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[dossiê]
comunicação, religião
e valores contemporâneos
Teologia da prosperidade 2.0: neoliberalismo, religião
e comunicação digital no Dunamis Movement
Prosperity theology 2.0: neoliberalism, religion
and digital communication in the Dunamis Movement
Teología de la prosperidad 2.0: neoliberalismo, religión
y comunicación digital en el Dunamis Movement
Emily Hozokawa Dias
Universidade de São Paulo | ehozokawa@usp.br
Richard Romancini
Universidade de São Paulo | richardromancini@usp.br
Submissão: 8 maio 2022
Aceite: 29 jul. 2022
Emily Hozokawa Dias | Richard Romancini
TEOLOGIA DA PROSPERIDADE 2.0: NEOLIBERALISMO, RELIGIÃO E COMUNICAÇÃO DIGITAL NO DUNAMIS MOVEMENT
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líbero ISSN 2525-3166 | ano 25 | n. 51 | maio/ago. 2022 | São Paulo, Brasil | p. 144-164
Resumo: O artigo discute a adoção da racionalidade neoliberal por movimentos evangélicos con-
servadores, reforçada a partir do uso da internet. O objeto de estudo é o Dunamis Movement, vol-
tado aos jovens, de grande repercussão nas redes sociais e que tem entre as suas principais pautas
a ocupação das esferas da comunicação, da mídia e da política como campos missionários. A meto-
dologia combina discussões teóricas e análises qualitativas de material publicado em plataformas
digitais. Entre os principais resultados do estudo está a constatação de que, no contexto da associ-
ação entre neoliberalismo e evangélicos nos dias de hoje, há uma atualização na teologia da prospe-
ridade, que adquire novos contornos, no que chamamos de “teologia da prosperidade 2.0”. Observa-
se, também, que a comunicação digital dos líderes difere da que é feita pelo movimento e que este
possui uma preocupação de construir mensagens com linguagem acessível, de tom leve, que dialo-
guem com os jovens.
Palavras-chave: Dunamis Movement; neoliberalismo; religião; comunicação digital; movimentos
evangélicos conservadores.
Abstract: The article discusses the adoption of neoliberal rationality by conservative evangelical
movements, reinforced through the use of the internet. The object of study is the Dunamis Move-
ment, aimed at young people, with significant impact on social networks and which has among its
main agendas the occupation of the spheres of communication, media and politics as missionary
fields. The methodology combines theoretical discussions and qualitative analysis of material pub-
lished on digital platforms. Among the main results of the study is the observation that, in the
context of the association between neoliberalism and evangelicals today, there is an update in pros-
perity theology, which acquires new contours, in what we call “prosperity theology 2.0.” It was
also observed that the digital communication of the leaders differs from that of the movement, and
that the movement is concerned with building messages with accessible language, with a light tone,
that dialog with young people.
Keywords: Dunamis Movement; neoliberalism; religion; digital communication; conservative
evangelical movements.
Resumen: El artículo analiza la adopción de la racionalidad neoliberal por parte de los movimientos
cristianos conservadores, reforzada por el uso de internet. El objeto de estudio es el Dunamis Mo-
vement, dirigido a los jóvenes, con gran repercusión en las redes sociales y que tiene entre sus
principales agendas la ocupación de las esferas de la comunicación, los medios y la política como
campos misioneros. La metodología combina debates teóricos y análisis cualitativos de material
publicado en plataformas digitales. Entre los principales resultados del estudio se encuentra la
constatación de que, en el contexto de la asociación entre el neoliberalismo y los cristianos de hoy,
se produce una actualización de la teología de la prosperidad, que adquiere nuevos contornos, en lo
que llamamos “teología de la prosperidad 2.0”. También se observa que la comunicación digital de
los líderes difiere de la del movimiento y que éste se preocupa por construir mensajes con un len-
guaje accesible, con un tono ligero, que dialogue con los jóvenes.
Palabras clave: Dunamis Movement; neoliberalismo; religión; comunicación digital; movimientos
cristianos conservadores.
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Introdução
De acordo com alguns diagnósticos clássicos sobre a secularização, o avanço da ci-
ência e da razão poderia enfraquecer a religião, que, por sua vez, perderia adeptos, influên-
cia social e política, assim como a ingerência moral e psíquica sobre os indivíduos (SEMÁN,
2018). Entretanto, o cenário atual não confirma plenamente essa tese, pois, como observa
Hervieu-Léger (2001, p. 161, tradução nossa), ainda que possa ocorrer perda de prestígio
das instituições religiosas, dependendo dos contextos geográficos, o interesse individual
pelo espiritual e pelo religioso não sofreu declínio nas sociedades de maneira geral: “Para-
doxalmente, as sociedades modernas, confrontadas com as incertezas derivadas da rapidez
das mudanças tecnológicas, sociais e culturais, são sociedades onde a crença prolifera”.
Além da proliferação da fé, há mudanças nos modos como ela é vivida. Assim, no
Brasil, houve um aumento expressivo dos fiéis evangélicos, que passaram de 5,2%, em
1970, para 22,2% da população, em 2010, somando mais de 42,3 milhões de pessoas, se-
gundo o censo de 2010 (CENSO 2010…, 2012). Conforme projeções, os evangélicos serão
a maioria religiosa no país na terceira década deste século (Gráfico 1).
Gráfico 1. Projeção sobre transição religiosa no Brasil em 2032
Fonte: Alves (2018), a partir de dados do IBGE (de 1940 a 2010 com projeções para 2022 e 2032).
