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ESTÁGIO EVOLUTIVO DA CONTABILIDADE GERENCIAL EM MICRO E
PEQUENAS EMPRESAS
EVOLUTIONARY STAGE OF MANAGEMENT ACCOUNTING IN MICRO AND
SMALL BUSINESSES
Silvana Dalmutt Kruger
1
Rodrigo Menegon
2
Claudia Dalla Porta
3
Antonio Zanin
4
RESUMO
O objetivo do estudo é identificar o estágio evolutivo da contabilidade gerencial das
micro e pequenas empresas do município de Chapecó (SC). A pesquisa utiliza o
questionário de Abdel-Kader e Luther (2008), para coleta das informações da amostra
de 27 empresas. Os resultados apontam que 05 empresas possuem características
do estágio 1; 09 do estágio 2, onde utilizam de gestão planejada baseada em análises
de dados; 11 empresas do estágio 3 com características voltadas para a redução dos
desperdícios de recursos e do uso de tecnologias na melhoria de processos; e 02
empresas do estágio 4, que inclusive, observou-se a idade e o faturamento maior em
relação as demais, como diferencial do uso de instrumentos de gestão caracterizados
como modernos. O estudo contribui para evidenciar as características predominantes
e as fragilidades das empresas quanto ao uso de práticas e instrumentos da
contabilidade gerencial, bem como evidencia que os instrumentos gerenciais estão
relacionados ao ramo de atividade, faturamento e número de funcionários das
empresas.
Palavras-chave: Instrumentos gerenciais; Estrutura da Contabilidade Gerencial;
Controle Gerencial.
ABSTRACT
The objective of the study is to identify the evolutionary stage of managerial accounting
of micro and small companies in the municipality of Chapecó (SC). The research uses
the questionnaire by Abdel-Kader and Luther (2008) to collect information from the
sample of 27 companies. The results indicate that 05 companies have characteristics
of stage 1; 09 of stage 2, where they use planned management based on data analysis;
1
Doutora em Contabilidade pela UFSC, professora do Curso de Ciências Contábeis da Universidade
Federal do Mato Grosso do Sul. Mato Grosso do Sul. Brasil. E-mail: silvana.d@ufms.br
2
Mestre em Ciências Contábeis e Administração (2020) pela Universidade Comunitária de Chapecó –
Unochapecó. Escriturário do Banco do Brasil. Santa Catarina. Brasil. E-mail:
rodrigomenegon@unochapeco.edu.br
3
Mestre em Ciências Contábeis e Administração pela Unochapecó. Santa Catarina. Brasil. E-mail:
claudia.porta@unochapeco.edu.br
4
Doutor em Engenharia de Produção pela UFRGS. Professor da Universidade Federal do Mato
Grosso do Sul. Mato Grosso do Sul. Brasil. E-mail: zanin.antonio@ufms.br
Estágio evolutivo da contabilidade gerencial em micro e pequenas empresas
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11 stage 3 companies with characteristics aimed at reducing waste of resources and
the use of technologies to improve processes; and 02 companies in stage 4, which
even observed age and higher revenue compared to the others, as a differential in the
use of management instruments characterized as modern. The study contributes to
highlight the predominant characteristics and weaknesses of companies regarding the
use of management accounting practices and instruments, as well as evidence that
managerial instruments are related to the branch of activity, billing and number of
employees of the companies.
Key words: Management accounting; Artifacts of management accounting;
Management control.
Artigo recebido em: 31/05/2022
Artigo aprovado em: 11/12/2022
Artigo publicado em: 16/12/2022
1 INTRODUÇÃO
O atual ambiente dos negócios exige das empresas estratégias voltadas ao
gerenciamento das informações e ao uso de recursos inteligentes. O uso de sistemas
de controle gerencial (SCG) auxilia no planejamento, organização e controle das
empresas, gerando informações em tempo hábil para o processo de tomada de
decisão (BAZZOTTI; GARCIA, 2006; BEUREN; ORO, 2014).
Toda empresa, independente do porte ou ramo de atividade, utiliza-se de
estratégias para alcançar seus objetivos e se manter competitiva. O planejamento
estratégico é uma das ferramentas para executar a gestão empresarial, que tem como
objetivo auxiliar nas tomadas de decisões frente ao ambiente interno e externo
(DALLABONA; NARDELLI; FERNANDES, 2019). O uso de estratégias é essencial
para que a empresa tenha visão crítica do futuro, analisando seu campo de atuação
sob a perspectiva dos seus clientes e concorrentes, buscando os resultados
desejados (FERNANDES, 2004; NISIYAMA; OYADOMARI, 2012; TRÊS et al., 2021).
As micro e pequenas empresas convivem com muitas incertezas em seus
primeiros anos de existência, e isso tem muita relação com a competência dos
proprietários, colaboradores e ao fator de restrição de financiamentos. Entre os
principais problemas que ocasionam o fechamento das micro e pequenas empresas
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estão a falta de capital de giro, a carga tributária elevada, os problemas financeiros, a
concorrência e a recessão econômica no país (FERREIRA et al., 2011).
