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v. 3 n. 3 (2022)
ISSN: 2675 -8008
Revista Multidisciplinar em Saúde
O CUIDADO DE ENFERMAGEM À MULHER
GESTANTE EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA: UMA REVISÃO
Elayne Cristina Pereira de Souza Leal1, Tuanny Beatriz dos Santos Lima1
Sâmara Kardênia Duque Bispo1, Poliana Bezerra de Souza Sckelemberg1,
Samara Gomes Matos Girão2, Caroline Silva Araujo3, Clênia de Jesus
Aguiar Fonseca4, Gabriela Cantero Benites5, Francisco Antonio da Cruz dos
Santos6, Iglesia Tolentino Bezerra7
1 Enfermagem, Faculdade Unibras de Juazeiro Bahia. R. do Paraiso, 800 - Santo Antonio,
Juazeiro - BA.
2 Enfermagem, Universidade Estadual de Feira de Santana. Av. Transnordestina, s/n - Feira
de Santana – BA.
3 Enfermagem, Faculdade Santo Antônio. S/N, R. Conselheiro Junqueira, Alagoinhas – BA.
4 Enfermagem, Centro Universitário Estácio São Luís. Rua Grande, 1455 - Centro, São
Luís – MA.
5 Enfermagem, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Cidade Universitária, Av.
Costa e Silva – Pioneiros - MS.
6 Enfermagem, Centro Universitário Planalto do Distrito Federal-UNIPLAN. Rua Santos
Dumont, N° 1300, Centro - Piripiri - PI
7 Enfermagem, Universidade Estadual do Piauí - UESPI . Rua João Cabral, Nº 2231 - Pirajá
– Teresina -PI.
RESUMORESUMO
Objetivo: Este estudo tem como objetivo compreender o papel dos
enfermeiros nos casos de violência doméstica em gestantes. Metodologia:
Esta pesquisa consistiu em uma revisão bibliográca da literatura realizada em
diferentes bases de dados indexadas: BVS e PUBMED. No total, treze artigos
atenderam aos critérios de inclusão. Conclusão: Portanto, os enfermeiros têm
fundamental importância no cuidado das gestantes em situação de violência
doméstica, pois são prossionais com maior conexão com os pacientes e isso
facilita a conscientização do contexto em que a mulher está inserida e dos
problemas enfrentados. Além disso, algumas atividades podem ser voltadas
para as mulheres para que elas possam saber quando sofrem algum tipo de
violência.
Palavras-chave: Cuidados de Enfermagem; Gestantes; Violência doméstica.
ACESSO ABERTO
Data de Recebimento:
29/06/2022
Data de Aceite:
05/09/2022
Data de Publicação:
15/09/2022
Revisador por:
Marcelo Lima,
Edelino Alves dos Santos
*Autor correspondente:
Elayne Cristina Pereira de Souza Leal,
elayne_cristina81@hotmail.com
Citação:
LEAL, E. C. P. S. et al. O
cuidado de enfermagem à
mulher gestante em situação
de violência doméstica: uma
revisão integrativa. Revista
Multidisciplinar em Saúde,
v. 3, n. 3, 2022. https://doi.
org/10.51161/rems/3484
DOI: 10.51161/rems/3484
Editora IME© 2022. Todos
os direitos reservados.
Artigo de Revisão
ID: 3484
Leal et al., 2022 Rev. Multi. Saúde, v3. n.3
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ABSTRACT
Objective: This study aims to understand the role of nurses in cases of domestic violence in pregnant
women. Methodology: This research consisted of a literature review conducted in dierent indexed
databases: BVS and PUBMED. In total, thirteen articles met the inclusion criteria. Conclusion: Therefore,
nurses have fundamental importance in the care of pregnant women in situations of domestic violence,
because they are professionals with greater connection with patients and this facilitates awareness of the
context in which the woman is inserted and the problems faced. Moreover, some activities can be turned to
women so that they can know when they suer some kind of violence.