Concomitante a esse crescimento, houve um salto do segmento religioso nas esferas
político-institucionais, como no Congresso, que passou de 21 deputados federais evangé-
licos, em 1994, para 105 deputados e 15 senadores, em 2020, o que equivale a 20% do
quadro (VEJA QUAIS…, 2020). Esse número se torna mais relevante quando se analisa
o fortalecimento da chamada “Bancada BBB”, cujas letras se referem a bala (armamentista),
boi (ruralista) e Bíblia (religiosa). Em termos políticos, a conjunção desses grupos tem
95 93,5 93 91,8 89 83,3
73,9
64,6
49,9
38,6
2,7 3,6 45,2 6,6 915,4 22,2 31,8
39,8
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020 2030
Católicos Evangélicos
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importância, também, ao ter adensado o heterodoxo golpe de 2018, com discursos em de-
fesa da “família tradicional” e dos valores cristãos, contra a “ideologia de gênero”, entre
outros temas de contraposição a políticas progressistas. Além disso, conforme Lapper
(2021), esses grupos foram a base de apoio da aliança conservadora para o qual convergi-
ram a candidatura e, hoje, o governo de Jair Bolsonaro. A análise demográfica do voto nas
eleições de 2018, feita por Nicolau (2020), demonstra a importância do voto evangélico
para a eleição do atual presidente.
Igrejas e religiões não são monolíticas em suas diferentes expressões institucionais
e no tempo, em relação a suas opções políticas – por exemplo, parte expressiva das igrejas
evangélicas apoiou os governos de Lula e o primeiro mandato de Dilma (CUNHA, 2019).
Por isso, cabe ressaltar que chamamos de evangélica uma religião plural, na qual existe
uma diversidade de grupos, inclusive aqueles que atuam em prol da democracia e dos di-
reitos humanos, com movimentos evangélicos antirracistas, feministas e LGBTQIA+.
No entanto, neste artigo, iremos nos debruçar sobre um movimento evangélico con-
servador pouco investigado, chamado Dunamis Movement, a fim de analisar as intercor-
rências entre a racionalidade neoliberal e o conservadorismo político-religioso, especifica-
mente evangélico. Há, nessa iniciativa, uma atualização da teologia da prosperidade, com
forte uso da mídia digital, que, como veremos, ganha relevância nas negociações políticas
em um novo cenário da comunicação religiosa.
É possível falar em “atualização” da teologia da prosperidade visto que, há mais de
um quarto de século, Freston (1994) notou a forte convergência entre essa então ascen-
dente teologia e o neoliberalismo, com sua ênfase no empreendedorismo e na responsabi-
lidade individual, em muitas igrejas evangélicas brasileiras.
Em termos mais atuais, emerge, em vários continentes, segundo Cowan (2021, p. 2,
tradução nossa), “uma série variada de conservadorismos etnocêntricos, [com] curiosas
misturas de neoliberalismo e nacionalismo econômico e anseios antidemocráticos”. No
caso do Brasil, há a aliança entre conservadores e neoliberais no atual Governo Federal,
cabendo aos primeiros a agenda administrativa e social, voltada a temas morais (com dis-
cursos anticomunistas, antiaborto e pró-armamento, por exemplo), e aos segundos, a ges-
tão econômica.
Ao mesmo tempo, a observação de Wink (2021) de que existe, historicamente, uma
forte associação entre a política e o pensamento da direita e a esfera religiosa no Brasil –
com uma divisão de papeis, na atualidade, entre evangélicos, que mobilizam eleitores, e
católicos que buscam influenciar a elite – evidencia o terreno mais amplo no qual se situa
a discussão. Nesse contexto, é importante destacar que a ocupação do espaço político ins-
titucional por parte dos religiosos está inserida em um Estado democrático, no qual a re-
presentação popular é fundamental. Entretanto, o que a conjuntura política brasileira
apresenta são diversos gestores públicos que tomam decisões baseadas na fé, em desacordo
com o precoce decreto republicano sobre a laicização do Estado, que determina que ne-
nhuma autoridade federal deve tomar decisões públicas por motivo de crenças ou opiniões
religiosas (BRASIL, 1890).
Segundo Pierucci (1999), a separação Estado-Igreja, que garantiu a liberdade de culto
e associações religiosas à população, criou um mercado religioso de livre concorrência, no
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qual os profissionais religiosos também ganharam liberdade para conquistar fiéis. Diante
dessa dinamização de mercado, muitas igrejas adotaram posturas empresariais e inovaram
suas ofertas de serviços “mágicos”, tornando-os mais palpáveis e adaptados a necessidades
imediatas. Com isso, as religiões mais tradicionais e com maiores dificuldades de mobili-
zação, entre as quais a Igreja Católica, tiveram uma queda em relação aos adeptos, em
contraste com as igrejas evangélicas.
Neoliberalismo e religiosidade midiática: Dunamis Movement
A relação entre o neoliberalismo e a religiosidade, há muito apontada, se fortalece e
adquire novas facetas a partir das inovações efetuadas pelas igrejas evangélicas, sobretudo
no âmbito midiático, para mobilizarem e se comunicarem com seus fiéis. Os líderes evan-
gélicos fizeram grandes investimentos para serem detentores de meios de comunicação
próprios, como emissoras de rádio e televisão (ROMANCINI, 2018), além de ocuparem,
atualmente, um espaço importante nas redes sociais.
Essas práticas sociais favoreceram o crescimento de estudos e pesquisas sobre a re-
lação entre mídia e religião, num movimento que foi das pesquisas sobre efeitos das trans-
missões dos religiosos para “uma abordagem compreensiva, que procura entender os tipos
de experiências e sentidos que se constroem nas articulações do religioso com o midiático”
(SOUSA, 2021, p. 284). Foram gerados, então, diferentes conceitos para tentar esclarecer
um fenômeno em mutação.