Perufo e Godoy (2019), também evidenciam que a principal causa para a
mortalidade precoce das microempresas é a falta de planejamento estratégico,
enquanto os principais fatores relacionados ao encerramento das atividades, estão
relacionados ao baixo nível de inovação, centralização do poder, confusão com as
finanças entre pessoas física e jurídica e a dificuldade de conseguir acesso a crédito
por instituições financeiras.
Em contraponto à falta de informações, ao longo das últimas décadas, a
contabilidade e o uso dos SCG, com foco para a inovação, têm se tornado
instrumentos de apoio a gestão e ao planejamento estratégico (UTZIG; BEUREN,
2014; VERONEZE; KRUGER, 2021). Os SCG reúnem práticas de contabilidade
gerencial, fornecendo informações sobre custos e orçamentos, possibilitando a
análise criteriosa dos resultados e a construção de metas para a gestão do negócio.
O controle gerencial é composto por procedimentos usados na gestão e informações
da rotina da organização, e tem por finalidade dar o suporte necessário para o
planejamento, alinhamento dos objetivos, ações corretivas, e para os feedbacks na
organização (BEUREN; ORO, 2014).
A estrutura organizacional das empresas pode ser percebida pelos controles e
pelo uso das informações (KRUGER et al., 2018). O controle gerencial serve para
monitorar os resultados econômicos e financeiros que a empresa espera, obtido pela
aplicação dos recursos, mitigando os riscos e ameaças e fomentando oportunidades
que há no processo decisório de uma gestão (HEINZMANN; LAVARDA, 2011).
A International Federation of Accountants (IFAC, 1998), apresentou as
especificidades desenvolvidas pela contabilidade gerencial ao longo dos anos,
considerados como estágios evolutivos a maneira de gerenciar os recursos. O
primeiro com foco nos custos e controle financeiro, o segundo relacionado ao uso das
informações para o planejamento e controle gerencial; o terceiro estágio já observa a
redução de desperdícios de recursos, com o auxílio da tecnologia para análises de
processos; e o quarto e último estágio tem foco na criação de valor por meio dos
recursos e do uso de tecnologias e informações mais avançadas (CAMPOS;
MARQUES; CORREIA NETO, 2019).
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Destarte, formulou-se o problema do presente estudo: Quais as características
da estrutura da contabilidade gerencial das micro e pequenas empresas do município
de Chapecó (SC)? O objetivo da pesquisa é identificar o estágio evolutivo da
contabilidade gerencial das micro e pequenas empresas do município de Chapecó
(SC).
Justifica-se a relevância da pesquisa, ponderando-se a importância de
conhecer as características das empresas e como elas atuam em seus processos de
decisão e no uso da informação da contabilidade gerencial para conduzir seus
negócios, observando-se que a utilização de práticas gerenciais, de controle e
planejamento e da análise das informações pode-se reduzir as fragilidades do
processo de gestão empresarial. Ainda, a sobrevivência das empresas depende de
controles gerenciais e planejamento, bem como essa ausência pode contribuir com o
encerramento prematuro das empresas (KRUGER; REBONATTO; MORESCHI,
2021).
2 ESTÁGIOS EVOLUTIVOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL
Os sistemas de controle gerencial (SCG) são processos no qual o gerente
executa de forma eficaz para alcançar um determinado objetivo estabelecido. Ele é
representado por um conjunto de subsistemas integrados, capaz de gerar e oferecer
informações que levam os gestores à tomada de decisão (PEDERSSETTI; KRUGER,
2020). Seu propósito é ajudar a alcançar os objetivos da empresa oferecendo
informações detalhadas e que os gestores possam utilizá-las com efetividade nas
tomadas de decisões corporativas (BAZZOTTI; GARCIA, 2006).
Seu conceito vem evoluindo, o que antes era uma prestação de informações
financeiras, tornou-se uma ferramenta que auxilia na tomada de decisões gerenciais
que contempla outros tipos de informações, relacionadas aos clientes, mercados,
concorrentes, informações não financeiras, entre outras. Isso faz com que os SCG
contribuam na orientação da inovação, pois há um número maior de informações
disponíveis aos administradores e com isso tomem decisões mais assertivas
(BEUREN; ORO, 2014).
O controle gerencial teve ênfase em 1950, quando começaram a surgir estudos
mais aprofundados sobre o assunto, sofrendo uma expansão conceitual, e que, após
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alguns anos, começou a incorporar outras ciências como a sociologia e psicologia,
onde as pesquisas sobre o assunto tiveram mudanças significativas (GOMES, 1997).
Atualmente os SCG estão baseados em planejamentos, medição de desempenho,
acompanhamento de atividades, inovação para o processo de comportamento
organizacional, entre outros (DALLABONA; NARDELLI; FERNANDES, 2019).
Para Anthony e Govindarajan (2008), o controle gerencial tem por finalidade
assegurar o cumprimento das estratégias de forma que sejam atingidos os objetivos
da organização. As principais atividades incluem o planejamento sobre o que deve ser
realizado, coordenação geral de todas as atividades internas, comunicação de
informação, decisões a serem tomadas mediante as escolhas e influências sobre as
pessoas no intuito de mudar seu comportamento. Para Dos Santos et al. (2018), a
contabilidade gerencial apresenta-se como mecanismo de auxílio frente à
concorrência.
