquerda) pelos observadores participantes da pesquisa.
Figura 4 À esquerda, cena X2Y1 considerada mais reconhecível pelos participantes; à direita, cena X3Y2
considerada menos reconhecível pelos participantes.
Fonte: Google Street View, adaptado pelos autores (2022).
Em direção oposta, a cena X3Y2 (Figura 4 à direita) somou o menor valor, ou seja, os
participantes indicaram menor capacidade de identificação da construção como um Centro de
Atendimento ao Turista no espaço urbano, destacada em azul na Tabela 1. Esse edifício
também está localizado em Recife, no Jardim de Boa Viagem, sendo a cena classificada
como tendo complexidade máxima e contraste alto (extremo da classificação técnica realizada).
De acordo com os dados teóricos, os níveis de complexidade elevados reduzem a
preferência das pessoas abordadas, requerendo uma carga mental excessivamente maior para
compreender a cena. Nesse caso, a qualidade visual percebida na identificação de Centros de
Atendimento ao Turista no espaço urbano foi menor. A partir desse resultado, pode-se afirmar
que o contraste alto, ou seja, a coerência baixa, reduz a avaliação proposta aos participantes,
assim como sugere a teoria, na medida em que é previsto que a falta de coerência também
impossibilita o reconhecimento do CAT.
Figura 5 Cena X1Y1 considerada como tendo complexidade mínima e contraste mínimo pela classificação técnica
realizada.
Fonte: Google Street View, adaptado pelos autores (2022).
A cena X1Y1 (CAT de Olinda-PE) foi considerada como tendo complexidade mínima e
contraste mínimo pela classificação técnica realizada, e foi classificada como a segunda cena
menos preferida, tornando a qualidade visual percebida na identificação do CAT no espaço
urbano menor. Esse achado também corrobora com a revisão da literatura, de que, assim como
a complexidade máxima é preterida pelas pessoas, a complexidade mínima também o é, haja
vista que pode tornar a cena monótona e entediante. Apesar de ter contraste baixo, ou
coerência alta, a ausência de complexidade moderada fez com que essa cena (X1Y1) fosse
preterida pelos participantes na avaliação proposta.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conforme foi discorrido ao longo desse artigo, grande influência do ambiente na
experiência humana para a realização de suas atividades de natureza informacional. Assim, é
importante realizar projetos que favoreçam à orientação de turistas em espaços desconhecidos,
fornecendo as informações para o processo de tomada de decisão, visto que “planejar bem o
espaço é descobrir sem erro como é a realidade (nossa realidade, não outra), e ser capaz de
imaginar aquilo que devemos agregar-lhe, para que, sem que se perca seus atributos, adapte-
se a nossas necessidades” (BOULLÓN, 2002, p. 8).
Assim, na busca de prover dados empíricos sobre a qualidade visual percebida na
identificação de Centros de Atendimento ao Turista, a pesquisa aqui realizada teve seu objetivo
inicialmente traçado plenamente alcançado, cujos resultados serão aqui sintetizados.
A partir da pesquisa realizada, foi possível verificar e validar que, assim como na
literatura, nos resultados obtidos, a qualidade visual percebida na identificação de Centros de
Atendimento ao Turista é dada pela complexidade moderada e pelo contraste baixo, que
proporcionam coerência alta. Além disso, identificou-se que, mesmo com contraste baixo, a
cena com complexidade mínima, representou o oposto, segundo os respondentes da pesquisa.
Desse modo, deduz-se que a complexidade é mais relevante que o contraste para a
avaliação proposta, pois, apesar do contraste estar nos níveis considerados preferíveis, o fato
da complexidade estar no nível mínimo, a cena foi preterida em relação à qualidade visual
percebida na identificação do CAT no ambiente urbano.
Quando Cullen (1996) fala acerca do “conteúdo”, ele discorre sobre as estruturas e as
construções que compõem a cidade “a sua cor, textura, escala, o seu estilo, a sua natureza, a
sua personalidade e tudo o que a individualiza” (CULLEN, 1996, p.13). Essa individualização ou
identidade é o reconhecimento de algo único e particular, com significado e uma relação
perceptiva que o observador constrói com o local.
Dessa forma, a forma dos CAT presentes no estado de Pernambuco, ou até no Brasil,
independem de um padrão uniformizado. Cada um pode estar conectado à realidade onde está
inserido, considerando a cultura, a história e a paisagem em volta, “para facilitar tanto a sua
interpretação como a apresentação aos visitantes, a fim de que estes possam completar suas
experiências visuais da melhor forma possível” (BOULLÓN, 2002, p. 8). E, nessa perspectiva,
frente aos resultados obtidos, estimulam-se designers e arquitetos a projetarem espaços de
CAT com as características aqui apuradas como tendo mais qualidade visual percebida.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à CAPES, que viabilizou a realização desta pesquisa, bem como
aos voluntários respondentes, que concordaram em participar e contribuíram imensamente com
esta pesquisa.
REFERÊNCIAS
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Os Postos de Informações Turísticas de uma localidade são unidades de informação fundamentais para a cadeia do turismo. Este artigo apresenta um estudo exploratório que teve o objetivo de analisar as condições dos Postos de Informações Turísticas (PIT's) do município de Florianópolis/SC para garantir a qualidade do atendimento aos turistas. Após uma análise crítica dos PIT's do município, foram propostas algumas sugestões de melhoria que podem contribuir para a operacionalização dos objetivos estabelecidos pelas políticas públicas de informação ao turista.
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Facet Theory: basic notions. Facet Theory is a meta-theoretical approach to research. It offers a formal frame of reference for theory construction and hypothesis building, uses methods that require a minimum of statistical assumptions, and interrelates research design, data collection and statistical analysis systematically. In this article, the basic components of Facet Theory are outlined, the application of Similarity Structure Analysis, a method frequently used in the context of Facet Theory, is illustrated, and the different roles that facets are likely to play in multidimensional analysis are sketched out. This is accomplished by using examples from motivational and values research, as well as studies on fear of crime.
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Planejamento do espaço turístico. 2
  • R Boullón
BOULLÓN, R. Planejamento do espaço turístico. 2. ed. Bauru, SP: Edusc, 2002.