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CARACTERÍSTICAS DA HÉLICE UNIVERSIDADE-EMPRESA NO BRASIL: interações entre grupos de pesquisa das universidades e empresas industriais

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Abstract

O capítulo analisa a relação bilateral universidade-empresa do ponto de vista dos grupos de pesquisa acadêmicos no Brasil. Essa relação é a base do processo de transmissão de conhecimento científico e tecnológico para sua aplicação prática, gerando inovações e consequente desenvolvimento econômico e social. O capítulo traz um panorama atual sobre essas relações.
A Triple Helix é uma analogia ou
metáfora para se compreender a
interação não linear entre atores
das esferas que geram conheci-
mento (universidade), que uti-
lizam ou consomem conheci-
mento (empresa) e que regulam
e fomentam a atividade econômi-
ca (gover no), visando a geração
e transmissão de conhecimento
científico e tecnológico que irão
permitir às empresas inovarem e,
a partir disso, à sociedade cons-
truir o desenvolvimento econô-
mico e social. Em suma, trata-se
de uma discussão que per passa
temas como empreendedorismo
e inovação, políticas públicas,
estratégia empresarial, mas que
essencialmente aborda o desen-
volvimento econômico e a pros-
peridade dos países.
O livro é uma coletânea de 17 trabalhos teóricos e aplicados de autoria de 39
pesquisadores e gestores que trabalham com a temática da Triple Helix no
Brasil. Este modelo permite analisar as relações entre os atores das esferas
universidade, empresa e governo, e o impacto destas interações na sociedade
na busca pela inovação e desenvolvimento socioeconômico. A percepção dos
organizadores é que faltava uma literatura nacional que explorasse melhor as
nuances desse modelo que é bastante difundido no Brasil. Organizado pelo
Triple Helix Research Group (THERG-Brazil), grupo de pesquisas sediado no
Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal Flumi-
nense, o livro conta com apoio da Fundação Carlos Chagas de Amparo à Pesqui-
sa no Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) e é destinado a pesquisadores acadê-
micos, gestores de inovação e gestores de políticas públicas.
INOVAÇÃO
As Hélices da
Volume 1
Interação universidade-empresa-governo-sociedade
no Brasil
INOVAÇÃO
As Hélices da
Volume 1
Interação universidade-empresa-governo-sociedade
no Brasil
Marcelo Gonçalves do Amaral
Andréa Aparecida da Costa Mineiro
Adriana Ferreira de Faria
(Organizadores)
Marcelo Gonçalves do Amaral
Andréa Aparecida da Costa Mineiro
Adriana Ferreira de Faria
(Organizadores)
AS HÉLICES DA INOVAÇÃO
Interação universidade- empresa-governo-sociedade no Brasil
Financiamento: Realização:
9 78 65 25 1 342 39
ISBN 978-65-251-3423-9
Editora CRV
Curitiba – Brasil
2022
Marcelo Gonçalves do Amaral
Andréa Aparecida da Costa Mineiro
Adriana Ferreira de Faria
(Organizadores)
AS HÉLICES DA INOVAÇÃO:
interação universidade-empresa-
governo-sociedade no Brasil
Coleção As hélices da inovação
Volume 1
Marcelo Amaral 26326.indd 3Marcelo Amaral 26326.indd 3 10/10/2022 08:59:0510/10/2022 08:59:05
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Diagramação e Capa: Designers da Editora CRV
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DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)
CATALOGAÇÃO NA FONTE
Bibliotecária responsável: Luzenira Alves dos Santos CRB9/1506
H474
As hélices da inovação: interação universidade-empresa-governo-sociedade no Brasil /
Marcelo Gonçalves do Amaral, Andréa Aparecida da Costa Mineiro, Adriana Ferreira de Faria
(organizadores) – Curitiba : CRV, 2022.
556 p. (Coleção As hélices da inovação – volume 1)
Bibliograa
ISBN Coleção Digital 978-65-251-3420-8
ISBN Coleção Físico 978-65-251-3425-3
ISBN Volume Digital 978-65-251-3424-6
ISBN Volume Físico 978-65-251-3423-9
DOI 10.24824/978652513423.9
1. Administração 2. Interação 3. Governo – gestão 4. Triple Helix 5. Gestão – inovação
I. Amaral, Marcelo Gonçalves do. org. II. Mineiro, Andréa Aparecida da Costa. org. III. Faria,
Adriana Ferreira de. org. IV. Título V. Série.
2022-26326 CDD 658
CDU 658
Índice para catálogo sistemático
1. Administração – inovação – 658
2022
Foi feito o depósito legal conf. Lei 10.994 de 14/12/2004
Proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização da Editora CRV
Todos os direitos desta edição reservados pela: Editora CRV
Tel.: (41) 3039-6418 – E-mail: sac@editoracrv.com.br
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Este livro passou por avaliação e aprovação às cegas de dois ou mais pareceristas ad hoc.