Campos (2008) relaciona a voracidade de apropriação de mídias às missões de evan-
gelização, mas também à possível percepção dos líderes dessas igrejas sobre uma socie-
dade individualista e competitiva, características encontradas na racionalidade neoliberal.
Cunha (2009, online), por sua vez, destaca a consolidação de uma cultura religiosa que
tem na mídia um dos seus aspectos centrais, indo além da dimensão evangelizadora, e
propõe a noção de “religiosidade midiática”, que procura sintetizar
o processo de midiatização da religiosidade (ou prática religiosa individual
ou coletiva) [...], um processo de produção de significados por meio do
qual cristãos têm buscado se compreender, se comunicar e se transformar,
a partir das novas tecnologias e dos meios de produção e transmissão de
informação.
Esse processo é abrangente, contempla diferentes instâncias da relação entre mídia e
religião, incluindo a produção de mensagens para mídias digitais. A fim de discutir as afini-
dades entre canais evangélicos conservadores em plataformas digitais, política e racionali-
dade neoliberal é que nos voltaremos às publicações do Dunamis Movement
1
, dedicado ao
público jovem e que desenvolve trabalhos de missões evangelizadoras dentro e fora do país.
O movimento em questão foi selecionado para estudo devido à sua popularidade nas
mídias sociais e ao forte uso do ambiente digital (Figura 1), por sua aproximação com a
1
Como explica o site da iniciativa, Dunamis é uma palavra de origem grega que remete ao poder do Evangelho,
relacionando dinamite e dinâmica. Em At 4,33, lê-se: “Com grande poder (dunamis) os apóstolos continuavam
a testificar da ressurreição do Senhor Jesus e grande favor estava sobre eles”.
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política institucional e, especialmente, por suas consonâncias com a racionalidade neolibe-
ral, discutidas no decorrer do texto.
Figura 1. Presença digital do Dunamis Movement
Fonte: Elaboração dos autores. Dados obtidos em: 30 abr. 2022.
O Dunamis caracteriza-se como um ministério evangélico paraeclesiástico – ou seja,
não se reconhece como igreja – voltado para o público jovem dos desigrejados, um fenô-
meno em expansão no país, que corresponde aos “que experimentam da fé correlata à evan-
gélica sem, todavia, fazer uso da instituição como local religioso, de e para práticas religio-
sas” (SANTOS, 2018, p. 46). Foi fundado no Brasil, em 2008, pelos pastores Téo Hayashi e
André Tanaka e pelo missionário Felippe Borges, tendo como meta “despertar uma geração
para que ela venha estabelecer a Cultura do Reino de Deus na Terra e assim transformar a
sociedade a sua volta”
2
. Os principais mecanismos de evangelização envolvem a atuação em
universidades e escolas, com a formação de grupos de oração e de estudos, e na internet,
com produção de conteúdo em redes sociais. Percebe-se, portanto, o papel relevante que as
mídias podem ter para os objetivos desse movimento, pelo cultivo de uma religiosidade que
independe da associação a um espaço diretamente associado ao universo religioso, como um
templo. Como se viu, isso seria uma das características da religiosidade midiática.
Conforme o que foi dito até o momento e pela própria opção do objeto empírico, o
artigo tem como indagação central o entendimento de como se dá, em termos propriamente
2
Informação contida no site do movimento. Disponível em: <https://bit.ly/3inqVaV>. Acesso em: 12 jul. 2021.
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midiáticos, a articulação entre religiosidade e neoliberalismo, num estudo de caso qualita-
tivo que destaca características da atuação e mensagens da organização religiosa citada.
Ao nos aproximarmos do projeto neoliberal, notamos outras convergências envol-
vendo a religião, que talvez possam nos ajudar a compreender esse fenômeno de cresci-
mento evangélico, inclusive nas esferas governamentais, e a chamada “onda conserva-
dora” (BURITY, 2020; COWAN, 2021; NICOLAU, 2020). Por isso, à continuação, des-
tacando a interdisciplinaridade do estudo, iremos efetuar uma discussão, a partir de revi-
são de literatura, sobre o neoliberalismo e sua racionalidade, na qual algumas caracterís-
ticas do Dunamis já são assinaladas.
Para além da economia: racionalidade neoliberal
Crises e choques (KLEIN, 2008) estão intimamente atrelados à doutrina do neolibe-
ralismo. Suas propostas surgem em meio a reflexões sobre os impasses do sistema capita-
lista, no chamado Colóquio Walter Lippmann, que ocorreu na França, em 1938. Essa reu-
nião de intelectuais e pessoas influentes da época formaria as bases da Sociedade Mont Pèle-
rin, fundada em 1947, contando com a participação, entre outros, de Michael Polanyi,
Ludwig von Mises, Milton Friedman e Friedrich Hayek. Este último é autor desta frase:
Eu diria que, enquanto instituição de longo termo, sou totalmente contra
ditaduras. Mas uma ditadura pode ser um sistema necessário durante um
período de transição. Às vezes, é necessário para um país ter, durante certo
tempo, uma forma de poder ditatorial. Como vocês sabem, é possível para
um ditador governar de maneira liberal. E é possível que uma democracia
governe com uma falta total de liberalismo. Pessoalmente, prefiro um di-
tador liberal a um governo democrático sem liberalismo (HAYEK apud
SAFATLE, 2019, online).
Nessa fala de Hayek, que remete à experiência neoliberal na ditadura de Augusto Pi-
nochet no Chile, em entrevista dada ao jornal chileno El Mercurio, em 1981, vemos que o
projeto neoliberal não corresponde somente a uma política econômica de desregulamentação
estatal visando a maiores lucros do capital financeiro, com desmonte do Estado social e ul-
traconcentração de renda. O que se tem aqui são maneiras de agir e pensar o mundo que
transbordam as barreiras de um sistema econômico. Nesse caso, vemos claramente os vín-
culos entre autoritarismo e neoliberalismo com a escolha do (neo)liberalismo pela ditadura.
