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MOAGEM DE ALABASTRO UTILIZANDO MOINHOS PLANETÁRIO E A JATO:
PARÂMETROS OPERACIONAIS E EFEITO DO HÁBITO CRISTALINO
GUZZO, P.L.1, TINO, A.A.A.2, IDELFONSO, M.L.1, SANTOS, J.B.3, SOARES, B.R.1,4,
BARROS, F.B.M.1,5.
1Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Departamento de Engenharia de Minas
e-mail: pedro.guzzo@ufpe.br
2Universidade Federal Oeste do Pará (UFOPA),
3Agência Nacional de Mineração
4Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), PPG Tecnologias Energéticas e Nucleares
5Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), PPG Engenharia Civil
RESUMO
Alabastro é uma variedade de gipsita de alta pureza ainda pouco utilizada no Brasil. Neste
trabalho, ensaios de moagem foram realizados com o objetivo de avaliar a influência do hábito
fibroso do alabastro sobre o tamanho e a morfologia dos ultrafinos. Outra variedade,
denominada gipsita Johnson, de hábito granular, também foi estudada. As moagens foram
realizadas em dois tipos de moinhos. No planetário, o parâmetro analisado foi o tempo de
moagem (entre 1 e 60 min). No moinho a jato, foram testados dois tipos de alimentadores
para três faixas granulométricas entre 50 e 150 µm. Maiores fatores de redução foram obtidos
com o moinho a jato; que foi explicado pela precoce aglomeração de ultrafinos no produto do
moinho planetário. A função de Rosin-Rammler e um modelo empírico tempo-tamanho foram
empregados para estimativa do índice de uniformidade e do limite e taxa de moagem.
Constatou-se que o moinho a jato é adequado para o processamento das duas variedades de
gipsita. O hábito cristalino e o caráter higroscópico das amostras foram determinantes na
seleção do alimentador e da taxa de moagem.
PALAVRAS-CHAVE: Moagem ultrafina; Gipsita; Limite de moagem; Aglomeração; Dispersão
ABSTRACT
Alabaster is a variety of high purity gypsum that is not broadly used in Brazil. In this work,
grinding tests were carried out to evaluate the effect of its fibrous habit on the size and
morphology of the ground product. Another high purity variety with massive (granular) habit,
called locally Johnson gypsum, was studied. The grinding tests were performed in two types
of mills. The grinding time (1 to 60 min) was the parameter investigated with a planetary ball
mill. In an air jet mill, some feed rates were tested for three particle size ranges (50 to 150
μm). Higher reduction factors were achieved with the jet mill. This result was explained
considering the interparticle agglomeration observed in the product of the planetary mill. The
Rosin-Rammler function and an empirical time-size model were used to evaluate the
uniformity index, the grinding limit, and the grinding rate. This analysis confirmed that the jet
mill was suitable for the processing of the two gypsum varieties. The crystalline habit
influenced the selection of the feeder and the feed rate.
KEYWORDS: Ultrafine grinding, Gypsum, Grinding limit; Agglomeration; Dispersion index
Guzzo, P.L.; Tino, A.A.A.; Idelfonso, M.L.; Santos, J.B.; Soares, B.R.; Barros, F.B.M.
1. INTRODUÇÃO
A principal aplicação da gipsita (CaSO4.2H2O) é a produção de gesso. O gesso é obtido
por processo de desidratação parcial da água de cristalização com tratamentos térmicos entre
125 e 180 °C, conhecido como calcinação. O gesso tipo beta (gesso β) é utilizado na produção
de pré-moldados e estruturas acartonadas; revestimentos e pastas para a construção civil.