A contabilidade gerencial, bem como as outras áreas ligadas a ela, apresenta
uma evolução, onde o seu foco e objetivo vão mudando, refletindo no processo de
planejamento e na tomada de decisões dentro das empresas (SOUTES; DE ZEN,
2005). Com isso, o IFAC, por meio do documento International Management
Accounting Practice 1 (IMAP 1), identificou quatro etapas evolutivas da contabilidade
gerencial, no intuito de linear a área de atividade das empresas, conforme o passar
dos anos. Cada estágio representa uma fase estruturada de um novo conjunto de
condições em que as empresas se encontram, enfrentando, reformando e absorvendo
as tecnologias de cada estágio e dos estágios anteriores (ISIDORO et al. 2011).
No primeiro estágio (antes de 1950), estão as características mais técnicas,
voltadas aos custos e controle financeiro, onde as empresas usavam as tecnologias
para identificar com facilidade os custos de mão de obra e de matéria-prima. Essa era
a principal ferramenta gerencial utilizada pelos administradores das empresas. Devido
aos produtos serem bem vendidos e o processo de produção bem compreendido,
ocorria que não havia ideias inovadoras para melhoria dos produtos e processos,
afetando o gerenciamento (MATTOS; FREITAG; STARKE JUNIOR, 2010). Durante
esse estágio, o que influenciava o processo era a velocidade de operações feitas
manualmente, o que gerava uma base em cima disso para os gastos indiretos do
produto (GRANDE; BEUREN, 2011).
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No segundo estágio, entre os anos de 1950 e 1965, os gestores voltaram-se
para práticas que possibilitassem um aprimoramento nas informações de controle e
planejamento, comparado pelo IFAC como uma assessoria interna, onde a
contabilidade gerencial, por meio das análises e escolhas gerenciavam a organização.
O maior objetivo dos gestores neste estágio era de que os recursos fossem utilizados
da melhor forma, para o alcance do objetivo da empresa (MATTOS; FREITAG;
STARKE JUNIOR, 2010; ISIDORO et al., 2011).
A redução do desperdício de recurso foi marcada no terceiro estágio, onde
entre os anos de 1970 e 1980, ocorreu um recesso e seguida da alta do valor do
petróleo da competição global, ameaçou os mercados estabelecidos no Ocidente. Isso
ocasionou um rápido desenvolvimento tecnológico que instigou mudanças em
aspectos do setor industrial. Com o uso da inovação e da robótica os custos foram
sendo reduzidos, criando novas técnicas de gerenciamento e produção e aumentando
o controle dos custos, por meio da redução de desperdício de recursos, que eram
utilizados no processo de negócios (MATTOS; FREITAG; STARKE JUNIOR, 2010). A
gestão baseia-se em valores, centro de responsabilidade, valor da transferência,
método de custo Kaizen, custeio meta, entre outros (TEIXEIRA et al., 2011).
O estágio quatro, a partir do ano de 1990, foi marcado pelo desenvolvimento
tecnológico e de processamento de informações. Com o uso da rede mundial de
computadores surgiu o comércio eletrônico e impulsionou a competitividade global, o
foco então era o de criar valor por meio do uso eficaz de recursos (MATTOS;
FREITAG; STARKE JUNIOR, 2010). Seu foco central é criar valor através de recursos
que a tecnologia oferece, direcionados aos clientes e acionistas e à inovação
organizacional (CAMPOS; MARQUES; CORREIA NETO, 2019).
Quando os estágios foram diagnosticados, o processo de um para o outro era
em forma de evolução e adaptação, embora não se anula o anterior para a criação de
outro. Cada estágio é a combinação do anterior e do atual em direção a novas
condições no ambiente gerencial de uma empresa (IFAC, 1998).
Soutes e De Zen (2005), buscaram identificar o estágio evolutivo da
contabilidade gerencial em que as empresas brasileiras se encontram. Por meio de
questionário aplicado a profissionais, estudantes de pós-graduação, onde levantou-se
os benefícios e o uso nas empresas brasileiras percebidos por eles, bem como fatores
que restringem ou aceleram sua utilização. Indicam que os três primeiros estágios têm
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predominância na contabilidade gerencial, nessas empresas, porém indicam que há
muito espaço para a evolução e desenvolvimento com o uso de artefatos mais
modernos.
Juntamente com os estágios, há também a evolução dos instrumentos da
contabilidade gerencial. Apesar de haver um enquadramento de instrumentos com
cada estágio, isso não quer dizer que somente sejam utilizados nos estágios em que
estão classificados, podendo os mesmos estarem nos demais estágios evolutivos. Por
essas etapas serem evolutivas, não há um encerramento de um estágio para o outro
iniciar, mas sim um crescente aperfeiçoamento dos instrumentos utilizados e da
ideologia de cada estágio (SOUTES; DE ZEN, 2005).
O Quadro 1 apresenta a classificação em estágios evolutivos da contabilidade
gerencial propostos e os instrumentos ou práticas da contabilidade gerencial em cada
estágio.
