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A contribuição da cartografia do relevo para análise de feições erosivas lineares na alta bacia do ribeirão da Boa Vista- Corumbataí (SP)

Authors:

Abstract and Figures

Objetiva-se avaliar a potencialidade da carta geomorfológica e de declividade, em conjunto com dados litológicos e pedológicos, para análise das feições erosivas lineares em uma bacia hidrográfica caracterizada por padrão de relevo e de uso da terra típico do interior do estado de São Paulo. A análise dos dados permitiu constatar: a) sulcos erosivos, ravinas e voçorocas ocorrem predominantemente em setores de litologias arenosas; b) setores que apresentam maiores índices de inclinação do terreno podem agregar energia ao escoamento e potencializar a atividade erosiva; c) a carta geomorfológica e de declividade são importantes para a análise dos processos erosivos, e permitem avaliar a interação espacial entre as formas e os materiais.
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Geosul, Florianópolis, v. 37, n. 82, p. 275-302, mai./ago. 2022.
https://doi.org/10.5007/2177-5230.2022.e77196
ANÁLISE DA DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DAS FEIÇÕES EROSIVAS LINEARES
NA ALTA BACIA DO RIBEIRÃO DA BOA VISTA-CORUMBATAÍ (SP)
Melina de Melo Silva
1
Cenira Maria Lupinacci
2
Estêvão Botura Stefanuto
3
Resumo: O objetivo do artigo é avaliar a distribuição espacial das feições erosivas
lineares e as características dos terrenos em que estas se desenvolvem, utilizando
como unidade de análise uma bacia hidrográfica que apresenta padrão de relevo e
de uso da terra típico do interior do estado de São Paulo. Para isso, utilizaram-se
dados provenientes de mapeamentos geomorfológicos e de declividade em conjunto
com dados litológicos e pedológicos. A análise dos dados permitiu constatar: a)
sulcos erosivos, ravinas e voçorocas ocorrem predominantemente em setores de
litologias arenosas; b) setores que apresentam maiores valores de inclinação do
terreno podem agregar energia ao escoamento e potencializar a atividade erosiva; c)
a carta geomorfológica e de declividade são importantes para a análise dos
processos erosivos, e permitem avaliar a interação espacial entre as formas e os
materiais.
Palavras-chave: Carta de declividade. Carta geomorfológica. Processos erosivos.
ANALYSIS OF THE SPATIAL DISTRIBUTION OF LINEAR EROSIVE FEATURES
IN THE HIGH CATCHMENT OF RIBEIRÃO DA BOA VISTA- CORUMBATAÍ (SP)
Abstract: The objective of the paper is to analyze the spatial distribution of linear
erosive features and the characteristics of the terrains in which they develop in a
catchment. This is characterized by a relief and land use pattern typical of the
country of the state of São Paulo. The analysis of the data showed: a) rill erosion,
ravines and gullies occur predominantly in sandy lithology sectors; b) sectors that
have higher land slope values can add energy to the runoff and enhance erosive
activity; c) the geomorphological and slope map are important for the analysis of
erosive processes, and allow to evaluate the spatial interaction between landforms
and materials.
Keywords: Slope map. Geomorphological map. Erosive processes.
ANÁLISIS DE LA DISTRIBUCIÓN ESPACIAL DE DINÁMICA EROSIVAS
LINEALES EM LA CUENCA DE RIBEIRÃO DA BOA VISTA- CORUMBATAÍ (SP)
Resumen: El objetivo del artículo es analizar la distribución espacial de las
dinámicas erosivas lineales y las características de los terrenos los cuales se
desarrollan, utilizando como unidad de análisis una cuenca hidrográfica que
presenta un patrón de relieve y uso del suelo propio del interior del estado de São
Paulo. El análisis de los datos mostró: a) los surcos erosivios, barrancos y
1
Universidade Estadual Paulista - UNESP, Departamento de Geografia e Planejamento Ambiental -
DGPA, Rio Claro, Brasil, melinamellosilva@gmail.com, http://orcid.org/0000-0002-5764-9690
2
Universidade Estadual Paulista - UNESP, Departamento de Geografia e Planejamento Ambiental -
DGPA, Rio Claro, Brasil, cenira.lupinacci@unesp.br, https://orcid.org/0000-0002-4732-1421
3
Universidade Estadual Paulista - UNESP, Programa de Pós-Graduação em Geografia - DGPA, Rio
Claro, Brasil, estevao1508@hotmail.com, https://orcid.org/0000-0001-6580-2563
276
SILVA, LUPINACCI, STEFANUTO
quebradas ocurren predominantemente en sectores de litología arenosa; b) los
sectores donde hay valores de pendiente de la tierra más altos pueden agregar
energía a la escorrentía y aumentar la actividad erosiva; c) el mapa geomorfológico y
de pendientes son importantes para el análisis de procesos erosivos, y permiten
evaluar la interacción espacial entre formas y materiales.
Palabras clave: Mapa de pendientes. Mapa geomorfológico. Procesos erosivos.
Introdução
A relevância da cartografia do relevo para a pesquisa em geomorfologia é
reconhecida desde meados da década de 1950, quando geógrafos franceses e
poloneses publicaram as primeiras cartas detalhadas em escalas diversas com base
em levantamentos de campo (COLTRINARI, 2011). Neste sentido, dentre os
diversos produtos cartográficos, as cartas geomorfológicas (ZANATTA, 2018;
SILVEIRA; LUPINACCI, 2019), morfométricas (CUNHA, 2001), assim como dados
litológicos e pedológicos são importantes materiais para a análise dos processos
erosivos.
Em relação às cartas geomorfológicas, Tricart (1965) define parâmetros
relevantes para sua elaboração, destacando a importância dos dados
morfométricos, morfográficos, morfogênicos e cronológicos. Para Tricart (1965),
uma complexidade para representação dos referidos dados, tendo em vista a
multiplicidade dos procedimentos técnicos, que variam de acordo com as
características da área pesquisada, a escala de trabalho e o objetivo do
pesquisador. A representação das formas do relevo será diretamente afetada pela
escala adotada na pesquisa, sendo o objetivo de uma carta de detalhe fornecer uma
descrição racional de todos os elementos do relevo (TRICART, 1965).