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Tania Suely Azevedo Brasileiro (UFOPA)
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SUMÁRIO
PREFÁCIO ����������������������������������������������������������������������������������������������������� 11
Josep Miquel Piqué Huerta
APRESENTAÇÃO ������������������������������������������������������������������������������������������13
Marcelo Gonçalves do Amaral
INTRODUÇÃO ����������������������������������������������������������������������������������������������� 17
Os Organizadores
CAPÍTULO 1
REVISITANDO, REDESCOBRINDO E
REPENSANDO A TRIPLE HELIX ����������������������������������������������������������������� 25
Marcelo Gonçalves do Amaral
CAPÍTULO 2
EVOLUÇÃO DA TRIPLE HELIX, MODELOS
DERIVADOS E OUTRAS ABSTRAÇÕES����������������������������������������������������63
Andréa Aparecida da Costa Mineiro
Marcelo Gonçalves do Amaral
CAPÍTULO 3
TRIPLE HELIX SOCIOECONÔMICA ��������������������������������������������������������� 101
João Cardim Ferreira Lima
Ana Lúcia Vitale Torkomian
CAPÍTULO 4
A EVOLUÇÃO DA TRIPLE HELIX ENQUANTO TEMÁTICA
ACADÊMICA: uma análise bibliométrica �����������������������������������������������������139
Marília Medeiros Schocair
Simone Vasconcelos Ribeiro Galina
Marcelo Gonçalves do Amaral
Alexandre A. Dias
CAPÍTULO 5
CARACTERÍSTICAS DA HÉLICE UNIVERSIDADE-EMPRESA
NO BRASIL: interações entre grupos de pesquisa
das universidades e empresas industriais�����������������������������������������������������159
Andrei Mikhailov
Janaina Ruoni
Graziele de Lacerda Morales
Igor Fink Glaser
Daniel Pedro Pual
Marcelo Amaral 26326.indd 7Marcelo Amaral 26326.indd 7 10/10/2022 08:59:0510/10/2022 08:59:05
CAPÍTULO 6
INTERAÇÃO UNIVERSIDADE-EMPRESA: criação, difusão e
utilização do conhecimento acadêmico em contextos periféricos �����������������187
Paulo Aparecido Tomaz
Bruno Brandão Fischer
CAPÍTULO 7
A EVOLUÇÃO DO PAPEL DA UNIVERSIDADE
E SUAS INTERAÇÕES NO SÉCULO XXI �������������������������������������������������217
Juliana Ribeiro da Rosa
Aurora Carneiro Zen
CAPÍTULO 8
DA TORRE DE MARFIM À UNIVERSIDADE EMPREENDEDORA:
uma revisão de literatura sobre a terceira missão acadêmica e o
protagonismo no desenvolvimento socioeconômico ������������������������������������� 245
Juliana Godinho de Oliveira
Flávia Couto Ruback Rodrigues
CAPÍTULO 9
O PAPEL DA UNIVERSIDADE NOS ECOSSISTEMAS DE
INOVAÇÃO EM PAÍSES DESENVOLVIDOS E EMERGENTES �������������267
Samuel Ferreira de Mello
Kadigia Faccin
Luciana Maines da Silva
CAPÍTULO 10
EVOLUÇÃO DA POLÍTICA DE INOVAÇÃO NO BRASIL: 2003 a 2021 ������293
Mariza Costa Almeida
Juan D. Rogers
CAPÍTULO 11
TRIPLE HELIX E MECANISMOS EMPREENDEDORES: o papel
das organizações intermediárias e das políticas públicas no Brasil��������������325
Adriana Ferreira de Faria
Jeruza Haber Alves
Andressa Caroline de Battisti
CAPÍTULO 12
AS POSSIBILIDADES E OS LIMITES DA TRIPLE HELIX
COMO ALAVANCA DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL
NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO: uma análise baseada
nas especicidades dos Sistemas Regionais de Inovação ��������������������������� 365
Guilherme de Oliveira Santos
Renata Lèbre La Rovere
Marcelo Amaral 26326.indd 8Marcelo Amaral 26326.indd 8 10/10/2022 08:59:0510/10/2022 08:59:05
CAPÍTULO 13
HÉLICE TRÍPLICE E CICLO DE VIDA STARTUP: evidências de
nanciamentos dos atores da Hélice Tríplice no caso NexAtlas ������������������� 395
Andréa Aparecida da Costa Mineiro
Luiz Guilherme Rodrigues Antunes
Juliana Caminha Noronha
Ana Raquel Calháu Pereira
CAPÍTULO 14
ECOSSISTEMA DE INOVAÇÃO NO NÍVEL LOCAL: uma avaliação
do potencial de um município do Sul do Estado de Minas Gerais ���������������� 421
Lidiane da Silva Dias
Dany Flávio Tonelli
CAPÍTULO 15
AVALIAÇÃO DE PARQUES CIENTÍFICOS, TECNOLÓGICOS
E DE INOVAÇÃO BASEADA NAS RELAÇÕES ENTRE OS
ATORES DAS HÉLICES TRIPLA, QUÁDRUPLA E QUÍNTUPLA ������������451
André Luis Furtado da Hora
Marcelo Gonçalves do Amaral
Marília Medeiros Schocair
CAPÍTULO 16
A REAL REPRESENTAÇÃO DA HÉLICE QUÁDRUPLA
EM AMBIENTES DE INOVAÇÃO: Coletivos e Pacto Alegre ���������������������� 481
Andréa Aparecida da Costa Mineiro
Thais Assis de Souza
Cleber Carvalho de Castro
CAPÍTULO 17
TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA NO PROGRAMA DE
MELHORAMENTO GENÉTICO DA CANA-DE-AÇÚCAR DA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ (UFPR): um estudo de caso �����505
Eduardo De-Carli
Andréa Paula Segatto
Ananda Silva Singh
ÍNDICE REMISSIVO �����������������������������������������������������������������������������������525
SOBRE OS AUTORES �������������������������������������������������������������������������������� 539
Marcelo Amaral 26326.indd 9Marcelo Amaral 26326.indd 9 10/10/2022 08:59:0510/10/2022 08:59:05
PREFÁCIO
Nos últimos vinte e cinco anos, discussões sobre a relação entre universi-
dade, empresa e governo têm tido grande repercussão no Brasil. Elas ocorreram
também nos anos setenta, com foco no desenvolvimento tecnológico, mas em
outro contexto teórico, prático e na relação entre os atores institucionais. No
entanto, foram abandonadas nas décadas subsequentes. As discussões que res-
surgem a partir do m dos anos noventa estão diretamente relacionadas à grande
diversidade de atores e aos tipos de interações que ocorrem no país, assim como
à necessidade premente de gerar inovações, à busca pela competitividade e ao
esforço para atingir o desenvolvimento econômico dentro de um contexto de
democracia, no qual a orquestração dos atores é um elemento central. Nesse
sentido, o modelo da Triple Helix ajudou acadêmicos, políticos e empresários a
compreenderem as nuances do desenvolvimento econômico daquela nova era do
conhecimento, com a aceleração do processo de inovação tecnológica e a emer-
gência de uma sociedade da informação que se congurava nos anos noventa.