Quadro 1 – Estágios evolutivos, posição da contabilidade gerencial e práticas de controladoria
Estágio
Período
Foco de atuação da contabilidade
gerencial
Instrumentos/práticas
Estágio 1
Antes
de 1950
Foco na determinação de custos e
controle financeiro, através do uso de
orçamentos e tecnologias de
contabilidade de custos.
Análise do retorno sobre
investimentos (ROI); Custeio
Absorção; Custeio Direto; Custeio
Padrão e Custeio Variável.
Estágio 2
De 1950
a 1965
Foco no fornecimento de informações
para planejamento e controle
gerencial, através do uso de
tecnologias, tais como análise de
decisão e contabilidade por
responsabilidade.
Análise custo/volume/lucro; Análise
do Valor Presente (VPL); Avaliação
de Desempenho; Preço de
Transferência e Orçamento.
Estágio 3
De 1965
a 1985
Atenção na redução de desperdício
dos recursos utilizados nos
processos da empresa, através do
uso da análise de processos e
tecnologias de gerenciamento de
custos.
Custeio por Atividades (ABC);
Custeio Kaizen; Custeio Meta e
Indicadores de desempenho.
Estágio 4
De 1985
até hoje
Atenção na geração de valor através
do uso efetivo de recursos, de
tecnologias que examinam os
direcionadores de valor para o cliente
e para o acionista, e de inovação
organizacional.
Balanced Scorecard (BSC), Gestão
Baseada em Valor; Indicadores
Chave de Desempenho (KPI);
Sistema de Gestão Econômica
(GECON); Teoria das Restrições;
Valor Econômico Adicionado (EVA);
Planejamento Estratégico e
Métodos de Avaliação de
Desempenho.
Fonte: Soutes (2006); Abdel-Kader e Luther (2008); Isidoro et al. (2011).
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Dentre os instrumentos, se encontram no primeiro estágio chamado de
“Determinação dos custos e controle financeiro”: Custeio por Absorção, Custeio
Variável, Controle Financeiro e Operacional e Orçamento Anual. O segundo estágio,
chamado “Informação para planejamento e controle gerencial”, estão os instrumentos
de: Custo Padrão, Custo Baseado em Atividades, Método de Custeamento RKW,
Orçamento de capital e Descentralização. Já o terceiro estágio denominado “Redução
de perdas de recursos em processos organizacionais” encontram-se: Gestão Baseada
em Atividades, Centros de Responsabilidade, Preço de Transferência, Custo Meta,
Método de Custeio Kaizen e Custeio do Ciclo de Vida. O quarto e último estágio
evolutivo, denominado “Criação de valor através do uso efetivo dos recursos” possui
no seu enquadramento os instrumentos: Planejamento Estratégico, Balanced
ScoreCard e Método de Avaliação de Desempenho (SOUTES; DE ZEN, 2005;
ISIDORO et al., 2011).
As micro e pequenas empresas possuem características próprias de gestão e
competitividade, com especificidades organizacionais, decisionais e individuais,
segundo Leone (1999). Especificidades como, gestão centralizada, estrutura e
sistemas de informação simples, pobreza de recursos, tomada de decisão intuitiva,
alto grau de autonomia nas decisões, influência pessoal do proprietário e falta de
separação dos gastos pessoais com o do negócio, propriedade do capital, etc.
interferem no desempenho e continuidade dessas organizações (CEZARINO;
CAMPOMAR, 2006; KRUGER; REBONATTO; MORESCHI, 2021).
Abdel-Kader e Luther (2008), buscaram explicar porque as empresas adotam
práticas de contabilidade gerencial, baseando-se na teoria da contingência. Foram
escolhidas empresas holandesas de gás e energia, analisando características do
ambiente interno e externo das empresas, suas estratégias, tamanho e processos de
produção. Foram encontradas diferenças no estágio de controle gerencial e
sofisticação das práticas de contabilidade, explicadas pela incerteza ambiental, poder
do cliente, tamanho e descentralização.
Mahamid (2012), identificou cinco fatores potencializadores para a falência das
MPEs, que são eles: a falta de gestão de seus clientes, baixo poder de competitividade
das MPEs, instabilidade nos custos de material para fabricação ou prestação de
serviços, falta de organização em relação aos descontos concedidos e, por fim, a
limitação de crédito para suprir e manter as atividades empresariais.
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Para controles gerenciais mais modernos, encontra-se a combinação de
informações financeiras e não financeiras, juntas em uma estratégia, e são
consideradas práticas capazes de relacionar operações e atividades estratégicas
(PEDERSSETTI; KRUGER, 2020). Ou seja, na concepção do custeio baseado em
atividade, dos sistemas que medem o desempenho contemporâneo e também nas
técnicas de benchmarking. Já os instrumentos tradicionais estão relacionados aos
sistemas de orçamento, avaliação e mensuração de desempenho, relatórios
departamentais, controle e análise da relação custo-volume-lucro. Desenvolvidos
antes da década de 1980, os controles gerenciais tradicionais se classificam em:
custeio variável, por absorção, custo padrão e retorno por investimentos (Santos et
al., 2018).