Outra variedade, o gesso tipo alfa (gesso α), é usado na produção de moldes ortopédicos e
ortodônticos; tintas, inseticidas, ácidos e reagentes; papel e celulose (BALTAR; BASTOS; LUZ,
2008). A produção do gesso α exige controle tanto dos parâmetros de processo quanto das
propriedades da gipsita. No Polo Gesseiro do Araripe (PGA), Pernambuco, uma variedade de
alta pureza, denominada gipsita Johnson, é utilizada na produção do gesso α por meio do
método de desidratação e recristalização em autoclave, sob pressão de vapor ou solução
hidrotérmica (PERES; BENACHOUR; SANTOS, 2008). Os dois tipos têm a mesma estrutura
cristalina (bassanita; CaSO4.0,5H2O). Além da morfologia e orientação dos grãos, as diferenças
ocorrem quanto à presença de subprodutos indesejáveis, como fases de baixa solubilidade ou
anídricas (anidrita; CaSO4) e contaminantes (JORGENSEN, 1994). Pode haver diferença quanto
ao tamanho e morfologia das partículas após moagem subsequente à desidratação. Logo,
considerando a exaustão das reservas de gipsita Johnson e as limitações técnicas das empresas
de pequeno porte para caracterização granulo-química dos produtos, o estudo de novas rotas
de processamento poderá contribuir para o aperfeiçoamento das atividades do PGA.
O alabastro é a variedade de gipsita que se caracteriza pelo hábito fibroso. No membro
Ipubi da bacia sedimentar da Formação Santana, a ocorrência do alabastro se dá nas fraturas
que cortam as camadas de gipsita Johnson (BALTAR; BASTOS; LUZ, 2008; TINO, 2016). Apesar
da pureza, o alabastro não é utilizado industrialmente. Segundo informações locais, a pequena
quantidade extraída (cerca de 2.000 toneladas/ano; ~5 % da produção total) e o hábito fibroso
inviabilizam seu processamento. Após desmonte, os blocos separados por catação manual são
descartados (estéril) ou, quando muito, destinados à produção de “gesso agrícola” (corretivo
de solo) mediante britagem. Como outros minerais industriais disponibilizados na forma
granulada, as especificações resultantes do processamento da gipsita estão relacionadas à
composição química e dispersão do estado particulado. Além da distribuição de tamanhos, a
dispersão depende da forma, morfologia e das propriedades interfaciais das partículas que,
segundo Peukert (2004), estão relacionadas com propriedades estruturais do material e
parâmetros das etapas de comuinuição e classificação. No caso da gipsita, e do alabastro em
particular, os parâmetros de calcinação, também devem ser considerados. Deve-se ressaltar
que o número de estudos voltados à caraterização das propriedades do gesso é muito superior
àqueles conduzidos para a caracterização granulo-química das variedades de gipsita (ZHANG;
KASAI; SAITO, 1996; ÖKSÜZOĞLU; UÇURUM, 2015). Neste contexto, o presente estudo aborda
um único aspecto da cadeia gipsita-gesso: a influência do hábito fibroso do alabastro sobre a
distribuição granulométrica resultante da moagem em dois moinhos de alta energia. Para
efeito de comparação, os ensaios de moagem e as caracterizações subsequentes também
foram conduzidas com a gipsita Jonhson, de hábito maciço (granular).
2. MATERIAIS E MÉTODOS
2.1 Amostras
As alíquotas de gipsita alabastro e Johnson foram preparadas a partir de blocos R.O.M.,
disponibilizados pela Mineradora São Jorge (Ouricuri, PE) por meio das operações de britagem
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e classificação granulométrica. Para os ensaios com o moinho planetário, foram preparadas
alíquotas de 40 ml (60 g) na faixa 417x813 µm (TINO, 2016). Para os ensaios com moinho a
jato, devido às limitações do alimentador, foi necessário trabalhar com faixas mais finas. Para
tanto, o material < 150 µm foi classificado nas seguintes faixas granulométricas: 53x75 µm,
75x105 µm e 105x150 µm (BATISTA LEAL, 2018; IDELFONSO, 2021). Para garantir quantidade
mínima para cada faixa (~200 g), o material foi britado e classificado na faixa superior
(150x250 µm). Depois, foi cominuído em almofariz e classificado nas faixais supracitadas. Após
homogeneização, cada alíquota foi acondicionada em ambiente seco (IDELFONSO, 2021).