Além das discussões sobre o grau de intervenção estatal na economia, o
volume de investimento público e privado em pesquisa e desenvolvimento, o
papel da universidade, a apropriação e a transferência de conhecimento e tec-
nologia, a emergência de novos atores, como incubadoras e parques tecnológi-
cos, entre tantos temas correlatos, o modelo da Triple Helix trouxe explicações
mais completas que os conceitos dos Triângulo de Sábado, do Laissez Faire e
dos sistemas de inovação, sejam estes últimos de cunho nacional ou regional/
local. Assim, o novo modelo rapidamente se disseminou no país tornando-se
dominante. Não é surpresa que diversos mecanismos, ambientes e ecossis-
temas de inovação usem e baseiem sua operação no modelo da Triple Helix.
Tenho proximidade com a discussão sobre o tema no Brasil há mais de
dez anos. Enquanto estive como CEO do Distrito da Inovação 22@Barce-
lona e como Presidente da International Association of Science Park (IASP),
sempre fui procurado por pessoas e entidades do Brasil que buscavam sorver
conhecimentos da nossa prática, na Espanha e em outros países, e aplicá-los
à realidade do país. Essa interação me permitiu vir diversas vezes ao país e
desenvolver colaborações com vários desses ecossistemas, conhecendo a
fundo seus atores e estruturas. Cito, como exemplo, meu envolvimento com
a iniciativa do Pacto Alegre, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, onde
atores das três esferas desenham um novo modelo de desenvolvimento bot-
tom-up para a região metropolitana do Estado.
Mais recentemente, ao me tornar presidente da Triple Helix Association
(THA), essa interação com o Brasil foi reforçada. Vejo sempre nas conferên-
cias, seja da IASP ou da THA, uma grande presença de autores e praticantes
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12
brasileiros, com muita avidez em mostrar suas pesquisas e experiências,
interagir e aprender com outros ambientes de inovação. Nesse contexto, a
iniciativa do professor e amigo Marcelo Amaral, com quem há tantos anos
interajo, de organizar um livro coletânea sobre a Triple Helix, contendo suas
aplicações e interpretações no país, não podia surgir em melhor hora. Mais
do que nunca, nesse mundo globalizado, em contexto pós-pandêmico e de
ressurgimento da Guerra Fria, são requeridos esforços dos atores de dife-
rentes esferas para criar espaços de consenso e buscar o desenvolvimento
econômico e a prosperidade social.
Desejo aos leitores uma experiência de aprendizagem e que os conhe-
cimentos compartilhados neste livro possam ser úteis e aplicáveis em suas
realidades.
Josep Miquel Piqué Huerta
Presidente-Triple Helix Association
Barcelona, 15 de julho de 2022.
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APRESENTAÇÃO
A ideia de organizar um livro sobre o uso da abordagem da Triple Helix no
Brasil não é nova. Na verdade, ela é decorrente de uma ideia mais antiga, bem
antiga, de 1999, de se organizar um livro sobre a abordagem da Triple Helix
e sua aplicação nos países da América Latina. Essa ideia quase se realizou,
mas, por motivos que não cabem aqui, não foi adiante. Na época, o professor
José Manoel Carvalho de Mello, meu orientador de mestrado e doutorado no
Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção do Instituto Luiz
Alberto Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (COPPE/UFRJ), tinha acabado de retornar de um
período como professor visitante na State University of New York (SUNY),
atuando no Science and Policy Institute, colaborando com o professor Henry
Etzkowitz. Na mala de retorno ao Brasil, José Manoel trouxe, além de livros
e compras, a missão de ajudar o Henry Etzkowitz na disseminação do modelo
da Triple Helix no Brasil e na América Latina. Essa missão foi cumprida, já
adianto! E eu tive a oportunidade de participar e contribuir com ela.
A primeira ação de impacto foi a realização do Workshop Rio Triple
Helix, no longínquo mês de junho de 1999, nas dependências do Hotel Gló-
ria, no Rio de Janeiro. Esse workshop era exatamente para que os autores
latino-americanos apresentassem e discutissem seus manuscritos com vistas
à produção de um livro. O evento também foi uma forma de envolver atores
institucionais locais, como órgãos de governo e nanciadores, na organização
da Rio 2000 – Third International Triple Helix Conference. O terceiro evento
de uma série que em 2022 atingiu a sua vigésima edição.
Naquele momento, eu era um estudante de doutorado, iniciando minha
carreira acadêmica e tendo a oportunidade de estar próximo de pesquisadores
internacionais, trabalhando com temáticas tão caras para mim, como a ino-
vação e o desenvolvimento econômico.
Creio que como a conferência da Triple Helix, realizada em abril de 2000,
deu tão certo, que tantas portas se abriram e tantas iniciativas posteriores foram
disparadas, que o livro acabou cando em segundo plano. Alguns capítulos
viraram artigos que foram publicados em periódicos, como o Research Policy
e Science and Public Policy. A área de Inovação Tecnológica e Organização
Industrial (ITOI) da COPPE/UFRJ e o nosso grupo de pesquisas se fortale-
ceram e diversos projetos de pesquisa foram iniciados, sempre baseados em
uma estreita colaboração com a rede internacional de pesquisadores que estava
em formação e que se consolidou a partir do evento. Minha perspectiva era
menos acadêmica e mais da gestão, no sentido de como surfar naquela onda
para buscar fomento, bons projetos e inuenciar o cenário político e social.
Ou seja, em como aplicar a Triple Helix.