Dardot e Laval (2016, p. 17) revelam o neoliberalismo como uma racionalidade, um
sistema normativo que opera empregando a lógica do capital em todas as esferas da vida.
Esse mecanismo de conduta teria como maior característica a “generalização da concor-
rência como norma de conduta e da empresa como modelo de subjetivação”.
O ponto de partida dessa discussão é o conceito de “racionalidade política” de Fou-
cault (2008, p. 311), que se aprofunda na governamentalidade de alguns sistemas econô-
micos, encontrando tipos de racionalidades na forma com a qual um governo administra a
conduta de seus governados. E, ao se debruçar sobre o neoliberalismo, encontra o “empre-
sário de si”, que seria “ele próprio seu capital, sendo para si mesmo seu produtor, sendo para
si mesmo a fonte de [sua] renda”. Dardot e Laval (2016) ressaltam assim que a imposição
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de conduta, de modo de agir no mundo, não é mais colocada apenas pelo Estado ou por
outras instituições, mas agora torna-se internalizada pelo próprio indivíduo, em uma racio-
nalização do que lhe é mais íntimo, do seu próprio desejo. Desse modo, a administração
pública fomenta a livre concorrência entre os sujeitos, sendo esses responsáveis pelo sucesso
ou fracasso em suas vidas, enquanto os investimentos e proteções como educação, moradia
e saúde têm sua responsabilidade transferida da ordem do governamental para o pessoal.
Os autores ainda fazem uma comparação entre a ética do trabalho apresentada por
Weber (2008), em A ética protestante e o “espírito” do capitalismo, e a empregada no neolibe-
ralismo. Se, anteriormente, o protestantismo foi marcado por uma ética na qual o sucesso
no trabalho era um sinal divino de ser escolhido para habitar o reino dos céus, agora esse
gozo se daria “em terra” e só seria alcançado se a condição de assalariado passivo fosse
deixada para trás e substituída pelo empreendedor ativo, ou seja, pela empresa de si
(DARDOT; LAVAL, 2016, p. 334).
Esse empreendedor neoliberal pode ser encontrado também na “teologia da pros-
peridade”, um dos principais pilares da cosmovisão neopentecostal, que “prega a realiza-
ção das bênçãos de Deus na vida de fiéis por meio de conquistas de bens materiais” (CU-
NHA, 2016, p. 6). Mas essa relação entre neoliberalismo e evangélicos parece se acentuar
hoje, adquirindo novos contornos e sentidos, particularmente em termos da junção entre
conservadorismo moral e religioso e “salvação” pela crença no mérito e no esforço indivi-
dual que se torna programa de ação individual e político. Ao mesmo tempo, conteúdos e
discursos desse tipo encontram na comunicação digital forte meio de propagação, dando
forma ao que chamamos de “teologia da prosperidade 2.0”.
Essa lógica, vale destacar, corresponde às diretrizes de vários movimentos evangé-
licos, entre os quais o Dunamis, que propõe a racionalidade do “faça você mesmo”, do
crescimento pessoal e espiritual “aqui e agora” e da ocupação de cargos políticos como
modalidade de prática religiosa, com a chamada “teologia do domínio”. Esses vínculos
também envolvem a adoção de estratégias de marketing empresarial contemporâneas, de
forma a produzir uma enorme quantidade de peças publicitárias para as plataformas digi-
tais, com estéticas que correspondem ao público de destino, fazendo com que o fiel se sinta
único e fora dos padrões estéticos empregados de maneira preconceituosa aos cristãos.
O movimento é menos restrito quanto a roupas, tatuagens e piercings, por exem-
plo, sendo isso mais uma atração aos jovens que não se sentem acolhidos nas igrejas tra-
dicionais. Aqui, há aproximações com a estética da cultura popular massiva que encon-
tram ressonância na chamada religiosidade midiática, uma vez que se observa a mescla do
mundano com o sagrado. Além disso, há aplicação de técnicas de coaching no Dunamis,
correspondendo ao que Pierucci (1999) já havia apontado sobre a atualização das religiões
com táticas de arrebanhar fiéis em meio à livre concorrência no mercado místico.
Na Figura 2, vemos, como exemplo, o Programa de Aceleração Pessoal (GPA), um
treinamento de coaching oferecido pelos instrutores do Dunamis Movement, encontrado
no site da Escola Dunamis, que oferece cursos a distância. Entre os aspectos que destaca-
mos está o aprimoramento de “desenvolvimento pessoal e crescimento espiritual”, que mos-
tra a união entre o espiritual e o empresarial de si, de maneira a aproximar questões esoté-
ricas (com promessas de resultado mediante a desafios cumpridos pelo aluno) a técnicas de
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coaching, que teriam “como objetivo fortalecer o eu, adaptá-lo melhor a realidade, torná-
lo mais operacional em situações difíceis” (DARDOT; LAVAL, 2016, p. 339).
Figura 2. Treinamento de coaching oferecido pelo Dunamis Movement
Fonte: Reprodução. Escola Dunamis.
Disponível em: <https://bit.ly/3Fj7xVJ>. Acesso em: 12 jul. 2021.