2.2 Ensaios
Os ensaios no moinho planetário Fritsch Pulverisette-5 foram realizados anteriormente
por Tino (2016) com potes (250 ml) e bolas (10 mm; 25 unidades) de zircônia a 300 rpm (TINO,
2016). Foram utilizados os resultados dos ensaios com os seguintes tempos de moagem: 1, 2,
4, 8, 15, 30 e 60 min para as duas variedades de gipsita. Cada tipo de gipsita foi cominuído
simultaneamente em potes distintos.
Os ensaios no moinho a jato foram realizados com o equipamento Micron-Master Jet
Pulverizer 02-612-wc, que é um moinho do tipo espiral. Possui câmara de 2 polegadas de
diâmetro e revestida com WC. O ar comprimido é provido por um compressor Atlas-Copco
GX5 FF tipo parafuso. As pressões na câmara e na alimentação foram de 0,2 e 0,6 MPa,
respectivamente. O alimentador Schenck Process AccuRate 106 M foi utilizado anteriormente
por Soares e Guzzo (2019) para o quartzo e foram obtidas taxas de alimentação entre 0,40 e
3,2 g/min. Para as duas variedades de gipsita foi observado uma taxa de alimentação baixa (<
1,15 g/min) e sem repetibilidade. Dessa forma, procedeu-se uma adaptação na calha
vibratória Equimag 15A com um funil de aço (45 x 2,5 mm). Com esse arranjo, foi possível
obter as seguintes taxas de alimentação entre 0,5 e 2,8 g/min (IDELFONO, 2021).
2.3 Tamanho e morfologia
As análises granulométricas foram realizadas por espalhamento a laser utilizando um
granulômetro Malvern Mastersizer 2000. As medidas foram realizadas a seco com o acessório
Scirocco em triplicata sendo que, a distribuição granulométrica de cada medida corresponde
à média de três leituras. A partir delas, foram determinados os diâmetros característicos d10,
d50, d90 considerando o modelo da esfera equivalente (TINO, 2016).
A morfologia das partículas foi analisada de forma qualitativa por meio de microscopia
eletrônica de varredura em duas etapas distintas. O produto do moinho planetário foi
observado com o microscópio FEI Quanta 400 do CETEM (RJ) com tensão de 20 kV e detector
de elétrons retroespalhados. O produto do moinho a jato foi observado com o microscópio
JEOL JSM 6460 (Laboratório de Dispositivos e Nanoestruturas, DES, UFPE) com tensão de 30
kV e detector de elétrons secundários. Nas duas ocasiões, as partículas foram metalizadas com
filme de ouro e as análises realizadas em alto vácuo.
2.4 Ajustes
A função empírica de Rosin-Rammler (RR) vem sendo empregada para descrever a
população de partículas produzidas por moagem ultrafina (YUE; KLEIN, 2005; SHRIVASTAVA
et al., 2011; GUZZO; BARROS; TINO, 2019). A função RR pode ser escrita da seguinte forma:
Guzzo, P.L.; Tino, A.A.A.; Idelfonso, M.L.; Santos, J.B.; Soares, B.R.; Barros, F.B.M.
(1)
em que R é a fração acumulada na malha de abertura x (µm), x63.2 é o tamanho de referência
equivalente a 63,2% de passante. n é o índice de uniformidade da distribuição. Quanto maior
n, menor a heterogeneidade. O nível de ajuste da função RR aos pontos experimentais foi
determinado pelo coeficiente de determinação ajustado (r2), sendo sempre ≥ 0.993.
Uma vez que os ensaios no moinho planetário foram realizados em função do tempo,
o modelo empírico proposto por Stražišar e Runovc (1996) e adaptado por Mio et al. (2004)
foi escolhido para descrever a evolução do tamanho de partícula dos materiais estudados.