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Conto essa estória antiga para dizer que, desde 2002 ou 2003, venho
falando para o José Manoel que precisamos fazer um livro sobre a Triple Helix
no Brasil, com autores locais e para o público local. Alguns anos depois, em
2009, quando estive envolvido com o International Triple Helix Institute, na
La Salle Campus Madrid, que foi o embrião da Triple Helix Association, nova-
mente a falta de um livro com essa perspectiva, de orientar os praticantes, me
cou evidenciada. Mais adiante, entre 2014 e 2015, após alguns anos atuando
mais como um gestor acadêmico do que como um pesquisador e estando um
pouco afastado do movimento internacional, eu vi o interesse na temática
crescendo novamente, seja nos alunos de graduação quanto no âmbito da
pós-graduação. Mesmo depois de vinte anos dos escritos iniciais, a Triple
Helix continuava sendo um modelo atual, que explicava acontecimentos no
Brasil e despertava interesse de uma nova geração de estudantes, gestores
públicos e prossionais de mercado. Novamente, faltava uma literatura atual
e local que dialogasse com novos métodos e modelos, e que atendesse aos
anseios dos acadêmicos e praticantes. Faltavam também condições para rea-
lizá-la, tanto nanceiras quando intelectuais.
Desde 2016, o grupo de pesquisas da Triple Helix, que montei em 2008
e coordeno, vem buscando meios realizar esse projeto. A busca por recursos
para este livro começou no nal de 2016, quando eu nalizava de um período
como pesquisador visitante nos Estados Unidos, mas só se completou em
2020, com um edital especíco da Fundação Carlos Chagas de Amparo à
Pesquisa no Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) para a geração de conteúdo.
Além disso, faltavam as parcerias que me dessem segurança para entrar em
uma empreitada como essa de organizar um livro coletânea que cobrisse toda
a complexidade e os desdobramentos do tema.
Ao longo desses últimos seis anos, as parcerias e redes foram aconte-
cendo. Primeiro, com a grande amiga Adriana Ferreira de Faria, de quem me
aproximei no período em que estávamos ambos nos Estados Unidos. A pro-
fessora Andrea Aparecida da Costa Mineiro, de quem tive a oportunidade de
integrar as bancas de qualicação e doutoramento, além de partilhar diversas
publicações. Por m, a da rede da divisão de Inovação, Tecnologia e Empreen-
dedorismo (ITE) da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em
Administração (Anpad), que é integrada por vários autores dessa obra. Essas
parcerias me deram condições de ser o articulador do conteúdo aqui presente.
O processo de amadurecimento intelectual deste livro, ao longo desses
seis últimos anos, me fez entender que teria que ser uma obra coletiva, com
diversos prismas e olhares. Assim, o enfoque na teoria seria importante, mas
também o enfoque na aplicação não poderia ser esquecido. Além disso, fui me
convencendo que seria melhor editar o livro em parceria, visando acelerar o
processo e ajustar a carga de trabalho. Seria também importante trazer a bordo
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AS HÉLICES DA INOVAÇÃO: interação universidade-empresa-governo-sociedade no Brasil 15
os principais especialistas no país sobre algumas das temáticas tratadas. Por
m, chegou-se à ideia de um edital, como a melhor forma de atrair conteúdo
de qualidade. Assim foi feito em setembro de 2021, quando tiveram início os
trabalhos que culminam na presente obra.
Alguns ensaios dos conteúdos deste livro foram feitos. Como entender o
movimento internacional da Triple Helix, estudando publicações e autores por
meio de análises com o uso de técnicas bibliométricas (AMARAL; MESSIAS,
2020
1
), entender o engajamento de países e instituições depois de organizarem
conferências (ROSA; MESSIAS; AMARAL, 2018
2
) e, por m, entender o
comportamento dos acadêmicos brasileiros no uso do tema em suas pesquisas,
a partir das publicações e citações dos seus trabalhos (AMARAL; MESSIAS;
CARRARO, 2021
3
). Esses exercícios permitiram a construção de um caminho
que desemboca diretamente em alguns capítulos que compõem este livro.
Parece-me evidente que a literatura original de Henry Etzkowitz e Loet
Leydesdor, publicada entre 1995 e 2003, deixou algumas lacunas sem resposta.
Ao mesmo tempo ainda existem muitas contribuições não exploradas no material
desses autores. Por outro lado, há uma gama de novos autores no mundo (aos
quais chamo de segunda geração) que, engajados ou não no movimento inter-
nacional liderado pela Triple Helix Association, seguem escrevendo e trazendo
novas ideias ou reinterpretando o modelo a partir de casos e experiências.
Pelo que vejo em eventos e leio nos periódicos nacionais, a literatura de
Etzkowitz e Leydesdor foi adotada de forma supercial no Brasil, limitada
somente ao seu aspecto neoinstitucional (gura das três esferas superpostas)
e a nova literatura, tirando alguns poucos artigos de pesquisadores como Elias
Carayannis e David Campbell, que propuseram a Quadruple e a Quintuple
Helix, cujas ideias não foram totalmente compreendidas, ainda não são do
domínio dos pesquisadores e gestores no país.
Assim, este livro busca ocupar essa lacuna ao disseminar e explorar lite-
raturas que representam o estado da arte na discussão não só da Triple Helix e
modelos derivados, mas também de temas como universidade empreendedora
e ecossistemas de inovação, necessários a uma nova perspectiva do desen-
volvimento econômico e social via a orquestração entre atores que geram
e utilizam conhecimento para desenvolver tecnologia e inovação. No m,
trata-se de uma discussão sobre gestão de uxos de conhecimento.
1 AMARAL, M. G.; MESSIAS, N. R. A evolução do movimento da triple helix: uma análise das comunicações
científicas por meio de técnica bibliométrica. International Journal of Innovation, v. 8, n. 2, p. 250-275, 2020.
2 ROSA, J. A. A.; MESSIAS, N. R.; AMARAL, M. G. The Triple Helix Movement: An Analysis of Academic
Communications In: XVI Triple Helix Conference, 2018, Manchester, 2018.