Já o curso principal da escola tem como objetivo a formação de líderes, alinhando a
vida dos participantes a perspectivas divinas. Entre os resultados oferecidos pelo curso,
estão: “aumentar a sua influência e liderança pessoal”, “se manter constante”, “ter clareza
para cumprir o seu propósito”, “alcançar seu next level”, “viver o Dunamis Lifestyle”, entre
outros. Aqui, também notamos elementos relacionados ao procedimento de Programação
Neurolinguística (PNL), que tem como chave para obtenção de sucesso o aprimoramento
da comunicação de si e da comunicação com os outros. Os problemas que o indivíduo
possui não são solucionados devido às suas falhas de comunicação, ou seja, os problemas
do sujeito são individuais, assim como as resoluções. Além disso, aprendendo tais técnicas,
a comunicação no trabalho de evangelização iria melhorar, gerando assim um ciclo de
prosperidade com aumento em desempenho pessoal e institucional. No próximo tópico,
veremos, com mais detalhes, características desse movimento e dos conteúdos inseridos
em suas mídias digitais, bem como seus vínculos neoliberais.
Dunamis Movement, plataformas digitais e neoliberalismo
Como já colocado, o Dunamis atua em universidades e escolas e na internet, com
produção de conteúdos em redes sociais digitais. Nesses espaços, os líderes do movimento
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transmitem o Dunamis Lifestyle, difundindo, de modo irreverente, condutas para “viver
em Cristo” – como na transmissão de mensagens de cunho moral sobre o “feminismo e seu
incentivo à sexualização infantil”, em vídeo do YouTube
3
–, até estéticas, com o uso de
vestimentas “descoladas” da marca Dunamis, vendidas na Dunamis Store
4
. Digno de nota,
aliás, é a frequência com que palavras em inglês, desde o título dessa organização, entram
no vocabulário corrente das mensagens: store, freestyle (Figura 3), friday night, sold out, entre
outras. Isso é uma provável estratégia para elaborar um discurso “jovem”, mas, também –
quando se sabe que o Dunamis oferece formações, em vários países, bilíngues ou total-
mente em inglês (SILVA, 2020, p. 31) –, pode estar ligado a uma vocação internacionalista
do ministério.
Figura 3. Publicação no Instagram sobre o Dunamis Lifestyle (7 jun. 2021)
Fonte: Reprodução. Instagram @dunamismovement.
Disponível em: <https://bit.ly/3vZrsD5>. Acesso em: 30 abr. 2022.
Diante do abandono social e da falta de identificação de muitos jovens com as igrejas
tradicionais – além do contexto recente da pandemia –, é possível argumentar que, dentro
de casa, a internet é um meio para um acolhimento religioso. Para Martín-Barbero (2009,
p. 152), “as pessoas estão cada vez mais isoladas, mais sozinhas, também nos países latinos,
e os meios começam a ter uma importância enorme em termos do que chamamos de ‘cul-
tura a domicílio’”, o que abre espaço para formas alternativas de espiritualidade nas mídias.
Operando na lógica do neoliberalismo e de como as mídias podem modificar aspectos
3
No vídeo Feminismo x Cristianismo, representantes do movimento falam sobre como o feminismo é contra os
cristãos e, especialmente, contra as mulheres cristãs. Disponível em: <https://bit.ly/3MCqIum>. Acesso em:
30 abr. 2022.
4
Como indica a Figura 1, Dunamis Store é um site de venda de produtos religiosos, incluindo roupas e aces-
sórios, que pode ser acessado a partir do site principal do Dunamis Movement ou de forma independente.
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culturais, a internet talvez contribua com uma experiência da fé transformada, em que o
sofrimento é responsabilidade individual, assim como a felicidade, que pode ser encontrada
rapidamente em vídeos do YouTube, em podcasts ou em programas de TV e de rádio.
Se o evangelismo histórico e o pentecostalismo das primeiras gerações
adotavam a paixão de Cristo como uma narrativa-mestre, a terceira onda
5
reverte a função política e moral do sofrimento. De agora em diante, o
sofrimento liga-se com fracasso, com falta de fé e com incerteza na enun-
ciação do próprio desejo no quadro da confissão positiva. “Pare de Sofrer”,
procure o “Pronto-Socorro Espiritual 24 horas”, os programas de rádio ou
televisivos disponíveis (DUNKER et al., 2020, p. 239-240).
Nessa nova gramática conectada à lógica neoliberal, a salvação coletiva é substituída
pela individual e pelo “neopentecostalismo de resultados” (DUNKER et al., 2020, p. 239),
no qual nenhum sacrifício é feito sem perspectiva de retorno em vida, ou seja, os resultados
não serão mais obtidos em um futuro remoto do pós-morte. Essa resposta imediata é um
alento para aqueles que são mais excluídos socialmente na lógica neoliberal, sendo uma
resposta à precariedade na qual estão colocados. Segundo Gonsalves, Dunker e Estevão
(2021, p. 49, tradução nossa), trata-se de uma
religiosidade que se espraia pelo Brasil de modo sincrônico com absorção
e reação ao neoliberalismo, ou seja, notadamente a partir dos anos 1990 e
com estreita ligação com as classes e os territórios nos quais o Estado se
demitiu, estimulando uma espécie de livre-iniciativa projetada no deserto
do capital e na precariedade das formas de vida.
Conforme aponta Miklos (2010), líderes de diversas religiões enxergam os canais
de comunicação eletrônicos, em especial os interativos, como locais importantes para o
cotidiano dos fiéis, no qual possam encontrar conforto quando estão longe das igrejas, o
que de alguma forma emularia o convívio social. Entretanto, cabe ressaltar outro interesse:
o de compreender os canais religiosos eletrônicos como poderosos veículos de comunica-
ção de massa, os quais concentram grande número de fiéis seguidores, tornam-se interes-
santes econômica e politicamente.