Keywords: Nursing Care; Pregnant Women; Domestic Violence.
1 INTRODUÇÃO
A violência doméstica às mulheres pode acontecer em qualquer período de suas vidas, inclusive,
no gestacional, podendo acontecer de forma física, psicológica, moral, patrimonial e sexual (CAMPO et
al., 2019), esta expõe a gestante a infecções sexualmente transmissíveis (SOUSA et al., 2020). A violência
física é a que mais acomete as gestantes, entre as noticações estão agressões como espancamento e força
corporal (SILVA et al., 2021). Segundo Souza et al., (2020), a mulher passa por mudanças emocional,
afetiva, sociocultural e biológica na gestação, o que a torna mais sensível, além de iniciar a formação de
vínculo mãe-feto, fortalecido durante a amamentação.
No âmbito da saúde, por diversas vezes, o enfermeiro é o primeiro contato que a vítima tem (SOUSA
et al., 2020), porém, os prossionais de saúde desconhecem a realidade sobre a violência doméstica às
mulheres, e as formas mais percebidas por eles são a psicológica e a física (OLIVEIRA et al., 2020).
Para Lafaurie et al., (2017), o atendimento inicial a gestantes que sofrem violência doméstica deve ser
interdisciplinar, com uma abordagem biopsicossocial, proporcionando-lhe um ambiente confortável e
tranquilo. Além disso, quando a mulher realiza consultas de pré-natal com médico e enfermeiro, recebe
orientações mais adequadas, pois, interligam-se conhecimentos distintos que se complementam e beneciam
a saúde da mãe e do feto (MARQUES, et al., 2020).
Os enfermeiros enfrentam diversas diculdades ao atender grávidas com histórico de violência pelo
seu companheiro, pois, muitas vezes se sentem ameaçados por ambos, além disso, há outros impasses como
o medo que a gestante sente em admitir a ocorrência e o preparo dos prossionais para lidar com tais situações
(LAFAURIE et al., 2017). Além disso, a falta de conhecimento sobre a realidade da violência doméstica
diculta a noticação dos casos e a implantação de estratégias para redução dos casos (OLIVEIRA et al.,
2020).
Os danos à saúde de uma gestante, decorrentes da violência doméstica, devem ser identicados,
precocemente, pelos prossionais de saúde, principalmente, as que realizam pré-natal, porém, essas mulheres
podem não aparecer à unidade para a realização das consultas, dessa forma, evidencia-se a necessidade de
busca ativa, pois, essas pacientes são mais vulneráveis a complicações obstétricas (CAMPO et al., 2019).
Para Marques, et al., (2020), o acolhimento, por meio de uma escuta e sensível ao sofrimento, é a principal
estratégia para identicar as necessidades sociais e de saúde, além disso, o enfermeiro precisa encaminhar
essas mulheres a serviços especializados.
Os enfermeiros devem entender que realizar atendimentos a gestantes que são vítimas de violência
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doméstica está dentro das suas responsabilidades, portanto, devem estar preparados para assisti-la de forma
integral e procurar soluções efetivas, além de realizar o registro da situação, trabalhar em equipe e acionar
a rede intersetorial, a m de garantir seus direitos legais, humanos, sexuais e reprodutivos (SOUSA et al.,
2020). Sendo assim, esse trabalho tem como objetivo compreender a atuação do enfermeiro diante de casos
de violência doméstica em gestantes.
2 MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa consistiu em uma revisão bibliográca da literatura. O levantamento bibliográco foi
realizado no mês de Julho de 2022, já a análise dos artigos ocorreu no mês de Agosto de 2022. O presente
estudo se deu em diferentes bases de dados indexadas: BVS e PUBMED seguindo etapas de seleção e análise
crítica dos periódicos publicados nos últimos cinco anos, de 2017 a 2022, escritos em língua portuguesa,
inglesa e em espanhol.