3 AMARAL, M. G.; MESSIAS, N. R.; CARRARO, E. R. Beyond a Bibliometric Analysis and Literature Review:
The Comprehension and Uses of Triple Helix Approach in Brazil. In: XIX Triple Helix Conference –
Innovation for a Sustainable World, São Paulo, 2021.
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16
Por m, tenho que reconhecer que o produto que estamos entregando
provavelmente não cobrirá todos os anseios e necessidades dos interessados
no tema, mas é uma publicação organizada com muita dedicação e atenção
para contribuir com a discussão sobre inovação e o tão esperado desenvolvi-
mento econômico e a prosperidade que nosso país tanto merece e anseia. Um
pequeno tijolo em uma obra inacabada e que precisa ser acelerada.
Uma obra desse porte é resultado do trabalho de muitas pessoas. Neste
sentido é importante aproveitar o espaço para agradecer. Inicialmente, a
FAPERJ pelo apoio nanceiro; em seguida a Andrea e Adriana pela leitura
e revisão dos capítulos, além da troca constante de ideias; aos autores que
trabalharam de forma gratuita e árdua para desenvolver e revisar seus con-
teúdos; as revisoras Lúcia Maria de Assis e Maria Amália Sarmento Rocha
de Carvalho; e, por m, a equipe do Triple Helix Research Group Brazil, em
particular, a Edilane dos Reis Carraro, pelo apoio na montagem do manuscrito.
Marcelo Gonçalves do Amaral
Professor Associado
Universidade Federal Fluminense
Volta Redonda, 15 de julho de 2022
Marcelo Amaral 26326.indd 16Marcelo Amaral 26326.indd 16 10/10/2022 08:59:0810/10/2022 08:59:08
INTRODUÇÃO
Ao longo de praticamente quarenta anos de atividade de pesquisa, Henry
Etzkowitz e Loet Leydesdor apresentaram uma gama de ideias originais em
suas publicações. Várias delas em conjunto, principalmente entre 1995 e 2003
(from Etzkowitz & Leydesdor, 1995
4
to Leydesdor & Etzkowitz, 2003
5
), e
várias outras em separado, em um amplo leque de cooperações com pesquisa-
dores de todo o mundo. Para este conjunto de ideias foi dada a nomenclatura
de modelo da Triple Helix (Triple Helix Model ou simplesmente TH).
É importante compreender ao mesmo tempo as contribuições e os limites
ou limitações deste esforço colaborativo de pesquisa que originou uma rede
internacional e um amplo movimento global entre pesquisadores, políticos
e gestores. Nesse sentido, nada mais oportuno que o grupo de pesquisas que
carrega o nome do modelo no Brasil provocar essa discussão.
Este livro nasce da percepção de que falta uma literatura em português
que, ao mesmo tempo, seja profunda em compreender as nuances da Triple
Helix, mas também acessível aos não acadêmicos ou não iniciados, e que, por
m, seja aplicada ou permita sua prática no contexto brasileiro.
Ao mesmo tempo que a ideia da Triple Helix é facilmente compreensível
para aqueles que transitam entre universidades, empresas e governos, prin-
cipalmente no que tange aos atores de três esferas superpostas interagindo,
seus desdobramentos não são tão óbvios assim. Como mensurar e analisar
conexões onde todos aprendem juntos em relações bilaterais e trilaterais, um
fazendo o papel do outro, com novos atores sendo criados e novos patamares
sendo atingidos. Outras ideias, sobre tríades de Simmel, Navalha de Occam,
sinergia e redundância, por exemplo, exigem um certo grau de conhecimento
e abstração. Tais questões teóricas se derivam em questões do quotidiano, mas
não menos complexas, como, por exemplo, como pode falhar um projeto de
desenvolvimento regional com recursos disponíveis e com todos os atores
engajados? Ou como alavancar empresas startups e colher, na mesma região,
o resultado do sucesso delas? São perguntas não triviais com respostas com-
plexas. Mais do que isso, acadêmicos ou scholars, no sentido mais estrito do
professor-pesquisador, e academic managers, mais preocupados com projetos,
resultados, impactos sociais, buscam respostas para estas perguntas que vão
cando cada vez mais complicadas e cavar mais fundo na fonte de saberes
da Triple Helix se torna cada vez mais necessário.
4 ETZKOWITZ, H.; LEYDESDORFF, L. The Triple Helix – University-Industry-Government Relations: A
Laboratory for Knowledge Based Economic Development. EASST Review, v. 14, n. 1, p. 14-19, 1995.
5 LEYDESDORFF, L.; ETZKOWITZ, H. Can ‘the public’ be considered as a fourth helix in university-industry-
government relations? Report on the Fourth Triple Helix Conference, 2002. Science and Public Policy,
v. 30, n. 1, p. 55-61, 2003.
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Fora da academia, gestores públicos e privados sempre acham o modelo
interessante e nos perguntam como fazer para funcionar. Como muitas vezes
ouvimos “como podemos fazer as hélices girarem”? A Triple Helix não é
uma receita de bolo, fácil e replicável que você possa passar para qualquer
confeiteiro. Exige talento e dedicação. É neste sentido que este livro não
tem a pretensão de trazer todas as respostas, mas certamente trata alguns
assuntos visando à melhor compreensão do modelo. Assim, assumimos uma
tripla missão: atender aos estudantes e pesquisadores acadêmicos, atender aos
gestores públicos e, por m, atender aos gestores empresariais. Todos com
necessidades distintas e um interesse em comum, que é a prosperidade das
economias, das regiões e do país, por meio da inovação.
Para tanto, algumas escolhas foram feitas. O livro está estruturado em quatro
partes e um total de dezessete capítulos que cobrem aspectos teóricos e práticos
da discussão no Brasil. Esses capítulos foram escritos por trinta e nove autores
de vinte e uma organizações, sendo dezoito delas universidades brasileiras.