Nota-se que o Dunamis Movement reconhece essa importância dos meios, oferecendo
conforto a seus seguidores, com posts de pregação nas redes sociais. Na Figura 4, por exem-
plo, vemos uma pregação feita no TikTok – rede conhecida por seus vídeos curtos –, durante
a pandemia de Covid-19, para a “quebra do espírito” da depressão e dos pensamentos suici-
das. No caso ilustrado, o vídeo, apesar da temática complexa, possui apenas 21 segundos de
duração. Além disso, o ministério reconhece sua dimensão nas plataformas digitais, uma
vez que reforça, em diversos conteúdos publicados, a relevância das redes sociais e a quan-
tidade de visualizações e seguidores que possui (Figura 5).
5
Para os autores, a terceira onda de avanço do pentecostalismo no Brasil é neopentecostal. Esta teve início
em 1977, com a fundação da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), no Rio de Janeiro, e tem como
características o neopentecostalismo de resultados e a teologia da prosperidade.
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Figura 4. Publicação no TikTok com pregação de cura de depressão e de pensamentos suicidas (21 abr. 2021)
Fonte: Reprodução. TikTok @dunamismovement.
Disponível em: <https://bit.ly/3yiHPxw>. Acesso em: 1 maio 2022.
Figura 5. Publicação no Instagram sobre a marca de 500 milhões de visualizações no YouTube (6 dez. 2021)
Fonte: Reprodução. Instagram @dunamismovement.
Disponível em: <https://bit.ly/384jkJL>. Acesso em: 3 maio 2022.
O ministério religioso faz parte de uma iniciativa maior chamada The Send, que
reúne diversos ministérios pelo mundo, a maioria deles nos Estados Unidos, que tem como
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missão a “reevangelização da América”. Além do Dunamis, estão “colaboradores” como
Circuit Riders, Jesus Image, Lifestyle Christianity, Youth With A Mission e Jovens Com
Uma Missão (JOCUM), que têm em seu histórico diversos confrontos com a Fundação
Nacional do Índio (Funai), em função de seu trabalho de evangelização dos povos indíge-
nas (MOVIMENTO…, 2020).
O The Send tem origem no projeto The Call Ministries, fundado pelo evangelista
estadunidense Lou Engle, que é identificado pelo jornal Daily Kos como “líder de oração
não oficial do Partido Republicano”. No início dos anos 2000, o líder religioso reunia mi-
lhares de jovens, também em estádios, em eventos chamados The Call, nos quais aconte-
ciam apresentações musicais, pregações e discursos políticos de moral conservadora. Os
eventos e as casas de oração de Engle se espalharam por diversos países. Em Uganda,
Engle defendeu, em um dos eventos, a lei, que estava em estudo no país, que previa prisão
perpétua ou pena de morte para gays e lésbicas com Aids que tivessem relações sexuais
6
.
Tendo como principal organizador o Dunamis Movement, em fevereiro de 2020
aconteceu o primeiro The Send Brasil, pouco antes da pandemia da Covid-19, e reuniu
cerca de 170 mil pessoas simultaneamente nos estádios Morumbi e Arena Allianz Parque,
em São Paulo, e Mané Garrincha, em Brasília (THE SEND BRASIL…, 2020). Além de
mais de 2 milhões de internautas, que acompanharam o evento ao vivo pelo YouTube. Os
ingressos foram vendidos por valores de 29 a 49 reais, possibilitando a presença de jovens
de classes sociais menos abastadas, que correspondem à grande maioria dos brasileiros
que se declaram evangélicos
7
.
Segundo Campos (2008), as mudanças em relação aos meios de comunicação teriam
alterado também as práticas dos cultos religiosos, sendo essa uma dimensão da religiosi-
dade midiática. Se, antes, o protestantismo histórico era a “religião do livro” e mais racio-
nal, o neopentecostalismo seria mais emocional e relacionado à mídia eletrônica. De acordo
com Castells (2018, p. 26),
nesse mundo, as mensagens midiáticas que formam opinião devem ser ex-
tremamente simples. Sua elaboração é posterior ao seu impacto. A mensa-
gem mais impactante é uma imagem. E a imagem mais sintética é um rosto
humano, no qual nos projetamos a partir de uma relação de identificação
que gera confiança. Porque, como sabemos, aprendendo da neurociência
mais avançada, a política é fundamentalmente emocional, por mais que isso
pese aos racionalistas ancorados em um Iluminismo que há tempos perdeu
seu brilho.
O autor se refere, de modo mais direto, aos discursos políticos. No entanto, o que
diz se encaixa de maneira significativa em práticas comunicativas como as mostradas até
6
Essas informações foram verificadas pelo Coletivo Bereia, que faz parte da Rede Nacional de Combate à
Desinformação (DINIZ; FARIAS; CAMPOS, 2020).
7
Segundo pesquisa do Instituto Datafolha, realizada em 2020, o perfil dos evangélicos é de maioria feminina
(58%), parda (43%) e com renda de até dois salários-mínimos (48%) (BALLOUSSIER, 2020).
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aqui. Isso indica uma aproximação ou moldagem da lógica midiática a diferentes esferas
sociais, como defendem os teóricos da midiatização.
O The Send Brasil 2020 contou com a presença da ministra da Mulher, da Família
e dos Direitos Humanos, Damares Alves, e do presidente da República, Jair Bolsonaro.
Ambos falaram sobre a luta que as igrejas devem travar contra a violência em relação a
mulheres e crianças e sobre a temência a Deus na conduta de uma política honesta. Para
finalizar, o presidente ainda trouxe o slogan “Brasil acima de tudo e Deus acima de todos”,
sendo fervorosamente ovacionado pelo público
8
.
Implicações e omissões das mensagens
do Dunamis Movement e de seus líderes
Segundo Brown (2019, p. 17), a ascensão de políticos nacionalistas autoritários e de
valores religiosos conservadores poderia ter origem na “raiva instrumentalizada dos indi-
víduos abandonados economicamente e ressentidos racialmente, mas também delineada
por mais de três décadas de assaltos neoliberais à democracia, à igualdade e à sociedade”.