Isidoro et al. (2011), buscaram identificar os artefatos gerenciais que as
cooperativas utilizam e se isso impacta no resultado delas. A amostra foi retirada da
Revista Exame – Melhores e Maiores de 2010, filtrando somente as cooperativas de
agronegócio, onde aplicaram um questionário obtendo um retorno de 13 questionários
respondidos. Com a análise desses dados, identificaram que poucas cooperativas já
se encontram no quarto estágio, e que o desempenho não está ligado ao uso de
artefatos mais modernos (quarto estágio) e que o desempenho melhora nas empresas
que encontram-se no terceiro estágio.
Reis e Teixeira (2013), verificaram em suas pesquisas, o uso de artefatos de
contabilidade gerencial (tradicional ou moderno), em cooperativas agroindustriais de
Minas Gerais e relacionar com o desempenho financeiro das mesmas. Os autores
dividiram os estágios evolutivos da contabilidade gerencial em tradicionais (estágio 1
e 2) e modernos (estágio 3 e 4). Após analisarem os dados encontrados, constataram
que não há diferença no desempenho financeiro das cooperativas que utilizam dos
instrumentos tanto tradicionais quanto modernos, ou seja, independente de qual
estágio evolutivo estejam classificados.
Macohon e Beuren (2016), realizaram um estudo sobre quais eram os estágios
evolutivos da contabilidade gerencial que predominavam em indústrias moveleiras.
Com uma amostra, não probabilística, de 15 indústrias, onde encontraram que 58%
dos artefatos implantados estão caracterizados como estágio 1. O estágio 2 vem logo
em seguida, com 53%. Os estágios 3 e 4 ficaram com 40% e 21% respectivamente,
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dentre os artefatos que são utilizados ou pretendem ser utilizados pelas empresas do
setor moveleiro da cidade de São Bento do Sul (SC).
Costa e Lucena (2021), analisaram a relação dos Princípios Globais de
Contabilidade Gerencial com o desempenho das empresas brasileiras, tanto do ponto
de vista operacional quanto econômico. A amostra é composta por 342 empresas
listadas na B3, considerando o período de 2010 a 2016. Os resultados indicam que
as práticas gerenciais são rotinas incorporadas à identidade organizacional das
empresas, refletindo melhores resultados de longo prazo, bem como reforçam que a
contabilidade gerencial desempenha papel relevante na tomada de decisão. A análise
demostra a utilização de instrumentos modernos de contabilidade gerencial pelas
empresas da amostra.
Pessoa et al. (2022), as medidas utilizadas pelas empresas do município de
Mossoró-RN, no enfrentamento da pandemia Covid-19, como resultados, constataram
o home office, as vendas on-line e o delivery, bem como evidenciam que os
empresários aumentaram a busca por relatórios gerenciais (controle de gastos,
custos, tributário), destacando-se o fluxo de caixa (para controlar o fluxo financeiro) e
o planejamento tributário (para usufruir das legislações e normativas governamentais).
A inovação também precisa fazer parte dos negócios, acelerando o seu
crescimento em relação à concorrência, adquirindo boas práticas e atraindo novos
fundos de investimentos. Porém, as micro e pequenas empresas têm dificuldade
maior para praticar a inovação (VICENTE BITTAR; DI SERIO; VASCONCELLOS,
2018). Essas empresas disputam espaços com as grandes empresas, mesmo que
elas apresentem maior capacidade financeira e estratégias mais abrangentes em
desenvolver inovações (SILVA; DACORSO, 2013). Os recursos financeiros de uma
empresa influenciam o seu crescimento e ocorre o inverso quando seus recursos
forem escassos (PENROSE; PENROSE, 2009).
De forma geral, pode-se evidenciar que o uso de informações da contabilidade
gerencial ocorre nas organizações independente do ramo ou porte, porém quando
observado por meio dos estágios evolutivos ocorre distinção dos instrumentos de
apoio a gestão, observando-se que as empresas fazem uso de instrumentos
gerenciais tradicionais e modernos.
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3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Essa pesquisa, de natureza teórica e empírica, baseou-se no conceito de
sistemas de controle, com foco na contabilidade gerencial. Quanto aos objetivos, se
caracteriza como uma pesquisa descritiva, a fim de esclarecer determinadas
características do estudo, com abordagem qualitativa, visto que se pretende conhecer
a natureza de um determinado fenômeno. Quanto aos procedimentos, enquadra-se
como survey ou levantamento, pelos dados serem coletados com base em uma
amostra que se deseja conhecer (RAUPP; BEUREN, 2006).
Como método da coleta de dados, se utilizou de questionário baseado no
estudo de Abdel-Kader e Luther (2008), a respeito do impacto das características da
empresa em práticas de contabilidade gerencial, no Reino Unido, tendo em vista a
relevância do assunto abordado pelos autores e a relevância na região objeto deste
estudo.