A primeira parte, trata de aspectos teóricos, revisitando a literatura original
e outra mais recente, que apresenta um panorama da evolução do movimento
da Triple Helix. Seria a parte mais teórica ou acadêmica do livro. A segunda
parte explora aspectos da interação da universidade-empresa-governo, a partir
de revisões de literatura e análises com diversos prismas. Temas como terceira
missão, universidade empreendedora e papel da universidade nos ecossistemas
de inovação predominam. A terceira parte discute a relação entre a Triple Helix
como elemento do empreendedorismo e inovação na busca do almejado desen-
volvimento econômico e social. É inevitável tratar de políticas públicas e da
gestão dos ambientes de inovação, como incubadoras e parques tecnológicos.
Por m, há um conjunto variado de estudos de casos e aplicações.
O presente livro coletânea é resultado de um trabalho colaborativo a
muitas mãos. Desde aqueles que assinam os capítulos até os revisores, pas-
sando pelas equipes da Editora CRV e da FAPERJ que tornaram este desao
possível. Nesse sentido, os organizadores agradecem ao esforço e à dedicação
de todos os envolvidos, que permitiram a publicação dessa obra.
Seguindo a apresentação do conteúdo, a primeira parte, intitulada “Aspec-
tos Teóricos da Triple Helix”, é composta de quatro capítulos. O capítulo inicial,
de autoria do professor Marcelo Amaral, líder do Triple Helix Research Group
Brazil e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), é intitulado
“Revisitando, Redescobrindo e Repensando a Triple Helix”. Trata-se de um
ensaio que revisita ideias contidas na literatura seminal de Etzkowitz e Leydes-
dor com o objetivo é apresentar o modelo da Triple Helix, buscando ir além da
visão supercial, porém didática, das três esferas que se superpõem. O modelo
tem complexidades e sutilezas; e, por isso, um olhar mais profundo na obra dos
autores principais, no seu uso e na compreensão das críticas ajudará os leitores
desta obra a ter um melhor entendimento da teoria e do seu uso.
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O segundo capítulo, “Evolução da Triple Helix, modelos derivados e
outras abstrações”, de autoria dos professores Marcelo Amaral e Andréa Apa-
recida da Costa Mineiro, dois dos organizadores desta obra, enfoca os modelos
derivados da Triple Helix a partir de discussões mais recentes que revisitam
essas metáforas e tentam construir novas sínteses. Este capítulo, assim como o
anterior, são essencialmente revisões de literatura que estão combinadas com
os mais de vinte anos de experiência prossional e de pesquisa dos autores e
seus engajamentos em projetos com entes externos à universidade. Esperamos
que com estes dois capítulos iniciais os leitores construam uma percepção que
será importante para a compreensão dos demais capítulos.
O terceiro capítulo, “Triple Helix Socioeconômica”, escrito por João Car-
dim Ferreira Lima e Ana Lucia Vitale Torkomian, da Universidade Federal de
São Carlos (UFSCAR), contém uma revisão sistemática da literatura acerca dos
impactos socioeconômicos das colaborações universidade-empresa sob a pers-
pectiva dos atores da Triple Helix. Tanto do ponto de vista metodológico quanto
de conteúdo o capítulo busca contribuir para a melhor compreensão da temática.
O último capítulo dessa parte inicial do livro é de autoria dos pesqui-
sadores Marilia Medeiros Schocair, Simone Vasconcelos Ribeiro Galina e
Alexandre A. Dias, da Universidade de São Paulo (USP), e Marcelo Amaral,
da Universidade Federal Fluminense (UFF). Em “A evolução da Triple Helix
enquanto temática acadêmica: uma análise bibliométrica” os autores utilizam
a técnica de análise bibliométrica aplicada às publicações cientícas sobre
a temática para compreender a evolução do movimento da Triple Helix ao
longo de sua existência. Este capítulo contribui para que se perceba como o
modelo foi utilizado e evoluiu ao longo dos anos. Da mesma forma permite
identicar autores e temas que o integram.
A segunda parte do livro explora temas como a interação bilateral uni-
versidade-empresa ou trilateral universidade-empresa-governo, assim como
o papel da universidade, sua evolução e o conceito de universidade empreen-
dedora, todos de ampla relevância no contexto da inovação no Brasil. Esta
parte é composta por cinco capítulos, boa parte deles de cunho teórico e
revisionista, baseados em revisão sistemática de literatura utilizando-se de
diversos métodos.
O quinto capítulo “Características da Hélice Universidade-Empresa no
Brasil: interações entre grupos de pesquisa das universidades e empresas
industriais”, é de autoria de Andrei Mikhailov, Janaina Ruoni, Graziele de
Lacerda Morales e Igor Fink Glaser, pesquisadores da Universidade do Vale
do Rio dos Sinos (UNISINOS), e Daniel Pedro Pual, da Universidade de
Rio Verde (UniRV), e analisa a relação bilateral universidade-empresa do
ponto de vista dos grupos de pesquisa acadêmicos no Brasil. Essa relação é
a base do processo de transmissão de conhecimento cientíco e tecnológico
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para sua aplicação prática, gerando inovações e consequente desenvolvimento
econômico e social. O capítulo traz um panorama atual sobre essas relações.
O sexto capítulo “Interação Universidade-Empresa: Criação, Difusão e
Utilização do Conhecimento Acadêmico em Contextos Periféricos”, de autoria
de Paulo Aparecido Tomaz, do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG –
Campus Ribeirão das Neves), e de Bruno Brandão Fischer, da Universidade
Estadual de Campinas (UNICAMP), segue explorando a relação universi-
dade-empresa, agora a partir do ponto de vista dos Núcleos de Inovação
Tecnológica (NIT), atores-chave neste processo.