Neste modelo, o diâmetro característico (d) extraído da curva de distribuição de tamanhos é
relacionado com o tempo de moagem (t) pela equação seguinte:
(2)
em que d0 é o diâmetro característico da alimentação; dl o diâmetro característico no limite
moagem e kp a taxa de moagem (min-1). As taxas de moagem dos ensaios com o moinho a jato
foram estimadas pela massa moída e a duração do ensaio. Os diâmetros característicos
associados ao limite de moagem foram extraídos das curvas de distribuição granulométrica.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Curvas de distribuição granulométrica
A Figura 1 apresenta curvas de distribuição granulométricas da alimentação e do
produto dos ensaios de moagem. O aspecto das curvas é semelhante para as duas variedades;
mas varia de um tipo de moinho para outro. No planetário, observa-se redução significativa
dos tamanhos logo após 2 min. Acima de 15 min, as distribuições se sobrepõem. Para a gipsita
Jonhson, o deslocamento para a direita da curva para 60 min é uma indicação da aglomeração
de partículas. A constatação de aglomerados pelas curvas de distribuição granulométrica é
uma indicação de que eles são resistentes à dispersão com jato de ar inerente à medida. Para
as faixas de tamanho analisadas, a granulometria da alimentação tem pequena influência
sobre a distribuição granulométrica do produto do moinho a jato. Nesta figura é possível
observar que a produção de ultrafinos (< 10 µm) é maior com o moinho a jato. A amplitude
da dispersão de tamanhos entre alimentação e produto também é mais favorável para o
moinho a jato. Se formados, os aglomerados são dispersos durante a análise granulométrica,
evidenciado menor resistência do que aqueles produzidos com o moinho planetário.
3.2 Análise do hábito cristalino
A Figura 2 apresenta a variação do diâmetro característico d50, do fator de redução de
tamanho e do índice de uniformidade (n) em função dos parâmetros operacionais dos ensaios
com os dois moinhos. Diferenças substanciais são observadas no comportamento das duas
variedades de gipsita. No moinho planetário, a principal diferença ocorre entre os fatores de
redução de tamanho e para os índices n. Não apenas d50, mas também os diâmetros d10 e d90,
são ligeiramente inferiores para a gipsita Johnson para os intervalos entre 4 e 30 min. Esta
diferença e os maiores valores de d50 da alimentação (416±10 µm e 429±36 µm para alabastro
e Johnson; respectivamente) explicam os maiores fatores de redução.
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Figura 1. Curvas de distribuição granulométrica características de alíquotas da alimentação e produto da
moagem de alabastro e gipsita Johnson em moinhos planetário a 300 rpm (a, b) e a jato (c, d).
Figura 2. Variação do diâmetro d50, do fator de redução de tamanho (detalhes (a) e (b)) e do índice de
uniformidade em função do tempo de moagem (planetário) e do tamanho da alimentação (moinho a jato)
A maior fragmentação da gipsita Jonhson para os tempos intermediários também foi
evidenciada pelos diâmetros d10: por exemplo, após 15 min, os valores são 1,50±0,03 µm e
1,17±0,03 µm para alabastro e Johnson. Logo, a maior quantidade de ultrafinos produzido com
a gipsita Johnson pode explicar as maiores heterogeneidades observadas nas distribuições de
tamanhos conforme observado na figura 2 (c). Esta hipótese foi confirmada pela análise por
MEV, cujas imagens características são apresentadas na Figura 3. Comparando as imagens das
alíquotas moídas, constata-se que a heterogeneidade na distribuição de tamanhos é superior
para a gipsita Johnson ou seja: (i) após 2 min maior quantidade de finos; (ii) após 15 min, maior
quantidade de fragmentos parcialmente quebrados cobertos por partículas finas. Comparado
com as imagens da alimentação, contata-se que o hábito fibroso do alabastro deixa de ser
observado com clareza já após 15 min de moagem.