O grupo amostral é composto por 94 micro e pequenas empresas, localizadas
na cidade de Chapecó (SC), clientes de uma instituição financeira de nível nacional,
com agências no lócus do estudo. Esta amostra, não probabilística por conveniência,
foi delimitada por apresentar aspectos das características da população, mesmo que
não se permitam fazer generalizações (HAIR JUNIOR, 2005). O questionário foi
enviado para 94 empresários via correio eletrônico, destes, foram recebidas
efetivamente 27 respostas válidas e qualificadas, conforme o objetivo do estudo,
perfazendo uma amostra percentual de 28,72%. O período temporal de aplicação do
questionário ocorreu de setembro a outubro de 2020.
As empresas participantes deste estudo atuam, em sua maioria, no ramo de
prestação de serviços, composto por 13 das empresas respondentes, 09 empresas
atuam no ramo industrial e 05 empresas atuam no comércio. A análise foi organizada
por meio de Figuras e Quadros, caracterizando as empresas. O Quadro 2 apresenta
as respostas obtidas pelas empresas da amostra, possibilitando identificar seus
estágios evolutivos quanto ao uso da contabilidade gerencial.
Com relação a gestão das empresas respondentes, 10 dos gestores são sócios
ou donos do negócio, outros 17 respondentes são gestores com funções
administrativas, financeiras ou auxiliares, ou seja, são profissionais contratados
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especificamente para as funções de gestão do negócio em função da sua experiência
na área de atuação.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nesta seção faz-se a validação dos achados da pesquisa a respeito das
características organizacionais, no que se refere aos estágios evolutivos da
contabilidade gerencial de micro e pequenas empresas do município de Chapecó
(SC).
4.1 CARACTERIZAÇÃO DAS EMPRESAS
A partir do questionário aplicado identificou-se o ramo de atuação das
empresas, número de funcionários e faturamento destas, conforme apresenta a Figura
1.
Figura 1 – Caracterização das empresas da amostra
Fonte: Dados da pesquisa.
Observando as 27 empresas da amostra, 13 atuam na prestação de serviços,
09 no ramo industrial e 05 empresas atuam no comércio. Destas, 13 empresas
possuem até 10 funcionários, 07 empresas possuem entre 10 e 20 funcionários e as
outras 07 empresas possuem mais de 20 funcionários. Quanto ao faturamento, 06
empresas faturam até 1 milhão, 10 empresas faturam entre 1 e 2 milhões, 06
5
9
13
Empresas da amostra pesquisada
Comércio Indústria Serviços
13
7
7
Número de funcionários
Até 10 funcionários
Até 20 funcionários
Acima de 20 funcionários
6
10
6
1
4
010 20
Até 1 milhão
De 1 a 2 milhões
De 2 a 3 milhões
De 3 a 4 milhões
Acima de 4 milhões
Faturamento das empresas
analisadas
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empresas faturam entre 2 e 3 milhões, 01 empresa entre 3 e 4 milhões e 04 empresas
faturam acima de 4 milhões por ano, como pode-se observar na Figura 1.
Quadro 2 – Caracterização dos estágios das empresas da amostra
Estágios
Características predominantes dos estágios
Comércio
Indústria
Serviços
Estágio 01 -
Para a
determinação de
custo e controle
financeiro
(CDFC).
Utiliza o custo indireto da empresa
1
1
3
Utiliza política orçamentária de controle de custos
Utiliza política orçamentária flexível
Avalia o desempenho baseado em medidas financeiras
Avalia os grandes investimentos de capital com base no período
de payback e/ou contabilizando a taxa de retorno.
Estágio 02 - A
prestação de
informação para
a gestão de
planeamento e
controle (IPC), é
realizada com
base:
A separação é feita entre custo variável/incremental e custo
fixo/não incremental
2
3
4
Utiliza custo indireto por departamentos/setores
Usa regressão e/ou técnicas de curva de aprendizado
Utiliza política orçamentária para o planejamento
Utiliza política orçamentária com a análise de cenários
Utiliza política orçamentária para planejamento estratégico de
longo prazo
Avalia o desempenho baseado em medidas não-financeiras
relacionadas a operações
Analisa o custo-volume-lucro para os principais produtos
Analisa a rentabilidade do produto
Utiliza modelos ou métodos de controle de estoque
Avalia os grandes investimentos de capital com base no método
de fluxo de caixa descontado(s)
Utiliza previsão de longo prazo
Estágio 03 - A
redução de
desperdícios em
recursos
empresariais
(RWR), é
realizada com
base:
Atividade baseada em Custos
2
4
5
Atividade baseada em orçamento
Custo de controle da qualidade
Política orçamentária de base zero
Avaliação de desempenho com base em medidas não-financeiras
relacionadas aos funcionários
Avaliação do risco de grandes investimentos de capital em
projetos usando análise de probabilidade ou simulação por
computador
Vulnerabilidade do desempenho da análise de variações
hipotéticas ao avaliar grande investimento de capital
Estágio 04 - A
criação de valor
através do uso
efetivo dos
recursos (CV), é
realizada com
base:
Custeio alvo
0
1
1
Avaliação de desempenho com base em medidas não-financeiras
relacionadas aos clientes
Avaliação de desempenho com base no Lucro ou Valor
Econômico Agregado
Benchmarking
Análise de rentabilidade de clientes
Para a avaliação dos grandes investimentos de capital, aspectos
não-financeiros são documentados e relatados
Cálculo e uso de custo de capital no fluxo de caixa descontado
para avaliação de grandes investimentos de capital
Análise de valor para o acionista
Análise da indústria
Análise da posição competitiva
Estágio evolutivo da contabilidade gerencial em micro e pequenas empresas
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Ágora: R. Divulg. Cient., v. 27, p. 117-137, 2022 (ISSNe 2237-9010)
Análise da cadeia de valor
Análise do ciclo de vida do produto
Possibilidade de integração com as cadeias de valor de
fornecedores e/ou clientes
Análise das forças e fraquezas dos concorrentes
Fonte: Dados da pesquisa.