O sétimo capítulo, e terceiro desta segunda parte, escrito pelas pesqui-
sadoras Juliana Rosa e Aurora Zen, da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (UFRGS), é intitulado “A Evolução do Papel da Universidade e suas
interações no século XXI”. Trata-se de uma revisão de literatura que contribui
para a compreensão do tema universidade empreendedora e das interações
externas que a universidade pode construir.
Na mesma linha do capítulo anterior, o oitavo capítulo “Da Torre de Mar-
m à Universidade Empreendedora: uma revisão de literatura sobre a terceira
missão acadêmica e o protagonismo no desenvolvimento socioeconômico”,
escrito por Juliana Godinho de Oliveira e Flavia Couto Ruback Rodrigues,
do Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais (IF Sudeste MG), também
aborda, por meio de revisão de literatura, as transformações em curso na uni-
versidade. Entretanto, o foco é distinto, pois aqui discute-se a incorporação
da terceira missão no ethos acadêmico e quais características centrais fazem
a universidade ser empreendedora.
O nono capítulo, intitulado “O papel da universidade nos ecossistemas
de inovação em países desenvolvidos e emergentes”, segue discutindo o papel
da universidade nos ambientes de inovação, particularmente quanto ao seu
comportamento empreendedor. Escrito por Samuel Ferreira de Mello, do Ins-
tituto Federal de Santa Catarina (IFSC) e Kadigia Faccin e Luciana Maines da
Silva, pesquisadoras da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS),
o estudo faz um comparativo entre a atuação destas organizações nos ecossis-
temas de inovação das economias mais desenvolvidas e em desenvolvimento,
o que nos leva a reexões sobre o Brasil.
A terceira parte do livro, discute aspectos da relação entre a abordagem
da Triple Helix e as temáticas da inovação e do desenvolvimento, além das
políticas públicas, e é composto por dois capítulos.
O décimo capítulo, escrito pela pesquisadora Mariza Costa Almeida, da
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) em parceira
com o professor Juan D. Rogers, do Georgia Institute of Technology (Geor-
giaTech), traz uma revisão das políticas de inovação no Brasil. Em “Evolução
da Política de Inovação no Brasil: 2003 a 2021” discute-se a atuação da hélice
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governo, que passa por nanciar as atividades de pesquisa, desenvolvimento
e inovação, e promover a estabilidade das regras que permita que a interação
universidade-empresa ocorra. Neste contexto, o nanciamento perene é um
elemento chave, mas não se limita a isso. Todo um arcabouço jurídico institu-
cional e políticas claras, adequadas e estáveis de incentivo à incorporação de
inovações pelas empresas em busca da competitividade devem ser desenhados
e operados nos diferentes níveis governamentais.
O segundo capítulo desta parte, e décimo primeiro desta coletânea é inti-
tulado “Triple Helix e mecanismos empreendedores: o papel das organizações
intermediárias e das políticas públicas no Brasil” e foi escrito por Adriana Fer-
reira de Faria, Jeruza Haber Alves e Andressa Caroline de Battisti, pesquisadoras
do Núcleo de Tecnologia de Gestão (NTG) da Universidade Federal de Viçosa
(UFV). Este capítulo trata dos mecanismos de apoio à inovação, principalmente
as organizações intermediárias como os parques tecnológicos e as incubadoras de
empresas. Esse capítulo também faz um esforço de revisar políticas e instrumentos.
A quarta e última parte desta obra apresenta experiências e casos aplica-
dos, em organizações, sistemas e ecossistemas de inovação no Brasil, visando
trazer ao leitor conhecimento sobre aplicações e análises na realidade nacional,
mais próxima do que aquela da literatura internacional que muitas vezes é
distante do cotidiano e de compreensão não tão evidente.
O capítulo inicial trata sobre “As possibilidades e os limites da Tri-
ple Helix como alavanca de desenvolvimento regional no Estado do Rio de
Janeiro: uma análise baseada nas especicidades dos Sistemas Regionais de
Inovação”. Ele discute possibilidades e limites da Triple Helix como instru-
mento analítico e operativo do desenvolvimento regional. Escrito por Gui-
lherme de Oliveira Santos e Renata Lèbre La Rovere, do Grupo de Economia
da Inovação, sediado no Instituto de Economia da Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ), o capítulo aborda o sistema regional de inovação
do Estado do Rio Janeiro analisando as regiões Norte, Metropolitana e Sul
e como, apesar da presença dos atores institucionais, existem lacunas nas
estratégias e interações entre eles.
O décimo terceiro capítulo desta coletânea – “Hélice Tríplice e Ciclo de
Vida Startup: Evidências de Financiamentos dos Atores da Hélice Tríplice
no Caso NexAtlas” –, escrito pelas pesquisadoras da Universidade Federal
de Itajubá (UNIFEI) Andréa Aparecida da Costa Mineiro e Juliana Caminha
Noronha, o pesquisador da Luiz Guilherme Rodrigues Antunes, da Faculdade
de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (USP) e da Fun-
dação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (FIPECAFI),
e pela empreendedora Ana Raquel Calháu Pereira, enfoca uma parte relevante
das relações universidade-empresa-governo, que são as empresas spin-o
e startups. Nele os autores fazem um estudo sobre a evolução da empresa
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startup NexAtlas e apresentam a contribuição dos atores das três esferas,
impulsionados pela universidade na busca de nanciamento e conhecimento
que contribuíram para a evolução da empresa.
O décimo quarto capítulo, intitulado “Ecossistema de Inovação no Nível
Local: uma avaliação do potencial de um município do Sul do Estado de
Minas Gerais”, foi escrito por Dany Flavio Tonelly e Lidiane Dias, ambos
pesquisadores da Universidade Federal de Lavras (UFLA), e apresenta o
potencial de um município do sul do Estado de Minas Gerais, Lavras, para
desenvolver um ecossistema de inovação de forma efetiva, a partir da ótica
da interação entre os atores das diferentes hélices.