0
100
200
300
400
020 40 60
d50 (um)
tempo de moagem (min)
Alabastro
Johnson
0
10
20
30
40
020 40 60
fator de redução
tempo de moagem (min)
Alabastro
Johnson
(a)
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
3.0
3.5
30 50 70 90
d50 (um)
tamanho alimentação (um)
Alabastro
Johnson
12
16
20
24
28
32
30 50 70 90
fator de redução
tamanho alimentação (um)
Alabastro
Johnson
(b)
0.6
0.8
1.0
1.2
1.4
1.6
010 20 30 40 50 60
índice de uniformidade
tempo moagem (min)
Alabastro
Johnson
-0.6
-0.5
-0.4
-0.3
-0.2
-0.1
0.0
010 20 30 40 50 60
variação relativa n
tempo moagem (min)
Alabastro
Johnson
(c)
1.0
1.1
1.2
1.3
1.4
1.5
30 50 70 90
índice de uniformidade
tamanho alimentação (um)
Alabastro_A Johnson_A
Alabastro_P Johnson_P
(d)
Guzzo, P.L.; Tino, A.A.A.; Idelfonso, M.L.; Santos, J.B.; Soares, B.R.; Barros, F.B.M.
O efeito do hábito é também observado nos ensaios com o moinho a jato. Os valores
de d50 são menores para o alabastro. Nas duas variedades, os fatores de redução aumentam
com o aumento da alimentação, sugerindo que partículas maiores são mais susceptíveis à
quebra por impacto. As heterogeneidades das distribuições são comparáveis tanto para a
alimentação quanto para o produto. As imagens de MEV mostradas na Figura 3 contribuem
para explicar os altos valores de n do produto do alabastro; constituído de ultrafinos, sem
aglomerados e fragmentos parcialmente quebrados. Os valores de d90 para as alíquotas 53x75
µm e 75x105 µm do alabastro foram 5,42±0,35 µm e 5,58±0,27 µm, respectivamente.
Resultado semelhante foi observado para a gipsita Johnson; porém com valores de d90 maiores
(6,60±0,34 µm e 7,20±0,35 µm). Pode-se afirmar que a morfologia das partículas ultrafinas
das duas variedades de gipsita é semelhante para o produto do moinho a jato.
Figura 3 – Imagens de MEV das alíquotas das alíquotas da alimentação e do produto das moagens de
alabastro (a-c; g-i) e gipsita Johnson (d-f) em moinhos planetário (a-f) de bolas (300 rpm) e a jato (g-i).
O resultado do modelo tempo-tamanho expresso pela Eq. (2) é apresentado na Tabela
1. Observa-se que a qualidade dos ajustes é satisfatória, com os valores de R2 variando entre
O,87 e 0,99. Os desvios-padrão que acompanham os valores médios da gipsita Johnson são
maiores. Mesmo assim, é possível observar que os diâmetros limites associados a d50 e d90 são
menores para a gipsita Johnson mesmo que as taxas de moagem sejam menores. Como
observado na figura 2(a), o modelo tempo-tamanho sugere que o hábito fibroso do alabastro
interfere de maneira secundária no processamento da gipsita em moinho planetário.
Tabela 1 – Taxa (kp) e limite de moagem (dl) resultantes do ajuste do modelo tempo-tamanho para os
diâmetros caraterísticos medidos para as variedades alabastro e Johnson processadas em moinho planetário.
diâmetro
variedade de gipsita
kp (min-1)
dl (µm)
R2
d10
alabastro
1,58±0,05
2,89±0,17
0,99
Johnson
1,80±0,40
2,50±0,47
0,99
d50
alabastro
0,57±0,03
24,07±3,01
0,98
Johnson
0,52±0,08
12,73±3,24
0,99
d90
alabastro
0,56±0,11
167,87±27,97
0,97
Johnson
0,31±0,16
104,26±37,03
0,87
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3.3. Análise do mecanismo de moagem
A análise dos resultados apresentados na Figura 2(a) e Tabela 1 mostra que o tempo
de moagem apropriado para as duas variedades em moinho planetário (300 rpm; relação
volumétrica material: bola 3:1) é 15 min. Para tempos inferiores há a presença de partículas
parcialmente moídas e para tempos prolongados observa-se o fenômeno da aglomeração,
sobretudo para a gipsita Johnson. Logo, apenas os valores obtidos com 15 min serão utilizados
para a comparação com os resultados do moinho a jato. Esta comparação está apresentada
na Tabela 2. Como o moinho planetário empregado tem suporte para 4 potes e opera por
batelada, a taxa de moagem foi estimada considerando 120 g de cada variedade de gipsita.