Na construção de seus argumentos, a filósofa faz referência à Genealogia da moral, de Ni-
etzsche, segundo quem a moralidade judaico-cristã teria em sua fundação afetos como o
ressentimento, o rancor e a vingança, uma vez que nasceu dos que sofriam em um sistema
de valores que valorizava “a força, o poder e a ação”.
Essa mágoa destrutiva seria traduzida hoje pelo homem branco que sentiria raiva
pelo destronamento de seus valores, que teriam sido dominantes até então, mas também
por ter sido abandonado economicamente. Brown (2019) faz uma análise do governo do
presidente estadunidense Donald Trump, na qual avalia que cristãos brancos moradores
das periferias urbanas e das zonas rurais dos Estados Unidos foram excluídos social e
economicamente, e os sentimentos de abandono e traição teriam sido manipulados pelas
direitas conservadoras para um sentimento de ódio e vingança. Ódio contra “minorias”,
como negros, mulheres e imigrantes.
Esse (res)sentimento foi alimentado pelo novo populismo de extrema-direita, e a
narrativa vendida foi a de recuperar os valores familiares e cristãos perdidos, assim como
tomar os empregos dos imigrantes parasitas do território dos Estados Unidos. Se compa-
rarmos com o Brasil, é possível observar o mesmo rancor em relação às “minorias”, tradu-
zido comumente em violência e fomentado institucionalmente.
Em agosto de 2020, a ministra Damares Alves criticou, em suas redes sociais, o caso
de uma menina de dez anos que, violentada pelo tio, iria realizar o aborto. A família da
menina foi assediada moralmente por evangélicos conservadores e teve dificuldades para
realizar o procedimento – o médico responsável foi chamado de assassino por manifestan-
tes religiosos que ficaram em vigília no hospital.
Esse tipo de posicionamento, de uma ministra que se coloca contra a lei, é entendido
por muitos como liberdade de expressão religiosa, uma vez que Damares teria expressado
sua opinião em uma rede social pessoal. A mesma estratégia é empregada pelos líderes do
Dunamis Movement. Declarações “mais polêmicas”, como aquelas contra o aborto, contra
8
O vídeo com o discurso de Bolsonaro está disponível em: <https://bit.ly/38KjlSJ>. Acesso em: 16 out. 2021.
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o casamento homossexual e pedindo intervenção militar, entre outras, são inseridas, em
sua maioria, nas redes sociais pessoais desses líderes, mas não na página oficial do grupo.
Henrique Krigner, um dos líderes do movimento, se candidatou em 2020 à vereança
da cidade de São Paulo pelo Partido Progressista (PP) e obteve mais de 16 mil votos nessa
primeira tentativa, não sendo eleito devido ao quociente eleitoral. Ao observar as publica-
ções sobre a candidatura, nas quais defendia questões morais conservadoras, notamos que
isso se dava de maneira intensa nos perfis pessoais nas redes sociais dos integrantes do
ministério, mas não de modo direto nos perfis do Dunamis. Uma interpretação possível é
a de não associar o ministério a instituições político-formais, como os partidos, com pos-
sível receio quanto a opiniões negativas e perda de seguidores. Seria, ainda, uma forma de
justificar as escolhas políticas feitas como liberdade de expressão de um membro, e não do
grupo (apesar de os líderes apoiarem a candidatura em publicações pessoais).
Figura 6. Publicação no Instagram de Henrique Krigner sobre demissão do jogador de vôlei Maurício Souza
por ter feito um post homofóbico nas redes sociais (28 out. 2021)
Fonte: Reprodução. Instagram @krigner.
Disponível em: <https://bit.ly/3sjlfRo>. Acesso em: 3 maio 2022.
Ao analisar um caso de homofobia, no qual um confeiteiro cristão se recusou a fazer
um bolo para um casamento homossexual, Brown (2019) acompanha o andamento do caso
jurídico e verifica que a defesa do acusado tenta argumentar por meio da defesa da “liber-
dade de expressão” – como vemos no argumento indignado de Krigner sobre a demissão
de um atleta (Figura 6) – e da “liberdade do exercício religioso”. A autora sinaliza que o
caso vai se afastando da proteção à prática religiosa e se aproximam da “proteção de dis-
senso político”, criando uma situação judicial na qual a liberdade de religião é usada
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criando um “palco de habilitação da discriminação, ou, na verdade, do cerceamento das leis
de igualdade” (BROWN, 2019, p. 172).
Cooper (2017, p. 302, tradução nossa) aponta que essa jurisprudência de “liberdade
religiosa” é também utilizada constitucionalmente para promover a relação entre Igreja e
Estado. A sociológica analisa diversos governos estadunidenses, como os de Ronald Rea-
gan, Bill Clinton, George W. Bush e Barack Obama, e observa em todos eles o movimento
de aproximação entre a direita cristã e o Estado, no qual organizações religiosas solidifi-
cam sua presença na política adentrando com investimentos no campo do bem-estar social.
Desta maneira, expandem suas liberdades institucionais e impõem valores morais,
como em um caso, durante o governo de Reagan, no qual a ala religiosa se sentia vitoriosa
com a eleição de um presidente que correspondia aos pedidos das organizações cristãs,
que, por sua vez, tinham poder institucional e pressionaram emendas a favor da limitação
de financiamentos públicos para abortos, assim como paralisou ações públicas federais que
auxiliavam pessoas com Aids.