O décimo quinto capítulo, elaborado por André Luis Furtado da Hora,
Marcelo Amaral e Marília Medeiros Schocair, pesquisadores do Triple Helix
Research Group Brazil, sediado na Universidade Federal Fluminense (UFF),
discute a aplicação de ferramentas práticas derivadas dos modelos da Triple
e Quadruple Helix na gestão de ambientes de inovação. A aplicação de um
modelo gerencial para avaliação e gestão se dá em um estudo sobre três par-
ques tecnológicos em operação no Estado Rio de Janeiro.
O capítulo dezesseis, de autoria da professora Andrea Aparecida da Costa
Mineiro, tendo como colaboradores os pesquisadores Thais Assis de Souza
e Cleber Carvalho de Castro, da Universidade Federal de Lavras (UFLA),
dá um passo adiante em relação à revisão teórica dos capítulos iniciais e dis-
cute a aplicação da Quadruple Helix nos ambientes de inovação no Brasil.
“A Real Representação da Hélice Quádrupla em Ambientes de Inovação:
Coletivos e Pacto Alegre” visa ser um instrumento efetivo de apoio aos pes-
quisadores e gestores engajados no desenvolvimento econômico e social,
e no entendimento da real representação da sociedade civil organizada. O
capítulo contribui ao trazer a participação de atores da sociedade além da
tríade universidade-empresa-governo.
O capítulo nal, escrito pelos pesquisadores Eduardo de Carli e Andrea
Paula Segatto Mendes, da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Ananda
Silva Singh, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), trata da transfe-
rência de tecnologia entre universidade e empresas. O capítulo “Transferência
de Tecnologia no Programa de Melhoramento Genético da Cana-de-Açúcar
da Universidade Federal do Paraná (UFPR): um Estudo de Caso” analisa uma
rede de inovação que envolve várias instituições, e apresenta o caso especíco
de cultivares de cana de açúcar.
Notem que os capítulos são de uma riqueza imensa em termos de fontes
e técnicas para pesquisa. Tentamos com as quatro partes dar uma organicidade
a obra, mas os capítulos têm vida própria e independente. Vários inclusive são
adaptações de artigos ou relatórios técnicos. Optamos ainda por não limitar os
autores em termo de conteúdo ou estrutura, deixando-os livres para interpretar
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a Triple Helix como lhes conviesse. Os organizadores dessa coletânea, apesar
de estudiosos do tema, e da rigorosa revisão realizada para a publicação da
obra, não se consideram “donos” do livro, com o direito de decidir o que é
certo ou não. Um exemplo, nesse sentido, é que foi permitido a cada grupo de
autores fazer uma pequena revisão do tema, se sentissem necessidade, assim
como usar a graa do termo da forma que mais lhes conviesse. Assim, no
texto aparecerá a graa original em inglês Triple Helix, mas também diferentes
graas, como Hélice Tríplice”, “Hélice Tripla” e até mesmo “Tríplice Hélice”.
Não existe certo ou errado. Da mesma forma, os autores tiveram autonomia
para classicar a Triple Helix como modelo, abordagem, teoria ou metáfora.
Cada um tem o seu correto entendimento a partir da literatura original e da
aplicação. Tais usos, compreensões e interpretações só enriquecem o calei-
doscópio que é um livro coletânea.
Esperamos que a obra esteja à altura das expectativas e necessidades dos
leitores, que desejam compreender cada vez mais a Triple Helix, bem como
praticar e promover o desenvolvimento econômico e a prosperidade por meio
da inovação. Esperamos ainda que a leitura seja tão proveitosa quanto foi para
nós o trabalho ao longo dos últimos meses, revisando com zelo cada um dos
capítulos, dialogando com os autores e entre nós mesmos, buscando a melhor
ordem para os conteúdos aqui apresentados e, acima de tudo, aprendendo com
o riquíssimo conteúdo elaborado.
Os Organizadores
Volta Redonda, Itajubá e Viçosa, 15 de julho de 2022
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... Firms may engage in different UIC types using different UIC channels simultaneously over a period of time (Garcia-Perez-de-Lema et al., 2017;Mikhailov et al., 2022;Puffal et al., 2021;Schaeffer et al., 2017). In some cases, the use of more than one UIC type has a greater positive effect on innovation than the use of one unique interaction form (Apa et al., 2021). ...
... Nevertheless, at least some low-tech companies engage in patenting activities and cooperation with universities to produce innovations of high novelty (Apa et al., 2021;Mendonça, 2009). In the case of Brazil, those engaged in cooperation with universities' research groups usually develop research and development-based activities rather than training or consulting (Mikhailov et al., 2022). ...
... Particularly in Brazil, large low-tech firms perform better than high-tech firms (Reichert and Zawislak, 2014). The low-tech sectors are also responsible for a considerable part of UIC, as, according to the CNPq-DGP Research Group Census5 (CNPq-DGP) 2016, over 51.33% of UIC in the manufacturing sector occurs with firms from low-and low-medium technology intensity industries (Mikhailov et al., 2022). ...
Article
Full-text available
Despite the importance of low-tech manufacturing sectors for national economies, previous studies on UIC benefits for the firms were conducted mostly in high-tech sectors, making the knowledge on the impact of UIC on innovation in low-tech sectors unexplored. The present research aims to identify combinations of UIC s that may lead the low-tech firms to high innovation performance. By using the csQCA technique applied to secondary data from the BR Survey, which is the largest UIC databank in Brazil, the researchers identified that the most intense collaborations in terms of knowledge and resource exchange, such as development-oriented and research-oriented, are among the most beneficial for firms’ innovativeness. Diffusion-oriented UIC does not contribute to innovation, unless it is combined with both research-oriented and development-oriented UIC s. Finally, the csQCA suggests that in most cases the firms should focus on engaging in one specific UIC type rather than split its effort and resources among a mix of UIC . The findings amplify comprehension of the range of impacts that entrepreneurial universities promote in low-tech sector, creating both theory and policy implications.
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