No Quadro 2 apresentam-se o detalhamento dos estágios evolutivos da
contabilidade gerencial das empresas objeto deste estudo. No estágio 2, que trata da
prestação de informação para a gestão de planejamento e controle (IPC), encontram-
se 09 empresas, sendo 02 do comércio, 03 da indústria e 04 prestadoras de serviços.
Com relação ao estágio 3, que trata da redução do desperdício de recursos
empresariais (RWR), encontram-se 11 empresas, sendo 02 do comércio, 04 da
indústria e 05 prestadoras de serviços. Nota-se que em relação aos estágios
pesquisados, este foi o que teve o maior número de empresas enquadradas, o que
demonstra o uso da tecnologia no setor industrial, sob a ótica de criação de novas
técnicas de gerenciamento e produção, ocasionando um melhor controle dos custos
(MATTOS; FREITAG; STARKE JUNIOR, 2010).
No que se refere ao estágio 4, que trata da criação de valor através do uso
efetivo dos recursos (CV), encontram-se apenas 02 empresas, sendo 01 indústria e
01 prestadora de serviços. Percebe-se que, das empresas participantes deste estudo,
não se utilizam dos recursos de comércio eletrônico com vistas a criação de valor e
uso eficaz dos recursos, resta saber se as empresas, ora pesquisadas, estão
competindo a nível global ou atuam apenas localmente.
Em contraponto, quanto ao fornecimento dos instrumentos de Contabilidade
Gerencial para pequenas e médias empresas pelo escritório de Contabilidade, estudo
de Santos et al. (2018), aponta que praticamente não há uso dos instrumentos
modernos (3º e 4º estágios), inclusive apontando desconhecimento pelos gestores do
escritório de contabilidade. Os achados indicam descompasso entre a gestão das
empresas e os escritórios de contabilidade, no que compete ao fornecimento de
informações precisas e de controle mais assertivos para a gestão dos negócios, que
poderiam contribuir com o desempenho empresarial. A relação de confiança entre o
contador e o gestor da empresa é essencial, principalmente no que se refere a sair
das atividades operacionais para pensar no negócio, estratégia e administração, bem
como desenvolver uma percepção empreendedora.
Silvana Dalmutt Kruger et al.
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Ágora: R. Divulg. Cient., v. 27, p. 117-137, 2022 (ISSNe 2237-9010)
No estudo de Isidoro et al. (2011), as empresas que obtiveram melhores
resultados de desempenho foram as que se encontraram no estágio 3. Isso demostra
que é comum empresas estarem ainda neste estágio, que tem por finalidade a
redução de desperdícios dos recursos que são utilizados nos processos da empresa,
através de análises de processos e tecnologia para gerenciar seus custos.
Com relação aos dados, ora apresentados, destaca-se que, embora as
empresas estejam enquadradas em apenas um único estágio, estes são evolutivos, e
não necessariamente há o encerramento de um estágio para que outro venha a se
iniciar. Percebe-se que, as empresas participantes deste estudo, em sua maioria,
encontram-se centradas na redução de desperdícios ou na prestação de informações
para controles internos e a criação de valor por meio do uso efetivo de seus recursos,
ainda é pouco explorado pelas empresas, o que denota fragilidade no uso dos
recursos via comércio eletrônico, embora a evolução dos estágios representa uma
adaptação a novas condições enfrentadas pelas empresas, como a aquisição,
correção, melhorias quanto ao uso de tecnologias empregadas anteriormente.
A Figura 2, apresenta o número de empresas enquadradas em cada estágio
evolutivo da contabilidade gerencial, de acordo com o seu ramo de atividade.
Figura 2 – Caracterização dos estágios das empresas
Fonte: Dados da pesquisa.
1
2 2
0
1
3
4
1
3
4
5
1
1 2 3 4
Comércio Indústria Serviços
Estágio evolutivo da contabilidade gerencial em micro e pequenas empresas
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Ágora: R. Divulg. Cient., v. 27, p. 117-137, 2022 (ISSNe 2237-9010)
Quanto aos estágios evolutivos da contabilidade gerencial na estrutura
organizacional das empresas, de acordo com o IMAP 1, das 27 empresas
pesquisadas, 05 empresas encontram-se no estágio 1, estas apresentam
características mais técnicas, baseadas nos controles financeiros e custos. No estágio
2, encontram-se 09 empresas que utilizam na gestão do negócio de planejamento e
controle, com base em análises e escolhas e suporte de assessoria interna. Já no
estágio 3, foi onde se enquadraram o maior número de empresas, com 11
respondentes, entre as principais características está a redução do desperdício de
recursos empresariais, em virtude do uso da tecnologia na melhoria dos seus
processos, consequentemente redução dos custos. Apenas 02 empresas se
enquadraram no estágio 4, devido principalmente a não utilização do comércio
eletrônico, sendo que o estudo não deixou claro se as empresas atuam a nível local
ou global.