Para Paschoal e Cunha (2016), por exemplo, a cartografia geomorfológica,
além da função essencial de representar o relevo, identifica também à relação
espacial entre as diferentes formas, interpreta as causas e as condições ambientais
em que a evolução dessas formas se processa, serve como suporte para o
planejamento e ordenamento do território e facilita o estudo dos recursos e riscos
naturais. Desse modo, compreende-se que a descrição das formas de relevo, a
interpretação da sua gênese, bem como a cronologia dos processos que as geram,
possuem forma de expressão privilegiada pela cartografia geomorfológica. Assim, a
cartografia geomorfológica pode vir a complementar os estudos sobre erosivos em
áreas agrícolas, pois permite o mapeamento de feições de relevo que indicam a
atuação de processos denudativos, como rupturas topográficas, sulcos erosivos,
277
SILVA, LUPINACCI, STEFANUTO
ravinas, entre outras. Ela também pode fornecer indicativos das áreas que
necessitam de atenção e cuidados específicos com a prática agrícola, a fim de
preservar a integridade do recurso natural do solo (SILVEIRA; LUPINACCI, 2019).
Também é possível identificar feições de relevo que indicam maior dinâmica erosiva
desencadeada pelo escoamento das águas e as diversas alterações promovidas
pela ação humana, que interferem na morfologia original e na rede de drenagem
(ZANATTA, 2018).
Em relação à morfometria, destacam-se as cartas de declividade, que têm se
constituído como uma ferramenta de grande importância nas análises de processos
erosivos, por representarem especialmente as variações topográficas da superfície
do terreno (GUERRA, 1998). De acordo com Cunha (2001), os dados sobre a
declividade são primordiais para a avaliação das possibilidades de ocorrência de
processos de remobilização das formações superficiais ou de corpos rochosos, tais
como escorregamentos, erosão, desmoronamentos, creeping, entre outros. Quan et
al. (2020), a partir de experimentos em ambiente controlado mediante chuva
simulada conduzida em parcelas de declives variáveis (5º, 10º, 15º e 20º), denotam
a taxa de erosão positivamente correlacionada com o grau de inclinação do terreno.
Assim, compreende-se que a inclinação do terreno está diretamente relacionada
com a manutenção ou variação da velocidade de escoamento superficial da água,
afetando as perdas de solo por erosão (PES; GIACOMINI, 2017).
Somadas às informações sobre as feições do relevo e a declividade,
destacam-se as condições lito-pedológicas do terreno como um importante fator
para a análise geomorfológica de processos erosivos. A análise de aspectos
relacionados ao relevo e a geologia pode levar à elucidação e à compreensão de
diversas questões associadas à dinâmica ambiental local (CHRISTOFOLETTI,
1969). Nessa perspectiva, compreende-se que a análise das características
litológicas, além de fornecer o material que distingue a configuração do relevo,
determina as propriedades mineralógicas dos solos (RAMALHO, 2003). As rochas
respondem diferentemente à ação dos agentes intempéricos, em função de maiores
ou de menores resistências, as quais são determinadas por características
intrínsecas de cada uma destas, interferindo diretamente na maior ou na menor
erodibilidade do solo (DUMMER, 2019).
Outrossim, a análise pedológica é imprescindível para a avaliação e
planejamento do uso da terra, bem como para a recuperação de áreas degradadas
278
SILVA, LUPINACCI, STEFANUTO
por processos erosivos pluviais, com destaque para as propriedades físicas dos
solos, como a granulometria, densidade, porosidade e teor de matéria orgânica
(CAMARGO, et al. 2009). De acordo com Magalhães (2001), os solos mais propícios
à erosão são os arenosos, destacando-se os de granulação fina, secos, ácidos,
pouco coesivos, coluviais e porosos. Thomazini (2013), ao analisar as
características granulométricas na bacia do córrego do Castelo (Bauru-SP),
constatou que as argilas apresentaram alta suscetibilidade ao escoamento
superficial, propiciando o desenvolvimento de processos erosivos.
Portanto, compreende-se que os dados sobre o solo, quando agregados com
aqueles produzidos por meio da cartografia geomorfológica, ferramenta
imprescindível para o entendimento dos aspectos do relevo, auxiliam na
identificação da origem e evolução de feições erosivas, do tipo de material em que
se desenvolvem e da história geomorfológica dos terrenos. Ademais, a
morfodinâmica, ao identificar os tipos de processos que definem as formas de
relevo, a partir dos fatores exógenos, denota a propensão de uma determinada área
ao desencadeamento, por exemplo, de processos erosivos. Assim, a relação entre
os parâmetros pedológicos, morfológicos e morfodinâmicos é de fundamental
importância, considerando ainda a declividade como uma das principais variáveis
morfométricas que condicionam o tipo e a intensidade dos processos erosivos
pluviais.
Neste sentido, o objetivo do presente artigo é analisar a distribuição espacial
das feições erosivas lineares e as características dos terrenos em que estas se
desenvolvem. Para isso, utilizaram-se dados provenientes de mapeamentos
geomorfológicos e de declividade em conjunto com dados litológicos e pedológicos.
Como área de estudo, foi selecionada a Alta Bacia do Ribeirão da Boa Vista (SP),
que se caracteriza por padrão de relevo e de uso da terra típicos do setor central do
estado de São Paulo.
Destaca-se que a área de estudo apresenta significativa dinâmica erosiva a
qual caracteriza a zona de transição Cuesta-Depressão Periférica Paulista (PINTON,
2016; STEFANUTO, 2019), apresentando um sistema de voçorocamento com
dimensões marcantes e evolução acelerada. Essas feições erosivas encontram-se
no setor de contato entre litologias areníticas e argilosas, cujas diferenças podem
potencializar a dinâmica erosiva.
279
SILVA, LUPINACCI, STEFANUTO
Os voçorocamentos têm sido estudados em diversas partes do globo
(POESEN, et al., 2003; TEBEDU, et al. 2010; KARIMOV et al., 2015; DUBE, et al.,
2020) e do Brasil (BACELLAR; COELHO NETO; LACERDA, 2005; AUGUSTIN;
ARANHA, 2006; MATHIAS; NUNES, 2019; BEZERRA, et al., 2020), ocorrendo em
ambientes climáticos e lito-estruturais muito variados. No Brasil, alguns aspectos
relevantes destas formas já foram discutidos; assim, Bezerra et al. (2020) apontam a
relação dos voçorocamentos em bacias de primeira e segunda ordem, sob o
domínio de cana de açúcar; Augustin e Aranha (2006) falam sobre o caráter
policíclico que pode marcar os voçorocamentos; Bacellar, Coelho Neto e Lacerda
(2005) discutem também paleo voçorocas e a recorrência dos processos erosivos
em setores de cabeceiras. Assim, esse artigo busca colaborar também com a
discussão sobre a complexidade desses processos erosivos.
Área de estudo
A Alta Bacia do Ribeirão da Boa Vista localiza-se no setor noroeste da bacia
hidrográfica do Rio Cabeça (SP) na região centro-leste do estado de São Paulo,
entre as coordenadas geográficas 22°15’ e 22º 19’S e 47°49’ e 47º 39’ W,
posicionando-se no município de Corumbataí, sendo o principal acesso pela rodovia
Washington Luís (Figura 1). A área apresenta 3,18 km2 de área, sendo o Ribeirão
Boa Vista afluente do Rio Cabeça, o qual integra a bacia do Rio Corumbataí. O
referido Ribeirão constitui-se em um canal de terceira ordem, de acordo com a
classificação de Strahler, apresentando 2,84 km de extensão.