Os resultados da Tabela 2 mostram que as taxas de moagem e os fatores de redução
obtidos com o moinho a jato são dependentes do tamanho de partícula da alimentação. Como
o mecanismo de quebra é o impacto partícula contra partícula (CHAMAYOU e DODDS, 2007),
a densidade de concentradores de tensão controla a resistência à quebra das duas variedades
de gipsita neste moinho. A predominância do mecanismo de quebra sobre o tamanho e a
textura das partículas da alimentação também é verificada nos valores de d50, embora esses
valores sejam estatisticamente diferentes para o produto das faixas 53x75 µm e 75x105 µm.
A grande diferença entre os produtos dos dois tipos de moinhos reside na heterogeneidade
da distribuição de tamanhos. Partindo de populações com heterogeneidades semelhantes, os
mecanismos de quebra inerentes ao moinho planetário (impacto e atrito) geram produtos
muito heterogêneos. Resultado semelhante foi observado para o quartzo (SOARES e GUZZO,
2019). Logo, esta parece ser uma característica da moagem a seco no moinho planetário.
Tabela 2- Síntese dos resultados da moagem das gipsitas alabastro (A) e Johnson (J) nos moinhos planetário
(300 rpm) e a jato de ar comprimido.
tipo
alimentação
variedade
taxa moagem
d50
fator
índice
moinho
(µm)
gipsita
(g/min)
(µm)
redução
n
53x75
A
0,54
2,28±0,09
14,5
1,449±0,063
J
1,07
2,58±0,11
14,7
1,327±0,043
a jato
75x105
A
0,58
2,35±0,10
17,9
1,422±0,040
J
1,66
3,00±0,15
19,9
1,364±0,024
105x150
A
1,76
3,16±0,15
28,1
1,346±0,031
J
1,81
3,14±0,06
31,0
1,359±0,035
planetário
417x813
A
8
21,79±1,46
19,1
O,648±0,021
(15 min)
J
8
10,95±0,36
39,1
0,671±0,006
4. CONCLUSÃO
Os resultados deste estudo mostraram que o hábito fibroso no alabastro tem um efeito
secundário sobre a distribuição granulométrica resultante da moagem em moinhos planetário
e a jato. O tempo de 15 min mostrou-se satisfatório para a moagem da gipsita Johnson e do
alabastro no moinho planetário operando a 300 rpm e com relação volumétrica material:
bolas igual a 3:1. Faixas de tamanho entre 50 e 150 µm não afetaram o desempenho do
moinho a jato onde a produção de ultrafinos (< 8 µm) foi intensa para os dois tipos de gipsita.
Além do tamanho, a uniformidade da distribuição foi muito mais satisfatória para o produto
do moinho a jato. Logo este moinho se apresenta como uma alternativa para a moagem de
materiais de friáveis como a gipsita desde que ajustada as condições de alimentação.
Guzzo, P.L.; Tino, A.A.A.; Idelfonso, M.L.; Santos, J.B.; Soares, B.R.; Barros, F.B.M.
5. AGRADECIMENTOS
Os autores são gratos ao CNPq (P: 420002/2016-2) e à Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação da
UFPE (P: 23076.074512/2020-23) pelo apoio financeiro. Agradecem ao Dr. Reiner Neumann
(CETEM) e ao Prof. Edval Santos (LDN/UFPE) pela viabilização das análises de MEV.
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