Como relatado anteriormente, uma empresa do ramo industrial e uma
prestadora de serviços foram enquadradas no estágio 4, especificamente, o que difere
essas empresas se deve ao fato de, em comparação com empresas em seu segmento
de atuação, estarem entre as mais inovadoras. Desde 1996, a indústria participante
da pesquisa, foi pioneira na confecção de uniformes na região oeste catarinense,
surgiu com o comprometimento de atender com qualidade e responsabilidade a
demanda do mercado, que sentia a necessidade da uniformização.
A participante do estudo, prestadora de serviços, iniciou seus trabalhos em
1989, a partir do processo de transformação econômica-social, onde a educação
passou a ter papel relevante, disso percebeu-se a necessidade de ampliação da
oferta, aliada à exigência de educação de qualidade e à iniciativa de um grupo de
professores, acostumados a desafios, sendo o compromisso social e comunitário sua
grande motivação, é considerada uma das melhores escolas de Chapecó, figurando
entre as dez melhores notas do ENEM, segundo dados do censo escolar 2018 (INEP,
2018). Atualmente, ambas as empresas são destaques em suas áreas de atuação,
em participação no mercado, percentual de crescimento, reconhecimento e criação
de valor perante seus stakeholders.
Os resultados encontrados são respaldados por Abdel-Kader e Luther (2008),
observando-se que as empresas com estratégia de baixo custo e alto desempenho
estão associadas às técnicas de melhoria dos processos existentes, ao integrar
Silvana Dalmutt Kruger et al.
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Ágora: R. Divulg. Cient., v. 27, p. 117-137, 2022 (ISSNe 2237-9010)
sistemas de gestão, inovação em sistemas de fabricação e técnicas de contabilidade
e gestão inovadora com base na sua atividade. Neste sentido, os achados corroboram
com as preocupações de Costa e Lucena (2021) e Pessoa et al. (2022), quanto a
relevância das informações gerenciais para auxiliar os gestores no processo decisório.
De forma geral, os resultados evidenciam fragilidades gerenciais quanto ao uso de
práticas e instrumentos de controle gerencial, bem como pode-se constatar que a
carência de uso de sistemas de controle e de informações para subsidiar o processo
de tomada de decisão. Consequentemente, pode-se inferir que o crescimento e a
continuidade dos negócios possuem relação direta com a utilização de informações e
práticas gerenciais.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo trata das características da estrutura organizacional de
micro e pequenas empresas do município de Chapecó (SC), observando-se os
estágios evolutivos da contabilidade gerencial. Foram pesquisadas 27 empresas do
ramo de indústria, comércio e prestação de serviços, clientes pessoa jurídica de uma
instituição financeira de nível nacional com atuação na cidade.
Neste aspecto, como contribuição, o estudo indica as características
encontradas em predominância nas empresas da amostra, observando os quatro
estágios evolutivos da contabilidade gerencial. Os achados relevam a necessidade do
uso de informações gerenciais como subsídio para o processo de tomada de decisão,
especialmente quanto ao uso de informações estratégicas, presentes nos estágios
evolutivos 2 e 3 da contabilidade gerencial.
A análise permite identificar como oportunidade a oferta de serviços
especializados pelas organizações de serviços contábeis, visando suprir a demanda
gerencial e informacional das empresas, tendo em vista o contexto de crescimento da
concorrência vivenciado pelas empresas. No intuito de gerar informações oportunas
para o processo decisório, os profissionais contábeis podem auxiliar na evolução do
uso de instrumentos de contabilidade gerencial pelas empresas.
O estudo demonstra a fragilidade das empresas pesquisadas quanto ao uso de
práticas e instrumentos de controle gerencial. Resta saber se as demais empresas
estão preocupadas e/ou preparadas para competir em escala global, sendo uma
Estágio evolutivo da contabilidade gerencial em micro e pequenas empresas
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Ágora: R. Divulg. Cient., v. 27, p. 117-137, 2022 (ISSNe 2237-9010)
proposta para estudos futuros. Ainda, para novos estudos sugere-se a investigação
do comportamento das variáveis analisadas com a utilização de sistemas de controle,
visando verificar o uso das informações gerenciais no processo de tomada de decisão.
Destaca-se a relevância da análise do nível de participação de mercado das
empresas com relação ao local de atuação, bem como promover a interação entre
empresa, universidade e governo, a fim de elevar o uso de instrumentos e práticas de
contabilidade gerencial pelas empresas. Outra sugestão é avançar os estudos a
respeito da percepção de valor e uso eficaz dos recursos, até mesmo estendendo este
estudo a outras áreas de negócios.
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