A sua busca bibliográca foi norteada com base na temática abordada, onde foram triados conforme
título, resumo e objetivo. Foram selecionados artigos cientícos que respondessem à questão que norteia
esta pesquisa: “Quais são as evidências cientícas sobre a assistência de enfermagem à gestante que sofre
violência doméstica?”. Sendo organizados em ordem crescente de acordo com o ano de publicação, título,
autor, periódico e objetivo.
O levantamento bibliográco foi efetivado por meio de palavras-chaves consultado nos Descritores
em Ciências da Saúde (DeCS) e denidas conforme o tema proposto: “Violência Doméstica”, “Gestantes”
e “Cuidados de Enfermagem”, utilizando os operadores booleanos AND e OR. A partir disso foi então
realizada a identicação e seleção dos artigos a serem analisados, com a seguinte combinação: (nursing
care) AND (pregnant women) AND (violence against women).
Os critérios de seleção foram disponibilidade integral dos estudos relacionados à violência doméstica
a gestantes e assistência de enfermagem, publicados nos últimos cinco anos. A busca foi realizada por dois
pesquisadores independentes, que após a seleção dos estudos, seguindo a etapa pela leitura dos títulos,
resumos e leitura integral, confrontaram os resultados dos artigos selecionados, removendo as duplicatas e
determinando quais artigos entrariam para a análise.
O desenvolvimento da metodologia ocorreu em 6 (seis) etapas. Constituiu-se na descrição
da questão norteadora, fase mais importante da revisão, estabelecendo quais as pesquisas incluídas, as
formas adotadas para a identicação e as informações coletadas de cada pesquisa selecionada. Com uma
abordagem estruturada a ponderar o rigor e as características da pesquisa. Mostrando a experiência clínica
do pesquisador, a m de auxiliar na apuração da validade das técnicas e dos resultados, contribuindo no
propósito de sua utilidade na prática.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Após a denição da questão norteadora, localização e seleção dos artigos, foram identicadas 38
publicações potencialmente elegíveis para serem incluídas nessa revisão. Posteriormente a leitura dos
resumos e a vericação dos critérios de elegibilidade foram excluídos 25 artigos, sendo realizada a leitura
na íntegra de 13 artigos. No total, treze artigos atenderam aos critérios de inclusão conforme detalhado na
gura 1. A análise das informações foi realizada por meio de leitura exploratória do material encontrado,
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em uma abordagem qualitativa.
Figura 1:Fluxograma de seleção das publicações.
Fonte: Autores, 2022.
A sistematização dos treze estudos inclusos nessa revisão está descrita na tabela 1. A Tabela 1
apresenta uma síntese das principais características e resultados reportados pelos artigos revisados.
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Tabela 1: Ano de publicação, título, autor, periódico e objetivo. (n=13).
ANO TÍTULO AUTOR PERIÓDICO OBJETIVO
2017 Talking about intimate
partner violence in
multicultural antenatal
care: a qualitative study of
pregnant women’s advice
for better communication in
South East Norway
GARNWEIDNER-
HOLME et al.
BMC
Pregnancy and
Childbirth
Explorar como mulheres de diferentes
origens étnicas experimentaram o VI e
quais eram suas recomendações sobre
como as parteiras deveriam se comunicar
na assistência pré-natal.
2017 Percepciones de profesionales
en enfermería sobre la
violencia de pareja íntima
contra la adolescente gestante
LAFAURIE et al. Revista
Colombiana de
Enfermería
Descrever a percepção de um grupo
de enfermeiras sobre a violência
por parceiro íntimo na gestação que
afeta adolescentes gestantes atendidas
no Hospital de Usaquén (Bogotá,
Colômbia).
2018 Opportunistic domestic
violence screening for
pregnant and postpartum
women by community-
based health service
providers
O’RELLY et al. BMC
Women’s
Health
Apresentar achados de inquérito que
identicaram práticas de rastreamento
de violência doméstica de prestadores de
serviços de saúde de base comunitária em
gestantes e mulheres pós-parto.
2019 A violência conjugal
expressa durante a gestação
e puerpério: o discurso de
mulheres
CAMPO et al. Revista Mineira
de Enfermagem
- REME
Conhecer as expressões da violência
conjugal vivenciada durante a gestação e
puerpério.
2019 Domestic violence and
perinatal outcomes - a
prospective cohort study
from Nepal.
PUN et al. BMC Public
Health
Avaliar se a violência doméstica estava
associada ao modo de parto, baixo peso ao
nascer e nascimento prematuro no Nepal.
2020 Orientações às gestantes no
pré-natal: a importância do
cuidado compartilhado na
atenção primária em saúde
MARQUES, B. L.
et al.
Escola Anna
Nery Revista de
Enfermagem
Analisar a associação entre a adequação das
orientações recebidas durante o pré-natal e
o prossional que atendeu a gestante na
maioria das consultas na Atenção Primária
à Saúde.
2020 Estratégias para
identicação e
enfrentamento de situação
de violência por parceiro
íntimo em mulheres
gestantes
MARQUES, S. S.
et al.
Revista Gaúcha
de Enfermagem
Conhecer as estratégias utilizadas por
enfermeiros de Unidades de Estratégias
de Saúde da Família para identicação e
enfrentamento de situação de violência por
parceiro íntimo em mulheres gestantes.
2020 Prática Baseada em
Evidências e a análise
sociocultural na Atenção
Primária
SCHNEIDER et al. Physis:
Revista De
Saúde Coletiva
Conhecer como se desenvolve a Prática
Baseada em Evidências na Atenção
Primária à Saúde, especicamente, na
Estratégia Saúde da Família, bem como
propor a inclusão do elemento “análise
sociocultural” para a tomada de decisão.
2020 Sistematização da
assistência de enfermagem
a uma mulher vítima de
violência doméstica: relato
de experiência
EUGÊNIO et al. Revista Renome aplicar a Sistematização da Assistência de
Enfermagem (SAE) a uma mulher vítima
de violência doméstica.
2020 A equipe da família na
implementação de ações
para a prevenção da
violência conjugal contra a
gestante
SOUSA et al. Acervo de
Recursos
Educacionais -
ARES
Discutir a atuação da equipe básica de saúde
do município de União-Pi, na prevenção da
violência contra a gestante
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2020 Violência doméstica contra
a mulher na percepção das
equipes da estratégia saúde
da família
OLIVEIRA et al. Revista de
Pesquisa
Compreender a violência doméstica contra
a mulher na percepção das equipes de
Saúde da Família.
2021 Violência por parceiro
íntimo à gestante: perl
sociodemográco e
características das agressões
SILVA et al. Revista Gaúcha
de Enfermagem
Identicar o perl sociodemográco e as
principais características da violência por
parceiros íntimos em gestantes de São
Paulo, Brasil.
2021 Dispositivos de poder
utilizados por enfermeiros
para o enfrentamento da
violência doméstica contra
a mulher
AMARIJO et al. Texto &
Contexto
Enfermagem
Identicar os dispositivos utilizados pelos
enfermeiros contra a violência doméstica
contra a mulher
Fonte: Autores, 2022.
Com base nos estudos analisados, foi possível apontar questões importantes a serem discutidas com
relação à assistência do enfermeiro a gestantes vítimas de violência doméstica, pois, em um atendimento
a gestante, esse prossional pode identicar diversos tipos de violência, além da sua importância para a
noticação, encaminhamento para outros serviços, superação de barreiras, conversas sobre a temática e, a
importância de identicar o caso relacionado à redução de riscos para mãe e bebê.
No estudo de Garnweidner-Holme et al., (2017), detectou-se a falha das parteiras em questionar
sobre violência doméstica e que o pré-natal era uma ótima oportunidade para que gestantes revelassem
as agressões sofridas, porém, não sentiam abertura para falar sobre a violência, além de que as parteiras
não percebiam que o parceiro era violento quando as acompanhavam nas consultas, portanto, as gestantes
sugeriram que as parteiras introduzissem sobre o assunto fornecendo material educativo. Logo, com os
interesses da gestante e falta de preparo de parteiras, mostra-se a importância do enfermeiro em indagar,
perceber sinais de violência, criar vínculo e conquistar a conança das gestantes, para que se sintam à
vontade para falar sobre as agressões durante os atendimentos (SCHNEIDER et al., 2020).
No artigo “Estratégias para identicação e enfrentamento de situação de violência por parceiro
íntimo em mulheres gestantes”, a violência doméstica é mais difícil de ser descoberta durante a gravidez,
devido às diversas alterações que ocorrem no corpo da paciente, pois os enfermeiros observarem apenas
sinais e sintomas objetivos, focando na cura, e carece da resolutividade social e de saúde das gestantes,
sendo assim, exprime-se com exatidão car atento aos variados e pequenos sinais que a gestante pode dar
(MARQUES et al., 2020). No artigo “Sistematização da assistência de enfermagem a uma mulher vítima de
violência doméstica: relato de experiência”, de forma integral e holística, é possível permitir que a mulher
se recupere nos âmbitos físico, emocional e psicológica (EUGÊNIO et al., 2020).
Nesse contexto, a gestante pode ter diculdade em expor a violência, e estar dependente
emocionalmente e/ou nanceiramente, esta, na perspectiva da equipe de enfermagem, impede o
rompimento da violência, diminuindo sua autoestima e impacta sua saúde mental. Além disso, a paciente
pode se afastar da unidade, prejudicando a continuidade do cuidado e o enfrentamento da violência, que
precisa ser noticada pelo enfermeiro, seja caso suspeito ou conrmado, pois, além de permitir visibilidade
do problema, respalda o prossional como medida tomada diante da situação (MARQUES et al., 2020).
Assim, nota-se a importância da humanização e sistematização da assistência às vítimas, atendendo às suas
necessidades com um plano de cuidado especíco e alcançando os resultados esperados (EUGÊNIO et al.,
Continuando quadro 1
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2020).
Possivelmente, as mulheres que realizam o parto em outro lugar foram devido aos resultados
perinatais ruins pela violência sofrida e até mesmo serem impedidas pelo companheiro para retornar à
instituição, além de que, a violência doméstica pode provocar o parto pré-termo, o que signica que um
aumento dos índices de morbidade e mortalidade nos fetos. Por isso, é importante a atuação do enfermeiro
na identicação de agressões para impedir graves consequências e as intervenções necessárias sejam
implementadas (PUN et al., 2019), principalmente, por esse prossional ser o primeiro contato da gestante
(LAFAURIE et al., 2017), logo, o enfermeiro é o principal criador de vínculo com a paciente, em maior
evidência, na atenção primária.
Durante uma triagem para identicar possíveis violências domésticas, os prossionais de saúde
encontram diversas barreiras, sendo assim, eles precisam ser incentivados e capacitados, garantindo,
assim, cuidados e encaminhamentos adequados de gestantes a serviços necessários (O’RELLY et al.,
2018). Paralelamente, no estudo de Marques et al., (2020), foi identicada a carência de capacitação dos
enfermeiros sobre o tema para a implementação de suas ações, isso evidência a necessidade de um protocolo
de assistência ao pré-natal de mulheres que sofrem violência.
O estudo de Lafaurie et al., (2017), traz a triagem de violência doméstica como estratégia de detecção
efetiva, além disso, os enfermeiros acreditam ser válido alargar o tempo de consulta, realizando rastreio de
forma permanente e avaliação psicológica inicial. Além disso, a escuta e o acolhimento pelo enfermeiro
são passos iniciais para identicar a violência doméstica em mulheres gestantes, quando reconhecida ou
revelada é realizado o encaminhamento a serviços terciários e de saúde mental, porém, ao ser encaminhado
para redes de pouca comunicação, o problema pode não ser resolvido, pois, é preciso a criação de vínculo e
valorização da fala da mulher, o que é criado principalmente na atenção primária (MARQUES et al., 2020).
Por m, no artigo “Dispositivos de poder utilizados por enfermeiros para o enfrentamento da
violência doméstica contra a mulher” os enfermeiros das unidades básicas de saúde utilizavam, para o
enfrentamento da violência doméstica, dispositivos de saber/conhecimento, que estão relacionados às
formas que os enfermeiros partilham informações às vítimas e, dispositivos administrativos e institucionais,
que se relacionam aos programas das unidades e atividades de enfrentamentos à violência doméstica e
encaminhamentos a outros serviços, portanto, o enfermeiro atua no acolhimento, orientação, assistência e
incentivo a mudança de realidade da vítima (AMARIJO et al., 2021).
4 CONCLUSÃO
Ao término desta revisão, observou-se que o enfermeiro tem fundamental importância na assistência
a gestantes em situação de violência doméstica, pois, é o prossional de maior conexão com as pacientes e
isso facilita tomar conhecimento do contexto em que a mulher está inserida e dos problemas enfrentados,
pois, essa classe acompanha a mulher antes, durante e após a gravidez. Além desta, dentre suas atribuições
estão questões assistenciais, administrativas e institucionais.
Nesse sentido, espera-se que esse estudo contribua com novas investigações sobre o papel do
enfermeiro frente às mulheres que sofrem violência doméstica, como também colabore para elaboração
de estratégias de prevenção e enfrentamento, auxiliando na implementação de protocolos e de capacitação
para os enfermeiros. Além disso, algumas atividades devem ser destinadas às mulheres com histórico de
violência doméstica para desenvolverem a habilidade de identicar sinais de violência. Por m, durante a
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análise dos estudos selecionados foram encontradas algumas limitações acerca da assistência do enfermeiro
frente a mulheres vitimas de violência doméstica, evidenciando a necessidade de novos estudos sobre o
tema.
REFERÊNCIAS
AMARIJO, C. L. et al. Dispositivos de poder utilizados por enfermeiros para o enfrentamento da
violência doméstica contra a mulher. Texto & Contexto Enfermagem, Santa Catarina, v.30: e20190389,
Mar. 2021.
CAMPO, L. M. et al. A violência conjugal expressa durante a gestação e puerpério: o discurso de
mulheres. Revista Mineira de Enfermagem. Belo Horizonte, n. 23, e-1230, Set. 2019.
EUGÊNIO, M. M. C. et al. Sistematização da assistência de enfermagem a uma mulher vítima de
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GARNWEIDNER-HOLME, L. M. et al. Talking about intimate partner violence in multicultural
antenatal care: a qualitative study of pregnant women’s advice for better communication in South East
Norway. BMC Pregnancy and Childbirth, [S. l.], n. 123, v. 17, Abr. 2017.
LAFAURIE, M. M. et al. Percepciones de profesionales en enfermería sobre la violencia de pareja íntima
contra la adolescente gestante. Revista Colombiana de Enfermería, [S. l.], v. 14, p. 13–22, 2017.
MARQUES, B. L. et al. Orientações às gestantes no pré-natal: a importância do cuidado compartilhado
na atenção primária em saúde. Escola Anna Nery Revista de Enfermagem, Rio de Janeiro, n. 25, v. 1,
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MARQUES, S. S. et al. Estratégias para identicação e enfrentamento de situação de violência por
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O’RELLY, R. et al. Opportunistic domestic violence screening for pregnant and postpartum women by
community-based health service providers. BMC Women’s Health. [S. l.], n. 128, v.18, 2018.
SCHNEIDER, L. R. et al. Prática Baseada em Evidências e a análise sociocultural na Atenção Primária.
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SOUSA, K. G. et al. A equipe da família na implementação de ações para a prevenção da violência
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