280
SILVA, LUPINACCI, STEFANUTO
Figura 1 - Localização da Alta Bacia do Ribeirão da Boa Vista (SP).
Fonte: Elaborado pelos autores (2020).
Do ponto de vista do relevo regional, a Alta Bacia do Ribeirão da Boa Vista,
posiciona-se na Depressão Periférica Paulista, localizada sobre a Bacia Sedimentar
do Paraná, (SANTOS et al., 2006). Esta se constituiu como uma região sedimentar
do continente sul-americano, preenchida por depósitos marinhos e continentais com
idades que vão do Siluriano Superior até o Cretáceo. Milani et al. (2007) evidenciam
que a Bacia Sedimentar do Paraná abrange seis grandes unidades estratigráficas
com intervalos temporais de algumas dezenas de milhões de anos de duração,
envelopadas por superfícies de discordância de caráter inter-regional, sendo sua
estratigrafia com espessura em torno de 7 mil metros.
No que concerne à Depressão Periférica Paulista, Ab’Saber (1949) a identifica
como uma região decorrente dos processos de circundesnudação que ocorreram na
borda da Bacia Sedimentar do Paraná após seu soerguimento no Cenozóico, com
predominância dos processos denudacionais que se ajustaram à hidrografia
regional. O fenômeno de circundesnudação caracteriza-se, segundo o autor, como
processo de formação de patamares de erosão deprimidos e periféricos, nas bordas
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SILVA, LUPINACCI, STEFANUTO
das bacias sedimentares soerguidas. Do ponto de vista geológico, destacam-se na
área de estudo as unidades estratigráficas da Formação Corumbataí (Grupo Passa
Dois) e da Formação Pirambóia (Grupo São Bento) (Figura 2).
Figura 2 - Solos e Litologias da Alta Bacia do Ribeirão da Boa Vista (SP).
Fonte: Elaborado pelos autores (2020).
A Formação Piramboia encontra-se sobreposta aos folhelhos e siltitos da
Formação Corumbataí e sotoposta aos arenitos da Formação Botucatu, com ambos
os contatos discordantes (CORTÊS; PERINOTTO, 2015). A Formação Pirambóia,
conforme apresenta o Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT,
1981), é composta por arenitos de granulação média a fina, possuindo fração
argilosa maior na parte inferior, quando comparado a superior, onde localmente
ocorrem arenitos grossos e conglomeráticos. A Formação Corumbataí é constituída
por argilitos, siltitos e folhelhos arroxeados e marrom-avermelhados, às vezes
esverdeados, com intercalações de arenitos, leitos carbonáticos e coquinas. “Seus
espessos e contínuos pacotes lamíticos são alvos da intensa atividade de
mineração, sendo cada vez mais explorada para fabricação de cerâmica vermelha”
(ZAINE, 1994, p. 19).
Em relação aos tipos de solos na área de estudo, constata-se o domínio do
Argissolo Vermelho Amarelo Distrófico, unidade Serrinha, na maior parte da bacia e
de Neossolo Quartzarênico e Latossolo Vermelho Amarelo junto dos divisores a
nordeste (Figura 2). Oliveira e Prado (1984), afirmam que a unidade Serrinha abarca
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SILVA, LUPINACCI, STEFANUTO
solos com mudança textural abrupta, com domínio em superfície de areia fina. Os
autores atribuem a esse fato a alta suscetibilidade à erosão, informando que,
regionalmente, averiguaram limitação à atividade agrícola devido a tal
suscetibilidade. Já os Latossolos Vermelho Amarelo, de acordo com o IBGE (2007),
caracterizam solos muito intemperizados, profundos e de boa drenagem. Esses
possuem grande homogeneidade de características ao longo do perfil, difundindo-se
por amplas superfícies no Brasil, com ocorrência em praticamente todas as regiões
do país, diferenciando-se entre si principalmente pela coloração e teores de óxidos
de ferro. A respeito dos Neossolos Quartzarênicos, esses são normalmente
profundos a muito profundos, apresentam textura arenosa ou franco arenosa em
todos os horizontes até o contato lítico, tendo frações de areia grossa e areia fina
com 95% ou mais de quartzo (EMBRAPA, 2006).
No que tange ao clima, elemento importante para análise morfodinâmica da
área de estudo, pode ser classificado segundo Köppen (1948), como do tipo Cwa,
ou seja, clima tropical chuvoso, caracterizado por duas estações bem definidas,
sendo verão chuvoso e inverno seco. Assim, a área é controlada por massas
tropicais e equatoriais, que predominam em mais de 50% do ano, sendo que os
ventos dominantes são provenientes dos quadrantes Sul e Sudeste (MONTEIRO,
1973). A temperatura média anual corresponde a 20,4 °C e a precipitação total anual
apresenta média de 1.517 mm (MONTEIRO; AULINO, 1981). Os meses de verão
são mais chuvosos, abarcando o período de novembro a março, no qual ocorre
cerca de 70% da pluviosidade. Ainda, com mais de 250 mm de média total de chuva,
o mês de janeiro caracteriza-se como o mais chuvoso do ano (DAEE, 2022).
O uso da terra predominante na bacia, nos dias atuais, é de pastagens com
setor ao norte-noroeste ocupado pela silvicultura. Historicamente, a região tem sido
dominada pelo uso de pastagens devido ao declive acentuado do contato cuesta-
depressão. Regionalmente, segundo Troppmair (2004), a área era colonizada por
vegetação do tipo cerrado, cerradão e matas galerias.
Material e métodos
A base cartográfica, utilizada para o georreferenciamento dos produtos de
sensoriamento remoto e para a elaboração da carta de declividade, baseou-se na
folha topográfica Corumbataí, n. 060/090 do ano de 1978, produzida pelo Instituto
Geográfico e Cartográfico do Estado de São Paulo (IGC-SP), na escala 1:10.000.
283
SILVA, LUPINACCI, STEFANUTO
Para a carta geomorfológica utilizaram-se ortofotos digitais de 2010, na escala
1:25.000, concedidas de forma gratuita via requerimento junto a Empresa Paulista
de Planejamento Metropolitano (EMPLASA), cujos dados foram atualizados a partir
das imagens orbitais adquiridas de forma gratuita junto ao Google Earth, do ano de
2020. Empregou-se como suporte o uso do software ArcGis 10.3 cuja licença
pertence à instituição de origem dos autores.
Os dados geológicos foram obtidos do Instituto Geológico (IG, 1984) e os
pedológicos do mapa produzido por Koffler (1992), em escala de 1:50.000.
Carta de declividade
Segundo De Biasi (1970), a carta de declividade é considerada documento
básico para o planejamento regional, permitindo, através de representação
cartográfica das porcentagens de declive, apresentar uma melhor visualização das
declividades das vertentes e o maior realce das áreas de declividades homogêneas.
Dessa forma, a elaboração da carta de declividade seguiu três principais
etapas. A primeira correspondeu à criação do Modelo Digital do Terreno (MDT)
através do método TIN (Triangular Irregular Networks), a partir dos dados
altimétricos da base cartográfica (curvas de nível e pontos cotados). Na segunda
etapa, realizou-se à reclassificação das classes de altitude geradas
automaticamente pelo programa, respeitando a equidistância de 5 metros de cada
curva de nível. Na terceira etapa, a partir do MDT gerado, elaborou-se a carta de
declividade, através da função Slope presente na opção Symbology.
As classes de baixa declividade foram demarcadas por cores claras,
escurecendo o tom com o aumento dos valores, definidos de acordo com a proposta
de Pereira e Lombardi Neto (2004) para a avaliação da aptidão agrícola, a saber: 0 a
3%, 3 a 8%, 8 a 13%, 13 a 20%, 20 a 45% e >45%.
Para minimizar alguns erros de processamento durante a formulação da carta
de declividade pela triangulação automática do software, seguiu-se a proposta de
Sanchez (1993), para adição de linhas com os valores médios de elevação nos
fundos de vale e topos. Evidencia-se que este procedimento visa aproximar o
modelo de declividade da realidade, editando as triangulações com erros.
Carta geomorfológica
A carta geomorfológica foi produzida utilizando a simbologia e os princípios
conceituais propostos por Tricart (1965), para a obtenção de um inventário completo
de todos os dados observáveis do relevo. Neste sentido, destacam-se os quatro
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SILVA, LUPINACCI, STEFANUTO
parâmetros que constituem o mapeamento geomorfológico: os dados morfométricos,
referentes às dimensões métricas do relevo, assim como os elementos incorporados
na representação das formas do relevo (altura das bordas dos terraços, cornijas,
margens, etc.); as informações morfográficas, relacionadas à identificação das
formas, transcritas através de simbologias; os dados morfogenéticos, associados à
gênese do relevo; e por último, o parâmetro cronológico, correspondente à escala
temporal e estrutural de cada elemento. Na carta elaborada, os dados morfométricos
estão representados pelas curvas de nível; os dados morfológicos pelos símbolos e
as informações sobre gênese pela agregação desses símbolos na legenda
(modelado antrópico, ação das águas correntes). Os dados cronológicos não foram
mapeados, estando presente somente a datação das formações geológicas que
sustentam a área de estudo.
No que concerne à simbologia digital desenvolvida para a representação das
feições encontradas na área de estudo, essas foram adaptadas da proposta técnica
desenvolvida por Paschoal, Conceição e Cunha (2010) referentes aos mapeamentos
desenvolvidos na escala de 1:10.000 ou 1:20.000, isto é, em escala de detalhe.
Cada símbolo mapeado correspondeu a um tipo de feição do relevo a ser
representada (Figura 3). Assim para cada linha, ponto e área, criou-se um shapefile
no ArcCatalog obedecendo a um sistema de coordenadas geográficas,
correspondente ao sistema de coordenadas da base cartográfica utilizada, neste
caso SIRGAS 2000/UTM/Zona 23S.
285
SILVA, LUPINACCI, STEFANUTO
Figura 3 - Legenda da carta geomorfológica da Alta Bacia Ribeirão da Boa Vista (SP).
Fonte: Elaborado pelos autores (2020).
Resultados e Discussões
Visando uma análise geral da área de estudo, inicialmente discutem-se as
características da declividade dos terrenos, assim como da sua morfologia,
representadas nas cartas elaboradas. Em um segundo momento, destacam-se
alguns setores da bacia hidrográfica que merecem uma análise pormenorizada em
relação aos processos erosivos.
Assim, a carta de declividade (Figura 4), exibe no quadrante mais ao norte da
área de estudo, nas nascentes, o setor com maior inclinação da bacia, registrando-
se uma concentração da classe de declividade de 13-20%. na área central da
bacia, nos terrenos drenados pelo médio curso do Ribeirão, assim como no
quadrante mais ao sul, próximo ao baixo curso, as classes de declividades são mais
amenas, registrando-se uma predominância no entorno do canal principal de classes
de declividade <3% e de 3-8%; ainda a maioria das vertentes, nas duas margens,
encontra-se na classe de 8-13%.
A partir da quantificação das classes de declividade (Gráfico 1), constatou-se
que a área de estudo caracteriza-se como um terreno com declividade predominante
na classe de 3-8%, sendo as classes de 20-45% e >45% pouco expressivas em
área. Desta forma, Alta Bacia do Ribeirão da Boa Vista tem terrenos pouco
inclinados na sua maioria.
286
SILVA, LUPINACCI, STEFANUTO
A carta geomorfológica (Figura 5) exibe dados relevantes no que diz respeito
à identificação das feições do relevo. De forma geral, a morfologia da bacia é
marcada por vertentes convexas, frequentemente recortadas por feições erosivas
que criam concavidades locais. Os vales fluviais encaixados, dominantes no setor
mais alto da bacia, cedem lugar a vales de fundo plano no médio e baixo curso. As
rupturas topográficas são dominantemente suaves e os topos convexizados, típicos
de litologia arenosa submetida às condições climáticas úmidas, fato já apontado por
Ab’Saber (1949) para a Depressão Periférica Paulista e também apresentado por
outros autores para o setor de transição Depressão-Cuesta (PINTON; CUNHA,
2015; PINTON, 2016).
O setor norte, na alta bacia, apresenta um sistema de voçorocamento com
dimensões significativas para a bacia hidrográfica analisada, sendo o mesmo
circundado por um número relevante de sulcos erosivos e algumas ravinas. Este
setor encontra-se a jusante de extensa linha de ruptura topográfica abrupta. Ainda, a
maioria dos canais fluviais do setor apresenta formato de vale encaixado. na
porção central e sul, verificam-se algumas voçorocas com dimensões reduzidas e
um grande número de sulcos e ravinas.
Além disso, as rupturas topográficas, nos setores central e sul, na média e
baixa bacia, se tornam mais amenas, sendo mapeadas como “suaves”. Também se
registra um aumento nos fundos de vale com formato plano. Ademais, a presença da
rodovia Washington Luiz, no setor central, origem a uma ruptura topográfica
antrópica devido à execução de obras de cortes e aterros para acomodar as vias de
acesso.
287
SILVA, LUPINACCI, STEFANUTO
Figura 4 - Carta de Declividade (em %) da Alta Bacia do Ribeirão da Boa Vista (SP)
Fonte: Elaborado pelos autores (2020)
288
SILVA, LUPINACCI, STEFANUTO
Gráfico 1 - Porcentagem das classes de declividade em relação à área total da Alta Bacia
do Ribeirão da Boa Vista
(SP).
Fonte: Elaborado pelos autores (2020)
A partir da análise pormenorizada, verifica-se que no setor norte, tem-se um
conjunto de cabeceiras de drenagem que se organizam nos patamares topográficos
mais altos da bacia (Figura 5), em setor de ruptura topográfica abrupta, fato que
agrega alto grau de energia ao escoamento fluvial e possibilita a formação de fundos
de vale do tipo encaixado, devido a maior potencialidade da atividade erosiva. Ainda,
o referido setor (Figura 6) localiza-se a montante de parte do talude erosivo da
principal voçoroca da área de estudo. Neste caso, a inclinação do terreno pode
também agregar energia às águas pluviais e, consequentemente, potencializar a
ação do runoff e a evolução do talude erosivo. Considera-se que as voçorocas são
feições com formato mais alargado do que as ravinas, atestando talude íngreme e
suscetível a ocorrências de processos como: solapamento, piping, movimento de
massa, escoamento de cabeceira, transferência de material por gravidade, queda de
blocos e corrida de lama, sendo estes responsáveis por gerarem feições específicas,
como as alcovas e os dutos. As voçorocas podem apresentar ou não canal fluvial,
variando sua profundidade de 0,5 a 30 metros (FURLANI, 1980; GOUDIE, 2004;
AUGUSTIN; ARANHA, 2006; SOIL SCIENCE SOCIETY OF AMERICA, 2008).
289
SILVA, LUPINACCI, STEFANUTO
Figura 5 - Carta Geomorfológica da Alta Bacia do Ribeirão da Boa Vista (SP). A
legenda encontra-se na figura 3
Fo
nte: Elaborado pelos autores (2020).
290
SILVA, LUPINACCI, STEFANUTO
Figura 6 - Taludes erosivos cuja dinâmica processual caracteriza a voçoroca.
Fonte: Elaborado pelos autores (2020).
Algumas pesquisas chamam a atenção para a potencialização da ação
erosiva do escoamento laminar a partir de declividades superiores a 10%
(MAHMOODABADI; SAJJADI, 2016), a 36% (ZHANG et al., 2019) e de 17% e 26%
(SHEN et al., 2016) de inclinação, fato que merece atenção neste estudo, uma vez
que o setor destacado na Figura 6 pode apresentar áreas extensas de até 25% de
inclinação. Também, é importante destacar uma possível relação de vizinhança
entre a declividade do setor e o talude erosivo da voçoroca, uma vez que os fluxos
superficiais podem ganhar maior energia em setores com inclinação acentuada (13-
20%), no entanto a atuação erosiva pode ocorrer em áreas vizinhas com menor
inclinação (8-13%). Além dessa questão, destaca-se o amplo setor côncavo (Figura
7) a montante dos taludes erosivos, os quais contribuem para o escoamento
superficial em direção à voçoroca.
291
SILVA, LUPINACCI, STEFANUTO
Figura 7. Setor norte da Alta Bacia do Ribeirão da Boa Vista com altos índices de
declividade. Em A, fragmento da carta de declividade; em B, fragmento da carta
geomorfológica e em C, imagem orbital da área.
Fonte: Elaborado pelos autores (2020)
Assim, além dos elevados valores de declividade para o universo da área de
estudo, o setor norte, do ponto de vista litológico, caracteriza-se pela presença da
Formação Pirambóia, que se constitui de arenitos de granulação média a fina
(Instituto de Pesquisas Tecnológicas - IPT, 1981), com elevado grau de fragilidade,
fato que torna o ambiente mais sujeito ao desenvolvimento de feições erosivas
lineares do tipo voçoroca. Ainda, soma-se a esse fator, o aspecto pedológico do
contato entre Argissolos e Latossolos. Os Argissolos, por apresentarem discordância
textural, isto é, horizonte de superfície mais arenoso do que os horizontes de
subsuperfície, caracterizam-se como solos com elevada suscetibilidade erosiva.
os Latossolos, são caracterizados como solos com elevada permeabilidade e baixa
retenção de água (EMBRAPA, 2006). Contudo, deve-se apontar que os dados
pedológicos e geológicos (KOFFLER, 1993; IG, 1984) apresentam-se em escala de
menor detalhe do que os demais mapeamentos. Portanto, essa relação entre formas
erosivas e materiais precisa ainda ser detalhada em trabalhos futuros.
Outro aspecto interessante, é que a confluência dos cursos d’água atuantes
nesta área (Figura 8) ampliam os taludes erosivos que os circundam, visto que
apresentam continuidade espacial com as feições mais típicas, que se vinculam a
cabeceira desse sistema fluvial (Figura 6). Assim, como pode ser observado no
trecho da carta geomorfológica apresentada na Figura 8, há uma continuidade entre
292
SILVA, LUPINACCI, STEFANUTO
os taludes erosivos, os quais vão contornar o sistema fluvial desde suas nascentes
até setores a jusante de várias confluências de outros cursos. Assim, os taludes
erosivos (Figura 6) aumentam de dimensão (Figura 9) a partir das confluências o
que se deve ao aumento do volume de água que dinamiza significativamente a
erosão, tanto fluvial como, por remonte, dos taludes de entorno do rio.
Figura 8 - Voçoroca em setor declivoso na Alta Bacia do Ribeirão da Boa Vista (SP). Em A,
carta de declividade; em B, fragmento da carta geomorfológica; em C, imagem orbital; em D
e E, fotografias do setor de voçoroca.
Fonte: Elaborado pelos autores (2020).
A extensão dos taludes erosivos mapeados (Figura 5) demonstra que a bacia
está submetida à reativação erosiva da rede de drenagem. Regionalmente,
Etchebehere, Casado e Morales (2011, p. 90), analisando a bacia do Rio
Corumbataí, a qual abrange a área estudada, apontam diversas “anomalias
fluviomorfométricas como elementos de alerta” para possíveis ações nectectônicas
na área. Tais ações podem responder pela dinâmica erosiva apresentada que
levaria à alteração do nível de base regional representado pelo Rio Corumbataí.
Contudo, o fator paleoclimático também deve ser considerado visto que Dias e
Perez Filho (2015) identificaram oscilações climáticas, com períodos mais secos que
o atual, nos últimos 5 mil anos na bacia do Rio Corumbataí.
293
SILVA, LUPINACCI, STEFANUTO
Figura 9 - Morfologia dos taludes erosivos da voçoroca no setor norte da Alta Bacia do
Ribeirão da Boa Vista (SP)
Fonte: Elaborado pelos autores (2020).
Localmente, verificam-se alterações antropogênicas que também podem
contribuir para mudanças no perfil longitudinal e, portanto, reativação erosiva. A
presença da Rodovia Washington Luis provoca alteração no curso fluvial, o qual
corre por conduto fechado neste setor (Figura 10). Os condutos podem acelerar o
escoamento fluvial, assim como alterar a rugosidade do fundo, alterando a dinâmica
erosiva e deposicional dos rios.
294
SILVA, LUPINACCI, STEFANUTO
Figura 10 Conduto fechado de passagem do Ribeirão Boa Vista sob a rodovia
Washington Luis. Em A, visão geral da estrada que corta a bacia estudada; em B, detalhe
do conduto fechado pelo qual escoa o Ribeirão Boa Vista sob a rodovia.
Fonte:
Elaborado pelos autores (2020).
o setor destacado na Figura 11 apresenta um conjunto de sulcos erosivos
e algumas voçorocas com dimensões reduzidas, estando parte das voçorocas em
áreas com maior inclinação (13 a 20%). Nesse sentido, a ação gravitacional
provocada pela alta declividade, associada à instabilidade dos materiais litológicos e
pedológicos, compostos dominantemente por areias, podem propiciar condições
para o desenvolvimento de feições erosivas lineares do tipo sulco e voçoroca (Figura
11). Ainda, reconhece-se que a ocorrência de sulcos erosivos pode variar a partir do
uso da terra (STEFANUTO; LUPINACCI, 2017), fator que deverá ser explorado em
pesquisas futuras.
Além da presença de feições erosivas em setores com declividade mais
acentuada, verifica-se, do ponto de vista morfográfico, a existência de vertentes
côncavas (Figura 11) que denotam a tendência da concentração do escoamento
superficial, favorecendo a erosão linear que pode desencadear impactos na
agricultura e nos ecossistemas terrestres através de feições de diferentes
dimensões (POESEN et al.,2003; DUBE et al, 2020). Ocorrem também, vertentes
convexas, que dispersam o escoamento superficial, promovendo erosão laminar.
295
SILVA, LUPINACCI, STEFANUTO
Figura 11 - Feições erosivas lineares próximas as cabeceiras de drenagem em setores com
alto índice de declividade na Alta Bacia do Ribeirão da Boa Vista (SP). Em A, imagem orbital
da área; em B e C, fragmentos das cartas de declividade e geomorfológica,
respectivamente; em D, fotografia de campo.
Fonte: Elaborado pelos autores (2020).
Por fim, os demais setores apresentam menor declividade, como se verifica
no recorte da Figura 12, com índices que variam de 0% a 3% e de 3% a 8%,
caracterizando uma área com relevos mais suaves e fundos de vale propícios à
sedimentação. Assim, observa-se que os fundos de vale planos vinculam-se à
deposição de materiais que dão origem às planícies fluviais, gerando uma
propensão ao desenvolvimento de sinuosidades no curso principal (Figura 12).
Neste sentido, o aumento da carga de sedimentos que constitui tais formas, pode
ser entendido como proveniente do grande sistema de voçorocas presente à
montante. Esses sedimentos estão distribuídos tanto no nível atual do Ribeirão,
constituindo planícies, como, no baixo curso, em nível altimétrico superior, formando
terraços. Tais terraços indicam mudanças no sistema fluvial as quais podem
responder pela reativação erosiva que também se propaga pelas vertentes, gerando
os taludes erosivos.
Além das voçorocas, destaca-se a quantidade de sulcos erosivos (Figura 5)
os quais colaboram com o aumento da carga de sedimentos. Tais sulcos se
distribuem sobre as distintas litologias e classes de solos presentes na área de
estudo. Assim, conforme constataram para a região Pinton e Cunha (2015) e
Stefanuto (2019), tais feições provavelmente se devem mais ao manejo do uso da
terra do que necessariamente aos materiais que constituem o relevo.
296
SILVA, LUPINACCI, STEFANUTO
Figura 12 - Curso principal da Alta Bacia do Ribeirão da Boa Vista com setores de baixa
declividade e presença de planícies e terraços fluviais. Em A e B, fragmentos das cartas de
declividade e geomorfológica, respectivamente; em C, imagem orbital da área e em D
fotografia de campo.
Fonte: Elaborado pelos autores (2020).
Portanto, a partir da análise pormenorizada, identifica-se o potencial da carta
geomorfológica em identificar os principais setores nos quais se registram a
presença de feições erosivas lineares. Além disso, as informações apresentadas na
carta de declividade, em análise conjunta com os dados litológicos e pedológicos,
indicam áreas as quais apresentam maior propensão ao desencadeamento de
processos erosivos, uma vez que, os setores que apresentam topografia com alta
declividade atribuem maior energia à ação escultural do relevo, ampliando a
potência do escoamento de superfície; diferentemente das áreas que apresentam
topografias mais suavizadas, que atribuem menor energia à ação das águas
correntes, bem como à ação gravitacional.
Considerações finais
Os dados apresentados nesse trabalho ilustram as características
morfométricas e geomorfológicas da Alta Bacia do Ribeirão da Boa Vista, marcada
por diversificados valores de declividade e feições geomorfológicas, além de
litologias e solos com composição variável.
Dessa forma, compreende-se que o trabalho mecânico de destruição e a
capacidade de transporte dos materiais das vertentes podem ser proporcionais à
inclinação do terreno. Ainda, verifica-se na área de estudo, um domínio de terrenos
297
SILVA, LUPINACCI, STEFANUTO
com inclinação média que varia de 8% a 13%. Os maiores valores estão situados no
setor norte que atinge classes de 13% a 20%, aspecto que implica na morfodinâmica
da área de estudo, tendo em vista o alto grau de energia do escoamento fluvial e
superficial e a maior potencialidade da atividade erosiva das águas que
desencadeiam o desenvolvimento de feições erosivas, principalmente, do tipo
voçoroca. Os taludes erosivos de cabeceira se estendem por quilômetros,
emoldurando os cursos fluviais (Figura 6). Os demais setores, que apresentaram
baixa declividade, com índices que variam de 0% a 3% e de 3% a 8%, denotaram
relevos mais suaves e fundos de vale planos propícios à sedimentação dos
materiais provenientes dos sistemas erosivos à montante, caracterizados na carta
geomorfológica como Áreas de Acumulação de Planície e Terraço Fluvial (APTFs
Figura 7),
Além da declividade associada ao fator morfodinâmico, observou-se na Alta
Bacia do Ribeirão da Boa Vista, que as litologias e solos apresentam-se propícios ao
desencadeamento dos processos erosivos, uma vez que, a presença da Formação
Pirambóia, composta por arenitos pouco coesos, viabiliza a instalação de feições
erosivas.
Diante disso, a partir dos dados coletados através da carta geomorfológica,
carta de declividade, somadas aos dados litológicos e pedológicos da área de
estudo, constatou-se que a presença de feições erosivas lineares responde tanto a
certas características físicas dos materiais, como a formação litológica e a
composição dos solos, quanto à morfometria do terreno. Por fim, ratifica-se a
importância da carta geomorfológica e de declividade e dos dados litológicos e
pedológicos para análise de processos erosivos.
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NOTAS DE AUTOR
CONTRIBUIÇÃO DE AUTORIA
Melina de Melo Silva - Concepção e elaboração do manuscrito. Coleta de dados, Análise de dados, Discussão
dos resultados, Revisão e aprovação da versão final do trabalho.
Cenira Maria Lupinacci - Concepção e elaboração do manuscrito. Coleta de dados, Análise de dados,
Discussão dos resultados, Revisão e aprovação da versão final do trabalho.
Estêvão Botura Stefanuto Elaboração do manuscrito. Participação ativa da discussão dos resultados;
Revisão e aprovação da versão final do trabalho.
FINANCIAMENTO
FAPESP. Bolsa CNPq.
CONSENTIMENTO DE USO DE IMAGEM
Não se aplica.
APROVAÇÃO DE COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA
Não se aplica.
CONFLITO DE INTERESSES
Não se aplica.
LICENÇA DE USO
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adaptar, criar para qualquer fim, desde que atribua a autoria da obra.
HISTÓRICO
Recebido em: 16-09-2021
302
SILVA, LUPINACCI, STEFANUTO
Aprovado em: 28-06-2022
Article
Full-text available
The linear erosive features, can be understood as a result of this relation between natural and man-made elements. Thus, the aim is to analyze a landscape with erosion features from high resolution images recorded by a DJI MAVIC Pro UAV with a RGB CMOS sensor of 12.35M effective pixels. The results, show possibility of identifying degree of dynamism of erosive gullies sidewall as well as for an increase in detailing erosive systems linked to ravines. The similarity between the phenomena identified in field and those present in the image is also interesting and constitutes a factor that drastically reduces the onus over the reambulation steps. A few limitations were identified, such as the need for some field verifications to characterize topographic ruptures with water flow and limitations in the photointerpretation process, caused, for example, by obstruction in the field of view.
Article
Full-text available
O presente artigo objetiva analisar aspectos associados à dinâmica geotecnogênica ocorrente em áreas periurbanas afetadas por processos erosivos lineares. Foi escolhida como estudo de caso uma área do município de São Pedro - SP (bacia hidrográfica do córrego Tucunzinho), devido ao fato de conter feições tecnogênicas associadas à recorrentes intervenções visando o controle de processos erosivos. O estudo se baseou na análise geomorfológica realizada a partir de mensuração topográfica de detalhe e monitoramento da evolução das feições durante o período de três anos, utilizando-se equipamento GPS modelo RTK. Como resultado constatou-se que o modelado tecnogênico têm atuado como contribuinte à dinâmica erosiva e a presença de depósito em cabeceira de voçoroca têm induzido o acentuado entulhamento do canal, intensificando o quadro de degradação ambiental mediante assoreamento à jusante.
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O mapeamento geomorfológico de detalhe fornece informações que permitem realizar uma análise minuciosa dos elementos que compõem o relevo, sejam esses elementos naturais ou derivados da ação antrópica. Este artigo tem como objetivo apresentar uma proposta de cartografia geomorfológica de detalhe aplicada à análise do relevo em área afetada pela atividade de mineração em território português. A proposta baseia-se na adaptação das orientações da escola francesa de geomorfologia, a qual fundamenta diversos mapeamentos geomorfológicos desenvolvidos pelo Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território (CEGOT) da Universidade de Coimbra, em Portugal, e também norteia os mapeamentos geomorfológicos desenvolvidos no Laboratório de Geomorfologia (LAGEO) da Universidade Estadual Paulista, Campus de Rio Claro, Brasil. Para tanto, uma área de estudo em território português foi selecionada, por se apresentar impactada por unidades extrativas de calcário, areia e argila. O mapeamento geomorfológico geral de uma área de 177 km2, situada a Sul de Coimbra, na escala 1:25.000, foi realizado com o intuito de reconhecimento das formas e processos que ali operam. Com base nesse mapeamento, dois setores afetados pela atividade de mineiração foram identificados e mapeados na escala de detalhe de 1:10.000 para os anos de 1958, 1995 e 2013. As modificações sobre a superfície e sub-superfície terrestre causada pelo ser humano em áreas de mineração implicaram na alteração nas dimensões de elementos passíveis de serem mensurados. A comparação desses valores permitiu apontar a existência de alterações antrópicas nos locais destinados às atividades mineiras. Como resultado, realizou-se uma avaliação da potencialidade da aplicação desta técnica na obtenção de parâmetros geoindicadores alusivos às formas, materiais e processos geomorfológicos, identificados por meio da quantificação de dados.
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O objetivo do presente trabalho constitui-se na análise geocronológica em terraços fluviais, tendo como área de estudo o alto curso da bacia hidrográfica do rio Corumbataí. Para atingir este objetivo foram identificados e selecionados alto e baixos terraços, onde foram coletadas amostras dos materiais de recobrimento das coberturas superficiais, material de origem dos solos, para realização de análises laboratoriais. Resultados obtidos a partir da análise granulométrica foram interpretados por meio do diagrama textural, que permitiu a classificação textural dos sedimentos, fornecendo subsídios para determinação do ambiente deposicional. Foram realizadas datações absolutas por meio de Luminescência Opticamente Estimulada (LOE), onde foi possível determinar o momento da deposição do material, fornecendo dados para interpretação da evolução dos terraços fluviais. Os resultados permitiram relacionar a ocorrência dos mesmos com oscilações climáticas ocorridas durante o Holoceno. Períodos mais secos ocorridos há aproximadamente 5.500 anos A.P., 2.500 anos A.P. e 1.100 anos A.P. definiram os níveis de alto e baixos terraços. Em fase climática úmida houve entalhamento da rede de drenagem para o nível atual, possibilitando a deposição de aluviões recentes há aproximadamente 200 anos A.P. Concluiu-se que os resultados foram fundamentais no auxílio da caracterização paleoclimática e evolutiva da bacia hidrográfica do rio Corumbataí, na Depressão Periférica Paulista durante Holoceno
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Sediment deposition is an important part of the erosion process. Slope and soil type affect the spatial distribution of erosion–deposition; however, little is known about where erosion and deposition occur specifically and how they interact with influencing factors. To address this issue, four rainfall simulation experiments were conducted in a 1 m × 5 m plot with varying slopes (i.e., 5°, 10°, 15°, and 20°) and simulated rainfall for 1 h at a rate of 60 mm h⁻¹. For the two soils, the runoff rate and sediment concentration were correlated with a similar temporal pattern. Runoff increased gradually and ultimately approached a steady state, and the sediment concentration decreased gradually and ultimately approached a steady state, which indicated that the erosion processes of the two soils were controlled by the detachment-limited condition. The sediment concentration and erosion rate were positively correlated with slope. However, the onset of runoff was delayed for AS soil, which also had a relatively high sediment concentration. The distribution range and area of deposition for the two soils were negatively correlated with the slope gradient, and the main deposition area occurred at the bottom of the plots. In contrast, the SD soil was more susceptible to deposition, and the deposition thickness was mainly concentrated within a 0–4 mm depth; this concentration was not observed for AS soil because of its high erosion intensity. Overall, this similarity also existed in the spatial variations of silt and fine sand contents in the soil surface. The silt and fine sand-sized particles were the primary eroded particle sizes; however, selective mechanisms of these two particle sizes were obviously different in the two soils. The results indicated that the erosion–deposition characteristics and the main eroded materials differed with varying erosion intensities and soil types. These findings are essential for a more comprehensive understanding of soil erosion mechanisms under conditions without rill formation.
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Concentrated flow erosion poses a serious threat to agriculture across the world as it scours soils into linear features that can be wide and large, which dramatically decreases land productivity and accessibility, and causes serious downslope and downstream impacts. Despite the widespread occurrence of concentrated flow erosion features across the globe, variations in their sizes have received limited attention. Their morphometric characteristics inform on the amount of fertile soil material eroded and transported to lower parts of landscapes and to river networks. The main objective of this study was to elucidate the impacts of climate (tropical, sub-tropical and temperate), soil texture (clayey, loamy, silty and sandy) and land use (cropland, forest, grassland and urban) on the morphology (length: L, width: W, depth: D, W:D ratio) of linear erosion features (rills and gullies). A total of 769 linear features from 53 published studies across the world were used in the current analysis. The average length was 458.2 m for gullies and 114.7 m for rills. Width averaged 9.5 m for gullies and 1.0 m for rills and W:D was respectively 4.0 and 6.7, which corresponded in all cases to significant difference at P < 0.05. Oceania exhibited the longest (1201 m on average) but shallowest (0.88 m) gullies. Asia had the widest (21.9 m) and Africa the deepest (6.3 m) gullies. In contrast, Europe exhibited shorter gullies (304 m) and rills (56 m) and of low width (5.0 and 0.6 m respectively). Besides, there was a trend for rills to decrease in L, W and D with the increase in mean annual precipitation and for rills’ W to increase with increasing mean annual temperature (r = 0.32). The length of the features also increased from forest to settlement through grassland and cropland, and with increasing altitude above sea level (r = 0.47 for gullies and r = 0.26 for rills). As soil clay content increased, the depth of rills increased (r = 0.19) and their W:D decreased (r = −0.14). These quantitative results may contribute to erosion modelling and to the spatial assessment of land susceptibility to concentrated flow erosion, which is a prerequisite for the protection and rehabilitation of ecosystems.
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Tillage complicates erosion on sloping fields, especially in regions of combined wind and water erosion. The wind-water erosion crisscross region of the Chinese Loess Plateau is an example of such a region wherein erosion is caused by the stimulating effects of tillage, rainfall, and wind. Sheet erosion is an important form of cropland soil erosion and is closely correlated to the productive capacity of land. It is important to better understand the influence of tillage on soil sheet erosion in order to estimate the loss of fertile surface soil and to provide suitable tillage recommendations for the cultivation of sloping cropland in this region, which is susceptible to multiple erosion factors. This study aims to clarify spatial distribution and variation of sheet erosion rates as affected by different tillage patterns on sloping cropland under different slope conditions. We applied beryllium-7 measurements and sediment collection methods to estimate sheet erosion rates to reveal the distribution of sheet erosion on bare sloping fields, to determine correlations between sheet erosion rates and slopes (0°, 5°, 10°, 15°, 20°, and 25°), and to analyze variation in sheet erosion affected by tillage patterns on a plot scale. Results show that sheet erosion increased in a top-down direction and achieved maximum values at the mid-or lower-mid section of slopes, then erosion rates decreased or sediment deposition occurred at the base of slopes. Sheet erosion intensified with an increase in slope gradient fitting to linear or exponential functions regardless of the tillage pattern used (i.e., whether solely applying autumn plowing or a combination of autumn and spring plowing). However, tillage patterns had an obvious effect on sheet erosion. Differences in sheet erosion caused by tillage patterns increased from 5° to between 15° and 20° before decreasing at 25°. This demonstrates that steep slope gradients will weaken tillage pattern effects on sheet erosion, thus becoming a significant impacting factor on sheet erosion. Based on sheet erosion rates, we recommend that cropland be converted to grassland or shrubland when slope gradients are greater than 20° in the study region. Notably, a decrease in tillage intensity (frequency) helped in the reduction of sheet erosion on sloping croplands, and further tillage practices associated with conservation tillage should be applied on sloping cropland to obtain better soil erosion control results.
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Rill erosion constitutes one of the mechanisms of soil loss by water on agricultural land. However, studies on hillslope rill erosion characteristics and its intrinsic mechanisms are still unclear. The objectives of this study were to investigate the impacts of rainfall intensity and slope gradient on hillslope rill erosion processes, rill flow hydraulic characteristics and dynamic mechanisms. A soil pan (10m long, 1.5m wide and 0.5m deep and with an adjustable slope gradient of 0-30°) was subjected to rainfall simulation experiments under three rainfall intensities (50, 75 and 100mmh-1) of representative erosive rainfall and three typical slope gradients (10, 15 and 20°) on the Loess Plateau of China. The results showed that rill erosion exhibited significant contributions to hillslope soil erosion, occupying 62.2-84.8% of hillslope soil loss. The equation between the rill erosion rate with rainfall intensity and slope gradient was generated, which indicated that the impacts of rainfall intensity on hillslope rill erosion were greater than those of slope gradient. For the experimental treatments, the mean headward erosion rates varied between 2.2 and 8.2cmmin-1, and they increased with an increase in either rainfall intensity or slope gradient. Most rill flow belonged to turbulent and subcritical flow regimes. The critical shear stress, the critical stream power, and the critical unit stream power of rill occurrence were 0.986Pa, 0.207Nm-1s-1, and 0.002ms-1, respectively. Additionally, hillslope rill erosion was sensitive to rill flow velocity and stream power. In a word, rainfall intensity and slope gradient exhibited important impacts on rill erosion processes and its hydrodynamic characteristics. Therefore, preventing rainfall erosion and weakening slope gradient effects through conservation tillage are useful for reduction of rill erosion at loessial hillslopes.