Retomando Brown (2019, p. 198), esse mecanismo de alimentação de valores con-
servadores morais do neoliberalismo pode ser compreendido também com auxílio do con-
ceito de niilismo, de Nietzsche, para quem a era do niilismo não seria a era do fim dos valores,
mas sim o esvaziamento dos valores mais elevados, tais como as “virtudes cristãs junto
com a democracia, igualdade, verdade, razão e responsabilidade”, que não se perdem, mas
se instrumentalizam para fins políticos e comerciais, gerando mais niilismo. O niilismo da
sociedade contemporânea faria com que ela permitisse atitudes como as apresentadas por
Damares, assim como as falas mais absurdas feitas por Bolsonaro ou por Trump, ou, ainda,
destacando especificamente a dimensão comunicacional do fenômeno: as fake news.
De acordo com Pérez Guadalupe (2020), os entrelaçamentos entre o conservado-
rismo moral e religioso, o programa neoliberal e a política podem ser reconhecidos na
formação da teologia da prosperidade, atrelada ao Partido Republicano dos Estados Uni-
dos, nos anos 1980, e sua facção autodenominada “maioria moral”, que, nos anos 2010,
teria se articulado a movimentos de apoio à candidatura e ao governo de Donald Trump.
Antes disso, a teologia da prosperidade foi exportada para a América Latina.
Nessa importação, vieram também as igrejas eletrônicas, que surgem no Brasil na
década de 1980, com emissoras de rádio e televisão que, no Brasil, por serem concessões
públicas, têm na “outorga uma forte moeda de troca política” (MIKLOS, 2010, p. 32). En-
tretanto, com a atualização das mídias também foram alteradas as relações de poder dessas
trocas; uma vez que a posse dos meios não é mais do Estado, os próprios líderes religiosos
tornam seus canais nas redes sociais uma mercadoria com grande poder de barganha, de-
pendendo da intensidade de seu alcance. Ou seja, nesse novo momento comunicacional,
canais populares, ainda que de nicho, como os do Dunamis e os de seus líderes, tornam-se
espaços politicamente interessantes – em especial, para a política conservadora ideologi-
camente alinhada com o movimento.
Considerações finais
Este artigo buscou contribuir, sob um viés comunicacional, com a discussão a res-
peito do entrelaçamento de temas como o conservadorismo moral e político, a racionalidade
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neoliberal e a religião evangélica, analisando um movimento religioso conservador menos
conhecido e investigado, mas que é referido por Fonseca (2020) como um dos “novos pro-
tagonistas” no apoio ao governo de Jair Bolsonaro: o Dunamis Movement.
Destacamos a relevância de pesquisas científicas sobre esses “novos protagonistas”,
uma vez que a grande maioria dos estudos sobre organizações evangélicas se concentra
em grandes igrejas, como a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) e as Assembleias
de Deus. Essas igrejas possuem, de fato, relevância político-institucional no país; entre-
tanto, novos atores, como o Dunamis, vêm ganhando importância e se engajam politica-
mente, com ações sistemáticas merecedoras de análise e de crítica, particularmente,
quando trazem ameaça à democracia e aos direitos humanos (CUNHA, 2020).
Observamos, nas conexões interdisciplinares do artigo, um possível novo arranjo da
teologia da prosperidade, na qual a comunicação digital surge como peça central das rela-
ções de poder. Valeria a pena aprofundar a comparação entre a teologia da prosperidade
original e seu desenvolvimento, no que chamamos de “teologia da prosperidade 2.0”. Isso
não é feito aqui, por falta de espaço. Pode ser, contudo, apontado o atual reforço da indivi-
dualidade em oposição à congregação dos cultos em igrejas, de modo que as plataformas
digitais se consolidam como espaços de pregação cada vez mais fortalecidos e “personaliza-
dos”, o que é realçado no caso do movimento analisado por ser voltado ao público jovem.
Na perspectiva de Solano e Rocha (2022), em pesquisa sobre juventude na América
Latina e democracia, os jovens não se sentem representados por partidos políticos e fazem
diversos apontamentos de âmbito comunicacional – entre eles, sentem falta de conteúdos
relevantes e verídicos sobre educação política dentro e fora dos bancos escolares, além de
não ocuparem os espaços de produção da informação. As autoras entendem que a ocupação
dos meios é de grande importância para a formação de uma comunicação popular que faça
oposição aos movimentos pautados pelo conservadorismo político-religioso.
Nota-se que o Dunamis utiliza as principais redes sociais e faz uma ampla difusão
em cada uma delas com a criação de diversos perfis e se adequando a cada plataforma. Por
exemplo, no Instagram, o movimento possui contas específicas para cada ação, tais como
@dunamis.music, @dunamispocket, @escoladunamis, entre outras, além das contas em
espanhol, @movimientodunamis, e em inglês, @thedunamismovement. Nessa plataforma,
as imagens chamativas, com textos curtos de linguagem simples e divertida, atraem visu-
alizações e instigam o consumo por mais conteúdos desenvolvidos pelo grupo. Se no Ins-
tagram temos essa característica, no YouTube estão disponíveis vídeos com mensagens
mais elaboradas, mas também com linguagem acessível e direcionada ao público jovem,
com uso de gírias e de humor. Entender mais sobre os mecanismos de elaboração e a lin-
guagem dessas mensagens também é uma sugestão para estudos futuros.
As eleições de 2018 foram marcadas por uma ruptura com os moldes convencionais,
até aquele momento, de campanha e de comunicação política. O novo padrão elaborado
demanda uma significativa estrutura na internet – conforme movimentos como o Duna-
mis, que parece efetuar grande investimento em marketing para propagar sua ideologia
nas mídias sociais, têm compreendido. Esse entendimento também se dá por parte dos
grupos progressistas?
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Emily Hozokawa Dias
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Es-
cola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP).
Richard Romancini
Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Escola
de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP).